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NEGROS,

CHARQUEADAS
& OLARIAS
Um estudo sobre o espaço
pelotense
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.
Ester J. B. Gutierrez

NEGROS,
CHARQUEADAS
& OLARIAS
Um estudo sobre o espaço
pelotense
2ª Edição

Pelotas
Editora e Gráfica Universitária – UFPel
2001
Obra publicada pela Universidade Federal de Pelotas

Reitora: Profa. Inguelore Scheunemann de Souza


Vice-Reitor: Prof. Jorge Luiz Nedel
Pró-Reitor de Extensão e Cultura: Prof. Francisco Elifalete Xavier
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Leopoldo Mário Baldet
Pró-Reitor de Graduação: Profa. Anne Marie Moor McCulloch
Pró-Reitor Administrativo: Prof. Paulo Roberto Soares de Pinho
Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Prof. Paulo Silveira Júnior
Diretora da Faculdade de Arquitetura: Profa. Nirce Saffer Medvedovski

Layout e editoração eletrônica: Flávia Garcia Guidotti


Capa: Ricardo Brod Méndez e Ester J. B. Gutierrez
Revisoras: Alexandra Arduim, Cristina Wildte e Cristine Roseira
Reeditoração dos mapas: Douglas Heidtmann Júnior

Impresso no Brasil
 Copyright 2001 – Ester J. B. Gutierrez
Tiragem: 1.000 exemplares

Editora e Gráfica Universitária - UFPel


R. Lobo da Costa, 447 - Pelotas, RS - CEP 96010-150 - Fone/FAX [0XX 53] 227.3677
e-mail: editora@conex.com.br

Diretor: Eng. Agr. Ari Luís de Lamare


Gerente Operacional: Manuel Antônio da Silva Tavares
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Assessoria em Informática: Fernando Faria Corrêa
Seção Gráfica - Chefe: Oscar Luís Rios Bohns - Equipe: Alexandre Farias Brião, Carlos Gilberto Costa da Silva, João Henrique
Bordin, João José Pinheiro Meireles, Leandro Schmidt Pereira, Marciano Serrat Ibeiro.

Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional


(Marlene Cravo Castillo, CRB 10/744)
G983n Gutierrez, Ester J. B.
Negros, charqueadas e olarias : um estudo
sobre o espaço pelotense / Ester J. B. Gutierrez.
2.ed. - Pelotas: Ed. Universitária/UFPEL, 2001.

250 p. il. , mapas

1. História-arquitetura. 2. História-Pelotas
3. Negros-história 4. Charqueadas-história
5. Olarias-história I – título.

CDD : 981.657
Para meus pais, filhos, marido, sogra
e cunhados pelo muito que lhes devo.
.
SUMÁRIO

Apresentação - E O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE_____________________13


INTRODUÇÃO _____________________________________________________________15
Capítulo 1 - OCUPAÇÃO IBÉRICA NO PRATA___________________________________17
Capítulo 2 - CAMINHO DA PRAIA _____________________________________________27
Capítulo 3 - O ESPAÇO DA COMANDÂNCIA MILITAR DO RIO GRANDE
DE SÃO PEDRO DO SUL _____________________________________________________35
Capítulo 4 - MIL SETECENTOS E CINQÜENTA __________________________________41
Capítulo 5 - ENQUANTO ISSO, NA BANDA DE LÁ _______________________________47
Capítulo 6 - RAFAEL PINTO BANDEIRA________________________________________55
Capítulo 7 - SANTANA _______________________________________________________63
Capítulo 8 - SESMARIA DE PELOTAS __________________________________________71
Capítulo 9 - ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA
DO ARROIO PELOTAS ______________________________________________________77
Capítulo 10 - O ESPAÇO DA ESCRAVATURA NAS FAZENDAS, CHARQUEDAS
E OLARIAS ________________________________________________________________87
Capítulo 11 - SESMARIA DO MONTE BONITO. CONCESSÕES X ORGANIZAÇÃO
ESPACIAL _________________________________________________________________93
Capítulo 12 - DESCRIÇÃO ESPACIAL DO CERNE DO NÚCLEO CHARQUEADOR
PELOTENSE ______________________________________________________________101
Capítulo 13 - AS DATAS LITORÂNEAS ________________________________________109
Capítulo 14 - COSTA ________________________________________________________117
Capítulo 15 - OS RODRIGUES BARCELLOS ____________________________________123
Capítulo 16 - ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES ___________________________129
Capítulo 17 - AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS ________________________137
Capítulo 18 - DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA __________________________________147
Capítulo 19 - PASSO DOS NEGROS ___________________________________________155
Capítulo 20 - AS CHARQUEADAS E O PRIMEIRO LOTEAMENTO ________________ 163
Capítulo 21 - LOGRADOURO PÚBLICO. TABLADA ____________________________ 171
Capítulo 22 - DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS NAS CHARQUEADAS E OLARIAS
DO MONTE BONITO ______________________________________________________ 177
Capítulo 23 - O AMBIENTE CONSTRUÍDO NA VISÃO DOS VIAJANTES DO
SÉCULO XIX _____________________________________________________________ 185
Capítulo 24 - DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA
CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES ____________________ 193
Conclusão - O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE _______________________ 211
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________ 223
ÍNDICE REMISSIVO_______________________________________________________ 237
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Tratado de Tordesilhas [1494]__________________________________________18


Figura 2 – Localização: Assunção; Colônia do Sacramento; Montevidéu; Rio Grande;
Laguna; São Francisco e Curitiba ________________________________________________19
Figura 3 – Bandeirantes e a preia de nativos________________________________________21
Figura 4 – Vacarias ___________________________________________________________23
Figura 5 – Caminhada de Domingos Figueira. 1703. Colônia/Laguna____________________28
Figura 6 – Rio Grande [1737]. Forte: Porto-Estreito-São Miguel. Guarnições: Chuí-Taim-
Saco da Mangueira. Estâncias: Bojuru-Torotama____________________________________33
Figura 7 – Tratado e Madri [1750]. Tratado de Santo Idelfonso [1777]___________________43
Figura 8 – Rincão de Pelotas. Tomás Luís Osório [1758] _____________________________45
Figura 9 – Campos Neutrais ____________________________________________________49
Figura 10 – Cópia parcial de João Francisco Rócio, 1778. Biblioteca Nacional. Seção de
Manuscrito, 5, 4, 35 __________________________________________________________53
Figura 11 – Cópia reduzida de um mapa do Serro Pelado. Acervo Profa. Helen Osório ______54
Figura 12 – Terras que formam os atuais municípios de Pelotas, Capão do Leão e Morro
Redondo ___________________________________________________________________56
Figura 13 – Localização aproximada das terras que foram a Estância do Pavão de Rafael
Pinto Bandeira_______________________________________________________________58
Figura 14 – Cópia parcial da carta cartográfica, 1777. Instituto Histórico e Geográfico de
Pelotas _____________________________________________________________________59
Figura 15 – Cópia parcial e reduzida do canal de São Gonçalo. Biblioteca Nacional, seção
de mapas, 8, 4, 20 ____________________________________________________________60
Figura 16 – Localização aproximada das estâncias do Pavão, Santana, São Tomé e Santa
Bárbara ____________________________________________________________________64
Figura 17 – Localização aproximada das charqueadas do Pavão e do Fragata______________65
Figura 18 – Localização aproximada das sesmarias do Monte Bonito, Pelotas e Real
Feitoria do Linho Cânhamo ____________________________________________________68
Figura 19 – Localização aproximada das estâncias Sá [patrimônio], Graça, Palma,
Galatéia e Laranjal___________________________________________________________ 72
Figura 20 – Cópia parcial e ampliada de uma carta hidrográfica, Lopo Neto, Arquivo
Nacional. Seção de Mapas, MVOP-CB [25]_______________________________________ 76
Figura 21 – Localização das Charqueadas da margem esquerda do arroio Pelotas e de
seus respectivos passos _______________________________________________________ 78
Figura 22 – Cópia parcial das linhas de navegação entre os portos das lagoas, canais e da
barra do Rio Grande. Arquivo Nacional. Seção de mapas, MVOP-CB [25] ______________ 94
Figura 23 – Mapa da situação geográfica da região do Serro Pelado ____________________ 95
Figura 24 – Mapa da estância do Monte Bonito ____________________________________ 97
Figura 25 – Mapa da divisão da estância do Monte Bonito ___________________________ 98
Figura 26 – Localização das datas de matos, arroio Quilombo, charqueadas, Passo dos
Negros, cidade, tablada, logradouro público ______________________________________ 102
Figura 27 – Mapa da divisão de terras do retiro e do cotovelo. Base principal no RPTMP,
do museu da BPP___________________________________________________________ 106
Figura 28 – Mapa da divisão de terras do Cascalho e da Boa Vista. Base principal no
RPTMP, do Museu da BPP ___________________________________________________ 111
Figura 29 – Mapa das propriedades da família Rodrigues Barcellos, vizinhos e estradas.
Base principal no RPTMP, no Museu da BPP ____________________________________ 124
Figura 30 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo, datas compradas
pelo casal Luís Pereira da Silva e Maria Conceição ________________________________ 140
Figura 31 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo. Campo do
segundo inventário. Base principal no RPTMP, do museu da BPP ____________________ 142
Figura 32 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo. Herdeiros de Luís
Pereira da Silva. Base principal no RPTMP, do museu da BPP _______________________ 143
Figura 33 – Mapa de divisão das terras de Genova Pereira da Silva. Base principal no
RPTMP, do museu da BPP ___________________________________________________ 144
Figura 34 – Cópia reduzida da planta do Passo dos Negros. Biblioteca Pública Pelotense,
Museu, RPTMP, L. 93, p.147 _________________________________________________ 156
Figura 35 – Cópia parcial do mapa do Porto de S. Pedro do Sul e de parte do Rio São
Gonçalo, 1854. Biblioteca Nacional. Seção de Iconografia, ARC - 8-1-39 ______________ 157
Figura 36 – Localização charqueadas e 1º loteamento. Base principal no RPTMP, do
museu da BPP _____________________________________________________________ 164
Figura 37 – Cópia reduzida da primeiro loteamento de Pelotas. Biblioteca Pública
Pelotense, Museu, RPTMP, L.92, p.9 ___________________________________________ 167
Figura 38 – Planta da cidade de Pelotas, 1835. Prefeitura Municipal de Pelotas. Secretaria
Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente ______________________________________ 169
Figura 39 – Planta da Tablada e do Logradouro Público. Base principal do RPTMP, do
museu da BPP _____________________________________________________________ 173
Figura 40 – Sesmaria do Monte Bonito. Cerne do núcleo charqueador pelotense _________ 174
Figura 41 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Implantação do espaço
da produção _______________________________________________________________ 195
Figura 42 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 1 [canalete] ___195
Figura 43 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 2 [tanque].
Detalhe nº 3 [canalete] _______________________________________________________195
Figura 44 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 4 [tanque] ____196
Figura 45 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto -
plantas] ___________________________________________________________________196
Figura 46 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto -
cortes]. Detalhe nº 6 [canalete] _________________________________________________196
Figura 47 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto -
corte] _____________________________________________________________________196
Figura 48 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Implantação geral_______198
Figura 49 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Planta baixa ___________199
Figura 50 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Elevações leste/oeste ____200
Figura 51 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Elevações norte/sul _____200
Figura 52 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Corte AB/CD __________201
Figura 53 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Implantação geral ____204
Figura 54 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Planta baixa 1º
pavimento _________________________________________________________________205
Figura 55 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Planta baixa 2º
pavimento _________________________________________________________________206
Figura 56 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação leste/corte
EF _______________________________________________________________________207
Figura 57 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação norte/corte
AB _______________________________________________________________________208
Figura 58 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação sul/corte
CD _______________________________________________________________________209
Figura 59 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação oeste/corte
GH_______________________________________________________________________210
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Relação de escravos da fazenda, Charqueada e Olaria do Pavão ______________ 62


Tabela 2 - Animais de diversas espécies que existiam no Continente do Rio Grande em 1787 69
Tabela 3 - Animais que povoavam as terras de Manuel Bento da Rocha, 1785 ____________ 73
Tabela 4 - Charqueadas da margem esquerda arroio Pelotas. Bens imóveis da área
da produção do charque_______________________________________________________ 86
Tabela 5 - Profissões dos escravos das fazendas charqueadas _________________________ 88
Tabela 6 - Distribuição da ocupação espacial dos escravos das fazendas charqueadas ______ 88
Tabela 7 - Especialização dos cativos das estâncias charqueadas_______________________ 90
Tabela 8 - Distribuição percentual dos cativos no espaço da produção do charque _________ 91
Tabela 9 – Comparativo das listagens de donatários de datas da sesmaria do Monte Bonito__ 99
Tabela 10 - Dimensionamento dos terrenos da fábrica de Albana Rodrigues Barcellos_____ 127
Tabela 11 – Profissões dos escravos das charqueadas ______________________________ 178
Tabela 12 – Especialização dos escravos das charqueadas ___________________________ 180
Tabela 13 – População de Pelotas no ano de 1833 _________________________________ 182
Tabela 14 – População de Pelotas no ano de 1854 _________________________________ 182
Apresentação

E O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE

A interdisciplinaridade é seguro caminho para o avanço do conhecimento.


Sobretudo nas ciências sociais, esta verdade constitui um lugar-comum raramente posto
em prática. A especialização das ciências, condição necessária para o avanço do
conhecimento humano, encontra dificuldade em alcançar uma síntese superior que se
aproxime, através da convergência de leituras essenciais, da unidade do mundo objetivo.
Pondo seus conhecimentos e sensibilidade profissionais ao serviço da
investigação histórica, Ester J. B. Gutierrez, professora da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, apresentou, como dissertação de
mestrado – Negros, Charqueadas & Olarias. Um estudo sobre o espaço pelotense –, um
trabalho que constitui consistente exemplo dos importantes resultados que a
convergência disciplinar pode apontar à ciência. O trabalho, que tivemos o prazer de
dirigir, foi desenvolvido e defendido, em 7 de maio de 1993, no Curso de Pós-
Graduação em História da PUCRS. Na ocasião, a banca examinadora, composta pelos
doutores arquiteto Günter Weimer [UFRGS] e arqueólogo Arno Kern [PUC], e por mim
presidida, ressaltou, unânime, a excelência do trabalho e a imprescindibilidade de sua
publicação. Neste sentido, não podemos deixar de parabenizar a Editora da UFPel e da
Mundial pela presteza em pôr à disposição dos estudiosos o presente estudo.
Associando seu saber e sensibilidade profissionais ao método historiográfico,
Ester J. B. Gutierrez contribuiu criativamente à ampliação do conhecimento histórico
sobre a produção charqueadora escravista pelotense e, sobretudo, desbloqueou impasses
nos quais se debatiam, infecundamente, há algum tempo, os historiadores que estudam o
tema.
Ester Gutierrez trabalhou sobretudo com, mapas, plantas, medições,
transmissões, inventários, registros prediais e territoriais, etc., dos séculos XVIII e XIX.
Tal documentação já era conhecida e já fora visitada pelos historiadores. A
especificidade profissional de Ester Gutierrez permitiu-lhe levantar, classificar,
organizar, cotejar, etc., esta documentação, de tal forma, que dela surgiu a mais
avançada leitura da formação histórica do núcleo charqueador pelotense, eixo
fundamental da produção saladeiril gaúcha no século XIX, a mesma capacitação
permitiu a autora brindar seus leitores com 40 preciso mapas integrados harmônica e
necessariamente ao texto.
Apenas e leitura de Negros, Charqueadas & Olarias destacará a quantidade e a
qualidade das informações e análises fornecidas. Entretanto, gostaríamos de ressaltar
14 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

algumas das importantes contribuições de trabalho para a historiografia da produção


saladeiril escravista, em particular, e da escravidão colonial, em especial.
Já assinalamos que o Negro, Charqueadas & Olarias fornece a mais completa
exata leitura do processo de formação histórica do núcleo saladeiril escravista pelotense.
Neste sentido, contribui significativamente à melhor compreensão da história da
formação da estrutura fundiária gaúcha. O detido arrolamento das charqueadas e dos
charqueadores da região; a reconstituição e localização espacial do complexo saladeiril
[charqueadas, tablada, logradouro público, passos, etc.] das margens do arroio Pelotas e
do canal São Gonçalo; a descrição da estrutura e do funcionamento interno das
charqueadas, etc. Constituem importantes conquistas historiográficas e bases seguras
para futuras investigações.
Negros, Charqueadas & Olarias contribuiu igualmente à elucidação de
algumas importantes polêmicas sobre aspectos da produção charqueadora e escravista.
Ester Gutierrez apresenta uma rica informação sobre a sociedade e a produção
saladeiril: a sua alta concentração de trabalhadores escravizados; a sua elevada taxa de
masculinidade; a inexistência tendencial da família escrava na atividade; a possível
utilização sistemática dos planteis escravistas, na entre-safra, na produção oleira; a
precocidade da introdução de alguns recursos tecnológicos, etc.
Negros, Charqueadas & Olarias constitui o trabalho de uma técnica e cientista
exigente, meticulosa, precisa, inteligente. Talvez precisamente por isso, Ester Gutierrez
se preocupa em jamais esconder, sob linguagem burocrática e falsamente imparcial do
relatório técnico e acadêmico, o drama humano e social subjacente ao tema histórico em
estudo. Em capítulos breves e num texto de leitura sempre amena, sem jamais se
entregar a reflexões moralizadoras ou piegas, a autora assinala reiteradas vezes que – e
como – a população e a riqueza charqueadora construíram-se sobre a destruição
ininterrupta de animais e trabalhadores negros escravizados. Neste sentido, Ester
Gutierrez finaliza seu brilhante estudo dando à conclusão o metafórico título “O Monte
Bonito Cobriu-se de Sangue”.
Negros, Charqueadas & Olarias constitui mais do que um rito acadêmico de
passagem. Constitui a prova tangível que Clio possui, entre nós, mais uma capacitada e
devotada servidora.

Porto Alegre, segundo semestre de 1993

Mário Maestri∗


Doutor em História pela Université Catholique de Louvain, Bélgica.
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
INTRODUÇÃO

Contaremos um pouco da história do espaço que abrigou a produção escravista


do charque em Pelotas. Dissertaremos sobre os acontecimentos econômico/sociais e
políticos, e as conseqüentes transformações físico/espaciais ocorridas nesse lugar e no
seu entorno. Com a ajuda de um tronco de cone imaginário, com várias lentes de longo
alcance, que, consecutivamente, com o passar dos anos, foram aproximando o foco,
passamos a detalhar uma área menor e a apresentar uma série de quadros ilustrados e
descritivos.
Elaboramos mapas que sucederam-se através da diminuição da escala e do
conseqüente aumento da superfície. Mostramos as modificações que o território platino
sofreu com o povoamento de rebanhos de gado. Indicamos as condições materiais e os
recursos naturais necessários ao desenvolvimento da pecuária, à fabricação da carne
salgada e à definição de onde seriam localizados os estabelecimentos fabris. Iniciamos
pelo mundo colonial dividido em duas partes, pelas coroas ibéricas, no Tratado de
Tordesilhas, assinado em 1494, e terminamos com detalhes construtivos das edificações
as áreas marginais da sesmaria do Monte Bonito.
Do maior ao menor, cronologicamente, vão sendo colocadas as imagens da
região do Prata, da Comandância Militar do Rio Grande de São Pedro do Sul e do
distrito do Serro Pelado, até enfocarmos, particularmente, a sesmaria do Monte Bonito,
local onde se situou o cerne do complexo charqueador pelotense. Continuadamente,
relacionamos esses diversos territórios com a área onde se instalariam as fábricas de
Pelotas. Reconstituímos as sucessivas divisões de terras, as vias terrestres e fluviais.
Situamos cruzamentos, identificamos passos.
A partir de processos de concessões de terras, mapas antigos, inventários de
charqueadores, medições judiciais, levantamentos fotográficos e físico/espaciais,
registros de terras, aluguéis e compras e vendas, elaboramos plantas consecutivas,
apresentando diversos níveis de desenvolvimento da área e traçados resultantes, desde
as doações das datas litorâneas, no início do ano de 1781, até a consolidação do
complexo fabril escravista, no final do século passado. A documentação trabalhada
ultrapassa um pouco o ano da Abolição da Escravatura, em 1888, porque as construções
dos estabelecimentos eram, na sua quase totalidade, do período em estudo. Anotamos
que os registros das fontes detiveram-se mais sobre os bens móveis do que sobre os
imóveis e foram mais fartos em relação aos senhores do que em relação aos escravos.
16 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

A seguir, realizamos descrição dos estabelecimentos ribeirinhos e das áreas de


apoio à produção saladeiril, como a Tablada e a cidade. Percorremos a periferia do
Monte Bonito. Iniciamos descendo o Arroio Pelotas, seguindo os cursos das águas,
indicando as benfeitorias, e, portanto, listando o programa de necessidades das fábricas
de salgar e do complexo saladeiril. Falamos do povo, que ali habitava, definindo a
distribuição físico/espacial dos trabalhadores cativos na área da produção e mostrando a
moradia dos senhores.
As informações sobre concessões, heranças, negócios, processos e contratos
matrimoniais ajudaram a desenhar o complexo charqueador, a apresentar as sucessivas
divisões de terras, a dimensionar os terrenos, a zonificar os espaços, a demonstrar os
fluxogramas da produção, a descrever as instalações, a indicar os equipamentos, a
determinar as tipologias arquitetônicas adotadas e a expor as técnicas e os materiais de
construção utilizados. A análise conjugada de todos os elementos apontou a produção
dos estabelecimentos de olarias existentes nos saladeiros e a própria construção civil,
como uma alternativa à mão-de-obra cativa, nos períodos da entressafra do charque.
A metodologia da pesquisa foi buscada dentro da história econômica e social,
apoiando-se nos trabalhos desenvolvidos, principalmente, por historiadores como Jacob
Gorender, Mário Maestri, Ciro Flamarion Cardoso e Berenice Corsetti.
Optamos por um tipo de investigação que procurou uma especificidade no
modo de produção escravista colonial e na formação econômico-social luso-brasileira,
em geral, e sulina em particular. Por um lado, a economia escravista sul-americana é
compreendida como complementar do mercantilismo; por outro lado, a pesquisa
afastou-se dos métodos tradicionais da história da arquitetura, porque o espaço estudado
exigiu outros instrumentos para o alcance dos conhecimentos. Ao contrário dos espaços
monumentais, da arquitetura erudita, o estudo dos locais de trabalho tem pouca tradição
no pensamento acadêmico. Daí buscamos uma aliança onde os critérios de seleção e
ordenação dos conteúdos foram de ordem físico/espacial e o método e as fontes usadas,
fundamentalmente, históricas.
Com a metodologia empregada, hipoteticamente, reconstituímos o espaço da
produção charqueadora pelotense. O ponto de vista adotado, para a observação desta
área, literalmente, foi marginal, porque o lugar escolhido ficava à beira d’água, longe do
conforto e dos prazeres gerados com a riqueza produzida, pelo trabalho servil, em seu
interior. Diferentemente do lirismo cultural da vida urbana do conjunto charqueador, o
ambiente saladeiril demonstrou as péssimas condições do ambiente construído, onde
trabalhavam e tentavam sobreviver os escravos.
Capítulo 1

OCUPAÇÃO IBÉRICA NO PRATA

O pólo charqueador escravista pelotense estava situado às margens do canal


São Gonçalo e do arroio Pelotas. A implantação desse núcleo iniciou nas últimas duas
décadas do século XVIII. Sua localização estava vinculada ao processo de disputa do
território da bacia do rio da Prata. A contenda entre as duas potências ibéricas, fruto dos
interesses mercantilistas nessa região, começou no século XV. Não se envolveram
apenas Espanha e Portugal no processo de ocupação do território banhado pelo rio da
Prata e seus afluentes. Entre outros, participaram ingleses, africanos, brasileiros, criollo,
piratas, Papas, padres da Companhia de Jesus, charruas, guaranis, holandeses, franceses.
Acrescentem-se a esses grupos nacionais, ou não, as conveniências individuais,
de categoria, de classe, étnicos, religiosos, comerciais, etc. Passaram-se 186 anos entre o
tratado de Tordesilhas e a fundação da colônia portuguesa na margem direita do rio da
Prata. Expedições marítimas e terrestres; levantamentos; negociações; tratados;
comércio; contrabando; tráfico; captura de gado e de nativos; fundações de cidades;
construções de fortes e, principalmente, luta com armas e dentes, foram configurando a
posse desse território.
Em 1494, com a interferência do papa Alexandre VI, as coroas católicas de
Portugal e da Espanha haviam assinado o tratado de Tordesilhas. O contrato estabeleceu
uma divisão reta do pólo Norte ao pólo Sul, a qual deveria passar a 370 léguas ao
poente das ilhas de Cabo Verde. Dividia-se o mundo, assim, entre as duas coroas
ibéricas. Porém, o acordo não tratava da equivalência entre léguas e graus nem fixava o
local do arquipélago de Cabo Verde por onde começaria a contagem.
Segundo a visão espanhola, o meridiano diplomático atravessaria as atuais
cidades de Belém, à margem direita da foz do rio Amazonas, no Pará, e Laguna, em
Santa Catarina. [CESAR, 1970: 47] No outro ponto de vista, a divisão recaía na outra
margem do Amazonas e seguia até a Patagônia. Em ambas as maneiras de ver, o
controle do Atlântico Sul e o domínio dos litorais da África e da América ficavam com
Portugal. À Espanha cabia a navegação menos intensa, no oceano Pacífico. [FIG. 1]
18 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Figura 1 – Tratado de Tordesilhas [1494]

Nas três primeiras décadas do século XVI, os portugueses enviaram pelo


menos seis expedições marítimas à região do Prata. Foram em 1501, 1503, 1506, 1513,
1521 e 1530. As espanholas, posteriores e em menor número, foram realizadas em
1520, 1525, 1526 e 1534. A primeira expedição foi comandada por André Gonçalves.
Trazia o cosmógrafo Florentino Américo Vespúcio. [NOBRE, 1922: 14]
Conseqüentemente, a primeira expedição marítima já tinha a finalidade de fazer
levantamentos. Em 1512, o rio da Prata foi reconhecido pelos lusitanos. [NOBRE,
1922: 13] Os cartógrafos portugueses passaram a elaborar mapas do mundo que
incluíam o rio da Prata dentro dos domínios coloniais lusos.
O rio Amazonas e o rio da Prata eram as únicas entradas fluviais ao continente
sul-americano. [FIG. 1] O rio da Prata permitia o acesso à prata das minas de Potosi.
Era o lugar onde portugueses, ingleses, comerciantes, contrabandistas de produtos
OCUPAÇÃO IBÉRICA NO PRATA 19

manufaturados, traficantes de escravos e/ou bucaneiros rompiam o monopólio comercial


espanhol. Em 1536, para se defenderem dessa situação, os espanhóis fundaram Buenos
Aires, na margem direita da foz do rio da Prata. Em 1537, assentaram Assunção. [FIG. 2]

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Figura 2 – Localização: Assunção; Colônia do Sacramento; Montevidéu; Rio Grande; Laguna; São
Francisco e Curitiba.

A ocupação espanhola na região platina seguiu duas vias: “[...] a do norte,


descendo da América Central pela costa do Pacífico e a outra, centrífuga, que,
partindo de Buenos Aires, ascendeu pelas linhas do Paraná e Paraguai, ramificando-se
pelo vale da bacia do Uruguai em várias derivações no rumo de leste.” [BARCELLOS,
1945: sp.] As entradas paulistas chocaram-se com as correntes espanholas. Em 1555,
sete vacas e um touro foram confiados ao vaqueiro Gaeta que os transportou de S.
20 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Vicente a Assunção. [ABREU E SILVA, 1948: sp.] O acesso dos castelhanos a Buenos
Aires não era fácil:
“[...] a mercadoria espanhola ou européia, que passava pela Espanha
necessariamente chegava ao istmo de Panamá, a Cartagena ou ‘porto
Bello’, cruzava o istmo em mula, era carregada na frota do Mar do Sul,
desembarcava em ‘Calao’ [porto] para ser transportada para Lima, e de ali
tomava caminho das caravanas, em lombo de mula, até chegar Buenos
Aires. [...] Como resultado da intensa atividade de contrabando realizada
na época, que não é exclusiva do Prata, mas sim é própria de um regime
regulamentarista ao extremo como era o monopolista espanhol [...].”
[WILLIAN & PONS, 1989: 93] [FIG. 2]

Domínio colonial

No período compreendido entre 1580 e 1640, houve a unificação das


monarquias de Portugal e Espanha, o que apaziguou os litígios fronteiriços entre as duas
nações. Mas, nesse espaço de tempo, aumentaram as investidas contra a população
local.
Com vistas à penetração espanhola, os governadores platinos designaram três
províncias: Ibiça, Tape e Uruguai. Ibiça corresponderia à região atual de Laguna até
Viamão e seria habitada pela nação dos guainás ou ibirajaras. As províncias do Uruguai
andavam juntas do sul da serra do Mar até as nascentes do rio Jacuí. [FIG. 3]
Daí, seguiam pelas cabeceiras do Uruguai-Pitã, rio Turvo até o Uruguai. A
província do Tape ia do rio Jacuí à laguna dos Patos. No atual Uruguai, viviam os
chanás [guenoas, chanás, mboanes, jarós, charruas e minuanos], tribos caroguaras e
tabacanguaras. A província do Tape era ocupada pelas tribos dos arachanes e dos tapes.
[CRUZ, 1984: 154]
No período do domínio espanhol, os holandeses ocuparam zonas açucareiras,
no nordeste brasileiro e em zonas da África fornecedoras de mão-de-obra escrava. Mais
tarde, o conhecimento dos aspectos técnicos e organizacionais da produção do açúcar,
adquirido pelos holandeses, ajudou a implantação da indústria concorrente no Caribe. A
falta de negros conduziu as bandeiras paulistas ao aprisionamento dos americanos.
Iniciaram pelas aldeias mais próximas e, quando essas começaram a rarear, tomaram
rumo sul, no encontro das reduções dos jesuítas. [FIG. 3]
Antes de os portugueses e espanhóis chegarem ao território definido pelos rios
Paraguai, Paraná e Uruguai, o lugar era habitado pelos tupis-guaranis. Em primeiro
lugar, os tupis ocuparam a região coberta de florestas tropicais da Amazônia, nordeste e
centro do Brasil de hoje. Depois, os guaranis conquistaram a região dominada pelas
matas subtropicais até o rio da Prata. Em pequenos grupos, lentamente, desceram os rios
Paraná e Uruguai e alcançaram o estuário do Prata. Encontrando condições compatíveis
com a sua cultura, expulsavam os antigos moradores. A superioridade guarani diante
dos outros nativos pode ser explicada, em boa parte, pela sua condição de horticultores.
[BROCHADO, 1974: 72]
OCUPAÇÃO IBÉRICA NO PRATA 21

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Figura 3 – Bandeirantes e a preia de nativos.

Uma outra classificação dos primeiros habitante do Rio Grande relacionou três
grandes grupos. Foram eles os tupis-guaranis, os gês e os guaicurus.
“No primeiro desses grupos [Tupis-Guaranis] são incluídos os Tapes,
Carijós, Caaguas, Guaianás e Arachanes; no segundo [Gês] estão reunidos
os Botocudos, os Bugres, Caingangs e Coroados; constituindo o terceiro
grupo [Guaicurus] os Jaros, Guenoas, Charruas e Minuanos.” [COSTA e
SILVA, 1968: 13]
Segundo o critério geográfico, definiu-se uma terceira relação para os
habitantes pré-colombianos:
22 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

“Patos - na península e ao norte da lagoa que lhes tomou o nome; Charruas


- em torno da lagoa Mirim até o golfão do rio da Prata; Minuanos - ao
pente dos derradeiros. Tapes da lagoa dos Patos até o Uruguai; Guaicanãs
- nos campos de vacaria, onde ainda aparecem às vezes.” [CESAR, 1970: 20]

Missões

Os guaranis foram objeto de escravização por parte dos bandeirantes paulistas


e encomenderos espanhóis. Por um lado, reduzidos nas missões jesuítas, eram
organizados e treinados para as atividades agropastoris, o que os tornou ainda mais
desejados por esses grupos de poder. Por outro lado, encomenderos e bandeirantes não
aceitavam que lhes tirassem do mercado em torno de 100 mil guaranis. Em 1612, pouco
depois de instaladas as reduções, continuavam a organizar expedições para capturá-los e
levá-los escravizados. Em 1632, mais de 60 mil foram escravizados e destruídos em São
Paulo. [GUTIERREZ, 1987: 14] [FIG. 3]
Quatro anos depois, os mamelucos portugueses deram fim às reduções,
localizadas na margem esquerda do rio Uruguai. Os sobreviventes migraram para as
regiões dos rios Paraná e Uruguai, do outro lado do rio Uruguai. “A partir dessa data,
os paulistas não mais desceram ao Rio Grande com intenções de prear índios, uma vez
que, com o fim do domínio espanhol, os holandeses foram expulsos da África,
restabelecendo-se a normalidade com o tráfico negreiro.” [PESAVENTO, 1980: 9]
As grandes perdas nas batalhas de Caaçapaguaçu, em 1639, e Mbororé, em
1641, e as notícias de riquezas a oeste, na atual região do Mato Grosso, também
colaboraram na mudança de rumo dos bandeirantes. Enquanto isso, na margem
esquerda do rio Uruguai, o gado abandonado pelos jesuítas e guaranis reproduziu-se,
formando rebanhos enormes. Essas manadas deram origem a uma nova disputa entre as
monarquias ibéricas. O gado definiu a vocação econômica da região platina, iniciando
com um novo tipo de atividade, a preia do gado bravio, e com um novo tipo de
trabalhador, sem terra e sem nação, misto de guerreiro, mercenário, e contrabandista: o
gaúcho. Ele passou a ser um novo tipo de caçador na região platina.
“Para promover o crescimento célere da criação, impuseram os
missionários de começo a proibição de matar as vacas e com o decorrer do
tempo estabeleceram vacarias em determinados sítios [...] De sorte que,
pelo espaço de cinqüenta anos, ficou o gado inteiramente livre, procriando-
se e avançando paulatinamente para leste e para o sul.
Expandindo-se a princípio pelos campos do vale do Jacuí e do seu principal
afluente da margem direita, - Vacacaí, transporia depois o gado as coxilhas
de Santana, Serrilhada e Aceguá e penetraria afinal em pleno território da
atual república do Uruguai.” [ABREU E SILVA, 1848: sp.]
Os rebanhos avançaram até as margens da lagoa Mirim, chegaram a
Maldonado e alcançaram o Mar del Plata. Estava formado o maior rebanho chimarrão
conhecido na época. “[...] e daí a denominação de Vacaria do Mar [...]. À proporção
que vão se esgotando os rebanhos, cresce ao nordeste do Rio Grande a Vacaria dos
Pinhais.” [CESAR, 1970: 76]. Esta última foi formada em 1682, ainda como obra dos
jesuítas, quando retornaram à margem esquerda do rio Uruguai. [FIG. 4]
OCUPAÇÃO IBÉRICA NO PRATA 23

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Figura 4 – Vacarias.

Os missionários separaram alguns rebanhos da Vacaria do Mar e os


conduziram para os campos de Cima da Serra, com duas finalidades: localizar as
manadas longe do alcance dos portugueses, paulistas e lagunenses e perto das missões
paraguaias; abastecer as suas recém-fundadas aldeias, os “Sete Povos”: São Borja, São
Nicolau, São Miguel, São Luís Gonzaga, São Lourenço, São João Batista e Santo
Ângelo. Formava-se mais uma região de gado abundante, denominada também de
Campos de Vacaria. [FIG. 4]
Os grandes rebanhos, as vacarias, levaram à modificação do ambiente natural:
24 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

“O diário de PERO LOPES, descrevendo, ao penetrar ele em dezembro de


1531 no rio Paraná, os campos adjacentes, aliás semelhantes aos do
Uruguai e Rio Grande, assim se exprime: ‘Esta terra dos Caradins é alta ao
longo do rio; e no sertão é toda chãa, coberta de feno, que cobre um
homem.’ Com o decorrer, porém do tempo, o pisotear pesado dos bovinos e
a estrumação contínua do solo alteraram as características físicas da região
pampeana e das savanas do planalto. Passaram agora a predominar os
ricos pastos, caracterizados pelo capim mimoso, o catinguero, o capim
flexílha, o trevo e outras variedades de menor apreço.” [ABREU E SILVA,
1948: SP.]
A mudança de fluxo dos paulistas deu origem ao surgimento de Paranaguá, em
1648, São Francisco do Sul, em 1658, Curitiba dez anos depois e, em 1676, Laguna.
“[...] é dessa povoação, de Laguna, que hão de sair, já no século XVIII, os primeiros
moradores dos campos de Viamão, os criadores das estâncias sulinas, os pioneiros,
enfim, da ocupação do Rio Grande de São Pedro.” [HOLANDA, 1965, T.I, v.1, L.5:
322] [FIG. 2]
A ocupação do território teve, portanto, dois caminhos. O primeiro, no litoral,
foi decorrente do expansionismo colonial português. O segundo, no interior, resultou
das investidas terrestres, vindas de São Paulo, interessadas, principalmente, no
aprisionamento de nativos.

Colônia do Sacramento

Com a desvinculação dos dois reinos, o império português fez concessões à


Inglaterra e à Holanda, o que resultou em danos no Oriente e na África; os comerciantes
lusos perderam seus negócios na cidade portenha. Portugal redobrou suas atenções para
com o sul da América. A presença portuguesa no rio da Prata facilitava também o
acesso da Inglaterra a essa região. Era o contrabando que rompia com a política
monopolista da Espanha. “[...] recolhendo a Prata de Potosi e oferecendo em troca
artigos coloniais [açúcar e negros] e manufaturados ingleses.”[PESAVENTO, 1980:
10]
Era a captura dos rebanhos de gado, da banda oriental do rio Uruguai, na
Vacaria do Mar. A fixação nessa área significava a recuperação parcial das vantagens
perdidas na concorrência do açúcar com as colônias caribenhas. Portugal abandonava os
domínios na Ásia, investia na América, ajudado pela mão-de-obra escravizada das
colônias africanas. Em 1680, a fundação da Colônia do Sacramento, na frente de
Buenos Aires, foi a consolidação dessas pretensões. [FIG. 2]
Antes da fundação de Sacramento, haviam sido feitas algumas investidas com
o objetivo de ampliar o espaço colonial português. Em 1658, foi doada uma capitania
hereditária a Salvador Correia de Sá, que ia de São Vicente ao Prata. Em 1677, a bula
Romani Pontificis estipulou o mesmo rio como o limite da diocese do Rio de Janeiro.
No ano seguinte, foi realizada a expedição de Jorge Soares Macedo para fundar o
povoado e o presídio de Sua Alteza no rio da Prata. Um naufrágio pôs a perder o
empreendimento.
OCUPAÇÃO IBÉRICA NO PRATA 25

Em 20 de setembro de 1680, dom Manuel Lobo atracou na praia. Como


povoadores desembarcaram reclusos das cadeias. Instalou-se, não na ilha de São
Gabriel, como anteriormente parecia decidido, mas no continente, em frente a Buenos
Aires, na margem esquerda do delta do rio da Prata.[CESAR, 1970: 78] [FIG. 2] Em
resposta dom José Garro, governador de Buenos Aires, fixou-se a pouca distância.
Tinha um exército composto de espanhóis, criollos e guaranis missioneiros, com o
objetivo de cortar as comunicações com o interior e impedir a obtenção de reses que
alimentariam os portugueses. Esse cerco foi mantido de maio a agosto daquele ano,
quando, antes que ocorresse algum socorro, os espanhóis atacaram e apoderaram-se de
tudo, sendo os escravos vendidos em praça pública.
Um ano depois, no Tratado Provisional, de 1681, a Espanha cedeu à
diplomacia lusa. A Espanha não estava refeita das lutas de três anos antes com a França.
Ficou acordado que os problemas de limites seriam submetidos a uma comissão
paritária de cosmógrafos. Caso não houvesse acordo, o Papa teria um ano para a
decisão. A Colônia do Sacramento foi devolvida aos lusitanos com a restituição de
armas e prisioneiros. Garro foi censurado pelas hostilidades cometidas.
Em contrapartida, Portugal se obrigava a não atacar as missões. Foi um acordo
conveniente à coroa lusitana. Ficava com a Colônia do Sacramento e iria averiguar os
excessos praticados pelos paulistas. Em 1683, Duarte Teixeira Chaves ergueu a nova
colônia. Os espanhóis a sitiaram quatro vezes: em 1704-5 e 1735-37; em 1763; e, de
1772 a 1777. Ocuparam-na três vezes: de 1705 a 1715; em 1762 e 1777.[Holanda, 1965:
T.I, v.1, 328] A Colônia do Sacramento foi a cidade mais meridional da América
fundada pelos portugueses.
Nesses quase duzentos anos de ocupação, os lusitanos avançaram em direção
ao sul em busca dos nativos, dos rebanhos e do comércio da prata em troca de seus
produtos coloniais e das manufaturas inglesas. Atrás das manadas, veio a ocupação do
território. Primeiro, a preia do gado xucro. Depois, o estabelecimento da povoação de
animais, a estância com a doação das sesmarias de campo, a fixação da fronteira lusa. E,
por fim, nas proximidades da Vacaria do Mar, a instalação dos estabelecimentos de
salga das carnes.
.
Capítulo 2

CAMINHO DA PRAIA

Entre a Colônia do Sacramento e Laguna, ficava uma terra ainda não explorada
pelas potências ibéricas. No meio desse espaço, perto do oceano Atlântico, foi erguido,
em 1737, pelos portugueses, o presídio Jesus-Maria-José, que veio dar origem à atual
cidade de Rio Grande. O assentamento do presídio visava fornecer uma retaguarda
militar à Colônia, fiscalizar e cobrar os impostos dos produtos que saíam de lá, fixar a
povoação portuguesa. A primeira década de vida de Sacramento foi marcada por um
desenfreado contrabando de tecidos, couros e, principalmente escravos, sob o
envolvimento silencioso das autoridades portenhas.
“Sacramento foi um mercado distribuidor de escravos, não os fixou, em forma
geral, à região; é, porém, interessante reter essa primeira introdução da mão-de-obra
negra no Sul.” [MAESTRI, 1984: 43] Na década seguinte, a última do século XVII, a
cidadela “passou a contar para mais de 1.000 habitantes.” A administração “promoveu
a salga de carnes, criando uma verdadeira indústria e promovendo, com o maior êxito,
o comércio do produto; localizou agricultores nas cercanias da praça [...].” [CESAR,
1970: 81] Quando entrou o século XVIII, a cidade e a conseqüente disputa com Buenos
Aires continuavam a crescer.
“Era 1703. [...] é quando parte de Colônia Domingos Filguera, para
estabelecer o roteiro que seria a ligação por terra com o Brasil, acabando
com a perigosa dependência marítima .............................................................
...........................................................................................................................
percorre em quatro meses o caminho que ficou conhecido como o Caminho
da Praia, da Colônia até Laguna. Faz as indicações essenciais para
promover a ligação por terra e a região passaria a ser trilhada pelos
tropeiros, primeiro levando o gado que alimentaria as Minas Gerais,
fechando o ciclo produtivo e inserindo Colônia no processo de circulação e
acumulação mundial, via Portugal, além de fixar os luso-brasileiros,
primeiramente os lagunistas, nos caminhos do Sul.” [NETTO, sd.: 102]
A caminhada de Domingos Filguera foi descrita em um roteiro cheio de
informações inéditas sobre os lugares que percorreu, e de sugestões aos futuros
viajantes. Ao mesmo tempo em que propôs um guia gastronômico para as jornadas, deu
conta da fauna da região. Da mesma forma, comunicou sobre a geografia do território e
sugeriu a confecção de embarcações. Começou advertindo sobre o perigo das onças e,
por isso, optando pelo caminho da praia. O itinerário atravessou a serra de Maldonado;
28 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

circundou a lagoa de Castilhos; avistou “um lago que vai costeando a costa e vai fazer
barra no Rio Grande”.
Nesse lugar, construiu uma jangada para passar às águas. Sempre pela praia,
cruzou o Taramandabum [Tramandaí] e o Iboipiu, com água pela cintura, o Araraga e o
Ararangá [Araranguá] de jangada. Seguiu até uma lagoa e depois, andando pelos rastos
de gado, avistou os morros de Santa Marta. Tomando a direção do interior, enxergou
Laguna e os animais do Capitão Domingos de Brito, fundador da povoação. Definiu
Castilhos como o lugar onde acabava o gado vacum e iniciava a caça abundante de
porcos, cervos e veados. Observou que as margens das lagoas e do mar eram generosas
em peixes e pássaros. [FIG. 5]

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Figura 5 – Caminhada de Domingos Figueira. 1703. Colônia/Laguna.


CAMINHO DA PRAIA 29

Desde o início do século XVIII, tropeiros tomavam o rumo do sul em busca de


gado. Alcançavam o interior do continente sul-americano atrás das mulas que
abasteciam as minas de Potosi e as levavam para Minas Gerais. Essas empreitadas eram
chamadas de ‘arreadas’ e não eram um trabalho individual. Normalmente, um bando
agia sob as ordens de um chefe. Muitas vezes, esses tropeiros envolviam-se em brigas
com os castelhanos, para aprisionar seus animais. Paralelamente a essas investidas, o
império português acenava para o estabelecimento de população sedentária.
Atendendo a ordens do governador de São Paulo, o capitão-mor de Laguna,
Brito Peixoto, deu a seu genro bastardo, João de Magalhães, a chefia da expedição que
estabeleceu as primeiras invernadas e currais, que se localizaram no Estreito. Em 1732,
Magalhães mudou-se para os campos de Viamão. Ao mesmo tempo, povoadores
lagunenses e paulistas instalaram-se cerca dos rios Gravataí e dos Sinos. [FIG. 5]

Estrada do Planalto

A estrada do Planalto tinha a função de terminar de ligar a Colônia do


Sacramento a São Paulo. O projeto foi de Cristóvão Pereira de Abreu. Em 1727,
Francisco de Souza Faria iniciou a execução do caminho entre o Rio Grande de São
Pedro e os campos gerais de Curitiba. No princípio do ano de 1728, próximo ao rio
Araraguá [Araranguá], conseguiu abrir o primeiro rasgão na mata. Até esse ponto, o
caminho era o da praia. Bem aí, a estrada subia a serra Geral em direção noroeste.
Em 1730, Souza Faria alcançou o planalto e os campos de Curitiba,
precisamente o rio do Registro, o Iguassu. Um ano depois, Cristóvão Pereira realizou a
primeira travessia com tropas de gado, verificando que a estrada não tinha segurança. A
reparação do caminho levou mais de 13 meses; nesse tempo, Cristóvão Pereira
construiu perto de trezentas pontes, o que permitiu que o percurso fosse feito em menos
de um mês. [FORTES, 1938: 232] [FIG. 5]

Os caminhos históricos

As ligações do sul da América com o Brasil exportador significaram a entrada


da região platina no contexto internacional. Por parte dos historiadores, esse
envolvimento teve diferentes interpretações. Nos últimos 30 anos, destacaram-se pelo
menos três tendências. A escola paulista, na década de 60, defendeu, através dos
trabalhos de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, entre outros, a tese do
capitalismo comercial: o Rio Grande, do período da colônia, dependente da Europa. A
escola carioca, representada por historiadores como Ciro Flamarion Cardoso, Antônio
de Barros Castro e o argentino Héctor Perez Brignolli, na década de 70, compreendeu o
caráter complementar das economias americanas. Na década de 80, o historiador Jacob
30 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Gorender referiu-se textualmente à posição de Ciro Flamarion Cardoso e ao mesmo


tempo definiu seu ponto de vista:
“Um passo sério e pioneiro em direção a tal problemática foi dado por Ciro
Flamarion Cardoso, que ao invés da abstração de um ‘modo de produção
colonial’, único e indefinido, ateve-se à proposição concreta do modo de
produção escravista colonial. Por outra parte, sou da opinião que a
proposição de Ciro Cardoso padece das limitações epistemológicas dos
‘modelos’, reduzindo-se a uma combinação de traços característicos. O de
que se carece, a meu ver, é de uma teoria geral do escravismo colonial que
proporcione a reconstrução sistemática do modo de produção como
totalidade orgânica, como totalidade unificadora de categorias cujas
conexões necessárias, decorrentes de determinações essenciais, sejam
formuláveis em leis específicas.” [GORENDER, 1988: 8]
Na década passada, dois pesquisadores gaúchos, trabalhando sobre a economia
regional, acolheram as duas últimas tendências. A dissertação de mestrado de Berenice
Corsetti, intitulada Estudo da Charqueada Escravista Gaúcha no Século XIX, adotou o
ponto de vista da orientação de Ciro Cardoso. A tese de doutorado de Mário Maestri
Filho, O Escravo no Rio Grande do Sul. A charqueada e a gênese do escravismo
gaúcho, compartilhou do mesmo ponto de vista de Jacob Gorender. Sobre a entrada do
Rio Grande na economia mundial, a primeira concluiu:
“Ao findar o século XVII, um novo elemento virá somar-se ao conjunto,
maximizando as potencialidades até então apresentadas pelo Rio Grande de
São Pedro, ou seja, a descoberta de ouro em Minas Gerais, que se refletirá
na abertura de um novo mercado para o gado gaúcho e na vinculação
regional, de forma subsidiária, à economia de centro. [...]
A partir de então, a história do Rio Grande do Sul - como fornecedora das
regiões voltadas para o mercado internacional - vai se vincular ao mercado
interno do Brasil.” [CORSETTI, 1983, 26]
O segundo autor constatou que a preia do gado xucro fazia parte do processo
de produção “capitalista” e não era atividade espontânea de aventureiros românticos.
“Efetivamente, o espanhol pobre, o mestiço, o índio aculturado do meado do
século XVIII, eram a principal mão-de-obra ocupada na caça ao couro,
sebo e graxa. A ‘courama’ por mais heróica que possa aparecer a sua
prática, não deve, porém, ser analisada como atos de aventureiros. Eram
operações econômico-financeiras financiadas por ‘capitalistas’, envolvendo
pedidos, licenças, impostos, acordos, e contratos. Essa atividade era
regulada estritamente por lei, mas houve sempre uma violenta extração
clandestina de couros.” [MAESTRI, 1984: 33]
As ligações terrestres entre São Paulo e o rio da Prata foram a base concreta
para a inserção na economia mundial das atividades desenvolvidas nesta área. Entre
outros fatores, o tipo de atividade predatória, a preia do gado, ao lado do regime de
doações de terras, ajudaram a instalar provisoriamente as populações. Através dos
tempos, manteve-se a precariedade das instalações. Guardadas as especificidades das
épocas e dos lugares, a instabilidade dos alojamentos encontrou equivalências por toda a
Ibero-américa. Mais de 100 anos depois, em 1801, Felix Azara, geógrafo, naturalista,
historiador, oficial da marinha espanhola e chefe da comissão dos limites no Paraguai
entre 1781 e 1801, observou sobre as habitações do pessoal que aqui se instalou:
CAMINHO DA PRAIA 31

“Suas habitações se reduzem geralmente a ranchos ou choças cobertas de


palha, com paredes de paus verticais fincados na terra e rejuntados com
barro, sem caiação; e na maioria, sem portas nem janelas, se não quando
muito, de couro. Os móveis são pelo comum um barril para água, uma
guampa para bebê-la e um assador de pau. Quando muito acrescentam uma
panela e um banquinho, sem toalhas, nem nada mais [...] e sua asquerosas
habitações estão sempre rodeadas de montões de ossos e carne podre [...].”
[AZARA, 1980: 57]
A má distribuição de terras foi denunciada, pelo menos, por três autores
portugueses, que viveram o período de concessões de sesmarias no Rio Grande. Foram
eles, com os respectivos textos: Francisco João Róscio, engenheiro militar e governador
interino do Rio Grande de 1801 a 1803, que escreveu, em 1781, “Compêndio noticioso
do Continente do Rio Grande de São Pedro”; Manuel Antônio Magalhães, que fixou
residência na capitania, em fins do século XVIII, para exercer as funções de
administrador do quinto e do dízimo, e ofereceu ao vice-rei do Brasil, dom Fernando
José de Portugal, o texto “Almanack da vila de Porto Alegre”, publicado em 1808; e,
por fim, o pecuarista, político e charqueador Antônio José Gonçalves Chaves, que
escreveu, em 1817, a obra, publicada cinco anos mais tarde Memórias econômico-
políticas sobre a administração pública do Brasil.
Hoje, no final do século XX, os problemas habitacionais e fundiários da Ibero-
américa mantiveram as diretrizes esboçadas naqueles primeiros tempos de ocupação. A
precariedade das condições habitacionais descrita por Azara continua nos tugurios da
América espanhola ou nos ranchos do interior do Rio Grande. Nas áreas urbanas, essa
situação multiplica-se contínua e aceleradamente.

Montevidéu

No período compreendido entre 1706 e 1715, os espanhóis viveram a Guerra


da Sucessão Espanhola. Paralelamente, a Colônia do Sacramento esteve sob o domínio
dos castelhanos. Através do tratado de Ultrech, de 1715, a Colônia voltou às mãos
portuguesas. Com a finalidade de continuar com o monopólio no Prata, no ano seguinte,
el REY de Portugal deu instruções para que se povoassem e fortificassem as regiões de
Montevidéu e Maldonado. Em 1723, os espanhóis foram informados de que a coroa lusa
preparava-se para fundar Montevidéu. No primeiros meses de 1724, Bruno Maurício de
Zabala, governador de Buenos Aires, instalou o forte de São José. Naquele ano, os
portugueses tomaram o forte e foram desalojados. Em janeiro de 1726, Zabala decretou
a fundação da cidade e encarregou o engenheiro Domingo Pedrarca de delinear a sua
planta. [WILLIMAN & PONS, 1989: 132] [FIG. 2 e 5]
32 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Rio Grande

As estradas por onde transitavam as tropas de gado poderiam servir de caminho


para as tropas inimigas. A fundação de Montevidéu e a instalação das sete novas
missões jesuíticas na margem sul do rio Uruguai ameaçavam a presença portuguesa
nessas bandas. O brigadeiro José da Silva Pais pretendia fundar o presídio Jesus-Maria-
José, expulsar os espanhóis de Montevidéu e terminar com o bloqueio à Colônia do
Sacramento.
Só foi possível a fundação em fevereiro de 1737. Quando Silva Pais retornou
do Prata, o contratador de couros Cristóvão Pereira de Abreu o aguardava, havia alguns
meses. Nas cercanias do canal de Rio Grande, onde tinha instalado duas defesas, uma
no passo da Mangueira e outra no Arroio, e reunido gado de corte e cavalos. Nessa
empreitada, Cristóvão Pereira envolveu-se em lutas contra os tapes, como contou o
cronista da época Simão Pereira de Sá.
“Os tapes mais escandalizados que temerosos entraram por vingança a
afugentar e debandar o gado vacum, que cobria a fertilíssima campanha,
[...] e com tanta fortuna que cabendo mais de cem tapes a cada português,...
..........................................................................................................................
Abalizaram meia légua de terra a seu costume bárbaro para a escaramuça,
e com todas as vantagens, brandindo as lanças, entraram na peleja, que não
foi refutada dos nossos, por não perderem fugindo, o que haviam ganho
pelejando. Depois de durar largas horas a batalha, perderam terreno e,
feridos das nossa espadas, conheceram os perigos e se retiraram com tanto
medo e confusão que nos deixaram com os mortos um importante despojo de
cavalos, gado e bestas muares, o que tudo foi com muitos prisioneiros ao
alojamento do Coronel, o qual honrou o valor com boas palavras e estimou
a vitória por nos custar o excesso, e desigualdade, só sete feridos e um
morto.” [PEREIRA DE SÁ, 1969: 101]
Através das incursões, os tapes eram capturados e escravizados. Trabalhavam
nas diversas construções que se executavam no canal de Rio Grande e entorno. Entre
1738 e 1749, foram erguidos dois núcleos populacionais distintos, o do Porto e o do
Estreito. [FIG. 6] A povoação do Porto deu origem à atual cidade de Rio Grande; nela
situava-se o forte Jesus-Maria-José e algumas moradias. Aí era realizado o comércio, a
fiscalização e o controle das embarcações, das mercadorias, da remessa dos quintos do
couro e, na maré baixa, da passagem do gado pelo canal. Em 1739, explorado pela
Fazenda Real, foi inaugurado o serviço de transporte de gado por embarcações.
[QUEIROZ, 1987: 67]
A povoação de Estreito era o local onde João de Magalhães tinha se instalado,
e que deu origem à cidade de São José do Norte. Nesse local, foram construídos: o forte
do Estreito; a sede da Comandância Militar, com todo o seu programa de quartéis e
casas de apoio e a igreja de Santa Ana. Os materiais de construção praticamente não
existiam na área. Os edifícios foram executados de pau-a-pique e barro, cobertos de
palha e, em casos especiais, forrados de couros. [Queiroz, 1987: 65] A instalação de
Silva Pais compreendeu, ainda, no passo do arroio Chuí, no saco da Mangueira e no
Taim, tropas permanentes.
No cerro de São Miguel, hoje território uruguaio, ergueu mais um forte.
Naqueles primeiros anos, a alimentação restringia-se a carne e farinha. A má qualidade
CAMINHO DA PRAIA 33

dos campos da área do canal levou à instalação das estâncias reais da Torotama e do
Bojuru, com gado trazido de São Miguel. [FIG. 6] A existência de todas essas
edificações garantia a posse do território até Santa Catarina, dava acesso ao sistema
hidrográfico da laguna dos Patos, permitia o acesso aos rebanhos platinos, formava uma
retaguarda à Colônia do Sacramento, ajudava no controle e fiscalização dos impostos,
mercadorias, gado e ocupava efetivamente a terra. Essa posse foi o que mais pesou nas
questões de limites entre as duas potências ibéricas.

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Figura 6 – Rio Grande [1737]. Forte: Porto-Estreito-São Miguel. Guarnições: Chuí-Taim-Saco da


Mangueira. Estâncias: Bojuru-Torotama.
.
Capítulo 3

O ESPAÇO DA COMANDÂNCIA MILITAR DO RIO GRANDE


DE SÃO PEDRO DO SUL

Nas décadas de 30 e 40 do setecentos, iniciaram os processos de doações de


terras e a instalação da Comandância Militar do Rio Grande de São Pedro; surgiram as
primeiras notícias sobre estabelecimentos de salga de carnes. A soldadesca assentou-se
na planície costeira, ocupando uma faixa comprida, estreita, plana, baixa, descampada,
limitada e interceptada por águas. A leste, situava-se a praia, batida pelas ondas do
Atlântico; a oeste, a laguna dos Patos, seguida pelas lagoas Mirim e Mangueira. Em
cada uma das margens, existiam paisagens semelhantes, varridas pelos ventos
carregados de areias. A costa oceânica, retilínea, não possuía reentrâncias, como
enseadas, baías etc., que permitissem a ancoragem. Era formada de feixes de restinga,
campos de dunas movediças e depósitos de areias claras, quartosas, finas e muito finas.
Tanto a paisagem lacustre como a marítima apresentavam coberturas eólicas,
que se deslocavam ao sabor dos ventos. A orla das lagoas era formada de dunas e
depósitos de areias finas e médias, quartosas, selecionadas, arredondadas ou síltico-
argilosas, de cor creme. Ao contrário da costa marítima, as margens da laguna e das
lagoas abriam-se em várias enseadas, pontas, etc. Muitas vezes, nessa nesga de terra, o
terreno arenoso era recoberto de pastagens, com alguns bosques nativos, chamados
capões. Ao longo do terreno, que quase sempre estava na altura do mar, afloravam uma
série de banhados, lagoas e sangas.
Naqueles anos, o espaço ocupado militarmente estendia-se de Castela, cerro de
São Miguel, no limite sul, até a guarda do arroio Tramandaí, no norte. Os fortes de São
Miguel, Porto e Estreito, as guardas do Chuí, Taim, Albardão, Passo Novo, Arroio, saco
da Mangueira, Viamão e Tramandaí e as estâncias de Bojuru e Torotama constituíam a
defesa, o controle, a fiscalização e a posse do território. A implantação do porto no
canal do Rio Grande permitia o acesso ao território banhado pelo regime das lagoas.
Todo esse complexo de vigilância sucessiva estava ligado administrativamente ao Rio
de Janeiro. [FIG. 6]
Provavelmente, militares e povoadores não se restringiam aos espaços
ocupados pela administração colonial, nem por certo seria esta a intenção do poder
central. É possível que o lugar onde se situou o pólo salgador pelotense, perto do canal
do Porto do Rio Grande, precisamente no canal São Gonçalo, entre os arroios Santa
Bárbara e Pelotas, tenha sido ocupado primeiramente por Luís Gonçalves Viana. Ele era
proveniente da Colônia do Sacramento, membro do grupo dos primeiros povoadores,
36 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

chefiado por João de Magalhães e administrador da fazenda do Bojuru. [FORTES,


1932: 8]
“Foi Luís Gonçalves Viana administrador da estância de Bojuru e é de se
presumir que, tendo as suas percentagens sobre as criações dessa estância
atingido a um número elevado, ele escolhesse o rincão de Pelotas para se
instalar, definitivamente, povoando-o com suas criações.” [OSÓRIO, 1937:
59]
O povoamento das terras do rincão de Pelotas, lugar onde se localizaria o maior
centro charqueador sulino da Colônia e do Império, iniciou logo após o estabelecimento
da Comandância Militar do Rio Grande. É possível que, junto ao povoamento dos
animais, Luís Gonçalves Viana tenha transferido também casais açorianos e refugiados
da Colônia do Sacramento, anteriormente colocados na fazenda real do Bojuru,
enquanto aguardavam a demarcação das terras.

Primeiras Sesmarias

Em 1732, antes da instalação da Comandância Militar do Rio Grande, as


primeiras solicitações de terras começaram a ser feitas por tropeiros. No caminho entre
o Prata e São Paulo, existiam áreas de pastagens para o gado. Eram lugares que
permitiam o confinamento dos rebanhos por barreiras naturais, como matos, valos,
serros, etc. Esses lugares foram sendo ocupados pelas pessoas que por ali viajavam,
transportando animais: nessas paragens, homens e, principalmente, rebanhos se
restabeleciam para seguir a jornada.
“Assim apareceram na documentação histórica referente a este período, a
tapera do Magalhães, o rincão do Cristóvão Pereira, a estância de Souza
Faria, o sítio do Paulista, o curral do frei Sebastião e outras designações
atestando o solo no período das invernadas.” [FORTES, 1934: 78]
Paulatinamente, o solo rio-grandense foi sendo povoado por essa gente. Muitos
lugares foram recebendo os nomes dos antigos tropeiros, invernadeiros, posseiros e, por
fim, estancieiros. São exemplos disso a lagoa dos Barros, de Manuel Pereira Barros; o
balneário Quintão; de João da Costa Quintão; a ponta do Dionísio, de Dionísio
Rodrigues Mendes, etc.
Em 1732, o capitão-mor de Laguna, Francisco de Brito Peixoto, requereu
sesmaria que ia do rio Tramandaí até o Rio Grande, mas, apenas em 1734, seus
herdeiros receberam terras em Viamão. Também, em 1732, tinham sido doadas as
primeiras sesmarias, na zona do Tramandaí, a Manuel Gonçalves Ribeiro e Francisco
Xavier Ribeiro. No mesmo ano, o governador de São Paulo doou terras que abrangiam
os arredores de Viamão, as margens do rio Guaíba, em Porto Alegre, Itapuã, Rio dos
Sinos e Gravataí. Francisco Pinto Bandeira, pai de Rafael Pinto Bandeira, foi agraciado
com duas sesmarias naquela zona. [OSÓRIO, 1990: 72]
Os soldados que desembarcaram no Rio Grande não receberam sesmarias.
Grande parte dos sesmeiros eram oficiais superiores e pessoas que serviam à Coroa.
Prioritariamente, vinham da Colônia do Sacramento e do Rio de Janeiro. Os tropeiros
O ESPAÇO DA COMANDÂNCIA MILITAR DO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO DO SUL 37

que passaram a estancieiros tinham títulos militares das Companhias de Ordenanças.


Estas eram unidades auxiliares, permanentes, formadas e mantidas por homens ricos da
terra, que não recebiam soldo, mas gozavam das regalias dos seus postos. [QUEIROZ,
1987: 75]
Fizeram parte dessa gente, por exemplo, o capitão João de Magalhães, genro
do capitão-mor de Laguna, Brito Peixoto, com terras em Viamão, invernada nos campos
de Tramandaí e fazenda, desde 1729, em Garopaba, em Santa Catarina. [FORTES,
1934: 83] Igualmente, o sargento-mor Francisco de Souza Faria, “o abridor do caminho
para a cidade de São Paulo”, no rincão da Torotama, e o coronel Cristóvão Pereira de
Abreu, que dizia ter chegado, em 1736, “com várias ordens de serviço de S.
Majestade”. etc. [RÜDIGER, 1965: 17]
Pereira de Abreu ganhou terras na Serra de Viamão, entre os rios Tainhas e
Camisas, na bacia do rio das Antas, perto do rio Araranguá, onde saiu, no planalto, a
estrada idealizada pelo próprio Cristóvão Pereira e executada por Souza Faria.
[FORTES, 1938: 240] O Rio Grande de São Pedro do Sul começava a ser repartido
entre os oficiais das forças militares da Coroa lusitana e os chefes que armavam seus
bandos às próprias custas.
Nesse momento, as terras da planície costeira foram ocupadas pelas forças
militares do poder colonial. As terras por onde passava a estrada do planalto vieram a
ser doadas, pelo governo de São Paulo, àqueles tropeiros que, em grupos, munidos de
armas para enfrentar os nativos e os espanhóis, abriam caminhos e encontravam
pastagens entre o Prata, São Paulo e Minas Gerais, aprisionando, roubando,
transportando e comercializando animais.
Em 1738, já existia o registro das terras, simultaneamente ao registro da marca
dos animais, porque a ação fiscal da Coroa recaía sobre a produção, gado e couros, e
não sobre a terra, que era gratuita. Nesse mesmo ano, com a preocupação de preservar
os rebanhos da Vacaria do Mar, André Ribeiro Coutinho, sucessor de Silva Pais na
Comandância Militar de Rio Grande, tinha proibido a faina de couros naquele lugar.
Um ano depois, deu instrução para que todo o gado fosse marcado. Nessa ocasião, a
apropriação do gado prevalecia sobre a da terra.
A posse da terra foi uma questão de disciplina e de cobrança de impostos. “Ao
mesmo tempo, é o interesse na apropriação dos rebanhos que determina o surgimento
das primeiras estâncias e o início da construção desse novo espaço.” [OSÓRIO, 1990:
81] Diferentemente do resto do Brasil, as terras concedidas no Rio Grande não iam para
os homens de posses, e sim para aqueles que, além de tudo, tinham liderança militar.
Segundo recenseamento realizado em 1741, existiam onze estâncias do Chuí à
margem sul do canal.
“Seus proprietários eram povoadores do Rio e da Colônia, um oficial de
carreira [ajudante João Gomes de Melo], um povoador de naturalidade
espanhola [Francisco de Seixas] e outros procedentes da América
espanhola [Miguel Moreira].
Na parte do norte as propriedades que estão voltadas para a Freguesia do
Rio Grande, em 1741, são as de Manuel da Silva Vargas, o povoador
procedente de Laguna, João da Silva de Souza, povoador precedente do Rio
de Janeiro, e Cosme da Silveira.” [QUEIROZ, 1987: 76]
Naquele ano, foram arroladas 31 fazendas na parte norte, do Estreito a Viamão.
Somando-se com as onze do sul, totalizavam 42. [OSÓRIO, 1990: 81] O processo de
doação de sesmarias, nesse espaço, continuou até a metade do século XVIII, quando a
38 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

expedição de demarcação dos limites, segundo o tratado de Madrid, ampliou as áreas de


concessões rumo ao rio Jacuí, em sentido oeste.

