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Capa: Dyego Marçal sobre as fotos de Eurico Salis, que cedeu gentilmente as
duas imagens.
Diagramação: Texto e Contexto Editora
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SUMÁRIO
Jonas M. Vargas1
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SUMÁRIO Elites, famílias e riqueza na pecuária gaúcha:
o caso dos estancieiros e charqueadores de Bagé ( C. 1850-1930)
Introdução
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4. Para referências mais tradicionais, ver PIMENTEL (1940) e TABORDA (1959). Para uma
análise mais recente, ver MATHEUS (2016).
5. Sobre as doações e detalhes das mesmas, ver BRASIL (2009). Algumas dessas sesmarias
encontravam-se em terras que hoje pertencem a municípios que foram se emancipando de
Bagé ao longo dos anos, como Dom Pedrito, Hulha Negra, Aceguá e Candiota.
6. Sobre este processo, ver OSÓRIO (2007) e FARINATTI (2010).
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9. “Mapa numérico das estâncias existentes dos diferentes municípios da província, de que até
agora se tem conhecimento oficial, com declaração dos animais que possuem e criam, por
ano, e do número de pessoas empregadas no seu custeio” (Arquivo Histórico do Estado do
Rio Grande do Sul. Fundo Estatística. Maço 2, 1858).
10. Os dados elencados a seguir sobre os mais ricos estancieiros só foram possíveis de ser com-
pilados porque o historiador Marcelo Matheus nos cedeu gentilmente a sua base de dados de
inventários post-mortem para análise. Além disso, para uma síntese da estrutura produtiva local
utilizo muitas das conclusões que o autor chegou na sua tese de doutorado (MATHEUS,
2016).
11. Sobre os usos possíveis dos inventários post-mortem, ver VARGAS (2013).
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12. Estudando Alegrete, entre 1830 e 1870, Graciela Garcia concluiu que o preço médio das
terras no local aumentou 800%, enquanto o gado vacum apenas dobrou de valor (GARCIA,
2005, p. 25).
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uma das famílias mais conhecidas de sua época, por conta de sua
riqueza, prestígio militar e poder político, era mais rico que todos
os estancieiros mencionados acima. Seu patrimônio atingia 41.790£,
com destaque para suas estâncias, seus 19 cativos e o rebanho de mais
de 10 mil animais, sendo 8 mil reses de criar.13 Além disso, deve-se
considerar que, por questões metodológicas, os inventários abertos
fora de Bagé não entraram na análise de Matheus. É importante
dizer isso, porque um dos mais ricos estancieiros bageenses também
merece ser mencionado aqui, apesar de seu inventário ter sido
aberto em Pelotas. João Antônio Martins deixou uma impressionante
riqueza de 88.529£ em estâncias, animais, imóveis urbanos, dívidas
ativas e escravizados, sendo que boa parte já estava nas mãos dos
seus muitos filhos, como adiantamento de herança.14
Como estou investigando os maiores criadores bageenses do
período, cabe algumas palavras sobre o tamanho dos seus rebanhos.
Como já foi dito, a antiga ideia de que a região da campanha era
povoada somente por grandes pecuaristas foi superada já faz
muito tempo. Estudando Bagé, Matheus confirmou o mesmo perfil
socioeconômico para a paisagem agrária local. Para o autor, “uma
quantidade significativa de pequenos produtores, com ou sem a
propriedade da terra, mas, de uma forma ou de outra, com acesso a
ela, também ocupava aquele espaço geográfico”. A maior parte dos
criadores era formada por pequenos produtores, para os padrões
da época: pelo menos 25% dos inventários possuíam de 1 a 100 reses
e outros 36% detinham de 101 a 500 reses. No entanto, esses 61%
concentravam somente 12% do total de reses de criar. “Enquanto isso,
os estancieiros com mais de 1.000 reses somavam 25% dos inventários,
mas concentravam 76,5% do rebanho” (MATHEUS, 2016, p. 166).
Portanto, estamos diante de uma grande concentração de gado
na localidade. Não surpreende que muitos desses maiores criadores
também estavam entre os mais ricos mencionados anteriormente.
Joao Antônio Martins detinha um rebanho de mais de 14.000 reses
de criar, seguido por João da Silva Tavares (8.000), Domingos de
Souza Neto (8.000), Serafim Correa de Barros (8.000), José Teixeira
Brasil (6.860), Manoel Antonio Severo (6.080), Manoel Vieira da
Cunha (4.796), Alexandre Simões Pires (4.253), Felisberto Silveira da
13. Inventário do Visconde de Serro Alegre, N. 62, Maço 2, Cartório do Cível e Crime de
Bagé, 1872, APERS. Para uma análise da trajetória do Visconde, ver a ótima pesquisa de
OLIVEIRA (2016).
14. Inventário de João Antônio Martins. N. 317, maço 22, Cartório de órfãos e provedoria de
Pelotas, 1850, APERS.
