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Belo Horizonte
2021
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prospecção dos minerais e pedras preciosas por meio dos Bandeirantes – que assumem
protagonismo no final do XVII e início do XVIII (Idem, p. 68).
A formação do espaço canavieiro foi muito restrita, do ponto de vista do espaço
geográfico, e o da cafeicultura do Vale do Paraíba, do Sul Paulista, ocupando faixa
pequena do território paulista. Até meados do Séc. XIX, São Paulo não tinha todo o
território ocupado. Era composto da população originária e com pequena produção para
autoconsumo. A projeção de São Paulo no período é um fenômeno que precisa ser
compreendido no âmbito do processo de modernização, porque não há raízes em
antecedentes, para além de algumas chaves que Caio Prado Jr. sugere. O caráter tardio
do processo de ocupação geográfica de São Paulo, quando consideradas as demais
partes do território, permitiu uma grande reserva de área não apropriada – que se
revelaria como potencialmente rentável para a expansão da cafeicultura na segunda
metade do Séc. XIX (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 79).
Durante as décadas de 1820-1900, houve um crescimento do volume de
exportações, com aumento da participação do café. No mesmo período considerado,
decaíram os valores referentes à exportação de algodão e açúcar (DE PAULA, 2021, p.
57). A economia brasileira no Séc. XIX era regionalmente diversificada em vários
aspectos –produção, mercados, relações de trabalho e estruturas fundiárias. A
Amazônia, no Séc. XIX, caracterizada pela atividade extrativa (drogas do sertão), com
destaque à borracha – perdeu espaço em razão da produtividade mais elevada da
borracha asiática. O período de auge e declínio foi o que levou à modernização e
urbanização de sua região, processo fortemente impulsionado pela onda de migração
decorrente das secas no Nordeste, entre 1877-80 (DE PAULA, 2021, p. 61).
No caso do Nordeste, além da produção de açúcar, foram também importantes a
produção de tabaco, cacau, alimentos e a atividade pecuária. Ao contrário do que se
imaginava – tríade latifúndio, trabalho escravo e monocultura – exigências específicas
da produção açucareira levaram à necessidade de emprego de trabalhadores
assalariados. As demais produções alimentícias (agrícolas) utilizaram tanto de mão de
obra livre quanto escrava (DE PAULA, 2021, p. 62). No caso do algodão, não foi
característico o uso intensivo de mão de obra escrava, nem pela grande propriedade
rural. Era comum a utilização de trabalho familiar e parcerias (Idem, 2021, p. 65).
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formação de seu capital industrial e sua classe operária. O que importa sublinhar é o
caráter lento e tenso de tais transformações" (Idem, p. 147).
Nos períodos anteriores, o monopólio da terra, impulsionado pelas atividades
mercantil-exportadoras no Séc. XVI, relacionava-se com a abundância da terra e a
rarefação da população livre, refletindo na concentração de poder econômico e político-
regional. A agricultura de subsistência refletia em baixos níveis de progresso técnico e
baixa produtividade nas pequenas propriedades rurais, que geravam circularidade da
pobreza (CANO, 2001, p. 95). A Lei de Locações de Serviços tornou viável e recorrente
a adoção de parcerias agrícolas e pecuárias, em 1879 (DE PAULA, 2021). Quanto ao
mercado de trabalho, esse foi tomando contornos a partir da Lei Eusébio de Queiroz, em
1850, até a Lei Áurea, em 1888. O processo de abolição já vinha se desenhando e
consolidando, impulsionado pela alforria, revolta e fuga de escravos e com a
intensificação da imigração. Com a Lei Áurea, os ex-escravos foram lançados ao
“mercado” sem qualquer tipo de amparo – sendo que os antigos proprietários também
não foram indenizados.
O ano seguinte seria marcado pela crise final do regime imperial. Ela começou
com a Guerra do Paraguai (de 1864 a 1870), que, a princípio tinha se constituído num
grande fator de unidade e de construção de uma identidade nacional. Nem a
Independência, nem acontecimentos subsequentes tiveram tal êxito em desenvolver um
sentimento profundo de identidade nacional, a não ser quando manifestada na forma de
uma xenofobia em relação portugueses e ingleses. A guerra “agitou todo o país”
(BASILE, 2000, p.263). Segundo Marcello Basile (2000), aproximadamente 55 mil
pessoas –um terço de todos os brasileiros enviados para a guerra–, se apresentaram, de
forma livre, como voluntárias para a guerra. Mas tal sentimento se resfriou com o
prolongamento do conflito e a considerável resistência ao recrutamento forçado. Por
outro lado, o exército se mostrava inconformado com a falta de reconhecimento.
A hegemonia imperial estava se rompendo. Depois da abolição, os donos de
terra não viam mais motivos para para apoiar o império. Quando, finalmente, a
República foi proclamada, houve a ascensão de um grupo heterogêneo, mas que
consolidou o poder dos fazendeiros paulistas, produtores de café. A chamada
acumulação primitiva de capital, na sua versão em solo brasileiro, ocorreu
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REFERÊNCIAS
BASILE, Marcello O. “O Império brasileiro: panorama político”. In: LINHARES, Maria Yedda
(Org.). História Geral do Brasil. 9a Ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
CANO, Wilson. Celso Furtado e a questão regional no Brasil". Celso Furtado e o Brasil. São
Paulo: Fundação Perseu Abramo. 2001. pp. 93-120.
CASTRO, Antônio Barros de. Sete Ensaios sobre a Economia Brasileira. 4ª Edição. Rio de
Janeiro. Forense Universitária. 1980.
DE PAULA. João Antônio. O capitalismo no Brasil. Bem Horizonte, 2021. Digitado (Não
Publicado).
FRAGOSO, João L. “Economia brasileira no século XIX: mais do que uma plantation
escravista-exportadora. In: LINHARES, Maria Yedda (Org.). História Geral do Brasil. 9a Ed.
Rio de Janeiro: Campus, 2000, cap.5, p.144-85.
NABUCO, Maria Regina. Celso Furtado e a questão regional no Brasil". Celso Furtado e o
Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo. 2001. p. 59-70.
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 20ª Edição. São Paulo. Editora
Brasiliense. 1987.