Começando a salgar a carne

A abertura da estrada do Planalto permitiu a descoberta de imensos rebanhos


na chapada catarinense e acelerou o ritmo do comércio dos animais de carga com os
espanhóis. Interessado na introdução de muares na capitania de São Paulo, com o
objetivo de transportá-los para Minas Gerais, Rodrigo César de Menezes, governador
dos paulistas, fez ao capitão-mor de Laguna uma série de sugestões sobre o
relacionamento com espanhóis e nativos:
“Também poderão ir à ilha de Santa Catarina comerciar com aqueles
moradores levando os seus gados pelos campos daqueles distritos, porque
assim se poderão fazer nas campanhas muitas carnes secas [grifo nosso]
para se transportarem para todos os portos, do que se segue a utilidade da
Real Fazenda, e bem comum, e como na dita ilha é a barra mais franca com
mais facilidade se poderão carregar nas embarcações não só carnes, mas
bestas muares e por meio deste comércio se conservará a amizade dos
minuanos com os portugueses.” [FORTES, 1934: 80]
Desde que se começou o trabalho com o gado, mesmo quando o interesse
comercial era somente o couro, a salga de carnes foi feita em alguns abates. Era a
maneira como se preservava a carne para consumo próprio. É do final dos anos trinta,
no século XVIII, a primeira referência sobre um estabelecimento destinado
especificamente a essa tarefa, a charqueada.
“[...] um lugar situado hoje próximo a divisa dos municípios Osório-
Mostardas [...] Ficamos então sabendo que ali ‘existiu, em época anterior a
1738, uma charqueada montada certamente por algum dos primitivos
povoadores do Rio Grande’[...] pretendentes a posse daquelas terras
‘declararam que ali estivera estabelecido Cristóvão Pereira de Abreu,
dando ao lugar o nome de Charqueada Velha’. [...] é suficiente para
identifica-la com a Charqueada Velha que encontramos na ‘Planta sobre a
viagem por terra entre a ilha de Santa Catarina até a Barra do Rio Grande
de São Pedro [...]’ feita pelo marechal Diogo Funck em 1775 [...].” [Xavier,
1971: 6]
Existiu uma charqueada na ponta do Dionísio, nos campos de Belém Velho, às
margens do rio Guaíba, também chamado de lagoa de Viamão. [MARQUES, 1987: 71]
Ela pertenceu a Dionísio Rodrigues Mendes, desbravador de Belém e parente
consangüíneo da mãe do capitão-mor Brito Peixoto. [FORTES, 1932: 9] Em 1732, seu
nome ainda aparecia na Câmara de Laguna e, no recenseamento das terras de Viamão,
realizado em 1784, se encontra a seguinte informação:
O ESPAÇO DA COMANDÂNCIA MILITAR DO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO DO SUL 39

“Dionísio Rodrigues - Possue um campo e sua fazenda em que está


estabelecido a [sic] 50 anos por ser um dos primeiros povoadores de
Viamão, cujo campo terá pouco mais ou menos duas léguas de extensão
[13,2 km] e tem em sua companhia alguns filhos e genros agregados que
todos vivem de lavouras e criação de animais.” [FORTES, 1934: 91]
A fixação das estâncias e da comandância Militar do Rio Grande ocorreu,
aproximadamente, ao mesmo tempo em que, segundo se noticia, se criaram os primeiros
estabelecimentos destinados, quase que exclusivamente, à salga de carnes. No segundo
quartel do século XVIII, tropeiros, lideres de bandos armados, comerciantes de gado,
viajavam do rio da Prata até Laguna, São Paulo e Minas Gerais. Estes homens
construíram uma rede de transportes, invadiram a mata, abriram caminhos e se
aquerenciaram em currais nativos desses pagos.
Defenderam as suas posses com o sangue de seus bandos. Essas pessoas
serviriam também de mão-de-obra na criação extensiva dos rebanhos das suas fazendas.
Mais tarde, nativos, das estâncias missioneiras ou não, iriam engrossar o “exército de
reserva” desses senhores. A Comandância Militar do Rio Grande foi implantada poucos
anos depois das primeiras doações de terras.
A Coroa lusitana tinha, por certo, o objetivo de assegurar a posse deste
território e, principalmente, cobrar os impostos sobre o gado, os couros e o charque que
se pretendia produzir, além de todo contrabando e demais negócios que poderia querer
usufruir. A ocupação do solo rio-grandense deu-se de duas formas; em ambas, o critério
de distribuição foi a retribuição de serviços militares prestados. Desde o início,
esboçou-se a presença de dois espaços, de dois grupos dominantes, diferentes, mas não
divergentes. E de um outro grupo, dominado e sem nenhum espaço.
“Mas o contrabando corrente na região austral, beneficiando terras de
Portugal e Espanha, introduziu nessa área o fermento da desordem, da
competição e das rivalidades sangrentas. Tudo isto, aliado aos abusos
praticados pelas companhias de comércio, contribuiu não pouco para que
os reis ibéricos assinassem o tratado de 1750. Pensou-se que, bem
delimitada e demarcada, naquela região da América do Sul, a fronteira
entre as duas nações o mal logo desapareceria. [...] a Colônia do
Sacramento, em realidade se convertera numa das peças essenciais à evasão
de rendas provocada pelo comércio ilícito.” [CESAR, 1978: 24]
O tipo de ocupação espacial, por parte dos espanhóis, não foi distinto.
Simbolicamente, a Espanha cobrava pela terra; tanto no domínio de Castela, como no de
Lisboa, além da posse econômica, o que mais valia era o prestígio militar. No ambiente
platino daquela época, literalmente, o poder das armas de aço e de fogo mantinha a
posse do território e dos rebanhos ali existentes.
.
Capítulo 4

MIL SETECENTOS E CINQÜENTA

Na segunda metade do século XVIII, os acontecimentos tomaram um novo


ritmo e uma outra direção na Península Ibérica e na região platina. Entre outros feitos,
Portugal e Espanha abandonaram o absolutismo, adotaram o despotismo esclarecido e
expulsaram os jesuítas de todos os seus domínios. O banimento ocorreu primeiro em
Portugal, no ano de 1759, na Espanha, em 1767, e, um ano depois, em 1768, segundo
parece, nas colônias americanas. Nesse período, começou a produção da carne salgada,
com vistas à comercialização, e a conseqüente construção de estabelecimentos especiais
para esse fim.
O núcleo saladeiril sulino foi implantado a partir de 1780. O período de
permanência dos espanhóis em Rio Grande, durante os anos de 1763 a 1776, e o tratado
de Santo Idelfonso, assinado em 1777, antecederam a instalação do pólo charqueador
pelotense. Em 1758, foi doado o rincão de Pelotas, onde seriam implantadas sete
charqueadas, seis na margem esquerda do arroio Pelotas e uma na laguna dos Patos,
vinculadas, ou não, às fazendas que lhes deram origem.
No início da segunda metade do século, as monarquias ibéricas assinaram o
tratado de 1750, acordando, principalmente, o que segue:
“Portugal cedia para sempre à coroa da Espanha a Colônia do Sacramento
e o seu território adjacente, na margem setentrional do rio da Prata, e as
praças, portos e estabelecimentos que se compreendessem na mesma
margem. A navegação do rio da Prata ficaria também pertencendo,
privativamente, à Espanha. Pelo artigo XIV, a Espanha cedia a Portugal
tudo o que por parte dela se achava ocupado, desde o monte de Castilhos
Grande até as cabeceiras do rio Ibicuí, compreendidas todas e quaisquer
povoações situadas entre a margem setentrional do rio Ibicuí e a oriental do
rio Uruguai.
Esse artigo XIV declara, pois, que passaria ao domínio português todo o
território das Missões Orientais do Uruguai, fundadas pelos jesuítas,[...] a
forma de entrega foi feito no artigo XVI, [...] sairão os missionários com
todos os móveis e efeitos, levando consigo os índios para os aldear em
outras terras da Espanha [...]” [CESAR, 1970: 141] [FIG. 7]
O tratado de Limites atendia às idéias defendidas pelo realizador do contrato, o
brasileiro Alexandre Gusmão. Entregava-se a Colônia do Sacramento, considerando que
não se poderia manter a continuidade do território português até aquela cidadela, ao sul.
42 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Dificilmente Montevidéu seria tomada e conservada sob o domínio luso. Seria


preferível continuar estendendo os domínios da coroa de Portugal no rumo oeste.
O comandante da expedição demarcadora do tratado de 1750, governador
Gomes Freire de Andrade, do Rio de Janeiro, encontrou uma série de dificuldades. Os
obstáculos eram de toda ordem: a morosidade em se reunir com a equipe espanhola; as
longas e intermináveis discussões sobre os verdadeiros limites e, para pôr fim à
definição das fronteiras, a guerra Guaranítica empreendida pelo povo missioneiro, que
não queria abandonar o lugar.
Por um lado, os jesuítas representavam uma ameaça aos impérios ibéricos; a
Companhia de Jesus constituía-se num “Estado dentro do Estado”. Os padres vinham
tendo influência nos Estados católicos europeus. Os produtos das aldeias missioneiras
guaranis eram exportados para o Velho Mundo, os tributos encaminhados diretamente à
própria Companhia e, para completar a situação, no território platino, os padres
assentaram as aldeias numa zona economicamente rica, e a povoaram com gado.
[PESAVENTO, 1980: 12] Por outro lado, os guaranis e os jesuítas defenderam, para os
espanhóis, esta região, dos portugueses.
“Entretanto, ao pretender para os indígenas guaranis um espaço de
liberdade inserido no mundo colonial ibero-americano, as Missões se
transformaram em uma utopia. A desintegração dessa experiência
missioneira, em meio aos conflitos luso-espanhóis e às novas circunstâncias
históricas do Século das Luzes, indica claramente que não havia mais
espaço político para esta utopia política.” [KERN, 1982: 265]
A entrega da Colônia do Sacramento foi motivo de protestos por parte dos
negociantes lusos que agiam através daquela praça portuguesa. Havia descontentamento
entre os castelhanos, que viam desvantagem na troca da exígua praça de Colônia do
Sacramento pelo extenso território missioneiro, coberto de rebanhos. Essa situação
acentuou-se quando o marquês de Pombal assumiu a liderança do governo português.
A demarcação foi interrompida devido à guerra Guaranítica. Os conflitos
existentes com o desenrolar da expedição demarcadora serviram para reforçar
militarmente a área. O governo português utilizou-se dos estancieiros e de seus homens
para a defesa do território. Em troca, outorgou-lhes poder e autoridade, distribuiu cargos
entre os chefes e incrementou o processo de distribuição de sesmarias, aumentando a
ocupação no interior.
Nas décadas de 50 e 60 do século XVIII, o governador Gomes Freire de
Andrade procurou assegurar a retaguarda da “tranqueira”, no entorno do forte de Rio
Pardo, distribuindo terras. [RÜDIGER, 1965: 26] “A crescente importância militar da
zona proporcionou que, administrativamente, a região fosse elevada, em 1760, à
condição de capitania – a ‘Capitania do Rio Grande de São Pedro’– desvinculada de
Santa Catarina e subordinada ao Rio de Janeiro.” [PESAVENTO, 1980: 21]
MIL SETECENTOS E CINQÜENTA 43

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Figura 7 – Tratado de Madri [1750]. Tratado de Santo Idelfonso [1777].

Açorianos

Durante muito tempo, a colonização portuguesa, através de casais, foi utilizada


por Portugal. A estratégia consistia em ocupar a terra para a sua defesa. Esse expediente
tinha sido empregado nos povoamentos da Colônia do Sacramento e de Rio Grande. Em
1742, quando governador de Santa Catarina, o brigadeiro Silva Pais, solicitou a
imigração de casais para o assentamento na ilha de Desterro, atual Florianópolis. Em
44 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

1747, realizou-se o contrato com Feliciano Velho Oldemberg para o envio de casais
açorianos em grande quantidade. [Fortes, 1978: 52]
A vinda dessas famílias não rompeu o processo de apropriação da terra que
vinha sendo feito. Ao contrário, a mão-de-obra doméstica açoriana abasteceu de
alimentos os exércitos e forneceu braços para as operações militares. A imigração
serviria para a criação de povoados.
“Há orientações minuciosas sobre a escolha dos ‘sítios mais apropriados
para fundar lugares’, com sessenta casais cada um. As ordens estabelecem
também a extensão que devem ter os logradouros públicos, a praça, a
igreja, e a dimensão das ruas. Outra determinação expressa era a de ‘logo
levantar uma Companhia de Ordenanças’ nas quais ‘se alistarão todos os
moradores, casados e solteiros, e dareis ordens para a sua disciplina’.”
[OSORIO, 1990: 98]
O tamanho das datas de terras destinadas à agricultura e, conseqüentemente,
aos casais colonizadores, era bem diferente do das sesmarias de campo destinadas às
fazendas de gado. Quanto ao processo de concessão, a data era uma doação do
governador militar de São Pedro e possuía mais ou menos 1500 braças, um quarto légua
quadrada [272 hectares]. A sesmaria deveria ser concedida pelo vice-rei, governador do
Rio de Janeiro e, posteriormente, ser confirmada, em Portugal, pelo conselho
Ultramarino. Media aproximadamente três léguas de comprimento, por uma de largura
ou uma e meia em quadro [de 13.000 a 10.000 hectares]. [FORTES, 1978: 80]
Um ano depois de assinado o contrato com Feliciano Velho Oldemberg, em
1748, em Santa Catarina, chegou a primeira leva de casais do contrato. Em 1752, a
maior parte alcançou Rio Grande para dar andamento à ocupação da área definida pelo
tratado de Madri. Foram enviados a Viamão, Santo Amaro e Rio Pardo, não atingindo a
terra missioneira. O tratado fracassou, os espanhóis avançaram sobre Rio Grande e os
açorianos passaram quase 20 anos sem receber a propriedade estipulada no edital.

O Rincão de Pelotas

Foi no contexto de lutas contra os guaranis, de 1754 a 1756, e mais tarde,


contra os espanhóis, de 1763 a 1776, que apareceram os líderes das forças militares
portuguesas e dos bandos de aventureiros, que seriam os donatários das sesmarias de
campo. Uma das lutas travadas na guerra Guaranítica foi na fortaleza Jesus-Maria-José,
em Rio Pardo, construída para cobrir e resguardar os armazéns e provisões.
“Apenas se começou a defender aquele passo com uma trincheira,
guarnecida de sessenta aventureiros debaixo do comando do tenente de
dragões Francisco Pinto Bandeira [pai de Rafael Pinto Bandeira], que uma
partida de mil índios das missões a atacaram de madrugada, [...].
Com tal notícia destacou o general português o tenente coronel Tomás Luís
Osório,[...]. [Grifo nosso] [PINHEIRO, 1982: 78]
Tomás Luís Osório reforçou o contigente de Rio Pardo. Nessa ocasião, dirigiu
as obras de reforço e ampliação da fortaleza, desbaratou seus inimigos e prendeu o
próprio chefe e seu filho. Também teve participação decisiva na luta onde tombou o
MIL SETECENTOS E CINQÜENTA 45

líder guarani Sepé Tiarajú. [PINHEIRO, 1982: 81] É possível que esses feitos tenham
contribuído para que o governador Gomes Freire de Andrade o presenteasse, em 18 de
junho de 1758, com o rincão de Pelotas. O rincão possuía os seguintes limites naturais:
laguna dos Patos; sangradouro da Mirim, atualmente chamado de canal São Gonçalo;
arroios Pelotas e Correntes. [BPP, RPTMP, 93: 11] [FIG. 8] Nesse lugar, quando o
tenente-coronel não era mais proprietário, chegaram a funcionar, como já assinalamos,
sete charqueadas, unidas, ou não, às respectivas fazendas.

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Figura 8 – Rincão de Pelotas. Tomás Luís Osório [1758].

Em 1761, forças espanholas planejavam avançar rumo ao Rio Grande. Para


organizar a defesa, Tomás Luís Osório foi enviado a Castilhos com a finalidade de
orientar a construção de uma fortaleza. O engenheiro João Gomes de Melo desenhou a
fortificação na forma de um pentágono. Apesar das dificuldade apresentadas pelo
46 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

terreno e dos poucos materiais de construção disponíveis na região, a fortaleza de Santa


Tereza estava parcialmente construída, em janeiro de 1763. [PINHEIRO, 1982: 89]
No primeiro dia de outubro de 1762, dom Pedro Ceballos, capitão-general e
Governador das Províncias do Rio da Prata, tomou a Colônia do Sacramento. Em março
de 1763, estava na serra de Maldonado. Na manhã do dia 19 de abril, recebeu, de
Osório, o forte de Santa Tereza. “[...] chegando o coronel de dragões Tomás Luís
Osório a deixar-se surpreender no passo junto a Castilho onde se achava postado com o
seu Regimento e mais gente que se lhe agregara que fazia o número de novecentos
homens sem a mais leve resistência [...].” [Monteiro, 1937: 7] Com a entrega de Santa
Tereza, estava aberta a porta do Rio Grande para os de Castela.
Cinco dias depois da entrega da fortaleza de Santa Tereza, os espanhóis
entraram em Rio Grande e encontraram poucas e miseráveis famílias dos Açores. A
população civil e militar tinha desertado. Os refugiados tomaram rumo norte, na fazenda
Real do Bojuru, e, no mesmo sentido, alcançaram os campos de Viamão. [RÜDIGER,
1965: 27] É provável que alguns tenham se refugiado no rincão de Pelotas e
adjacências. Os castelhanos chegaram até Laguna, e, no Rio Grande, mantiveram-se
durante 13 anos. Tomás Luís Osório foi executado em Lisboa. À viúva, restou a venda
do rincão de Pelotas.

Treze Anos de Permanência Espanhola. 1763-1776

Esse período, marcado pelo contrabando e pelas investidas predatórias no


campo adverso, foi mais violento do que os anteriores. Quanto mais víveres, cavalos,
gado e armas as forças auxiliares arrebatassem, mais amedrontado e enfraquecido ficava
o inimigo. Rafael Pinto Bandeira foi o cabo-de-guerra dessa luta, a quem coube o
comando de uma tropa de segunda linha, composta de aventureiros. Nessa tática, foi
quem mais reduziu o poder ofensivo dos castelhanos.
O exército do general Böhm, contratado pela coroa lusitana, atuava nos locais
de resistência na Depressão Central e em São José do Norte, no litoral. Pinto Bandeira
lutou com seus homens, ou seja, com as forças auxiliares, no interior, na área ocupada
pelos platinos. Com o passar do século XVIII, a prática das arreadas institucionalizou-
se; além de ser uma eficiente tática de guerrilha, tornara-se um bom negócio,
permanecendo, por isso, mesmo depois da saída dos castelhanos. [CESAR, 1978: 45]
Quando os espanhóis se retiraram do Rio Grande, foi assinado o tratado de
Santo Idelfonso. No Rio Grande de São Pedro, entre outros fatos e acontecimentos, o
terceiro quartel do século XVIII foi marcado pelo tratado de Madri, a chegada dos
açorianos, a saída dos jesuítas, a permanência dos castelhanos e as doações dos campos
de sesmarias aos militares portugueses e líderes das forças aventureiras ou auxiliares.
Dentro dessas concessões, constou o rincão de Pelotas, doado ao tenente-coronel
português Tomás Luís Osório. Mais tarde, nesse local, seriam implantados sete
estabelecimentos de salgação de carne.
Capítulo 5

ENQUANTO ISSO, NA BANDA DE LÁ

No último quartel do século XVIII, Portugal e Espanha assinaram o tratado de


Santo Idelfonso. Foram concedidas as sesmarias de campo e as datas situadas na zona
de fronteira, acordada pelo contrato de 1777. Instalou-se o pólo charqueador às margens
do arroio Pelotas e as fábricas de salga na Banda Oriental do Uruguai. Por certo, a
localização do núcleo rio-grandense estava vinculada ao que estabelecia o acordo, como
também a instalação dos saladeiros do Uruguai estava ligada à política de Carlos III.
Nesse período, as reformas administrativa e comercial trazidas para a América
espanhola, tinham os seguintes objetivos: lutar contra a desagregação da colônia,
fortalecer o aparato político e militar, acabar com a sobreposição de competências e a
corrupção e, por fim, colaborar com o progresso colonial, de forma a aumentar os lucros
da coroa. As iniciativas lusa e espanhola progrediram, porque crescia o plantel de
escravos, nas fazendas cafeicultoras do Brasil central e nas atividades açucareiras de
Cuba, no Caribe, aumentando o consumo da carne salgada.
Em 1776, enquanto a colônia inglesa, da América do Norte, declarava a sua
independência, o império colonial espanhol criava o vice-reinado do Rio da Prata, com
sede em Buenos Aires. Era o Século das Luzes mostrando uma de suas facetas na
América meridional. Em 1778, os portos de Montevidéu e Buenos Aires estavam
habilitados para o comércio exterior, e uma quantidade de produtos ficou liberado do
pagamento de direitos de entrada, nos portos da Península. A exportação de couros
bovinos cresceu consideravelmente, além da ampliação da demanda exterior de diversos
outros produtos ganaderos, como graxas, sebo, lãs, guampas, peles e charque.
[MONTOYA, 1984: 111] Em 1778, o Regulamento de Livre Comércio, outra das
medidas da coroa espanhola, impulsionou a fabricação saladeiril.
As bibliografias uruguaia e rio-grandense assinalaram a data de 1780 como o
início das atividades charqueadoras, com vistas à comercialização. Na banda de cá,
parece que o pioneiro foi o português, fabricante de carne seca, no Ceará, José Pinto
Martins, que, fugindo das secas dos anos de 1777, 1778 e 1779, veio parar às margens
do São Gonçalo ou do arroio Pelotas, onde estabeleceu a primeira fábrica de carne
salgada. Na Banda Oriental, consta como precursor o espanhol Francisco Medina.
Entre os anos de 1774 e 1777, Medina tinha acordado com o governo prover de
gêneros alimentícios as tropas alojadas nos fortes de Santa Teresa, São Miguel,
Montevidéu, Real de São Carlos e o quartel de Rio Grande; as tripulações das
embarcações do Rei, a Real Armada; e, os expedicionários enviados à costa do Brasil.
48 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

[MONTOYA, 1984: 111] Entre outros negócios, Francisco Medina foi empresário da
pesca da baleia, nas costas da Patagônia, e, nos anos de 1784 e 1786, forneceu sal às
cidades de Montevidéu e Buenos Aires. Adquiriu uma grande estância, perto do arroio
Colla, e colocou em marcha um enorme saladeiro, pelo sistema chamado irlandês, que
conservava a carne em barricas de sal. [ASSUNÇÃO, 1978: 271]
Este último empreendimento contava com um porto na desembocadura do
arroio Sauce com o rio da Prata e estava localizado numa área de sete léguas [46,2km]
de frente ao rio da Prata, por três e meia [23,1km] de fundo, tendo a leste o rio Rosário
e, a oeste, o arroio do Sauce. Em 1788, Medina recebeu 150.000 pesos de empréstimo
da Real Fazenda, para melhorias naquele estabelecimento. No mesmo ano, veio a
falecer. Na relação de bens da estância, o rebanho de gado somou 25.000 animais, o de
cavalos, 3.000, e o de ovelhas, 300. Na charqueada, trabalhavam 11 escravos. A fábrica
de salgar contava com 11 galpões, sendo três de tijolos e telhas de barro e o restante de
pau-a-pique e cobertura de palha. Todos serviam a mais de uma função. Nos primeiros,
localizavam-se os tanques de salga, fábrica de tonéis, dormitório para os toneleiros e
depósitos. Os outros galpões serviam de armazéns para o charque, depósitos,
alojamento da peonada, cozinha e olaria. A senzala compartilhava do mesmo galpão da
graxeira, onde se produziam velas, sebo, etc. Para pendurar sebo e graxa, possuía
enramadas a céu aberto. Contava com currais para gado e cavalos. [ASSUNÇÃO, 1978:
272]
Há quem afirme que o primeiro saladeiro que se instalou, na Banda Oriental,
foi obra de dom Francisco Antônio Maciel, em Montevidéu. As fábricas de carne
salgada foram se estabelecendo nas proximidades de Montevidéu, próximas à baía; nas
imediações de Maldonado; nas margens dos rios Uruguai e Negro, “buscando sempre
conciliar as facilidades de abastecimento de gado com a economia de transporte dos
produtos elaborados”. [SEOANE, 1928: 94] Em Buenos Aires, a produção da carne
salgada, com vistas à comercialização, iniciou mais tarde, mas, em troca, as medidas
protecionistas tomadas pela Primeira Junta foram crescendo até 1815, permitindo o
estabelecimento e o rapidíssimo desenvolvimento dos saladeiros.
“E aqui tudo se fará, fundamentalmente, ao redor de um nome, cuja
influência, emanada precisamente nessas medidas protecionistas, em seu
caráter, seu poder econômico, seu carisma popular [que lhe dava fama de
muito ‘gaúcho’], e seus ‘contatos’ locais e externos, cada vez mais
poderosos: Juan Manuel Rosas. A firma Rosas, Terrero y Cia, exerceu um
verdadeiro monopólio sobre a indústria saladeiril e a exportação dos
produtos desta, desde 1815 em diante.” [ASSUMÇÃO, 1978: 276]

1777. Tratado de Santo Idelfonso

O território colonial português ficou reduzido com o tratado de 1777. [FIG. 7]


A área missioneira voltou aos domínios espanhóis, a Colônia do Sacramento ficou
definitivamente com os castelhanos e Laguna, que estava nas mãos de Ceballos,
retornou aos portugueses.
ENQUANTO ISSO, NA BANDA DE LÁ 49

“[...] a linha fronteiriça convencionada partia não mais da enseada de


Castilhos Grande, mas do arroio Chuí, e a sua inflexão para noroeste
seguia as cabeceiras dos rios que vão desaguar no Prata e no Uruguai. A
navegação destes, até a desembocadura do Peri-Guaçu, ficou garantida à
Espanha. [...] [FIG. 7] Uma das inovações do tratado constituiu no
estabelecimento dos Campos Neutrais, que se explicam como segue. As
línguas de terra compreendidas entre a lagoa da Mangueira e a Mirim e a
costa marítima não poderiam ser ocupadas por nenhuma das nações
contratantes: ‘de sorte que nem os portugueses passem o arroio Taim, linha
reta ao mar até à parte meridional, nem os espanhóis o arroio Chuí e de São
Miguel até à parte setentrional’.” [CESAR, 1970: 200] [FIG. 9]

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Figura 9 – Campos Neutrais.


50 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Os espanhóis pretendiam criar um cinturão deserto em torno do rio da Prata. O


acordo não permitia nenhuma construção e/ou ocupação nos espaços chamados de
neutros. Entendia ser uma forma de diminuir o contrabando. Ao contrário, essa “terra-
de-ninguém” se transformaria na guarida de bandoleiros, vagabundos e contrabandistas.
Por um lado, minuanos aliados aos portugueses, pelo outro, estancieiros de Rio Pardo
percorriam incessantemente a fronteira, arrebanhando animais. [CESAR, 1978: 53]
Na época dos Campos Neutrais, Rafael Pinto Bandeira era o comandante dos
piquetes encarregados da vigilância da fronteira. Nesse período, viveu amancebado, e
teve uma filha, com a neta de um tal D. Miguel Ayala, de origem hispano-paraguaia,
também chamado de Velho Zapata.
“Tinha ele como companheira uma índia minuana pura. Do casal nasceu
um filho que herdou o nome do pai- D. Miguel Ayala. Este foi considerado o
primeiro gaúcho de campo, aclamado rei dos minuanos. O seu reinado
estendia-se entre as lagoas e o mar, tudo indicando, portanto, que os
Campos Neutrais pertenceram, por algum tempo, ao rei dos minuanos.”
[AMARAL, 1972: 55]
Os Campos Neutrais formavam uma grande invernada de tapumes naturais,
coberta por gramíneas forrageiras e excelentes aguadas. Era uma enorme encerra de
vastas proporções, adequada ao descanso das tropas que se dirigiam à Sorocaba, em São
Paulo. Possuía 150 km de extensão. No limite sul, entre os arroios Chuí e São Miguel,
existia uma entrada estratégica para o gado. [AMARAL, 1972: 41]
Ao norte, o gado era confinado pelo banhado do Albardão, que se confundia
com o arroio Taím; este ligava as lagoas das Flores e Caiubá e despejava o excesso das
águas na Mirim. A parte mais estreita limitava-se, a leste, pela lagoa Mirim e, a oeste, o
Atlântico. No entorno dos Campos Neutrais, localizou-se o núcleo charqueador sulino
da colônia portuguesa. Pinto Bandeira foi um dos grandes proprietário dessas terras.

Propostas para o Sangradouro da Mirim

No início do último quartel do século XVIII, o engenheiro militar Francisco


João Roscio executou um levantamento físico/espacial do Rio Grande, que resultou em
três mapas. Acrescentou às cartas uma descrição do território levantado onde relacionou
as questões de segurança com os espanhóis e a economia. Chamou o texto de
“Compêndio noticioso do Continente do Rio Grande de S. Pedro até o Distrito do
Governo de Santa Catarina, extraído dos meus diários, observações, e notícias, que
alcancei nas jornadas que fiz ao dito Continente nos anos de 1774, e 1775”. Quanto aos
dos campos neutrais informou:
“Nas cabeceiras desse rio [Negro] se encontram também muita quantidade
de vaca brava e errante que se avalia em mais de 50.000 cabeças. Cuido
que são as sobras das fazendas de portugueses abandonadas na língua de
terra entre a lagoa Mirim e a costa do mar por ocasião da guerra e entrada
dos castelhanos em 1763.” [ROSCIO, 1980: 128]
ENQUANTO ISSO, NA BANDA DE LÁ 51

Em seguida, fez considerações sobre as vantagens da região da lagoa Mirim


sobre a vila de Rio Grande, quanto à segurança e os recursos materiais.
“Toda esta segunda parte do terreno, de que tenho tratado ou campos
dobrados é de boa terra e produtivo. Nele se acham diferentes qualidades de
madeiras, barros e pedreiras, como costuma suceder em países de
semelhante natureza. Os campos altos pela maior parte são limpos de mato:
mas as bordaduras dos rios e regatos e alguns vales ou baixadas são
emboscados e cobertos de arvoredo como também as faldas e encostas dos
montes mais elevados e toda a serra ou cordilheira Geral como já disse.”
[ROSCIO, 1980: 129]
O secretário da junta da Fazenda do Rio Grande do Sul de 1775, Sebastião
Francisco Bettamio, fez considerações bastante aproximadas das de Roscio. No texto
“Notícia particular do Continente do Rio Grande do Sul, segundo o que vi no mesmo
Continente, e notícias, que nele alcancei com as Notas, do que parece necessário para o
aumento do mesmo Continente, e utilidade da Real Fazenda” , entregue ao vice-rei Luís
de Vasconcelos, em 1780, entre muitas observações, sugeriu a mudança para Pelotas,
considerando o freqüente sepultamento dos edifícios de Rio Grande pelos combros de
areia.
“Sendo a mudança para o campo chamado das Pelotas, onde o terreno é
melhor, e tem pedra, há os descontos de ficar distante da barra mais de dez léguas
[66km]; e não poder fortificar ou guardar pela parte do campo sem uma numerosa
guarnição. É bem verdade que o continente nada o guardará se não for uma paz sólida
e permanente [...].” [BETTAMIO, 1980: 152]
Sobre esta proposta, fez 29 observações. Entre elas, informou:
“[...] entrando-se pelo sangradouro da Mirim, três ou quatro léguas [19,8 a
26,4km], há muitas e admiráveis rochas de boa pedra, havendo portos de
mar que dão lugar à entrada de embarcações grandes, e chegam quase ao
pé dos cerros; que ali se transporte a pedra para a vila, [...] uma companhia
de cento e cinqüenta ou duzentos índios trabalhadores, e que estes se
empreguem de baixo da direção de pessoa inteligente em quebrar e
arrancar pedras de toda a qualidade................................................................
...........................................................................................................................
9ª.- No mesmo sítio em que se corta pedra, há barro para telha e tijolo, e
como na aldeia há índios que sabem fazer estes dois materiais, ......................
...........................................................................................................................
No continente pode-se fazer cal de marisco, tanto em uma caieira que há no
sítio de Mostardas, [...] mas bom será fazer-se exames, ou experiência com
a pedra das margens do sangradouro, se será boa para cal, e também
averiguar se há saibro, ou areia própria para a fábrica de edifícios.[...]
12ª.- Nas mesmas margens do sangradouro da Mirim em pequena distância,
consta-me haverem excelentes madeiras, em cujo corte se podem empregar
alguns índios, [...].” [BETTAMIO, 1980: 156]
Estavam relacionadas todas as condições materiais para o desenvolvimento da
área. Sobre os campos chamados de S. Gonçalo, das Pelotas, ou do Serro Pelado, disse
que só deveriam ser ocupados depois de estar concluída a linha divisória do Tratado de
1777: “[...] e tendo visto praticar pelo contrário, porque não só tem repartido, mas até
se tem vendido de um particular a outro a posse por um título que não é, nem podia ser,
e tal e qual foi adquirido ainda antes da invasão que os castelhanos fizeram no Rio
Grande, em cujo tempo não pertencia à coroa de Portugal aquele terreno.”
52 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

[BETTAMIO, 1980: 164] Era de parecer favorável à instalação das fazendas de gado,
desde que as vivendas de seus donos se localizassem dentro do recinto da vila.
Em 1778, Moniz Barreto, em “Observações relativas à agricultura, comércio e
navegação do continente do Rio Grande de São Pedro no Brasil”, propôs:
“[...] que as terras sejam repartidas de outro modo, diferente do que se
havia praticado para que ‘em lugar de haver muitas fazendas grandes, haja
muitas pequenas, segundo a força dos agricultores’; identifica ramos do
comércio a serem incentivados, como ‘as carnes salgadas que devem ser
exportadas a este reino em lugar das que vem da Irlanda’, e o cultivo do
linho cânhamo, que dispensaria as importações da Rússia.” [OSÓRIO,
1990: 165]
Dois anos depois, em 1780, começou a distribuição formal das propriedades.
Em relação ao distrito do Serro Pelado, verificou-se que houve coincidência entre as
observações dos autores assinalados e as doações de terras, realizadas pela coroa
portuguesa. Quanto à região platina, constatou-se que, tanto no caso da aparente
gratuidade das concessões portuguesas, como no da venda espanhola, houve a
monopolização das terras, por parte dos comerciantes, militares e abastecedores do
exército.

Posses

O Edital de 1º de janeiro de 1780 veio regularizar as apropriações de fato, que


ocorreram durante os 13 anos de guerra. Entre outras determinações, a ordenação
informava da faculdade que o vice-rei tinha outorgado ao Governador para que este
repartisse os campos das fronteiras definidas pelo último tratado de paz, e estipulava o
tamanho máximo de uma légua [6.600m] de largura, por três léguas [19.800m] de
comprimento, para cada concessão. As informações eram fornecidas pelos comandantes
militares de cada zona. Na fronteira do Rio Grande, e no Serro Pelado, área contígua aos
campos neutrais, o parecer era dado por Rafael Pinto Bandeira. [OSÓRIO, 1990: 148]

Serro Pelado

“Nas três léguas [19,8km] que distam entre o tronco do Piratini e a parte
meridional desta cordilheira [serra dos Tapes] se acha em cerro elevado,
mas todo rodeável e limpo de mato postado junto à margem setentrional do
mesmo Piratini longe da embocadura sete léguas [46,2km] a que chamam
Serro Pelado.” [ROSCIO, 1980: 127] [FIG. 10]
ENQUANTO ISSO, NA BANDA DE LÁ 53

NORTE

Figura 10 – Cópia parcial do mapa de João Francisco Roscio, 1778. Biblioteca Nacional. Seção de Manuscrito, 5, 4, 35.

O rio Piratini deságua mais ou menos no meio do canal que une a lagoa Mirim
à laguna dos Patos. Nasce na serra do Passarinho e, até chegar o sangradouro, percorre
quase 200km. Naquela época, era navegável por lanchões, até o passo do Ricardo, a
40km da foz. Pela margem direita recebia: o Piratini-chico, Piratinisinho, ou Piratini-do-
meio; o Santa-Maria ou Piratini-da-orqueta, que descia a coxilha das Pedras Altas, e o
arroio Herval. Eram afluentes da margem esquerda: o arroio Tamanduá; o Antunes; o
Correntes; o Piratini-do-Saraiva, que nascia a ocidente de Cangussu; o arroinho da
Maria-Gomes; o arroio das Pedras, que brotava na serra da Buena; e o arroio do Capão
do Leão, que tinha origem nos serros das Almas. [VARELA, 1897: 330]
Entre o rio Piratini e a laguna, mais cinco arroios despejavam suas águas na
margem norte do São Gonçalo: o arroio Pavão, que nascia na serra de mesmo nome e
era navegável para pequenos barcos; o arroio do Padre-doutor, padre Pedro Pereira
Fernandes de Mesquita, que tinha origem na serra que lhe deu o nome; o arroio do
Fragata ou do Moreira, que começava na serra da Buena; o arroio Santa Bárbara, que
surgia no Monte Bonito e um dia chegou a banhar a cidade de Pelotas, e o seu afluente,
o arroio Pepino; e, por fim, mais próximo da laguna, o arroio Pelotas, com 30km
navegáveis, dos seus 40 de extensão, e dois afluentes, o João-padre, na margem direita e
o Andradas, na esquerda. [VARELA, 1897: 330] [FIG. 11]
54 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

NORTE

Figura 11 – Cópia reduzida de um mapa do Serro Pelado. Acervo Profa. Helen Osório.

A posse oficial dos terrenos do Serro Pelado iniciou em 1780. Em 1785, o


capitão Antônio Ferreira dos Santos realizou um levantamento dos posseiros e
proprietários desse lugar. [AHRGS, L.1198B: 198-205] Contou 40 pessoas. Dessas, 14
não tinham títulos de propriedade e eram, todas, militares. As propriedades foram
concedidas pelos governadores José Marcelino de Figueredo e Sebastião Xavier, e pelo
comandante militar da área, Pinto Bandeira. Vinte e dois proprietários, até aquela data,
já tinham vendido o que lhes havia sido concedido.
Destacaram-se, para um melhor detalhamento da área, as propriedades
localizadas entre o arroio do Pavão e o arroio Grande. Sete vieram a formar o município
de Pelotas. Chamaram-se Feitoria, Pelotas, Monte Bonito, Santa Bárbara, São Tomé,
Santana e Pavão. Com exceção da Feitoria, que se limitava pela laguna e os arroios
Grande e Correntes, todas as outras tiveram os seguintes limites: ao sul, o sangradouro;
ao norte, a serra dos Tapes; a leste e oeste, intercalavam-se os arroios Pavão, Padre-
doutor ou Tomé, Fragata ou Moreira, Santa Bárbara e Pelotas.
Na estância do Monte Bonito, houve uma segunda divisão de terras, entre 19
pequenos proprietários. As estâncias deram origem a mais ou menos uma dúzia de
charqueadas. Com a segunda divisão, de pequenos lotes de terrenos, foram implantadas
perto de 30 estabelecimentos, destinados exclusivamente ao preparo da carne salgada e seus
subprodutos. Mas, esta é uma outra história, e, por isso, deixada para contar mais tarde.
Capítulo 6

RAFAEL PINTO BANDEIRA

Do arroio Pavão, afluente do rio Piratini, até a laguna dos Patos, existiram seis
estâncias interceptadas por cinco arroios, que chegavam à margem norte do sangradouro
da Mirim. Somando-se a fazenda da Feitoria, localizada às margens da laguna, entre os
arroios Grande e Correntes, teríamos as sete fazendas que vieram a formar o município
de Pelotas, hoje subdividido nos municípios de Capão do Leão e Morro Redondo. No
quadrilátero definido pelo arroio Pavão, ou do Contrabandista, e a laguna dos Patos; o
arroio Grande e o sangradouro da Mirim, ou canal da Torotama, atualmente chamado de
canal São Gonçalo, funcionaram mais de 40 charqueadas. Desses estabelecimentos,
aproximadamente 30 localizaram-se na Sesmaria do Monte Bonito, destinando-se
exclusivamente à salga de carnes e tendo, como alternativa, a produção de elementos
cerâmicos. As charqueadas restantes, distribuídas pelas outras sesmarias, dedicavam-se
também à criação. [FIG. 12]
Todas essas estâncias estavam afetas ao distrito do Serro Pelado, onde o
brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, como Comandante da Fronteira do Rio Grande, dava
informações nos processos de concessão de terras. Rafael Pinto Bandeira foi o exemplo
máximo do estancieiro-militar. Sua biografia confunde-se com a história do Rio Grande.
Ele e seu bando contrabandearam gado, apropriaram-se de terras, trucidaram,
aprisionaram e expulsaram nativos e castelhanos, amedrontaram seus companheiros, e,
para a Coroa portuguesa, conquistaram e reconquistaram território.
O comandante da fronteira do Rio Grande fazia com que as autoridades
instituídas pelo poder colonial ficassem impotentes diante dos seus atos e dependentes
de suas ações. Por isso, o vice-rei, marquês de Lavradio, era favorável às arreadas que
enfraqueciam os espanhóis, porque acreditava que não havia outro remédio senão
permitir a Pinto Bandeira se fartar, ou seja, até que o brigadeiro se julgasse satisfeito. A
maneira de agir de Pinto Bandeira deixava a diplomacia portuguesa embaraçada, como
no caso da denúncia do comandante espanhol Juan Verniz, sobre o ataque que Pinto
Bandeira fez à Guarda de São Martinho, onde, além de matar soldados espanhóis e fazer
prisioneiros, pegou numerosa cavalhada, gado vacum e alguns índios; na estância de
São Lourenço, chegou a desnudar as índias e apropriar-se de seus poucos bens.
[OSÓRIO, 1990: 133]
56 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

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Figura 12 – Terras que formaram os atuais municípios de Pelotas, Capão do Leão e Morro Redondo.

Pinto Bandeira aproveitou-se do conhecimento que tinha para obter as


melhores terras. Nos processos de concessões de sesmarias, ele próprio, como
Comandante da Fronteira do Rio Grande, fornecia informações sobre a situação dos
solicitantes. Na burocracia estatal, com vistas à obtenção de certidões de propriedade de
terras, espalhava o medo. Para manter as aparências, conforme observou o vice-rei Luís
de Vasconcelos, Pinto Bandeira, auxiliado por ‘contrabandistas da sua parcialidade’,
perseguia os contrabandistas vinculados aos outros estancieiros. [OSÓRIO, 1990: 171]
O brigadeiro Rafael Pinto Bandeira nasceu em Rio Grande, em 16 de dezembro
de 1740, e morreu na mesma cidade, em 9 de abril de 1795. Era filho do coronel de
dragões Francisco Pinto Bandeira, nascido em Laguna, Santa Catarina, e de Clara Maria
de Oliveira, da Colônia do Sacramento. Fez dois casamentos. No ano de 1773, em Rio
Pardo, casou com Maria Madalena Pereira, da missão de São Lourenço, e, em 1788, em
RAFAEL PINTO BANDEIRA 57

Rio Grande, contraiu segundas núpcias com Josefa Eulália de Azevedo. Com Bárbara
Vitória, teve uma filha, Bibiana Maria Bandeira e, com a segunda esposa, ganhou outra
filha, Rafaela Pinto Bandeira. Esta casou com o coronel baiano Vicente Ferrer da Silva
Freire. De Rafaela, ganhou dois netos: Diogo da Silva Freire, assassinado juntamente
com seu pai, em sua fazenda no rio dos Sinos, em 1836, e Maria Josefa da Silva Freire,
casada com Israel Rodrigues da Silva, filho do comendador Boaventura Rodrigues
Barcellos e de Cecília Rodrigues Barcellos. [RHEINGANTZ, 1979: 371] A família
Rodrigues Barcellos foi a que teve maior número de charqueadas, todas localizadas na
margem direita do Arroio Pelotas, na sesmaria de Monte Bonito.

Fazenda, Charqueada e Olaria do Pavão

Na estância do Pavão, uma das propriedades do brigadeiro Rafael Pinto


Bandeira, chegaram a funcionar uma charqueada e uma olaria. Conforme informação
contida no levantamento realizado em 1785, pelo capitão Antônio Ferreira dos Anjos, a
fazenda resultou num somatório de seis sesmarias contíguas, doadas em 1780, e que
foram adquiridas pelo brigadeiro Rafael Pinto Bandeira. [AHRGS, L. 1198B: 198 a
205] No momento da compra, a área totalizava nove léguas quadradas [39.204ha].
Em 1807, nos autos da Medição mandada executar pela viúva do brigadeiro,
Josefa Eulália de Azevedo, e por seu segundo marido, desembargador Luís Correa de
Bragança, a área da propriedade somou 12 léguas e 855 braças superficiais [52.272ha e
4.138m²], sem contar as áreas alagadiças da margem do São Gonçalo e São Tomé, até o
sítio da Estiva. [BBP, RPTMP, L. 93: 110] Os limites naturais da estância de Rafael
Pinto Bandeira eram o canal São Gonçalo, os dois arroios Pavão, chamados, no início
de seu curso, de Contrabandista e São Tomé, ou Padre-doutor, e, pelo interior, o Capão
do Boquete, nas imediações do Serro da Buena. [CUNHA, 1928: sp.] [FIG. 13]
Dos seis campos que formaram a estância do Pavão, cinco foram concedidos
pelo governador José Marcelino de Figueredo, no dia 1º de abril de 1780. O terreno
restante foi doado pelo governador Sebastião da Veiga Cabral, em 28 de dezembro de
1780, a José Miranda de Oliveira. Esta sesmaria tinha uma légua em quadro [4.356ha] e
estava situada entre o arroio Moreira e o Serro. [AHRGS, L.1198B: 199]
As cinco áreas concedidas em 1º de abril pertenceram aos seguintes
proprietários: alferes Antônio V. Feijó, com uma légua [6.600m] de comprimento, por
meia [3.300m] de largura, entre o passo das Pedras e o arroio que dividia a invernada do
sargento-mor Roberto Roiz; [FIG. 14]; Francisco Antunes, com uma légua em quadro
[4.356ha], entre o arroio da Estiva e o Pavão; cabo de dragões Manuel Joaquim de
Barros, com uma légua [6.600m] de comprimento e meia [3.300m] de largura, situada à
direita do passo do Pavão; capitão Joaquim José de Proena, com duas léguas [13.200m]
de comprimento e uma [6.600m] de largura, nos fundos do serro Pelado; Leocádia
Joaquina de Lima, com duas léguas [13.200m] de comprimento e meia [3.300m] de
largura, entre a serra e o sangradouro da Mirim; tenente de dragões Joaquim de Souza
Soares, com uma légua em quadro [4.356ha], entre as terras do major Roberto e do
reverendo Pedro Pereira. [AHRGS, L.1198B: 198 e 199] [FIG. 13]
58 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

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Figura 13 – Localização aproximada das terras que formaram a Estância do Pavão de Rafael Pinto Bandeira.

No levantamento executado pelo capitão Antônio Ferreira dos Santos, em


1785, na estância do Pavão, Pinto Bandeira possuía os seguintes animais: 6.000 reses;
100 bois; 300 cavalos; 2.000 éguas e 90 ovelhas. No inventário de João Nunes Batista,
proprietário da fazenda, charqueada e olaria do Pavão, realizado em 1823, os campos
estavam povoados com 8.000 reses de criar; 600 ditas leiteiras; 92 bois mansos; 178
cavalos mansos; 32 [ilegível]; 20 potros; 407 éguas e três mulas velhas.
Alberto Coelho da Cunha, filho do charqueador Barão de Correntes,
republicano, abolicionista, funcionário municipal, historiador e pelotense, conhecido
pelos pseudônimos de Vítor Valpírio e Jatyr, na Revista do Partenom Literário,
escreveu no jornal A Opinião Pública, de 4 de agosto de 1929:
RAFAEL PINTO BANDEIRA 59

“Entregue à Dona Josefa Eulália de Azevedo e às suas duas filhas, os


quinhões que lhe vieram a caber, já ficou, por essa ocasião, a grande
fazenda retalhada em três. Posteriormente, vendidas, das subdivisões desses
quinhões hereditários, formaram-se diversas estâncias.”
Essa informação não coincide com as que constam no inventário do português
João Nunes Batista, proprietário da charqueada e estância do Pavão. No documento, a
área de estância era de dez léguas quadradas [43.560ha]. Foram seus herdeiros a viúva,
Joaquina Maria da Silva, e seus oito filhos menores.

NORTE

Figura 14 – Cópia parcial da carta cartográfica, 1777. Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas.

Em 1º de outubro de 1810, a viúva de Pinto Bandeira, Josefa Eulália de


Azevedo, e seu segundo marido, Luís Correa de Bragança, fizeram doação a João Inácio
de Azevedo, respectivamente seu irmão e cunhado, de uma área com 4443100 braças
60 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

quadradas [91.780ha]. Em 15 de junho de 1825, este vendeu a Joaquim Francisco Ilha.


[BBP, RPTMP, L. 93: 134] Vinte seis anos mais tarde, quando do inventário de
Joaquina Maria da Silva, a área estava reduzida a duas e meia léguas quadradas
[10.890ha] de campo da estância do Pavão, incluindo alguns banhados transitáveis; um
banhado ainda inacessível, que fazia parte da mesma estância, de aproximadamente
meia légua quadrada [21.780ha]. Nos dois inventários, acrescentavam-se três das quatro
partes da ilha denominada Pavão, junto à estância de mesmo nome, que tinha a extensão
de mais ou menos meia légua [21.780ha]. Com a morte da rio-grandina Joaquina Mª da
Silva, a estância foi dividida entre os oito herdeiros. [FIG. 15]

Figura 15 – Cópia parcial e reduzida do canal São Gonçalo. Biblioteca Nacional, seção de mapas, 8, 4, 20.

Programa de Necessidades. Função. Edificações.


Equipamento

O programa de necessidades do saladeiro, estância e olaria do Colla, na Banda


Oriental, e o da charqueada, fazenda e olaria do Pavão foram muito semelhantes, ou,
dito de outra maneira, as listagens das instalações, atividades, prédios, equipamentos do
RAFAEL PINTO BANDEIRA 61

Colla e do Pavão foram praticamente as mesmas. Idêntica semelhança, ocorreu entre os


materiais e técnicas da construção e o sítio onde se implantaram as instalações.
A charqueada, a fazenda e a olaria iriam se repetir em quase todas as sesmarias
interceptadas por águas navegáveis da região. Foi o que se verificou, no espaço
compreendido entre o rio Piratini e a laguna dos Patos, e rio Camaquã e o canal São
Gonçalo. Estava definido um dos tipos de estabelecimento charqueador, que iria, na sua
essência, repetir-se, sucessivamente, por todo o território platino, durante os últimos 20
anos do século XVIII e o século XIX.
O programa de necessidade da estância do Pavão era o seguinte: uma morada
de casas de vivenda e cozinha, coberta de telhas e paredes de tijolos, em que vivia o
casal, em mau estado; junto a essa, uma outra casa pequena, velha, de tijolos e telhas;
perto das casas, um pomar, cercado, com algum arvoredo; dois galpões cobertos de
capim e dois potreiros limitados por valos, arrombados em algumas partes. No lugar
chamado de Boa Vista, onde morava o co-herdeiro Francisco Gonçalves Vitorino,
existiam: dois galpões cobertos de capim, uma mangueira de pedra e uma casa de
paredes de pedras, e que na época do primeiro inventário estava coberta de capim, e,
quando do segundo, era coberta com telhas de barro.
A charqueada e a olaria foram construídas no mesmo lugar, às margens do
arroio do Pavão. Compreendiam um galpão grande coberto de capim; dois menores,
também cobertos de capim; uma casa pequena, que servia de residência ao capataz; um
forno e galpão de olaria, coberto de capim; uma cancha com duas mangueiras para
encerrar o gado de pau-a-pique [mangueira de matança]; uma tafona [para moer sal] e
duas mesas de salgar, um potreiro e uma graxeira com dois vapores.
A máquina a vapor foi inventariada no processo da viúva, realizado em 1849, o
que não ocorreu no levantamento dos bens de João Nunes Batista, realizado no ano de
1823. Essa foi a grande diferença entre as instalações dos saladeiros do Colla, em 1788,
e de João Nunes Batista, em relação à charqueada de Joaquina Maria da Silva.
Com base no que foi descrito nos estabelecimentos charqueadores, foi possível
resumir, preliminarmente, um esboço sobre o programa de necessidades, materiais e
técnicas de construção utilizados no espaço da produção do charque: a olaria fazia parte
da área destinada à atividade charqueadora; os galpões abrigavam a maior parte das
funções; desde o início, na charqueada do Pavão, o abate não era feito a campo aberto,
mas, em local construído especialmente para esse fim, a mangueira de matança; os
materiais e técnicas usadas nas primeiras construções foram a cobertura de capim e as
paredes de pau-a-pique e, em menor número de vezes, a alvenaria de pedra; com o
tempo, esses materiais foram sendo substituídos por elementos de barro.
Telhados e paredes de alvenaria de tijolos foram empregados nas construções
importantes, como a residência do charqueador; a morada do proprietário estava
localizada no mesmo terreno, mas, em um outro conjunto de construções, afastada do
lugar da produção da carne salgada. Esse grupo era formado por um pomar e outros
prédios de apoio, como moradia, galpões, potreiros, etc. A presença da máquina de vapor
foi um salto na qualificação do processo de trabalho e, conseqüentemente, do produto.
Uma diferença substancial entre os 26 anos que separam os dois inventários da
fazenda e charqueada do Pavão, foi o número de cativos. João Nunes Batista, quando
morreu, deixou 66 escravos, Joaquina, 30. A diminuição significativa do número e da
qualificação dos escravos exigiu um momento propício para essa explicação. Com esses
dados, iniciaram-se as seguintes considerações: desde os primeiros tempos, os escravos
eram qualificados nas diversas profissões; ao contrário, as escravas não tinham ofícios
62 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

definidos. Dos cativos de João, 47% -carneadores, charqueadores e marinheiros-


trabalhavam na produção e no transporte do charque, 23% ocupavam-se das lides
campeiras. Provavelmente esse número seja alto, tendo em vista o número de vacas
leiteiras; quase 20% não tinham profissão definida e, desses, praticamente todos eram
do sexo feminino; 10% constituíam os chamados escravos de “ofício”.
Tabela 1 – Relação de escravos da fazenda, Charqueada e Olaria do Pavão.
PROFISSÕES JOÃO - 1823 JOAQUINA - 1849
Campeiro 15 -
Charqueador 14 -
Carneador 13 06
Marinheiro 04 01
Cozinheiro 02 01
Sapateiro 02 55 eram homens - 22 eram homens
Falquejador 01 -
Carpinteiro 01 01
Pedreiro 01 -
Alfaiate - 01

Sem informação 13 [11 eram mulheres] 20 [8 eram mulheres]


Total 66 30
Fonte: APRGS, INVENTÁRIO de João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M. 6, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1823 e INVENTÁRIO de Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M. 21, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1849.

Sessenta e seis por cento dos cativos de Joaquina não possuíam informações
sobre seus afazeres, possivelmente porque não eram qualificados e prestavam qualquer
tipo de serviço; 26% do total eram mulheres. Apesar de o programa de necessidades
destacar as instalações destinadas à olaria, nenhum escravo foi qualificado como oleiro.
Por outro lado, apesar do número elevado de escravos, a senzala, na charqueada do
Pavão, não constou de nenhum dos dois inventários. Certamente, a explicação dessa
questão, assim como de outras já apontadas, ou não, necessita de uma amostragem
maior de dados, que, no decorrer do trabalho, irão sendo apresentados.
Do exposto até aqui, foi possível identificar uma tipologia de charqueada,
constituída de três atividades: criação de animais, produção de charque e de elementos
cerâmicos. Essa solução pode ser encontrada na Banda Oriental e no Continente de Rio
Grande, desde os últimos vinte anos do século XVIII, e no século XIX. A localização
seguia dois critérios, a proximidade dos rebanhos de gado e a dos cursos de água
navegáveis, com acesso ao Atlântico, favorecendo, conseqüentemente, a exportação.
Esses dois critérios, para a implantação dos empreendimentos saladeiris, fizeram
com que o distrito de Serro Pelado fosse transformado no maior pólo sulino da Colônia e do
Império. Para começar, o Serro Pelado era fronteiro aos Campos Neutrais, a “terra-de-
ninguém”, povoada com imensos rebanhos de gado bravio. O canal São Gonçalo permitia o
acesso à Banda Oriental, através da lagoa Mirim, e, pela laguna dos Patos, alcançava-se o
porto de Rio Grande e o Atlântico. No sangradouro, desaguava uma série de arroios, que
permitiam a navegação e serviam de limites naturais às doações de terras. A costa do arroio
que propiciava o maior trecho navegável, o Pelotas, foi dividida em pequenas frações de
terrenos, e ali se instalou o cerne do núcleo charqueador pelotense. Nesse espaço, foi
identificada uma outra tipologia de charqueada, destinada especialmente à produção do
charque, e, muitas vezes, acompanhada da produção de elementos cerâmicos.
Capítulo 7

SANTANA

Existiram três estâncias - Santana, São Tomé e Santa Bárbara - entre a fazenda,
a charqueada e a olaria do Pavão e o cerne do núcleo charqueador pelotense, na
sesmaria do Monte Bonito, situada entre os arroios Santa Bárbara e o Pelotas. Elas
ocupavam o espaço cortado pelo arroio de São Tomé, depois chamado de Padre-doutor,
e do Pestana, Moreira, ou, como posteriormente foi chamado, Fragata, até encontrar o
arroio Santa Bárbara, divisa das terras da estância do Monte Bonito. Pelo menos, nessa
área, funcionaram duas charqueadas, localizadas às margens do arroio Fragata. Os
estabelecimentos saladeiris pertenceram a Antônio Rafael dos Anjos e a Joaquim
Manuel Teixeira, ambos da Colônia do Sacramento. [FIG. 16]
O dono da fazenda de Santana foi Felix da Costa Furtado de Mendonça, alferes
de ordenanças das tropas da Colônia do Sacramento. Nascido em 1735, em Saquarema,
Nossa Senhora de Nazaré, no Rio de Janeiro, morreu em 1819, em Pelotas. Seus pais
chamavam-se Jorge Antônio da Costa Soares e Ana Maria Furtado de Mendonça. Em
1773, na Colônia do Sacramento, casou com Ana Josefa Pereira. Esta era filha de
Vicente Pereira, português de São Pedro de Alfândega da Fé, Bragança, que havia
casado na cidade do Porto, enquanto aguardava a partida de um navio para a América,
com sua conterrânea Madalena Martins Pinta. Ana Josefa foi a décima e última filha do
casal. Entre seus irmãos, havia dois padres, Pedro Pereira Fernandes de Mesquita,
vigário de Rio Grande, e Antônio Pereira de Mesquita. Ana Josefa Pereira e o alferes
Felix da Costa Furtado de Mendonça tiveram três filhos homens, o doutor Hipólito José
da Costa Pereira, nascido na Colônia; o padre Felício Joaquim da Costa Pereira,
portenho, primeiro vigário de Pelotas, e o rio-grandino José Saturnino da Costa Pereira.
[RHENGANTZ, 1979: 255]
Hipólito, Felício e Saturnino estudaram em Coimbra, como o tio, por isso
chamado padre-doutor Pedro Pereira de Mesquita. O mais velho, Hipólito, formou-se
em Leis e Filosofia. Jornalista, iniciou e manteve a publicação do Correio Brasiliense,
até a Independência do Brasil. Recebeu o título de Patrono da Imprensa Brasileira. A
mando do governo português, desempenhou diversas funções. Na América do Norte,
estudou as culturas do linho e do cânhamo, por parecerem adequadas à capitania de São
Pedro do Rio Grande. Entre 1801 e 1803, suspeito de ser ‘pedreiro livre’, permaneceu,
por ordem do Santo Ofício, nos cárceres da Inquisição, de onde conseguiu fugir.
[CUNHA, 23/08/1928: s.p.] [FIG. 16]
64 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

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Figura 16 – Localização aproximada das estâncias do Pavão, Santana, São Tomé e Santa Bárbara.

O filho mais moço, Saturnino, estudou Matemática e, como o pai, seguiu a


carreira das armas, chegando a general. Foi deputado da Capitânia às Cortes de Lisboa,
no início dos anos vinte dos oitocentos; primeiro presidente da província do Mato
Grosso, no período compreendido entre 1825 e 1831; senador do Império e seu ministro
da guerra. [CUNHA, 23/08/1928: s.p.] Os tios e padres Pedro Pereira e Antônio Pereira
receberam terras no distrito de Serro Pelado. Pedro foi lindeiro de sua irmã Ana Josefa,
na estância de Santana. O vigário de Rio Grande e seu irmão, o religioso Antônio,
participaram da partilha das chamadas “sobras” de terras da sesmaria do Monte Bonito.
A sesmaria do alferes Felix da Costa Furtado de Mendonça, e de sua esposa,
Ana Josefa Pereira, situava-se no interior das terras, a uma das extremidades da fazenda
do Pavão. Localizava-se junto às nascentes do arroio São Tomé, sobre as divisas de
Alexandre Baldez, além da serrilhada que arrematava com os morros das Almas e
SANTANA 65

Santana. Em 1807, media 8.712ha. Em 10 de março de 1794, o alferes a tinha recebido


de dom José de Castro, conde de Rezende, como prêmio por serviços de guerra.
[CUNHA, 4/08/1928: s.p.] No Registro de Terrenos, a doação possuía 1½ léguas
[9.900m] de comprimento, por uma légua [6.600m] de largura, e a descrição dos limites
era a seguinte:
“Campos no distrito da vila de Rio Grande, na parte setentrional do
sangradouro da lagoa Mirim. Confrontam: ao norte com Alexandre da Silva
Baldez e Antônio Teixeira Curisco; a oeste com Francisco da Rosa, servindo
de divisa o arroio São Tomé; pelo sudoeste com o cume de uns serros que
dividia dos campos do brigadeiro Pinto Bandeira, e ao les-nordeste [?] com
o doutor Pedro Pereira de Mesquita.” [RAPRGS, /04/1921: 118] [FIG. 17]

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Figura 17 – Localização aproximada das charqueadas do Pavão e do Fragata.


66 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

A estância do alferes era vizinha às terras de seu cunhado, o padre-doutor


Pedro Pereira Fernandes de Mesquita. O terreno do vigário de Rio Grande havia sido
doado pelo mesmo conde, alguns meses mais tarde, mas, no mesmo ano de 1794. Media
duas milhas de comprimento [3.219m], por uma [1.609m] de largura. A área estava
assim demarcada:
“Terras no distrito da Vila de Rio Grande, na parte septentrional do
sangradouro da lagoa Mirim, confrontando pelo nordeste com Alexandre da
Silva Baldez, pelo arroio São Tomé; a oeste- sudoeste com Felix da Costa, e
pelo sul e sudoeste com o brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, servindo de
divisa um arroio.” [RAPRGS, /04/1921: 131]
O Padre-doutor emprestou seu nome ao arroio São Tomé, que banhava as suas
terras. De acordo com o levantamento realizado pelo capitão, Antônio Ferreira dos
Santos, esse terreno tinha sido doado pelo governador José Marcelino, no dia 2 de abril
de 1780, a José Inácio das Fontes; fora comprado pelo religioso. Em 1785, o padre-
doutor possuía, na área 100 reses, seis cavalos e 50 éguas. [AHRGS, L.1198B: 205]

São Tomé

A estância São Tomé limitava-se com o arroio de mesmo nome e o Pestana,


Moreira ou Fragata. Começava em rasas campinas, à margem do São Gonçalo, sobre
terras que iam, em constante e crescente elevação, tomando o rumo da coxilha do Santo
Amor. A estância de São Tomé pertenceu, inicialmente, a Antônio dos Santos Saloyo,
que a negociou com Manuel Moreira de Carvalho e sua esposa, Maria da Encarnação.
Manuel e Maria venderam metade do terreno a Alexandre da Silva Baldez, e a outra
parte a Francisco Araújo Rosa. No dia 20 de abril de 1799, Antônio Francisco dos
Anjos comprou a parcela de Rosa. [FIG. 17]
O lugar da última venda ficou conhecido como estância do Fragata. Possuía as
seguintes confrontações: pelo sul, com dona Josefa, viúva do brigadeiro Rafael Pinto
Bandeira; pela frente, com Manuel Inácio Gomes [sucessor de Baldez] e, de fundos,
com o canal São Gonçalo. O espaço da fazenda e charqueada do Fragata foi descrito,
ainda, desta forma: situada para leste da linha - passo dos Carros e passo do Capão do
Leão, compreendida pelo curso inferior do arroio Moreira e São Tomé, e margem
esquerda do São Gonçalo. [CUNHA: 04/08/1828, s.p.] [FIG. 17]
Lembrando os proprietários de suas margens, o arroio levou os nomes de
Moreira e Fragata, sendo, o último nome, uma referência à embarcação do charqueador
Antônio Francisco dos Anjos. Em um terreno da sesmaria do Monte Bonito, o padre
Felício, da estância de Santana, e seu vizinho, Antônio dos Anjos, da charqueada do
Fragata, deram início à construção do que veio a ser o primeiro loteamento da cidade de
Pelotas. Sobre Antônio dos Anjos, e seu amigo, o padre Felício, ainda muito vai ser
contado.
A parte da estância de São Tomé, que coube a Alexandre Baldez, estava
situada no interior. O resumo da sinopse de sesmaria informou o que segue:
“Campos no Rio Grande, que principiam em um cotovelo que forma o
arroio São Tomé, em demanda do passo que vai para a estância do
SANTANA 67

confinante Rafael Pinto Bandeira; do dito passo em linha reta, por cima de
uma coxilha que vai ao passo dos Carros, no arroio Pestana [Fragata ou
Moreira], onde extrema com José da Silva e a serra que tapa os referidos
campos.” [RAPRGS, /04/1921: 112]
Alexandre da Silva Baldez era originário da Colônia do Sacramento. Durante a
ocupação espanhola, tinha se escondido por essas paragens. Quando o vice-rei Luís de
Vasconcelos e Souza, em 1789, concedeu-lhe a posse das terras que ele ocupava, essas
mediam duas léguas [13.200m] de comprimento e 3/4 de légua de largura.

