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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

UNIDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS

DISCIPLINA: FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL

DOCENTE: MARTA LUCIA SOUSA

DISCENTES:

122130042 - Hortência de Lima Frazão


122130674 - Thayse Pinto Bezerra Casado Silqueira

Origens do desequilíbrio regional brasileiro

Campina Grande, 2023


INTRODUÇÃO
Na obra literária “Vidas secas”, escrita por Graciliano Ramos (1852-1953), vemos o duro
retrato de uma família sertaneja retirante, que munidas de sonhos e vontade de viver, fogem
da fome e da seca no Nordeste procuram uma vida melhor. Apesar de ser uma obra literária,
ela retrata muito bem a realidade de muitos nordestinos, que migraram para outras regiões.
Impulsionados por problemas climáticos e atraso tecnológico, decorrente de baixos
investimentos em infraestrutura, as desigualdades entre as regiões, acabam por criar
desequilíbrio social, sendo uma das causas de tal processo migratório, ocorridos sobretudo em
meados do século XX.

Trazendo conhecimentos adquiridos na disciplina “Formação Econômica do Brasil”, ministrada


pela Professora Marta Lucia Sousa, com a ótica dos economistas Celso furtado e Caio Prado
Junior, no presente trabalho discutiremos as possíveis causas do desequilíbrio regional
brasileiro, analisaremos os aspectos de formação das diferentes regiões, com enfoque no
desenvolvimento de sua participação no produto industrial, analisando de que maneira esse
processo aprofunda o processo de desigualdade entre as regiões.

DIFERENÇAS NOS DESENVOLVIMENTOS DAS REGIÕES BRASILEIRAS


Amazônia
A primeira região a tomar grande destaque é a região da floresta amazônica com a produção
da borracha, chegando a figurar como importante produto de exportação entre os anos de
1870 e 1920. Com o apogeu, verifica-se um notável desenvolvimento da infraestrutura da
região, om a construção de ferrovias e desenvolvimento das cidades, também é notável a
migração de mão de obra do nordeste para trabalho em tal atividade de exportação.

Entretanto a economia do norte não deslanchou por completo, segundo o economista Paulo
Gala, este processo ocorre devido á três principais fatores, sendo o primeiro o tipo de
remuneração, que segundo o autor:

Apesar de utilizar trabalho livre, funcionava no chamado esquema do aviamento. Não


havia salários e as remunerações eram feitas em bens de produção e subsistência, com
insuficientes parcelas em dinheiro. (pag. 383)

Tratava-se de um sistema quase sérvio, onde os cargos mais altos da produção recebiam uma
parcela maior da renda, enquanto os trabalhadores braçais, recebiam bem pouco. Outro ponto
foram os meios de transportes utilizados, foram bastantes centrados nos rios e afluentes, com
a sua limitação apesar de ser o mais adequado para sua região. Por último, é notável que não
houve o desenvolvimento dos outros setores, como a agricultura, que permanece muito
baseada na subsistência, deixando a economia bastante baseada na atividade extrativa.

Sem o desenvolvimento da econômica interna, o Norte acabou por passar um processo


semelhante à conjuntura do açúcar no Nordeste, com maior parte do lucro sendo transferido
para fora deste sistema econômico, e uma involução da indústria, “que em 1907 correspondia
a 4,3% do total nacional, em 1919 representava apenas 1,3%” (GALA, p. 384)
Nordeste
Desde o inicio da colonização o Nordeste é utilizado como produtor de comodity destinadas à
exportação, como uso de mão de obra escrava, a maior parte de sua renda era destinada à
metrópole, com a queda nas exportações em meados do século XVII, parte dos esforços
produtivos voltam-se para a criação de gado, com uma economia baseada sobretudo na
economia de subdesenvolvimento, houve-se também com a redução da renda disponível,
diminuindo a capacidade de comprar produtos importados, um grande desenvolvimento de
manufaturas locais, usando o produto que tinha disponibilidade local, o couro.