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16. Em Bagé, por exemplo, a sesmeira Ana Pedrosa de Jesus e seu esposo Tenente Ignácio
Marques da Silva possuíam, entre seus bens inventariados, um sobrado em Pelotas (BRA-
SIL, 2009, p. 89).
17. Para maiores detalhes desse processo, ver BELL (1998), CORSETTI (1983), ZARTH
(1997), LEIPNITZ (2010), GARCIA (2010), VARGAS (2016).
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18. Pelas assinaturas na ata, percebe-se a presença de outros agrônomos formados em Pelotas,
como Alpheu Braga, José Antônio Martins, Aluisio Escobar, Luiz Gomes de Freitas e Alfre-
do da Silva Tavares, além de coronéis, charqueadores e ricos pecuaristas.
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19. A coleção está disponível online no site da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, com o
título “Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ)”. Ver http://bndigi-
tal.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ (Último acesso em 15 de março de 2021).
20. Para um exemplo do uso dos Almanacks para o estudo de Pelotas ver VARGAS; PERES
(2020).
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22. Sobre as charqueadas do visconde, ver também BOUCINHA (1993) e SOARES (2006).
23. O Visconde Magalhães havia fundado a Santa Teresa em 1897 e a Industrial em 1908. A
San Martin era de 1900, a Santo Antônio de 1904, mesmo ano da S. Domingos, que perten-
cia à Tamborindeguy & Costa. (PESAVENTO, 1980, p. 170-171)
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24. Refiro-me aqui principalmente aos estudos de PESAVENTO (1980), BELL (1988) e
VOLKMER (2017).
25. Em 1924, tornou-se o conhecido Frigorífico Anglo. Para maiores detalhes ver MICHE-
LON (2012).
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26. Os Assumpção, de rica família charqueadora pelotense, estavam fortemente vinculados por
laços matrimoniais aos Silva Tavares, que além de criadores em Bagé também tinham um
membro de sua família que era charqueador em Pelotas, o Barão de Santa Tecla. Feliciano
Gonçalves Vieira, por sua vez, era herdeiro do advogado dos Silva Tavares e que também se
tornou estancieiro em terras que daquela família. Quando Feliciano “criava seu gado leiteiro
“Shortorner”, em 1903, inaugurou uma moderna queijaria com produção de queijos vendi-
dos na cidade de Bagé”. (FONTTES; VIEIRA, 2005, p. 96-99).
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27. Algumas terras dos Martins foram vendidas para outros proprietários, como o Visconde
Ribeiro Magalhães, por exemplo. Os muitos laços matrimoniais das herdeiras colocaram ou-
tras propriedades como pertencentes a outras famílias. Esse foi o caso dos Sarmento, apenas
para dar um exemplo. Além disso, havia terras que posteriormente passaram a pertencer aos
municípios vizinhos, o que justifica sua ausência no Almanack. No entanto, Fonttes e Vieira
arrolam as estâncias “Cinco Salsos” e São José” como pertencentes a essa família durante a
Primeira República (FONTTES; VIEIRA, 2005).
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Considerações finais
O presente capítulo investigou os mais ricos criadores de gado
em Bagé no meado do oitocentos, época no qual a criação extensiva
era realizada com a utilização do trabalho escravizado, em fronteiras
ainda mal definidas e em meio a muitas guerras. Muitas das famílias
mais ricas no período haviam recebido sesmarias ainda no período
colonial, mas outras vieram décadas depois, atraídas pela demanda
por gado provocada pelas charqueadas pelotenses. A sociedade
bajeense nessa época apresentou altos índices de concentração de
riqueza nas mãos de poucos proprietários, expressando uma estrutura
socioeconômica comum em todo o Brasil. Na virada do século XIX
para o XX, uma onda de modernização capitalista e inovações técnicas
atingiu todas a região platina, chegando primeiro na Argentina e no
Uruguai. Os motivos do atraso gaúcho eram estruturais, desde as
precariedades nos meios de transporte, no sistema de crédito e na
falta de apoio do governo, mas também refletiam o conservadorismo
de boa parte dos grandes proprietários rurais.
A incorporação das inovações técnicas passou pelo contato
com os fazendeiros estrangeiros, pelas iniciativas individuais de
alguns pecuaristas e pelas associações rurais locais. Nesse sentido,
como na maior parte do Brasil, a modernização capitalista do período
ocorreu de forma conservadora, mantendo boa parte das estruturas
sociais tradicionais. Participando e conduzindo todo o processo, as
principais famílias pecuaristas do oitocentos conseguiram manter-se
no topo da hierarquia social local até as primeiras décadas do século
XX, sendo que várias delas ainda possuem seus estabelecimentos
nos dias atuais. Tal fenômeno é bem distinto do ocorrido com as
charqueadas bageenses. Apesar de ter atraído muitos investimentos
ao longo da Primeira República e ter contribuído com a modernização
da cidade, o ciclo do charque em Bagé durou apenas algumas décadas
e sempre esteve sob a sombra ameaçadora dos frigoríficos.
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