Santa Bárbara

Essa estância foi medida em 5 de agosto de 1818. Possuía 10.642ha. Os autos


da medição das terras de Manoel Alves de Morais, e de sua sogra, Rosália Maria
Angélica, informaram o seguinte:
“23 de junho de 1817. O marquez de Alegrete fez mercê a Rosalia Maria
Angélica de uma sesmaria de terras com uma légua [6.600m] de frente e
três léguas [19.800m] de fundo, sita no arroio Moreira e Santa Bárbara,
com frente a serra dos Tapes e fundos ao Sangradouro da Mirim, rio São
Gonçalo, a qual houve por compra que ela fez de seu marido Teodoro
Pereira Jacome, que a havia arrematado em praça pública.” [BBP,
RPTMP, 93: 18]

Mudança de Rumo

Além das quatro estâncias, Pavão, Santana, São Tomé e Santa Bárbara, mais
três, Monte Bonito, Pelotas e Feitoria formaram o município de Pelotas, atualmente
subdividido entre os municípios de Capão do Leão e Morro Redondo. Para apresentar
os dados referentes à implantação do pólo charqueador pelotense, esta descrição levou
em conta dois critérios. O primeiro, de ordem geográfica, vinha, ao longo deste
trabalho, seguindo o sentido sul-norte, Pavão, Santana, São Tomé e Santa Bárbara.
O segundo critério de apresentação deixou para expor, no fim, as sesmarias
onde funcionavam maior quantidade de charqueadas. Ou seja, começar com o entorno e
terminar no cerne do núcleo saladeiril. Por isso, o rumo foi invertido. As estâncias de
Pelotas e Monte Bonito, divididas pelo arroio Pelotas, foram deixadas por último. Na
estância de Pelotas, na margem esquerda do arroio, funcionaram sete estabelecimentos;
na direita, na sesmaria do Monte Bonito, trabalhavam 23 fábricas de salga de carnes. No
Monte Bonito, somavam-se, ainda, mais ou menos dez saladeiros, localizados às
margens do canal São Gonçalo.
68 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Estância da Real Feitoria do Linho Cânhamo

Fundada em 1783, por iniciativa do vice-rei Luís de Vasconcelos, a Real Feitoria


do Linho Cânhamo tinha a finalidade de cultivar e industrializar o linho, para abastecer de
velas e cabos a Armada Portuguesa. A fim de trabalhar na Feitoria, foram transferidos da
Real Fazenda de Santa Cruz, do Rio de Janeiro, vinte famílias de escravos. Para dirigir o
estabelecimento, foi enviado o padre Francisco Roiz Xavier Prates. O religioso faleceu
um ano depois. A estância da Real não chegou a funcionar satisfatoriamente. Por isso,
numas das suas interinidades, como governador, Rafael Pinto Bandeira transferiu as
atividades para onde atualmente é a cidade de São Leopoldo, às margens do Rio dos
Sinos. “Nos anos de maior prosperidade, a Feitoria chegou a produzir cerca de 40 quintais
[2.320kg] de linho.” [CESAR, 1970: 209] [FIG. 18]

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Figura 18 – Localização aproximada das sesmarias do Monte Bonito, Pelotas e Real Feitoria do Linho Cânhamo.
SANTANA 69

Precariamente, pelo pouco tempo de atividade, os estabelecimentos reais


poderiam estar instalados no interior do continente, no rincão de Canguçu,
posteriormente, conhecido por estância da Feitoria. Sobre a esta estância, Alberto
Coelho da Cunha informou o que segue:
“Fundada por Paulo Xavier Prates. Fazia frente à lagoa dos Patos e atingia
pelos fundos partes indeterminadas da serra dos Tapes. Corria-lhe o arroio
Grande ao norte; era fechada ao sul pelo arroio Correntes. Tendo falecido
Paulo Prates, entre seus herdeiros ela foi partilhada. Tendo comprado
quinhões de herdeiros, Domingos de Castro Antiqueira.[...] achou-lhe uma
área correspondente a 18.793ha.” [CUNHA, 03/08/1828: s.p.] [FIG. 18]
Da área compreendida pelas estâncias do Pavão, Santana, São Tomé, Santa
Bárbara e Feitoria, formou-se o entorno do núcleo charqueador pelotense. Foram donos
dessas terras, principalmente, militares-estancieiros da maior influência na história do
Rio Grande, como o brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, ou Felix da Costa Furtado de
Mendonça e seus parentes, entre os quais tiveram destaque o Padre-doutor e o padre
Felício. Duas instalações charqueadoras salientaram-se: a do Pavão, de João Nunes
Batista e Joaquina Maria da Silva; e, a do Fragata, de Antônio Francisco dos Anjos.
Em 1787, onze anos depois da expulsão dos espanhóis de Rio Grande, o
distrito do Serro Pelado possuía um rebanho invejável, em comparação aos outros
distritos do Continente do Rio Grande. Em Rio Pardo, concentrava-se o maior número
de animais; em Rio Grande, o Serro Pelado liderava as estatísticas. Essas terras
propiciavam, cada vez mais, o desenvolvimento da indústria da carne salgada, tendo em
vista a proximidade dos cursos d’água navegáveis e a existência do gado que podia ser
alçado nas vizinhanças dos campos neutrais.
Tabela 2 - Animais de diversas espécies que existiam no Continente do Rio Grande em 1787.
Rio grande Bois Gado Animais Animais Burros Ovelhas Total
Mansos Vacum Cavalares Muares Burras
Distrito da vila de S. Pedro 946 19710 6351 47 8 200 26902
Distrito do Povo Novo 784 7765 3451 19 10 108 12117
Distrito do Serro Pelado 746 59200 14899 475 31 3385 78736
Distrito do Estreito 1611 21209 5880 89 85 462 29729
Distrito de Mostardas 2014 57866 6551 726 74 507 67738
Soma 61O1 165750 37132 1356 138 4662 215222
Fonte: SANTOS, 1983: 82.
.
Capítulo 8

SESMARIA DE PELOTAS

A sesmaria de Pelotas estava assentada na área de Planície Costeira, a uma


altitude de 5 a 8m, o terreno botava águas pelos arroios Pelotas, Contagem, Correntes,
canal e lagoas. As margens dos arroios constituíam uma zona de aluviões. As praias
lacustres, das lagoas Pequena e dos Patos, eram acompanhadas de uma zona de areias
finas e médias. “No geral, seus solos são de imperfeitamente a mal drenados, argilosos,
com alta e regular fertilidade química e condições físicas de más a regulares [...] sendo
que a cobertura de pastos é de regular e boa qualidade.” [ROSA, 1985: 80]
Ao longo do século XIX, a sesmaria de Pelotas resultou em cinco estâncias e
sete charqueadas. As fazendas chamaram-se: Patrimônio ou Sá; Graça; Palma; Galatéia
e Laranjal, ou Nossa Senhora dos Prazeres. [FIG. 19] Um dos saladeiros situava-se no
Laranjal, num lugar chamado Picada Real. Os outros seis, localizaram-se na margem
esquerda do arroio Pelotas, nos seguintes lugares: na Graça; no Moreira; na Costa; no
Fontoura; no Castro e na Palma. Até hoje, parte das terras permanecem nas mãos da
família de Isabel Francisca da Silveira, mulher de seu segundo proprietário.
Houve vendas, negócios, transações, loteamentos. Os descendentes mantêm-se
como os grandes proprietários dessa área. Conservam estâncias, possuem granjas de
arroz e loteamentos urbanos, nas margens do arroio Pelotas, e nas praias do Laranjal, na
laguna dos Patos. Na sesmaria de Pelotas, os saladeiros apresentavam dois ou mais
terrenos: o terreno da charqueada, propriamente dito, tinha as instalações destinadas à
fabricação da carne salgada e à produção de tijolos e telhas, além do conjunto reservado
à residência do charqueador, com prédios de apoio e um pomar; os outros terrenos
serviam à criação de gado. Configurava-se, mais uma vez, a tipologia do complexo
saladeiril, composto por um trinômio que compreendia, principalmente, as funções de
criação, de produção de charque e de elementos cerâmicos.
Voltando ao processo de doação da sesmaria de Pelotas: em 18 de julho de
1758, o conde de Bobadela, Gomes Freire de Andrade, governador do Rio de Janeiro e
capitão geral das capitanias do Sul, doou ao coronel de dragões, Tomás Luís Osório, um
rincão chamado Pelotas. “Extremando no sangradouro da Mirim [canal São Gonçalo] e
arroio Pelotas até topar com o arroio Correntes, e este a lagoa dos Patos e o lugar de
Canguçu.” [BPP, RPTMP, 93: 11] O rincão foi outorgado por serviços prestados nas
guarnições do continente de São Pedro. Tomás Luís Osório conduziu a construção da
fortaleza de Santa Teresa, entregou-a aos espanhóis, e foi processado. [DEVASSA,
1937: 7,8]
72 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

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Figura 19 – Localização aproximada das estâncias Sá [Patrimônio], Graça, Palma, Galatéia e Laranjal.

Devassa

Em 22 de novembro de 1763, em carta que instaurava a presidência do


inquérito de devassa sobre a invasão espanhola, Tomás Luís Osório foi acusado pelo
vice-rei, Conde da Cunha, nos seguintes termos: “[...] Tomás Luís Osório a deixar-se
surpreender no passo junto a Castilhos onde se achava postado com o seu regimento e
mais gente se lhe agregara que fazia o número de novecentos homens sem a mais leve
resistência [...] e se lhe fará seqüestros de bens [...].” [MONTEIRO, 1937: 7,8] Além
SESMARIA DE PELOTAS 73

dessa acusação, Tomás Luís Osório foi denunciado por proteger um jesuíta. Acabou
enforcado em Portugal. [NASCIMENTO, 1989: 12]

Manuel Bento da Rocha

Em 4 de junho de 1799, a viúva, Francisca Joaquina de Almeida Castelo


Branco, e seus filhos, venderam o rincão, por um conto e duzentos mil réis, ao capitão-
mor Manuel Bento da Rocha. [RPTMP, 93: 11] Fornecedor de alimentos às forças
militares e dono de várias sesmarias extensas. No segundo distrito de Rio Grande, na
ilha de Torotama, situada na laguna dos Patos, ele doou datas de terras, de que era
possuidor, a casais procedentes de Maldonado e da Colônia do Sacramento. No terceiro
distrito de Rio Grande, ou Serro Pelado, possuiu quatro estâncias. Duas dessas
ultrapassavam a área total permitida pelos ordenamentos filipinos, ainda utilizados, de
3300m x 19800m. Chegavam a alcançar 3.300m x 33.000m. [QUEIROZ, 1987: 140]
Em 1812, a sesmaria de Pelotas foi medida. Constaram 524.501.352m². [BPP, RPTMP,
93: 11]
Em 1785, no levantamento de Serro Pelado, feito pelo capitão Antônio Ferreira
dos Santos, Manuel Bento da Rocha apareceu como proprietário de três sesmarias: a de
Pelotas, com uma légua [6.600m], por cinco léguas [33.000m], o rincão de Correntes,
com a mesma dimensão da estância de Pelotas, e a de São Lourenço, com uma légua
[6.600m] por quatro léguas [26.400m]. No rincão de Correntes, havia os casais de
Maldonado, que foram transferidos para a ilha de Torotama. Eram agregados, naquele
rincão, os padres Francisco Inácio da Silveira e Francisco dos Chagas. Por ter servido
ao capitão, por um período de 16 anos, o capataz Manuel de Jesus recebeu uma porção
do terreno da estância de Correntes. A sesmaria de São Lourenço tinha sido doada por
Rafael Pinto Bandeira, com a promessa de lhe dar carta de sesmaria do terreno, o que
não foi feito. [AHRGS, L.1198B: 198-205]
Tabela 3 - Animais que povoavam as terras de Manuel Bento da Rocha, 1785.

Serro pelado Potros Reses Bois Cavalos Éguas Burros Burras Ovelhas Total
Pelotas 190 5500 230 224 470 8 22 900 7.544
Agregados - 128 10 10 184 - - - 332
Correntes 404 885 12 47 302 29 - 482 2.161
Agregados 33 561 8 32 199 16 - 47 896
S. Lourenço 170 2686 30 207 125 - - - 3.218
Agregados - - - - 1258 428 110 418 2.214
Soma 797 9760 290 520 2538 481 132 1847 16.365
Fonte: ASRGS, L. 1198B: 198-205.

Comparando-se, na TAB. 3, o número de gado vacum existente em 1787, no


distrito do Serro Pelado - 59.200 -, com o número de reses que pertenciam a Bento da
Rocha e seus agregados - 9.760 -, pode ser afirmado que o capitão detinha mais de 16%
do rebanho de abate daquele distrito. Sobre a estância de Pelotas, tem-se dito que, além
da criação, dedicava-se à agricultura:
74 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

“Desde os tempos do capitão-mor, ali se cultivavam extensas lavouras,


vinhedos, pomares e funcionavam diversas fábricas [de salga de carne?] e
se pastoreavam cinco mil e quinhentas reses, mais de oitocentos animais
cavalares, muitos outros animais e, ainda, os que pertenciam aos
agregados, em número de mais de seiscentos.” [NASCIMENTO, 1989: 15]
A plantação de trigo teve destaque na estância do Laranjal, e o cultivo de arroz
foi registrado na fazenda da Galatéia:
“Sobretudo da gente ilhoa, agricultora, dada ao cultivo do trigo era
habitado o Laranjal, que foi o empório deste grão, pela era de 1800.
Trabalhavam perto de 40 arados lavrando terras e em curto período saíram
280 carregamentos orçando em 55 mil toneladas de trigo, transportados até
a costa da lagoa dos Patos, saco do Laranjal e embarcados em navios de
barra-fora. Pode-se dizer que movimentava-se o rincão do Laranjal, de fins
do século dezoito às duas primeiras décadas do dezenove, constituído o
empório dos trigos. Em começos da referida era de 1800 fez-se o cultivo do
arroz na Galatéia [estância Machado] [...].” [OSÓRIO, 1962: 31]
No final do século XVIII, e nas duas primeiras décadas do XIX, o Rio Grande
do Sul exportou trigo. No início dos anos vinte, a agricultura rio-grandense já era
decadente. Em 1822, a viúva do capitão-mor Manuel Bento da Rocha, Isabel Francisca
da Silveira, faleceu, passando parte das terras para suas sobrinhas-netas. Provavelmente,
a dedicação ao processo de produção do charque, com vistas a uma maior
comercialização e exportação, na estância de Pelotas, deve ter acontecido quando Isabel
Francisca da Silveira passou a propriedade a seus parentes, o que resultou na divisão da
estância em fazendas, e suas respectivas, ou não, charqueadas.
As razões apontadas pelos historiadores para o declínio da triticultura foram de
toda ordem: a “ferrugem”, uma praga que atacava as plantações e mascarava a
existência de outras dificuldades; a precariedade das técnicas de cultivo e a carência do
métodos defensivos; a requisição, por parte do governo, de grãos e de braços, cujo não
pagamento teria levado ao desestímulo; a proibição da entrada do trigo gaúcho em
Portugal, a partir de 1793; a competitividade com exportadores, como os Estados
Unidos, França e Prússia, que, com as baixas tarifas alfandegárias, concorriam no
próprio mercado interno; a falta de apoio governamental, que via o Rio Grande como
uma zona militar e de defesa do império português. [CARDOSO, 1977: 57-59;
CHAVES, 1978: 192-193; MAESTRI, 1984: 46; SILVA, 1979: 61]
“Observamos, porém, que o crescimento da produção rio-grandense de
trigo se deu no exato momento de crise na produção de cereais na Europa.
No início do século XIX, os países europeus buscaram soluções para o
problema através de uma restruturação de produção nas próprias
metrópoles e, muitos deles, em suas colônias. O mercado para a produção
tritícula gaúcha estava-se fechando, conseqüentemente, ocorreu uma
desorganização na produção porque o sistema produtivo do Rio Grande não
podia fazer frente a um modo de produção mais desenvolvido e efetivamente
ligado ao sistema capitalista mundial.” [SILVA, 1979: 61]
Entre os historiadores, há discordância sobre a questão da mão-de-obra no
cultivo do trigo, naqueles anos, no Rio Grande. Por um lado, afirmam que nas
freguesias nas quais se registrou maior concentração de escravos, houve a produção de
trigo. [CARDOSO, 1977: 52] Por outro lado, concluem o contrário, quando comparam
o mapa da produção de trigo, de 1787, com o senso da população de 1780:
SESMARIA DE PELOTAS 75

“[...] veremos que a zona de Rio Grande [além da vila, Povo Novo, Cerro
Pelado, Estreito e Mostardas] produz 52,47% do trigo do Continente e
possui apenas 22,37% da população escrava, enquanto que as zonas de Rio
Pardo e Porto Alegre, juntas, produzem apenas 47,54% do trigo e possuem
77,62% dos escravos. São, pois, os lavradores em suas pequenas parcelas,
os responsáveis pela maior parte da produção do trigo, que até 1790 terá
praticamente o mesmo valor exportado do charque.” [OSÓRIO: 1990, 189]
Grandes e pequenos produtores trocaram a agricultura pela pecuária. Além da
superação da crise na Europa, e da existência de todos os problemas listados, os
próprios rebanhos de gado encarregaram-se de pisotear e terminar com as plantações. A
pecuária e seus derivados foram produzidos e mandados para o centro do Brasil. O
processo de produção da carne salgada exigiu uma quantidade maior de trabalhadores
do que o pastoreio. Na sociedade escravista brasileira, a solução encontrada foi a que
vinha sendo utilizada na colônia portuguesa, a importação da mão-de-obra cativa
africana. Com a instalação do pólo charqueador, aumentou consideravelmente a
população escrava no Rio Grande de São Pedro e, em particular, no distrito de Serro
Pelado.

Sucessão da Estância de Pelotas

Manuel Bento da Rocha era casado com Isabel Francisca da Silveira. Esta veio
da ilha de Faial, nos Açores, com seus pais, o alferes Antônio Furtado de Mendonça e
Isabel da Silveira. [NASCIMENTO, 1989: 10] Ou, era filha de Mateus Inácio da
Silveira. Essa família já estaria em Viamão, muito antes dos casais de número, ou seja,
do contrato de Velho Oldemberg, que chegaram em Rio Grande em 1748.
Provavelmente esses Silveiras tenham passado por São Paulo, e vindo para o sul, na
mesma época de Jerônimo Dorneles e Dionísio Rodrigues. [FORTES, 1978: 57]
Isabel Francisca tinha quatro irmãs: Mariana Eufrásia; Maria Antônia; Joana
Margarida e Ana Inácia; dois irmãos: Antônio e José Inácio. Suas irmãs e sobrinhas
casaram-se com militares e foram proprietárias das terras da sesmaria de Monte Bonito.
Com a morte do capitão-mor, Manuel Bento da Rocha, Isabel Francisca herdou e
administrou a estância de Pelotas, até a sua morte, no ano da independência do Brasil. O
casal não teve filhos.
Por testamento, destinou parcialmente a estância de Pelotas a duas sobrinhas-
netas e afilhadas, as irmãs Maria Regina da Fontoura e Isabel Dorotéia da Fontoura,
netas de sua irmã Maria Antônia, casada com Maurício Inácio da Silveira, e filhas de
Dorotéia Isabel da Silveira e do capitão de dragões José Carneiro da Fontoura. Maria
Regina da Fontoura casou-se com João Duarte Machado; eles foram pais de José Maria
Bento da Fontoura, Manuel Bento da Fontoura e Maria Augusta da Fontoura, casada
com Joaquim José Assumpção.
A outra herdeira, Isabel Dorotéia da Fontoura, casou com João Simões Lopes.
Dessa sucessão foi possível identificar, na sesmaria de Pelotas, sete charqueadas. A
mais distante, da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo, estância da Graça,
76 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

pertenceu a João Simões Lopes, que a passou a seu filho de mesmo nome, também
conhecido como visconde da Graça.
Descendo o arroio Pelotas, em direção ao canal São Gonçalo, encontravam-se
na margem esquerda, as seguintes charqueadas: na estância da Graça, de João Simões
Lopes; no Moreira, de José Antônio Moreira, barão de Butui; na Costa, de Joaquim José
Assumpção, no Fontoura, dos irmãos, José Maria Bento da Fontoura e Manuel Bento da
Fontoura; no Castro, de Antônio José de Oliveira Castro; e, a do barão de Azevedo
Machado, Antônio José de Azevedo Machado. Anotou-se, ainda, um estabelecimento
saladeiril na laguna dos Patos, no Laranjal. [FIG. 20]

NORTE

Figura 20 – Cópia parcial e ampliada de uma carta hidrográfica, Lopo Neto, Arquivo Nacional. Seção de
Mapas, MVOP-CB [25].

No início da segunda metade do século VIII, foi doado o rincão de Pelotas. No


fim do século, seu segundo proprietário, o capitão-mor Manuel Bento da Rocha, sua
esposa Isabel Francisca da Silveira, parentes, agregados e companheiros de armas,
instalaram-se nas terras da sesmaria e nas estâncias vizinhas de São Lourenço e
Correntes. Dedicaram-se à criação de animais e ao cultivo do trigo. Na segunda década
do século XIX, com a morte de Isabel, a sesmaria foi dividida em cinco estâncias, onde
funcionaram sete charqueadas. Provavelmente, neste período, tenha sido incrementada a
atividade charqueadora e aumentado consideravelmente a mão-de-obra escrava africana.
Capítulo 9

ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS


DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS

“De começos até quase fins do século passado - e desde a foz até pouco
além do Cotovelo, onde na Graça se situara a última charqueada - pelas
suas margens, e sobretudo pela direita, se escalavam esses estabelecimentos
com as suas respectivas olarias.” [Grifo nosso] [CUNHA, 1939: 40]
Em menor número, mas, da mesma forma, as charqueadas da margem esquerda
do Pelotas seguiam subindo a costa do arroio, com as suas respectivas olarias e campos
de criação. Todas essas terras pertenceram preliminarmente a fazenda de Pelotas. A
primeira, mais distante da foz, a charqueada da Graça, vinculada à estância de mesmo
nome, pertenceu ao visconde da Graça, João Simões Lopes. Descendo o arroio, no
Moreira, o segundo estabelecimento foi do barão de Butui, José Antônio Moreira, dono
da fazenda da Palma. Em seguida, estaria a fábrica do barão de Azevedo Machado,
Antônio José de Azevedo Machado, proprietário da fazenda da Galatéia. No lugar
chamado Costa, situou-se o estabelecimento de um outro barão, o do Jarau, possuidor
da fazenda do Laranjal. Continuando a descer o arroio, no Passo Real, encontrava-se o
estabelecimento dos irmãos José Maria e Manuel Bento da Fontoura, que também foram
senhores da estância do Laranjal. Em sexto e último lugar, próxima à foz, no passo do
Castro, ficava a charqueada de Antônio José de Oliveira Castro, sogro do barão de
Butui. [FIG. 21]
Parte das terras da estância de Pelotas foram negociadas, como as duas vendas
realizadas por Isabel Francisca da Silveira, viúva do segundo proprietário, o capitão
Manuel Bento da Rocha:
“15 de maio de 1819. Dona Isabel Francisca da Silveira fez venda a Inácio
Bernardes de um terreno, ou potreiro, que principia no arroio de Pelotas, no
lugar onde algum tempo existiu a olaria de João Duarte Machado [marido
da herdeira, Maria Regina da Fontoura, pai de José Maria Bento da
Fontoura e Manuel Bento da Fontoura], seguindo arroio acima até a Volta
das Éguas, no lugar onde o mesmo João tirava barro, e, deste ponto, a rumo
nordeste, até o pantano, que divide a chácara de Ana Nóia, e daqui
seguindo o mesmo banhado e pantano a rumo sudeste, digo, o pantano até
encontrar o rumo sudeste lançado no lugar onde existiu a casa do dito
Duarte.
6 de novembro de 1819. Dona Isabel Francisca da Silveira fez venda a José
Pinto Martins [o português, que veio do Ceará, e, em 1780, segundo parece,
78 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

instalou, na margem direita do Arroio Pelotas, a primeira fábrica de salga


de carnes] e Companhia de um terreno que principia no arroio de Pelotas,
no lugar onde acaba o vendido a José Inácio Bernardes, e, seguindo pelo
arroio acima, até o Cascaes, em seguida, até o banhado, o pantano que se
acha ao pé da lomba, e, seguindo pelo dito banhado, até a roça velha, onde
morava Ana Nóia.” [Grifo nosso] [BBP, RPTMP, 93: 29]

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Figura 21 – Localização das charqueadas da margem esquerda do arroio Pelotas e de seus respectivos passos.

Até 1822, a estância de Pelotas permaneceu nas mãos de Isabel Francisca da


Silveira. Isabel fez de suas sobrinhas-netas, as irmãs Maria Regina da Fontoura e Isabel
Dorotéia da Fontoura, as maiores herdeiras da fazenda de Pelotas. Os proprietários das
cinco estâncias - Sá, ou Patrimônio, Graça, Palma, Galatéia, e Laranjal, ou Nossa Senhora
dos Prazeres - e das respectivas charqueadas, entrelaçavam-se por laços matrimoniais,
ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS 79

principalmente, entre as descendentes de três mulheres de sobrenome Silveira: Isabel


Francisca; sua irmã, Mariana Eufrásia da Silveira; a filha desta, Maurícia Inácia da
Silveira, ambas as maiores herdeiras da sesmaria do Monte Bonito. Essa sesmaria, que
ficava do outro lado do arroio Pelotas, abrigou três dezenas de fábricas de salga de carnes
contíguas à Tablada, local onde se comercializava o gado, e à cidade.

Os Bens Urbanos, Algumas Considerações

Além do patrimônio rural, foram muitas as propriedades urbanas dos


charqueadores da sesmaria de Pelotas. Coincidentemente, ou não, o número de escravos
desses senhores revelou-se significativo. Em 1848, José de Oliveira Castro, viúvo de
Francisca Alexandrina de Castro, filha de Maurícia Inácia da Silveira e do alferes Inácio
Antônio da Silveira Cazado, donos da sesmaria de Monte Bonito, herdou, na cidade de
Pelotas: 10 terrenos; quatro sobrados, sendo dois de moradia e dois de comércio; 12
lances de casas térreas, uma vivenda com 10 portas, outra casa, com cinco portas, duas
residências, com quatro aberturas, quatro moradias, com três acessos e quatro casas,
com duas portas. Recebeu, como herança de sua mulher, um plantel de 159
trabalhadores cativos. [APRGS, INVENTÁRIO de Francisca Alexandrina de Castro.
Pelotas, nº 239, M. 21, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1848]
Também foi expressivo o número de propriedades urbanas do barão e da
baronesa de Butui, charqueadores, donos da estância da Palma, e, respectivamente,
genro e filha de Francisca Alexandrina e de José de Oliveira Castro. Esses nobres
senhores, de uma centena e meia de escravos, deixaram na cidade os seguintes bens
imóveis: 14 terrenos; oito sobrados, sendo quatro de três portas, três de cinco e um de
seis portas. Somavam-se mais 12 lances de casas térreas, dessas cinco tinham quatro
portas; duas, cinco; uma, três e quatro, duas. Possuíam, ainda, dois armazéns, um com
três e o outro com quatro portas. [APRGS, INVENTÁRIO de Leonídia Gonçalves
Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E. 25, 1º Cartório de Órfãos
e Provedoria, 1867/1877]
Ao colocarmos em relação o caráter sazonal da salgação de carnes; a grande
quantidade de propriedades urbanas; a presença quase constante de olarias nas
charqueadas e o significativo plantel de escravos, surge como hipótese mais do que
plausível a construção de prédios urbanos como uma atividade alternativa à
charqueadora. O processo de produção e organização do espaço se teria verificado
desde a fabricação de tijolos e telhas, até o erguimento e manutenção das edificações.
Por suposto, esse trabalho, ao mesmo tempo que ocupou os cativos, no período de
entressafra da charquia, produziu a cidade. Não só os palacetes que serviam de
residência urbana aos charqueadores, como uma série de casas de aluguel, destinadas à
moradia, ao comércio e aos serviços. Essas edificações abrigavam a população, que
crescia, na cidade, e as pessoas que ali chegavam, para os negócios da carne salgada, e
em busca de tudo o que um centro produtivo oferecia.
80 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Os Passos

Entre a charqueada da Graça e a foz do arroio Pelotas, existiram, pelo menos,


cinco passos, por onde eram atravessadas as tropas de gado. À margem direita do arroio,
na frente de seus saladeiros, o Barão de Butui, o do Jarau, e Antônio José de Oliveira
Castro, possuíam, respectivamente, três terrenos, pelos quais o gado cruzava as águas
do Pelotas. O terreno de José Antônio Moreira tinha 11 braças [24,20m] de frente,
dividia com os estabelecimentos de José Bento e Campos e de Boaventura Rodrigues
Barcellos. Nesse terreno, estava construído um pequeno galpão. [APRGS,
INVENTÁRIO de Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº
647, M. 41, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867/1877]
O segundo terreno, da família Assumpção, ficava na frente da charqueada da
Costa, entre as fábricas de Boaventura Rodrigues Barcellos e de Antônio José
Gonçalves Chaves. Igualmente, nesse local, existia um rancho de paredes de tijolos e
cobertura de telhas, que servia de cocheira. [APRGS, INVENTÁRIO de Maria Augusta
da Fontoura. Rio Grande, nº 514, M. 22, E. 12, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria,
1845]
No passo do Castro, na frente da charqueada de mesmo nome, à margem
direita, o terceiro terreno foi vendido, por Domingos José de Almeida, a Antônio José
de Oliveira Castro. [APRGS, INVENTÁRIO de Francisca Alexandrina de Castro.
Pelotas, nº 239, M. 21, E. 26, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1848]
Situado à frente da charqueada da Graça, o passo do Retiro servia às tropas que
se dirigiam àquele saladeiro. E, na frente da charqueada dos Fontouras, existia o passo
de mesmo nome. O passo do Fontoura era o ponto mais estreito do Arroio Pelotas, por
onde atravessavam as conhecidas pelotas, embarcações revestidas de couro, que deram
o nome ao arroio e à cidade. Os terrenos à margem direita, e todos esses passos, indicam
que, independentemente da criação dos rebanhos de gado, feita à margem esquerda do
arroio, a travessia das tropas era intensa naquele local.

Graça

A estância da Graça permanece até hoje nas mãos da família Simões Lopes,
descendente da herdeira Isabel Dorotéia da Fontoura, casada com o português João
Simões Lopes. Isabel Dorotéia, sobrinha de Isabel Francisca da Silveira, era filha de
Isabel Dorotéia da Silveira e do português José Carneiro da Fontoura, capitão de
dragões, que lutou em Rio Pardo contra os correntinos, sob as ordens de Rafael Pinto
Bandeira. Isabel Dorotéia e João Simões Lopes foram pais do visconde da Graça,
também chamado João, de Idelfonso e de Clara, baronesa do Jarau, dona da charqueada
da Costa e da fazenda do Laranjal.
O visconde da Graça teve 22 filhos de dois casamentos, entre eles, Idelfonso
foi ministro da agricultura e deputado federal em sete legislatura; Augusto foi deputado
constituinte e senador da república. O membro mais ilustre da família foi o neto do
nobre casal, o escritor João Simões Lopes Neto, filho de Catão Bonifácio, administrador
ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS 81

da Estância São Sebastião. Na sesmaria do Monte Bonito, na margem norte do canal


São Gonçalo, a família Simões Lopes ainda mantém parte das terras, onde estava
localizada uma outra fábrica de salga de carnes.
Isabel Dorotéia e João Simões Lopes casaram em 1815, na igrejinha de Nossa
Senhora dos Prazeres, que existia na sede da estância de Pelotas. Em 1853, foi feito o
inventário de João Simões Lopes. Dizia que a fazenda da Graça dava frente ao arroio
Pelotas, e fundos ao arroio Contagem; a leste, era vizinha, em terras de banhado, dos
herdeiros do finado Antônio José Rodrigues, e, a oeste, de Inácio Barbosa de Lourenço
Ribeiro. Falava em casas de moradia, estabelecimento de charqueada, duas olarias,
quintas e demais benfeitorias. [APRGS, INVENTÁRIO de João Simões Lopes. Pelotas,
nº 366, M. 26, E. 23. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1853]
Em 1853, na fazenda da Graça, havia 1.820 reses xucras de criar, 121 novilhos,
115 reses de criar, 40 bois mansos, 275 éguas xucras, 74 cavalos, 74 mulas. João
Simões Lopes era dono de 5.000 reses xucras e mansas, 400 novilhos de corte, 30 bois
mansos e 150 cavalos na fazenda, que possuía no estado Oriental. Dispunha de imóveis
em Rio Grande e Pelotas; de diversas ações e dívidas passivas; de dois iates para o
transporte do charque até Rio Grande. Em 1857, o inventário de Eufrásia Gonçalves
Lopes, esposa do herdeiro João Simões Lopes Filho, detalhava mais um pouco a
fazenda da Graça; dizia ter dois quinhões de terras, um com estabelecimento de uma
charqueada, olaria e uma quinta; animais; escravos; etc.
Um dos quinhões de campo foi comprado de seu irmão, Idelfonso e o outro,
onde existia a charqueada e olaria, recebeu de seu pai. O terreno legado limitava-se,
pelo sul, com o arroio Pelotas; pelo norte, com o arroio Contagem; a leste, com Antônio
José de Azevedo Machado, fazenda da Galatéia, e, a oeste, com o terreno que fora de
seu irmão. Esse, com as mesmas confrontações, confinava, a oeste, com Vicentina
Maria da Fontoura. Constavam do inventário 1.628 reses de criar, 142 reses mansas, 84
éguas xucras, 46 cavalos mansos, 11 mulas tafoneiras mansas e 38 bois mansos.
No terreno herdado, fabricava-se o charque, tijolos e telhas, e plantavam-se
diferentes árvores frutíferas. A charqueada era constituída de uma casa, que servia de
vivenda, galpões, armazéns, varais, currais e demais benfeitorias. A olaria compunha-se
de três galpões, cobertos de palha. Eufrásia Gonçalves Lopes era proprietária de dois
iates, três terrenos na cidade, móveis, prata, etc. [INVENTÁRIO de Eufrásia Gonçalves
Lopes. Pelotas, nº 432, M.29, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857]

Moreira

José Antônio Moreira e Leonídia Gonçalves Moreira, barão e baronesa de


Butui, eram vizinhos dos Simões Lopes. O barão e seu filho foram proprietários da
fazenda da Palma. Hoje, transformada em granja de arroz, é seu dono Sérgio Santana.
Leonídia era sobrinha-bisneta de Isabel Francisca, dona da sesmaria de Pelotas, e
bisneta de Mariana Eufrásia, proprietária do segundo loteamento da cidade de Pelotas.
Neta de Maurícia Inácia da Silveira e do terceiro possuidor da sesmaria do Monte
Bonito, alferes Inácio Antônio da Silveira. Leonídia era filha de Francisca Alexandrina
82 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

e Antônio José de Oliveira Castro. Em 1867, o inventário da baronesa e do barão


descreveu o saladeiro da seguinte forma:
“um estabelecimento de charqueada na margem esquerda do Arroio
Pelotas, com casa de moradia, armazém, galpões, barraca, graxeira e todos
os mais utensílios pronto para trabalhar. E o terreno que se acha edificado,
que se divide pelo sul com terrenos pertencentes a Antônio José de Oliveira
Castro, pelo norte com os de Malaquias de Borba e pelos fundos com os de
José Maria da Fontoura e de seu irmão Manuel.” [AHRGS, INVENTÁRIO
de Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647,
M.41, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria,1867]
Serviam à charqueada as seguintes embarcações: a barca Pombinha, o patacho
Moreira e os iates São Jerônimo e Santa Rita. Os barões possuíam, ainda, parte no
patacho Cassio e um quinto do reboque a vapor de Rio Grande. Somava-se à estância da
Palma: um rincão em Monte Bonito; uma porção de terras em comum com Antônio
José de Oliveira Castro; um campo, em Jaguarão, que receberam de herança dos pais de
José Antônio Moreira, Francisco José Gonçalves e Maria Joana Gonçalves Braga, e
incontáveis animais distribuídos por todas essas propriedades.

Costa

O sobrado e a área onde estava implantada a charqueada da Costa permanecem


nas mãos da família Assumpção. Atualmente é a casa de moradia dos três filhos de
Joaquim C. Assumpção Rheingantz, falecido em maio de 1992. O primeiro proprietário
da charqueada da Costa, Quincas Patrão, chamava-se Joaquim José Assumpção e era
natural de Lisboa.
Casou-se com Maria Augusta da Fontoura, filha de Maria Regina da Fontoura
e do lisboeta João Duarte Machado, sobrinha-neta e herdeira de Isabel Francisca da
Silveira. O segundo proprietário, filho do primeiro, tinha o mesmo nome do pai,
Joaquim José de Assumpção, barão do Jarau. O barão casou com Clara, sua vizinha,
filha de sua tia-avó, Isabel Dorotéia da Fontoura, dona da estância, charqueada e olaria
da Graça.
Em 1898, no inventário do barão do Jarau, foram relacionados dois terrenos
dedicados à criação, no entorno da área da charqueada e olaria:
“Um terreno situado no mesmo segundo distrito de Santo Antônio da Boa
Vista, no lugar denominado ‘Boca do Arroio’ [também conhecido como
potreiro da praia], à margem esquerda do arroio Pelotas e esquerda do rio
São Gonçalo; delimitando com o terreno do conselheiro Francisco Antunes
Maciel [comprador da charqueada do Castro] e a estância de José e
Manoel Bento da Fontoura.
Mil braças de légua, ou sejam, 14.520.000m² na estância dos Prazeres
[Laranjal] situada nesse município, segundo distrito da Boa Vista;
dividindo-se essas 1.000 braças de campos, ao norte e nordeste, com os
herdeiros do barão de Azevedo Machado [dono da fazenda da Galatéia], ao
sul e sudeste, com a estância dos Prazeres e lagoa dos Patos.” [APRGS,
INVENTÁRIO do barão do Jarau. Joaquim José Assumpção. Pelotas, nº
228, M.6, E. 33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1898]
ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS 83

Em 1845, o terreno da charqueada e olaria da Costa foi descrito no inventário


de Maria Augusta da Fontoura, mãe do barão do Jarau, onde destacamos:
“Haverá um terreno onde se acha o estabelecimento de charqueada e
olaria, dividindo a frente deste terreno no valo do dito estabelecimento que
divide com herdeiros de Inácio José Bernardes, já falecido, até encontrar
com a esquina da graxeira da banda oeste, pela parte da terra a rumo
sudeste a encontrar com o dito estabelecimento da mesma charqueada, na
margem do passo Real, e que divide o referido valo com terrenos de Antônio
José de Oliveira Castro.”
Entre as construções ali existentes, foram arroladas uma casa nova de sobrado
e uma térrea. Destinadas ao preparo do charque, foram listadas as seguintes construções:
“Haverá vários estabelecimentos da charqueada arruinados como [ilegível], armazéns,
galpão, guindaste, graxeira com cinco caldeiras, e dois galpões pequenos de olaria
com seu forno antigo [...].” Maria Augusta possuiu três iates e tinha a metade em dois
patachos. [INVENTÁRIO de Maria Augusta da Fontoura. Rio Grande, nº 514, M. 22, E.
12, 1º Cartórios de Órfãos e Provedoria, 1845] [Destaque e grifo nosso]

Avanço Técnico na Charqueada Escravista

A presença de caldeiras, em 1845, foi muito significativa. As últimas pesquisas


sobre o emprego da máquina a vapor têm apontado a década de 1850 como o início da
utilização dessa tecnologia, nas charqueadas rio-grandenses.
“[...] desde a década de 1850, é possível perceber o emprego da máquina a
vapor num estabelecimento charqueador do Rio Grande do Sul. Entretanto,
não temos condições de saber se trata-se de um caso isolado ou não. Mesmo
assim, cremos que podemos considerar o fato como indicador de uma
tendência a um certo avanço das forças produtivas e do aperfeiçoamento
técnico, sob a vigência do sistema escravista, na província gaúcha.”
[CORSETTI, 1983: 167]
Foi possível detectar a presença da máquina a vapor na charqueada da Costa,
em 1845; no saladeiro de Pavão, em 1849 e na fábrica de carnes de Albana Rodrigues
Barcellos, em 1857. Portanto, a utilização de uma tecnologia avançada, no processo
escravista de produção do charque gaúcho, não foi um ato isolado. Essa afirmação vem
colocando em dúvida, cada vez mais, a hipótese de que o regime servil impedia o
avanço técnico, levantada, preliminarmente, pelo charqueador Antônio José Gonçalves
Chaves, em 1817. A charqueada escravista gaúcha progrediu tecnicamente. Por certo, o
regime servil atravancava tendencialmente a melhoria, mas, não, não a evitava. Nos
saladeiros escravistas pelotenses, junto as máquinas a vapor verificou-se a presença de
trabalhadores assalariados e, conseqüentemente, reduzido número de cativos graxeiros.
O progresso tecnológico, somado ao aproveitamento da mão-de-obra cativa na
construção civil, no período de entressafra da atividade saladeiril, possivelmente,
colaborou, na manutenção da mão-de-obra escrava.
84 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Fontoura

Os irmãos José Maria e Manuel Bento da Fontoura foram os proprietários da


charqueada de mesmo nome. Quando faleceram, respectivamente, em 1902 e 1896, a
abolição já havia sido proclamada e o estabelecimento saladeiril não estava mais em
funcionamento. Eram filhos de João Duarte Machado e Maria Regina da Fontoura,
sobrinha-neta e herdeira de Isabel Francisca da Silveira. Ambos faleceram solteiros.
Hoje, o local pertence ao clube de Caça e Pesca.
“Em tempos, suas terras haviam sido parte da fazenda de Pelotas, vendidas
a Antônio José Rodrigues. Posteriormente, herdadas por José Bento e sua
mulher D. Rosa Angélica Bento, filha do visconde de Jaguari. O casal
vendeu-as à firma de José Maria da Fontoura & Irmão pela quantia de seis
contos de réis, em escritura passada na cidade de Rio Grande, em 31 de
janeiro de 1856.” [NASCIMENTO, 1989: 21]
José Maria faleceu na casa da charqueada. Naquele lugar, à margem esquerda
do arroio Pelotas, possuía as seguintes propriedades:
“Casa de moradia, chácara, curral e outras benfeitorias [...].
Casa de moradia, galpão e outras benfeitorias edificadas no terreno na
margem esquerda do arroio Pelotas, onde foi o antigo estabelecimento de
charqueada [...].
Estância denominada Prazeres e também conhecida por Laranjal [...].”
[APRGS, INVENTÁRIO de José Maria Bento da Fontoura. Pelotas, nº 1465,
M. 80, E.26, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1902]

Castro

“Em 15 de maio de 1819, dona Isabel Francisca da Silveira fez doação a


seu capelão, o reverendo padre Francisco José Macedo de quatrocentas
braças [880m²] de terreno em quadro, compreendendo dentro do mesmo
lugar o passo Real.” [BPP, RPTMP, L.92: 83]
No dia 25 de maio de 1824 Antônio José de Oliveira Castro comprou a terra do
capelão. Este passou-a a herdeiros, vindo a pertencer, depois, ao conselheiro Francisco
Antunes Maciel. Sobre as suas atividades desenvolvidas no local, João Simões Lopes
Neto escreveu: “Nesta houve também um estaleiro, que além de barcos pequenos
construiu um de - barra-fora -, o brigue “São Bartolomeu da Esperança.” [LOPES
NETO: 1911, 114]
O patrimônio do comendador Antônio José Oliveira Castro incluía dois
saladeiros, localizados cada um em uma das margens do arroio Pelotas. Sobre o
estabelecimento da margem esquerda, foi registrado no inventário de sua mulher,
Francisca Alexandrina de Castro, em 1848:
ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS 85

“Um estabelecimento de charqueada com seus respectivos armazéns,


galpão, graxeira e, finalmente, todos os utensílios de seu custeio; edificado
em um terreno de 400 braças em quadro [880m²], sito na margem esquerda
do arroio Pelotas [...].
Uma casa de sobrado de moradia do viúvo cabeça do casal, com uma quinta
inventariada, tudo sito no terreno acima [...].
Um terreno com um pequeno contrafeito, imediato de 400 braças [880m²] e
que divide com terrenos de Joaquim José Assumpção, e com a charqueada
que foi de José Inácio Bernardes da Costa [...].
Um estabelecimento na charqueada e olaria com todos os seus pertences
sito à margem esquerda do arroio Pelotas [...].” [Grifo nosso]
Além das propriedades rurais e dos imóveis urbanos em Pelotas e Rio Grande,
o comendador herdou de sua mulher uma frota de embarcações, composta de: três iates,
Santa Bárbara, São Jerônimo e Santos Fortes; uma lancha para iate; um saveiro; um
caiaque; duas canoas; a barca Comércio; dois brigues, Castro e Pombinha.

O Espaço da Produção do Charque nos Estabelecimentos


que Procederam
da Estância de Pelotas

As charqueadas que procederam da estância de Pelotas faziam parte da


tipologia já identificada. As informações contidas nos inventários dos charqueadores da
margem esquerda do arroio Pelotas, repetiram as referentes aos donos do saladeiro,
estância e olaria do Colla, na Banda Oriental, e da charqueada, estância e olaria do
Pavão, situada no arroio de mesmo nome. Eram constituídas, quase sempre, de duas
áreas: o campo, destinado aos rebanhos de gado, e o terreno onde funcionava a salgação
das carnes, couros, elaboração de sebo, graxas, compartilhado, na maioria das vezes,
com aquelas instalações em que se elaboravam produtos de barro. Segundo parece, essa
segunda atividade seria alternativa à primeira. No mesmo terreno, mas, um pouco
distante, situava-se a residência do charqueador, muitas vezes assobradada, e um pomar.
Os prédios eram implantados nas costas do arroio e, pelo menos, três estabelecimentos
ampliavam seus domínios através de terrenos na margem direita, com a finalidade de
facilitar o cruzamento das tropas de gado. O galpão, tipo de edifício que mais se fazia
presente, abrigava as diversas funções. Provavelmente, as centenas de escravos se
acomodavam junto aos diversos galpões da produção. A existência de caldeiras a vapor,
constatadas na charqueada da Costa, em 1845, veio reafirmar o avanço tecnológico no
sistema escravista da produção do charque.
86 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Tabela 4 - Charqueadas da margem esquerda arroio Pelotas. Procedem da Estância de Pelotas.


Bens imóveis da área da produção do charque.

CHARQUEADA GRAÇA MOREIRA COSTA CASTRO FONTOURA

Fazenda Graça Palma Laranjal [Prazeres] Laranjal [Prazeres]

Proprietário João Simões Lopes Br. e Bra. de Butui Maria Augusta Fontoura Fª Alexandrina de José Maria Bento
Castro Fontoura

Ano 1853 1867/1877 1845 1848 1902 [já não


funcionava]

Escravos 79 153 115 159

Terrenos o quinhão de campo o terreno da charqueada sul o terreno da charqueada e o terreno da o terreno da
de charqueada e – Antº de Oliª Norte olaria frente – no valo que charqueada charqueada
olaria Malaquias Bor. fundos – divide herdeiros Inácio José
José Mª da Fontoura e seu Bernardes Oeste – graxeira
irmão Manoel sudeste – na margem do passo
Real, que divide com Aº José
Oliª Castro

um terreno na margem um terreno na margem direita um terreno em


direita do Arroio Pelotas do Arroio Pelotas que divide frente ao
com 24,20m de frente que com Boaventura Rodrigues estabelecimento por
divide com José Bento e Barcellos e Aº José onde passa o gado
Campos e herdeiros e Gonçalves Chaves comprado de
Boaventura Rodrigues Domingos José de
Barcellos Almeida

Olarias duas olarias [três olaria, dois galpões pequenos consta


galpões cobertos de e um forno antigo
palha]

Casas casas de moradia casas de moradia casa nova de sobrado e casa casa de sobrado casa de moradia
térrea

Pomar um quinta com quinta


arvoredo frutífero

Mangueira de armazéns, galpões, armazéns, galpões, guindastes, armazéns, galpão, armazéns, galpão, galpão, curral e
matança, guindaste, graxeiras, varais, barracas [couros] e demais graxeira com cinco caldeiras graxeiras e demais demais
canchas, armazéns, currais e demais utensílios utensílios benfeitorias
depósitos, galpões, utensílios
graxeiras, varais,
curais, etc.

Fonte: APRGS - INVENTÁRIO de João Simões Lopes Neto. Pelotas, nº 366, M. 26, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1853; INVENTÁRIO de Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e Barão de Butui. Pelotas, nº 647, M.
41, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867/ 1877; INVENTÁRIO de Maria Augusta da Fontoura. Rio
Grande, nº 514, M. 22, E. 12, 1845; INVENTÁRIO de Francisca Alexandrina de Castro. Pelotas, nº 239, M. 21, E.
25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1848; INVENTÁRIO de José Maria Bento da Fontoura. Pelotas, nº 1465, M.
80, E. 26. Cartório de Órfãos e Provedoria, 1902.
Capítulo 10

O ESPAÇO DA ESCRAVATURA
NAS FAZENDAS, CHARQUEDAS E OLARIAS

As fábricas de salga de carnes, localizadas na margem esquerda do arroio


Pelotas, dedicavam-se à criação de gado. Tinham maior número de escravos do que as
situadas no lado direito. No entanto, a densidade da população servil, na orla direita, era
maior, porque ali funcionavam 30 estabelecimentos contíguos. Em frente, na costa
esquerda do arroio, a das estâncias e charqueadas, operavam sete estabelecimentos,
intercalados pelos campos de pecuária de cinco estâncias.
Constatou-se a falta de notícias sobre senzalas. Impossível deixar ao relento
centenas de cativos, principalmente, porque a temperatura chegava a registrar zero grau
centígrado; ventos, que podiam alcançar até 100 km por hora, vinham do nordeste, em
todas as épocas do ano, varrendo o Atlântico e a laguna dos Patos, e, do sudoeste,
proveniente da Patagônia, soprava o Minuano, principalmente, nos meses de inverno.
As fábricas implantavam-se em lugares ribeirinhos, alagadiços, numa região onde a
média da umidade do ar era de 80%. Por tudo isso, a sensação térmica de frio parecia
superior à dos termômetros. [TAB. 3]
Possivelmente, uma pequena parcela de escravos, a de ofício e a de
domésticos, ficasse acomodada no pavimento térreo das residências de dois pisos. A
população servil, que trabalhava diretamente no processo de produção do charque,
deveria ocupar algum galpão junto aos outros, destinados às diversas tarefas da
elaboração da carne salgada, conforme indicado no inventário de Francisco Medina,
proprietário do saladeiro do Colla, na Banda Oriental do Uruguai. [Assumpção, 1978:
72] O mesmo tipo de solução habitacional deveria ocorrer com os escravos campeiros e
tropeiros.
Com a finalidade de generalizar as análises sobre o plantel de escravos das
charqueadas que se ocupavam da criação, foi traçado um paralelo com as informações
do estabelecimento do Pavão. Com esses dados, uma tendência se delineou, a
diminuição de cativos. O dono da fazenda, charqueada e olaria do Pavão, localizada no
arroio de mesmo nome, João Nunes Batista, ao falecer, em 1823, deixou de herança,
para a mulher e os filhos, 66 escravos. Vinte e seis anos depois, em 1849, quando
Joaquina Maria, sua viúva morreu, os escravos estavam reduzidos a menos da metade.
Os filhos herdaram 30 cativos. A mesma constatação pode ser feita em relação à
fazenda, charqueada e olaria da Graça. Em 1853, no inventário de João Simões Lopes,
constaram 79 escravos. Em 1857, sua nora, Eufrásia Gonçalves Lopes, passou para seus
88 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

herdeiros um total de 61 cativos, ou seja, uma redução de quase 23% no número de


trabalhadores servis. [TAB. 4 e 5]
Tabela 5 - Profissões dos escravos das fazendas charqueadas.
ESTABELECIMENTO GRAÇA MOREIRA COSTA PAVÃO
Proprietário João/Eufrásia Leonídia Mª Augusta João/Joaquina
Ano 1853 1857 1867/1877 1845 1823/1849
Charqueador 14
Carneador 22 26 22 13 06
Salgador 01 12
Graxeiro 01 06
Descarneador 01 02 03
Servente 24 08 05 36
Chimango 15 17
Marinheiro 07 07 07 16 04 01
Escrava [11] [10] 11 17 11 08
Tropeiro 01
Campeiro 04 11 07 04 15
Cozinheiro 02 03 02 01
Alfaiate 01 01 01 01
Carpinteiro 02 01 04 01 01
Marceneiro 01
Taipeiro 01
Pedreiro 01 01 01
Costureira 02
Lavadeiro 01
Boleeiro 01
Sapateiro 01 02
Falquejador 01
Escravos de ofício 09
Sem informação 11 40 02 12
Crianças 03 04 07
Em outro local 11 03
TOTAL 79 61 150 115 66 30
Fonte: APRGS. Inventário de João Simões Lopes. Pelotas, nº366, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria,
1853; INVENTÁRIO de Eufrásia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M. 29, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria,
1857; Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E.25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1867/1877; INVENTÁRIO de João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M. 06, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1823; INVENTÁRIO de Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M. 21, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1849.

Tabela 6 - Distribuição da ocupação espacial dos escravos das fazendas charqueadas.


ESTABELECIMENTO GRAÇA MOREIRA COSTA PAVÃO Média
Charqueador[a] João/Eufrásia Leonídia Mª Augusta João/Mª Joaquina
Ano 1853/1857 1867/1877 1845 1823/1849
% % % % % % %
No charque 71 70 43 65 47 23 53
No campo 06 18 05 03 23 09
Domicílio/ofício 09 07 08 08 10 10 09
Mulheres [14]* [16]* 07 15 17 27 16
Crianças 05 03 06
Sem informação 14 27 03 40
Outro local 07 03
TOTAL 100 100 100 100 100 100
* As escravas da fazenda, charqueada e olaria da Graça foram qualificadas.
Fonte: APRGS. INVENTÁRIO de João Simões Lopes. Pelotas, nº366, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1853; INVENTÁRIO de Eufrásia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M. 29, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1857; Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E.25, 1º Cartório
de Órfãos e Provedoria, 1867/1877; INVENTÁRIO de João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M. 06, E. 25, 1º Cartório
de Órfãos e Provedoria, 1823; INVENTÁRIO de Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M. 21, E. 25, 1º Cartório
de Órfãos e Provedoria, 1849.
O ESPAÇO DA ESCRAVATURA NAS FAZENDAS, CHARQUEADAS E OLARIAS 89

Crianças Escravas. Faixa Etária da População Servil.


Reprodução

Os casamentos não eram freqüentes, entre os escravos. Nos casos analisados,


duas escravas casaram, uma com três, e, outra, com quatro “crias”. Pertenceram a Maria
Augusta da Fontoura. Em conseqüência, a possuidora da charqueada da Costa teve um
número maior de crianças cativas do que as outras duas senhoras, respectivamente,
Eufrásia Gonçalves Lopes e Leonídia Gonçalves Moreira, junto às quais foi possível
identificar pequenos escravos. [TAB. 4]
Conforme dados constantes nos documentos, o número de crianças, de 3 meses
a 9 anos, era próximo do inexistente. Variava de 0 a 6% do total de escravos adultos, o
que correspondia a uma média de 2% de pequenos cativos por charqueador. Era mais
conveniente comprar novos escravos do que investir na reprodução. Os dados referentes
à faixa etária dos trabalhadores servis, das fábricas de salgar carnes de Pelotas, veio
reafirmar essa conclusão:
“Usando como referencial a idade, a escravaria apresenta, na primeira
parte do estudo [1780, início da atividade charqueadora, a 1830, lei da
Proibição do Tráfico, formal], 71,1% com menos de 40 anos; na segunda
[1830 a 1850, lei Eusébio de Queirós, proibição política de acabar com o
tráfico], 57% e na terceira [1850 a 1888, Abolição], 45,9%.
Podemos concluir que houve um envelhecimento progressivo do escravo.
Tal fato se deu graças às leis citadas anteriormente, principalmente a
Eusébio de Queirós, que forçou o aproveitamento do homem servil até as
últimas conseqüências.” [ASSUMPÇÃO, 1991: 39]

Escravas

Praticamente, as mulheres não eram qualificadas; somavam-se ao grupo do


“sem informação” e, quando eram, como no caso da charqueada da Graça, participavam
das atividades “domésticas” ou de “ofício”. Em relação aos homens, a quantidade de
mulheres mostrava-se pequena, variando entre 8 e 17 escravas, para cada proprietário.
Havia uma média de 16% de mulheres, nas fazendas, charqueadas e olarias de Pelotas.
[TAB. 4 e 5] Esse número decaiu para 13,5%, no levantamento que atingiu um número
maior de charqueadores pelotenses. [ASSUMPÇÃO, 1991: 42]

Especialização

Os inventários analisados comprovaram a especialização da mão-de-obra


cativa. Tinham ocupação definida 73,5%; nos 26,5% restantes, incluíam-se a maior
90 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

parte das mulheres, as crianças e aqueles sobre os quais a documentação nada informou,
e que, por isso, presume-se que não tivessem qualificação. [TAB. 6]
Eram especializados nos trabalhos do campo, em serviços de tropeiros e
campeiros, de 0 a 23% do plantel de cativos, ou seja, uma média de 9% dedicava-se aos
rebanhos de gado. Na estância, saladeiro e olaria do Pavão, ocorreram os dois extremos.
Antes da morte de seu proprietário, em 1823, existiam 15 escravos campeiros, que
representavam 23% da população servil do estabelecimento. Em 1849, no inventário da
esposa e herdeira, nenhum cativo dedicava-se à pecuária. [TAB. 4 e 5]
Os escravos de ofício e domésticos, aqueles que prestavam serviços à
escravaria e aos senhores, perfaziam um média de 9% da população servil de cada
charqueador. Esse número foi quase uma constante. Os cativos que se ocupavam da
cozinha, da costura, ou só da construção civil, variavam num espectro de 7 a 10%.
[TAB. 5]
Os escravos especializados na fabricação do charque eram os mais numerosos,
correspondendo a uma média de 53% do total de cada charqueador. A quantidade, por
estabelecimento, variava de 23 a 71%, ou, em números reais, de 75 a 7 escravos
qualificados nos trabalhos da salgação da carne e de seus derivados. Esses eram, porém,
os trabalhadores especializados; por isso, supõe-se que o número de homens servis
dedicados à salgação tenha sido maior. Por certo, o trabalho não especializado, na
fabricação da carne salgada, couro, sebo e graxas, ocupava muitos cativos. Em alguns
inventários, o número de serventes chegou quase à metade do total daqueles que se
ocupavam das atividades qualificadas. [TAB. 5 e 7]
Os serventes, assim como os trabalhadores não especializados,
desempenhavam inúmeras tarefas, como: empurrar o vagonete, que continha o boi, da
mangueira de matança até a cancha; transportar as peças de carne daí para o galpão;
lavar as canchas e galpões, imergir os couros em tanques de salmoura; formar e desfazer
as pilhas de charque e couros; colocar e recolher as mantas nos varais; carregar os iates;
acender e manter o fogo das caldeiras ou caldeirões; moer o sal, etc. Eram considerados
escravos especializados, no trabalho dos saladeiros, aqueles que se dedicavam, quase
que exclusivamente, e de forma direta à produção e ao transporte da carne salgada e de
seus subprodutos, exercendo as funções de carneador, salgador, graxeiro, descarneador,
chimango, servente e marinheiro.

Tabela 7 - Especialização dos cativos das estâncias charqueadas.


ESTABELECIMENTO GRAÇA MOREIRA COSTA PAVÃO MÉDIA
Charqueador[a] João/Eufrásia Leonídia Mª Augusta João/Mª Joaquina
Ano 1853/1857 1867/1877 1845 1823/1849
% % % % % % %
Especializados 86 100 63 79 80 33 73,5
Sem informação 14 37 21 20 67 26,5
TOTAL 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: APRGS. INVENTÁRIO de João Simões Lopes. Pelotas, nº366, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1853; INVENTÁRIO de Eufrásia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M. 29, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1857; Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E.25, 1º Cartório
de Órfãos e Provedoria, 1867/1877; INVENTÁRIO de João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M. 06, E. 25, 1º Cartório
de Órfãos e Provedoria, 1823; INVENTÁRIO de Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M. 21, E. 25, 1º Cartório
de Órfãos e Provedoria, 1849.
O ESPAÇO DA ESCRAVATURA NAS FAZENDAS, CHARQUEADAS E OLARIAS 91

Distribuição dos Escravos no Espaço da Produção do


Charque

Dentro do universo daqueles cativos que se ocupavam das tarefas referentes à


produção da carne salgada e de seus subprodutos, 14% dedicavam-se ao transporte entre
Pelotas e o porto de Rio Grande. Os escravos marinheiros nunca faltavam no plantel dos
charqueadores. Alcançavam uma média de sete marujos por senhor. Os charqueadores,
especializados em cortar a carne em mantas, só fizeram parte do estabelecimento de
João Nunes Batista. Os mais numerosos, os carneadores, podiam assumir a tarefa de
charquear, além de abater, esfolar e esquartejar. Atingiam 44% de toda a escravaria que
trabalhava na indústria da carne, ou seja, 15 trabalhadores por estabelecimento.
Possivelmente, poderiam ser substituídos pelos chimangos. Salvo engano, os
chimangos, que tomaram o nome da a ave de rapina, retiravam dos ossos o resto das
carnes. Os serventes, que lidavam diretamente com o charque constituíam 20% desse
grupo de cativos. [TAB. 7]
Entre os estabelecimentos analisados, compostos de estância, saladeiro e olaria,
o número de escravos oscilava entre 30 e 150, o que correspondia a uma média de 84
cativos por proprietário. Mais da metade eram especializados diretamente no processo
de produção e no transporte da carne salgada e de seus subprodutos; uma média de 46
homens servis operavam no espaço fabril. Esses distribuíam-se da seguinte forma:
desnucadores, carneadores, chimangos dividiam-se pela mangueira de matança, cancha
e galpões; os salgadores, em média de três, trabalhavam nos galpões; os graxeiros, mais
ou menos dois, ocupavam-se da graxeira. No início, ferviam as gorduras nos tachos de
ferro; depois, em meados do século passado, cuidavam das caldeiras de vapor.
A continuidade dessa análise, ao somar-se às informações relativas às
charqueadas do lado direito do arroio Pelotas, permitiu um maior rigor nas observações
referentes à divisão do trabalho, no espaço da produção do charque. O estudo da
distribuição das tarefas e das áreas, nos estabelecimentos que possuíam o campo de
criação de animais, possibilitou uma série de delineamentos.

Tabela 8 - Distribuição percentual dos cativos no espaço da produção do charque.


ESTABELECIMENTO GRAÇA MOREIRA COSTA PAVÃO Média
Charqueador[a] João/Eufrásia Leonídia Mª Augusta João/Mª Joaquina
Ano 1853/1857 1867/1877 1845 1823/1849
% nº % nº % nº % nº % nº % nº % nº
Charqueador 45 14 07 02
Carneador 39 22 60 26 34 22 42 13 86 06 44 15
Salgador 02 01 19 12 04 03
Graxeiro 02 01 08 06 02 02
Descarneador 02 01 05 02 05 03 01 01
Chimango 23 15 23 17 08 05
Servente 43 24 19 08 08 05 48 36 20 12
Marinheiro 12 07 16 07 11 07 21 16 13 04 14 01 14 07
TOTAL 276 100 56 100 43 100 64 100 75 100 31 100 07 100 47
Fonte: APRGS. INVENTÁRIO de João Simões Lopes. Pelotas, nº366, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1853; INVENTÁRIO de Eufrásia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M. 29, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1857; Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E.25, 1º Cartório
de Órfãos e Provedoria, 1867/1877; INVENTÁRIO de João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M. 06, E. 25, 1º Cartório
de Órfãos e Provedoria, 1823; INVENTÁRIO de Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M. 21, E. 25, 1º Cartório
de Órfãos e Provedoria, 1849.
92 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Esse primeiro esboço, resumidamente, concluiu: campeiros e tropeiros cativos


não chegavam a atingir dez porcento do total da escravaria de cada proprietário; mais da
metade do plantel trabalhava nas instalações fabris, o que dava cerca de meia centena
por estabelecimento; quase três quartos de toda a população servil era especializada em
alguma tarefa; as mulheres representavam 16% e engrossavam o grupo dos
trabalhadores que não recebiam qualificação; as crianças escravas constituíam dois
porcento do total; daí, a renovação da mão-de-obra dava-se através da compra de novas
“peças”, e não se apostava na reprodução dos cativos. O estudo anotou o registro da
especialização do trabalho escravo. Por um lado, a presença de um único tropeiro
mostra que, dificilmente, os cativos atravessavam campos, propriedades, transportando
animais. Pelo outro lado, todos os senhores possuíam marinheiros, o que possibilitava a
presença de homens servis fora de seus domínios territórios, mas, no interior de suas
embarcações. Navegavam nas vias fluviais e lacustres. Levavam os produtos das
charqueadas até o porto marítimo de Rio Grande. Nos documentos, continuou-se
apontando a presença de olarias, mas, em nenhum dos casos, apareceram oleiros. Salvo
engano, cada vez mais as olarias desenvolveram-se, como uma alternativa de trabalho à
mão-de-obra servil.
Capítulo 11

SESMARIA DO MONTE BONITO.