O algodão vem como importante produto de exportação, devido ao surgimento do tear


mecânico em 1787, viabiliza a produção em larga escala do tecido com base no algodão. O
Maranhão aparece no centro produtivo do algodão, que mesmo antes do Boom internacional,
já produzia o algodão em menor escala, com o aumento da demanda internacional diversas
regiões do Brasil também começam a produzir a fibra. Devido ao aumento da produção norte
americana desde o começo do sec. XIX, os preços internacionais começam a cair e com isso a
atividade entra em decadência, porém o algodão continua a ser produzido no Nordeste,
fixando-se principalmente no agreste nordestino, devido à distância da costa, a produção
enfrenta dificuldade no escoamento.

Com uma economia de baixa produtividade, as pessoas produziam o necessário apenas para
subsistência, provocando uma retração na divisão social do trabalho e especialização. Mesmo
diante das disto a população do nordeste continua a crescer, parte disto se dá a
disponibilidade de alimentos na região, criando o que Furtado denomina de “Reservatório de
mão de obra”, que contribuem para a criação do excedente econômico nos outros estados,
uma vez que passam por frequentemente ondes de migrações em diferentes ciclos
econômicos, sendo importante não apenas para a economia, mas também para a ocupação
territorial da nação.

Já no final do século XIX, A falta de rentabilidade na indústria açucareira e algodoeira, não


tornou interessantes os investimentos em infraestrutura no Nordeste, onde projetos como
implantação de ferrovias foram deixados de lado no sec. XX. Enquanto isso urbanização seguia
a passos lentos, e a mudança na matriz de trabalho, de escravo para assalariado, foi feito de
forma bastante difícil principalmente em seu interior que seguia ainda uma lógica de servidão
escravista, com baixa produtividade. De um modo geral o excedente econômico não era
alcançado e havia uma queda por parte do produto industrial, cujos dados são: “ 17% do total
nacional em 1907, cai para cerca de 10% em 1939” (GALA, p. 388)

Sul
No princípio do sec. XVII, parte da população de são Paulo vai Rumo ao Rio Grande do Sul, para
lá firmar-se, junto com algumas tropas destacadas para defesa, com a intenção de proteger o
território brasileiro, enquanto desenvolviam sua economia com base na pecuária, com alguns
poucos pontos de agricultura. Nesta fase a ocupação do Sul assemelha-se a ocupação ocorrida
na América do norte, uma vez que o governo proveu diversos auxílios para que os colonos se
mudassem para tal região, e o trabalho escravo é pouco usado e a população é etnicamente
homogenia e sem diferenciação de grupos sociais.
Rapidamente a produção de gado prosperou era destinado sobretudo para a produção de
couro, na maioria das vezes a carne era descartada por falta de demanda, esse cenário muda
no final do sec. XVIII, quando a região era grande exportador de carne de charque, para o resto
do país e alguns produtos como a gordura do animal, era vendido para fabricar graxa. No início
do sec. XIX, há um notável desenvolvimento na produção do trigo em sua agricultura. Após
meados do sec. XIX, verifica-se um aumento nas atividades acículas e pecuárias, para
abastecimento das grandes cidades que vinham se desenvolvendo, Rio de Janeiro e São Paulo.

No início do sec. XX, a comercialização de Charque passou a enfrentar problemas com o


aparecimento de produtos concorrentes vindos de outros países, enquanto para a banha, os
concorrentes são de outros estados. Sem uma dinâmica industrial autossuficiente, o Sul não
resistiu a concorrência da novata indústria paulista, que demonstrava maior eficiência,
portanto performava melhor perante o mercado. Provocando uma importante retração na sua
atividade industrial, “... que era de 19,9% de acordo com o censo de 1907, tenha ficado com
apenas 13,8% no ano de 1939.” (GALA, p. 390)

REFERÊNCIAS

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 1ª ed. São Paulo: Companhia Das
Letras, 2007.
JÚNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2008.

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