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• Rio Grande abriga o último porto brasileiro, antes da fronteira meridional do Brasil e da entrada do Rio
da Prata. Em função de sua posição geográfica, o comércio e a segurança militar estão na origem de
seu povoamento, sendo possível afirmar que desde a sua fundação, em 1737, a movimentação
portuária e comercial fora uma constante, recebendo inúmeras embarcações e com elas marítimos e
também mercadorias.
• Se, por um lado, as pesquisas históricas relacionadas à escravidão possuem larga tradição, por outro,
as investigações arqueológicas neste campo são muito recentes, mesmo considerando o amplo
território americano, no Brasil, o primeiro estudo arqueológico de senzalas, foi publicado somente em
1993.
• Após os anos de 1980 os estudos alteraram esta perspectiva e passaram a focalizar aspectos como o
estudo da produção e comércio de cerâmica artesanal, questões relativas a distinções entre a cultura
material de pessoas escravizadas e não-escravizadas e entre escravos, demarcando identidades
culturais, resistência, e a relação entre etnia, gênero e diferença cultural.
• A metodologia empregada para a localização de vestígios materiais sobre o terreno utilizou tanto o
método oportunístico, quanto o método probabilístico (Neves, 1984). A técnica básica é a “tática
pedestre” ou “caminhamento”: a inspeção sistemática da superfície, através de linhas de caminhamento
controladas, de uma unidade de prospecção por uma equipe de pesquisadores. Todos os trabalhos
foram acompanhados de exaustiva documentação, como a elaboração de diários de campo,
documentação gráfica e fotográfica, além de plotagem em carta adequada.
A Charqueada do Carreiros
• Com a ocupação espanhola, foi impedida a permanência de portugueses no centro da vila, ou nas
proximidades do canal, e o esquema de segurança adotado pelos espanhóis determinou o
assentamento de quatro núcleos de colonos nas suas imediações.
• núcleo da Torotama, que já existira anteriormente, recebeu a maior parte das famílias portuguesas,
formando o Povo Novo.
• núcleo dos paulistas, ao longo do caminho que vai da Vila ao arroio do Taim, O nome do local é
anterior à invasão, e origina-se do principal colono que aí se estabelecera.
• núcleo do Saco da Mangueira, nas proximidades deste local.
• núcleo dos Carreiros, a uma légua da vila.
• A pesquisa na documentação escrita trouxe à tona o inventário de Antônio Martins Freitas,com data
de 1864, onde aparece a descrição de uma charqueada localizada nos Carreiros.
• Não há dúvidas da existência de uma charqueada na área que é alvo desta pesquisa. O espaço
ocupado por ela corresponde ao padrão encontrado por Gutierrez para a instalação das charqueadas:
“A localização seguia dois critérios, a proximidade dos rebanhos de gado e a dos cursos de água
navegáveis, com acesso ao Atlântico, favorecendo, consequentemente, a exportação”.
• Nesta primeira etapa do trabalho arqueológico, nosso objetivo foi procurar localizar as diversas
estruturas que, com a casa principal, comporiam a Charqueada dos Carreiros: galpões, senzala,
graxeira, varal, currais, curra, horta, pomar, cercados.
• A pesquisa foi altamente prejudicada pela existência de grande quantidade de lixo acumulado sobre
o terreno, que inviabilizou a observação direta do solo. Ao mesmo tempo, a atual densidade de
construções, também impediu, um caminhamento mais amplo.
• O inventário contém a lista de escravos a serem
partilhados e a ocupação de cada um, conforme se
pode observar na tabela abaixo:
Esta listagem é altamente significativa, no que tange aos
parâmetros apresentados por
Gutierrez. Segundo ela, a media de escravos por
proprietário era de 84 cativos.
• Todas as evidências apontam para o fato de que parte da elite riograndina compartilhava de modus
operandi semelhante àqueles empregados pelos grandes proprietários das charqueadas pelotenses
no trato escravista com vistas à produção em larga escala. Não restam dúvidas que o trabalho escravo
é parte integrante da formação da sociedade local.
• Tudo isso vem a reforçar a importância da continuidade dos estudos sobre o objeto de pesquisa,
tanto por meio da coleta de relatos de antigos e atuais moradores do entorno, assim como com a
realização escavação estratigráfica
Referências Bibliográficas
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