CONCESSÕES X ORGANIZAÇÃO ESPACIAL

Da sesmaria do Monte Bonito, resultou o cerne do núcleo saladeiril pelotense


e, conseqüentemente, a cidade. A localização e o processo de concessões de terras, entre
outros fatores, ocasionaram em uma tipologia de ocupação espacial e um programa de
necessidades específicos. Instalou-se um complexo de aproximadamente 30 indústrias
de salga contíguas, apoiadas por toda uma série de instalações, infra-estrutura,
comércio, transportes e demais serviços. Nas charqueadas do Monte Bonito, não se
criava o gado. O que definia uma maior divisão do trabalho. A estância situava-se em
outro lugar. Ali, os animais eram somente transformados em produto, como charque,
couro, sebo, graxa, etc. Além disso, a maior parte desses estabelecimentos possuía
olarias em seus programas de necessidades.
O conjunto dessas charqueadas foi criado a partir da segunda divisão de terras,
das “sobras”. Formava um retângulo, que começava na margem esquerda do canal São
Gonçalo. Ia serpenteando pela margem direita do arroio Pelotas, que corre no sentido
norte-sul, e incluía o espaço do chamado “cotovelo”, onde o curso da água toma o
sentido leste-oeste. Dois terços dos estabelecimentos estavam no arroio, o restante no
canal. A sesmaria do Monte Bonito tinha os seguintes limites naturais: três cursos de
água, canal São Gonçalo, arroios Pelotas e Santa Bárbara e a serra dos Tapes. Os arroios
desaguavam no canal e este dava acesso à lagoa Mirim e Banda Oriental e à laguna dos
Patos e oceano Atlântico. As vias navegáveis garantiam a exportação dos produtos, bem
como a importação de mão-de-obra escrava e do sal, servindo de esgoto. A vizinhança
com o Prata e com os campos neutrais, a “terra de ninguém”, povoada de gado,
propiciava o abastecimento de animais. [FIG. 22]

A Terra

A sesmaria do Monte Bonito, em escala reduzida, apresenta a mesma formação


geomorfológica do município de Pelotas. Corresponde a duas paisagens. Uma inclui a
ramificação mais meridional da serra do Mar, a serra dos Tapes. É uma zona ondulada,
94 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

de 100 a 300m, chegando no máximo a 400m de altura. A outra faz parte da Planície
Costeira gaúcha. A transição entre os morros cristalinos e a planície sedimentar é feita
de maneira gradual, através de pequenos patamares que se estendem em direção do
canal São Gonçalo e da laguna dos Patos. [FIG. 23] Na serra, localizavam-se a sesmaria
e as datas de matos. Na planície, as charqueadas situavam-se nos aluviões das margens
do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo; e a cidade, numa área terminal das encostas.
A sesmaria fazia parte da primeira divisão de terras; os saladeiros, o núcleo urbano, as
datas de matos e o logradouro público, da segunda.

Figura 22 – Cópia parcial das linhas de navegação entre os portos das lagoas, canais e da barra do Rio
Grande. Arquivo Nacional. Seção de mapas, MVOP-CB [25].
SESMARIA DO MONTE BONITO. CONCESSÕES X ORGANIZAÇÃO ESPACIAL 95

Primeira Divisão de Terras

Nos primeiros dias do ano de 1779, o governador do Continente de São Pedro,


brigadeiro José Marcelino de Figueredo, concedeu um rincão ao tenente de dragões
Manuel Carvalho de Souza. O tenente de dragões comprometera-se a cultivar e a povoar a
terra. Um ano e três meses depois, vendeu-a ao vigário da freguesia de Viamão, Pedro
Pires da Silveira. Esse religioso agiu da mesma forma que o primeiro proprietário. No dia
2 de abril de 1781, cedeu e traspassou todo o direito que tinha nas terras da escritura ao
alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado. O rincão limitava-se: “[...] pela parte norte
com o rio [arroio] de Pelotas, pela parte do sul com o arroio Santa Bárbara e um esteiral
que o forma, pela de leste com o sangradouro da Mirim [canal São Gonçalo] e pela de
oeste com a serra Águas Vertentes [serra dos Tapes].” [BBP, RPTMP, 93: 15] [FIG. 23]

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Figura 23 – Mapa da situação geográfica da região do Serro Pelado.


96 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Antes do pedido de concessão, feito por Manuel Carvalho de Souza, fugitivos


de Rio Grande e da Colônia do Sacramento se aproveitariam dos terrenos alagados, nas
margens do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo, e da serra dos Tapes, para viverem
escondidos nesses lugares. Durante os 13 anos de permanência espanhola em Rio
Grande, de 1763 a 1776, esses fugitivos seriam o elo de uma série de ligações entre os
sitiados em Rio Grande e a Coroa Portuguesa. O Tratado de Santo Idelfonso, assinado
em 1777, atribuiu o arroio Chuí aos portugueses; a Colônia do Sacramento e as
Missões, aos espanhóis. Instituiu uma língua de terra, localizada entre a lagoa Mirim e o
oceano Atlântico, como “terra de ninguém”. A partir dessa data, convinha alargar o
critério de ordem militar utilizado na partilha e doação de terras.
Os retirantes da Colônia do Sacramento, a existência de moradores antes da
concessão das terras e a conseqüente pressão para possuí-las; a saída dos espanhóis de
Rio Grande; a mudança dos governadores, José Marcelino por Sebastião Xavier, entre
outros fatores, levaram a fazenda do Monte Bonito a uma história específica. De janeiro
a fevereiro de 1781, antes mesmo da compra por seu terceiro proprietário, começou a
partilha e doação das “sobras” de Monte Bonito, nas margens do arroio e do canal,
empurrando a sesmaria em direção à serra. As datas doadas eram faixas de mais ou
menos [770x4.136m]. Davam frente ao arroio Pelotas, ou canal São Gonçalo, e fundos à
estância do alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado. [RÜDIGER, 1965: 62 e
CUNHA, 14/08/1828: sp.] [FIG. 24]
A sesmaria restringia-se a uma parte na serra dos Tapes. A área, coberta por
uma vegetação pujante, de flora característica, continha algumas espécies da serra do
Mar, mas de menor porte.
“Cedros, em pelotões cerrados, pelas encostas dos morros subiam, em
vigorosa escalada; seculares gangeronas que haviam, impunes, desafiando
a fúria dos vendavais, enchiam vales inteiros; tarumãs, nascidas em
profundas grotas viam em sossego, o passar dos anos, no enrijar de cernes;
goiabeiras, uvas, coronilhas, cocões, batingas, capororócas, caneleiras,
coentrilhos, aroeiras, catiguás, camboatás, enchiam a selva e confundidos
em porfilia, à conquista dos jorros do sol, que alargava as altas copas.”
[CUNHA, 18/08/1928: s.p.]
A serra dos Tapes mostrava uma vegetação rica em madeiras; por toda a parte,
o solo apresentava os mais diversos materiais de construção, como pedras, areias e
argilas.
“Assim, na área do Escudo Cristalino, são explorados tanto os granitos
como os magmatitos, sob a forma de pedreira, nas quais é produzido tanto
material para calçamento, paralelepípedos, como pedra amarroada e brita,
de vários diâmetros para uso variado. O saibro e as lateritas, oriundas da
meteorização dos granitos e migmatitos, são de ótima qualidade para uso de
aterros e revestimento primário de pavimentos. Em alguns locais ocorrem
veios pegmáticos, com feldspatos totalmente decompostos em argila de boa
qualidade cerâmica.” [ROSA,1986: 39]
Em 1785, quando do levantamento realizado pelo capitão Antônio Ferreira dos
Santos, Inácio Antônio da Silveira Cazado possuía 2.300 reses; 80 bois; 85 cavalos;
1.300 éguas; 23 burros e 30 burras. Os campos de Monte Bonito estavam povoados,
com mais 600 reses; 39 bois; 40 cavalos e 400 éguas, que pertenciam ao agregado,
irmão, e, ao mesmo tempo, sogro, o sargento-mor Francisco Pires da Silveira Cazado,
esposo de Mariana Eufrásia de Silveira. [AHRGS, L. 1198B: 203]
SESMARIA DO MONTE BONITO. CONCESSÕES X ORGANIZAÇÃO ESPACIAL 97

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Figura 24 – Mapa da estância do Monte Bonito.

Mariana Eufrásia teve suas terras concedidas em 1813. Nessa área, fez o
segundo loteamento, que deu origem à zona de comércio central, da cidade de Pelotas.
O terreno configurava uma extensão das “sobras” da sesmaria de Monte Bonito.
Mariana era irmã de Isabel Francisca da Silveira, dona da sesmaria de Pelotas, mãe de
Maurícia Inácia, esposa do alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado.
Em 1825, a sesmaria de Monte Bonito foi dividida entre nove herdeiros. No
Registro de Prédios e Terrenos do Município de Pelotas, foram legatários do alferes:
Alexandre Igº Pires [1.719,9ha]; Inácio Antônio Pires [257,5ha]; Mariana Angélica do
Carmo [1.243,4ha]; Antônio José de Oliveira Castro, casado com Francisca
Alexandrina, [2.265,4ha]; Fermino Antônio da Silveira [1.117,1ha]; Cândida Maria da
Silveira [1.338,4ha]; Francisco Antônio da Cruz Guimarães [1.258,2ha]; João Inácio da
Silveira [1.053,3ha]; Joaquina Fermina da Silveira [1.113,2ha]; totalizando
[10.368,2ha]. [BPP, RPTMP, L. 93: 15] [FIG. 25]
98 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

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Figura 25 – Mapa da divisão da estância do Monte Bonito.

A Segunda Divisão de Terras. As “Sobras”

As listagens dos proprietários da segunda distribuição de terras não são


coincidentes. Alberto Coelho da Cunha, no jornal Opinião Pública, de 4 de agosto de
1928, listou 11 concessionários. Seis dias após, no mesmo jornal, deu uma relação de
nove pessoas. Euclides Franco de Castro, em outubro de 1951, em um texto da revista
Princesa do Sul, O Rincão de Pelotas, apontou 19 donatários. Selbat Rüdiger, em 1965,
no livro Colonização e Propriedade de Terras no Rio Grande do Sul. Século XVIII,
arrolou 21 possuidores. Por fim, Eduardo Arriada, em 1991, na sua dissertação- O
SESMARIA DO MONTE BONITO. CONCESSÕES X ORGANIZAÇÃO ESPACIAL 99

Processo de Urbanização Pelotense, de acordo com Euclides Franco de Castro,


catalogou 19 proprietários. As datas medidas pelo capitão Antônio Inácio Roiz
Córdoba, foram doadas nos dois primeiros meses de 1781. Passaram por continuadas
repartições e negócios. Formaram a maior parte das charqueadas e da cidade.
Em 1785, o levantamento realizado pelo capitão Antônio Ferreira dos Santos,
comunicava que, por ordem do governador, foram tiradas duas léguas [13.200m] e um
terço [2.200m] de terreno do alferes Inácio Antônio da Silveira, onde se acomodaram 19
pessoas. Relacionando todas as listagens com o informe do levantamento, foi possível
elaborar o seguinte quadro comparativo:

Tabela 9 – Comparativo das listagens de donatários de datas da sesmaria do Monte Bonito.


Somatório das listagens dos hectares Levantamento do capitão metros
proprietários Antônio Ferreira dos Santos
Inácio Xavier de Oliveira [770x3.960m=305ha] Inácio Xavier de Oliveira [3.960m]
João Francisco de Souza [770x4.125m=318ha] João Francisco de Souza [4.125m]
Martinho José da Costa [770x4.136m=318ha] Martinho José da Costa [4.136m]
Manuel Francisco [770x3.960m=305ha] Manuel Francisco [3.960m]
Francisco Oliveira [770x3.960m=305ha] Francisco de Oliveira [3.960m]
José de Freitas [770x3.960m=305ha] José de Freitas [3.960m]
Padre João de Almeida [770x4.136m=318ha] João de Almeida [Pereira] [4.136m]
Severino Antônio [770x3.960m=318ha] Severino Antônio [3.960m]
Baltazar José da Costa [770x3.300m=254ha] Baltazar José da Costa [3.300m]
José Rodrigues [770x3.542m=273ha] José Roiz [3.542m]
João Duarte [770x3.960m=305ha] João Duarte [3.960m]
José Antônio de Lima [770x4.136m=318ha] José Antônio de Lima [4.136m]
Jorge da Terra [770x4.136m=318ha] Jorge da Terra [4.136m]
Manuel Luís de Mesquita [770x4.136m=318ha] Manuel Luís [de Mesquita] [4.136m]
Tomás Luís [770x3.960m=305ha] Tomás Luís
Padre Pedro Pereira [770x3.916m=305ha] Pedro Pereira [F. de Mesquita] [3.916m]
Antônio Inácio da Silveira [770x4.136m=318ha] Antônio Inácio da Silveira [4.136m]
Antônio José da Silva
José Antônio de Souza
João Francisco da Costa
Mariana Eufrásia da Silveira
Joaquim Silvério
Francisco Pereira e Souza
Antônio José de Oliveira Castro

Em 1825, ainda em “sobras” da sesmaria, foi estabelecido o Logradouro


Público, um lugar descampado, onde o gado, que vinha das estâncias, era
comercializado e seguia para as fábricas de salga. A Tablada, como era conhecido esse
espaço, representou um avanço na produção do charque, favoreceu os charqueadores e
imprimiu um desenvolvimento urbano a Pelotas. Estancieiros, peões, tropeiros, que
vinham vender os rebanhos, compravam toda uma série de produtos, que,
provavelmente, os abasteciam até a próxima safra, no outro ano. Buscavam os ofícios e
os divertimentos, que a cidade pudesse oferecer.
Os rebanhos de gado existentes no entorno da Sesmaria de Monte Bonito; as
vias de transporte navegáveis que atingiam o espaço meridional da América do Sul,
alcançando a África e o Velho Mundo; a concentração das indústrias, em um pólo
charqueador; a Tablada e a cidade, formaram um todo complexo, mais amplo que o ato
de salgar. A produção saladeiril foi determinando, em várias atividades alternativas ou
decorrentes do comércio, de serviços e da construção, todos os espaços que abrigariam
essas funções. Até hoje, no centro urbano, resiste um casco histórico, que representa a
vida econômica, social e cultural dos senhores daqueles tempos. Ao contrário, nas
100 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

faixas ribeirinhas, quase nada restou das construções que abrigavam a mão-de-obra
escrava da charquia.
Capítulo 12

DESCRIÇÃO ESPACIAL DO CERNE


DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE

As datas de matos na serra dos Tapes, o arroio “Quilombo”, as charqueadas, o


Passo dos Negros, a cidade e a Tablada, apoiadas por todo um sistema de vias de
comunicação terrestre, fluvial, lacustre e marítimo, formavam o cerne do núcleo
saladeiril pelotense. Segundo parece, a sesmaria do Monte Bonito, dividida nessas
funções, resultou no lugar de maior densidade de escravos do Rio Grande do Sul.
Em 1911, um dos descendentes dos proprietários da fazenda e charqueada da
Graça, o escritor, João Simões Lopes Neto, arrolou 23 fábricas, na margem direita do
arroio Pelotas, e oito, na orla norte do canal São Gonçalo. [LOPES NETO, 1952: 113]
A esta listagem foi acrescida documentação relativa a medições, contratos de compra e
venda, aluguéis, inventários e mapas da época. A análise dos dados permitiu delinear o
parque saladeiril escravista pelotense.
A descrição dessa área fabril, iniciou na serra dos Tapes e passou pelas datas
de matos, alcançando o arroio “Quilombo” e a sesmaria propriamente dita. Desceu o
Pelotas, em direção ao oriente, cruzou o Retiro e, acompanhando a dobra que fazem as
águas do arroio, o Cotovelo. No mesmo sentido, atingiu o Cascalho, a Boa Vista, a
Costa, o Areal e o Atoladouro, e, por fim, na Boca do Arroio, avançou pelo canal São
Gonçalo, tomando o rumo do interior; chegou ao Passo dos Negros, à cidade e à
Tablada. Ao longo da travessia, localizaram-se as charqueadas e os locais de apoio da
produção. Especificaram-se os programas, os materiais e as técnicas de construção. Ao
mesmo tempo, relataram-se fatos, acontecimentos e atos das pessoas que viviam,
exploravam, produziam e organizavam esses lugares. Destacaram-se alguns
proprietários e a população servil de cada estabelecimento. Possivelmente, esboçou-se o
que tenha sido o palco da escravidão no Rio Grande. [FIG. 26]
102 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

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Figura 26 – Localização das datas de matos, arroio Quilombo, charqueadas, Passo dos Negros, cidade,
tablada, logradouro público.

As Datas de Matos na Serra dos Tapes

Em 1800, o governador Sebastião da Silva Xavier começou a distribuição de


matos na serra dos Tapes, através da abertura de uma íngreme picada na região do
Capão do Leão, da Coxilha do Santo Amor e do Passo do Valdez até a capela de Nossa
Senhora da Conceição.
DESCRIÇÃO ESPACIAL DO CERNE DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE 103

“Fazendo concorrência aos modestos agricultores, estancieiros e abastados


charqueadores, se consideravam em dever de também possuírem datas de
matos na serra.
Raros foram os sucessores dos antigos concessionários de campos, que não
se apresassem a requerer aos governadores mercês de datas ou
confirmações de problemáticas posses, [...].
O período que se estendeu de 1799 a 1824, assistiu a uma partilha de
460.116.437m² de terras da serra por 60 donatários. [...]
A mais extensa cultura de então, faziam-na os charqueadores, quase todos
proprietários de datas, que, no intervalo das safras, para continuarem a
tirar proveito do capital, punham a negrada a derrubar matos e a plantar
milho e feijão.” [CUNHA, 23/81923: s.p.] [Grifo nosso]
A análise dos inventários dos charqueadores mostrou que, pelo menos, cada
fabricante possuía uma data de matos na serra dos Tapes. Além dos trabalhos nas roças,
os escravos, nos períodos da entressafra, derrubavam as árvores, para, nos saladeiros,
junto com os ossos, abastecerem os caldeirões ou caldeiras à lenha; neles eram
fabricados as graxas e os sebos. Observou-se a existência de carpintarias, em algumas
propriedades serranas, como a da família de Gonçalves Chaves, que serviriam para o
beneficiamento das madeiras destinadas à construção. A serra dos Tapes, que era
coberta por uma grande e densa mata, paulatinamente foi sendo cortada; sobraram
apenas alguns resíduos, despojados de suas melhores madeiras, nos locais mais
íngremes. Mais tarde, nesse final da serra do Mar, foram assentados colonos imigrantes
de origem alemã.

“Quilombo”

Começamos a relacionar os espaços por aqueles que serviram de refúgio à


população servil. O arroio Quilombo era o último e o mais ao norte dos tributários de
algum vulto do arroio Pelotas.
“Este, em todo o seu vale médio, que se vai sofregamente desnudando,
recebe o concurso de numerosas nascentes, sem nome: estas brotam das
encostas de serros que o acompanham e como minúsculos regatos surtem
dos capões emoldurantes dos rincões que sobre o seu leito avançam.”
[CUNHA, 1939: 45]
Segundo parece, esta região era o espaço adequado a abrigar os escravos
fugitivos das charqueadas, que acompanhavam a descida serpenteante do arroio Pelotas
e tomavam o rumo do ocidente, ou, do oriente, através do canal São Gonçalo, ou, ainda,
ao contrário subiam o Pelotas, em direção a serra dos Tapes, atingindo o arroio
Quilombo e poderiam entrar nos matos, nos montes. Desde 1832, quando procederam-
se as primeiras seções, as atas da Câmara Municipal de Pelotas informavam sobre a
presença de quilombolas, nesta área. Em 1835, um pouco antes de iniciar a Revolução
Farroupilha, os vereadores deram destaque à apreensão de Manuel Padeiro. Consta da
ata de 9 de julho de 1935:
104 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

“[...] que a dita quantia não satisfaz ao que a mesma Câmara ter prometido
aos que apreendessem, e destruírem os dez quilombolas considerados
motores dos roubos, incêndios, em assassinatos perpretados no Município,
por quanto tem prometido quatrocentos mil réis pelo chefe preto Manuel
Padeiro e duzentos mil réis por cada um dos nove companheiros do referido
Padeiro [...].”
Entre os anos de 1832 e 1849, “um escravo preto de nação mina” era vendido
por 200 mil réis. Esse preço equivalia a um terreno na rua do Açougue [Barão de Santa
Tecla], de seis braças [13,2m de frente], ou seja, o preço pago por cada quilombola
daria para a compra de um escravo ou de um terreno. [SIMÃO, 1990: 312]
Quatrocentos mil réis era o salário, de um ano, que o arquiteto, Eduardo
Krestckmar, ganhou, em 1834, por realizar os alinhamentos da cidade. Essa comparação
demonstra o alto custo dos escravos e, conseqüentemente, dos prêmios pagos pela
captura ou morte dos fugitivos.
Durante os dez anos que durou a Revolução Farroupilha, tanto os
revolucionários como os dirigentes dos exércitos do império prometiam liberdade aos
cativos que lutassem por suas causas. Possivelmente, uma parcela dos escravos
continuassem procurando os seus próprios refúgios, alheios às desavenças de seus
senhores. Durante o período revolucionário, a documentação é confusa. “Efetivamente,
nos anos posteriores à pacificação, teremos notícias de diversas expedições contra
quilombos, possivelmente formados durante o decênio revolucionário.” [MAESTRI,
1984:136]

Edis, Charqueadores e Revolucionários

No dia 15 de outubro de 1835, a Câmara de vereadores de Pelotas, manifestou-


se, em relação às forças revolucionárias que começavam a atuar, com as seguintes
palavras: “[...] não tendo forças para opor-se a Câmara reconhece, e se obriga a
obedecer as ordens do Excelentíssimo [...].” Quase um mês depois, no dia 11, houve
arrependimento, mandaram retirar da ata a expressão “não tendo forças para opor-se”.
Apesar dos dissabores sofridos pelo poder central, a maioria desses senhores eram,
veladamente, ou não, favoráveis ao Império. Por certo, o saldeirista, vereador e líder
revolucionário Domingos José de Almeida foi a mais expressiva das exceções.

Charqueada no Monte Bonito

Na margem direita, a charqueada mais distante do canal, era a de Antônio José


de Oliveira Castro, que também possuía um estabelecimento do outro lado do arroio, na
sesmaria de Pelotas. A fábrica da margem direita, não estava localizada nas chamadas
“sobras”; fazia parte da sesmaria do Monte Bonito. Passou para as mãos de Castro,
DESCRIÇÃO ESPACIAL DO CERNE DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE 105

provavelmente, porque ele era casado com Francisca Alexandrina, filha e herdeira do
alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado e de Maurícia Inácia da Silveira. [FIG. 25]
Simões Lopes afirmou que o estabelecimento, pertenceu a Antônio José de Oliveira
Castro e José Gonçalo, tendo sido construído em terras de frei Marcelino, que o doou às
sobrinhas Dorotéia Cândida Paiva e Mariana Eufrásia da Silveira; o escritor disse,
ainda, que a charqueada pertenceu depois a Alfredo Augusto Paiva. [LOPES NETO:
1952: 113]

Retiro

No Retiro, localizava-se outra das charqueadas. A terra pertencia a Manuel


Ravelo Paiva, casado com Rosália Francisca Pires, filha de Mariana Eufrásia da Silveira
e de Francisco Pires Cazado. Em 14 de setembro de 1825, Manuel e Rosalia realizaram
duas vendas. Um dos compradores foi Manuel da Silveira Avila. A área adquirida tinha
as seguintes confrontações: noroeste, dividia com o vendedor por um barranco de uma
sanga que passava pela olaria; nordeste, o arroio Pelotas; sudeste, fundos, com terras de
Francisco de Paula Ferreira; e, pela frente, principiando com uma volta que tem o arroio
na graxeira de Francisco de Paula, seguia até a divisa, na lomba onde foi o forno do
falecido José de Souza Pacheco. [BPP. RPTMP, 93: 55] [grigo nosso]
A descrição do terreno indicou a presença de instalações saladeiris e de olaria.
Além disso, a outra venda do casal foi realizada por Francisco de Paula Ferreira e
proporcionou o entrelaçamento de sociedades, negócios e instalações. Em 17 de
fevereiro de 1831, mais uma transação foi efetuada:
“José Joaquim Gonçalves comprou de Francisco de Paula Ferreira, e sua
mulher Maria Manuela Meireles, um terreno, o qual tinha charqueada em
sociedade com o mesmo José Joaquim Gonçalves, o qual houveram por
compra feitas a José de Souza Pacheco e Manuel Ravelo Paiva, cujo terreno
acima, se acha na costa do arroio Pelotas e se divide pelo cercado da
Chácara que foi do vendedor, José de Souza Pacheco, rumo nordeste ao dito
arroio 900 braças [1.980m] e de aquele cercado aos marcos de Ravelo,
hoje, de Silveira, as braças que houver.”[BPP, RPTMP, 93: 168] [FIG. 27]
[Grifo nosso]

Cotovelo

O Cotovelo é o lugar onde o arroio Pelotas faz uma curva de quase 90 graus.
Até esse local, as águas descem a serra dos Tapes, procurando o oriente. Bem aí, onde
as águas tomam o sentido norte-nordeste, existiam duas charqueadas, que ficavam a
12km do São Gonçalo. Sobre essa área, Alberto Coelho da Cunha escreveu:
106 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

“Em conseqüência das necessidades que essa indústria [a charqueadora]


criava, as águas do arroio eram sulcadas por uma flotilha de iates e
lanchões, que o subiam até a volta do Cotovelo, onde por longos anos existiu
a charqueada fundada por Jerônimo José Coelho.” [CUNHA, 1939: 45]
O primeiro proprietário da charqueada do Cotovelo foi Jerônimo de Freitas
Ramos, que a passou a seu filho, Francisco Jerônimo Coelho, casado com Maria
Silveira de Avila. Entre os herdeiros, estava o genro, Custódio Gonçalves Belchior,
“cabeça de sua mulher”, Silvana Claudina Belchior. Em 1851, houve medição judicial
da propriedade; em 1870, quando do inventário de Silvana Claudina, o saladeiro
constituía-se de três terrenos contíguos, com fundos para o arroio Pelotas e frente para a
estrada. Os dois primeiros mediam 220m de largura e 880m de comprimento; um deles
fazia divisa com a charqueada de Felisberto José Gonçalves Braga, e o terceiro terreno
era uma chácara. [FIG. 27]
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Figura 27 – Mapa da divisão de terras do Retiro e do Cotovelo. Base principal no RPTMP, do museu da BPP.
DESCRIÇÃO ESPACIAL DO CERNE DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE 107

A propriedade compreendia, ainda, galpões, barracas de couros, graxeira,


armazéns, mangueiras, varais, casas de moradia e pomar. Silvana Claudina possuía um
iate, denominado Palma; uma sesmaria de matos na serra dos Tapes; cinco terrenos, e
quatro casas na cidade; animais; objetos de prata; móveis; dívida ativa e 30 escravos.
[APRGS, INVENTÁRIO de Silvana Claudina Belchior. Pelotas, nº 727, M. 44, E. 25,
1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1870]
Em 1877, no inventário de Silvana Belchior da Cunha, o patrimônio da família
tinha aumentado consideravelmente. Somavam-se 84 escravos. As benfeitorias da
charqueada permaneciam as mesmas, mas a área foi acrescida com a compra de um
terreno, com 220m de frente sul, e, de fundos, até encontrar o arroio Pelotas, com
1.320m; dividia, a leste, com a charqueada e, oeste, com o potreiro de Felisberto
Gonçalves Braga. Foram arroladas mais três léguas, ou seja, uma légua, 6.600m de
campo, na estância da Palma, outra, na estância de Sá, e, ainda, mais uma entre as
estâncias de Sá e dos Prazeres, e mais 3.930m, na estância do Paraíso.
Ao contrário do que aconteceu nas fazendas/charqueadas do Pavão e nas
localizadas na estância de Pelotas, aumentou o número de escravos, na fábrica de salgar
carnes dos Belchior. Em sete anos, a quantidade de cativos passou de 33 para 84; ao
mesmo tempo, somaram-se áreas de criação com 17 escravos campeiros. A partir de
1850, o tráfico negreiro deixava de existir. Em 1884, houve a emancipação dos escravos
de Pelotas, o que quer dizer, que a “libertação” era feita com cláusulas de trabalho
obrigatório por alguns anos.
Na segunda metade do século passado, seria lógico que houvesse a diminuição
do plantel de escravos. Porém, esta não foi uma questão onde a lógica tenha
predominado. Ao longo do trabalho, foi-se tentando dar as explicações caso a caso, sem
descuidar das relações gerais. Na listagem dos estabelecimentos, realizada por João
Simões Lopes Neto, a quarta charqueada, da margem direita do Pelotas, localizava-se
no Cotovelo. Nas palavras do autor, pertenceu a Vicente Lopes dos Santos, que a passou
ao filho Lúcio Lopes dos Santos, e este ao irmão Evaristo Lopes dos Santos. Terminou
nas mãos do coronel Pedro Osório.
A partir do Cotovelo, o arroio Pelotas toma o rumo norte-nordeste. A
densidade de estabelecimentos e, conseqüentemente, da população servil, aumenta na
medida em que alcança o canal São Gonçalo, na boca do arroio Pelotas. As fábricas de
salgar carnes da margem direita do arroio, e as do norte do canal, formavam um todo
que implicava um complexo maior que os limites dos estabelecimentos, englobando
todas as funções existentes na sesmaria do Monte Bonito e entorno. Ao longo da
descrição, verificaremos, continuamente, a repetição dos estabelecimentos. Essa
sucessão repisada de fábricas definiu uma tipologia de ocupação espacial para os
saladeiros. Os conjuntos charqueadores, foram encontrados, em outros lugares, como no
entorno do Serro, na baía de Montevidéu. Diferentemente, o núcleo saladeiril pelotense
gerou a cidade; as charqueadas se instalaram e desenvolveram nas chamadas “sobras”
da sesmaria do Monte Bonito.
.
Capítulo 13

AS DATAS LITORÂNEAS

Independentemente do número de doações das datas litorâneas, o estudo das


sucessivas vendas, partilhas, heranças, etc. permitiu constatar a presença de mais ou
menos três dezenas de saladeiros nesse lugar. Muitos foram os fatores que propiciaram a
instalação e o desenvolvimento do pólo charqueador pelotense. O tipo de zoneamento e
divisão das chamadas “sobras” da sesmaria do Monte Bonito dirigiu, de maneira
organizada, o estabelecimento do complexo fabril charqueador, em questão. Os
donatários praticamente se limitaram a continuados negócios de compra, venda e troca
de terras. Ao longo desse processo, introduziram-se as fábricas de carne salgada e a
infra-estrutura necessária à produção e exportação do charque, comercialização do gado,
importação de escravos, etc.
Os estabelecimentos saladeiris fixaram-se nas várzeas alagadiças, áreas
marginais do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo. Superfícies planas constituídas de
aluviões mal drenados, eram ricas em argila e matéria orgânica, apresentando condições
físicas e fertilidade química variáveis. “Muitas partes são cobertas por floresta natural
baixa e vegetação de banhados.” [ROSA, 1986: 81]
Avançavam sobre os terrenos de Graxaim da Planície Costeira, onde
abundavam materiais argilosos, areia de granulometria variada e cascalho. Os materiais
de construção, propiciariam a produção de elementos cerâmicos, junto às indústrias de
charque.

Tipologia Fabril

Praticamente, os níveis mais baixos, até as várzeas alagadiças, correspondiam


às chamadas sobras da sesmaria do Monte Bonito. As divisões, partilhas e negócios,
referentes a esses quinhões de terras, deram-se no sentido longitudinal, mantendo as
margens ribeirinhas e o limite com as terras destinadas ao Logradouro Público, onde o
gado era comercializado. Transversalmente, os lotes eram cortados por uma ou duas
estradas, que davam origem a dois ou três terrenos. Daí, foi fácil a definição de uma
tipologia para as charqueadas.
110 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Na vizinhança do logradouro, em uma cota de 15m de altura, situavam-se os


potreiros, o do fundo e o do meio, lugar onde o gado aguardava o abate. Normalmente,
o pomar ocupava parte do segundo terreno. Quase sempre, as olarias participavam do
espaço da produção do charque. As instalações fabris e as senzalas formavam um só
conjunto de construções. Um pouco mais afastada, mas, na mesma área marginal, em
um nível de aproximadamente dois a três metros, assentava-se a residência senhorial.
Os rebanhos eram trazidos das estâncias, até o Logradouro Público, para os
negócios com o gado. De potreiro em potreiro, os animais alcançavam a mangueira de
matança. A produção do charque, couros, sebos, graxas desenvolvia-se nos diversos
galpões, implantados num só grupo de edificações, mas, seguia dois fluxos: o da salga
das carnes e o de seus subprodutos. Na beira da água, existia um porto, com trapiche de
embarque. Numa ponta, localizava-se o espaço destinado à comercialização; na outra,
nas zonas ribeirinhas, a produção e, por fim, nas águas, eram lançados os dejetos e
transportados os produtos.

Cascalho

No Cascalho, existiram três estabelecimentos. O primeiro pertenceu a


Domingos de Castro Antiqueira, visconde de Jaguari, que o passou a seu filho; depois,
foi de Leonídio Antero da Silveira, e no fim, do coronel Pedro Osório. O segundo, era
propriedade do Dr. João Batista de Figueiredo Mascarenhas e José Luís de Lima, que
passaram a Antônio Teixeira Magalhães; este último, transferiu o estabelecimento ao
coronel Pedro Osório. A terceira charqueada foi sucessivamente passando pelas mãos de
Manuel Antônio da Cruz, Manuel Bernardino Soares, Evaristo Ferreira Nunes,
Gonçalves & Silva, comendador Possidônio da Cunha e Tomás T. Brasil. [LOPES
NETO, 1952: 114]
Sobre a fábrica de Antiqueira, foi observado o seguinte:
“Essa charqueada se tornou notável por ter sido a primeira em que se
fabricou charque pelo sistema platino.
Também foi onde o francês João Batista empregou, exclusivamente,
trabalhadores livres em vez de escravos, em pleno regime escravagista,
mandando vir operários bascos franceses, além de uruguaios e argentinos.
Muitos desses bascos deram origem a famílias tradicionais do Rio Grande
do Sul, como Tamboridengui, Idiart, Bordaberri, Etchepari, Etchegarai,
Etcheverri, etc. Roux fundou mais tarde, uma barraca de couros, em 1852, a
primeira da cidade de Pelotas. Foi vice-cônsul francês, em 1860. Faleceu
em 1886.
Apareceu em Jaguarão, com a família, em 1846, no fim da Revolução
Farroupilha. Depois foi para o Rio Grande.
Associando-se a seu patrício Eugénes Salgues, transferiu-se para Pelotas,
onde arrendou a charqueada fundada por Domingos de Castro Antiqueira,
no Cascalho, constituindo a firma Salgues & Roux.” [MARQUES, 1987:
97] [FIG. 28]
AS DATAS LITORÂNEAS 111

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Figura 28 – Mapa da divisão de terras do Cascalho e da Boa Vista. Base principal no RPTMP, do Museu
da BPP.

A primeira mulher do visconde de Jaguari chamava-se Joana Maria Bernadina


e era filha de seu vizinho Manuel Domingues. Em 1810, quando do seu inventário,
possuía 47 escravos. [APRGS, INVENTÁRIO de Joana Maria Bernardina. Pelotas, nº
16, M. 01, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1810]. Em 1852, o visconde
faleceu e, na relação de seus bens, arrolaram 31 cativos. [APRRGS, INVENTÁRIO de
Visconde de Jaguari. Domingos José Antiqueira. Pelotas, nº358, M. 26, E. 25, 1º
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1852] Desses, apenas, constaram um charqueador e
um salgador, o que comprovou o aluguel do estabelecimento saladeiril.
Na descrição da charqueada, realizada no documento de 1810, constou o
seguinte: uma data na costa do arroio Pelotas, que confronta, pelo norte, com terras de
Manuel Domingues; pelo sul, com Boaventura Roiz Barcellos; pelo leste, com o mesmo
112 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Arroio Pelotas e, pelo oeste, com o capitão Inácio Antônio da Silveira; por compra que
fez de Antônio, com cercas, currais e varais. Portanto, naqueles primeiros dez anos do
século passado, o Logradouro Público não tinha sido regularizado. As terras de Inácio
Antônio da Silveira encostavam nos limites dos terrenos fabris.

A Residência

Joana vivia numa morada de casas com 14,08m de frente, construídas de


paredes de pau-a-pique, com pilares, forro e assoalho de madeira, cobertas de telhas,
com senzala e cozinha. E, com caminho, que chegava na vila. Nesse primeiro quartel de
produção charqueadora, configurava-se uma das tipologias das casas senhoriais, a
edificação em forma de fita, com várias portas e respectivos espaços independentes, que
tinham a função de abrigar os proprietários, agregados, trabalhadores livres e escravos.
Provavelmente, a casa do senhor protegesse apenas os cativos domésticos e de ofício.
Quarenta e dois anos depois, no início da segunda metade do século XIX, a morada
senhorial do estabelecimento era bem diferente e expressava uma outra tipologia
residencial.
Foi inventariada como uma propriedade de casas de sobrado, tão somente na
frente, e mais benfeitorias, edificadas dentro de um terreno de 105,60m de frente leste à
estrada pública da Costa do Pelotas, e fundos, oeste, até 220m, alcançando a
propriedade que pertencera a Leão Prospero C.
Portanto, as casas de sobrado foram outra das soluções encontradas para as
vivendas dos patrões. As expressões “morada de casas de vivenda” e “casas de sobrado”
deram o sentido plural. Em ambos os casos, nas edificações térreas, em forma de fita,
ou, nas residências assobradadas, parece permanecer, a compartimentação dos espaços,
que resultava em áreas independentes e tinha a finalidade de abrigar os diversos tipos de
moradores. Possivelmente, no segundo caso, no sobrado, o pavimento térreo acolheria
animais e escravos domésticos.

O Espaço Fabril

No levantamento realizado em 1810, existiam cinco prédios destinados à


produção: um armazém construído de tijolos, coberto de telhas, assoalhado, nas
margens do Pelotas; dois galpões de charquear, cobertos de capim, com sua tafona, de
moer sal; uma casa de madeira, coberta de capim, onde se guardava o sebo e outra
velha. Faziam parte do inventário dois tachos grandes, de cobre, destinados a fazer
graxa. Cento e cinqüenta toneladas de carne estavam guardadas em propriedades
vizinhas; o maior volume concentrava-se nos armazéns de Manuel Domingues, pai da
proprietária, e o resto dividia-se entre as charqueadas de Boaventura Rodrigues
Barcellos e de Custódio dos Santos Moreira. Nove toneladas de sal, 12,5 toneladas de
AS DATAS LITORÂNEAS 113

sebo e 3.200 couros estavam estocados no seu estabelecimento. Duas canoas, uma
denominada Princesa do Brasil e, outra, menor, Flor do Arroio, somavam-se aos bens de
Joana Maria Bernardina. Constavam do inventário, ainda: dívidas ativas e passivas,
dinheiro, ouro, prata, pedras, móveis, louças e roupas.

A Matéria Prima

Domingos José de Castro Antiqueira foi precursor da nobreza, no charque.


Recebeu o título de visconde, pela ajuda substancial dada às tropas do acampamento de
Santana, que lutava sob as ordens do general das armas da Província do Rio Grande do
Sul, na Guerra da Cisplatina, 1825-1828. [MOREIRA, 1988: 99] Nesse período a Banda
Oriental, atual Uruguai, permaneceu sob o domínio do império do Brasil, com o nome
de Cisplatina. Pelo menos, desde 1812, Domingos José, e, provavelmente, muitos de
seus companheiros saladeiristas, charqueavam os rebanhos que vinham da Banda
Oriental.
O requerimento de gado, feito por Antiqueira, explicitou, de certa maneira,
essas transações:
“[...] estabelecido com negócio de charqueada na margem do rio Pelotas
[...] que para poder continuar no dito gênero de negócio se lhe faz
necessário a introdução de gado de fora. Naquela ocasião, solicitou 6.000
reses, que deveriam entrar pelas guardas de Serrito e São Sebastião,
conduzidas pelo capataz Manuel Joaquim. No dia 2 de dezembro de 1812,
foram concedidas 3.000 cabeças.” [AHM, M. 5, 1812]

Outros Bens do Visconde

O patrimônio de Domingos José de Antiquera foi maior do que o da sua


primeira esposa. Depois da morte da mulher, o visconde adquiriu, de Feliciano
Rodrigues Prates, um quinhão de terras da fazenda da Feitoria. Compunha,
significativamente, o inventário, uma estância, localizada entre o rio Piratini, o arroio e
a ilha do Pavão. E, mais, o gado que povoava esses campos. Dinheiro, ouro, prata, 10
apólices do Mercado Público e um camarote do teatro 7 de Abril, somavam no rol das
riquezas do nobre senhor. Os bens imóveis urbanos formaram a outra parcela expressiva
de seus haveres. Era um conjunto de propriedades, organizadas da seguinte forma: um
sobrado, em um terreno de esquina, desmembrado dos demais. Na continuidade, quatro
propriedades de casas térreas contíguas, com quatro ou seis portas, com suas casinhas,
despensa e pátio. Um terreno e uma chácara, denominada São Francisco, na margem do
arroio Santa Bárbara, junto à cidade.
114 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Os Escravos de Jaguari

O quadro profissional dos escravos do visconde diferia do dos outros


charqueadores, porque estes últimos não trabalhavam na fábrica de carnes. Por isso,
37%, eram roceiros ou campeiros; 20%, carpinteiros ou pedreiros; 10%, domésticos;
5%, marinheiros; 5%, salgadores ou charqueadores; 17%, sem informação. As mulheres
constituíam 19,4%. Possuía ao todo 40 escravos. Nove eram forros, com cláusula de
prestação de serviços; desses, três eram carpinteiros, um, pedreiro e, os outros, não
tinham profissão definida. Os dez escravos roceiros viviam na estância, num galpão, de
guardar as carretas, coberto de capim, que ficava junto ao porto. Os trabalhos
especializados de campo e da construção civil ocupavam a maior parcela dos cativos de
Antiqueira.

Boaventura Inácio Barcellos

Do Cascalho à Boca do Arroio Pelotas, a família Rodrigues Barcellos possuiu


oito datas litorâneas. As “sobras” continuavam sendo concedidas até o início do século
passado. Em 9 de janeiro de 1818, o alferes Joaquim Silvério e Souza e Mariana Inácia
tiveram concedidas, pelo marques do Alegrete, as “sobras” das datas de Pedro Teixeira
e João Francisco Teixeira. Em 28 de novembro de 1827, Boaventura Inácio Barcellos as
comprou. Tinham frente ao arroio Pelotas, dividia-se por um lado, com Antônio Pereira
da Cruz e, pelo outro, com o comprador.
Em 3 de maio de 1820, Boaventura Inácio Barcellos comprou parte das terras
que Pedro Teixeira tinha deixado para seu filho, Carlos José Teixeira. Eram 132m de
frente ao arroio Pelotas e 4.136m de fundos. Ao nordeste, dividia com a data de
Agostinho Moreira Machado e, a sudoeste, com o vendedor, Carlos José Teixeira. Em 2
de maio de 1820, João Silvério e Souza vendeu um pedaço de campo, que havia
herdado de seu pai, alferes João Silvério e Souza, a Boaventura Inácio Barcellos. [BPP,
RPTMP, 93: 44]

Boa Vista

Na Boa Vista, ficava uma charqueada que foi passando pelos seguintes
proprietários: José Inácio Bernardes; Antônio da Cruz Seco; Quirino Candiota & Irmão;
Anibal Antunes Maciel e o barão de Arroio Grande, Francisco Antônio Gomes da
Costa. [LOPES NETO: 1952: 114] Maria do Carmo Soares, que havia nascido na
metade do século XVIII, na Colônia do Sacramento, era casada com o português
Joaquim José da Cruz Secco, charqueador. Tiveram uma filha, que recebeu o nome da
AS DATAS LITORÂNEAS 115

mãe, e que casou com outro português, Antônio José Gonçalves Chaves.
[RHEINGANTZ, 1979: 359]
Esse último, é reconhecido não só pela sua fortuna, como, também, pelo
pioneirismo de idéias e feitos. Em 1817, defendia a abolição da escravatura e, em 1832,
introduziu a navegação à vapor entre Pelotas e Rio Grande. Gonçalves Chaves tinha
uma charqueada, na Costa, do mesmo lado direito do arroio Pelotas, a poucos metros da
de seu sogro. Entre eles existiram quatro fábricas, de que tratamos a seguir. Com
pequenas variações físico/espaciais, os estabelecimentos multiplicaram-se nas margens
ribeirinhas das datas litorâneas, até a sede da cidade, junto ao arroio Santa Bárbara.
.
Capítulo 14

COSTA

A maior densidade de charqueadas e, conseqüentemente, de escravos, estava


localizada entre a Boa Vista e o canal São Gonçalo: em torno de 15 estabelecimentos
saladeiris, no arroio Pelotas, e, oito no chamado sangradouro da Mirim. Continuando a
descer o arroio Pelotas, no primeiro pedaço da Costa, situavam-se cinco
estabelecimentos, as fábricas fundadas, respectivamente por João Guerino Vinhas; José
Pinto Martins, considerado o precursor de todo o núcleo charqueador pelotense;
Boaventura Rodrigues Barcellos, que instalou dois estabelecimentos contíguos, e
Antônio José Gonçalvez Chaves.

Vinhas

Foram freqüentes os casamentos entre proprietários vizinhos e entre


charqueadores, bem como os negócios e as brigas familiares. A família Vinhas, não
fugiu à regra. No testamento, João Guerino Vinhas tomou muitas precauções. João, seu
filho e herdeiro, tinha passado o terreno da charqueada para seu nome, antes da sua
morte. A área do saladeiro e olaria fora comprada do falecido João Antônio da Silva S. e
de José Inácio Bernardes da Costa. Media 198m, com frente ao arroio Pelotas e fundos
até encontrar o Logradouro Público. Por um lado, limitava com terras do tenente
coronel Anibal Antunes Maciel; pelo outro, com as de José Bento e Campos, ou com as
de seu sogro, Francisco Teixeira Guimarães. [APRGS, INVENTÁRIO de João Guerino
Vinhas. Pelotas, nº 383, M. 26, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria. 1854] [FIG.
28]
A charqueada passou a sua mulher, Matilde da Silva, filha de Mariana Joaquina
da Silva e de Tomás José da Silva, proprietários de terras nas margens do São Gonçalo e
estancieiros em Bagé. Depois, o estabelecimento foi do filho João, e, depois da morte
desse, do outro filho, Pedro Lobo Vinhas. No início desse século, passou para as mãos
de José Bento e Campos Júnior, que a transmitiu a sua família.
118 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Bens de raiz

João Guerino nasceu em Faro do Algarve, em Portugal. Além da propriedade


na Costa do Pelotas, era dono, no estado Oriental do Uruguai, de um outro saladeiro,
com casas de vivenda e chácara, nas imediações do Serro de Montevidéu, com fundos
ao arroio Pantanoso. A sucessão dessa propriedade foi contestada, no inventário de
Matilde da Silva Vinhas, mulher de João Guerino, por José Joaquim Duarte de Souza,
genro do casal. [APRGS, INVENTÁRIO de Matilde da Silva Vinhas. Pelotas, nº 557,
M. 36, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1862] Completavam o rol dos imóveis
de João Guerino dois outros terrenos: um, com 170m de frente, na mesma margem do
Pelotas, fora comprado de Joaquim José Guimarães e Manuel Antônio de Freitas; o
outro, uma área no lugar denominado Terras Altas, que medira judicialmente, 3.620m
de frente e 660m de fundos, tendo sido comprada de João Batista de Oliveira.

Moradia e área da produção

Em 1854, no terreno das charqueadas, estava construída uma casa de moradia,


e demais benfeitorias, compreendendo: graxeira; barraca de couros; galpão; senzalas;
quartos dos peões; escritório; armazém, para sal, tafona; olaria, coberta de telha e forno;
brete construído de tijolo; cancha; currais; varais e uma casa velha sem portas, forro e
assoalho. Acrescentavam-se aos haveres do casal Vinhas dois iates, denominados
Ventura e Cinco de Março.
Neste caso, a solução para a moradia, definiu um espaço único para os
senhores. A área residencial dos trabalhadores livres e escravos foi localizada junto à
área da produção; construíram-se quartos, para os peões, e, senzalas, para os cativos.
Essa divisão espacial, de maneira tênua, sugeriu a divisão do trabalho: a fabricação do
charque coube aos cativos; as lides campeiras, aos peões, trabalhadores livres.

Mais imóveis

Juntos, João Guerino e Matilde e da Silva Vinhas não chegaram a possuir nem
propriedades urbanas, nem grandes propriedades rurais. A diferença que existiu entre a
listagem dos inventários dos bens imóveis de João Guerino e de sua esposa, Matilde da
Silva Vinhas, concerniu a parte de uma chácara em Bagé, que, em viúva, herdara de
seus pais.
A desigualdade foi grande em relação aos bens do filho João. Somou-se ao
patrimônio uma data de matos, na serra dos Tapes, denominada Quilombo; na cidade,
um lance de casas e um conjunto urbano, formado por dois lances de casas e um terreno.
[APRGS, INVENTÁRIO de João Vinhas. Pelotas, nº 642, M. 41, E. 25. 1º Cartório de
COSTA 119

Órfãos e Provedoria, 1867] Em 1883, foi realizado o inventário de Matilde Vinhas


Lopes, neta do casal João Guerino e Matilde, filha de João e casada com Manuel Jacinto
Lopes. No inventário da neta, foi acrescentada mais uma data de matos na serra dos
Tapes, que tinha o nome de Invernada, e propriedades urbanas, em Santa Isabel.

Escravaria

No inventário de Matilde Vinhas Lopes, os escravos da fábrica de salgar


fizeram parte de seus bens, porém, a charqueada, não contou no seu patrimônio. A filha
menor, Carolina Matilde, ficou, com dois aluguéis, o de uma das casas e o de 14
escravos, mais juros de oito anos, quatro meses e 17 dias. [INVENTÁRIO de Matilde
Vinhas Lopes. Pelotas, nº 775, M. 46, E. 25. Cartório de Órfãos e Provedoria, 1883] A
partir da segunda metade do século passado, o plantel de escravos da família Vinhas,
apresentou-se com altos e baixos, até 1883, quando estava com o número reduzido para
menos da metade.
O quadro apresentou-se da seguinte forma: em 1854, João Guerino, tinha 71
escravos; em 1862, Matilde da Silva, 45; em 1867, João, 60; em 1883, Matilde Vinhas
Lopes, 31. Coube à filha menor, a menina Carolina Matilde, o aluguel de 14 cativos.
Um ano depois, em 1884, a população servil pelotense emancipou-se. Alforriaram-se os
cativos com cláusulas que determinavam anos de serviços obrigatórios, como fora
previsto, quando da divisão da herança, em 1883.

José Pinto Martins

Freqüentemente, o lisboeta, José Pinto Martins foi apontado como fabricante


de carne seca no Ceará e pioneiro da produção charqueadora em Pelotas. Entre as
justificativas mencionadas para a instalação do empreendimento rio-grandense,
destacaram-se as secas, que assolaram o sertão, no final da década de setenta do século
XVIII. Além dessas considerações, configurava-se a diminuição e o emagrecimento do
gado nordestino, ao lado dos fartos e generosos “rebanhos de ninguém”, que povoavam
os Campos Neutrais, no entorno da sesmaria do Monte Bonito.
José Pinto Martins morreu solteiro, em sua casa na Costa do arroio Pelotas. No
outono de 1824, sentindo-se doente, mas, em seu perfeito juízo, realizou seu testamento.
Declarando ser católico romano, determinou o pagamento de diversas missas e esmolas
para os pobres.
Destinou dinheiro para: Antônio Pinto Martins, irmão que vivia em sua
residência; Liberato Pinto Martins, nascido em sua casa, que andava embarcado; Daniel
Pinto Martins, que morava na mesma Costa do Pelotas, junto a sua mãe, Francisca,
crioula forra, que fora escrava de João Duarte Machado, marido de uma das herdeiras da
Fazenda de Pelotas. Dos remanescentes de todos os seus bens, depois de satisfeitas
120 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

todas as suas disposições, escolheu como herdeiro João Pinto Martins; este residia em
sua companhia e era filho da parda Antônia, que, como Francisca, tinha sido cativa na
Fazenda de Pelotas. [APRGS, INVENTÁRIO de José Pinto Martins. Pelotas, nº 114, M.
10, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1827]

Cativos

Dez anos antes da morte de Pinto Martins, o charqueador Antônio José


Gonçalves Chaves escreveu sobre a extinção do sistema escravista. Um dos argumentos
utilizados, referia-se ao comportamento dos senhores de escravas, dizia:
“[...] vem de Portugal muitos homens e suposto que algum deles escapem à
praça e queiram casar, devem não achar com quem celebrar núpcias, pois
dado que o caso com brancos em tão pequeno número tenham a sua
população em igual quantidade nos dois sexos, não restam mulheres para os
que vem de fora e daqui se seguem celibatários escandalosos pelas misturas
com a gente de cor; e em prejuízo desta resulta uma população a mais
desprezível e uma desmoralização universal.” [GONÇALVES CHAVES,
1978: 62]
Distintamente, dos outros senhores, ao dividir seus pertences, José Pinto
Martins deixou transparecer algum vínculo entre os filhos das escravas forras que
viviam em sua companhia. Mais de um quarto dos cativos de Pinto Martins era
composto de mulheres com “crias”. Vinte e cinco por cento de escravas era um número
alto, em relação ao plantel dos outros proprietários. Somavam oito mulheres e 23
homens servis; desses, dois eram salgadores; dois, sebeiros; um, graxeiro; nove,
carneadores e nove, campeiros.

Utensílios

A enumeração dos utensílios e das edificações existentes na charqueada de


Pinto Martins, bem como, o estudo dos primeiros estabelecimentos inventariados,
permitiram conhecer preliminarmente a tecnologia empregada no início do núcleo
salgador pelotense. Foram arrolados os seguintes objetos: uma carreta; uma outra,
velha; dois gavetões, um grande e um pequeno; uma balança com dois pesos de quatro
arrobas, 58,8 kg; quatro caldeiras de ferro; um tacho de cobre; um, menor; oito medidas
de água de meio alqueire, 6,9 litros; uma corrente de ferro; um tronco de pão; oito
enxadas velhas; três machados; uma escumadeira da graxeira; um garfo; duas foices;
três facões; dois barris; duas tinas e um pilar de socar sebo.
Em 1791, trinta e seis anos antes do levantamento dos pertences de Pinto
Martins, houve o pedido de José Roiz Pereira de Almeida, solicitando importação de
instrumentos de trabalho, para serem usados, no Continente do Rio Grande, pelos
COSTA 121

irlandeses João Seechy, Diogo Sheehy e Pedro O’Donnell, respectivamente, mestre


curtidor, salgador, e, especialista em fazer manteiga e velas. Na solicitação constou:
“Para o mestre salgador: 12 cutelos de ferro; oito dúzias de facas de ferro;
seis luvas de couro com pregos; um barril de salitre; 12 regadores de folha;
uma balança grande com seus componentes.
Para o mestre curtidor: 18 raspadores de ferro; 12 ganchos de ferros, para
tirar os couros do curtume; quatro escumadeiras de ditas; seis rebolos para
amolar os ferros; dois barris de pó de sapato; uma pedra para pisar a caixa.
Para o mestre de velas de sebo e manteiga: dois engenhos para fazer
manteiga; dois arados de nossa invenção, para uso da lavoura; um parafuso
de ferro, para a prensa; três caldeiras de ferro, de maior a menor; uma dita
pequena de cobre; 12 panelas pequenas de dito; 60 dúzias de formas de
estanho para velas; três arrobas [44,1 kg] de fio para pavios; 100 arcos de
ferro para as tinas. [AHU, RGS, Cx. 21, nº 96, sd.]
Ao comparar os utensílios utilizados pelos escravos de Pinto Martins, e os que
foram usados pelos irlandeses, percebeu-se uma desvantagem para os primeiros.

Benfeitorias

O levantamento das benfeitorias da charqueada do português, José Pinto


Martins contou com uma casa de vivenda; um armazém construído de tijolos e coberto
de telhas; uma casa de graxeira, da mesma construção; uma outra, de tafona, com forno
de secar sal; uma senzala de tijolos, coberta de telhas; um galpão coberto de capim; um
guindaste, também coberto de capim; um curral e mangueira; uma morada de casas com
paredes de tijolos, cobertas de telhas, forradas e assoalhadas, na beira da estrada; um
pomar de árvores de espinho; uma mangueira de receber gado grande e um varal.
Com pequenas variações, esse programa de necessidades manteve-se por quase
vinte anos, até a instalação das caldeiras a vapor, empregadas na fabricação de graxas e
sebos. Ao contrário, na fabricação do charque, a presença do guindaste, coberto de
capim com curral e mangueira, atestou que, desde o início, as fábricas pelotenses
trabalhavam em espaços construídos e equipados para o abate, não acontecendo a
matança em currais nativos.
Além dos estabelecimentos de João Vinhas e de Pinto Martins, a primeira parte
da Costa do Pelotas contou com duas fábricas consecutivas, a de Boaventura Rodrigues
Barcellos e a de Antônio José Gonçalves Chaves. A família Rodrigues Barcellos deteve
o maior número de saladeiros, todos localizados no final da descida do Pelotas, entre a
Costa e a Boca do Arroio.
.
Capítulo 15

OS RODRIGUES BARCELLOS

No arroio Pelotas, foram proprietários das charqueadas os seguintes Rodrigues


Barcellos: Boaventura, com dois estabelecimentos, juntos, tendo passado um deles para
seu filho de mesmo nome; Ignácio, que tinha como herdeiros seus filhos Eleutério,
Boaventura e Luís; Cipriano, com dois saladeiros, que legou a seu filho Cipriano
Joaquim, e Bernardino, com duas fábricas, uma das quais deixou para seu filho João.
[FIG. 29]
Não fez parte dessa relação a ala feminina da família, que, casando-se com
charqueadores e/ou vizinhos, consolidava os negócios da família. Em 1824, Domingos
José da Almeida, ministro da Fazenda da República do Piratini, casou com sua vizinha,
Bernardina Barcellos Lima, filha de Bernardino. João Maria Chaves, filho de Antônio
José Gonçalves Chaves, contraiu matrimônio com Maria Luíza Barcellos, filha de seus
confinantes, Boaventura Rodrigues Barcellos e, sua segunda mulher, Eulália de
Azevedo e Souza.
A localização dos estabelecimentos da família Rodrigues Barcellos teve a
seguinte ordem: nos dois terrenos iniciais da Costa, os empreendimentos de Boaventura
Rodrigues Barcellos; na primeira parte do Areal, o saladeiro de Inácio e uma das
fábricas de Cipriano Rodrigues Barcellos; nos Coqueiros, uma das charqueadas de
Bernardino; na segunda parte do Areal, a outra propriedade do mesmo Bernardino; e, no
Atoladouro, próximo ao Canal São Gonçalo, o segundo saladeiro de Cipriano. [FIG. 29]

Boaventura Rodrigues Barcellos

O comendador Boaventura Rodrigues Barcellos casou-se, em primeiras


núpcias, com Cecília Rodrigues da Silva. Tiveram seis filhos, três homens e três
mulheres. Desses, Boaventura da Silva Barcellos, casado com Albana dos Santos
Barcellos, herdou a charqueada. Israel Rodrigues Barcellos contraiu matrimônio com
Maria Josefa da Silva Freire, filha de Rafaela Pinto Bandeira, neta do conhecido
brigadeiro Rafael Pinto Bandeira. Maria Andréia e Clara casaram com os vizinhos e
124 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

irmãos Luís e José de Azevedo e Souza. O próprio, comendador Boaventura contraiu


segundas núpcias, com sua vizinha Eulália de Azevedo e Souza.
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Figura 29 – Mapa das propriedades da família Rodrigues Barcellos, vizinhos e estradas. Base principal no
RPTMP, no Museu da BPP.

A venda do terreno, contíguo à fábrica de José Pinto Martins realizou-se em 24


de março de 1814. Boaventura Rodrigues Barcellos fez compra de meia data de terras,
que Domingos Afonso Pinheiro deixou de herança a sua filha Gertrudes Pinheiro de
Araújo e a seu marido Manuel Viera de Araújo. Estes a venderam a Boaventura
Rodrigues Barcellos, conforme descrito:
“[...] uma porção de terras que confronta para frente com o arroio Pelotas,
com 4.136m de fundos até encontrar com terrenos do capitão Inácio Antônio
da Silveira, dividindo pelo lado leste com terras de Custódio José dos Santos
Moreira e pelo outro com José Pinto [Martins] e de ele vendedor.” [BPP,
RPTMP, 93: 61]
OS RODRIGUES BARCELLOS 125

Até chegar às mãos de Boaventura, outra fatia de terras passou por vários
proprietários. Situava-se entre as terras do visconde de Jaguari, Antônio Pereira da
Cruz, o Logradouro Público e o arroio Pelotas. Em 27 de junho de 1798, João Francisco
Viera Braga comprou 385m de terreno de Antônio Rosa, pela quantia de 140$800 réis.
Quatro anos e dois meses depois, em 27 de agosto de 1802, João Francisco Viera Braga
vendeu a mesma área ao alferes José Cardozo de Gusmão. “[...] 15 de setembro de 1808
José Cardoso de Gusmão fez venda a Boaventura Rodrigues Barcellos.” [BPP,
RPTMP, 93: 178]
Em 1814, os Rodrigues Barcellos realizaram um negócio no seio da própria
família, o qual resultou em três charqueadas.
“20 de setembro de 1814. Luís Rodrigues Barcellos fez venda a seus três
irmãos Cipriano Rodrigues Barcellos, Bernardino Rodrigues Barcellos e
Inácio Rodrigues Barcellos, de um terreno na Costa do arroio Pelotas que se
divide pelo sul com pouco mais ou menos parte eles com terrenos do padre
Antônio Pereira por pé da margem do arroio e outra parte pelo dito rumo
com terras de Luís Pereira, pelo lado do norte pouco mais ou menos se divide
com terrenos hoje Boaventura Rodrigues Barcellos, sendo os fundos do
mencionado terreno de 3.960m. O qual vendedor houve por compra que ele
fez a Custódio José dos Santos Moreira.” [BPP, RPTMP, 93: 33]
Essas terras deram origem ao segundo saladeiro de Boaventura Rodrigues
Barcellos e às fábricas de Antônio José Gonçalves Chaves e de Inácio Rodrigues
Barcellos. Havia grandes confusões nas medições das terras. Os limites eram naturais; a
serra, os arroios e o canal não mantinham as medidas constantes das transações
fundiárias. Parece que as “sobras” eram um tanto elásticas, puxava-se de um lado,
faltava do outro. Existia também a posse dos antigos moradores e a cautela de alguns,
que requeriam títulos de sesmarias. Outros avançavam sobre as propriedades vizinhas.
As desavenças entre a família apareceram um ano depois. Em 1815,
Boaventura Rodrigues Barcellos solicitou medição de suas terras; foi notificado seu
irmão Inácio Rodrigues Barcellos.
“Diz Boaventura Rodrigues Barcellos que ele é senhor e possuidor de uma
porção de terras sitas na costa do rio [arroio] Pelotas com 407m de frente ao
rio [arroio], e 4.136m de fundo até as terras do capitão Inácio Antônio da
Silveira, que as houve por compra a Custódio Manuel Viera e sua mulher [...].
Confinantes, Inácio Rodrigues Barcellos, Cipriano Rodrigues Barcellos,
Bernardino Rodrigues Barcellos, Luís Rodrigues Barcellos e suas mulheres,
Custódio Manuel Viera e sua mulher, José Pinto Martins e dona Maurícia
Inácia da Silveira, por si, e seu marido ausente, o capitão Inácio Antônio da
Silveira.” [APRGS, MEDIÇÃO de Boaventura Rodrigues Barcellos. Pelotas,
nº 568, M. 14, E. 33. 2º Cartório do Cível e do Crime, 1815]

Cecília Rodrigues da Silva

O primeiro estabelecimento de Boaventura Rodrigues Barcellos foi passado a


José Gonçalves Lopes. O segundo, herdou Boaventura da Silva Barcellos; este deu a
126 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

charqueada em pagamento de dívida a Joaquim Guilherme da Costa, que a passou a seu


filho Domingos G. da Costa. A fábrica pertenceu depois a Artur Gomes da Costa, a
George Lavison e, no fim, a Numes & Irmão. Quando da morte da primeira mulher, do
comendador, Cecília, em 1824, o terreno, que sobrara, tinha 660m de frente ao arroio
Pelotas. Nessa área, havia as seguintes construções: uma casa de vivenda, com cozinha;
uma casa de sobrado, imediata à outra; um galpão de charquia, todos cobertos de telhas;
e, mais, um armazém, uma casa de carretas e uma casa de graxeira. Na charqueada,
viviam 127 escravos. [INVENTÁRIO de Cecília Rodrigues da Silva. Pelotas, nº 83, M.
07, E.25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1824] Apesar do número expressivo de
cativos, na listagem das edificações inventariadas não apareceu nenhum prédio
específico para a residência da população servil.
Em 1856, quando do levantamento dos bens de Boaventura, tinham sido
construídas, no terreno da charqueada, mais uma ferraria e uma estrebaria. O
comendador deixou sete terrenos. Dois compunham a charqueada e situavam-se sobre a
margem direita do Pelotas.
Um desses, pelo norte, dividia com terrenos de José Antônio Moreira, e, pelo
sul, com as terras do filho, Boaventura da Silva Barcellos; e, o outro, pelo norte, dividia
com o mesmo co-herdeiro, e, pelo sul, com as terras do genro Luís de Azevedo e Souza.
Os imóveis restantes eram os seguintes: um terreno, denominado Sotreirinho, limitava-
se, ao norte, com José Bento e Campos e, pelo sul, com o co-herdeiro, Boaventura da
Silva Barcellos; um outro, próximo ao antecedente, ao norte, era vizinho do co-herdeiro
Boaventura e, ao sul, do co-herdeiro Luís de Azevedo e Souza; um terreno, na Boa
Vista, contendo 88m de frente e 440m de fundos; uma chácara de 7,4ha, que se dividia,
a leste, com o co-herdeiro Luís de Azevedo e Souza; uma data de matos na serra dos
Tapes, às margens do arroio Pelotas e do arroio Quilombo; um terreno no Monte Bonito
e dois terrenos na cidade. O número de escravos tinha diminuído, em relação ao plantel
de sua primeira mulher, contava 70 cativos. [INVENTÁRIO de Boaventura Rodrigues
Barcellos. Pelotas, nº 409, M. 28, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1856]

Albana Rodrigues Barcellos

No mesmo ano de 1856, foi feito o inventário dos bens de Albana Rodrigues
Barcellos, esposa de Boaventura da Silva Barcellos, nora do comendador. De maneira
mais detalhada, o levantamento do patrimônio de Albana informou sobre a presença de
uma máquina a vapor, bem como, sobre a moradia de escravos. Na listagem dos prédios
que compunham a charqueada, pôde ser observado: uma propriedade de casas de
sobrado que servia de moradia; uma outra casa, utilizada como graxeira, com cilindros,
três tinas, uma das quais servia para derreter o sebo, e duas para ossos, duas caldeiras
grandes, para apurar graxa, e todos os demais utensílios da mesma graxeira; um galpão
de charquear, com tafona e dois armazéns, para sal; um outro galpão grande, que
compreendia, senzala, armazém, cocheira, estrebaria e diversos quartos; uma casa
grande, destinada a salgar couros, e, uma mangueira, com seu brete e cancha.
[INVENTÁRIO de Albana Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 406, M.28, E. 25, 1º
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1856]
OS RODRIGUES BARCELLOS 127

Fluxograma

A sucessiva descrição das charqueadas comprovou a utilização de caldeiras a


vapor, por quase meio século do último período da escravidão no Brasil. Certamente, o
uso dessa tecnologia deu um maior e melhor aproveitamento ao gado, qualificou os
produtos e os cativos que a operavam. Apesar dos graxeiros não serem,
necessariamente, trabalhadores servis, constatamos a existência desta especialização
entre os escravos. Ao mesmo tempo, a disposição dos terrenos da charqueada
configurava um fluxograma definido. A matéria-prima, o gado, ia do Logradouro
Público ao curso d’água. Depois de comercializados, os animais seguiam para o potreiro
de fora, dali para o potreiro do meio. Nesses locais, os rebanhos aguardavam o abate.
No último terreno, às margens de um curso de água, as reses eram transformadas em
carne salgada e em seus subprodutos.
No terreno da charqueada, próxima ao potreiro do meio e afastada d’água, a
primeira instalação era a mangueira de matança, composta de um brete e uma cancha.
Daí, a divisão em duas linhas de produção: uma, a dos derivados, seguia para as casas
que serviam de graxeira e de salgação dos couros; a outra, a do charque, ia para os
galpões de charquear e salgar. Os quartos, destinados aos trabalhadores livres, e a
senzala, compartilhavam um grande galpão, que também utilizado como armazém,
cocheira e estrebaria. A residência dos senhores ficava próxima a beira d’água, mas,
afastada do espaço da produção. Sem nenhuma variação, a fábrica de Albana
representou um exemplo dessa tipologia de distribuição físico/espacial. Em 1856, o
estabelecimento tinha um terreno com 106,6ha, sendo 20,8ha na charqueada, 32,5ha no
potreiro do meio e, no potreiro de fora, com fundos ao Logradouro Público, 53,3ha. O
terreno da charqueada limitava-se: ao sul, com o cunhado, Luís de Azevedo e Souza; ao
norte, com herdeiros de seu falecido sogro, até a estrada do Passo Fundo e o terreno dos
potreiros que confinava com o Logradouro Público. Esse dividia, a leste, com o referido
cunhado; ao norte, com José Bento e Campos e Matilde da Silva Vinhas; ao sul, com
Antônio José Gonçalves Chaves e os herdeiros do falecido Inácio Rodrigues Barcellos,
e, a oeste, com o Logradouro Público. A TAB. 9 dimensionou os terrenos da
charqueada de Albana Rodrigues Barcellos, arredondando a largura do terreno em
200m, tendo em vista que o resultado do auto da medição dos dois terrenos de seu sogro
mediu 407m, para os dois terrenos.

Tabela 10 - Dimensionamento dos terrenos da fábrica de Albana Rodrigues Barcellos.


Terrenos Braças Hectares m² Largura m Profundidade m
superficiais
Charqueada 43.018 20,8 208.207 200 1.041
Potreiro do meio 67.139 32,5 324.953 200 1.625
Potreiro do fundo 110.157 53,3 533.160 200 2.666
Total 220.314 106,6 1.066.320 200 5.332
Fonte: [INVENTÁRIO de Albana Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 406, M.28, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1856.
128 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Joaquim Guilherme da Costa

Boaventura deu a charqueada em pagamento de dívida ao português Joaquim


Guilherme da Costa, casado com Tereza Francisca. Em 1865, no levantamento dos bens
do proprietário, a charqueada teve quase a mesma descrição da constante no inventário
de Albana Rodrigues Barcellos.
Porém, acrescentava um estabelecimento de olaria, uma chácara, de arvoredo
frutífero diverso, e um pequeno rancho, edificado no potreiro de fora. Ainda,
constituíam seus bens: dois iates, denominados Diamantino e Estudante e um plantel de
78 escravos. A presença do pomar e da olaria concluía o programa de necessidades do
saladeiro. Alternando a disposição de grande parte dos estabelecimentos, essas funções
não se situavam no terreno da charqueada, à beira da água; instalaram-se perto das
terras do Logradouro Público. [APRGS, INVENTÁRIO de Joaquim Guilherme da
Costa. Pelotas, nº 599, M. 38, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1856]
Capítulo 16

ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES

Em 1781, nasceu em Portugal, em São Tiago d’Ouro, comarca de Chaves,


Antônio Gonçalves Chaves, filho de Manuel José de Morais e de Isabel Maria
Gonçalves. Faleceu em 29 de julho de 1837, no Uruguai, na baía de Montevidéu,
quando vinha da charqueada, que possuía naquela localidade, para o centro da cidade.
Seu bote virou e ele morreu afogado, com todos aqueles que o acompanhavam. Mudara-
se de Pelotas para o Uruguai, dois anos antes, no começo da Revolução Farroupilha.
Tinha chegado ao porto de Rio Grande em 1805, estabelecendo-se em Pelotas e
começando a vida como caixeiro. Conseguiu ser charqueador, estancieiro, proprietário
urbano e senhor de escravos. No natal de 1811, casou com Maria do Carmo Secco,
nascida no Povo Novo, filha de Maria do Carmo Soares, da Colônia do Sacramento e do
português Joaquim José da Cruz Secco, fabricante da carne salgada e vizinho de
Chaves. [RHEINGANTZ, 1979: 359]
Em 1828, Gonçalves Chaves participou, como membro natural, do primeiro
Conselho da Província; em 1832, foi eleito vereador, ao instalar-se a primeira Câmara
Municipal de Pelotas; e, em 1835, um pouco antes da sua transferência para
Montevidéu, elegeu-se à Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Com outros
sócios, entre eles Domingos José de Almeida, iniciou na província, a navegação a
vapor, importando, dos Estados Unidos da América do Norte, o motor de uma barca que
chamaram de Liberal; exploraram o transporte entre Pelotas e Rio Grande. [FRANCO,
1978: 17] Era uma figura ímpar entre seus pares. Principalmente, pelo pioneirismo de
seus escritos, tanto no que se refere à data da publicação, 1822, como também, pelas
críticas e idéias que divulgava. Defendia o fim do regime escravista, apostava nos
princípios do liberalismo econômico, censurava as elites locais e a os representantes da
coroa lusa.

Impostos. Entre a Colônia e o Império

Gonçalves Chaves era contrário às restrições de caráter fiscal, impostas pelo


governo português à matéria-prima usada no fabrico do charque, ao gado, ao sal; e, ao
130 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

próprio produto, a carne salgada. No Rio Grande, no início dos anos vinte, do século
passado, por um lado, o gado era confiscado para abastecer as forças militares que
investiam na ocupação da Banda Oriental; por outro lado, nas chamadas califórnias,
invasões àqueles territórios, as reses eram roubadas e contrabandeadas. Com o nome de
Província da Cisplatina, anexou-se a Banda Oriental; a fronteira estendeu-se sobre o
território que ficava ao leste do rio Uruguai. Nesses anos, o fluxo dos rebanhos,
sobretudo para as charqueadas, tornou-se uma constante.
No decorrer de 1821 a 1822, o sal teve uma política atribulada. O Decreto de
29 de abril de 1821 eliminou a cobrança de direitos sobre o sal, nas províncias centrais
do reino do Brasil. Em 11 de maio do mesmo ano, outro decreto estendeu essa isenção
aos portos das províncias periféricas, mas, impôs taxa de 80 réis por alqueire [13,8
litros]. Com essas medidas, o Rio Grande continuava em desvantagem em relação às
províncias centrais e os cofres lusitanos sofriam diminuição, no total de recursos
arrastados. No primeiro semestre de 1822, a isenção atingiu apenas o produto nacional,
transportado em navios nacionais. Em meados, do ano, voltaram as mesmas regras
determinadas pela carta régia de 1805, com exceção do produto inglês, que pagaria
15%. [CORSETTI, 1983: 108-119]
O decreto de abril de 1821 tornou norma a cobrança nas importações. Os
saladeiristas obrigavam-se a pagar pela carne salgada 600 réis em navios estrangeiros e
200 em portugueses. Constantemente, estancieiros, charqueadores e comerciantes do
Rio Grande viam-se subjugados ao poder colonial português, associado às forças
hegemônicas do centro e do nordeste do Brasil. Deste quadro, podem-se extrair as
justificativas para a adoção dos princípios liberais, por Antônio José Gonçalves Chaves.
Sua postura, à primeira vista, parece contradizer sua condição sócio-econômica. Com
atenção, percebemos a situação específica das necessidades econômico-sociais da
produção saladeiril e escravista gaúcha. Daí, a aposta no liberalismo econômico, que,
aqui, representava uma maneira de escapar dos tributos cobrados pela coroa.

Pensamento

Em 1817, escreveu a favor da abolição da escravatura, constituindo-se, esse


trabalho, na terceira memória. Em 1821, elaborou a primeira memória e a encaminhou
aos deputados brasileiros junto às Cortes de Lisboa, que viviam a Revolução Liberal.
Nesse texto, criticava o autoritarismo, o arbítrio, e a corrupção da administração
colonial portuguesa, particularmente os capitães generais, e defendia a imediata
supressão desse cargo. As publicações de Gonçalves Chaves foram cinco Memórias
Ecônomo-Políticas sobre a Administração Pública do Brasil, publicadas entre os três
primeiros anos de 1820, exatamente, no período em que o Brasil passava de reino unido
para império.
A segunda memória, que complementou a primeira, foi realizada no mesmo
ano desta e publicada no seguinte. Constituiu-se num desabafo diante da opressão do
período colonial. Aos liberais portugueses, interessava resgatar os privilégios do antigo
regime. A segunda memória apresentava um projeto de constituição, que não refletia a
totalidade de seu pensamento. Expôs o que lhe pareceu possível ou viável. Tratou da má
ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 131

e corrompida administração colonial lusa e da necessidade de seguir um sistema liberal.


Queria a república, mas indicou a monarquia constitucional ou temperada como a forma
de governo mais própria para a nossa união, como se fosse uma tábua de salvação.
Sugeria o estudo das constituições modernas, com base nas cartas dos Estados Unidos e
de Cadiz, da Espanha.
O quarto texto levantou as injustiças sociais e as dificuldades econômicas que
decorreram da estrutura fundiária da campanha rio-grandense. Criticou o sistema de
distribuição de grandes sesmarias e propôs uma distribuição mais equilibrada das terras,
acabando com o favoritismo e o nepotismo. No último trabalho elaborou e registrou
dados estatísticos do Rio Grande do Sul. O pensamento de Antônio José Gonçalves
Chaves não pode ser apenas vinculado às tendências do pensamento moderno, ele é
sobretudo atual.

Escravidão x Desperdício

“Chaves volta-se contra o escravismo tomando este como ‘modo de


produção’. Não quer reformar os abusos, melhorar a sorte dos escravos,
pregar o paternalismo. Quer extirpar o trabalho negro, acabá-lo como
organização social do trabalho. Sua critica não é ‘moral’, ‘humanitária’, é
uma fria e aguda análise econômico-social. Surge ele como um homem que
apesar de isolado do ‘mundo das idéias’ de então, soube apartar-se dos seus
interesses imediatos e analisar as limitações estruturais a que o escravismo
levava a economia brasileira e, em especial, a indústria do charque.”
[MAESTRI, 1984: 79]
Antônio José Gonçalves Chaves parece ter sido, dos primeiros, nesta terra, a
analisar criticamente o regime escravista. Divulgando, através de seus textos, idéias
como a seguinte citação:
“O escravo - diz um economista - consome mais do que pode e trabalha
menos do que pode. É essa uma verdade que não precisa ser demonstrada: o
escravo, que por modo algum pode esperar prêmio do seu trabalho,
interessa-se em consumir e em não trabalhar.” [GONÇALVES CHAVES,
1978: 60]
Explicava, ainda, sobre a necessidade de um corpo de controle, composto de
capitães-de-mato, feitores, forças militares, Guarda Nacional, etc., que não produziam,
mas, exatamente, permaneciam para manter, vigiar, controlar os cativos, ou inimigos
domésticos. Já em 1817, escreveu o que Louis Couty, em 1880, e Fernando Henrique
Cardoso, em 1960, iriam dizer sobre a economia do desperdício. O trabalho escravo
impossibilitaria o florescimento do capitalismo.
Em síntese, a economia escravista foi definida como uma economia do
desperdício, porque, primeiramente, implicava a reversão de um capital fixo na compra
de escravos; os trabalhadores servis, independentemente da sazonalidade da produção
saladeiril e das necessidades de mercado, tinham de continuar sendo, de certa forma,
alimentados, vestidos, alojados. Portanto, apresentava pouca flexibilidade. Era
economia do desperdício, também, porque introduzia um corpo de trabalho parasitário,
132 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

responsável pelo controle, manutenção da disciplina, continuação do próprio trabalho


servil, e, conseqüentemente, do sistema escravista. O prosseguimento do trabalho dava-
se pela violência e não pelo incentivo, o que resultava numa resistência passiva dos
escravos. Os cativos consumiam muito [sic.] e produziam pouco. A própria condição
servil impedia a especialização técnica. Não se permitia a ociosidade. As condições de
trabalho, o baixo preço pago para a aquisição de novas “peças”, impediam a reprodução
natural da mão-de-obra necessária.
Gonçalves Chaves queria a abolição, propôs o fim do tráfico, porque entendia
como a única proposta para a situação histórica daquele momento. Sabia que o fim do
tráfico, que ocorreria em 1850, era a única bala certeira para a derrubada do regime
escravista. Em 1871, seu filho de mesmo nome, Antônio José Gonçalves Chaves,
deixava de herança 53 escravos. Em 1887, seu outro filho João Maria Chaves deixava
11 contratados. Houve uma defazagem de 71 anos entre a elaboração do texto que
defendia o fim do regime servil, escrito em 1817, e a abolição da escravatura no Brasil,
em 1888. No âmbito doméstico, da mesma forma, verificou-se a distância entre o
discurso e a prática. Na fábrica que pertenceu a Gonçalves Chaves e a seus filhos
constatou-se a exploração da mão-de-obra cativa inclusive depois da emancipação dos
escravos em Pelotas, em 1884.
Sobre a ocorrência entre os saladeiristas capitalistas platinos e os
charqueadores escravistas pelotenses o historiador Jacob Gorender considera que não
podemos pretender que o charqueador se comportasse como um empresário capitalista:
“O charqueador poderia ser acusado de historicamente irracional por
insistir em continuar escravista, num momento em que o escravismo se
precipitava para o fim. Mas, enquanto escravista, seria absurdo pretender
que agisse de maneira diferente na gestão de seus negócios. Sua conduta,
enquanto escravista, permanecia racional, na média comum dos agentes
econômicos, em que se excluem os erros individuais de cálculos.”
[GORENDER, 1988:233]

O Capital dos Charqueadores

O estudo da charqueada escravista gaúcha no século XIX, elaborado por


Berenice Corsetti, realizou uma análise sobre a questão do crédito e do capital.
Utilizando os dados de 31 inventários, distribuídos entre os anos de 1824 e 1911,
constatou serem expressivos os índices relativos às dívidas que os saladeiristas tinham a
receber ou a pagar. Em alguns casos, mais da metade da fortuna do charqueador estava
representada por dinheiro emprestado a juros, o que evidenciava que, além de
charqueadores, esses senhores, integravam o setor comercial e financeiro. O
endividamento e a falência de diversos charqueadores, bem como a maneira como se
organizou e evoluiu o setor creditício no Rio Grande, colaboraram para a desintegração
do regime escravista. [CORSETTI, 1983: 192-3]
Sobre os chamados “bens de raiz”, a autora, concluiu que havia predominância
de imóveis rurais sobre os urbanos, inclusive imóveis situados no Estado Oriental, onde
os charqueadores pelotenses aproveitavam as condições muitas vezes favoráveis
ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 133

oferecidas pelo Uruguai; na década de 1880, passou a evidenciar-se um investimento


maior em propriedades urbanas, o que se junta às características de desarticulação da
charqueada enquanto empresa escravista. A elevação dos percentuais, no setor de
apólices e ações, e no de imóveis, a partir da década de setenta, parece estar relacionada
com a liberação de capitais, antes investidos na aquisição de escravos. A compra de
cativos predominou até o início da década de sessenta, quando passou a decair, após três
décadas do fim do tráfico negreiro, apresentando tendência decrescente. [Id., Ib., 187 a
191]
O aumento dos valores em imóveis pode ter sido conseqüência, também, do
emprego da mão-de-obra servil, durante os períodos das entressafras. Um século
duraram as empresas escravistas em Pelotas, de 1780 a 1888. O período de matança
concentrava-se de novembro a maio; nos outros seis meses, durante 100 anos, os cativos
poderiam ter trabalhado nas olarias e na construção civil. Não é a melhor época para
essas atividades, mas, ao longo do tempo, possibilitava o crescimento do capital.
Corsetti completou a análise anotando que a presença de móveis e de objetos de ouro e
prata, era altamente significativa na fortuna desses senhores. Metade dos saladeiristas
possuíam iates; consequentemente, a outra metade pagava o transporte. Utensílios e
construções, em geral, estavam incluídos nas benfeitorias das charqueadas; a presença
pouco expressiva de animais, entre os bens dos proprietários de charqueadas,
evidenciava a falta de suficiência do setor produtivo em relação a esta matéria-prima,
fundamental à produção da mercadoria.” [Id., Ib.: 192]

O Capital dos Chaves

Os filhos de Antônio José Gonçalves Chaves, os irmãos Antônio José e João


Maria Gonçalves Chaves, compartilharam das propriedades que foram de seu pai. Em
13 de julho de 1862, quando Antônio José realizou uma viagem ao Rio de Janeiro, fez
um cálculo de seus bens e de sua fortuna:
“154 ações do Banco do Brasil ____________________________ 35.880#000
Saldo na mão de [ilegível] até janeiro _______________________ 15.290#000
[Ilegível] _____________________________________________ 15.290#000
Apólices da Câmara Municipal 5500 cap. e rendimento de um ano _ 6.160#000
Chácara da Boa Vista e terreno adjacente ____________________ 2.500#000
Escravos Artur e José ____________________________________ 4.000#000
½ Do que toca de capital circulante ________________________ 50.000#000
½ da charqueada, terrenos, iate, e mais propriedades___________ 25.000#000
½ do valor de escravos em sociedade _______________________ 35.000#000
Total ______________________________________________ 188.000#000”
[INVENTÁRIO de Antônio José Gonçalves Chaves. Pelotas, nº 1791. M. 45. E.
25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1872]
Nesse total, faltaram muitas coisas. Em 1872, quando do inventário, foram
registrados, entre os imóveis: ½ estância no Piratini; dois sobrados e três terrenos
urbanos; três terrenos na estrada do Retiro e a data de matos na serra dos Tapes, com
estabelecimento de carpintaria. Os inventários de Antônio José e de sua cunhada, Maria
Luíza Chaves, realizados no mesmo ano de 1872, e o de seu irmão João Maria, feito em
134 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

1887, não apresentaram mudanças significativas. Este caso demonstrou a transferência


de imóveis, por herança.

Charqueada São João

Provavelmente, denominaram a charqueada de São João em homenagem a


João Maria Chaves. O estabelecimento passou ao genro de João Maria, Jacinto Antônio
Lopes Filho, casado com Maria Salomé Chaves. Esse também foi proprietário de outra
fábrica, na mesma margem direita do Pelotas, no lugar conhecido como Atoladouro, e
que tinha sido de Cipriano Rodrigues Barcellos. No início do século, a propriedade
pertenceu a João Tamboridengui e, hoje, a casa é a residência de uma filha de
charqueador, Nóris Moreira Mazza. No espaço que serviu à produção, executa-se um
loteamento. Antônio José Gonçalves Chaves, o filho, era casado com sua sobrinha
Marcolina Barcellos Chaves, filha de Joaquim Antônio Barcellos e de Marcolina
Amália Chaves. João Maria Chaves desposou Maria Luíza Chaves, filha de seu
confinante Boaventura.
A área e as benfeitorias da fábrica seguiam a mesma programação existente nas
propriedades vizinhas. Resumiam-se no seguinte: “Um estabelecimento de charqueada
na Costa do arroio Pelotas, com terrenos ao Logradouro Público, casa de moradia,
galpão, olaria, casa na chácara e outra casa pequena em um potreiro e mais
benfeitorias, carretas, carroças, e mais utensílios.” [INVENTÁRIO de Maria Luíza
Chaves. Pelotas, nº 770. M. 46. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1872] [Grifo
nosso] [FIG. 29]

As Impressões de Saint-Hilaire

De seis a vinte de setembro de 1820, Saint-Hilaire, o viajante naturalista, foi


hóspede de Antônio José Gonçalves Chaves, em sua charqueada. O francês definiu seu
anfitrião com as seguintes palavras: “O senhor Chaves é um homem culto, sabendo o
latim, o francês, com leituras de história natural, conversando muito bem. Pertence à
classe dos charqueadores ou fabricantes de carne seca.” [SAINT-HILAIRE, 1974: 67]
Sobre o tratamento dos cativos na charqueada, explicou:
“Nas charqueadas os negros são tratados com rudez. O senhor Chaves, tido
como um dos charqueadores mais humanos, só fala aos seus escravos com
exagerada severidade, no que é imitado por sua mulher; os escravos
parecem tremer diante de seus donos.
Há sempre na sala um pequeno negro de dez a doze anos, cuja função é ir
chamar outros escravos, servir água e prestar pequenos serviços caseiros.
Não conheço criatura mais infeliz que essa criança [...]. Afirmei que nesta
capitania os negros são tratados com bondade [...].
ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 135

Referia-me aos escravos da estâncias que são sempre em pequeno número;


nas charqueadas a coisa muda de figura porque sendo os negros em grande
número e cheios de vícios, trazidos da capital, torna-se necessário tratá-los
com mais energia.” [Id., Ib.: 73]
Disse ainda ter ficado hospedado num quarto mal iluminado, que dava para
uma sala de refeições, e que se localizava no canto norte/leste. Sobre a casa, disse ser de
um só pavimento, grande, coberta de telhas e um pouco elevada do solo. Situava-se
junto ao arroio, o que favorecia a proximidade de iates. O espaço da produção foi pouco
descrito por Saint-Hilaire. Destacou os varais existentes num belo gramado, diante da
residência, e mencionou que, ao lado desses secadores, existia o edifício onde se salgava
a carne e onde construíram um reservatório, denominado tanque. O pomar foi o ponto
alto dos elogios do cientista:
“Para além do secadouro tem o senhor Chaves um pomar circundado de
vales e de mimosas espinhosas atualmente destituídas de folhagens. É o
maior pomar que já vi no Brasil, se exceptuar algumas quintas dos
arredores de São Paulo. Compõe-se de algumas aléias, oblíquas, de
pessegueiros entremeados de laranjeiras. Essas aléias terminam em um
centro comum. Entre elas estão canteiros de hortaliças tais como - couves,
favas, alface, ervilhas. Vi também neste pomar: macieiras, pereiras,
ameixeiras, cerejeiras e parreiras bem desenvolvidas. O senhor Chaves
lamenta sejam todas as espécies frutíferas, introduzidas no País, de
qualidade inferior. O pomar do senhor Chaves é novo: admirei pessegueiros
de menos de três anos e laranjeiras de quatro anos com 12 a 15 pés [3,66 a
4,57m] de altura.” [Id, Ib.: 68]
A descrição do pomar levou à percepção de que este espaço teve a sua
importância, no complexo saladeiril. Estar classificado como um dos maiores do Brasil,
pelo reconhecido naturalista, demonstra a excepcionalidade do empreendimento
analisado.
Constatamos que os pomares, quase que invariavelmente, integravam as
benfeitorias das fábricas de salgar carnes, e que portanto, estavam incluídos nos
programas desses estabelecimentos. A charqueada pelotense de Chaves foi semelhante
às demais. Paulatinamente, a descrição das fábricas de salga permitiu ir consolidando a
tipologia de distribuição físico/espacial, bem como os tipos de solução encontrados nas
diversas construções destinadas ao fabrico do charque e à residência dos senhores.
.
Capítulo 17

AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS

Na primeira parte do Areal, localizaram-se duas charqueadas. Ambas


pertenceram à família Rodrigues Barcellos. Vizinha à fábrica dos Chaves, ficava a de
Inácio Rodrigues Barcellos; a outra pertenceu a Cipriano Rodrigues Barcellos. Inácio
nasceu em Viamão, no ano de 1771, filho de Antônio Rodrigues Barcellos e de Rosa
Perpétua de Lima. Inácio casou com Emerenciana Manuela Teixeira, de Rio Grande,
filha de Micaela Emerenciana Lamas e do ajudante da Colônia do Sacramento, Joaquim
Manuel Teixeira. Inácio passou o empreendimento a três filhos: Eleutério; Boaventura e
Luís Teixeira Barcellos.
Em 1803, batizaram Eleutério Rodrigues Barcellos, na estância de São José do
Piratini; vinte e seis anos depois, ele casou com sua prima-irmã, Rita Teixeira Barcellos,
nascida no ano de 1806, em Rio Grande, filha de Albino Teixeira Carneiro e Joana
Maria Lamas. Em 1808, Luís Teixeira Barcellos nasceu, em Amparo do Piratini; em
1837, casou com Dorotéia Clara da Fontoura, filha de Antônio Carneiro da Fontoura e
de Ana Clara Joaquina da Silva. Luíza da Fontoura Barcellos, filha de Luís e Dorotéia,
contraiu matrimônio com seu primo Inácio Teixeira Barcellos, filho de Eleutério e de
sua prima Rita. O outro filho de Inácio Rodrigues Barcellos, Boaventura Teixeira
Barcellos, casou com Floristela Salgado Barcellos.
Durante a segunda metade do século passado, a charqueada não sofreu
melhorias. Nos inventários realizados, de Inácio Rodrigues Barcellos, em 1863,
contaram-se 30 escravos; de Luís Teixeira Barcellos, em 1871, 23 cativos; em 1880, no
de Rita Teixeira Barcellos, 28 trabalhadores servis, e, finalmente, em 1886, no de
Eleutério, havia nove com contrato de trabalho obrigatório, variando entre quatro, cinco,
seis e sete anos. O plantel de escravos manteve-se sem variações, até a década de
oitenta. Em 1884, a emancipação da população servil, em Pelotas, modificou essa
situação.
138 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Os Terrenos da Fábrica

Ao todo, somavam sete áreas contíguas, e uma na serra dos Tapes, no lugar
denominado Três Serros, onde existia uma casa de moradia, construída de material. As
propriedades contínuas eram as que seguem: a da charqueada, que se situava na margem
direita do arroio Pelotas, dividia com o estabelecimento do dr. Antônio José Gonçalves
Chaves e irmãos e a fábrica de Boaventura Teixeira Barcellos e Companhia; um
cercado, que limitava com o dr. Chaves e irmão; o potreiro pequeno; o potreiro
pequeno; um terreno no Areal, com frente à estrada, dividindo-se com Cipriano e dando
fundos à mesma charqueada, com quarenta e nove mil e tantos metros de área; um
terreno, que dividia com o outro canto da chácara do mesmo Cipriano e a estrada, com
espaço suficiente para o trânsito público; uma chácara, com arvoredo de espinho,
limitando com Cipriano, a estrada do Areal e terrenos de Boaventura Teixeira; um
potreiro grande, com frente à estrada do Passo Fundo e fundos ao Logradouro Público,
dividindo com Cipriano e com os Chaves. [APRGS, INVENTÁRIO de Inácio
Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 55. M. 36. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria,
1863]
Em 1874, Dorotéia da Fontoura Barcellos, viúva de Luís Teixeira Barcellos,
em seu nome e de seus cunhados, solicitou medição judicial dessas terras. Mediram
10,3ha. O vizinho, João Maria Chaves, foi notificado. [APRGS. MEDIÇÃO. Dorotéia
da Fontoura Barcellos. Pelotas, nº 642. M. 16. E. 33, 2º Cartório Civil, 1874]
Observaram-se conflitos com os vizinhos, e do pai com os filhos. No tempo de Inácio, a
charqueada tinha duas casas de moradia, uma, onde ele vivia, com cozinha, despensa e
pátio de tijolos, e outra, que ficava na ponta do galpão, com quatro quartos, sala, pátio e
cozinha, coberta de telhas e com paredes de tijolos. A senzala, com cobertura de capim,
localizava-se junto à graxeira dos Chaves.
Quando do levantamento dos bens de Luís, apareceram indicadas três casas,
que serviam de residência aos respectivos filhos, e o que lhe cabia nesses imóveis: “a
casa que reside Eleutério Teixeira Barcellos; a metade da casa que reside Boaventura
Teixeira Barcellos e a casa que reside a inventariante [Dorotéia da Fontoura Barcellos]”
[Luís Teixeira Barcellos. Pelotas, nº 777. M. 46. E. 25, 1º Cartório de Órfãos
Provedoria, 1871]
As instalações permaneceram quase as mesmas, durante o período em que
pertenceu a Inácio e seus filhos; os prédios, mantiveram-se em mau estado de
conservação. Entre os anos de 1863, quando deixou de pertencer ao pai, Inácio, até
1886, quando morreu o último filho, Eleutério, os inventariantes foram anotando a
deteriorização que a fábrica vinha sofrendo. O programa de necessidades do saladeiro
consistia em um armazém para o sal; duas casas, uma de tafona e outra, para guardar
carretas; duas barracas, uma de salgar, contígua a uma de couros; graxeira; cancha;
brete e contrabrete; mangueira de matança. Os utensílios da charqueada, arrolados em
1880, quando do levantamento dos bens de Rita, consistiram em uma balança decimal;
uma outra, americana; 20 tábuas velhas; 18 carrinhos de mão; 1.000 forquilhas de varal
e 300 varas. [INVENTÁRIO de Rita Teixeira Barcellos. Pelotas, nº 937. M. 54. E. 25,
1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1880]
AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS 139

Areal. Coqueiros. Areal. Costa. Atoladouro. Boca do Arroio


[FIG. 29]

Do estabelecimento de Cipriano, na margem direita do arroio Pelotas, até o


Passo dos Negros, no canal São Gonçalo, estendiam-se as terras de Luís Pereira da
Silva, sogro de Cipriano Rodrigues Barcellos. Nesta área Cipriano possuiu dois
estabelecimentos. O terreno vizinho à fábrica de Inácio, o teve por compra; o outro
terreno, localizado no Atoladouro, recebeu como herança dos pais de sua mulher, Rita
Pereira da Silva. As terras de Luís Pereira da Silva começavam exatamente no limite da
propriedade de Inácio Rodrigues Barcellos e iam até o Passo dos Negros, no canal São
Gonçalo.
Situavam-se na boca do arroio, na margem norte do canal e leste do arroio.
Nessa área, foi possível constatar, a partir do Passo, as charqueadas pertencentes a
Manuel Soares da Silva; João Jacinto Mendonça, com dois estabelecimentos contíguos;
Antônio José da Silva Maia; João Antônio Lopes; Cipriano Rodrigues Barcellos; José
Gonçalves Lopes; Wenceslau José Gomes; Domingos José de Almeida; Bernardino
Rodrigues Barcellos, com dois saladeiros vizinhos, e outro, de Cipriano Rodrigues
Barcellos. Essas terras resultaram das compras de quatro datas, das chamadas “sobras”
de terras da sesmaria do Monte Bonito, ou seja, da segunda divisão de terras. [FIG. 30]

Na Boca do Arroio Pelotas com o Canal São Gonçalo

No canal São Gonçalo, três padres fizeram parte da relação de donatários das
datas para casais, na freguesia de Nossa Senhora da Conceição. Foram eles: Antônio
Pereira; doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, vigário de Rio Grande, e Anselmo
de Souza. Antônio e Pedro eram irmãos de Ana Josefa, esposa do alferes Felix da Costa
Furtado de Mendonça, dono da Estância de Santana, localizada nas nascentes do arroio
São Tomé. O Padre-doutor possuía, ainda, terras vizinhas às de sua irmã. O outro
religioso da família Pereira, primeiro vigário de Pelotas, filho de Ana Josefa, chamava-
se Felício. Esse último padre, junto com Antônio Francisco dos Anjos, implantou o
primeiro loteamento urbano de Pelotas.
Os terrenos situados na boca do arroio Pelotas tinham 660m de frente para o
São Gonçalo e mais ou menos 4.136m de fundos, sendo retangulares. O registro de
terras do padre Anselmo de Souza diz o seguinte:
“Terra ao pé do rincão Bravo, que pelo sul parte com o proprietário [desta
data] Antônio Mendes, pelo norte com o terreno do padre João de Almeida,
fazendo fundos para o sangradouro da Mirim. Esta terra foi concedida a
Antônio Mendes Borges, o qual trocou a dita terra com o sobredito
Anselmo, por outra terra que o dito Anselmo possuía, a qual é ao pé da
Roça Velha que parte do sul com o tenente Fernando Gonçalves, pelo norte
com Antônio Freitas e fundos para o dito sangradouro da Mirim.”
[AHRGS, RTRS, M.45, L.291]
140 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

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Figura 30 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo, datas compradas pelo casal Luís
Pereira da Silva e Maria da Conceição.

As Compras de Luís Pereira da Silva e Maria da Conceição

As transações comerciais chegavam a iniciar no próprio processo de doação.


As negociações dessas terras puderam ser observadas nas compras efetuadas por Luís
Pereira da Silva e sua mulher Eugênia da Conceição:
AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS 141

“6 de março de 1786. O padre doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita


vendeu a Luís Pereira da Silva uma data de terras de 660m de frente e
4.136m de fundo para o sangradouro da Mirim, a qual a houve por
concessão do governador do continente em 4 de fevereiro de 1781.” [BPP,
RPTMP, L. 93: 104]
A partir dessa data, o casal Pereira da Silva começou a comprar as terras no
entorno da primeira:
“10 de junho de 1786. O padre João de Almeida Pereira vendeu a Luis
Pereira da Silva 1.650m de frente e fundos até o sangradouro da Mirim. A
qual houve por troca a João Francisco da Costa, a quem foi concedida pelo
mesmo governador uma data de 660m de frente ao sangradouro da Mirim e
4.136m de fundo, em 31 de janeiro de 1781.” [BPP, RPTMP, L. 93: 104]
Outro terreno foi comprado. A aquisição contemplou o Passo dos Negros, lugar
de comércio, cobrança de impostos, etc., localizado estrategicamente no encontro do
canal São Gonçalo com o arroio Pelotas. A data de terras que foi doada, em 5 de
fevereiro de 1781, a Severino Antônio, foi transpassada a Francisco Pereira e Souza e a
sua mulher Joana Leite. Em 20 de julho de 1788, Luís Pereira da Silva comprou-a.
Tinha 660m de frente para o canal São Gonçalo e 4.136m de fundos, até encontrar a
estância do alferes Inácio Antônio da Silveira; limitava-se a oeste com Antônio José da
Silva e a leste com suas próprias terras. [BPP, RPTMP, L. 93: 104]
“21 de fevereiro de 1791. José Gonçalves e sua mulher Maria da
Encarnação venderam a Luís Pereira da Silva uma data de terras de 4.136m
de fundo e 660m de frente, confinando pelo leste com terras do comprador,
pelo oeste com Antônio José da Silva com frente à estância do alferes Inácio
Antônio da Silveira e fundos para o sangradouro da Mirim. O qual houve
por compra que fez em 15 de novembro de 1788 a João Bicudo e sua
mulher. Estes a tinham comprado em 14 de janeiro de 1786 de Antônio José
da Silva e sua mulher Quitéria Maria. Com as confrontações seguintes: em
o arroio Pelotas e Passo dos Negros, de um lado com Francisco Pereira do
outro com o vendedor e do outro com Inácio Antônio.” [BPP, RPTMP, L.
93: 104]

A Sucessão na Boca do Arroio Pelotas

As datas compradas por Luís Pereira da Silva localizavam-se exatamente na


boca do arroio. [FIG. 31] Foram herdeiros:
“a viúva [Eugênia da Conceição], 520,6ha; Bernardo, Matias, Luís, Rita
[casada com Cipriano Rodrigues Barcellos], Brás, Elias, José Pereira,
todos com 104,6ha e Manuel 104,5ha. Com o falecimento da mãe tocou a
Genoveva 96,8ha; Rita, 127,7ha; Brás, 29,0ha; Elias, 24,2ha; José Pereira,
95,2ha.” [BPP, RPTMP, 92: 77] [FIG. 32]
142 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

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Figura 31 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo. Campo do segundo inventário.
Base principal no RPTMP, do museu da BPP.

A sucessão não foi fácil. No Registro de Prédios e Terrenos de Pelotas, foram


encontradas duas solicitações de revisão das medições. A primeira, efetuada em janeiro
de 1829, foi solicitada por Cipriano Rodrigues Barcellos, por “cabeça de sua mulher”,
Rita Pereira da Silva, e a outra, por José Pereira da Silva Brites, realizando-se em julho
de 1832. [BPP, RPTMP, 92: 37 e 77; 93: 26] As terras do casal Pereira da Silva
resultaram, ao longo dos anos, em pelo menos 11 charqueadas. Dificilmente seria
possível fixar o número exato de estabelecimentos. Nem todos foram contemporâneos.
Houve a associação de determinadas instalações, etc. [FIG. 33]
AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS 143

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Figura 32 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo. Herdeiros de Luís Pereira da Silva.
Base principal no RPTMP, do museu da BPP.

Cipriano Rodrigues Barcellos

Em 5 de julho de 1845, Cipriano Rodrigues Barcellos comprou um


estabelecimento de charqueada do padre José Joaquim da Silva Monteiro, que, em 1831,
o tinha adquirido dos herdeiros do padre José Rodrigues de Assumpção. “[...] que por
um lado se divide com terras pertencentes a Bernardino Rodrigues Barcellos, pelo
outro com terras que pertencem a Inácio Rodrigues Barcellos, pela frente com o arroio
144 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Pelotas e pelos fundos com as terras que sobraram da fazenda do finado Inácio
Antônio.” [BPP, RPTMP, 92: 75]

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Figura 33 – Mapa de divisão das terras de Genoveva Pereira da Silva. Base principal no RPTMP, do
museu da BPP.

Em 1870, quando do inventário de Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos,


herdeiro da charqueada, filho de Cipriano Rodrigues Barcellos e de Rita Pereira da
Silva, havia 26 escravos e o estabelecimento saladeiril encontrava-se hipotecado a outro
charqueador, Domingos Soares Barbosa. A hipoteca incluía potreiro, chácara, olaria e
charqueada, descritos dessa forma:
AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS 145

“Um estabelecimento de charqueada com todas as benfeitorias sito na


margem do arroio de Pelotas, dividindo-se pelo leste, com o mesmo arroio,
pelo norte, com terrenos que foram do falecido Inácio Rodrigues Barcellos,
pelo oeste com a estrada do Areal, e, pelo sul, com terrenos que foram do
falecido Bernardino Rodrigues Barcellos, por quarenta e cinco contos de
réis..................................................................................................45.000#000
Uma chácara com frente à estrada do Areal, compreendendo casa de
moradias, mais benfeitorias e pomar, fazendo fundos à estrada do Passo
Fundo, por doze contos de réis ......................................................12.000#000
Um estabelecimento de olaria com frente à estrada do Areal e fundos à
estrada do Passo Fundo, por quatorze contos de réis ...................14.000#000
Um podreiro, no fundo da chácara, dividindo-se pela frente com a estrada
do Passo Fundo, e, pelos, fundos, com o Logradouro Público por cinco
contos de réis....................................................................................5.000#000
[INVENTÁRIO de Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 02.
M. 01, E. 28, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1870.] [grifo nosso]
Mais uma vez, a disposição dos terrenos e do programa da charqueada de
Cipriano Joaquim explicitou a tipologia de distribuição espacial da charqueada. O valor
alcançado mostrou que tanto a chácara, como a olaria, eram valorizadas. A olaria
representava quase um terço do preço do estabelecimento de charqueada.

Areal. Bernardino Rodrigues Barcellos

Bernardino, nascido em 31 de março de 1776, em Viamão, casou com Maria


Francisca da Conceição. Quando, em 1857, foi repartida a fábrica de Bernardino, dos 38
escravos que possuía, só 11 permaneciam com ele; os restantes estavam com os
herdeiros. Muitos dos prédios encontravam-se em mau estado de conservação. Em
1829, a propriedade foi medida judicialmente. Dividia, ao norte, com Cipriano
Rodrigues Barcellos; ao sudoeste, com seu genro Domingos José de Almeida; a sudeste,
com o arroio Pelotas, e, a noroeste, com campos das sobras da fazenda do Monte
Bonito. [APRGS, MEDIÇÃO de Bernardino Roiz Barcellos. Pelotas, nº 560. M. 13. E.
30, 1º Cartório Civil e Crime, 1829.]
Nesse terreno, existiam as seguintes construções: uma propriedade de casas de
sobrado, com frente ao arroio Pelotas, em mau estado; uma casa térrea, que servia de
vivenda para a viúva, com suas benfeitorias; um galpão de sobrado, com casa de
moradia; um outro galpão, arruinado, com meia-água, onde era guardado sebo; uma
casa destinada à graxeira; um galpão, que servia de barraca de couros; uma cancha, e
mais benfeitorias, pertencentes ao estabelecimento de charqueada; um potreiro, que
ficava nos fundos do terreno da charqueada e entre a estrada que dividia com terrenos
de Almeida; uma porção de terreno cercado, com olaria, em mau estado; um outro
terreno cercado, com casa de sotéia arruinada; um potreiro cercado, que se limitava, por
um lado, com terrenos de Cipriano Barcellos, e, pelo outro, com o de Domingos José de
Almeida; um outro terreno, que ficava dividindo com o terreno do potreiro e com
terrenos dos Cipriano e de Almeida, com os do Logradouro Público. [INVENTÁRIO de
146 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Bernardino Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 430. M. 29. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e


Provedoria, 1857] [Grifo nosso]
Uma porção de terras de matos, que formavam duas datas na serra dos Tapes,
também confinava com terras de Cipriano Joaquim Barcellos, com as do comendador
Cipriano Rodrigues Barcellos e com as de Almeida. Nessa porção de terras, existia uma
casa de pau-a-pique, coberta de palha. Na serra do Faxinal, distrito da Buena, o
proprietário possuía mais uma data de matos e uma casa, com frente norte, na rua do
Padeiro, hoje Cassiano do Nascimento. [INVENTÁRIO de Bernardino Rodrigues
Barcellos. Pelotas, nº 430. M. 29. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857.]
A tipologia de distribuição espacial da charqueada, nesse trecho da margem
direita do arroio Pelotas, compunha-se de, no mínimo três áreas, entrecortadas por duas
estradas. A charqueada ficava entre o curso das águas e um dos acessos. A chácara e a
olaria situavam-se entre os dois caminhos, e o potreiro localizava-se na outra ponta,
junto aos terrenos do Logradouro Público
Capítulo 18

DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA

Domingos José de Almeida, ministro da Fazenda da República Rio-Grandense,


nasceu no dia 9 de julho de 1797, na freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Serro
Frio, arraial da Tijuca, atual Diamantina, Minas Gerais. Recebeu o mesmo nome do pai,
que era de Braga, Portugal. Como ele, a mãe, Escolástica Maria de Abreu havia nascido
em Minas Gerais. Em 1819, com 22 anos, veio para São Francisco de Paula, Pelotas,
para comprar uma tropa de muares.
“[...] resolveu permanecer, iniciando suas atividades comerciais com o
estabelecimento de uma loja de fazendas, na citada vila. Diversificou
posteriormente ali seus empreendimentos, com olaria, fábrica de sabão e
velas de sebo, navegação fluvial, criação de gado e uma charqueada, onde
introduziu o novo processo de destilação de graxa a vapor. Junto ao
estabelecimento saladeiril em franco progresso, às margens do arroio
Pelotas, construiu um solar para residência de sua família, construído em
1824.” [NEVES, 1987: 16] [Grifo nosso]
O escritor João Simões Lopes Neto, que descreveu o processo que Almeida
inventou, disse ter sido criticado e depois imitado. Citou as tinas de madeira,
digeridores, nos quais se cozinhava a ossamenta pela ação do vapor d’água, produzido
em um grande gerador, cilíndrico, que por tubos o comunicava para elas. [LOPES
NETO, 1952: 114]
Com mais três sócios, os charqueadores Antônio José Gonçalves Chaves, José
Vieira Vianna e Bernardino José Marques Canarim, que não era saladeirista,
importaram da fábrica Stean Engine, de Nova York, um motor e caldeira, efetivando a
construção da primeira barca a vapor na Província. Como já assinalamos, esta barca
recebeu o nome de “Liberal” e iniciou as atividades de transporte de carga e de
passageiros, entre São Francisco de Paula e Rio Grande, no dia 7 de outubro de 1832.
Em 1836, em plena Revolução Farroupilha, a barca “Liberal” foi aprisionada pelas
forças imperiais, serviu para o transporte das tropas e como navio de guerra das forças
reais, inimigas dos revolucionários sulinos. [NEVES, 1987: 16]
De 1835 a 1845, a República Rio-Grandense enfrentou o império brasileiro,
porque se sentia explorada economicamente pelo centro.
148 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

“No tocante aos impostos, enquanto o charque sulino era onerado com altas
taxas de importação sobre o sal, os pecuaristas eram obrigados a pagar
altas taxas sobre a légua de terra. Por outro lado, o charque platino,
concorrente do gaúcho, pagava baixo imposto nas alfândegas brasileiras.
Por trás deste tratamento preferencial ao produto estrangeiro, que forçava a
baixa do preço do artigo rio-grandense, manifestavam-se os interesses do
centro e norte do país, que queriam comprar o alimento para seus escravos
a baixo custo.” [PESAVENTO, 1980: 27]
Em duas oportunidades, em 1824 e 1849, Domingos José de Almeida
esclareceu sobre suas atividades comerciais e industriais. Encaminhada ao Corregedor
do Civil, na Corte, a primeira correspondência consistia numa justificativa de serviços
prestados à Província. Além de ser fazendeiro, disse ser negociante estabelecido com
comércio de grosso trato, tanto na terra, como no alto mar, por ter embarcações nas mais
diferentes praças. No segundo expediente dirigido ao Ministério da Fazenda, solicitou
isenção de divisas, referentes às matérias-primas de que necessitava para a manutenção
da fábrica de velas, sebo e sabão de sua propriedade. [NEVES, 1987: 16]

Família. Negócios e Política

Dois dias antes de começar a primavera de 1824, ano em que acabou de


construir o solar, contraiu matrimônio com sua vizinha, Bernardina Barcellos Lima,
nascida em Rio Grande 18 anos antes. Tiveram 13 filhos. Uma das meninas, Abrilina
Decimanona Caçapavana de Almeida, nascida em 19 de março de 1839, em Caçapava,
teve como padrinho o líder da Revolução Farroupilha, Bento Gonçalves. Bernardina foi
uma das mulheres que acompanhou a República das Carretas; faleceu em Pelotas, um
ano depois da assinatura, em 28 de fevereiro de 1845, da “Paz de Ponche Verde”, que
pôs fim à República do Piratini. No inventário de seu pai, Bernardino Rodrigues
Barcellos, realizado em 1857, participaram os oito filhos que havia conseguido criar.
Junius Brutus Cassio de Almeida foi o filho que se ocupou das atividades
saladeiris, no estabelecimento vizinho à propriedade de seu pai, sendo, também,
fazendeiro em Uruguaiana. Casou com Maria Joaquina Lopes, filha do charqueador
João Simões Lopes, visconde da Graça. Em 1843, durante a passagem do Ministério da
Fazenda da República Rio-Grandense, por Alegrete, Domingos José de Almeida fundou
a Capela de Santa Ana do Uruguai, atual cidade de Uruguaiana. Quando acabou a
Revolução, Domingos de Almeida mudou seus negócios para Montevidéu.
Contudo, até o ano de 1864, permaneceu na Câmara de Vereadores de Pelotas.
Em 1832, antes da Revolução, havia sido vereador, na mesma cidade. Em 1835, fora
eleito para a Assembléia Provincial. Durante a República do Piratini trabalhou como
ministro da Fazenda. Faleceu em 6 de maio de 1871. Não deixou testamento. O
processo de divisão de seus bens foi terminado 90 anos depois.
DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA 149

Os Terrenos da Charqueada

Em 1961, na charqueada, foram registradas três áreas: um lote de terras com a


área de 258.635m², situado no lugar denominado Dunas, limitando, ao norte, com a rua
das Traíras, ao sul, com o Corredor das Tropas, a leste, com a estrada do Passo dos
Negros e a herança de Eva da Conceição, e, a oeste, com a estrada Domingos José de
Almeida, com Cristóvão José dos Santos e Pedro Irume; um lote de terras com área
superficial de 368.680m², localizado também no Dunas, limitando-se ao norte, com a
rua das Traíras, a Intendência Municipal e Luís de Almeida, ao sul, com a estrada das
Tropas, a leste, com José Folha, José Cardoso da Costa e a herança de Vidart, e, a oeste,
com Fernando Braga e o Cel. Pedro Osório; um lote com área superficial de 80.905m²,
situado no lugar denominado Areal, limitando ao norte, com cel. Pedro Osório, ao sul,
com a herança, a leste, com Luís Felipe de Almeida, e, a oeste, com Cel. Pedro Osório.
[FP, INVENTÁRIO de Domingos José de Almeida. Pelotas, nº 279, 3º Vara, 1961]
[FIG. 29 a 33]

As Compras de Domingos José de Almeida

Após o inventário de Luís Pereira da Silva, Domingos José de Almeida


comprou, em 7 de julho de 1828, as terras do herdeiro Bernardo Pereira da Silva,
conforme consta:
“[...] frente ao arroio Pelotas com os competentes fundos de 4.136m [...]
divide com Bernardino Rodrigues Barcellos e minha irmã Genoveva Pereira
da Silva. 4 de fevereiro de 1829. Genoveva Pereira da Silva fez venda a
Domingos José de Almeida de um terreno com 66m de frente com todo o
fundo que a pertencer. As quais foram dadas pelos herdeiros de seus irmãos
Manuel Pereira da Silva, Elias Pereira da Silva e José Pereira da Silva
Brites.” [BPP, RPTMP, 93: 28]

Segunda Parte da Costa

João Simões Lopes Neto arrolou três estabelecimentos, na margem direita da


Costa, na sua última porção.
150 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

“Na Costa. Wenceslau José Gomes que passou a Junius Brutus Cassio de
Almeida [filho de Domingos José de Almeida] e deste, à Cia Pastoril,
Industrial Sul do Brasil. Mais tarde foi de cel. Pedro Osório & Cia. Em
1905 foi era de João M. Moreira.
Na Costa. O estabelecimento de Neves & Irmão, que passou a Domingos
Soares Barbosa, e deste a Antenor S. Barbosa. Também foi do cel. Antero
Cunha e de outros. Foi demolida no princípio deste século.
Na Costa. O saladeiro de José Gonçalves Lopes, que passou a herdeiros.”
[LOPES NETO, 1952: 114]

Domingos Soares Barbosa

Domingos Soares Barbosa era credor de Cipriano Joaquim Barcellos. Sua


propriedade era cortada por duas estradas que a repartiam em três partes. Dividia, pelo
sudeste, com o arroio Pelotas; pelo noroeste, com a Estrada de Cima, hoje avenida
Domingos José de Almeida, que, desta cidade, seguia para a costa do Pelotas; pelo
sudoeste, com terras que pertenceram à herança de Manuel Portugal Guimarães. E mais,
um terreno lindeiro a este, com 110m de frente norte, pela mesma Estrada de Cima, e
que pertencera à herança de Manuel Pinto de Morais. O levantamento dos bens de
Barbosa apresentou um plantel de 83 escravos. Quatro cativos encontravam-se
foragidos. Os outros desempenhavam as seguintes profissões: salgador, três; carneador,
28; marinheiro, três; cozinheiro, seis; chimango, 14; serrador, dois; tanoeiro, dois;
campeiro, sete; engomador, dois; carpinteiro, três; graxeiro, três; mucama, duas, sendo
uma forra; roceiro, um; pedreiro, um; lavadeiro, um; descarneador, quatro; sem
profissão, um, que possuía sete anos. [INVENTÁRIO de Domingos Soares Barbosa.
Pelotas, nº 943. M. 54. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria. 1881]
O número de cativos de Domingos Soares Barbosa demonstrou o fôlego que
mantinham os charqueadores pelotenses, ainda na década de oitenta, quando se
aproximava a emancipação da população servil em Pelotas, e a própria, abolição da
escravatura no Brasil. O espaço da charqueada, de Barbosa, repetia o que,
sucessivamente, apresentavam as charqueadas do Monte Bonito. Consolidava-se
continuadamente a tipologia de distribuição físico/espacial das fábricas pelotenses.

Atoladouro

No Atoladouro, encontrava-se a segunda charqueada de Cipriano Rodrigues


Barcellos. Ele recebeu as terras de seus sogros, Luís Pereira da Silva e Eugênia da
Conceição, como “cabeça de sua mulher”, Rita. Quando da morte de Luís, a viúva
recebeu cinco datas na margem direita do Pelotas, [FIG. 31] determinando o campo do
segundo inventário. Em 15 de janeiro de 1829, para separação dos quinhões, Cipriano
solicitou a revisão dos autos da medição de exame. Nessa ocasião, definiram-se 91,3ha.
DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA 151

A charqueada passou ao genro de Cipriano, Domingos Pinto de Figueiredo


Mascarenhas. Depois, sucessivamente, pertenceu a Vicente José da Mota, José da Costa
Bezerra, Jacinto Antônio Lopes e Manuel Rafael Viera da Cunha. Em 1907, passou a
Alberto R. Rosa, que foi sócio do cel. Pedro Osório, na fundação da charqueada
Tupanciretan. [MARQUES, 1987: 99]
Um dos donos da charqueada do Atoladouro, Jacinto Antônio Lopes, tivera
onze filhos. O que recebeu o nome do pai era casado com Maria Salomé Chaves, filha
de João Maria Chaves e neta de Antônio José Gonçalves Chaves. Por isso, Jacinto
Antônio Lopes Filho foi herdeiro da charqueada São João, que ficava a poucos metros
do estabelecimento de seu pai e que, primeiramente havia pertencido a Antônio José
Gonçalves Chaves.
A charqueada do Atoladouro compreendia: casa de sobrado, para moradia;
galpão; graxeira; todos os terrenos adjacentes, que confrontavam, a leste, com o arroio
Pelotas; junto à estrada do Passo dos Negros, com Manuel Batista Teixeira; ao sul, com
herdeiros de José da Silva Maia, e, ao norte, com João Gonçalves Lopes. [FIG. 32 e 33]
Em 1885, um ano depois da emancipação dos escravos, Jacinto Antônio Lopes contava
com o serviço obrigatório, por mais cinco anos, de 12 trabalhadores. O inventário
constatou a locação de 31 ex-escravos. [INVENTÁRIO de Jacinto Antônio Lopes.
Pelotas, nº 1028. M. 58. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria. 1885]

Boca do Arroio. Manuel Soares da Silva

Na Boca do Arroio, o estabelecimento pertencia a Manuel Soares da Silva, que


o passou a seu genro Antônio José da Silva Maia, e, este, a seu filho Bernardino Maia.
“Foi depois de Felix A. Gonçalves, que a deixou a Jacinto Guedes, que a
vendeu à Cia. das Obras da Barra Geral, para instalação do serviço de
embarque de pedras, destinadas às suas construções. A charqueada foi
demolida.” [MARQUES, 1987: 99]
O tenente-coronel Manuel Soares da Silva, nascido no Estreito, em 1771, era
filho do coronel Simão Soares da Silva, natural de Rio Grande, e da rio-grandina
Joaquina Rosa do Nascimento. Eram seus avós paternos Páscoa [Maria] do Espírito
Santo, da Colônia do Sacramento, e Manuel Soares de Braga, de Portugal; e seus avós
maternos, o guarda-mor João Antunes Porciúncula e Josefa Maria Barbosa. Em 1798, o
tenente-coronel casou com Clara Barbosa de Menezes, que havia sido batizada em
Triunfo, no ano de 1778.
Era filha do tenente José de Sampaio e de Cristina Barbosa de Menezes. No
ano de 1813, em Pelotas, Clara Barbosa de Menezes deu a luz a Bernardina Soares da
Silva, que, aos 19 anos, casou com o português Antônio José da Silva Maia, nascido em
1802, na cidade do Porto, filho de Custódio Domingues e de Tereza Maria de Jesus.
Bernardina e Antônio José tiveram 17 filhos. O décimo segundo, Cristóvão da Silva
Maia, contraiu matrimônio com Ana Prudência Barcellos, filha de Ana Correia e do
conhecido charqueador das redondezas, Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos. O
tenente-coronel Manuel Soares da Silva e sua mulher, Clara Barbosa de Menezes, foram
152 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

pais também de Clara, casada com Antônio de Castro Antiquera. [RHEINGANTZ,


1979: 331, 336 e 337]
Manuel Soares da Silva deixou poucos escravos, eram nove mulheres e quatro
homens. No ano de 1850, quando realizaram o seu inventário, a charqueada não estava
em atividade. As propriedades do tenente-coronel eram as seguintes: um terreno,
abrangendo a propriedade de casas térreas, onde existia o estabelecimento de
charqueada que pertenceu ao casal, de 506m de frente norte, pelo arroio de Pelotas,
contados do lugar onde o arroio faz barra, e 777m de fundo sul, que correm pela
margem do São Gonçalo, até encontrar um valo; uma propriedade de casas térreas com
seis portas de frente, edificadas no terreno acima referido, com senzala e cozinha.
[INVENTÁRIO de Manuel Soares da Silva. Pelotas, nº 318, M. 22. E. 25, 1º Cartório
de Órfãos e Provedoria, 1850]
Faziam parte, ainda, da fábrica: um terreno de 563m, frente norte, pelo arroio
Pelotas; um terreno de 141m, a leste, pela margem do São Gonçalo, no lugar
denominado Passo dos Negros, com fundos de 44m, até a estrada junto à propriedade
que foi dada à herdeira Clara Antiqueira; o terreno litigiado com João Jacinto
Mendonça, contendo 191m de fundos. Também possuía meia data de matos, situada na
Serra dos Tapes, no lugar denominado Santo Antônio, com frente à picada que seguia
para Canguçu, e com fundos aos terrenos do comendador Cipriano Rodrigues Barcellos.
Seus bens imóveis na cidade, igualmente, limitavam com o comendador, constituindo-
se em uma propriedade de casas térreas, com quatro portas de frente, edificadas em
terrenos foreiros. [Id., Ib., s.p.]

Antônio José da Silva Maia

Antonio José da Silva Maia quando faleceu era proprietário de uma fábrica que
ficava na Boca do Arroio. Ao longo de sua vida, tivera um outro estabelecimento
charqueador, no São Gonçalo. Em 1884, ano da emancipação dos escravos em Pelotas,
realizou-se o seu inventário. Na descrição do saladeiro, os avaliadores anotaram os
serviços obrigatórios da população servil, escrevendo: “Um estabelecimento de
charqueada, na margem do arroio Pelotas e rio [canal] São Gonçalo, com casa de
moradia, potreiros e todos os escravos contratados, digo, e os serviços dos seus
escravos [...].” [INVENTÁRIO de Antônio José da Silva Maia. Pelotas, nº 995. M. 57.
E. 25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1884]
O plantel de Antônio José estava dividido: alforriados, cinco, todos com mais
de 48 anos; 61, com prestação de serviços, desses duas eram do sexo feminino, e uma
mulher, com cláusula de seis anos de trabalho obrigatório. A fortuna dos Maia
repousava naqueles bens chamados de raiz e no dinheiro que emprestava a juros.
Contaram 43 casas entre prédios térreos e sobrados; oito terrenos urbanos; duas
chácaras; um terreno no Capão do Leão; outro, na estrada do Fragata; uma casa, na rua
do Imperador, atual Felix da Cunha, onde estava montada uma fábrica de sabão e velas,
e, para completar a listagem dos imóveis, um terreno na estrada das Três Vendas, onde
existia um estabelecimento de olaria. Os bens móveis, ou semoventes, como eram
DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA 153

denominados, compunha-se de um iate, de nome Conceição Feliz e ações de três


companhias de seguros a Pelotense, a Confiança e a Fidelidade.
Antônio José da Silva Maia e a relação de seus bens representaram a situação
econômica dos charqueadores, bem sucedidos, dos anos oitenta do século passado. Ao
mesmo tempo, esses homens participavam da fábrica do charque, do comércio e de
operações financeiras. Diversificavam suas atividades. Nas últimas décadas do século
passado, parece ter aumentado o interesse nos negócios imobiliários urbanos e,
certamente, diminuído as compras de escravos.

Margem Norte do São Gonçalo

Na margem norte do canal instalaram-se em torno de uma dúzia de


charqueadas; as duas primeiras, a contar da Boca do Arroio Pelotas, pertenceram a João
Jacinto de Mendonça, localizando-se em terras que foram de Luís Pereira da Silva. As
charqueadas tiveram a seguinte sucessão:
“No Mendonça. Uma das charqueadas de João Jacinto Mendonça, que
passou à viúva, dona Florinda, esta ao seu genro Manuel Moreira, e este ao
conde Sebastião de Pinho. No começo do século pertencia aos filhos do
Barão Alves da Conceição.
No Mendonça. Outra charqueada de João Jacinto Mendonça, que coube a
seu filho; foi vendida a Honório Luís da Silva; deste passou a Porfírio da
Silva, e, depois, a Atalipa Borges. No início deste século era do Dr. Joaquim
A. da Assumpção.” [MARQUES, 1987: 100] [FIG. 32 e 33]
Em 1795, o capitão João Jacinto de Mendonça nasceu na Ilha Terceira dos
Açores, filho de André Mendonça e de Maria da Anunciada. No ano de 1816, casou
com Florinda Luíza da Silva, nascida em Rio Grande 23 anos antes, filha do sargento-
mor das ordenanças daquela cidade, José Tomás da Silva, e de Eulália Maria da Cunha,
da Colônia do Sacramento. [RHEINGANTZ, 1979: 210.] O sargento-mor tinha uma
charqueada, na mesma margem do São Gonçalo, em terras de Mariana Eufrásia da
Silveira. [AHRGS, L. 41: 33.] João Jacinto e Florinda Luíza tiveram 14 filhos, que, por
sua vez, armaram uma rede intrincada de casamentos com os filhos dos charqueadores
do lugar.
O herdeiro mais velho do casal, que nasceu um ano depois do casamento e
recebeu o nome do pai, foi proprietário da segunda charqueada, senador e avô de
Florinda Luíza de Mendonça França, chamada de Francinha, que, em 1863, contraiu
matrimônio com Antônio José de Azevedo Machado, filho do barão de Azevedo
Machado, dono da charqueada da Palma, da margem esquerda do Pelotas. Aos 53 anos,
o filho do nobre senhor contraiu segundas núpcias, com a prima de sua primeira mulher,
Clara de Azevedo Mendonça, de 31 anos, conhecida pelo nome de Mendoncinha, filha
de Alexandre Jacinto Mendonça e de Clara Maria de Azevedo e neta do comendador
Heleodoro de Azevedo e Souza, que tinha uma fábrica de salgar carne, no São Gonçalo.
[Id., Ib., 1979: 211 e 213]
Maria da Conceição Jacinto de Mendonça, a sexta filha de João Jacinto de
Mendonça e de Florinda Luíza da Silva, contraiu matrimônio com o jaguarense Manuel
154 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Francisco Moreira; herdaram a charqueada mais próxima do arroio Pelotas. O décimo


primeiro filho, Francisco de Paula Jacinto de Mendonça, desposou sua prima-irmã,
Maria Antônia da Cunha; que como seu avô, tiveram 14 filhos. [Id., Ib., 1979: 211]
Entre as filhas, três contrataram casamento com herdeiros de fabricantes da
carne salgada: Maria Francisca de Mendonça, casada, em 1880, com Joaquim Augusto
de Assumpção, filho do barão do Jarau, dono da charqueada da Costa, à margem
esquerda do arroio Pelotas, e proprietários, também, do segundo saladeiro de João
Jacinto de Mendonça; Joana Jacinto de Mendonça, que contraiu segundas núpcias com
o viúvo Miguel Rodrigues Barcellos, barão de Itapitocai, filho de Silvana Eulália de
Azevedo e de Boaventura Rodrigues Barcellos, reconhecido fabricante de carne salgada,
na margem direita do arroio Pelotas; Maria da Glória Jacinto de Mendonça, a mais
jovem de toda a prole, que desposou seu primo irmão, Heliodoro de Azevedo e Souza
Filho, cujo pai era dono do estabelecimento de salgar carnes, que ficava a poucos
metros das fábricas de Jacinto de Mendonça.

Contrato de Casamento e Propriedades

E, assim, sucessivamente, os enlaces formaram uma malha intrincada,


sobreposta, de propriedades e casamentos. Os matrimônios fortaleciam a classe dos
charqueadores, acumulavam riquezas e mantinham as propriedades. Os
estabelecimentos saladeiris, as datas de matos na Serra dos Tapes e os imóveis urbanos
permaneceram nas mãos de determinadas famílias, senhores de escravos. Na sua
maioria, os primeiros proprietários das terras foram militares, ou descenderam destes.
Grande parte passou pela Colônia do Sacramento. Eram soldados da Coroa, das
companhias de ordenanças, das forças locais. Alguns casaram suas filhas e sobrinhas
com portugueses, que, segundo parece, vinham fazer a vida no Brasil. Essa segunda
geração começou a receber título de nobreza; esses títulos eram atribuídos
principalmente, aos que possuíam, além do estabelecimento charqueador, extensas
sesmarias de terras. Aos simples fabricantes da carne salgada, restava a comenda, como
no caso das duas primeiras gerações brasileiras da família Rodrigues Barcellos.
Na margem norte do canal São Gonçalo e da sesmaria do Monte Bonito, entre
os arroios Pelotas e Santa Bárbara, instalaram-se perto de uma dúzia de fábricas de
charque, o Passo dos Negros e a cidade. Entre a Boca do Arroio Pelotas e aquele Passo,
situavam-se os estabelecimentos de Manuel Soares e de João Jacinto Mendonça. Bem
aí, iniciava a Estrada das Tropas, atual avenida São Francisco de Paula. Do outro lado
da Estrada das Tropas, ficava o saladeiro de Manuel Batista Teixeira. Do Passo dos
Negros até a cidade, nas margens do arroio Santa Bárbara, fixaram-se no mínimo nove
fábricas de salga.
Capítulo 19

PASSO DOS NEGROS

O Passo dos Negros foi descrito por Alberto Coelho da Cunha da seguinte
forma:
“As barreiras que o São Gonçalo, sob a denominação de sangradouro da
Mirim, opusera às primeiras expedições de exploração, haviam já desde
anos caído: ele fora seguido em todo o seu percurso, examinadas e
perscrutadas as suas margens, e nelas descobertas e investigados os pontos
de mais fácil vedação e que melhor se apresentassem a um serviço de
canoas. Antes de atingir-se o local em que, sobre ele, se abre a boca do
Pelotas, foi criado o passo conhecido por Passo dos Negros e que fora
aberto e se tornara popular sob a denominação de Passo Rico. Nele se
substituíra, desde logo, em favor da Coroa, o imposto de pedágio.[...]
Descoberta que foi esta porta, que dava a entrada à região desconhecida
que, com as datas da serra, se ia confundir e sumir para o interior da ainda
mal devassada Capitania, junto ao passo se formou o primeiro arraial do
distrito.” [CUNHA, 13/08/1928: s.p.] [FIG. 34]

O Lado Oriental do Passo dos Negros

As terras de Luís Pereira da Silva alcançavam até o Passo dos Negros. No


espaço compreendido entre a Boca do Arroio Pelotas e o Passo dos Negros, na margem
norte do canal São Gonçalo, instalaram-se as charqueadas de João Jacinto de Mendonça
e Manuel Soares. Em 1820, um plano do terreno do Passo foi apresentado pelo major
Manuel Soares. Era uma proposta de alinhamento de seis quarteirões. Ia até a divisa
com o capitão João José Teixeira Guimarães. O texto que acompanhava a planta da
povoação dizia o seguinte: “Plano do terreno pertencente ao sr. major Manuel Soares no
‘Passo Rico’, da divisa com o capitão João José Teixeira Guimarães, até onde na
verdade lhe pertencer.” [BPP, RPTMP, 93: 147] [FIG. 35]
156 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

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Figura 34 – Cópia reduzida da planta do Passo dos Negros. Biblioteca Pública Pelotense, Museu,
RPTMP, L. 93, p.147.

O Passo dos Negros foi uma das alternativas de implantação da cidade de


Pelotas. Em 1812, o primeiro loteamento urbano, em terras de Francisco Antônio dos
Anjos, fora reconhecido pelo príncipe regente dom João. Segundo parece, o mau cheiro
reinante, ocasionado pelos dejetos da produção saladeiril, a falta de segurança,
decorrente da proximidade com grande número de escravos, e a força política, resultado
da união do padre Felício com o charqueador Antônio Francisco dos Anjos, não
permitiram a implantação da cidade, no encontro do arroio com o canal.
PASSO DOS NEGROS 157

NORTE

Figura 35 – Cópia parcial e ampliada do mapa do Porto de S. Pedro do Sul e de parte do Rio São
Gonçalo, 1854. Biblioteca Nacional. Seção de Iconografia, ARC - 8-1-39.

O Lado Ocidental do Passo dos Negros

O terreno do capitão João José Guimarães deu origem à charqueada de Manuel


Batista Teixeira, fronteira ao Passo dos Negros, e a um estabelecimento contíguo a esse,
que pertenceu ao comendador Xavier Faria. Na margem norte do canal São Gonçalo, a
contar do Passo dos Negros, em direção oeste, até alcançar as margens do arroio Santa
Bárbara, fixaram-se em torno de dez charqueadas. Foram fundadores os seguintes
proprietários: João José Teixeira Guimarães, que deu origem aos saladeiros de Manuel
Batista Teixeira e do comendador Xavier de Faria; João Alves de Bittencourt; José
Gonçalves da Silveira Calheca; Manuel José Valadares; Manuel Francisco Moreira;
Heliodoro de Azevedo e Souza; Domingues Rodrigues e José Tomás da Silva. [FIG. 34]
Essa listagem difere da apresentada por João Simões Lopes Neto. O
pioneirismo na fabricação do charque, por parte do capitão João José Teixeira
Guimarães, pôde ser constatado quando das vendas da propriedade, assim como, nos
negócios de terras de Mariana Eufrásia da Silveira, apareceram os empreendimentos
saladeiris de Domingos Rodrigues e José Tomás da Silva e Companhia.
Em 22 de janeiro de 1835, os irmãos Tito José Teixeira de Araújo Guimarães,
Perpétua Teixeira Guimarães e Rosalia Clementina de Araújo, herdeiros de Antônia
158 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Margarida, viúva do capitão João José Guimarães, venderam a Manuel Batista Teixeira
um estabelecimento, sito no Passo dos Negros, com suas benfeitorias.
O terreno dividia, ao norte, com Damácio Vergara e a povoação do Passo dos
Negros. Limitava, pelo sul, com terrenos da viúva de José Inácio Xavier; pelo leste,
com o São Gonçalo e, pelo oeste, com Manuel Pinto de Morais. No registro,
textualmente, eram essas as dimensões: “[...] tendo a linha 171,6m até o alinhamento da
rua denominada Campo e seguindo o alinhamento [...] rumo nordeste [...] tem por este
rumo 204,6m [...].” [BPP, RPTMP, 93: 124 e 146]
Quase vinte anos antes, em 20 de agosto de 1815, o capitão João José Teixeira
Guimarães e sua mulher, Antônia Margarida Teixeira de Araújo, tinham vendido parte
da propriedade a João Nunes Batista e a Joaquina Maria da Silva, donos da estância,
charqueada e olaria do Pavão. Em 12 de março de 1821, o comendador Francisco
Xavier comprou as terras de João e Joaquina, e, na véspera do Natal do ano de 1833, o
comendador, sua mulher, sua mãe e irmãos maiores arrendaram a Tomás José de
Campos o saladeiro, com terrenos, casas de moradia, armazéns e demais utensílios. No
contrato, dizia:
“[...] sita na margem do São Gonçalo, entre os estabelecimentos dos
herdeiros do falecido Barbosa Lopes de Jesus, cujos terrenos pertencem à
própria charqueada fazendo fundos até as chácaras de Manuel Pinto de
Morais, João dos Martírio Torres e das irmãs dele outorgante arrendador
de baixo das seguintes condições: um conto e seiscentos mil réis a mais
pago no fim de cada ano; seis anos de contrato; [...]; que o potreiro
pequeno, que divide com os terrenos do falecido Barbosa Lopes de Jesus e
um quarto que serve de cocheira fica desanexado deste arrendamento [...].”
[APRGS, NOTAS e TRANSMISSÕES, L.1: 165]
Em 1842, o comendador Francisco Xavier, acompanhado da esposa, Gertudes
Xavier Faria, da mãe, Genoveva Maria de Jesus, e das irmãs, Maria Leopoldina Xavier,
Bernardina Inácia Xavier e Dorotéia Leopoldina, vendeu a Tomás José de Campos o
estabelecimento. A sudeste, limitava com o São Gonçalo; a nordeste, dividia com João
Martírio ou Manuel Batista Teixeira e, a noroeste, fazia divisa com Francisco Xavier
Faria e os herdeiros de Manuel Pinto de Morais. O terreno de Tomás José de Campos
possuía uma área de 81,7ha e tinha de largura um total de 572m; destes, 242m foram
comprados de Francisco Xavier Faria de João Nunes Batista; 300m, herdou de José
Inácio Xavier. [BBP, RPTMP, 93: 162]

Manuel Batista Teixeira

Na margem esquerda do São Gonçalo, a charqueada contava com casa de


moradia, galpão, dois armazéns, graxeira, com seus utensílios, e senzala, com uma
quinta ao lado. [INVENTÁRIO de Manuel Batista Teixeira. Pelotas, nº 579. M. 37. E.
25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1864] Na listagem dos bens de Manuel,
apareceu uma alternativa de implantação da senzala, junto ao pomar. Dois terrenos
compunham a fábrica. A casa de moradia, os prédios destinados à produção, a senzala e
a quinta compartilhavam do mesmo terreno.
PASSO DOS NEGROS 159

Essa área dividia, pelo norte, com terras dos herdeiros do finado Antônio de
Morais Figueredo Vizeu; pelo sul, com as do coronel Tomás José de Campos; pelo
leste, com o São Gonçalo e, a oeste, com a estrada que seguia para as outras
charqueadas. A outra área era o potreiro em frente ao mesmo estabelecimento, que se
limitava, ao norte, com a Estrada das Tropas, ao sul, com a Estrada da Costa, e, a oeste,
com a Estrada de Baixo, que segue para a Costa do arroio Pelotas. Na serra da Buena,
possuía um terreno, com 1.650m de frente, e outros tantos de fundos, que, a leste, era
fronteiro à estrada de Canguçu; e, na cidade, tinha uma morada de casas. Deixou dois
iates, poucos animais, muitas dívidas e 31 escravos. Em 1871, quando da relação dos
bens de Carlota Batista Teixeira, o plantel de cativos estava reduzido a 21 trabalhadores
servis. [INVENTÁRIO de Carlota Batista Teixeira. Pelotas, nº 733. M. 44. E. 25.
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871]

Virgínia Souza Campos

A segunda charqueada, a contar do Passo dos Negros, ou a quarta, a partir do


arroio Pelotas, pertenceu ao comendador Xavier Faria. O comendador passou a alugá-la
e, depois, acabou vendendo-a ao coronel Tomás José de Campos. Mais tarde, a fábrica
coube, sucessivamente, a Joaquim Rodrigues da Silva e a Antônio José da Silva Maia, o
mesmo que possuiu a charqueada da Boca do Arroio, que, primeiramente, era de
Manuel Soares da Silva. A relação dos bens de Virgínia, mulher de Tomás José de
Campos, deu conta também de uma fábrica de cola no estabelecimento, que foi descrito
com as seguintes palavras:
“Um terreno situado sobre a margem do rio [canal] São Gonçalo, com
572m [o que confere com o processo de medição da propriedade] de frente
ao mesmo rio, e fundos, até encontrar a estrada que desta cidade segue para
a Costa, junto a lomba em que estão edificadas as propriedades e
estabelecimentos de charqueada que abaixo segue: uma propriedade de
casas de sobrado com cozinha e cocheira; uma outra propriedade de casas
térreas, com paredes de tijolos; os e coberta de telhas.
Estabelecimento de charqueada: um galpão que serve de salgar couros, e
outros utensílios, onde está colocada a graxeira a vapor; um outro galpão
que serve de depósito, onde está colocada a fábrica de fazer cola; uma
máquina de apurar graxa por vapor contendo um cilindro, duas tinas, e
todos os utensílios com que está a trabalhar; os utensílios completos de uma
fábrica de cola; uma estrada de ferro que nasce da margem e acaba junto
aos galpões, que serve para conduzir os gêneros ao embarque e a vivenda.”
[INVENTÁRIO de Virgínia Souza Campos. Pelotas, nº 331. M. 23. E. 25, 1º
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1851]
Completavam o rol dos imóveis mais um campo, situado na margem direita do
São Gonçalo, que foi parte da fazenda denominada O Rincão Bravo, com duas casas
pequenas cobertas de capim; uma data de matos situada na serra dos Tapes, no lugar
chamado arroio Pimenta, e um terreno no Monte Bonito.
Elaborada em 1851, a relação dos bens de Virgínia reforçou a presença da
máquina a vapor. Cada vez mais, a enumeração dos inventários comprova a utilização
160 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

desta tecnologia, pelo menos, desde o final da primeira metade do século passado. A
presença da fábrica de fazer cola representou uma sofisticação dos subprodutos do gado,
um aperfeiçoamento da técnica e da mão-de-obra. Porém, entre os 65 trabalhadores
servis, nenhum tinha a profissão de graxeiro. O plantel distribuía-se entre as seguintes
profissões: campeiros, três; carneadores, 15; salgadores, três; serventes, 19; cozinheiros,
dois; marinheiros, 13; carpinteiros, dois; pedreiros, dois. Somavam-se a esses, seis
cativos sem profissão.
Este último grupo era composto por quatro mulheres, uma criança e um cego.
Certamente, era um conjunto de pessoas que ficava marginalizado nas tarefas que
compunham o processo de produção do charque e de seus derivados.
A estrada de ferro garantia uma melhora nas condições de trabalho,
possibilitando o embarque dos produtos. Essa facilidade deveria existir, para transportar
os grandes pedaços de carne, da cancha, local onde os animais eram esfolados e
esquartejados, para os galpões, lugar da desossa, retalhamento e salgação. Segundo
parece, o número elevado, de marinheiros, em relação ao plantel dos outros
charqueadores, justificava-se pela presença, nos bens da senhora Virgínia Campos, de
uma escuna, de nome Primavera, de 41,1t, e um iate, já muito velho, denominado Dois
Irmãos, de 20,6t.
Posteriormente, a charqueada pertenceu a Joaquim Rodrigues da Silva e a
Antônio da Silva Maia. Em 1884, quando ocorreu a emancipação dos escravos em
Pelotas, Maia teve seus bens inventariados. Esse estabelecimento não estava mais em
suas mãos, tendo permanecido com a charqueada da Boca do arroio Pelotas, que herdara
de seu sogro, Manuel Soares. Significativo foi o número de imóveis urbanos deixados
por esse charqueador: 44 prédios, entre térreos e sobrados. Paralelamente, na contagem,
os trabalhadores estavam assim distribuídos: alforriados, 5, todos com mais de 48 anos;
60, com prestação de quatro anos de serviço, sendo dois do sexo feminino, e mais uma
mulher, com cláusula de seis anos. [INVENTÁRIO de Antônio José da Silva Maia.
Pelotas, nº 995. M. 57. E. 25, Cartório de Órfãos e Provedoria. 1884]
Vizinha a essa fábrica, ficava a que pertenceu a João Alves de Bittencourt,
barão de Serro Alegre e ao filho deste, barão de Santa Tecla, que se chamava Joaquim
da Silva Tavares. Depois, vinha o estabelecimento de José Gonçalves da Silveira
Calheca. Na parte interior dessas terras, quando propriedade de Francisco Antônio dos
Anjos, foi realizado o primeiro loteamento da cidade de Pelotas.

Da Cidade ao Arroio Santa Bárbara

Na margem, entre a fábrica de Calheca e a margem esquerda do arroio Santa


Bárbara, onde terminava a sesmaria do Monte Bonito, João Simões Lopes Neto arrolou
mais três estabelecimentos. A esses acrescentamos mais dois, em terras de Mariana
Eufrásia da Silveira. O autor listou as fábricas que seguem:
“Manuel Rodrigues Valadares, passou ao filho de igual nome; aos herdeiros
deste; pertence a Intendência Municipal.
Manuel Francisco Moreira, passou a Felisberto José Gonçalves Braga,
deste ao visconde da Graça, deste ao genro Alfredo A. Braga.
PASSO DOS NEGROS 161

Heliodoro de Azevedo e Souza; passou ao sindicato Moreira & Cia; é hoje


área urbana loteada.” [LOPES NETO, s.d.: 155]
Junto à margem direita do arroio Santa Bárbara, anotou a charqueada de José
Vieira Vianna, com estabelecimento de olaria e fábrica de sabão. Os saladeiros
localizados no Sangradouro da Mirim, seguiam a mesma tipologia de distribuição
espacial dos situados na margem direita do arroio Pelotas. Portanto, na sesmaria do
Monte Bonito, configurou-se uma única tipologia, com toda a infra-estrutura de apoio
que lhe era necessária.
.
Capítulo 20

AS CHARQUEADAS E O PRIMEIRO LOTEAMENTO

A propriedade de José Gonçalves da Silveira Calheca deu origem a uma parte


da cidade e a uma charqueada. Iniciou com a venda de meia data de terras, que
correspondia a 330m de frente por 4.136m de fundos. Como a data não tinha o fundo
competente, ficou com 446,6m de frente. Esse foi o resultado da venda realizada em 14
de janeiro de 1790, entre José Antônio de Souza e sua mulher Quitéria Maria e o
comprador Antônio José de Souza. Fazia fundo com o banhado do Arroio Santo André,
Santa Bárbara, e frente com o sangradouro da Mirim, canal São Gonçalo. Em 16 de
novembro de 1798, Miguel José Lara arrematou em praça este terreno. Em 4 de
fevereiro de 1799, Miguel José Lara fez venda a José Gonçalves da Silveira Calheca.
[BPP, RPTMP, 93: 144] [FIG. 36]
Pelo menos quatro transações de terras foram efetuadas na propriedade de
Calheca e seu entorno. Em 3 de junho de 1828, Antônio Ferreira Vianna, casado com
Senhorinha da Silveira Vianna, filha de Calheca, comprou de Serafim José Rodrigues
de Araújo, que tinha herdado de seu pai, Antônio José Rodrigues de Araújo, um terreno
com 55m de frente ao canal e com 1760m de fundos. Dividia ao sudeste com o
comprador, pelo nordeste com a irmã Eulália do Nascimento. [BPP, RPTMP, 93: 122]
Em 12 de janeiro de 1843, Antônio Ferreira Vianna vendeu a Alexandre Viera
da Cunha e José Inácio da Cunha um terreno de 184,8m de frente ao canal e fundos até
a rua das Fontes, hoje, alm. Barroso, sendo 129,8m que herdou de seu sogro Calheca e
55m que comprou de Serafim Rodrigues de Araújo. “Em 10 de junho de 1844
Alexandre Viera da Cunha e sua mulher Maria Leopoldina da Silva fizeram venda a
José Inácio da Cunha da metade de uma fábrica de charqueada com todos os edifícios
mais terras próprias e utensílios.” [BPP, RPTMP, 93: 122]
Calheca, era natural do Estreito. Em primeiras núpcias, casou com Florência
Maria do Pillar, também do Estreito. Depois, casou com Felícia Maria da Conceição.
Quando de sua morte houve disputa com as herdeiras do matrimônio, respectivamente
Maria de Santana da Silveira Calheca, casada com o português Manuel Rodrigues
Valadares e Senhorinha da Silveira Calheca, esposa de outro lusitano, João Ferreira
Vianna, nascido em São Martinho, termo de Valadares.
No inventário de Calheca, realizado em 1820, a propriedade onde estava
localizada a charqueada tinha 475,2m de frente ao canal São Gonçalo. Dividia pelo
leste, com o arroio; pelo sudeste e oeste com os herdeiros do capitão Inácio Antônio da
Silveira, pelo noroeste, com o capitão Antônio Francisco dos Anjos, pelo nordeste, com
164 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

a viúva Bárbara Lopes de Jesus, cujo lado media 1.861m. No terreno estava construída
uma morada de casas, de paredes de tijolo e coberta de telha com sua cozinha e um
armazém de colher trigos. Com cobertura de capim, existia uma casa velha, com sua
tafona e seus pertences; um galpão de charqueada; dois ranchos; dois galpões de olaria,
com seu forno, nas margens do São Gonçalo. E, para completar a listagem das
benfeitorias, um curral velho de madeira. Além da charqueada Calheca possuía três
datas de matos, na estrada de Canguçu, quatro léguas de campo divididas em diferentes
lugares. Ao todo, era senhor de 30 escravos. [APRGS, INVENTÁRIO de José
Gonçalves da Silveira Calheca. Pelotas, nº 56. M. 5. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria. 1820]
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Figura 36 – Localização charqueadas e 1º loteamento. Base principal no RPTMP, do museu da BPP.

A descrição dos bens de raiz do inventário de José Inácio da Cunha realizado


em 1865, dizia que o terreno ía até a rua das Fontes, atual alm. Barroso, dividia, a oeste,
AS CHARQUEADAS E O PRIMEIRO LOTEAMENTO 165

com o estabelecimento da viúva e herdeiros do falecido Manuel José Rodrigues


Valadares, por leste, com Maria Joaquina Rodrigues. Nessa época, trabalhavam na
charqueada 109 escravos. Possuía uma porção de campo, no Estado Oriental,
Departamento de Taquarenbó, que fazia parte da estância de Jaguari; cinco imóveis
urbanos, em Pelotas; três terrenos rurais em Canguçu, um outro, no distrito da Buena e
uma data de matos na frente da de Cipriano Rodrigues Barcellos. Antes de morrer, já
tinha distribuído, entre seus herdeiros, dinheiro, escravos, terras. [APRGS,
INVENTÁRIO de José Inácio da Cunha. Pelotas, nº 60. M. 38. E. 25, 1º Cartório de
Órfãos e Provedoria. 1865]

A Cidade

Parte da sede do atual município de Pelotas resultou de uma fração das terras
de José Gonçalves da Silveira Calheca. Em 10 de outubro de 1806, José Aguiar Peixoto
e sua mulher, Ana Leocárdia da Cunha, venderam um terreno, que tinham comprado de
Calheca, a Antônio Francisco dos Anjos. Dividia ao sudoeste com terras que foram do
falecido Francisco Pires Cazado, ao nordeste com João José Teixeira Guimarães, ao
sudeste com um capão que servia de fundos à Orta e, ao noroeste, com a estrada que ia
para o Monte Bonito, onde existia um banhado de inverno. Os vendedores reservaram
para si o campo que ficava entre esse banhado e as divisas do falecido João Antônio
Pereira Lemos. [BPP, RPTMP: 92: 9]
Chamaram a freguesia de São Francisco de Paula, em homenagem ao santo do
dia da expulsão dos espanhóis, 2 de abril de 1766. A freguesia foi formalizada através
de dois procedimentos: Resolução de Consulta da Mesa de Consciência e Ordens, de 31
de janeiro de 1812, e o alvará do príncipe regente dom João, de 7 de julho do mesmo
ano. [MOREIRA, 1988: 53]
Três correntes de opiniões se levantaram sobre a localização da sede de São
Francisco de Paula. Uma delas indicava o lugar hoje conhecido como Laranjal, nas
terras de Isabel Francisca da Silveira [irmã de Mariana Eufrásia]: fora defendida por
Antônio Soares de Paiva e Domingos de Castro Antiquera. A outra tendência estava
representada pelos seguintes interessados: sargento-mor José Tomás da Silva, capitão
Domingos Rodrigues, João Pereira Vianna e José Gonçalves da Silveira Calheca,
auxiliado por seus genros Manuel Rodrigues Valadares e José Antônio Ferreira Vianna.
Estes davam preferência ao declive da lomba fronteira à várzea, que vai ao
encontro do São Gonçalo. E Boaventura Rodrigues Barcellos apoiava o capitão-mor
Antônio Francisco dos Anjos. Discutia-se sobre os locais menos inundáveis ou a
possibilidade de implantação de um porto. O padre Felício Joaquim da Costa foi
escolhido por seu tio, padre doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, vigário de Rio
Grande, para advogar, junto à Corte do Rio de Janeiro, as pretensões dos moradores da
margem norte do São Gonçalo.
A localização da cidade era defendida conforme essas pessoas estivessem
vinculadas à posse da terra. Interessava que a sede da cidade estivesse implantada
dentro ou no entorno de suas propriedades ou concessões. Em fevereiro de 1813, o
capitão-mor Antônio dos Anjos e o vigário Felício entraram num acordo e começaram
166 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

as construções da casa do vigário e da igreja no lugar onde hoje se localiza a catedral.


Naquele mesmo ano, a igreja era inaugurada, marcando a povoação que ali iria se
desenvolver. [CUNHA, 28/08/1928: s.p.]
Antônio Francisco dos Anjos era detentor de uma carta de don João, por graças
de Deus, senhor do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, com o seguinte teor:
“Faço saber aos que esta previsão virem, que o capitão-mor Antônio
Francisco dos Anjos, me apresentou, que, possuindo no distrito de Pelotas
na capitania de São Pedro do Sul, um terreno de 578,6m de frente, deu de
ele o necessário para a edificação da igreja da nova freguesia de São
Francisco de Paula, átrio e casas do vigário, arrecadou e aforou em terno
para se edificarem casas, algumas a razão de 320 réis a braça [2,20m] por
ano a várias pessoas que para isto o rogaram e porque alguns de estes
arrendatários nem querem reduzir o escrito naquele contrato, nem pagar-
lhe o arrendamento ou foro, me pedia que, para evitar pleitos, lhe fizesse a
graça de autorizar de pretérito e de futuro estes contratos, reduzindo-se eles
o escrito e podendo sem disputa original receber suas pensões do ajuste e
visto seu requerimento e informações que sobre ele mandei tomar pelo
ouvidor da comarca com audiência com os suplicados e o que sobre tudo
respondeu o desembargador procurador da minha real coroa e fazenda e
não merecendo atenção alguma as [ilegível] dos suplicados, nem as
imputações e recriminações que objetam contra o suplicante, sou servido
conceder-lhe o que pede, para que possa aforar o sobredito terreno [...].”
[BPP, RPTMP, 93: 9] [FIG. 37]
Antônio Francisco dos Anjos, padre Felício Pereira e o tio deste, padre-doutor
Pedro Pereira de Mesquita, eram vizinhos, amigos e originários da Colônia do
Sacramento. Na sua charqueada, no arroio Moreira, ou Fragata, Antônio dos Anjos
acolheu o padre doutor no fim da sua vida, sendo testemunha de seu testamento. Com
Felício acordou construir a igreja e a morada do religioso. “Porém, a doação apôs uma
condição: que lhe fosse permitido aforar os terrenos em volta, nos quais começaria a
crescer o casario da nova freguesia.” [NASCIMENTO, 1989: 37] A medição e o
loteamento xadrez foram realizados pelo piloto Maurício Inácio da Silveira. O primeiro
loteamento da cidade possuía 52,8ha. [BPP, RPTMP, 92: 10] [FIG. 37] “Mais tarde
quando o engenheiro Eduardo Krestckmar traçou a planta da cidade, nada mais fez do
que seguir o plano que delineou a freguesia, como tem acontecido até hoje.”
[MOREIRA, 1988: 71] [FIG. 38]
As concessões continuavam. Em 2 de julho de 1813, o governador da capitania
de São Pedro do Sul, don Diogo de Souza, fez mercê a Mariana Eufrasia da Silveira de
um terreno que se dividia, ao sudeste, com o São Gonçalo, pelo noroeste, e sudoeste
com o Santa Bárbara, pelo nordeste com José da Silveira Calheca e José Aguiar
Peixoto, fazendo a figura de um triângulo oblíquo. “[...] cujo terreno tem na sua maior
largura 1.848m e no seu maior comprimento 2.948m.” [BPP, RPTMP, 93: 1]
Mariana Eufrásia da Silveira era sogra, cunhada e agregada do terceiro
proprietário da sesmaria do Monte Bonito, o alferes Ignácio Antônio da Silveira
Cazado. Um mês e dois dias depois da doação, a 6 de agosto de 1813, Mariana solicitou
ao governador licença para vender terrenos das charqueadas. Explicava que o finado seu
marido, capitão-mor das ordenanças Francisco Pires da Silveira, tinha concedido licença
para Tomás José da Silva e companhia e o capitão Domingos Rodrigues levantarem
uma charqueada. Alegava não poder pagar as benfeitorias, lembrava o recolhimento do
AS CHARQUEADAS E O PRIMEIRO LOTEAMENTO 167

Real Imposto da Décima e a conveniência da manutenção dos estabelecimentos naquele


lugar. [AHRGS, L. 41: 3]
Em 1818, Luzia Ferminiana do Pillar inventariou os bens do seu marido,
Domingos Rodrigues. Nessa ocasião, a charqueada componha-se de um terreno situada
na margem do São Gonçalo, de 600m X 600m.
Nesse local, estavam construídos uma morada de casas térreas, coberta de
telhas, paredes de tijolos, forradas e assoalhadas; um armazém de despejo, também, de
paredes de tijolos e coberto de telhas, mas, ladrilhado; um galpão, do estabelecimento
de charqueada, com todos os seus pertences, coberto de palha; currais; varais; mais
oficinas. Nesse espaço, cinqüenta escravos trabalhavam na fábrica capitão. [APRGS,
INVENTÁRIO de Domingos Rodrigues. Pelotas, nº 32. M. 02. E. 25, 1º Cartório de
Órfãos e Provedoria. 1818]

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Figura 37 – Cópia reduzida da primeiro loteamento de Pelotas. Biblioteca Pública Pelotense, Museu,
RPTMP, L.92, p.9.
168 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Segundo Loteamento

A doação estava condicionada à obrigação de ceder terrenos necessários ao


serviço público. As terras de Mariana Eufrásia deram origem ao segundo loteamento da
cidade. Em 7 de novembro de 1827, Inácio Antônio Pires inventariante dos terrenos do
casal Capitão Francisco Pires Cazado e Mariana Eufrásia da Silveira, procedeu à
entrega dos terrenos doados para servidão do povo de Pelotas, a saber:
“[...] os terrenos doados para a nova igreja, junto a praça de uma quadra
[entre os becos conde de Piratini e Ismael Soares]; os terrenos doados para
praça da povoação, de 176m em quadro [praça da Regeneração, atual,
praça coronel Pedro Osório]; 44m de frente por 44m de fundo doadas a
nação para quartel e hospital [Prefeitura Municipal, Biblioteca Pública
Pelotense e Escola de Agronomia Eliseu Maciel, hoje, Instituto de Ciências
Humanas da Universidade Federal de Pelotas]; 44m de frente, com 44m de
fundo [hospital Santa Casa] [...] e a estrada dos gados [rua barão de Santa
Tecla].” [BPP, RPTMP, 93: 3]
A cidade implantou-se em um terreno plano, de mata pantanosa e linhas de
areia. “Provam isto a areia fina e solta nas ruas e nos caminhos, as moitas e cercas
desordenadas de bromelia, ananás [...] o tapete baixo e pisado das ciperácias da areia
e as pequenas poças, que representam uma espécie de banhado [...]”. [LINDMAN,
1974: 66] Foram herdeiros de Mariana Eufrásia da Silveira:
“Rosália Francisca Pires casada com Manuel Ravelo Paiva; Manuel
Marcelino Pires Cazado; Francisca Joaquina da Silveira; Joaquina
Francisca da Silveira; Isabel Francisca da Silveira; Maria Eufrásia; alferes
Antônio Inácio Pires; Maurícia Inácia da Silveira casada com o capitão
Inácio Antônio, já falecidos; Joana Margarida casada com Baltazar Gomes
Vianna.” [BPP, RPTMP, 93: 6]
Os da Silveira foram os grandes proprietários de terras na sesmaria do Monte
Bonito e no rincão de Pelotas. Os patriarcas da família, poderiam ter chegado como
imigrantes paupérrimos e tido o seguinte percurso:
“[...] um rei de Portugal fizera do fidalgo flamengo Joz de Utra, donatário
da ilha do Faial. Acompanho-o o compatriota Guilherme van der Haagen,
de sobrenome logo simplificado para da Silveira e casado com a ilhoa
Margarida Azambuja. Com larga descendência no arquipélago, foram eles o
tronco dos Silveiras que vieram colonizar o Rio Grande do Sul.”
[NASCIMENTO, 1989: 9]
O alferes Antônio Furtado de Mendonça e sua mulher Isabel da Silveira vieram
da Ilha do Faial com a primeira leva de casais, ou, possivelmente, a história desses
Silveiras tenha sido outra. Descendem de Mateus Inácio Silveira, passaram por São
Paulo e fixaram-se no sul, muito antes que os casais açorianos. [Fortes, 1978: 57]
Chegaram com cinco filhas e dois filhos: Maria Antônia, Mariana Eufrasia, Isabel
Francisca, Joana Margarida, Ana Inácia, Antônio e José Inácio. Realizaram bons
casamentos. Isabel Francisca contraiu matrimônio com o grande posseiro capitão-mor
Bento Manuel da Rocha. Entre suas propriedades constava a sesmaria de Pelotas.
Mariana Eufrasia casou sua filha Maurícia Inácia da Silveira com seu cunhado e
proprietário da sesmaria do Monte Bonito, o alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado.
AS CHARQUEADAS E O PRIMEIRO LOTEAMENTO 169

Ela própria, Mariana, recebeu mais ou menos 315ha. Na sesmaria do Monte Bonito, os
da Silveira possuíram terras urbanas e rurais. Os Rodrigues Barcellos foram os grandes
proprietários dos terrenos marginais de charqueada.

Figura 38 – Planta da cidade de Pelotas, 1835. Prefeitura Municipal de Pelotas. Secretaria Municipal de
Urbanismo e Meio Ambiente.
.
Capítulo 21

LOGRADOURO PÚBLICO. TABLADA

“As últimas sobras, as que ainda sobejam, em 19 de agosto de 1825, foram


pelo Conselho Administrativo da Província, adjudicadas à freguesia de São
Francisco de Paula para Logradouro Público da povoação.” [CUNHA,
14/09/1928: sp.]
A Tablada, como foi chamado o lugar para onde o gado era trazido para ser
comercializado, representou uma melhoria no processo de produção da carne salgada. O
charqueador não precisava mais arriscar-se em viagens para comprar o gado, podia
escolher, pechinchar, etc. Todo esse comércio de gado impulsionou o crescimento do
núcleo urbano que se formava. Fazendeiros, depois de realizarem suas vendas, peões,
após receberem por seu trabalho, iam para a cidade. Provavelmente retornassem só no
próximo ano. Era preciso fazer as compras necessárias, procurar os serviços de que
careciam e buscar algum divertimento. Exportava-se charque, couro, graxa, etc.
Importavam-se além do sal e escravos todos os produtos que atendessem a esse
comércio e ao gosto rebuscado dos charqueadores locais. O Logradouro Público, a
Tablada foi estabelecido em 1825. Só teve a sua medição realizada em 1851. Deveria
limitar-se com o leste da fazenda do Monte Bonito e os terrenos das charqueadas do São
Gonçalo e arroio Pelotas.
Em 5 de dezembro de 1827 Mariana Angélica do Carmo fez venda de um
terreno, que recebeu de herança de seus falecidos pais, da fazenda do Monte Bonito. A
terra estendia-se por quase toda o comprimento do Logradouro. Metade negociou com
Antônio José Gonçalves Chaves e, a outra, vendeu a Boaventura Rodrigues Barcellos. O
terreno limitava na parte oeste, pela estrada do Retiro, no sul e no leste, com a sesmaria
de seu pai, Inácio Antônio da Silveira, e, no norte, com seu irmão, Alexandre Inácio
Pires. [BPP, RPTMP, 98: 142 E. 186]
Proprietários de terrenos avançaram sobre o Logradouro Público. Este estava
situado no centro da planície que separa os arroios Santa Bárbara e Pelotas. Por um
desnível imperceptível, drenava as águas para os dois arroios. Não tinha matos, arroios e
lagoas e criava abundante e bom capim. “Seu maior comprimento são 8.659,2m e sua
maior largura 1.980m e 1.430m a menor. Superfície é 1.428,8ha.” [APRGS,
MEDIÇÃO. Logradouro Público. Pelotas, nº 609. M.15. E.33. 2º Cartório do Civil e do
Crime. 1825]
172 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

O extrato da medição, realizada em abril de 1852, dizia o seguinte:


“Principia no marco que existe na estrada para o Monte Bonito e que divide
as chácaras de José Vieira Vianna e Maria de Sá e corre 8.718,6m a 21º
nordeste [rumo magnético do ano de 1827]. Dividindo com a fazenda do
Monte Bonito que hoje pertence a José Alves Candal, Eliseu Antunes
Maciel, Henrique Francisco, herdeiros de Antônio José Gonçalves Chaves,
Manuel Marques de Souza, Boaventura Rodrigues Barcellos e Manuel da
Silveira Avila. De este ponto segue na extensão de 1.540m rumo sudeste
magnético proximamente pelos fundos dos terrenos de Manuel Ravelo
Paiva, Manuel Manuel da Silveira Avila e Serafim de Souza Pacheco. [...]
De aí segue a sudoeste em ziguezague pelos fundos dos terrenos de José
Domingos, João Alano Domingos de Castro Antiquera, José Rodrigues
Barcellos, Vladistas Correia, herdeiros de Boaventura Inácio Barcellos,
herdeiros de José Teixeira, herdeiros de João Francisco de Souza, José
Rodrigues Candiota, João Vinhas, Luís de Azevedo e Souza, Boaventura
Rodrigues Barcellos, Inácio Rodrigues Barcellos, Cipriano Joaquim
Barcellos, Bernardino Rodrigues Barcellos, Domingos José de Almeida,
Antônio Antunes Porciúncula, Manuel Portugal Guimarães, Joaquim
Riveiro Lopez da Silva, Dr. Maia, Domingos Mascarenhas, José Galdino da
Fontoura, Felipa Francisca de Sá M. Basques, João Coelho e Cipriano
Rodrigues Barcellos, até um marco perto da casa de moradia de Exequiel
Soares. Logo continua ao rumo de 56º noroeste por um valo de José
Teixeira Pinto Ribeiro até a estrada do Monte Bonito. Na frente da casa de
Maria de Sá, rumo magnético 15º noroeste [402,6m] até o ponto de
partida.” [APRGS, MEDIÇÃO. Logradouro Público. Pelotas, nº 609. M.12.
E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1825] [FIG. 39]
Após a comercialização, o gado seguia direto para os potreiros das
charqueadas. De potreiro em potreiro, os animais chegavam à mangueira de matança,
para o abate. O logradouro público integrava o próprio espaço da produção da carne
salgada. Para os estabelecimentos que não eram contíguos à Tablada, existia uma
estrada, por mandato da Câmara, na parte central do lado leste, ensaibrada na sua maior
parte, que dava saída ao gado para os saladeiros do São Gonçalo e Pelotas.
Também por ordem da Câmara, outra estrada cortava Tablada, na parte central
do lado oeste, para dar entrada às tropas de gado rumo à praça do logradouro. Ao sul, o
logradouro público aproximava-se a 440m da última rua norte da planta da cidade e
passava pela estrada do Monte Bonito, do matadouro público e do passo de Retiro.
“É um campo aberto, pois até hoje só aparecem fechados os valos na parte
que se aproxima a cidade, as testadas de José Teixeira Pinto Ribeiro, dona
Maria de Sá, José Alves Candal, Eliseu Antunes Maciel, Enrique Francisco,
Manuel Marques de Souza, e do lado oposto, desde Domingos José de
Almeida até Luís de Azevedo e Souza, as quais fazem a soma de 3.520m. Sua
extrema ao sul 440m a última rua norte da planta da cidade, e passam pela
mesma extrema a estrada do Monte Bonito e a do matadouro público; pelo
extremo norte passa a estrada para o passo do Retiro.” [APRGS,
MEDIÇÃO. Logradouro Público. Pelotas, nº 609. M.12. E.33, 2º Cartório do
Civil e do Crime, 1825]
“Uma das mais características e ao mesmo tempo mais selvagens e
interessantes vistas de Pelotas é a Tablada.” Escreveu o naturalista norte-americano
Herbert Smith, em 1882.
LOGRADOURO PÚBLICO. TABLADA 173

“Chama-se assim um descampado extenso e quase liso, onde de dezembro a


maio se vendem as manadas que chegam. Algumas trazem quinze dias de
viagem. Pode haver aqui ao mesmo tempo uma vinte datas, cada uma de
centenas de cabeças; rudes gaúchos, vestidos com a habitual camisa de chita,
ceroulas fofas ou bombachas e ponchos riscados, galopam em todas as
direções, conservando os animais nos lugares e impedindo que se misturem as
tropas; o gado, cansado de longo caminho e espantado da cena estranha,
conserva-se junto, movendo os chifres e urrando em tom de queixume. Os
donos das charqueadas movem-se rapidamente aqui e ali em belos cavalos,
examinando as várias tropas, calculando-lhe o valor com rapidez e precisão
admiráveis e fechando os negócios as pressas com estancieiros e peões. O
mercado é sempre ativo, porque a concorrência é muito forte entre os vinte ou
trinta charqueadores; em geral as boiadas inteiras estão vendidas em pouco
tempo depois de chegadas.” [SMITH, 1922: 137 e 138]

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174 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

E Daí?

O processo de doação das “sobras” da sesmaria do Monte Bonito resultou no


complexo saladeiril pelotense, constituído inicialmente por um conjunto de
estabelecimentos contíguos, e composto basicamente por um local de cobrança de
impostos e comercialização de escravos e produtos, chamado Passo dos Negros, pela
cidade, pela Tablada e pelas vias de comunicação. [FIG. 40]
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Figura 40 – Sesmaria do Monte Bonito. Cerne do núcleo charqueador pelotense.

O que diferenciou a sesmaria do Monte Bonito das demais foi o número


aproximado de 30 estabelecimentos charqueadores contíguos e vizinhos ao núcleo
urbano e ao Logradouro Público. Essas áreas estavam interligadas entre si, de maneira
LOGRADOURO PÚBLICO. TABLADA 175

que uma influenciava as demais. Os negócios efetuados na Tablada, por exemplo,


impulsionariam as atividades charqueadoras e urbanas. A construção civil era uma
produção de apoio à produção charqueadora e uma alternativa para os períodos de
entressafra, retração do mercado consumidor ou de adversidades meteorológicas de
tempos de vacas magras.
A freguesia que deu origem à cidade foi criada para atender à indústria da
carne salgada. Desde o começo, caracterizou-se por ser um centro comercial e de
serviços de apoio ao processo de produção do charque, às atividades que dele
decorressem, à população que abrigava na sua sede e no seu entorno, etc. Requereu-se
toda uma série de casas de moradia, aluguel, hospedagem, divertimento, comércio,
consertos, manufaturas, saúde, educação, cultura, etc. Era preciso atender aos
charqueadores, estancieiros peões e à população urbana que se formava.
Construía-se também a infra-estrutura, os equipamentos urbanos, as estradas,
os portos, e realizavam-se obras de desobstrução das vias navegáveis. Mantinham-se os
edifícios, a infra-estrutura urbana, as vias terrestres e fluviais, lacustres e marítimas. O
estudo sobre a Arquitetura da Charqueada implica fundamentalmente uma reflexão que
leve em conta a sociedade que produziu e organizou esse espaço complexo, onde a
construção civil foi uma alternativa à produção charqueadora. Não se restringe ao
somatório de exames de estabelecimentos individuais; sua escala atinge aos estudos
regionais.
.
Capítulo 22

DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS


NAS CHARQUEADAS E OLARIAS DO MONTE BONITO

O cerne do núcleo charqueador pelotense, constituído ao longo do século XIX,


estruturou-se em mais de trinta fábricas contíguas situadas nas margens direita do arroio
Pelotas e norte do canal São Gonçalo. Esses estabelecimentos contavam com um, dois
ou três terrenos, faixas compridas e estreitas, intercalados por estradas. O terreno da
charqueada, propriamente dito, localizava-se junto à beira da água, os potreiros do meio
e de fora ou de fundos, ficavam junto ao Logradouro Público, onde os rebanhos de gado
vinham das fazendas para serem comercializados. Esse conjunto de atividades
impulsionou o desenvolvimento urbano de Pelotas.
A população servil das fábricas distribuía-se nestes espaços. Parece que parte
dos senhores mantinham um número fixo de escravos nas fábricas, outros,
provavelmente, ocupavam seus cativos nas diversas propriedades, como casas na
cidade, datas de matos na serra dos Tapes e estâncias. As fazendas, quase que
invariavelmente ficavam ao sul do cerne do núcleo saladeiril. Algumas delas avançavam
até o estado oriental, hoje Uruguai. Os cativos que trabalhavam diretamente na
produção do charque ocupavam o terreno ribeirinho da fábrica de salgar carnes.
Possivelmente, no período das entressafras, a população cativa trabalhasse na
construção civil, produzindo matéria-prima, elementos cerâmicos, nas olarias existentes
em um dos terrenos dos saladeiros; erguendo, ampliando, conservando toda sorte de
prédios urbanos, que o desenvolvimento fabril charqueador impulsionava, e mantendo
as instalações rurais os charqueadores possuíam nos distritos situados ao sul da área
fabril.
A constatação de olarias e ao mesmo tempo a verificação que nenhum escravo
possuía a profissão de oleiro, reforçou a probabilidade da construção civil como uma
atividade alternativa à produção da carne salgada. A inexistência de oleiros e a presença
de olarias instaladas na metade das fábricas de salga possibilitaria o aproveitamento
ininterrupto da mão-de-obra cativa da fabricação sazonal do charque e, como
conseqüência, alargaria o tempo de permanência da escravidão, por ser um regime
rentável.
178 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Tabela 11 – Profissões dos escravos das charqueadas.


Anos a partir dos oitocentos

1810
1818
1820
1824
1827
1851
1852
1854
1854
1856
1857
1862
1863
1865
1865
1865
1865
1867
1870
1871
1871
1871
1872
1875
1877
1880
1881
1883
1884
1885
1886
1887
Profissões Fr. Mé. %

Carneador 02 09 15 17 12 07 06 29 08 30 06 05 16 15 11 05 28 09 17 14
Servente 19 11 11 07 03 06 26 07 32 16 22 20 12 15
Salgador 02 03 01 01 04 13 02 05 02 03 10
Descarneador 03 02 03 01 04 01 06
Graxeiro 01 04 01 03 04
Sebeiro 02 01 02
Chimango 14 04 02
Charqueador 01 01 02
Aprendiz 10 01
Tripeiro 02 01

Marinheiro 01 13 02 05 04 01 03 04 05 05 03 02 05 03 01 15 04

Cozinheiro 01 02 01 03 01 02 04 02 02 03 06 03 12 03
Carpinteiro 01 02 02 01 01 01 01 01 01 01 03 04 07 03 02 15 02
Pedreiros 02 02 03 03 02 02 01 01 02 04 01 01 01 13 02
Tanoeiro 01 02 02 01 02 01 06
Lavadeiro[a] 02 01 01 01 04 01 06
Sapateiro 02 02 [01] 01 01 05
Alfaiate 01 02 02 [01] 01 04
Boleeiro 01 03 01 01 01 04
Carreteiro 01 01 02
Carroceiro 02 01 02
Ferreiro 03 01 02
Barbeiro 01 01
Padeiro 01 01
Peixeiro 01 01
Lustrador 01 01
Serrador 02 01
Engomador 01 01
Corroeiro 01 01

Campeiro 01 09 03 05 01 01 02 01 01 14 01 01 05 17 07 02 [16 04 07]


Roceiro 10 01 01 03

Costureira 02 02 03 03 01 05
Mucama 01 01 02
Escravas 05 04 17 04 08 04 06 09 13 [03] 02 [04 13] 04 [04] 09 [08] [17 07 13]

Crianças 07 crias 01 01 02 01 05
Doente, inválido, pouco serviço 01 01 01 02 04
Forros, com cláusula de serviço 09 61 12 09 11
Em outro local, estância, cidade 05 47 02
Sem informação 42 42 91 26 02 56 18 53 38 05 24 03 05 60 26 14 10 88 02
TOTAL 47 46 127 30 31 65 40 71 55 83 38 45 30 31 109 31 78 60 26 21 23 48 54 104 84 28 82 28 28 54 100
FONTE: APRGS, 1º e 2º Cartório Órfãos de Pelotas. Período 1810-1887.

Para pré-dimensionar o número de escravos nas fábricas de salgar carnes,


existentes na sesmaria do Monte Bonito, foram tomados aleatoriamente 32 inventários
de charqueadores, realizados antes do ano da Abolição da Escravatura, 1888. A TAB.
10 resultou da organização das informações existentes nesses documentos. A
diminuição da população servil, a partir da emancipação dos escravos, em 1884, em
Pelotas, confirmou-se apesar do fôlego apresentado, através dos contratos de serviços
obrigatórios pelo período de quatro a dez anos.
Os totais de escravos constantes na TAB. 10 permitiu calcular as seguintes
médias para o plantel das fábricas de salgar carne: até os anos de 1850, 56; na década de
50, 59; de 60, 55; de 70, 34; até a emancipação da população servil, em Pelotas, no ano
de 1884, 65; e a média total de todo o período 54. O resultado parcial não permitiu
verificar a diminuição de cativos, a partir da extinção do tráfico em 1850. Nas análises
individuais do plantel dos estabelecimentos constatou-se a partir de 1850 a diminuição
de escravos somente nas fazendas que possuíam estabelecimentos de charqueadas, nas
fábricas situadas na sesmaria do Monte Bonito não pode ser caracterizada essa
tendência.
DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS NAS CHARQUEADAS E OLARIAS DO MONTE BONITO 179

Alguns inventários não especificaram as profissões da população servil, outros,


qualificaram parte do plantel levantado. Essa situação podia ter diversas razões, entre
elas, a falta de profissionalização dos escravos arrolados. Por isso, as médias parciais da
TAB. 10, foram realizadas através das freqüência maiores de dez. Os resultados
aproximados, serviram para pré-dimensionar a população servil, manchar um
zoneamento das funções desempenhadas pelos escravos. Todos os cálculos apresentados
foram tomados como dados preliminares, supondo-se que para uma quantificação exata
seria necessário um número maior de informações.
A população servil oscilava entre 21 e 127 pessoas em cada empresa. Durante
o período da safra, provavelmente, este era o quadro de distribuição dos escravos nos
terrenos da charqueada. Os cativos dedicados às funções de ofício ou domésticas
apoiavam à produção charqueadora e atendiam à algumas das necessidades básicas dos
homens servis e da família do senhor. Auxiliavam à fabricação campeiros, carroceiros,
tanoeiros, ferreiros, etc. Os cozinheiros apareceram em grande número de
estabelecimentos, alcançando uma média de três por fábrica, deveriam atender aos que
trabalhavam diretamente na salgação das carnes e dos couros e na elaboração das
graxas. Os sapateiros, mucamas, por exemplo, ao contrário, serviriam a casa do senhor.
Em todos os documentos que especificaram a profissão do plantel, apareceram
os escravos campeiros, que se ocupavam das organização dos rebanhos, nos potreiros,
localizados entre as instalações fabris e o local de comércio com os gados. Igualmente,
um pouco mais da metade dos saladeiristas possuíam cativos marinheiros. Portanto, os
trabalhadores servis ocupavam-se da produção desde o momento em que o gado era
comprado até o transporte dos produtos, pelo menos, até o porto de Rio Grande.

O Quadro

A disposição das profissões na TAB. 10, levou em conta a freqüência e a


distribuição espacial das especializações dos cativos. As primeiras profissões
apresentadas correspondem aos escravos que trabalham diretamente na produção e no
transporte da carne salgada e de seus subprodutos e que eram a maioria. Seguem-se a
esses, aqueles que davam apoio a atividade charqueadora, iniciando pelos cozinheiros e
o pessoal responsável pela manutenção da área fabril, os carpinteiros e pedreiros.
Depois, acompanham toda uma série de ofícios; desde aqueles que produziam
para a própria charqueada, como os tanoeiros, fabricante de tonéis para as salmouras e
graxas, como os que trabalhavam, em especial, para os senhores, como os engomadores.
De imediato colocamos os das lidas campeiras que labutavam nos potreiros. A seguir as
profissões essencialmente femininas e, por fim, as crianças, os inválidos e os não
qualificados. A especialização atingia a, pelo menos, uma média geral a 53% de todos
os escravos que trabalharam ao longo do século XIX. Ao observar a TAB. 10, parece
que até os primeiros vinte anos do século passado, não havia interesse em especificar,
ou, não estavam definidas as tarefas dos escravos.
180 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Tabela 12 – Especialização dos escravos das charqueadas.

Freqüência
ANOS

Média

Total
1810
1818
1824
1820
1827
1851
1852
1854
1854
1856
1857
1862
1863
1865
1865
1864
1865
1867
1870
1871
1871
1871
1872
1875
1877
1880
1881
1883
Profissões %
Crianças 07 crias
01 01 02 01 05 12
Doente, inválido, pouco serviço 01 01 01 02 04 05
Especializados 23 59 38 09 28 17 40 28 30 85 24 73 07 13 47 50 16 84 28 81 26 21 805 53
Sem informação 47 46 120 30 08 04 02 62 27 66 38 05 02 24 07 05 60 26 14 10 88 02 22 693 46
TOTAL 47 46 127 30 31 65 40 71 55 83 38 45 30 31 109 31 78 60 26 21 23 48 54 104 84 28 82 28 28 54 1515 100
FONTE: APRGS, 1º e 2º Cartório Órfãos de Pelotas. Período 1810-1887.

Na Área da Produção

Os trabalhadores mais freqüentes na produção do charque eram os carneadores,


seguidos pelos serventes e salgadores. Depois, na ordem, apareciam descarneadores,
graxeiros, sebeiros, chimangos, charqueadores, aprendizes e tripeiros. O número de
carneadores ficava entre 30 e 2, o que dava uma média de 14 por saladeiro. A mesma
média encontrada nos estabelecimentos que funcionavam junto às estâncias.
Dependendo do tipo de plantel, estes trabalhadores poderiam estar abatendo na
mangueira de matança; esfolando e esquartejando, nas canchas; charqueando e etc., nos
galpões.
A grande divisão do trabalho na charqueada dava-se entre carneadores e
serventes. Os serventes faziam todo o tipo de trabalho nas diversas instalações das
fábricas, seu número variava entre 22 e 3, e sua média alcançava a 15 serventes. Os
salgadores apareceram em um pouco menos da metade dos inventários, trabalhavam
entre um ou quatro homens, nos galpões. Sua tarefa consistia em preencher com sal os
sulcos das peças, pontos lonqueados, bem como toda a superfície das mantas de carne.
Em comparação com os carneadores e serventes foi pequeno o número de cativos
especializados na elaboração das graxas e dos sebos, estes últimos foram especificados
em quatro estabelecimentos analisados.
Assim como os salgadores, os graxeiros alternavam-se entre um a quatro
trabalhadores. Além desses profissionais, nos galpões ocupavam-se os descarneadores,
charqueadores. Aprendizes e tripeiros eram raros, presentes em apenas um
estabelecimento cada. Mais da metade dos charqueadores possuía marinheiros. A
média, entre esses, era de quatro marujos por saladeiro. Apoiavam a produção, o
transporte do charque e os senhores mais de vinte atividades desenvolvidas pelos
escravos de ofício e domésticos. Desses, os cozinheiros alcançavam uma média de três
por estabelecimento. Os trabalhadores da construção civil, carpinteiros, três por senhor,
pedreiros, dois, aparecerem, pelo menos, na metade das propriedades.
No mínimo, em um quinto das fábricas existia a presença de tanoeiros. Parece,
que o charque fabricado em Pelotas não restringia-se às mantas da carne salgada. Os
tonéis serviriam para o charque conservado em salmoura, como o do tipo irlandês, ou
esse recipiente, poderia servir para os produtos provenientes das gorduras, graxas ou
sebos. Os campeiros estavam presentes, em pelo menos, metade das empresas.
Deveriam trabalhar nos potreiros selecionando o gado que dirigiam à mangueira de
matança. Entre esses, perfaziam uma média de quatro por saladeiro. Os tropeiros,
DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS NAS CHARQUEADAS E OLARIAS DO MONTE BONITO 181

aqueles que conduziam as reses nas viagens, não fizeram parte do elenco de cativos das
fábricas de carne salgada. Apesar da presença de horta e pomares nos estabelecimentos
foram poucos os roceiros. Verifica-se, igualmente, a presença de olarias e a total
ausência de oleiros.

Mulheres e Crianças Escravas

Praticamente, as mulheres cativas não receberam qualificação. Elas


alcançavam uma média de sete por estabelecimento, ou seja, em torno 13% do total. As
únicas profissões essencialmente feminina eram as de costureira e de mucama. Uma ou
duas lavadeiras dividiam, com os homens, a mesma tarefa. Provavelmente, esse serviço
dizia respeito não somente a lavagem das roupas, mas, também, a limpeza do espaço da
produção saladeiril, que seria um trabalho masculino. Na TAB. 10, pode-se observar
que as mulheres receberam pouca, ou quase nenhuma especialização. As crianças
escravas, em número reduzidíssimo, estavam presentes em cinco fábricas.
A exceção ficou por conta de Cecíla Rodrigues da Silva, primeira esposa do
comendador Boaventura Rodrigues Barcellos. Ela tinha a propriedade sete crianças
cativas, que era 8% do total de seus 127 escravos. A maioria dos senhores não possuíam
crianças. Quando isso acontecia, somavam no máximo dois pequenos prisioneiros. Essa
observação continua reforçando a hipótese de que os senhores preferiam investir na
compra de novas “peças” do que na reprodução da mão-de-obra africana. Da mesma
forma, a total ausência de contrato de casamento entre os subjugados dos saladeiros, o
número restrito de mulheres e a quase inexistência de filhos entre estes foram sinais que
vieram a afastar a possibilidade da família escrava constituir-se com freqüência nas
fábricas de salgar da sesmaria do Monte Bonito.

Estâncias Charqueadas X Charqueadas

Comparando o elenco de escravos das estâncias que possuíam estabelecimento


de charqueada com o das fábricas, propriamente ditas, localizadas na sesmaria do Monte
Bonito verificamos: médias de 84 e 54 escravos; espectros que variavam entre 30 - 150
e 21 - 127; 16% e 13% pertencia as sexo feminino, sendo que em ambos os casos quase
nunca as mulheres estavam qualificadas e o número de crianças prisioneiras era
inexpressivo. É possível, que as mulheres trabalhassem nas hortas e pomares dos
estabelecimentos, considerando-se a pouca referência existente de trabalhadores
dedicados à agricultura.
Nas primeiras, a média de cativos especializados era de 73,5%; nas segundas,
53%; desses, respectivamente, 09% e 07% eram campeiros e 14% e 7% eram
marinheiros. Três entre cinco charqueadas/estâncias possuíam instalações destinadas ao
fabrico de elementos cerâmicos e a metade das fábricas do Monte Bonito também
182 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

fabricavam tijolos e telhas, o que permitiria a ocupação constante do plantel. Nos dois
os casos carneadores e serventes eram os que alcançavam o maior número de homens
por estabelecimento, estimou-se uma média de 15 homens em cada uma dessas duas
especialidades. Portanto em torno de 30 escravos trabalhavam exclusivamente no
charque e nos subprodutos. [TAB. 6, 7, 8, 9, 10 e 11]

População

Com base na média geral de 54 escravos por estabelecimento e imaginando que


no espaço compreendido entre o canal São Gonçalo e o Cotovelo, lugar onde o arroio
Pelotas faz uma curva de quase 90 graus para desaguar no canal e o Logradouro
Público, funcionava ao mesmo tempo, 30 fábricas, teríamos o correspondente a em
torno de 1.620 escravos trabalhando ao mesmo tempo. A maior concentração de cativos
dava-se nas áreas, ribeirinhas, diminuindo nos terrenos interiores destinado aos
potreiros, e, provavelmente, escasseando no Logradouro Público, considerando-se a
quase inexistência de tropeiros entre os escravos das charqueadas e estâncias.
Tabela 13 – População de Pelotas no ano de 1833.
População Escrava Branca Liberta Indígena Total
5623 3933 1131 174 10874
51,7% 36% 10,4% 1,6% 100%
Fonte: AHRGS, BBP, câmara Municipal de Pelotas, Mapa da População da Vila de São Francisco de Paula [Pelotas].
Dezembro de 1833.

Pelos números constantes no censo de 1833, o percentual de homens e


mulheres escravas em todos os distritos da vila seria respectivamente 71% e 29%. No
terceiro distrito, correspondente a área das charqueadas, o número de escravos seria
941. [ARRIADA, 1991: 186]
Para o ano de 1854, o recenseamento organizado pela Fundação de Economia e
Estatística acusou o seguinte:

Tabela 14 – População de Pelotas no ano de 1854.


População Escrava Livre Liberta Total
1º Distrito 2.213 3.977 154 6.344
2º Distrito 1.333 1.319 59 2.711
3º Distrito 576 1.060 66 1.072
4º Distrito 666 1.407 63 2.136
Total parcial 4.788 7.763 342 12.863

A comparação entre os dados dos dois censos mostrou uma diminuição na


população servil, não observada no plantel das fábricas e revelou respectivamente 941 e
576 escravos para o espaço da produção do charque, quando a média inventariada
permitiu encontrar para a área fabril em torno de 1.620 cativos.
O estudo da distribuição espacial dos escravos que trabalhavam nas fábricas de
salgar carnes do núcleo charqueador pelotense pode comprovar que os cativos
assumiam todas as tarefas desde o recebimento das tropas de gado, a produção da carne
DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS NAS CHARQUEADAS E OLARIAS DO MONTE BONITO 183

salgada e seus derivados como as graxas, até o transporte do produto ao porto marítimo
de Rio Grande. Os campeiros ocupava os terrenos correspondentes aos potreiros de fora
ou de fundos e do meio. Os marinheiros iam e vinham através do arroio Pelotas, do
canal São Gonçalo e da laguna dos Patos. Carneadores e serventes distribuíam-se na
mangueira da matança e nesta ordem colocavam-se nas canchas, galpões, barraca de
couros e varais.
Os escravos de ofício dividiam-se pelos galpões da produção e obviamente os
domésticos atendiam a casa do senhor, que como as instalações fabris situavam-se no
terreno ribeirinho. Constatamos a especialização em mais da metade da população servil
das fábricas de salgar carnes. Por um lado, as péssimas condições de vida dos escravos
impediam a reprodução natural desses trabalhadores. Por outro lado, concluímos que a
baixa percentagem de mulheres e a quase inexistência de crianças afastou a
probabilidade de constituição de família cativa nos saladeiros, revelando o drama da
sobrevivência da população servil charqueadora.
.
Capítulo 23

O AMBIENTE CONSTRUÍDO NA VISÃO


DOS VIAJANTES DO SÉCULO XIX

Pouco tem sido escrito sobre o a área onde era fabricada a carne salgada.
Porém, as descrições dos diversos viajantes estrangeiros que passaram por Pelotas,
durante o século XIX, permitiu esboçar um programa de necessidades, ou seja, sugerir
uma lista das diversas funções executadas nas fábricas, e delinear um quadro evolutivo
do espaço da produção do charque, no século passado. Foram selecionados textos que
trataram do entorno dos estabelecimentos, das construções e das atividades nelas
desenvolvidas. Com base em alguns dados fornecidos por estes estrangeiros, podemos
calcular as condições ambientais em que trabalhava, e tentava sobreviver, a população
servil charqueadora.

Entorno

Foram quatro os viajantes destacados para no informar sobre o entorno


construído dos saladeiros pelotenses: John Luccock; Nicolau Dreys, Ave-Lallemant e
Herbert Smith. John Luccock, comerciante inglês, veio para o Brasil no mesmo ano da
“Abertura dos Portos às Nações Amigas”, em 1808. Sobre uma charqueada escreveu:
“[...] em um só ano, um indivíduo chamado José Antônio dos Anjos abateu
cinqüenta e quatro mil cabeças, charqueando-lhes a carne. As pilhas e os
ossos que faziam em sua propriedade ultrapassavam tudo quanto me era
dado imaginar e havia milhares de urubus, o abutre americano, adejando
em volta e comendo os retalhos.
Durante a época de matança, não é raro aparecerem grandes bandos de
cães, que auxiliam os abutres a descarnar os ossos, e diz-se que também as
onças fazem o mesmo. Os ossos, uma vez assim limpos, são geralmente
transformados em cal.” [LUCOOCK, sd.: 142]
Nicolau Dryes chegou ao Rio Grande em 1817. Envolveu-se em ações
militares e foi comerciante. Em 1839, teve publicada no Rio de Janeiro sua obra Notícia
186 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

[...] editada pela tipografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve. Seu relato foi dos
mais completos. Sobre o entorno construído, escreveu:
“O viajante, passageiro a bordo das embarcações que navegam nesses rios,
esbarra-se às vezes com ilhas movediças formadas de agregação fortuita de
uma porção de aqueles molhes detrimentos que vem surgir à superfície das
águas quando a fermentação entra a desenvolver os gases que contém. [...]
O estrangeiro que chega a primeira vez as charqueadas avista com
admiração paredes extensas tão brancas como alabastro; meio século mais
tarde, se o destino o levasse ao mesmo lugar, havia de achar as paredes com
a mesma alvura; é uma matéria que o tempo põe sem a sujar; são os ossos
entrelaçados com arte e solidez, a formarem cerca contínua capaz de apor-
se mais eficazmente que qualquer outra aos esforços do gado recolhido no
currais que circunscrevem.” [DREYS, 1927:138 e 142]
Em 1858, o alemão Ave-Lallemant fez observações significativas quanto à
definição da paisagem dos saladeiros:
“Cada vez mais se aproximava a margem do rio apareciam bonitos grupos
de casas e a embocadura de um pequeno rio vindo do norte, o rio Pelotas, a
cujas margens se estendem estabelecimentos, de carácter verdadeiramente
romântico, a certos respeitos, mas por outro lado, realmente repugnantes.
Em toda a região há um horrível cheiro de carniça! Couros, chifres, cascos,
ossos, tendões, tripas e nauseantes massas de sangue em putrefação e, além
disso, campos inteiros com carnes dependurada, formam um verdadeiro
monturo [...]. Uma multidão de abutres sobrevoa a região ou ceva-se em
sangue putrefato!
Por mais aprazível que seja o porto de Pelotas, por mais largas, retas e em
parte bonitas ruas que tenham a cidade que fica a um quarto de milha acima
- nesse matadouro extingue-se qualquer impressão de graça e limpeza; em
toda parte cheira mal.” [AVE-LALLEMANT, 1980: 409]
Os registros das viagens, dos primeiros sessenta anos do século XIX, dizem
respeito principalmente ao impacto dos dejetos da produção no meio ambiente. O relato
desses estrangeiros nos levou a desenhar uma paisagem bastante macabra para o meio
ambiente da charqueada. Nesse local, imperavam imundícies, excrementos, sangues,
vísceras, ossos, mau cheiro e animais pestilentos.
Sobre o meio ambiente dos saladeiros, as descrições dos viajantes das últimas
décadas do século XIX não foram tão numerosas como dos primeiros anos. Em
compensação, os trabalhos elaborados por Louis Couty, e Herbert Smith, no início da
década de 80 do século passado, foram bastante coincidentes e precisos sobre o fabrico
do charque e de seus subprodutos. Certamente a fabricação dos derivados diminuiu
substancialmente a quantidade de despejos.
Em 1880, no Rio de Janeiro, a tipografia Nacional publicou, o relatório do
técnico francês Louis Couty denominado, Le Mete et Conseves de Viande, rapport à
som excellence Mouseier le Ministre de l’Agriculture et du Comerce sur sa Mission
dans les Provinces du Paraná, Rio Grande et les Estats du Sul. Em 1882, o trabalho do
geólogo norte-americano Herbert Smith, descreveu a Tablada. Como já assinalamos, a
Tablada era um local descampado, extenso e quase liso, para onde o gado de estâncias
de vários lugares era trazido, a fim de ser comercializado com os charqueadores.
O AMBIENTE CONSTRUIDO NA VISÃO DOS VIAJANTES DO SÉCULO XIX 187

O Espaço Interno da Produção do Charque

O programa de necessidades sobre as atividades, a organização espacial e as


construções no interior da charqueada foram selecionados dois relatos, o do Nicolau
Dryes, publicada em 1839 e o de Couty, de 1880. Através dessas duas descrições,
podemos observar as transformações ocorridas na produção do charque e as
conseqüentes alterações do espaço edificado.

Abater

O próprio Dreys fez referências a três modalidades de abate, sobre a primeira


diz o seguinte:
“[...] os peões montam a cavalo, um deles estimula o animal recolhido num
curral aberto agitando ante os olhos o ponche colorado, e quando o novilho
exasperado lança-se afinal sobre o agressor e entra a persegui-lo, outro
peão, armado de uma lança comprida cujo ferro tem o feitio de uma meia-
lua, corre atras do boi e corta-lhe o janete [...].” [DREYS, 1927: 139]
Na segunda modalidade de abate houve uma variação, a tourada foi trocada por
um laço. Na terceira houve uma equivalência com a descrição de Couty. Ambas
informaram sobre um curral menor, especial para o abate, a mangueira de matança. A
descrição dos bens de Pinto Martins permitiu verificar, que as fábricas do arroio Pelotas
abatiam, desde os primórdios, em espaços construídos e equipados para esse fim.

Mangueira de Matança

A mangueira de matança foi analisada por Dryes e por Couty como um curral
menor, que poderia comportar até 60 cabeças de gado. Possuía as seguintes
características: paredes altas e resistentes; piso inclinado e escorregadio, de tijolos ou
pranchas; forma - dois troncos de pirâmide unidos por uma base maior; circulação - uma
das extremidades dava acesso para as outras mangueiras através de um curral ou brete; a
outra extremidade, a mais importante, era aonde o gado seria abatido; plataforma -
exterior - com uma altura que permitisse que um homem ficasse mais alto que um
animal; equipamentos - uma vagonete sobre trilhos; um guincho ou polía.
Um cativo, na plataforma, laçava o boi que aparecia no brete. A outra ponta do
laço estava fora do recinto, presa a um guincho que era acionada por duas bestas de
cargas, boi ou cavalo. O boi era arrastado. O animal qualquer que fosse a sua
resistência, vinha a bater com a cabeça e ficava fixado contra o guincho. Um segundo
cativo, ou o mesmo, matador ou desnucador que também estava colocado na
plataforma, enfiava uma faca, longa e resistente, no músculo da nuca. Toda a manobra
188 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

durava de um a dois minutos. Era possível matar até 1.200 bois em menos de 18 horas.
A média das matanças variava, conforme as charqueadas, entre 200 a 1.000 bois. Logo
após a facada, o boi caía sobre o vagonete. A porta vertical que fechava a abertura da
mangueira era elevada. O vagonete com o boi, que ainda urrava, e apresentava
contrações, era puxado por dois escravos, que os conduziam sobre trilhos até a cancha.

Cancha. Esfolar, Sangrar e Esquartejar

A cancha, nas especificações de Dreys e Couty, era composta por um piso de


tijolos inclinados e quase sempre coberta por telhados. Canchas dispostas de um lado ou
dos dois lados dos trilhos e ficavam contíguas à mangueira de matança. Cada cancha
comportava de 20 a 40 animais. O boi era derrubado do vagonete por dois cativos ou
puxado por uma corda fixada a uma das patas dianteiras e então arrastadas por um
escravo a cavalo. O boi passava a ser despojado do couro, esfolado.
Era sangrado, com uma faca no coração. A sangria era indispensável, porque
terminava de matar e porque, sem a sangria, a carne cheirava mal e ficava com a cor
feia. Essa sangria dava pouco sangue, cerca de 12 a 13kg por animal. Poucos minutos
durava a extração do couro. As reses apresentavam, às vezes, reflexos muitos marcados,
irregulares, outras vezes, emitiam gritos afônicos durante a hemorragia. Esfolados ainda
vivos, sentiam a faca e não podiam reagir. Mugiam e não conseguiam se fazer ouvir,
tentavam levantar-se, executavam sacudidelas desordenadas. Os trabalhadores servis
ficavam cobertos de sangue.
A partir desse momento, Couty começa a apresentar diferenças entre os
saladeiros platinos e as charqueadas rio-grandenses. A depostação, esquartejamento ou
corte, no caso dos primeiros, resultava em oito pedaços; nas segundas, obtinham-se 11
pedaços. Eram: 1 - lombo; 2 e 3 - duas mantas; 4 - colchão; 5 e 6 - os músculos
anteriores do membro posterior; 7- tatu; 8 e 9 - os músculos posteriores do mesmos
membro; 10 e 11 - a paleta de fora e a paleta de dentro. Os músculos intercostais junto
as costelas iam alimentar os escravos. A cabeça, o tronco e as vísceras ficavam jogadas
ao redor das canchas. A depostação durava de quatro a cinco minutos. Os pedaços eram
transportados para uma sala vizinha, o galpão.

Galpões. Desossar, Charquear, Lonquear, Salgar e


Empilhar

As ações de desossar, charquear, lonquear, salgar e empilhar eram realizadas


em um ou mais galpões. Os pedaços que eram transportados da cancha ficavam
suspensos em suportes especiais chamados tendidas, onde era feita a desossa. No
charquio, o boi era reduzido a retalhos de 1,5cm de espessura, irregulares, em Pelotas e
de 3cm de espessura por 1,50m de largura no rio da Prata. Nos saladeiros, esse trabalho
O AMBIENTE CONSTRUIDO NA VISÃO DOS VIAJANTES DO SÉCULO XIX 189

era feito por um operário sobre uma mesa. Em Pelotas, era realizado por dois escravos,
colocados de cada lado, diante da carne estendida sobre uma barra de madeira. Após o
charqueio, era executado a loncagem. A loncagem constava de incisões paralelas de
cinco a quatorze centímetros de comprimento, bastante profundas, que aumentavam a
superfície exposta ao ar e à salga.
No rio da Prata, diz ainda Couty, a salga era feita em tanque de salmoura. Em
Pelotas, todos os pedaços charqueados eram colocados em mesas côncavas cheias de
sal. Os salgadores esfregavam principalmente os pontos lonqueados. Gastavam-se, por
animal de 10 a 12kg de sal moído. A carne era disposta em pilhas compostas de
camadas sucessivas de sal, para estender as carnes no sentido do seu comprimento, de
modo que não ficassem amontoados ou dobrados, recorria-se a mais ou menos cinco
cativos que de pé em cima das pilhas, com as mão ou com ganchos de ferro,
conseguiam o resultado desejado. A duração de uma pilha dependia de condições
meteorológicas, usualmente de um a dois dias; com um pouco mais de sal, as pilhas
duravam até 40 dias. Uma pilha formada pelas carnes de 200 bois media
aproximadamente 5m de comprimento e de largura, 0,80cm de altura nas pontas e
1,30m no centro.

Tanque

O sangue e o sal que escorriam das pilhas eram conduzidos a um reservatório


inferior. Segundo as observações de Dreys, de 1839, nesses tanques eram jogadas
costelas, línguas e outras partes que se queriam conservar na salmoura. Nas informações
de Couty, em 1880, nesses tanque de salmoura eram também banhados por 24 horas os
couros.

Secar, Varais

Couty apontou diferenças entre o processo de secagem das charqueadas e dos


saladeiros. Continuam, entretanto, aparecendo coincidências entre as informações de
Dreys e Couty a respeito desse processo em Pelotas. Das pilhas, a carne era levada para
os varais ou secadores. Tratava-se, simplesmente, de barras de madeira longas e
estendidas transversalmente, a 1,50m do solo, de disposição variada. Normalmente,
eram orientadas no sentido leste e oeste, ficando a carne no sentido norte/sul. Em
Pelotas, quando o tempo era favorável, as carnes ficavam secando durante cinco ou seis
dias, no inverno até 15 dias. No fim da tarde, a carne era amontoada em vários pontos
dos varais. No dia seguinte, estendia-se outra vez. Produzia-se duas qualidades de
charque. Dreys acrescentou algumas atividades:
190 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

“[...] quando se receia alguma chuva repentina, o toque de uma campainha


chama para os varais todos os negros da charqueada, e cousa curiosa é ver
como num instante a carne amontoada por porções nos mesmos varais se
acha escondido debaixo de couros que não permitem o menor acesso às
águas do céu. Estando a carne perfeitamente seca, é disposta em forma de
grandes cubos ablongos assentados num chão artificial levantado de três a
quatro palmos, para dar passagem ao ar; nesse estado, cobrem ainda de
couros para esperar o embarque.” [DREYS, 1927: 139]
Todo esse processo durava de 15 dias a dois meses. A carne era vendida aos
consumidores de seis a doze meses após o abate.

Subprodutos. Graxa. Sebo. Couro e etc.

Ao longo do século XIX, a produção da graxa e do sebo sofreu transformações.


No depoimento de Dreys, observamos o seguinte:
“Os ossos, a cabeça e as extremidades são metidos numa caldeira fervendo,
para servirem, com os miolos e o tutano, a preparação da graxa que se
encerra depois em uma bexiga e nos grossos intestinos para serem entregues
ao comércio.
O peritônio, o efilon e outras partes sebácias, são socados para comporem
uns pães de sebo grosseiro que se vendem nesse estado.” [Id., loc. cit.]
Quarenta e três anos depois, Couty descreveu um processo mais complexo para
a elaboração da graxa e do sebo em Pelotas. A graxa era feita em cubas - algumas
chegavam a atingir quatro a cinco metros de altura - nas quais eram lançados os ossos,
cabeças, encéfalos, estômagos, corações e certas vísceras de 150 a 200 animais. O
cozimento era feito a vapor de pressão, durante um período que variava de 36 a 50
horas. As cubas eram dispostas dos dois lados da caldeira.
Entravam na elaboração do sebo os intestinos e as membranas envolventes do
peritônio. Era feito em cubas menores, de madeira grossa, reforçadas com aros de ferro,
as quais tinham uma abertura lateral na parte de baixo, por condutos especiais, o sebo
escorria. O período de cozimento do sebo era menor que o da graxa. As caldeiras eram
alimentadas por ossos. As cinzas, ou os restos calcinados resultavam em adubo, que era
vendido para a Europa. A graxa e o couro representavam para o charqueador a metade
do preço do animal. Colaborava para a comercialização desses produtos a facilidade de
transporte e conservação.

Couros

Como nos processos de produção da graxa e do sebo, igualmente, o do couro


sofreu alterações. Na primeira metade do século passado estacava-se o couro no chão
para secar, dando-lhe o competente declívio para deixar correr as águas.
O AMBIENTE CONSTRUIDO NA VISÃO DOS VIAJANTES DO SÉCULO XIX 191

Barraca de Couros

O tratamento do couro, no último quartel do século XIX, era equivalente ao do


rio da Prata. Couty falou dos banhos em tanques de salmoura, já referidos
anteriormente. Ao sair da fossa, os couros eram amplamente polvilhados de sal e
dobrado em dois, de maneira que os pelos ficassem para o lado de fora. Eram dispostos,
um ao lado dos outros, em camadas de couros alternadas por camadas espessas de sal.
Instalavam-se num edifício especial ou barraca, em pilhas muito grandes, retangulares
ou quadrangulares, geralmente pouco elevadas, contendo de dez a 15 camadas expostas
umas sobre as outras. Uma vez salgado e empilhado, o couro conservava-se por longo
tempo.

Porto

Na análise realizada por Couty, existia um equilíbrio entre o tamanho das


charqueadas, o que não ocorria com os saladeros. Apesar do autor ter dito que não
existia um modelo para as charqueadas, acreditamos que este expressou uma tipologia
para a distribuição espacial. Indicou os elementos cerâmicos, pisos e paredes de tijolos e
telheiros, como o material de construção mais utilizado. Definiu um programa mínimo
de necessidades e um fluxograma. Explicitou que a mangueira de matança, a cancha e
os galpões formavam um único segmento, nas mais diversas formas e volumes. Ao
contrário, a graxeira e a barraca dos couros ficavam relativamente afastadas. Anotou,
dentro do programa de necessidades a presença de um porto.
Essa situação favorecia o transporte das mercadorias, mas as águas serviam,
também, para lançar sangue, vísceras, pulmões, rins, fígados, excrementos, etc. de 600
bois/dia por charqueada, média entre 200 a 1.000 bois, ou 6,5 toneladas diárias de
sangue por charqueada, 600 bois/dia X 11 litros de sangue. Esses valores podem vir a
ser multiplicados por 30, que foi o número calculado de fábricas em funcionamento,
quando do levantamento do técnico francês. Dreys, no fim de seu texto concluiu que
uma charqueada bem administrada é um estabelecimento penitenciário. Além de toda a
rudeza do trabalho e do tratamento dado à população servil, do mau cheiro
continuadamente reinante, nos períodos de safras, da sujeira e da presença de feras e
animais peçonhentos e pestilentos, o espaço interno da produção do charque
acompanhava o quadro macabro, tétrico, fétido e pestífero que dominava o seu meio
ambiente.
.
Capítulo 24

DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO


DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES
CHAVES∗

A escolha desta charqueada, como objeto de levantamento arquitetônico e de


prospecção arqueológica, deu-se por vários razões: a figura polêmica de seu primeiro
proprietário; as observações de Saint-Hilaire; o alto número de charqueadas onde está
inserida, em torno de 67% dos saladeiros pelotenses encontravam-se nas margens do
arroio Pelotas; etc. Os critérios seletivos foram outros dois: apresentar um maior
número de construções aparentes, entre os estabelecimentos saladeiris pelotenses e estar
na iminência de desaparecer.
O espaço da produção dessa charqueada faz parte de um loteamento
residencial. No início do verão de 1991, época dos levantamentos estava na fase de
terraplanagem. Daí, a necessidade de agir com urgência e rapidez. Também, foram
tomadas as iniciativas de comunicar esse fato aos órgãos competentes, em nível federal
e municipal. Ao longo da execução dos trabalhos de levantamento, as máquinas foram
soterrando e destruindo parte das estruturas. Acrescente-se a isso a retirada contínua do
material de construção do local.
Foram realizados levantamentos planimétricos, evidentemente, destinados a
fornecer medidas do terreno que é quase plano. Através do processo de triangulação
cobriu-se o terreno estudado por uma rede de cordões que formaram triângulos e
tomamos como base a medida do lado do triângulo inicial. O trabalho arqueológico
fixou-se em três tanques para salga, um esgoto e duas canaletas. As estruturas aparentes
encontradas foram: áreas e circulações pavimentadas; chaminé; bases para caldeiras;
caixa d’água; tanques; muro; etc. As áreas e circulações estão distribuídas por todo o
terreno e são de pedras e ou tijolos. O elemento cerâmico, com a exceção da caixa
d’água e de alguns pisos, era o material mais utilizado nas construções. A chaminé tem
a base quadrada e apresenta, na face oeste, junto ao chão, uma abertura em forma de

∗ O trabalho de campo no sítio arqueológico do espaço da produção da charqueada São João e os


levantamemtos arquitetônico da residência senhorial deste saladeiro e do sobrado do estabelecimento do
barão do Jarau foram realizados com recursos da FAPERGS. A prospecção seguiu sob os cuidados do
Grupo de Arqueologia do CEPA/PUC-RS e teve coordenação do prof. mestrando Roberto dos Santos e
do prof. mestre José Otávio C. de Souza. O levantamento arquitetônico teve a coordenação do prof.
Rogério Gutierrez Filho da FAUrb/UFPel e dos arquitetos Ana Paula Farias N. de Faria e Ricardo Brod
Mendez, egressos desta universidade.
194 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

arco, que foi fechada recentemente. Possui um acabamento decorativo de tijolos, na


parte superior. Três anéis metálicos fazem a sua amarração. Encontram-se três bases
retangulares de dimensões variáveis, duas a oeste e uma a leste da chaminé. Essas bases
possuem pinos metálicos com rosca chumbados na face superior.
Próximo a este conjunto, localiza-se uma caixa d’água metálica, apoiada em
uma base circular. As canaletas situam-se aproximadamente no eixo noroeste/sudeste e
são paralelas entre si. Correm em direção ao arroio, aproveitando a declividade do
terreno. As canaletas de revestimento e fechamento de acordo com a sua utilização. Os
tanques acompanham os eixos definidos pelas canaletas e contam com um acabamento
especial, distinto dos revestimentos internos das demais construções, provavelmente
com a função de suportar o sal. Foi encontrada quantidade de cacos de telhas cerâmicas,
possivelmente utilizadas nos acabamentos das canaletas e, principalmente, denunciando
a existência de extensas áreas cobertas. Esse resumido trabalho de campo permitiu
confirmar os recursos técnicos e materiais utilizados no espaço da produção do charque
indicados pelas fontes primárias como os inventários e as observações de viajantes.

Descrição do Levantamento Arquitetônico de Duas


Residências de Charqueadores,
Antônio José Gonçalves Chaves e Barão do Jarau

Os critérios de seleção das duas moradias acompanham os definidos para a


escolha do espaço da produção. As residências compartilhavam do mesmo terreno da
elaboração da carne salgada, guardadas as suas especificidades. A casa de Gonçalves
Chaves localiza-se na margem direita do Pelotas, no cerne do núcleo saladeiril
pelotense, na sesmaria do Monte Bonito; a vivenda do barão, situa-se na orla esquerda
do mesmo arroio, junto a estância do Laranjal, na sesmaria de Pelotas. A primeira
possui um pavimento, a segunda dois. A São João vem servindo de moradia a diversos
donos; a outra, à família Assumpção. Ambas apresentam marca de fases sucessivas
modificações, aumentos da edificação e implantação destacada das outras construções, a
poucos metros do curso d’água, em cota não alagadiça. Igualmente, as duas casas foram
localizadas mais perto da nascente do arroio, de maneira que os dejetos da própria
fabricação não viesse a interferir nas suas funções.
DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 195

Figura 41 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Implantação do espaço da produção.

Figura 42 – Levantamento arqueológico da Figura 43 – Levantamento arqueológico da charqueada


charqueada São João. Detalhe nº 1 [canalete]. São João. Detalhe nº 2 [tanque]. Detalhe nº 3 [canalete].
Figura 44 – Levantamento arqueológico da charqueada São
João. Detalhe nº 4 [tanque].

Figura 45 – Levantamento arqueológico da


charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto -
plantas].

Figura 47 – Levantamento arqueológico da


charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto - corte].

Figura 46 – Levantamento arqueológico da


charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto -
cortes]. Detalhe nº 6 [canalete].
DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 197

A Moradia de Gonçalves Chaves

O partido arquitetônico, o tipo de solução físico-espacial, que resultou com o


passar dos anos, configura-se de maneira a conservar um pátio fechado no centro, em
um único pavimento. As alterações, exceto os vitrais não chegam a interferir
significativamente na unidade formal das partes entre si e isoladamente. Nas fachadas, a
relação entre cheios e vazios, harmonia, equilíbrio, ritmo, etc., bem como o tratamento
dos linhais, seguem os princípios das edificações do período colonial. Os pilares
possuem a finalidade de sustentar a estrutura do telhado. São tijolos assentados com
barro, dispostos lado a lado em duas fitas na direção leste/oeste. Os da primeira fase da
construção aparecem embutidos na parede. Delgados pilares metálicos foram colocados
para sustentação da varanda do pátio central.
Além da utilização de grandes vãos, a característica mais destacável da estrutura
da cobertura é a originalidade da técnica de utilização dos materiais. Sobre as tesouras de
toras demadeira falquejadas, desbastadas manualmente até formarem seções retangulares,
estendem-se as terças de eucalipto, que se sobpõe aos caibros para que não vergem. E,
sobre estes, ripas feitas de lascas do mesmo material. Em cima do madeiramento, a
cobertura é embasada com telhas de barro tipo capa/canal. Nas pontas dos espigões, existe
uma telha recortada na forma de uma lança que aponta para cima. Recentemente, nas
extremidades das cumeeiras, foram colocadas pinhas de cerâmicas. A cobertura de duas
águas se pouco projeta no espaço externo e acompanha a forma do partido arquitetônico.
As paredes internas têm funções estruturais ou servem para dividir os
compartimentos. Apresenta, espessuras diferentes. O tijolo da primeira etapa, de
13X32cm, resultou em paredes internas rebocadas de 17 a 18cm e de 35 a 40cm se
forem ou tiverem sido externas. Em uma outra técnica, construíram-se paredes de 10cm
de espessura, executadas em estuque, cuja trama de madeira é coberta por fina camada
de reboco. Pela divisão interna da residência e pelo tipo e/ou falta de acabamento e forro
foram distinguidas as áreas de serviço.
A distância entre o piso e o forro, medida conhecida como pé direito, dos
compartimentos mede em torno de 3,30m. Os forros são de diversos tipos, seja pelo fato de
terem sido executados em períodos deferentes, seja devido à finalidade de hierarquizar a
função exercida em cada peça. Essa diferença é dada pela presença e tratamento da tabeira.
Dos pisos originais, pouco restou. São encontrados alguns de madeira, em mau estado de
conservação, apodrecidos e atacados pelo cupim. O conjunto de aberturas apresenta vários
tipos de esquadrias: vitrais foram colocados nos últimos tempos; as janelas são de dois tipos
- guilhotina e de abrir com duas folhas. São fechadas interiormente com postigos, ou com
venezianas no exterior. Em todos os casos, foram reformadas. As portas internas possuem
bandeira fixa. Existem portas de diversas épocas. Mais de um tipo de fechadura é
encontrado em uma só porta, o que mostra a permanência e a evolução do uso.
198 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Figura 48 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Implantação geral.


DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 199

Figura 49 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Planta baixa.


200 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Figura 50 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Elevações leste/oeste.

Figura 51 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Elevações norte/sul.


DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 201

Figura 52 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Corte AB/CD.

O Sobrado do Barão do Jarau

O sobrado foi construído para o barão do Jarau quando este tinha cinco anos,
em 1834. Foi levantado junto à casa térrea existente. Vários aumentos e modificações
ocorreram durante esse tempo. Exceto os últimos herdeiros, que atualmente lá residem,
segundo parece, os demais usaram o sobrado como casa de veraneio. No período que
funcionava a charqueada a família ali permanecia durante a safra. O prédio mais antigo
sofreu desabamento parcial da cobertura. Os reparos modificaram os caimentos de
telhado e alteraram o perímetro da residência. A unidade formal do conjunto das
edificações foi fragmentada em uma de suas parcelas. Entretanto, continuam legíveis as
procupações formais das fachadas como, simetria, ritmo, a relação entre cheios e vazios,
tratamento dos cunhais, etc.
Posteriormente, houve aplicação de adornos de massa sobre as vergas de todas
as aberturas das fachadas leste e norte. Esta última localiza-se em frente ao arroio
Pelotas. Por ter sido o curso d’água a via de acesso, a fachada norte era considerada a
principal. Recebeu um medalhão com a data da construção do sobrado sobre a bandeira
do império do Brasil. Provavelmente, a maioria das esquadrias mantém as dimensões
originais. Não foi possível detectar as janelas originais. Existem janelas de guilhotina e
de abrir de duas folhas, que possuem postigos internos ou venezianas externas.
Independente da época em que foram colocadas, assumem esta ou aquela solução. Da
mesma forma aparecem ou não elementos de ferro na parte superior das janelas.
202 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

As fachadas sul e oeste localizam-se junto ao pátio. Possuem janelas tipo


guilhotina, que foram alteradas; a parte superior em forma de arco, apresenta, hoje, a
verga reta, e, portanto, o desenho das aberturas apresenta a forma retangular. As portas
internas, com raras exceções, permanecem as primitivas, com a parte superior, bandeira
fixa, em madeira maciça ou em vidro. No pavimento superior existem paredes divisórias
de estuque, construídas com uma técnica diferente da comumente encontrada. Ao
contrário da malha usual, as paredes de estuque são estruturas com tábuas de madeira
fixadas nos barrotes, lado a lado, nas duas faces, ficando um vazio no seu interior.
Provavelmente, sobre estas tenham sido pregadas ripas de madeira chanfradas, com a
função de reter a argamassa do reboco.
As paredes de sustentação, internas e externas, foram construídas em alvenaria
de tijolos e, as mais antigas, argamassadas com barro. Um número maior de tijolos
medem 13X32cm. As paredes externas, no primeiro pavimento, chegam a ter 80cm de
espessura, no segundo piso, 60cm. Posteriormente, para reforço da estrutura, foram
colocados tirantes nas paredes da parte mais recente do sobrado. Hoje, a estrutura do
prédio de dois pavimentos, na área onde está localizada a cozinha, apresenta riscos de
desabamento. Devido à dimensão do vão, para reforço das estruturas, onde atualmente
se localiza a sala do sobrado, foi colocado um esbelto pilar metálico.
Até onde pudemos verificar, a estrutura das fundações é de tijolos. O que não
desfaz a possibilidade de se encontrar outros materiais em camadas mais profundas,
como evidencia o uso de pedras de granito na ruína próxima à residência. A estrutura da
cobertura do prédio mais antigo, devido ao desabamento, é recente. Houve
aproveitamento das telhas e mudança no madeiramento. Na estrutura do telhado do
sobrado, permanecem as tesouras e as terças de madeira falquejadas. Os caibros e
eucalipto apresentam contrafeitos, mudança do caimento da parte inferior da cobertura.
O telhado de valadio, de telhas soltas, sem rejunte, necessita também de reparos.
A planta resultante do conjunto de prédios tem a forma aproximada de um “L”.
Um pátio murado fecha a lateral do conjunto. No interior das edificações, acabamentos,
forros, materiais de revestimento de paredes, pisos, etc. foram escolhidos de acordo com
o uso e a hierarquia dos ambientes. Os forros possuem ou não tabeira. Dentre os
revestimentos de paredes, destacam-se a escaiola, uma mistura de gesso e cola que imita
pedra, de um dos banheiros, e o afresco junto a tabeira de um dos compartimentos.
Muitos pisos foram trocados, outros revestidos de vinil. Também não é bom o estado de
conservação dos pisos originais.
Os pátios encontrados nas duas residências se justificaria pela necessidade de
proteção e refúgio da família do charqueador, bem como a segurança no convívio com
os escravos. Permitiria o isolamento em relação a animais bravios ou pestíferos e um
certo afastamento do mau cheiro reinante naqueles ambientes. Ao contrário, numa outra
alternativa de ocupação, os pátios serviriam de área destinada a clausura dos escravos
domésticos e de ofícios. Ao atentar para esta última proposta, observamos que as
paredes que encerram este ambiente tem a mesma espessura das paredes externas,
evidenciando os problemas tanto a nível da segurança externa como interna. O perigo
tanto poderia vir de fora como do interior da própria moradia.
Somente o estudo sistemático das poucas residências restantes poderia definir
suas soluções tipológicas. Porém, a partir das descrições realizadas, podemos levantar
algumas hipóteses e tecer algumas tendências que, pelas simples observações as
residências remanescentes, não podem ser generalizadas. Em um ou dois pavimentos,
através de aumentos sucessivos, o partido arquitetônico ia configurando um pátio. A
DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 203

tipologia formal correspondia às mesmas soluções encontradas no resto do país. Em


poucos e determinados detalhes técnico-construtivos, podemos observar soluções
singulares. Os aspectos referentes ao conforto ambiental, instalações, móveis precisam
ser observadas, etc. Destacamos uma uniformização no que diz respeito a critérios de
implantação da residência, paredes de tijolos de 13X32cm argamassados com barro,
coberturas de telhas cerâmicas.
Quanto às construções destinadas à produção da carne salgada e moradia dos
escravos, somente em poucos locais acham-se hoje alguns vestígios das construções.
Uma chaminé, uma caldeira, o piso de uma cancha são encontrados aqui ou ali, ao longo
do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo. O trabalho de levantamento das estruturas
remanescentes confirmaram as informações contidas nas fontes primárias. Destacaram
os elementos cerâmicos como os materiais da construção mais utilizados tanto nas
instalações fabris como nas casas de moradia dos senhores.
204 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Figura 53 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Implantação geral.


DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 205

Figura 54 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Planta baixa 1º pavimento.


206 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Figura 55 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Planta baixa 2º pavimento.


DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 207

Figura 56 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação leste/corte EF.


208 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Figura 57 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação norte/corte AB.


DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 209

Figura 58 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação sul/corte CD.


210 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Figura 59 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação oeste/corte GH.


Conclusão

O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE

A sesmaria do Monte Bonito, que se localizava no final da serra do Mar,


conhecido como serra dos Tapes, entre os arroios Santa Bárbara e Pelotas, na margem
norte do canal São Gonçalo, ligação natural entre a laguna dos Patos e a lagoa Mirim,
no sul do continente americano, teve um desenvolvimento diferente das demais terras,
situadas na região. Nessa área, os portugueses assentaram o cerne de sua produção
charqueadora escravista meridional.
No Monte Bonito, nos dois primeiros meses de 1781, doaram-se 19 datas de
terras ribeirinhas. Os terrenos começaram a ser subdivididos, no seu sentido
longitudinal, e transformados num conjunto de 30 fábricas de salgar carnes contíguas.
Fundamentalmente, o núcleo charqueador pelotense constituiu-se dos estabelecimentos
saladeiris, do Logradouro Público, da Tablada, da cidade, do passo dos Negros, das
datas de matos, na serra dos Tapes, das vias hidrográficas, com seus sistemas de portos
e trapiches e das vias terrestres com suas pontes e passos.
No Rio Grande de São Pedro do Sul, os terrenos marginais da sesmaria
serviram como um dos abrigos do sistema escravista. O espaço da produção do charque
apresentava um quadro macabro, fétido e pestilento. Nesse lugar, imperavam vísceras,
sangue, excrementos, ossos e animais pestíferos e ferozes. Reinava o mau cheiro. Ilhas
de imundícies, proliferavam nos terrenos encharcados da fabricação da carne salgada e
de seu subprodutos. A população cativa vivia nessas condições ambientais, sob um
regime carcerário e num ritmo de produção fabril. De novembro a maio, quando o gado
estava mais robusto e os dias eram os mais quentes do ano, trabalhavam da meia noite
ao meio dia. Nos outros meses, possivelmente, produziriam nas olarias existentes nas
charqueadas ou impulsionariam a construção de prédios na cidade.
A implantação, situação, localização e organização espacial do núcleo
charqueador pelotense foram determinadas por inúmeras questões. Entre estas últimas,
destacamos: as expansões desenvolvidas pelas coroas ibéricas; o regime de doações de
terras na sesmaria do Monte Bonito; as especificidades da escravidão nas charqueadas.
Por isso, a análise dessa área fabril extrapolou o estudo individual dos estabelecimentos
saladeiris.
212 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Ocupação Ibérica

Quando os europeus chegaram ao território do atual Rio Grande do Sul


encontraram, por uma das suas classificações, três grupos de habitantes nativos: os
tupis-guaranis; os gês e os guaicurus. A ocupação espanhola na área do Prata seguiu
dois caminhos: um, pelo norte, descendo a América Central, margeando a costa do
Pacífico, e o outro, que partia de Buenos Aires, tomava o rumo do Paraná e do Paraguai
e, no vale da bacia do Uruguai, ia em direção ao ocidente, chocando-se com as correntes
portuguesas. Primeiro, o expasionismo da coroa lusa levou à realização de várias
expedições marítimas, que navegavam no sentido do litoral banhado pelo Atlântico.
Depois, as investidas terrestres ficaram por conta dos bandeirantes paulistas,
que, como os encomenderos espanhóis e os padres da Companhia de Jesus, vinham à
procura dos nativos. Apesar do tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, este pedaço
de terra continuou na disputa entre as monarquias ibéricas, quase sempre mediadas
pelas conveniências dos papas, interesses da França, da Inglaterra, da Holanda, entre
outras potências, e de toda uma população que não pertencia a nenhuma coroa, como
bucaneiros, mercenários, bandos tropeiros, escravos africanos e nativos.
De 1580 a 1640, houve a unificação das coroas ibéricas. Quarenta anos mais
tarde, em 1680, os portugueses fundaram a Colônia do Sacramento, no rio da Prata, na
frente de Buenos Aires. Depois do rio Amazonas, o Mar del Plata era a segunda e
última entrada para o interior do continente sul-americano. O nome do rio representava
o acesso aos produtos das minas de prata andinas e a todos os negócios, tráficos,
contrabandos que navegavam naquele rico mar interior.

Vacarias

Em 1636, os sucessivos ataques mamelucos portugueses determinaram fim às


reduções jesuíticas, localizadas na margem esquerda do rio Uruguai. No último ataque,
foram vencidos, o gado, abandonado pelos padres e guaranis, reproduziram-se, formou
rebanhos enormes, avançou até as margens da lagoa Mirim, alcançou o rio da Prata e
originou a vacaria do Mar. Levando alguns animais, os missioneiros migraram para as
regiões dos rios Paraná e Uruguai, dando origem à vacaria de Cima da Serra ou dos
Pinhais, consolidando um tipo de desenvolvimento econômico para a área platina.

Estradas

Em 1703, Domingos Filguera realizou a primeira caminhada conhecida entre a


Colônia do Sacramento e Laguna, inaugurando o que seria chamado de Caminho da
Praia, na costa do Atlântico. Dependendo da posse do território, a estrada que
O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE 213

acompanhava o mar servia mais aos portugueses, ou, mais aos espanhóis. Nos dois
casos, no Caminho da Praia circulavam tropeiros, mercenários, marginais,
contrabandistas, etc. Ao norte, no interior, a estrada do Planalto seria consolidada em
1730, permitindo que o transcurso entre Laguna e Curitiba fosse realizado em menos de
um mês, pelas tropas de gado. Em 1727, Bruno Maurício de Zabala, governador de
Buenos Aires, adiantou-se às intenções dos portugueses e fundou Montevidéu, entre
Colônia e Laguna.

O Espaço da Comandância Militar do Rio Grande

A retaguarda portuguesa, instalada em 1737, pelo brigadeiro José da Silva Pais,


chamou-se presídio Jesus-Maria-José. A povoação do Porto, onde se localizava o
presídio, deu origem à atual cidade de Rio Grande. Estabeleceu-se uma região ocupada
militarmente. Estendia-se do serro de São Miguel, no limite sul, até a guarda do arroio
Tramandaí, no norte. Os fortes de São Miguel, Porto e Estreito; as guardas do Chuí,
Taim, Albardão, Passo Novo, Arroio, saco da Mangueira, Viamão e Tramandaí e as
estâncias de Bojuru e Torotoma formavam o espaço da Comandância Militar do Rio
Grande de São Pedro do Sul. Essas edificações, construídas com o trabalho servil dos
tapes, e, em menor número, por negros escravizados, representaram a defesa, o controle,
a fiscalização, a cobrança de impostos, o alcance dos rebanhos platinos, a posse do
território, o acesso às vias hidrográficas da bacia da laguna dos Patos e da lagoa Mirim.
No mesmo período da instalação da Comandância Militar, iniciaram as
doações de sesmarias, com a conseqüente fixação de estâncias, e registraram-se as
primeiras notícias sobre charqueadas artesanais no Rio Grande. As terras da planície
costeira foram ocupadas pelas forças militares do poder colonial português. As áreas por
onde passava a estrada do Planalto vieram a ser doadas, pelo governo de São Paulo,
àqueles tropeiros que, em grupos, munidos de armas, enfrentaram os espanhóis,
escravizaram nativos, transportaram animais, abriram caminho entre o rio da Prata, São
Paulo, Minas Gerais e asseguraram o domínio luso.

Permanência Espanhola em Rio Grande. Tratado de Santo


Idelfonso

Entre 1763 e 1776, dom Pedro Ceballos, capitão-general e Governador das


Províncias do Rio da Prata, permaneceu em Rio Grande. Em 1777, foi firmado o tratado
de Santo Idelfonso. Até o arroio Piratini, asseguravam os portugueses, a terra
pertenceria aos lusitanos. Vizinha a essa área, ficavam os Campos Neutrais,
determinados pelo acordo. Configuravam um curral nativo, repleto de rebanhos de gado
e grupos de homens armados, que vagavam por aquela língua de terra, banhada,
longitudinalmente, pela lagoa Mirim e pelo oceano Atlântico.
214 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Nas andanças entre as terras espanholas, que ficavam ao sul do arroio Chuí, e a
área portuguesa, ao norte do arroio Taim, aprisionavam, transportavam, coureavam os
rebanhos e faziam contrabandos. A terra de “ninguém”, instituída pelo tratado, que
deveria ser uma área desocupada e de proteção às duas colônias, era, ao contrário,
povoada de gado e de bandos de homens que viviam circulando por esse território.

Propostas de Ocupação

Três propostas de ocupação, para a área contígua aos Campos Neutrais,


puderam ser verificadas nos textos de Francisco João Róscio, engenheiro militar, escrito
entre 1774 e 1775; Sebastião Francisco Bettamio, secretário da junta da Fazenda do Rio
Grande do Sul, encaminhado ao vice-rei, em 1780, e as observações realizadas por
Moniz Barreto, em 1778. No primeiro documento, Roscio avaliava em 50.000 cabeças
as vacas errantes, nas cabeceiras do rio Negro, e atentava para os rebanhos existentes na
faixa de terra entre a Mirim e a costa do mar. Em seguida, fez considerações sobre as
vantagens da região da lagoa Mirim sobre a vila de Rio Grande, quanto à segurança e
aos recursos locais. Falou da qualidade da terra e da abundância dos materiais de
construção, como madeiras, barros e pedras.
O trabalho do secretário da junta da Fazenda do Rio Grande, contendo as
mesmas observações do engenheiro, indicou os nativos para trabalharem no corte da
madeira, na elaboração de tijolos e telhas de barro e na extração e quebra da pedra.
Quanto à localização, foi explícito: determinou um campo chamado das Pelotas.
Chamou a atenção para o freqüente sepultamento dos edifícios de Rio Grande
pelos combros de areia. Enquanto isso, Moniz Barreto já tinha proposto que as carnes
salgadas fossem exportadas e, ao contrário do que se vinha fazendo, que as terras
fossem repartidas em muitas pequenas fazendas. Coincidentemente, ou não, com esses
autores, na sesmaria do Monte Bonito, entre janeiro e fevereiro de 1781, começou a
distribuição formal de 19 terrenos marginais.

Serro Pelado

O distrito do Serro Pelado, através do São Gonçalo e da Mirim, tinha acesso


fluvial à Banda Oriental do Uruguai; pelo canal e laguna dos Patos, possuía o alcance
lacustre ao porto marítimo de Rio Grande. Encerrava quantidade de madeira, pedra e
argila, necessárias à construção. Continha habitantes foragidos do período de
permanência espanhola e situava-se nas proximidades dos Campos Neutrais. A margem
norte do sangradouro da Mirim, a área compreendida entre a laguna dos Patos e o arroio
Pavão, ou do Contrabandista, afluente do Piratini, era intercalada pelos arroios de
Pelotas, Santa Bárbara, Fragata, Padre-Doutor ou São Tomé e Pavão.
O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE 215

As terras doadas levaram em conta os limites naturais, os cursos d’água, e


limitaram, respectivamente, as estâncias de Pelotas, Monte Bonito, Santa Bárbara, São
Tomé, Santana e Pavão. As sesmarias no distrito do Serro Pelado estavam afetas ao
brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, dono da fazenda do Pavão, que, como Comandante da
Fronteira do Rio Grande, era quem dava informações no processo de doações de terras.
A posse oficial das sesmarias iniciou em 1780. Neste espaço, puderam ser contadas em
torno de 40 charqueadas, sendo sete na sesmaria de Pelotas, 30 na do Monte Bonito,
uma na de Santa Bárbara, uma na do Fragata e mais uma na do Pavão.

Estância, Charqueada e Olaria

Com exceção da sesmaria do Monte Bonito, as charqueadas situadas no Serro


Pelado estavam dispersas, localizadas junto aos espaços dedicados à criação de animais.
Em todas as situações, instalavam-se nas margens de um dos arroios. As águas serviam
de vias hidrográficas e, ao mesmo tempo, de esgoto. O espaço desses complexos
pecuários era constituído, quase sempre, de duas áreas: o campo, destinado aos
rebanhos de gado, e o terreno onde funcionava a salgação das carnes e de seus
subprodutos, compartilhado, na maioria das vezes, por olarias. Parece que essa segunda
atividade, a produção de elementos cerâmicos, seria alternativa à primeira.

A Escravaria das Estâncias, Charqueadas e Olarias

As unidades compostas de estância, charqueada e olaria tinham de 30 a 150


escravos; mais da metade do plantel trabalhava no espaço fabril. Quase dez por cento do
total de cativos dedicavam-se às lides campeiras, e outros, quase dez por cento,
trabalhavam como domésticos. Mais de 70% desse trabalhadores eram especializados.
As mulheres, as menos qualificadas para o trabalho, representavam 16%, as crianças
ficavam em 2% dos escravos.
Os dados referentes à população servil desses empreendimentos, reforçam a
hipótese de que os senhores preferiam investir em novas “peças” a apostar na
reprodução dos cativos; afastam a possibilidade de o casamento ser usual entre os
escravos e questionam o discurso da dificuldade de qualificação da mão-de-obra servil.
Observou-se, na segunda metade do século passado, através da análise de dois ou três
inventários de uma mesma propriedade, a redução de escravos. Tal tendência não pôde
ser verificada nas fábricas do Monte Bonito.
216 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Sesmaria de Pelotas

O rincão de Pelotas havia sido doado, em 1758, ao tenente-coronel português


Tomás Luís Osório, por heroísmo na guerra contra os guaranis das missões jesuíticas.
Três anos depois, ele foi encarregado de orientar a construção da fortaleza de Santa
Tereza e de defender o território de Castilhos. Sem reagir, entregou o forte aos
espanhóis.
Julgado e executado em Portugal, coube à viúva e aos filhos, em 1799, vender
o rincão ao capitão-mor Manuel Bento da Rocha, fornecedor do exército e militar das
forças de Rafael Pinto Bandeira. Além, da fazenda de Pelotas, no distrito do Serro
Pelado, dispunha das estâncias de Correntes e de São Lourenço. Junto com os seus
agregados, possuía em torno de 16% do rebanho do lugar.
A sesmaria de Pelotas, ao longo do século XIX, resultou em cinco fazendas e
sete charqueadas. As fazendas chamavam-se: Patrimônio ou Sá; Graça; Palma; Galatéia;
Laranjal ou Nossa Senhora dos Prazeres. Uma das charqueadas localizava-se no
Laranjal. As outras seis, na margem esquerda do arroio Pelotas, nos seguintes locais: na
Graça; no Moreira; na Costa; no Fontoura; no Castro e na Palma. Manuel Bento da
Rocha era casado com Isabel Francisca da Silveira. A mulher do capitão-mor, suas
irmãs, sobrinhas, sobrinhas-netas e bisnetas criaram uma rede intrincada de contratos de
casamentos e propriedades na região.
Isabel e Manuel Bento não tiveram filhos. Depois do falecimento do capitão-
mor, a viúva administrou a estância até a sua morte, no ano da independência do Brasil.
Por testamento, destinou parcialmente a fazenda de Pelotas a duas sobrinhas-netas e
afilhadas, as irmãs Maria Regina da Fontoura e Isabel Dorotéia da Fontoura, netas de
sua mana, Maria Antônia, casada com Maurício Inácio da Silveira, e filhas de Dorotéia
Isabel da Silveira e do capitão de dragões José Carneiro da Fontoura.
Maria Regina da Fontoura casou-se com o lisboeta João Duarte Machado. Eles
foram pais de José Maria e de Manuel Bento, donos da charqueada do Fontoura, e de
Maria Augusta da Fontoura, casada com outro português, Joaquim José Assumpção, e
proprietários do saladeiro da Costa e da fazenda do Laranjal, sendo, esses últimos, pais
do barão do Jarau. A outra herdeira, Isabel Dorotéia da Fontoura, casou com João
Simões Lopes, outro lusitano. Eles foram pais do visconde da Graça, avós do conhecido
escritor João Simões Lopes Neto e senhores da estância, charqueada e olaria da Graça.
Sucessivamente, foi sendo constatado o parentesco entre as famílias proprietárias.
Percebeu-se que as terras eram doadas a militares e a padres. Esses homens casaram
suas filhas, sobrinhas, afilhadas, netas com portugueses, recém chegados à colônia. Os
filhos desses casamentos constituíram a nobreza do charque.

Sesmaria do Monte Bonito

Nos primeiros dias de 1779, o tenente de dragões Manuel Carvalho de Souza


recebeu a sesmaria do Monte Bonito. Um ano e três meses depois, vendeu-a ao vigário
de Viamão, Pedro Pires da Silveira. Em 2 de abril de 1781, o vigário passou a
O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE 217

propriedade ao alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado. O alferes era casado com
Maurícia Inácia da Silveira, sobrinha de Isabel Francisca da Silveira, dona da estância
de Pelotas e filha de Mariana Eufrásia da Silveira e do sargento-mor Francisco Pires da
Silveira Cazado, agregado e irmão de seu marido. Mariana recebeu seus terrenos em
1813. Na área concedida, funcionaram duas charqueadas e realizou-se o segundo
loteamento da cidade.
Antes que o vigário vendesse a propriedade, no início do ano de 1781, foram
doadas 19 datas de terras localizadas na margem norte do canal São Gonçalo e direita
do arroio Pelotas. Eram faixas de mais ou menos 770X4.136m. Davam frente ao arroio
Pelotas ou ao canal São Gonçalo, e fundos à estância do alferes Inácio Antônio da
Silveira Cazado. Ao observarmos o mapa da sesmaria do Monte Bonito, consolidado ao
longo do século XIX, anotamos um complexo fabril composto por mais ou menos 30
charqueadas contíguas, estabelecidas nos terrenos ribeirinhos doados; pela cidade; pelo
Logradouro Publico, pelo passo dos Negros e pelas datas de matos, na serra dos Tapes.

Os Rodrigues Barcellos

A família Rodrigues Barcellos deteve o maior número de fábricas na sesmaria


do Monte Bonito. Descendo o arroio Pelotas em direção ao canal, na margem direita,
encontramos as propriedades dos seguintes Rodrigues Barcellos: Boaventura, com dois
estabelecimentos; Inácio, com um; Bernardino, com dois, e Cipriano, também com dois.
Não fez parte dessa relação a ala feminina da família que, casando-se com
charqueadores e/ou vizinhos, consolidava os negócios da família, como os casamentos
entre os confinantes Maria Luíza, filha de Boaventura, com João Maria, filho de
Antônio José Gonçalves Chaves, e Bernardina, filha de Bernardino, com o tropeiro que
veio de Minas Gerais, Domingos José de Almeida, e se tornou ministro da Fazenda da
República do Piratini.

Enlaces

Quando os terrenos ribeirinhos, da sesmaria do Monte Bonito, transformaram-


se em fábricas, seus proprietários eram lusitanos, ou procedentes de outras províncias,
dos demais distritos do Rio Grande ou, então, da Colônia do Sacramento. Alguns
possuíam estâncias e até mesmo saladeiros na Banda Oriental do Uruguai. Casavam
suas filhas com portugueses, ou descendentes desses, recém-chegados ao Rio Grande,
ou com vizinhos, como no caso do casamento do português Antônio José Gonçalves
Chaves, com Maria do Carmo Secco, nascida no Povo Novo, filha do lusitano e
conhecido charqueador, confinante de Chaves, Joaquim José da Cruz Secco. Os
contratos matrimoniais criaram uma rede de parentesco entre os empresários dos
estabelecimentos marginais da sesmaria do Monte Bonito. Diferentemente dos nobres
218 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

senhores criadores e charqueadores, o título recebido pelos simples fabricantes da carne


salgada restringiu-se à Comenda.

Complexo Fabril

A distribuição dos espaços acompanhava a topografia, a vegetação, a geografia


e a geomorfologia e adequava-se aos interesses econômicos, sociais e políticos. Enfim,
os limites eram naturais e, portanto, não muito precisos. As medidas variavam com os
caprichos da natureza e o sabor dos poderes.
A estância do alferes Antônio Inácio da Silveira Cazado foi empurrada para a
serra. Os charqueadores concorreram com modestos agricultores e receberam terras na
serra. O Logradouro Público estava situado no centro da planície descampada, que
separava os arroios Santa Bárbara e Pelotas. A cidade implantou-se em um terreno
plano, de mata pantanosa e linhas de areias. As fábricas fixaram-se nas várzeas
alagadiças, superfícies constituídas de aluviões mal drenados, ricas em argila e matéria
orgânica, áreas marginais do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo.

Passo dos Negros

O passo dos Negros, localizado no São Gonçalo, próximo da boca do arroio


Pelotas, era o local de passagem do gado que vinha dos Campos Neutrais, de
fiscalização, cobrança de impostos e de comercialização de escravos. Inicialmente
chamado de passo Rico, chegou a ter um projeto de povoação, com seis quarteirões.

Datas de Matos na Serra dos Tapes

As datas de matos na serra dos Tapes foram concedidas aos charqueadores em


1800. Ali, mais que a agricultura, extraía-se todo o tipo de madeira, que ia para as
fábricas, para alimentarem as caldeiras e fornalhas a vapor, utilizadas na fabricação de
graxa e sebo. Parte da madeira seguia para a construção civil, na cidade.
O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE 219

A Cidade

Três correntes disputaram a localização da sede de São Francisco de Paula,


atual Pelotas. A implantação da cidade era defendida conforme o vínculo que os grupos
tivessem com a posse da terra. Em 1813, Antônio Francisco dos Anjos, dono da
charqueada e estância do Fragata, e o padre Felício fizeram um acordo e começaram a
construção da casa do vigário e da igreja, em terras do capitão-mor Antônio dos Anjos,
que, originariamente, eram continuação da charqueada que pertenceu a José Gonçalves
da Silveira Calheca. Antônio Francisco dos Anjos, padre Felício, filho do alferes de
ordenanças da Colônia do Sacramento Felix da Costa Furtado de Mendonça, dono da
estância de Santana, e o tio do padre, cunhado alferes, vigário de Rio Grande, padre-
doutor Pedro Pereira de Mesquita, proprietário de terras lindeiras à estância de Santana
e à charqueada do Fragata, eram vizinhos, amigos e originários da Colônia do
Sacramento.
Por isso, parece ter sido fácil fechar o acerto que permitia a Antônio dos Anjos
aforar os terrenos na volta da casa do padre e da igreja, onde iniciou a crescer o casario
da nova freguesia. Naquele ano, a medição e o desenho reticulado foram realizados pelo
piloto Maurício Inácio da Silveira, que levou em conta, em seu traçado, as divisões dos
terrenos fabris. Em 7 de novembro de 1827, o inventariante das terras do casal capitão
Francisco Pires Cazado e Mariana Eufrásia, entregou os terrenos doados para servidão
do povo de Pelotas, obrigatórios para a instalação do segundo loteamento. As
construções urbanas cresciam em direção ao canal de São Gonçalo.

Logradouro Público. Tablada

As “sobras” destinadas ao Logradouro Público, facilitaram o comércio do


gado. Ficavam por conta dos estancieiros e de seus peões as desvantagens do transporte
dos rebanhos. Depois da viagem, das dificuldades, das perdas, do emagrecimento do
gado, e ao lado de muita oferta, ficava difícil aumentar o preço do boi. Com o dinheiro
conseguido pelas vendas nas mãos, compravam o que lhes abastecesse até o próximo
ano, procuravam determinados serviços e escolhiam algum tipo de divertimento. Essas
atividades impulsionaram o desenvolvimento urbano. Os navios que levavam o charque
traziam mercadorias. Comerciantes, artesãos, profissionais de todos os tipos se
estabeleciam.
Em 19 de agosto de 1825, foi instalado o Logradouro Público da povoação de
São Francisco de Paula. Em 1851, foi medido judicialmente. A câmara municipal de
Pelotas havia denunciado os charqueadores que avançaram com seus terrenos sobre o
Logradouro Público. No sentido longitudinal, alcançava quase os 9.000m; no
transversal, na parte mais larga, 1.500m e, na mais estreita, 400m. Daí, fechava-se um
triângulo, que determinava a Tablada. Definia-se como um espaço central, limitado a
leste pela fazenda do Monte Bonito e pelas charqueadas do São Gonçalo e do Pelotas.
220 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Charqueadas e Olarias do Monte Bonito

As charqueadas eram compostas de dois ou três terrenos intercalados por


estradas. Junto ao Logradouro Público, localizava-se o potreiro dos fundos, depois o
potreiro do meio e, por fim, o terreno da charqueada. O gado ia da comercialização de
potreiro em potreiro até alcançar a mangueira de matança, onde era abatido. Daí, ia para
a cancha, onde terminava de ser morto, era esfolado e esquartejado.
Nos galpões, realizava-se a desossa, o chaqueio, a salgação e as pilhas de carne
e sal que aguardavam para serem colocadas nos varais. A linha de produção dos
subprodutos do charque era composta pela graxeira, pelos tanques e pelas barracas para
os couros. As charqueadas possuíam portos e os charqueadores, iates para o transporte
dos produtos até o porto de Rio Grande, onde trocavam de embarcação para atingirem o
mar.
No mesmo terreno da produção do charque, em algum galpão, junto à graxeira,
à tafona, ou a qualquer outra das benfeitorias, localizava-se a senzala. Um pouco mais
afastada, estava a casa do senhor; um pomar de espinhos, ou chácara, ficava próximo à
morada, ou no potreiro do meio. Mais um estabelecimento de olaria completava o
programa de necessidades das fábricas.
As primeiras construções eram de pau-a-pique e tinham cobertura de capim. Os
galpões das olarias eram construídos com esses materiais. Com a produção desses
estabelecimentos, pisos, caminhos, circulações, tanques, canaletas de esgotos, paredes e
coberturas passaram a ser feitos de elementos cerâmicos. O galpão de paredes de tijolos
e cobertura em duas águas, de telhas de barro, foi o tipo de construção mais utilizado. É
possível que a fabricação nas olarias e a construção civil tivessem sido uma produção
alternativa à mão-de-obra escrava, nos períodos da entressafra do charque.

Qualificação da Mão-de-Obra Cativa e o Espaço da


Produção do Charque

Desde os primeiros estabelecimentos do núcleo pelotense, o gado era abatido


em espaço construído e equipado para esse fim, as mangueiras de matança. Até 1845, as
graxas e sebos eram produzidos em caldeirões de ferro. Após essa data, foram adotadas
as máquinas a vapor, o que demonstrou certo desenvolvimento na complexidade do
processo produtivo, qualificação na mão-de-obra e melhoria dos produtos. A disposição
dos terrenos definia um fluxograma. O gado ia desde a sua comercialização, na Tablada,
até a exportação do produto, no porto de Rio Grande, nas mãos dos cativos.
Mais da metade da população servil das fábricas era especializada. Os
campeiros, na mesma porcentagem que nos estabelecimentos que possuíam estância,
ocupavam os potreiros, vizinhos ao Logradouro Público. Os carneadores e serventes
distribuíam-se na mangueira de matança, cancha, galpões, varais e pilhas de embarque.
O transporte no arroio Pelotas, no canal São Gonçalo, na laguna dos Patos e no porto de
Rio Grande era realizado por escravos marinheiros.
O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE 221

Metade dos senhores possuía em seu plantel marujos cativos. A outra metade,
possivelmente, contrataria os serviços dos primeiros. A produção e o transporte do
charque eram apoiados pela mão-de-obra de escravos de ofício e domésticos, que
ajudavam na manutenção do próprio plantel de cativos, como os cozinheiros; das
instalações, como os carpinteiros e os pedreiros; dos senhores e de suas famílias, como
os engomadores, etc.

Escravaria nas Charqueadas e Olarias

Uma média de 54 escravos trabalhavam nas fábricas de charque; desses, 13%


eram do sexo feminino. Por um lado, nenhuma menção a casamento entre os cativos foi
encontrada; por outro lado, constatou-se um número reduzidíssimo de crianças escravas.
Portanto, como nos empreendimentos que possuíam a criação e a matança, reafirmou-se
a preferência dos empresários do charque pela compra de novas “peças”, em vez do
investimento na reprodução dos trabalhadores servis.
Os carneadores e os serventes de charqueada eram os mais numerosos, com a
mesma média de 15 homens em cada uma dessas especialidades. As mulheres escravas
continuavam sendo as menos qualificadas para o trabalho. A quase total ausência de
trabalhadores especializados no trabalho agrícola, e a presença de pomares de espinhos,
chácaras ou hortas nos saladeiros, pode fazer supor que as escravas se dedicariam aos
cuidados da agricultura.
Da mesma forma, a total ausência de oleiros, ao lado da presença de olarias,
mais uma vez reforçou a possibilidade de a produção de elementos cerâmicos ser uma
das alternativas, bem como a construção de prédios urbanos, para o período da
entressafra do charque, apesar de os meses de inverno não serem os mais adequados a
essas atividades. Esses indicativos podem ser constatados no investimento imobiliário
urbano realizado pelos saladeiristas pelotenses.

Ambiente Construído

O entorno construído e o interior dos estabelecimentos, na visão dos viajantes


do século XIX, constituiu-se num espaço macabro, fétido e pestilento. As águas serviam
para despejar os dejetos, exportar os produtos, importar o sal e a mão-de-obra escrava.
A localização do núcleo charqueador pelotense estava vinculada à proximidade com as
vacarias e os campos neutrais; aos sistemas de vias terrestres, compostos basicamente
pelo caminho da Praia e estrada do Planalto e às vias hidrográficas da lagoa Mirim e dos
Patos, que pertenciam à bacia do rio da Prata.
Por toda a região platina, espalharam-se e concentraram-se saladeiros. Na
sesmaria do Monte Bonito, instalou-se o cerne do núcleo charqueador da colônia
portuguesa do Brasil meridional. A zonificação, distribuição das áreas por onde o fluxo
222 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

da matéria-prima e da mão-de-obra se distribuía, bem como, a composição física dos


espaços charqueadores foram decorrentes do tipo de ocupação determinada pelos
interesses econômicos escravistas da coroa lusa, condicionada ao meio ambiente
natural. Bandos de tropeiros traziam os rebanhos de gado para serem abatidos,
charqueados, salgados e transportados pelos cativos.
A população servil, junto com os seus senhores, habitava os terrenos
ribeirinhos e circulava pelo arroio Pelotas, pelo canal São Gonçalo e pela laguna dos
Patos, transportando a carne salgada. O espaço da produção charqueadora pelotense foi
um dos locais de consolidação do sistema escravista do Rio Grande do Sul, ao mesmo
tempo em que foi um lugar onde verificou-se a exploração violenta do trabalho cativo.
O espaço fabril foi descrito como um ambiente mórbido, insalubre, que chegava a
alcançar o macabro. Os vapores emanados das águas e detritos parados, dissipavam
pelos ares os cheiros nauseabundos dos sangues putrefatos, dos excrementos
apodrecidos, das vísceras decompostas pelo forte calor do sol, nos dias de safra. E as
nuvens de fumaças, que saíam das fornalhas, exalavam o cheiro das gorduras fervidas e
dos ossos carbonizados. Os urros dos animais abatidos e esfolados vivos e o som do
ritmo do trabalho imposto pelos feitores nos escravos terminavam por compor o tétrico
meio ambiente da produção charqueadora pelotense.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

I - Fontes

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1.2 Seção de Manuscritos Carta das lagoas dos Patos, Mirim e dos canais que
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224 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

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Boaventura Inácio Barcellos, arroio Pelotas,
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181/1820/1827/1833. L. 93, p. 46.
Carta esferica del Rio de la Plata, 1789. M -D, G - 3,
Boaventura Rodrigues Barcellos, arroio Pelotas,
m - 1345.
1814. L. 92, p. 61.
Quadro comparativo da posição e profundidade da
Boaventura Rodrigues Barcellos, estrada do Retiro,
barra do Rio Grande do Sul em diferentes
1827. L. 93, p. 143.
épocas. 1775 - 1883. M - G, G- 9, m - 1934.
Cipriano Rodrigues Barcellos e Cipriano Joaquim
Carta demonstrativa do valor estratégico de Pelotas,
Barcellos, 1829. L. 92, p. 78.
do plano de defesa do Rio Grande do Sul, da
seção meridional de um novo traçado para a Cipriano Rodrigues Barcellos, Logradouro Público,
Estrada de Ferro Recife - Valparaiso. 1822. L. 92, p. 38.
OTACÍLIO CAMARÁ. M - B, G- 8, m - 584.
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Domingos de Castro Antiquera, arroios Correntes e
Mapa particular del Rio de la Plata y sus contornos, Grande, 1823. L. 93, P. 35.
con las situaciones de los puertos de mar de
Eleodoro de Azevedo Souza, arroio Pelotas, s.d. L.
aquelas costas. M - D, G - 3, m - 1345.
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4 PELOTAS. Instituto Histórico e Geográfico de
Francisco Antônio da Cruz Guimarães, quinhão da
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Planta da cidade de Pelotas, escala: 1/10.000, 1922.
José Gonçalves da Silveira Calheca, São Gonçalo,
Planta da cidade e seus arrabaldes, escala: 1/5.000,
1790/1799/1815. L. 93, p. 145.
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José Inácio da Cunha, arroios Moreira e São Tome,
Pelotas e seus arrabaldes, escala 1/25.000, 1926.
1829. L. 93, p. 40.
Planta da cidade de Pelotas e seus arrabaldes, escala:
José Joaquim Gonçalves, arroio Pelotas, procede da
1/10.000, 1949.
fazenda do Monte Bonito, 1825/1832. L. 93, p.
169. Planta da cidade, escala: 1/25.000, 1967.
José Pereira da Silva Brites, arroio Pelotas, 1832. L. Planta cadastral, reconstituição aerofotogramétrica,
93, p. 27. escala 1/2.000, 1972.
José Rodrigues Barcellos, arroio Pelotas, Evolução urbana, 1815-1966, escala: 1/40.000, 1978.
1802/1808/1815. L. 93, p. 179.
Planta da cidade, escala: 1/20.000, 1980.
Luis Pereira da Silva e Eugênia da Conceição, arroio
Pelotas e canal São Gonçalo, 1778/17786/1806. Mapa das estradas de rodagem do município, escala:
L. 93, p. 105. 1/100.000, 1989.

Luís de Azevedo e Souza, João Vinhas e José Planta da zona suburbana da cidade de Pelotas,
escala 1/100.000, s.d.
Rodrigues Candiota, arroio Pelotas, s.d. L. 92, p.
2. 7 Outros mapas e plantas
Manuel Alves de Morais e sua sogra Maria 7.1 Porto Alegre. Acervo Helen Osório. Mapa do
Angélica, arroios Moreira e Santa Bárbara e caminho novo, que vai do passo de Turitama
canal São Gonçalo, 1817/1818. L. 93, p. 21. ao de S. Antônio, s.e., s.d.
Manuel Mendes de Oliveira, procede da fazenda do 7.2 Pelotas. Acervo herdeiros de Joaquim
Pavão, s.d. L. 92, s. p. Assumpção Rheingantz. Planta de um trecho
Manuel Silveira de Avila, arroio Pelotas, 1825. L. do arroio Pelotas, escala: 1/2.500, 1902.
93, p. 57. 7.3 Ministério do Exército. Departamento de
Manuel Soares, São Gonçalo, Povo do Passo dos Engenharia e Comunicações. Diretoria do
Negros, 1820. L. 93, p. 147. Serviço Geográfico.

Herdeiros de Manuel Soares da Silva e João Jacinto Região sul do Brasil, escala: 1/250.000, 1981.
de Mendonça, arroio Pelotas e canal São Região sul do Brasil, escala 1/50.000, 1981.
Gonçalo, s.d. L. 92, p. 58.
7.4 Secretaria da Agricultura do Estado do Rio
Manuel Ravelo Paiva, arroio Pelotas, s. d. L. 93, p. Grande do Sul. Departamento de Comandos
114. Mecanizados. Divisão de Geografia e
Mariana Angélica do Carmo. Quinhão da fazenda do Cartografia.
Monte Bonito, 1827. L. 93, p. 173. Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Sul,
Herdeiros de Mariana Eufrázia da Silveira, São escala: 1/1.000.000 e parte do Escudo Sul-
Gonçalo, 1813/1829. L. 93, p. 8. Riograndense, escala 1/600.000, 1989.

Tomás José de Campos, São Gonçalo, 1830 - 1842. 7.5 Mapas


L. 93, p. 163.
226 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Brasil, escala: 1/6.000 1967. Integra o exemplar da João Simões Lopes. Pelotas, nº 366, M.26, E.25, 1º
Georama nº 13. Buenos Aires: Codex. Cartório de Órfãos e Provedoria, 1853.
América do Sul, escala:1/20.000.000, 1967. Integra o João Guerino Vinhas. Pelotas, nº 383, M.26, E.25,
exemplar da Georama nº 28. Buenos Aires: Cartório de Órfãos e Provedoria, 1854.
Codex. José Gomes de Vasconcelos Jardim. Porto Alegre, nº
Norte da Argentina e Chile, Paraguai, escala: 99, M.7, E.2, 2º Cartório de Órfãos e Ausentes,
1/5.000.000, 1967. Integra o exemplar da 1854.
Georama nº 35. Buenos Aires: Codex.
José Vieira Vianna. Pelotas, nº 383, M.26, E.25, 1º
Uruguai, Rio da Prata, Andes Centrais Chilenos, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1854.
escala: 1/2.500.000, 1967. Integra o exemplar da
Albana dos Santos Barcellos. Pelotas, nº 406, M.28,
Georama nº 36. Buenos Aires: Codex.
E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1856.
Argentina e Chile meridionais, escala: 1/5.000.000,
Boaventura Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 409,
1967. Integra o exemplar da Georama nº 37. M.28, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria,
Buenos Aires: Codex. 1856.
B) Manuscritos Bernardino Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 430,
1. Porto Alegre. Arquivo Público do Estado do Rio M.29, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria,
Grande do Sul. 1857.
Processos de Inventário Euphazia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M.29,
E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857.
Joana Maria Bernardina. Pelotas, nº 16, M.01, E.25,
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1810. Mathilde da Silva Vinhas. Pelotas, nº 567, M. 36, E.
25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1862.
Domingos Rodrigues. Pelotas, nº 32, M.02, E.25,
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1818. Inácio Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 55, M.36,
E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1863.
José Gonçalves da Silveira Calheca. Pelotas, nº 56,
M.05, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, Manuel Batista Teixeira. Pelotas, nº 579, M.37, E.25,
1820. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1864.
João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M.06, E.25, 1º Joaquim Guilherme da Costa. Pelotas, nº 599, M.38,
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1823. E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1865.
Cecília Rodrigues da Silva. Pelotas, nº 83, M.07, José Inácio da Cunha. Pelotas, nº 60, M.38, E.25, 1º
E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871. Cartório de Órfãos e Provedoria, 1865.
José Pinto Martins. Pelotas, nº 114, M.10, E.25. Maria Antônia Coelho da Cunha. Pelotas, nº 603,
Cartório de Órfãos e provedoria, 1827. M.39, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria,
1865.
José Pinto Martins. Rio Grande, nº 354, M.15, E.12,
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1832. João Vinhas. Pelotas, nº 642, M.41, E.25, Cartório de
Órfãos e Provedoria, 1867.
Francisca Alexandrina de Castro. Pelotas, nº 239,
M.21, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, Baronesa e do barão do Butuy. Pelotas, nº 647,
1871. M.41, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria,
1867/1877.
Maria Augusta da Fontoura. Rio Grande., nº 514,
M.22, E.12, Cartório de Órfãos e Provedoria, Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº
1845. 02, M.01, E.28, 1º Cartório de Órfãos e
Provedoria, 1870.
Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M.21, E.25,
1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1849. Silvana Claudina Belchior. Pelotas, nº 727, M.44,
E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1870.
Manuel Soares da Silva. Pelotas, nº 318, M.22, E.25,
1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1850. Carlota Baptista Teixeira. Pelotas, nº 733, M.44,
E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.
José Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 15, M. 1, E.30,
1º Cartório do Civil e do Crime, 1850. Antônio José Gonçalves Chaves, nº 754, M.45, E.25,
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.
Virgínia de Souza Campos. Pelotas, nº 7335 M.23,
E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1851. Luís Teixeira Barcellos. Pelotas, nº 777, M.46, E.25,
1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.
Visconde de Jaguari. Pelotas, nº 348, M.26, E.25, 1º
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1852.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 227

Maria Luíza Chaves. Pelotas, nº 770, M.46, E.25, José Bento de Campos Filho. Pelotas, nº 733, M.44,
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1872. E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.
Anibal Antunes Maciel. Pelotas, nº 815, M.48, E.25, Medições
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1872. Alexandre Viera da Cunha. Pelotas-Santa Bárbara, nº
Mathilde Vinhas Lopes. Pelotas, nº 775, M.46, E.25, 612, M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime,
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1873. 1853.
José Anibal Antunes Maciel. Pelotas, nº 85, M.03, Antônio Francisco dos Anjos. Pelotas-Rincão, nº
E.30, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871. 525, M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime,
1813.
Francisco Anibal Antunes Maciel e Maria Augusta
Antunes Maciel. Pelotas, nº 3063, M.180, E.26, Antônio Pereira [padre]. Pelotas-Costa, nº 533,
1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1877. M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime,
1821.
Silvana Belchior. Pelotas, nº 870, M.50, E.25, 1º
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1877. Bárbara Lopes de Jesus. Pelotas-São Gonçalo, nº
567, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime,
Honório Luís da Silva. Pelotas, nº 111, M.06, E.28, 1815.
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1880.
Bento Francisco da Cruz. Pelotas-Santa Bárbara, nº
Rita Teixeira Barcellos. Pelotas, nº 937, M.54, E.25, 590, M.14, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime,
1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1880. 1847.
Domingos Soares Barbosa. Pelotas, nº 943, M.54, Bernardino Rodrigues Barcellos. Pelotas-Pelotas, nº
E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1881. 560, M.13, E.3o, 1º Cartório do Civil e do Crime,
Mathilde Vinhas Lopes. Pelotas, nº 775, M.46, E.25, 1829.
1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1883. Boaventura Inácio Barcellos. Pelotas-Pelotas, nº 575,
Antônio da Silva Maia e Bernardina Soares Maia, nº M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime,
995, M.57, E.25, Cartório de Órfãos e 1834.
Provedoria, 1884/1885. Boaventura Rodrigues Barcellos. Pelotas-Pelotas, nº
Jacinto Antônio Lopes. Pelotas, nº 1028, M.58, E.25, 568, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime,
1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1885. 1815.
Eleutério Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 1046, Câmara Municipal. Pelotas-Logradouro, nº 608,
M.59, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime,
1886. 1851.
João Maria Chaves. Pelotas, nº 1082, M.61, E.25, Câmara Municipal. Pelotas-Logradouro Público, nº
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1887. 609, M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime,
1852.
Boaventura Teixeira Barcellos. Pelotas, nº 157,
M.05, E.33, Cartório de Órfãos e Provedoria, Câmara Municipal. Pelotas-Santa Bárbara, nº 621,
1890. M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime,
1856.
João Simões Lopes Neto. Pelotas, nº 1254, M.69,
E.26, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1893. Cipriano Rodrigues Barcellos. Pelotas-Pelotas, nº
579, M.14, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime,
Barão de Corrientes. Pelotas, nº 217, M.06, E.33, 1835.
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1897.
Dorotéia da Fontoura Barcellos. Pelotas-Costa, nº
Barão do Jarau. Pelotas, nº 228, M.06, E.25, Cartório 642, M.16, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime,
de Órfãos e Provedoria, 1898. 1874.
Barão de S. Tecla. Pelotas, nº 1465, M.80, E.26, Eugênia Ferreira da Conceição. Pelotas, nº 564,
Cartório de Órfãos e Provedoria, 1902. M.14. E.33. 2º Cartório Civil e Crime, 1806.
José Maria Bento da Fontoura. Pelotas, nº 1465, Francisco Jerônimo Coelho. Pelotas-Pelotas, nº 608,
M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, M.14, E.3o, 1º Cartório do Civil e do Crime,
1902. 1854.
Baronesa de Santa Tecla. Pelotas, nº 308, M.09,
E.30, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1906.
228 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Francisco Rodrigues da Silva. Pelotas-Boca do Manuel Lopes Correa, Pelotas-Santa Bárbara, nº


Sangradouro, nº 521, M.12, E.30, 1º Cartório do 625, M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime,
Civil e do Crime, 1804. 1856.
Guilherme Rodrigues de Carvalho. Pelotas-Banhado Manuel Marques Lobo. Pelotas-Santa Bárbara, nº
do São Gonçalo, nº 627, M.16, E.30, 1º Cartório 630, M.16, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime,
do Civil e do Crime, 1864. 1865.
Isabel Francisca da Silveira. Pelotas-Rincão, nº 561, Manuel Nunes Batista. Pelotas-Palma, nº650, M.17,
M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, E.33, 2º Cartório Civil e Crime, 1885.
1795.
Manuel Santos Campello. Pelotas-Pelotas, nº 604,
Ismael Soares da Silva. Pelotas-Pelotas, nº 578, M.14, E.30, 1º Cartório Civil e Crime, 1850.
M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, Manuel Silveira de Ávilla. Pelotas-Pelotas, nº 556,
1845. M.13, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime,
Jaime Mendes Ferão. Pelotas-Santa Bárbara, nº 532, 1827.
M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, Maria da Conceição Xavier, Pelotas-Santa Bárbara-
1820. Fragata, nº 631, M.16, E.33, 2º Cartório Civil e
João Bento. Pelotas-Pelotas, nº 618, M.15, E.33, 2º Crime, 1863.
Cartório do Civil e do Crime, 1865. Roberto Barher, Pelotas-Pelotas, nº 605, M.14, E.30,
João Nunes Batista. Pelotas-Pavão, nº 611, M.15, 1º Cartório Civil e Crime, 1850.
E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1852. _____, Pelotas, nº 628, M. 15, E. 33, 2º Cartório
João Nunes Batista. Pelotas, nº 622, M.15, E.30, 2º Civil e Crime, 1862.
Cartório do Civil e do Crime, 1861. Silvana Eulália de Azevedo Barcellos, Pelotas, nº
622, M.15, E.33, 2º Cartório Civil e Crime, 1856.
João Mendes de Azevedo. Pelotas, nº 628, M.16,
E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1864. Vigéssimo José da Silva. Pelotas-Cascalho, nº 633,
M. 16, E. 30. 1º Cartório Civil e Crime, 1868.
Joaquim José Cruz Secco. Pelotas-Costa, nº 578,
M.13, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, Visconde da Graça, Pelotas- São Gonçalo, nº 645,
1834. M.16, E.30, 1º Cartório Civil e Crime, 1881.
José Joaquim Gonçalves. Pelotas-Costa, nº 575, Transmissões
M.13, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1 Livro de Notas Nº 1. 1º Tabelionato de Pelotas
1832.
Boaventura Inácio Barcellos, costa do Pelotas, 1833,
José Gonçalves da Silveira Calheca. Pelotas-Rincão, p. 111.
nº 569, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do
Crime, 1815. Domingos José de ALmeida, costa do Pelotas, 1833,
p.127.
José Pereira da Silva Brites. Pelotas-Pelotas, nº 574,
M.13, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, José Rodrigues Barcellos, 1834, p. 211-212.
1833. 2 Pelotas. Foro de Pelotas
José da Silva Candiota. Pelotas-Costa, nº 590, M.14, Processo de Inventário
E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1846.
Domingos José de Almeida. Pelotas, nº 279, 3ª Vara,
José de Souza Silva. Pelotas-Santa Bárbara, nº 581, 1961.
M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime,
3 Porto Alegre, Arquivo Histórico do Rio Grande
1844.
do Sul.
Luzia Firmina do Pilar. Pelotas-São Gonçalo, nº 540, Cadastro de Sesmarias (Relação de moradores que
M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, tem campo e animais nesse Continente) Livros nº
1840. 1198 A a D.
Manuel José Barreiros. Pelotas-Santa Bárbara, nº Registro de terras e terrenos concedidos nos
597, M.14, E.30, 1º Cartório Civil e Crime, 1847. diferentes distritos e municípios do RS. Livro de
Manuel Lopes de Carvalho. Pelotas-São Gonçalo, nº datas de terras 1755-1831. M. 45, Lª. 291.
524, M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, Livro de registro de sesmarias de terras. Rio Grande
1807. 1813-1814. Nº 41.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 229

Documentos diversos. M. 05, P. 2. José Gonçalves da Silveira Calheca, rio São


Gonçalo, 1790-1798-1799, L.93, p.144.
4 Pelotas, Biblioteca Pública Pelotense
José Inácio da Cunha, 1828-1843, rio São Gonçalo,
Museu
1828-1843-1844, L.93, p.122.
Registro de prédios e terrenos do município de
José Inácio da Cunha, arroios Moreira e Padre
Pelotas. Texto e extrato das medições de:
Doutor, 1829, L.93, p.38.
Antônio Francisco dos Anjos, rio São Gonçalo,
José Joaquim Gonçalves, Arroio Pelotas, quinhão da
1799-1821, L.93. p.24.
fazenda do Monte Bonito, 1825-1831-1832, L.
Antônio Francisco dos Anjos, povo de Pelotas, 1806- 93, p.168.
1815, L.92, p.9.
José Pereira da Silva Brites, Arroio Pelotas, 1832,
Antônio José Gonçalves Chaves, estrada de Pelotas L.93, p.26.
ao Retiro, 1827-1829, L.93, p.186.
Luís Pereira da Silva e Eugênia da Conceição, rio
Boaventura, Cipriano e Ignácio Rodriguez Barcellos, São Gonçalo e Arroio Pelotas, 1788-1786-1791-
Arroio Pelotas, 1814-1827, L. 93, p.33. 1804, L.93, p.104.
Boaventura Ignácio Barcellos, Arroio Pelotas, 1818- Manuel Alves de Morais e sua sogra Rozalia Maria
1833-1821-1827-1834, L. 93, p.44 e 45. Angélica, rio São Gonçalo, 1817-1818, L.93,
p.18.
Boaventura Rodrigues Barcellos, Arroio Pelotas,
1798-1802-1808, Arroio Pelotas, L.93, p. 178. Manuel Batista Teixeira, rio São Gonçalo, 1835,
L.92, p.124.
Boaventura Rodrigues Barcellos, Arroio Pelotas,
1814-1815, L.92, p.61. Manuel Silveira de Avila, Arroio Pelotas, 1825, L.
93, p.56.
Boaventura Rodrigues Barcellos, estrada do Retiro,
1829, L.93-142. Povo do Passo dos Negros, rio São Gonçalo, 1835,
L.93, p.146.
Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos, Arroio
Pelotas, 1829-1831-1845, L.92, p. 75-77. Relação dos terrenos doados para servidão do Povo
de Pelotas, 1827-1830, L.93, p.3.
Cipriano Rodrigues Barcellos, Arroio Pelotas, 1829,
L.92, p. 37. Relação das heranças dos primeiros herdeiros de
Mariana Eufrázia da Silveira, 1829, L. 93-, p. 6.
Domingos de Castro Antiquera, arroios Grande e
Correntes, quinhão da fazenda da Feitoria, 1828- Rafael Pinto Bandeira, arroio São Tome e das
1829, L.93, p.34. Pedras, estância do Pavão, 1807, L.93, p.110.
Domingos José de Almeida, Arroio Pelotas, 1828- Outros manuscritos
1829, L.93, p.28. Primeiro Livro das Atas da Câmara Municipal da
Francisco Pereira de Souza, Arroio Pelotas, 1820- Vila de São Francisco de Paula, 1832-1833. N.
1827, L.93, p.48. 91.
Guilhermino Rodrigo de Carvalho, Rincão do Livro das Atas da Câmara Municipal de Pelotas, Vila
Andrade, procede da fazenda de Pelotas, 1821- de São Francisco de Paula, 1834-1844, N.41.
1835, L.93, p.132. Livro das Atas da Câmara Municipal da cidade
Inácio Antônio da Silveira Cazado, arroio Santa Pelotas, 1844-1849, N.41.
Bárbara, fazenda do Monte Bonito, 1799-1780- CUNHA, Alberto Coelho. Estatística Predial de
1781, L.93, p.15. Pelotas. População. Logradouros. Estatística.
Inácio José Bernardes e José Pinto Martins, procede Distritos. Pasta 50.
da fazenda de Pelotas, 1819-1821, L.92, p.29. _____-.Relação das obras de Alberto Coelho da
Cunha. Pastas 50 e 54.
Inácio Soares Rego, arroio Santa Bárbara, 1832, L.
92, p.3. _____, Síntese Histórica da Beneficência
Portuguesa, Santa Casa de Misericórdia, Asilo
Isabel Francisca da Silveira, rio São Gonçalo e lagoa de Órfãos Nossa Senhora da Conceição, Asilo
dos Patos, 1799-1812, L.93, p.11. São Benedito e Asilo de Mendigos. Pasta nº 64.
João Francisco de Souza, Arroio Pelotas, 1781-1791, _____, Apontamentos Históricos sobre Pelotas.
L.93, p.32. Pasta 65.
230 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

C) Fontes Impressas Sul no Brasil meridional. Porto Alegre: Luzzatto,


1986.
AVE-LALLEMANT, Robert. Viagem pela
Província do Rio Grande do Sul. [1858]. Belo MAGALHÃES, Manuel Antônio de. “Almanack da
Horizonte: Itatiaia, 1980. Vila de Porto Alegre”. [1808]. In: FREITAS,
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Economia Gaúcha (1736-1890): In;
DACANAL, José Ildebrando & GONZAGA,
ÍNDICE REMISSIVO

A
Abreu, Cristóvão Pereira de__________________________________________________________ 29, 32, 36, 37, 38
Abreu, Pereira. Ver Abreu, Cristóvão Pereira.
Abreu, Escolástica Maria de _____________________________________________________________________147
Albana. Ver Barcellos, Albana Rodrigues.
Alegrete _______________________________________________________________________________67,114,148
Alexandre VI __________________________________________________________________________________17
Almeida. Ver Almeida, Domingos José de.
Almeida, Abrilina Decimanona Caçapavana de ______________________________________________________148
Almeida, Domingos de. Ver Almeida, Domingos José de.
Almeida, Domingos José de __________________________ 80, 86, 104, 129, 139, 145, 147, 148, 149, 150, 172, 217
Almeida, José de. Ver Almeida, Domingos José de.
Almeida, João de. Ver Pereira, João de Almeida.
Almeida, José Roiz Pereira de____________________________________________________________________120
Almeida, Junius Brutus Cássio de _____________________________________________________________148, 150
Almeida, Luís de. Ver Almeida, Luís Felipe de.
Almeida, Luís Felipe de_________________________________________________________________________149
Alves da Conceição ____________________________________________________________________________153
Ana Inácia ________________________________________________________________________________ 75,168
Ana Josefa. Ver Pereira, Ana Josefa.
Andrade, Gomes Freire ____________________________________________________________________42, 45, 71
Anjos, Antônio dos. Ver Anjos, Antônio Francisco dos.
Anjos, Antônio Francisco dos _________________________________________ 66, 69, 139, 159, 163, 165, 166, 219
Anjos, Antônio Rafael dos________________________________________________________________________63
Anjos, José Antônio dos ________________________________________________________________________185
Anselmo. Ver Souza, Anselmo.
Antiqueira. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro.
Antiqueira, Antônio de Castro____________________________________________________________________152
Antiqueira, Castro. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro.
Antiqueira, Clara ______________________________________________________________________________152
Antiqueira, Domingos José. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro.
Antiqueira, Domingos de Castro. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro
Antiqueira, Domingos José de Castro ______________________________________________ 69, 110, 111, 113, 165
Antiqueira, João Alano Domingos de Castro ________________________________________________________172
Antônia______________________________________________________________________________________120
Antônia Margarida. Ver Araújo, Antônia Margarida Teixeira.
Antônio___________________________________________________________________________________75, 168
Antônio. Ver Cazado, Inácio Antônio da Silveira.
Antônio. Ver Pereira, Antônio.
Antônio José. Ver Chaves, Antônio José Gonçalves.
Antônio José. Ver Maia, Antônio José da Silva.
Antônia Margarida. Ver Araújo, Antônia Margarida Teixeira.
Antunes, Francisco______________________________________________________________________________57
Araújo, Antônia Margarida Teixeira de ____________________________________________________________158
238 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Araújo, Antônio José Rodrigues de _______________________________________________________________ 163


Araújo, Gertrudes Pinheiro de ___________________________________________________________________ 124
Araújo, Manuel Viera de _______________________________________________________________________ 124
Araújo, Rosália Clementina de___________________________________________________________________ 157
Araújo, Serafim Rodrigues de ___________________________________________________________________ 163
Arriada, Eduardo ______________________________________________________________________________ 98
Arroio Grande. Ver Costa, Francisco Antônio Gomes da
Assumpção ____________________________________________________________________________ 80, 82, 194
Assumpção, Joaquim A de. Ver Assumpção, Joaquim Augusto de
Assumpção, Joaquim Augusto de ____________________________________________________________ 153, 154
Assumpção, Joaquim José _____________________________________________________________ 75, 82, 85, 216
Assumpção, Joaquim José [filho]_________________________________________________ 7, 80, 82, 194, 202, 216
Assumpção, José Rodrigues de __________________________________________________________________ 143
Augusto______________________________________________________________________________________ 80
Ave-Lallemant. Ver Ave-Lallemant, Robert.
Ave-Lallemant, Robert _____________________________________________________________________ 185, 186
Ávila, Manuel da Silveira___________________________________________________________________ 105, 172
Ávila, Maria Silveira de ________________________________________________________________________ 106
Ayala, Miguel _________________________________________________________________________________ 50
Ayala, Miguel [filho] ___________________________________________________________________________ 50
Azambuja, Margarida __________________________________________________________________________ 168
Azara. Ver Azara, Felix
Azara, Felix________________________________________________________________________________ 30, 31
Azevedo, Clara Maria de _______________________________________________________________________ 153
Azevedo, João Inácio de_________________________________________________________________________ 59
Azevedo, Josefa Eulália de_________________________________________________________________ 57, 59, 66
Azevedo Machado. Ver Machado, Antônio José de Azevedo.
Azevedo, Silvana Eulália de. Ver Souza, Silvana Eulália de Azevedo e

B
Baldez. Ver Baldez, Alexandre da Silva.
Baldez, Alexandre. Ver Baldez, Alexandre da Silva.
Baldez, Alexandre da Silva _____________________________________________________________ 64, 65, 66, 67
Bandeira, Bibiana Maria_________________________________________________________________________ 57
Bandeira, Francisco Pinto__________________________________________________________________ 36, 44, 56
Bandeira, Pinto. Ver Bandeira, Rafael Pinto.
Bandeira, Rafael Pinto ____________________36, 44, 46, 50, 52, 55, 56, 57, 58, 66, 67, 68, 69, 73, 80, 123, 215, 216
Bandeira, Rafaela Pinto _____________________________________________________________________ 57, 123
Bárbara Vitória ________________________________________________________________________________ 57
Barbosa. Ver Barbosa, Domingos Soares.
Barbosa, Antenor S. ___________________________________________________________________________ 150
Barbosa, Domingos Soares__________________________________________________________________ 144, 150
Barbosa, Josefa Maria _________________________________________________________________________ 151
Barcellos, Albana Rodrigues _________________________________________________________ 83, 126, 127, 128
Barcellos, Ana Prudência _______________________________________________________________________ 151
Barcellos, Antônio Rodrigues ___________________________________________________________________ 137
Barcellos, Bernardino Rodrigues _____________________________ 125, 123, 139, 143, 145, 146, 148, 149, 172, 217
Barcellos Boaventura Inácio ________________________________________________________________ 114, 172
Barcellos Boaventura Rodrigues ____________57, 86, 80, 112, 117, 121, 123, 124, 125, 126, 154, 165, 171, 172, 181
Barcellos, Boaventura Roiz. Ver Barcellos, Boaventura Rodrigues.
Barcellos, Boaventura da Silva __________________________________________________________ 123, 125, 126
Barcellos, Boaventura Texeira _______________________________________________________________ 137, 138
Barcellos, Cipriano. Ver Barcellos, Cipriano Rodrigues.
Barcellos, Cipriano Joaquim. Ver Barcellos, Cipriano Joaquim Rodrigues.
Barcellos, Cipriano Joaquim Rodrigues____________________________________ 123, 144, 145, 146, 150, 151, 172
Barcellos, Cipriano Rodrigues __________ 123, 125, 134, 137, 139, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 150, 152, 165, 172
Barcellos, Dorotéia da Fontoura______________________________________________________________ 137, 138
Barcellos, Eleutério Rodrigues_______________________________________________________________ 123, 137
Barcellos, Eleutério Teixeira ____________________________________________________________________ 138
Barcellos, Flristela Salgado _____________________________________________________________________ 137
Barcellos, Inácio Rodrigues _________________________________________ 125, 127, 137, 138, 139, 143, 145, 172
Barcellos, Inácio Teixeira_______________________________________________________________________ 137
Barcellos, Israel Rodrigues___________________________________________________________________ 57, 123
ÍNDICE REMISSIVO 239

Barcellos, Joaquim Antônio _____________________________________________________________________134


Barcellos, José Rodrigues _______________________________________________________________________172
Barcellos, Luís Rodrigues _______________________________________________________________________125
Barcellos, Luís Teixeira_________________________________________________________________123, 137, 138
Barcellos, Luíza da Fontoura_____________________________________________________________________137
Barcellos, Miguel Rodrigues _____________________________________________________________________154
Barcellos, Rita Teixeira _____________________________________________________________________137, 138
Barreto, Moniz _____________________________________________________________________________52, 214
Barros, Manuel Joaquim de _______________________________________________________________________57
Barros, Manuel Pereira __________________________________________________________________________36
Basques, Felipa Francisca de Sá M. _______________________________________________________________172
Batista, João Nunes ___________________________________________________ 58, 59, 61, 62, 69, 88, 90, 91, 158
Belchior _____________________________________________________________________________________107
Belchior, Custódio Gonçalves ____________________________________________________________________106
Belchior, Silvana Claudina __________________________________________________________________106, 107
Bento, José ____________________________________________________________________________________84
Bento, Rosa Angélica ___________________________________________________________________________84
Bernardes, Inácio. Ver Costa, José Inácio Bernardes.
Bernardes, José Inácio. Ver Costa, José Inácio Bernardes.
Bernardina. Ver Lima, Bernardina Barcellos.
Bernardina. Ver Silva, Bernardina Soares da.
Bernardino. Ver Barcellos, Bernardino Rodrigues.
Bernardo. Ver Silva, Bernardo Pereira da.
Bettamio, Sebastião Francisco_________________________________________________________________51, 214
Bezerra, José da Costa __________________________________________________________________________151
Bicudo, João__________________________________________________________________________________141
Bittencourt, João Alves de___________________________________________________________________157, 160
Boaventura. Ver Barcellos, Boaventura Rodrigues.
Boaventura. Ver Barcellos, Boaventura Teixeira.
Bobadela. Ver Andrade, Gomes Freire.
Böhm ________________________________________________________________________________________46
Borba, Malaquias de _________________________________________________________________________82, 86
Bordaberri ___________________________________________________________________________________110
Borges, Atalipa _______________________________________________________________________________153
Borges, Antônio Mendes ________________________________________________________________________139
Braga, Alfredo A.______________________________________________________________________________161
Braga, Felisberto José Gonçalves _________________________________________________________106, 107, 161
Braga, Felisberto Gonçalves. Ver Braga, Felisberto José Gonçalves
Braga, Fernando_______________________________________________________________________________149
Braga, João Francisco Vieira_____________________________________________________________________125
Braga, Manuel Soares de ________________________________________________________________________151
Braga, Maria Gonçalves _________________________________________________________________________82
Bragança, Luís Correa de _____________________________________________________________________57, 59
Branco, Francisca Joaquina de Almeida Castelo ______________________________________________________73
Brás. Ver Silva, Brás Pereira da.
Brasil, Tomás T._______________________________________________________________________________110
Brignolli, Héctor Perez __________________________________________________________________________29
Brites, José Pereira da Silva _____________________________________________________________141, 142, 149
Brito. Domingos de. Ver Peixoto, Francisco Domingos.
Butui. Ver Moreira, José Antônio e Moreira, Leonídia Gonçalves

C
Cabral, Sebastião da Veiga _______________________________________________________________________57
Calheca. Ver Calheca, José Gonçalves da Silveira.
Calheca, José Gonçalves. Ver Calheca, José Gonçalves da Silveira.
Calheca, José Gonçalves da Silveira ______________________________________ 157, 160, 163, 164, 165, 166, 219
Calheca, José da Silveira. Ver Calheca, José Gonçalves da Silveira.
Calheca, Maria de Santana da Silveira _____________________________________________________________163
Calheca, Senhorinha da Silveira __________________________________________________________________163
Campos, José Bento e ___________________________________________________________ 80, 86, 117, 126, 127
Campos, Tomás José de_____________________________________________________________________158, 159
Campos Júnior, José Bento e_____________________________________________________________________117
Campos, Virgínia. Ver Campos Virgínia de Souza.
240 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Campos Virgínia de Souza __________________________________________________________________ 159, 160


Candal, José Alves ____________________________________________________________________________ 172
Candiota, José Rodrigues _______________________________________________________________________ 172
Cardoso, Ciro Flamarion _____________________________________________________________________ 16, 30
Cardoso, Fernando Henrique _________________________________________________________________ 29, 131
Carlos III_____________________________________________________________________________________ 47
Carneiro, Albino Teixeira_______________________________________________________________________ 137
Carolina Matilde ______________________________________________________________________________ 119
Carvalho, Manuel Moreira de ____________________________________________________________________ 66
Castro. Ver Castro, Antônio José de Oliveira.
Castro, Antônio de Barros _______________________________________________________________________ 29
Castro, Antônio José de Oliveira _____________________________________ 76, 77, 80, 82, 83, 84, 97, 99, 104, 105
Castro, Euclides Franco de____________________________________________________________________ 98, 99
Castro, Francisca Alexandrina de_________________________________________________________ 79, 80, 84, 86
Castro, José de ________________________________________________________________________________ 65
Castro, José de Oliveira. Ver Castro, Antônio José de Oliveira.
Catão Bonifácio _______________________________________________________________________________ 80
Cazado, Inácio Antônio da Silveira ___________________79, 81, 95, 96, 105, 112, 124, 125, 141, 163, 168, 171, 217
Cazado, Francisco Pires. Ver Cazado, Francisco Pires da Silveira.
Cazado, Francisco Pires da Silveira ________________________________________ 96, 105, 165, 166, 168, 217, 219
Cazado, Manuel Marcelino Pires _________________________________________________________________ 168
Ceballos, Pedro _________________________________________________________________________ 45, 48, 213
Ceballos. Ver Ceballos, Pedro.
Cecília. Ver Silva, Cecília Rodrigues.
Chagas, Francisco dos __________________________________________________________________________ 73
Chaves. Ver Chaves, Antônio José Gonçalves.
Chaves. Ver Chaves, João Maria.
Chaves, Antônio Gonçalves. Ver Chaves, Antônio José Gonçalves [filho].
Chaves, Antônio José. Ver Chaves, Antônio José Gonçalves.
Chaves, Antônio José Gonçalves _______________________ 31, 80, 83, 103, 115, 120, 121, 123, 125, 127, 129, 130,
131, 132, 133, 134, 138, 147, 151, 171, 172, 193, 194, 198, 217
Chaves, Antônio José Gonçalves [filho] ____________________________________________ 86, 132, 133, 134, 139
Chaves, Duarte Teixeira _________________________________________________________________________ 25
Chaves, Gonçalves. Ver Chaves, Antônio José Gonçalves.
Chaves, João Maria ___________________________________________________________ 123, 132, 134, 138, 151
Chaves, Marcolina Amália ______________________________________________________________________ 134
Chaves, Marcolina Barcellos ____________________________________________________________________ 134
Chaves, Maria Luíza___________________________________________________________________ 133, 134, 217
Chaves, Maria Salomé _____________________________________________________________________ 134, 151
Cipriano. Ver Barcellos, Cipriano Rodrigues.
Cipriano Joaquim. Ver Barcellos, Cipriano Joaquim Rodrigues.
Clara _____________________________________________________________________________________ 80, 82
Clara _______________________________________________________________________________________ 123
Clara. Ver Antiqueira, Clara.
Coelho, Francisco Jerônimo _____________________________________________________________________ 106
Coelho, Jerônimo José _________________________________________________________________________ 106
Coelho, João _________________________________________________________________________________ 172
Cabarim, Bernardino osé Merques________________________________________________________________ 147
Conceição. Ver Eugênia da Conceição.
Conceição, Eva da ____________________________________________________________________________ 149
Conceição, Felícia Maria da_____________________________________________________________________ 163
Conceição, Maria Francisca da __________________________________________________________________ 145
Córdoba, Antônio Inácio Roiz ____________________________________________________________________ 99
Correia, Ana _________________________________________________________________________________ 151
Correia, Vladistas _____________________________________________________________________________ 172
Correntes_____________________________________________________________________________________ 58
Corsetti. Ver Corsetti, Berenice.
Corsetti, Berenice ____________________________________________________________ 16, 30, 83, 130, 132, 133
Costa, Artur Gomes da _________________________________________________________________________ 126
Costa, Baltazar José da __________________________________________________________________________ 99
Costa, Domingos G. da_________________________________________________________________________ 126
Costa, Felício Joaquim da. Ver Pereira, Felício Joaquim da Costa.
Costa, Felix. Ver Mendonça, Felix da Costa Furtado de.
Costa, Francisco Antônio Gomes da ______________________________________________________________ 114
ÍNDICE REMISSIVO 241

Costa, João Francisco da _____________________________________________________________________99, 141


Costa, Joaquim Guilherme da ________________________________________________________________126, 128
Costa, José Cardoso da _________________________________________________________________________149
Costa, José Inácio Bernardes da ____________________________________________________ 77, 78, 85, 114, 117
Costa, Martinho José da__________________________________________________________________________99
Coutinho, André Ribeiro _________________________________________________________________________37
Couty. Ver Couty, Louis.
Couty, Louis_________________________________________________________ 131, 186, 187, 188, 189, 190, 191
Cruz, Antônio Pereira da ____________________________________________________________________114, 125
Cruz, Manuel Antônio da _______________________________________________________________________110
Cunha ________________________________________________________________________________________72
Cunha, Alberto COelho da ________________________________________________________ 58, 69, 98, 105, 155
Cunha, Alexandre Viera da ______________________________________________________________________163
Cunha, Ana Leocárdia da _______________________________________________________________________165
Cunha, Antero ________________________________________________________________________________150
Cunha, Eulália Maria da ________________________________________________________________________153
Cunha, José Inácio da __________________________________________________________________163, 164, 165
Cunha, Manuel Rafael Viera da __________________________________________________________________151
Cunha, Maria Antônia da________________________________________________________________________154
Cunha, Possidônio da___________________________________________________________________________110
Cunha, Silvana Berchior da ______________________________________________________________________107
Curisco, Antônio Teixeira ________________________________________________________________________65

D
Domingos José. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro.
Domingos, José _______________________________________________________________________________172
Domingues, Manuel________________________________________________________________________111, 112
Domingues, Custódio __________________________________________________________________________151
Dorneles, Jerônimo _____________________________________________________________________________75
Dorotéia. Ver Fontoura, Dorotéia Clara.
Doreotéia Leopoldina __________________________________________________________________________158
Dreys. Ver Dreys, Nicolau.
Dreys, Nicolau _______________________________________________________ 185, 186, 187, 188, 189, 190, 191
Duarte, João ___________________________________________________________________________________99
Duarte. Ver Machado, João Duarte.

E
Eleutério. Ver Barcellos, Eleutério Rodrigues.
Elias. Ver Silva, Elias Pereira.
Espírito Santo, Páscoa [Maria] do _________________________________________________________________151
Eufrásia. Ver Lopes, Eufrásia Gonçalves.
Eugênia da Conceição __________________________________________________________________140, 141, 150
Etchegarai ___________________________________________________________________________________110
Etchepari ____________________________________________________________________________________110
Etcheverri ____________________________________________________________________________________110

F
Faria, Francisco Xavier _________________________________________________________________157, 158, 159
Faria, Francisco de Souza __________________________________________________________________29, 36, 37
Faria, Gertrudes Xavier _________________________________________________________________________158
Faria, Souza. Ver Faria, Francisco de Souza.
Felício. Ver Pereira, Felício Joaquim de Souza.
Feijó, Antônio V. _______________________________________________________________________________57
Fernandes, Florestam ____________________________________________________________________________29
Ferreira, Francisco de Paula _____________________________________________________________________105
Figueredo, José Marcelino de ________________________________________________________ 54, 57, 66, 95, 96
Filguera, Domingos _________________________________________________________________________27, 212
Florinda. Ver Silva, Florinda Luíza da.
Florinda Luíza. Ver Silva, Folorinda Luíza.
Folha, José ___________________________________________________________________________________149
242 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Fontes, José Inácio das __________________________________________________________________________ 66


Fontoura, Antônio Carneiro da___________________________________________________________________ 137
Fontoura, Dorotéia Clara. Ver Barcellos, Dorotéia da Fontoura.
Fontoura, Isabel Dorotéia da ________________________________________________________ 75, 78, 80, 82, 216
Fontoura, José Carneiro da ________________________________________________________________ 75, 80, 216
Fontoura, José Galdino da ______________________________________________________________________ 172
Fontoura, José Maria. Ver Fontoura, José Maria Bento.
Fontoura, José Maria Bento da_____________________________________________________ 75, 76, 77, 82, 84, 86
Fontoura, Manuel Bento da __________________________________________________________ 75, 76, 77, 82, 84
Fontoura, Maria Augusta da___________________________________________________ 75, 80, 82, 83, 86, 89, 216
Fontoura, Maria Regina da _______________________________________________________ 75, 77, 78, 82, 84, 216
Fontoura, Vicentina Maria da_____________________________________________________________________ 81
França, Florinda Luíza de Mendonça______________________________________________________________ 153
Francinha. Ver França, Florinda Luíza de Mendonça.
Francisca ____________________________________________________________________________________ 119
Francisca Alexandrina. Ver Castro, Francisca Alexandrina.
Francisco, Henrique ___________________________________________________________________________ 172
Freire, Diogo da Silva___________________________________________________________________________ 57
Freire, Maria Josefa da Silva _________________________________________________________________ 57, 123
Freire, Vicente Ferrer da Silva ____________________________________________________________________ 57
Freitas, Antônio ______________________________________________________________________________ 139
Freitas, José de ________________________________________________________________________________ 99
Freitas, Manuel Antônio de _____________________________________________________________________ 118
Funck, Diogo _________________________________________________________________________________ 38

G
Garro. Ver Garro, José.
Garro, José ___________________________________________________________________________________ 25
Gaeta ________________________________________________________________________________________ 19
Genoveva. Ver Silva, Genoveva Pereira.
Gomes, Manuel Inácio __________________________________________________________________________ 66
Gomes, Wenceslau José ____________________________________________________________________ 139, 150
Gonçalo, José ________________________________________________________________________________ 105
Gonçalves, André ______________________________________________________________________________ 18
Gonçalves, Bento _____________________________________________________________________________ 148
Gonçalves, Felix A. ___________________________________________________________________________ 151
Gonçalves, Fernando __________________________________________________________________________ 139
Gonçalves, Francisco José _______________________________________________________________________ 82
Gonçalves, Isabel Maria ________________________________________________________________________ 129
Gonçalves, José ______________________________________________________________________________ 141
Gonçalves, José Joaquim _______________________________________________________________________ 105
Gorender, Jacob _____________________________________________________________________ 16, 29, 30, 132
Graça. Ver Lopes, João Simões [filho].
Guedes, Jacinto _______________________________________________________________________________ 151
Guerino, João. Ver Vinhas, João Guerino.
Guimarães, Francisco Antônio da Cruz _____________________________________________________________ 97
Guimarães, Francisco Teixeira___________________________________________________________________ 117
Guimarães, João José. Ver Guimarães, João José Teixeira.
Guimarães, João José Teixeira _______________________________________________________ 155, 157, 158, 165
Guimarães, Joaquim José _______________________________________________________________________ 118
Guimarães, Manuel Portugal ________________________________________________________________ 150, 172
Guimarães, Perpétua Teixeira ___________________________________________________________________ 157
Guimarães, Tito José Teixeira de Araújo___________________________________________________________ 157
Gusmão, Alexandre ____________________________________________________________________________ 41
Gusmão, José Cardoso de_______________________________________________________________________ 125

H
Haagen, Guilherme van der _____________________________________________________________________ 168
Hipólito. Ver Pereira, Hipólito José da Costa.
ÍNDICE REMISSIVO 243

I
Idiart ________________________________________________________________________________________110
Ildefonso [Lopes, Simões – tio]_________________________________________________________________80, 81
Ildefonso [Lopes, Simões – sobrinho]____________________________________________________________80, 81
Ilha, Joaquim Francisco __________________________________________________________________________60
Inácio. Ver Barcellos, Inácio Rodrigues.
Inácio Antônio. Ver Cazado, Inácio Antônio da Silveira.
Irume, Pedro__________________________________________________________________________________149
Isabel. Ver Silveira, Isabel Francisca da.
Isabel Dorotéia. Ver Fontoura Isabel Dorotéia.
Isabel Francisca. Ver Silveira, Isabel Francisca
Itapocaí. Ver Barcellos, Miguel Rodrigues.

J
Jacinto Antônio. Ver Lopes, Jacinto Antônio.
Jacome, Teodoro Pereira _________________________________________________________________________67
Jaguari. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro.
Jarau. Ver Assumpção, Joaquim José e Clara.
Jatayr. Ver Cunha, Alberto Coelho da
Jesus, Bárbara Lopes de_________________________________________________________________________164
Jesus, Barbosa Lopes de ________________________________________________________________________158
Jesus, Genoveva Maria de _______________________________________________________________________158
Jesus, Manuel de _______________________________________________________________________________73
Jesus, Tereza Maria de__________________________________________________________________________151
Joana. Ver Joana Maria Bernardina.
Joana Margarida____________________________________________________________________________ 75,168
Joana Margarida_______________________________________________________________________________168
Joana Maria Bernardina_____________________________________________________________________111, 113
João ________________________________________________________________________________________123
João [dom] _______________________________________________________________________________156, 165
João. Ver Batista, João Nunes.
João. Ver Lopes, João Simões.
João. Ver Machado, João Duarte.
João. Ver Vinhas, João.
João Batista. Ver Roux, João Batista.
João Jacinto. Ver Mendonça, João Jacinto.
João Maria. Ver Chaves, João Maria.
Joaquina. Ver Silva, Joaquina Maria da.
Joaquina Maria. Ver Silva, Joaquina Maria.
José. Ver Fontoura, José Maria Bento da.
José Inácio ________________________________________________________________________________75, 168
José Marcelino. Ver, Figueredo, José Marcelino.
José Maria. ver Fontoura, José Maria bento.
Josefa. Ver Azevedo, Josefa Eulália de.

K
Krestckmar_______________________________________________________________________________104, 166

L
Lamas, Joana Maria ____________________________________________________________________________137
Lamas, Micaela Emerenciana ____________________________________________________________________137
Lara, Miguel José______________________________________________________________________________163
Lavradio ______________________________________________________________________________________55
Lavison, George_______________________________________________________________________________126
Leão, Próspero C.______________________________________________________________________________112
Leite, Joana __________________________________________________________________________________141
Lemos, João Antônio Pereira_____________________________________________________________________166
Leonídia. Ver Moreira, Leonídia Gonçalves.
Lima, Bernardina Barcellos ______________________________________________________________123, 148, 217
244 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Lima, José Antônio de __________________________________________________________________________ 99


Lima, José Luís de ____________________________________________________________________________ 110
Lima, Leocárdia Joaquina de _____________________________________________________________________ 57
Lima, Rosa Perpétua de ________________________________________________________________________ 137
Lobo, Manuel _________________________________________________________________________________ 25
Lopes, Eufrásia Gonçalves ___________________________________________________________ 81, 88, 89, 90, 91
Lopes Filho, Jacinto Antônio ________________________________________________________________ 134, 151
Lopes, Jacinto Antônio_________________________________________________________________________ 151
Lopes, João Antônio ___________________________________________________________________________ 139
Lopes, João Gonçalves _________________________________________________________________________ 151
Lopes, João Simões ________________________________________________ 75, 76, 80, 81, 86, 87, 88, 90, 91, 216
Lopes, João Simões [filho] __________________________________________________ 76, 77, 80, 81, 148, 161, 216
Lopes, José Gonçalves _________________________________________________________________ 125, 139, 150
Lopes, Manuel Jacinto _________________________________________________________________________ 119
Lopes, Maria Joaquina _________________________________________________________________________ 148
Lopes, Matilde Vinhas _________________________________________________________________________ 119
Lopes, Pero ___________________________________________________________________________________ 24
Lopes, Simões Lopes. Ver Lopes, João Simões.
Lopes, Simões. Ver Lopes Neto, João Simões.
Lopes Neto, João Simões ______________________________________ 80, 84, 86, 101, 107, 147, 149, 157, 160, 216
Luccock, John ________________________________________________________________________________ 185
Luís ________________________________________________________________________________________ 141
Luís. Ver Barcellos, Luís Teixeira.
Luís. Ver Silva, Luís Pereira da.
Luís. Ver Souza, Luís de Azevedo e.

M
Macedo, Francisco José _________________________________________________________________________ 84
Macedo, Jorge Soares ___________________________________________________________________________ 24
Machado, Agostinho Moreira____________________________________________________________________ 114
Machado, Antônio José de Azevedo __________________________________________________ 76, 77, 81, 82, 153
Machado, Azevedo, Ver Machado, Antônio José de Azevedo.
Machado, João Duarte _________________________________________________________ 75, 77, 82, 84, 119, 216
Maciel, Anibal Antunes ____________________________________________________________________ 114, 117
Maciel, Eliseu Antunes_________________________________________________________________________ 172
Maciel, Francisco Antônio _______________________________________________________________________ 48
Maciel, Francisco Antunes ____________________________________________________________________ 82, 84
Maestri, Mário __________________________________________________________________________ 14, 16, 30
Magalhães. Ver Magalhães, João de.
Magalhães, Antônio Teixeira ____________________________________________________________________ 110
Magalhães, João de____________________________________________________________________ 29, 32, 36, 37
Magalhães, Manuel Antônio _____________________________________________________________________ 31
Maia. Ver Maia, Antônio José da Silva.
Maia, Antônio José da Silva_________________________________________________ 139, 151, 152, 153, 159, 160
Maia, Antônio da Silva. Ver Maia, Antônio José da Silva.
Maia, Bernardino _____________________________________________________________________________ 151
Maia, Cristovão da Silva _______________________________________________________________________ 151
Maia, José da Silva. Ver Maia, Antônio José da Silva.
Malaquias de Borba ____________________________________________________________________________ 82
Manuel. Ver Silva, Manuel Pereira da.
Manuel. Ver Carvalho, Manuel Moreira de.
Manuel. Ver Fontoura, Manuel Bento da.
Manuel. Ver Paiva, Manuel Ravelo.
Manuel. Ver Silva, Manuel Pereira da.
Manuel. Ver Teixeira, Manuel Batista.
Manuel Bento. Ver Fontoura, Manuel Bento da.
Manuel Bento. Ver Rocha, Manuel Bento da.
Manuel Francisco ______________________________________________________________________________ 99
Manuel Luís. Ver Mesquita, Manuel Luís.
Manuel Padeiro___________________________________________________________________________ 103, 104
Manuel Joaquim ______________________________________________________________________________ 113
Marcelino ___________________________________________________________________________________ 105
Maria. Ver Maria da Encarnação.
ÍNDICE REMISSIVO 245

Maria Andréia ________________________________________________________________________________123


Maria Antônia _________________________________________________________________________75, 168, 216
Maria da Anunciada____________________________________________________________________________153
Maria Augusta. Ver Fontoura, Maria Augusta.
Maria da Encarnação ____________________________________________________________________________66
Maria da Encarnação ___________________________________________________________________________141
Maria Eufrásia _____________________________________________________________________________88, 168
Maria Joaquina. Ver Silva, Maria Joaquina da.
Maria Luíza. Ver Chaves, Maria Luíza Barcellos.
Mariana. Ver Silveira, Mariana Eufrásia da.
Mariana Angélica do Carmo __________________________________________________________________97, 171
Mariana Eufrásia. Ver Silveira, Maria Eufrásia da.
Mariana Inácia ________________________________________________________________________________114
Martins, Antônio Pinto _________________________________________________________________________119
Martins, Daniel Pinto___________________________________________________________________________119
Martins, João Pinto ____________________________________________________________________________120
Martins, José Pinto__________________________________________________ 47, 78, 117, 119, 120, 121, 124, 125
Martins, Liberato Pinto _________________________________________________________________________119
Martins, Pinto. Ver Martins, José Pinto.
Martírio, João. Ver Torres, João do Martírio.
Mascarenhas, Domingos ________________________________________________________________________172
Mascarenhas, Domingos Pinto de Figueiredo________________________________________________________151
Mascarenhas, João Batista de Figueiredo ___________________________________________________________110
Matias_______________________________________________________________________________________141
Maurícia Inácia. Ver Silveira, Maurícia Inácia.
Mazza, Nóris Moreira __________________________________________________________________________134
Medina, Ver Medina, José Francisco.
Medina, Francisco. Ver Medina, José Francisco.
Medina, Francisco José ____________________________________________________________________47, 48, 87
Meireles, Maria Manuela________________________________________________________________________105
Melo, João Gomes de ___________________________________________________________________________37
Melo, João Gomes de ___________________________________________________________________________45
Mendes, Antônio ______________________________________________________________________________139
Mendes, Dionísio Rodrigues _____________________________________________________________36, 38, 39, 75
Mendonça, Alexandre Jacinto ____________________________________________________________________153
Mendonça, Ana Maria Furtado de__________________________________________________________________63
Mendonça, André______________________________________________________________________________153
Mendonça, Antônio Furtado de________________________________________________________________75, 168
Mendonça, Clara de Azevedo ____________________________________________________________________153
Mendonça, Felix da Costa Furtado de________________________________________________ 63, 64, 69, 139, 219
Mendonça, Francisco de Paula Jacinto de___________________________________________________________154
Mendonça, Joana Jacinto de _____________________________________________________________________154
Mendonça, Jacinto de. Ver Mendonça, João Jacinto de.
Mendonça, João Jacinto de _________________________________________________________ 151, 153, 154, 155
Mendonça, Maria da Conceição Jacinto de__________________________________________________________153
Mendonça, Maria Francisca de ___________________________________________________________________154
Mendonça, Maria da Glória Jacinto de _____________________________________________________________154
Mendoncinha. Ver Mendonça, Clara de Azevedo.
Menezes, Clara Barbosa de ______________________________________________________________________151
Menezes, Cristina Barbosa de ____________________________________________________________________151
Menezes, Rodrigues César de _____________________________________________________________________38
Mesquita, Antônio Pereira________________________________________________________________________63
Mesquita, Manuel Luís de ________________________________________________________________________99
Mesquita, Pedro Pereira. Ver Mesquita, Pedro Pereira Fernandes de.
Mesquita, Pedro Pereira Fernandes de _________________________ 53, 63, 65, 66, 69, 139, 141, 165, 166, 214, 219
Monteiro, José Joaquim da Silva__________________________________________________________________143
Morais, Manuel Alves de_________________________________________________________________________67
Morais, Manuel José de _________________________________________________________________________129
Morais, Manuel Pinto de ____________________________________________________________________150, 158
Moreira, Custódio José dos Santos ________________________________________________________112, 124, 125
Moreira, Custódio dos Santos. Ver Moreira, Custódio José dos Santos.
Moreira, João M. ______________________________________________________________________________150
Moreira, José Antônio __________________________________________________________ 76, 77, 80, 81, 82, 126
Moreira, Leonídia Gonçalves ____________________________________________ 79, 80, 81, 82, 86, 88, 89, 90, 91
246 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Moreira, Manuel ______________________________________________________________________________ 153


Moreira, Manuel Francisco _____________________________________________________________ 154, 157, 161
Moreira, Miguel _______________________________________________________________________________ 37
Mota, Vicente José da__________________________________________________________________________ 151

N
Nascimento, Eulália do_________________________________________________________________________ 163
Nascimento, Joaquina Rosa do___________________________________________________________________ 151
Nóia, Ana _________________________________________________________________________________ 77, 78
Nunes, Evaristo Ferreira________________________________________________________________________ 110

O
O’Donnell, Pedro _____________________________________________________________________________ 121
Oldemberg, Feliciano Velho __________________________________________________________________ 44, 75
Oldemberg, Velho. Ver Oldemberg, Feliciano Velho.
Oliveira, Clara Maria de_________________________________________________________________________ 56
Oliveira, Francisco _____________________________________________________________________________ 99
Oliveira, Inácio Xavier de _______________________________________________________________________ 99
Oliveira, João Batista de________________________________________________________________________ 118
Oliveira, José Miranda de________________________________________________________________________ 57
Osório, Pedro ____________________________________________________________ 107, 110, 149, 150, 151, 168
Osório, Tomás Luís _________________________________________________________ 44, 45, 46, 71, 72, 73, 216

P
Pacheco, José de Souza ________________________________________________________________________ 105
Pacheco, Serafim de Souza _____________________________________________________________________ 172
Padeiro. Ver Manuel Padeiro.
Padre-Doutor. Ver Mesquita. Pedro Pereira Fernandes de.
Pais, José da Silva____________________________________________________________________ 32, 37, 43, 213
Pais, Silva. Ver Pais, José da Silva.
Paiva, Antônio Soares de _______________________________________________________________________ 167
Paiva, Alfredo Augusto ________________________________________________________________________ 105
Paiva, Dorotéia Cândida________________________________________________________________________ 105
Paiva, Manuel Ravelo__________________________________________________________________ 105, 168, 172
Paula, Francisco de. Ver Ferreira, Francisco de Paula.
Pedrarca, Domingo _____________________________________________________________________________ 31
Pedro. Ver Mesquita, Pedro Pereira Fernandes de.
Peixoto, Brito. Ver Peixoto, Francisco Domingos de Brito.
Peixoto, Francisco Domingos de Brito ____________________________________________________ 29, 36, 37, 38
Peixoto, José Aguiar_______________________________________________________________________ 165, 166
Pereira ______________________________________________________________________________________ 139
Pereira, Ana Josefa ______________________________________________________________________ 63, 64, 139
Pereira, Antônio _______________________________________________________________________ 64, 125, 139
Pereira, Cristóvão. Ver Abreu, Cristóvão Pereira.
Pereira, Felício. Ver Pereira, Felício Joaquim da Costa.
Pereira, Felício Joaquim da Costa _______________________________________ 63, 66, 69, 139, 156, 165, 166, 219
Pereira, Francisco _____________________________________________________________________________ 141
Pereira, Hipólito José da Costa ___________________________________________________________________ 63
Pereira, João de Almeida ________________________________________________________________ 99, 139, 141
Pereira, José. Ver Brites, José Pereira da Silva.
Pereira, José Saturnino da Costa _______________________________________________________________ 63, 64
Pereira, Luís. Ver Silva, Luís, Luís Pereira da.
Pereira, Maria Madalena ________________________________________________________________________ 56
Pereira, Pedro. Ver Mesquita, Pedro Pereira Fernandes de.
Pereira da Silva ___________________________________________________________________________ 141, 142
Pereira, Vicente _______________________________________________________________________________ 63
Pillar, Florência Maria do_______________________________________________________________________ 163
Pillar, Luzia Ferminiana do _____________________________________________________________________ 167
Pinheiro, Domingos Afonso _____________________________________________________________________ 124
Pinho, Sebastião de____________________________________________________________________________ 153
ÍNDICE REMISSIVO 247

Pinto, José. Ver Martins, José Pinto.


Pinta, Madalena Martins _________________________________________________________________________63
Pires, Alexandre Inácio _________________________________________________________________________171
Pires, Antônio Inácio ________________________________________________________________________97, 168
Pires, Inácio Antônio ________________________________________________________________________97, 168
Pires, Rosália Francisca _____________________________________________________________________105, 168
Porciúncula, Antônio Antunes____________________________________________________________________172
Porciúncula, João Antunes ______________________________________________________________________172
Pombal _______________________________________________________________________________________43
Portugal, Fernando José de _______________________________________________________________________31
Prates, Feliciano Rodrigues ______________________________________________________________________113
Prates, Francisco Roiz Xavier _____________________________________________________________________68
Prates, Paulo. Ver Prates, Paulo Xavier.
Prates, Paulo Xavier_____________________________________________________________________________69
Proena, Joaquim José de _________________________________________________________________________57

Q
Quincas Patrão. Ver Assumpção, Joaquim José.
Quintão, João da Costa __________________________________________________________________________36
Quitéria Maria ________________________________________________________________________________141
Quitéria Maria ________________________________________________________________________________163

R
Rafaela. Ver Bandeira, Rafaela Pinto.
Ramos, Jerônimo de Freitas______________________________________________________________________106
Ravelo. Ver Paiva, Manuel Ravelo.
Rheingantz, Joaquim C. Assumpção________________________________________________________________82
Rezende. Ver Castro, José de _____________________________________________________________________65
Ribeiro, Francisco Xavier ________________________________________________________________________36
Ribeiro, Ignácio Barbosa de Lourenço ______________________________________________________________81
Ribeiro, José Teixeira Pinto______________________________________________________________________172
Ribeiro, Manuel Gonçalves _______________________________________________________________________36
Rita. Ver Barcellos, Rita Teixeira.
Rita. Ver Silva, Rita Pereira.
Roberto_______________________________________________________________________________________57
Rocha, Bento. Ver Rocha, Manuel Bento da.
Rocha, Manuel Bento da ________________________________________________________ 73, 74, 75, 76, 77, 216
Rodrigues, Antônio José ______________________________________________________________________81, 84
Rodrigues Barcellos________________________________________ 57, 114, 121, 123, 124, 125, 137, 154, 169, 217
Rodrigues, Dionísio. Ver Mendes, Dionísio Rodrigues.
Rodrigues, Domingos _____________________________________________________________ 157, 165, 166, 167
Rodrigues, Maria Joaquina ______________________________________________________________________165
Rodrigues, José ________________________________________________________________________________99
Roiz, José. Ver Rodrigues, José.
Roiz, Roberto __________________________________________________________________________________57
Rosa, Alberto R._______________________________________________________________________________151
Rosa, Antônio ________________________________________________________________________________125
Rosa, Francisco da ______________________________________________________________________________65
Rosa, Francisco Araújo __________________________________________________________________________66
Rosália. Ver Pires, Rosália Francisca.
Rosália Maria Angélica __________________________________________________________________________67
Rosas, Juan Manuel _____________________________________________________________________________48
Róscio, Francisco João ___________________________________________________________________31, 50, 214
Roux. Ver Roux, João Batista.
Roux, João Batista _____________________________________________________________________________110
Rüdiger, Selbat____________________________________________________________________ 37, 43, 46, 96, 98

S
S., João Antônio da Silva________________________________________________________________________117
Sá, Salvador Correia de __________________________________________________________________________24
248 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

Sá, Maria de _________________________________________________________________________________ 172


Sá, Simão Pereira de____________________________________________________________________________ 32
Saint-Hilaire. Ver Saint-Hilaire, Auguste.
Saint-Hilaire, Auguste _________________________________________________________________ 134, 135, 193
Salgues, Eugénes _____________________________________________________________________________ 110
Saloyo, Antônio dos Santos ______________________________________________________________________ 66
Sampaio, José de______________________________________________________________________________ 151
Santa Tecla. Ver Tavares, Joaquim da Silva.
Santana, Sérgio ________________________________________________________________________________ 81
Santos, Antônio Ferreira dos ______________________________________________________ 54, 58, 66, 73, 96, 99
Santos, Cristóvão José dos ______________________________________________________________________ 149
Santos, Evaristo Lopes dos______________________________________________________________________ 107
Santos, Lúcio Lopes dos________________________________________________________________________ 107
Santos, Vicente Lopes dos ______________________________________________________________________ 107
Saturnino. Ver Pereira, José Saturnino da Costa.
Secco, Antônio da Cruz ________________________________________________________________________ 114
Secco, Joaquim José da Cruz ____________________________________________________________ 114, 129, 217
Secco, Maria do Carmo ____________________________________________________________________ 129, 217
Seechy, Diogo________________________________________________________________________________ 121
Seechy, João _________________________________________________________________________________ 121
Seixas, Francisco de ____________________________________________________________________________ 37
Serro Alegre. Ver Bittencourt, João Alves de.
Severino Antônio __________________________________________________________________________ 99, 141
Silva, Ana Clara Joaquina da ____________________________________________________________________ 137
Silva, Antônio José da ______________________________________________________________________ 99, 141
Silva, Bernardina Soares de _____________________________________________________________________ 151
Silva, Bernardo Pereira da __________________________________________________________________ 141, 149
Silva, Brás Pereira da __________________________________________________________________________ 141
Silva, Cecília Rodrigues da __________________________________________________________ 57, 123, 125, 126
Silva, Elias Pereira da______________________________________________________________________ 141, 149
Silva, Florinda Luíza da ________________________________________________________________________ 153
Silva, Genoveva Pereira da _________________________________________________________________ 141, 149
Silva, Honório Luís da _________________________________________________________________________ 153
Silva, Joaquim Rodrigues da ________________________________________________________________ 159, 160
Silva, Joaquim Riveiro Lopez da _________________________________________________________________ 172
Silva, Joaquina Maria da _______________________________________________ 59, 60, 61, 62, 69, 88, 90, 91, 158
Silva, José da _________________________________________________________________________________ 67
Silva, José Tomás da __________________________________________________________________ 153, 157, 165
Silva, Luís Pereira da __________________________________________ 125, 139, 140, 141, 143, 149, 150, 153, 155
Silva, Manuel Pereira da____________________________________________________________________ 141, 149
Silva, Manuel Soares da ____________________________________________________________ 139, 151, 152, 159
Silva, Maria Leopoldina da _____________________________________________________________________ 163
Silva, Mariana Joaquina da _____________________________________________________________________ 117
Silva, Matilde da. Ver Vinhas, Matilde da Silva.
Silva, Porfírio da______________________________________________________________________________ 153
Silva, Rita Pereira da __________________________________________________________________ 139, 142, 144
Silva, Simão Soares da _________________________________________________________________________ 151
Silva, Tomás José da ______________________________________________________________________ 117, 166
Silvana Claudina. Ver Belchior, Silvana Claudina.
Silveira. Ver Ávila, Manuel Silveira.
Silveira _______________________________________________________________________________ 75, 79, 168
Silveira, Antônio Inácio da______________________________________________________________________ 218
Silveira, Cândida Maria da _______________________________________________________________________ 97
Silveira, Cosme da _____________________________________________________________________________ 37
Silveira, Dorotéia Isabel da __________________________________________________________________ 75, 216
Silveira, Fermino Antônio da _____________________________________________________________________ 97
Silveira, Francisca Joaquina da __________________________________________________________________ 168
Silveira, Francisco Inácio da _____________________________________________________________________ 73
Silveira, Francisco Pires da. Ver Cazado, Francisco Pires da Silveira.
Silveira, Inácio Antônio da. Ver Cazado, Inácio Antônio da Silveira.
Silveira, Isabel da __________________________________________________________________________ 75, 168
Silveira, Isabel Francisca da_______________________________71, 74, 75, 76, 77, 78, 80, 82, 84, 97, 165, 216, 217
Silveira, Isabel Francisca da_____________________________________________________________________ 168
Silveira, Leonídio Antero da ____________________________________________________________________ 110
ÍNDICE REMISSIVO 249

Silveira, João Inácio da __________________________________________________________________________97


Silveira, Joaquina Fermina da _____________________________________________________________________97
Silveira, Joaquina Francisca da ___________________________________________________________________168
Silveira, Mariana Eufrásia da _________________ 75, 79, 81, 96, 97, 99, 105, 153, 157, 160, 165, 166, 168, 217, 219
Silveira, Mateus Inácio da ____________________________________________________________________75, 168
Silveira, Maurícia Inácia da________________________________________________ 79, 81, 97, 105, 125, 168, 217
Silveira, Maurício Inácio da ______________________________________________________________75, 216, 219
Silveira, Maurício Inácio da _____________________________________________________________________166
Silveira, Pedro Pires_________________________________________________________________________95, 216
Silveiras. Ver Silveira.
Silvério, Joaquim _______________________________________________________________________________99
Simões Lopes _______________________________________________________________________________80, 81
Smith, Herbert ___________________________________________________________________ 172, 173, 185, 186
Soares, Domingos. Ver Barbosa, Domingos Soares.
Soares, Exequiel_______________________________________________________________________________172
Soares, Joaquim de Souza ________________________________________________________________________57
Soares, Jorge Antônio da Costa____________________________________________________________________63
Soares, Manuel. Ver Silva, Manuel Soares da.
Soares, Manuel Bernardino ______________________________________________________________________110
Soares, Maria do Carmo ____________________________________________________________________114, 129
Souza, Anselmo de ____________________________________________________________________________139
Souza, Antônio José de _________________________________________________________________________163
Souza, Diogo de_______________________________________________________________________________166
Souza, Eulália de Azevedo e. Ver Souza, Silvana Eulália de Azevedo e.
Souza, Francisco Pereira e____________________________________________________________________99, 141
Souza, Heliodoro de Azevedo e ______________________________________________________________157, 161
Souza, Joaquim Silvério e _______________________________________________________________________114
Souza, João Francisco de_____________________________________________________________________99, 172
Souza, João da Silva de __________________________________________________________________________37
Souza, João Silvério e __________________________________________________________________________114
Souza, João Silvério e [filho] ____________________________________________________________________114
Souza, João Francisco de_____________________________________________________________________99, 172
Souza, José Antônio de ______________________________________________________________________99, 163
Souza, José de Azevedo e _______________________________________________________________________124
Souza, José Joaquim Duarte de ___________________________________________________________________118
Souza, Luís de Azevedo e _______________________________________________________________126, 127, 172
Souza, Luís de Vasconcelos _____________________________________________________________51, 56, 67, 68
Souza, Manuel Carvalho de________________________________________________________________95, 96, 216
Souza, Manuel Marques ________________________________________________________________________172
Souza, Silvana Eulália de Azevedo e ______________________________________________________123, 124, 154
Souza Filho, Heliodoro de Azevedo e______________________________________________________________154

T
Tamboridengui________________________________________________________________________________110
Tamboridengui, João ___________________________________________________________________________134
Tavares, Joaquim da Silva _______________________________________________________________________160
Teixeira, Boaventura. Ver Barcellos, Boaventura Teixeira.
Teixeira, Carlos José ___________________________________________________________________________114
Teixeira, Carlota Batista ________________________________________________________________________159
Teixeira, Emerenciana Manuela __________________________________________________________________137
Teixeira, Joaquim Manuel ____________________________________________________________________63, 137
Teixeira, João Francisco ________________________________________________________________________114
Teixeira, José _________________________________________________________________________________172
Teixeira, Manuel Batista ___________________________________________________________ 151, 154, 157, 158
Teixeira, Pedro________________________________________________________________________________114
Terra, Jorge da _________________________________________________________________________________99
Tiarajú, Sepé __________________________________________________________________________________45
Tomás Luís____________________________________________________________________________________99
Torres, João do Martírio ________________________________________________________________________158

U
Ultra, Joz de __________________________________________________________________________________168
250 NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS

V
Valadares, Manuel José. Ver Valadares, Manuel José Rodrigues.
Valadares, Manuel Rodrigues. Ver Valadares, Manuel José Rodrigues.
Valadares, Manuel José Rodrigues ___________________________________________________ 157, 161, 163, 165
Valpírio, Vítor. Ver Cunha, Alberto Coelho.
Vasconcelos, Luís de. Ver Souza, Luís de Vasconcelos.
Vargas, Manuel da Silva ________________________________________________________________________ 37
Velho Zapata. Ver Ayala, Miguel.
Vergara, Damácio_____________________________________________________________________________ 158
Verniz, Juan __________________________________________________________________________________ 55
Vespúcio, Américo _____________________________________________________________________________ 18
Viana, Luís Gonçalves _______________________________________________________________________ 35, 36
Vianna, Antônio Ferreira _______________________________________________________________________ 163
Vianna, Baltazar Gomes________________________________________________________________________ 168
Vianna, João Ferreira __________________________________________________________________________ 163
Viana, João Pereira ____________________________________________________________________________ 165
Vianna, José Antônio Ferreira ___________________________________________________________________ 165
Vianna, José Vieira____________________________________________________________________ 147, 161, 172
Vianna, Senhorinha da Silveira __________________________________________________________________ 163
Viera, Custódio Manuel ________________________________________________________________________ 125
Vidart ______________________________________________________________________________________ 149
Vinhas ______________________________________________________________________________ 117, 118, 119
Vinhas, João _________________________________________________________________________ 118, 121, 172
Vinhas, João Guerino __________________________________________________________________ 117, 118, 119
Vinhas, Matilde da Silva ___________________________________________________________ 117, 118, 119, 127
Vinhas, Pedro Lobo ___________________________________________________________________________ 117
Virgínia. Ver Campos, Virgínia de Souza.
Vitorino, Francisco Gonçalves ____________________________________________________________________ 61
Vizeu, Antônio de Morais Figueredo______________________________________________________________ 159

X
Xavier, Bernardina Inácia_______________________________________________________________________ 158
Xavier, Francisco. Ver Faria, Francisco Xavier.
Xavier, José Inácio ____________________________________________________________________________ 158
Xavier, Maria Leopoldina ______________________________________________________________________ 158
Xavier, Sebastião. Ver Xavier, Sebastião da Silva.
Xavier, Sebastião da Silva ________________________________________________________________ 54, 96, 102
Xavier Faria. Ver Faria, Francisco Xavier.

Z
Zabala. Ver Zabala, Bruno Maurício
Zabala, Bruno Maurício _____________________________________________________________________ 31, 213
.
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