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VOLUME
DA GENTECOLÔNIA
BRASILEIRA
2016
Preparação
Breno Barreto
Revisão
Luana Luz de Freitas e Pedro Staite
Projeto gráfico de miolo e de capa e iconografia complementar
Victor Burton
Diagramação
Adriana Moreno e Anderson Junqueira
Pesquisa iconográfica
Renato Venancio
Pesquisa documental
Carlos Milhon
ISBN: 978-85-441-0385-2
V
ocê gosta de história? Então, está com o livro certo nas mãos.
Porque nele você há de conhecer uma história do Brasil di-
ferente. Não aquela dos grandes feitos, nomes e datas que
marcaram o nosso passado; tampouco aquela dos fenômenos
extraordinários que provocaram rupturas na nação, mas as
histórias do dia a dia, ou melhor, de todos os dias da semana.
Histórias feitas por personagens anônimos do passado, que
raramente nos são apresentados, pois se confundem com o
tecido social em construção. Uma história da gente brasileira no labor co-
tidiano, inventando, produzindo e ganhando o “pão de cada dia”! Sim, no
gerúndio mesmo, pois a vida real se passa nesta forma de verbo.
Do que era feita essa gente, prisioneira da vida ordinária? Sob qual cli-
ma cresceu, se multiplicou e desapareceu? E, de suas crenças e tradições, o
que ficou para as gerações que a sucederam? De que trama foi tecido esse
povo? Para responder a essas questões vamos discorrer sobre o básico, o tra-
dicional. Mas de forma nova e fresca. Vamos falar com simplicidade dos lu-
gares-comuns, das coisas pequenas que podem ser muito relevantes, quan-
do damos voz às comunidades de ontem, ouvindo-as sobre seu cotidiano;
dos pequenos detalhes da existência sobre os quais se colam gestos precisos,
exercidos por personagens que ritualizam suas ações. O seu “saber fazer”.
Nas mãos de nossa gente, vamos encontrar objetos. Objetos, eles tam-
bém atores históricos, cujos usos nos ajudam a compreender a complexida-
de de nossa vida material. Em cada um deles reside a narrativa de sua produ-
ção, de suas viagens, de seus usos e apropriações. Não podemos reduzi-los
a sua simples significação ou uso. Marcados pela intenção de seu criador, e
depois de seus detentores, eles são o signo de uma ação. Sua historicidade
nos convida a inscrevê-los na sucessão da vida coletiva. Um mundo habita
cada coisa: panelas, roupas, instrumentos de trabalho, móveis.
Contrariamente às grandes obras de arte, o encanto das pequenas
coisas reside em não individualizar o gesto criador. Não há assinatura na
parte inferior de tais peças. Arrancados de seu silêncio, de sua quietude,
eles nos acenam com descobertas imprevisíveis. E é a história de nosso
cotidiano que se expressa através de artefatos concretos. Da lembrança
de ofícios esquecidos.
Descobrir a grande história das pequenas coisas é também uma forma
de olhar. Nesse olhar está contida a arte de viver, mas também de ver. De
ver de perto. Pois atrás dos objetos está contida uma história outra. Aque-
la da mão dos homens, atarefada em extrair da natureza objetos de metal,
madeira, vidro. E essa história é também a da destruição de florestas, rios
e carreiras de pedras para a confecção de instrumentos de exploração. Os
vários artefatos usados nos ofícios responsáveis pela mineração do ouro e
diamantes, pela criação de muares e bovinos, pela plantation de cana e ou-
tros produtos agrícolas estiveram associados a vários momentos de nossas
transformações econômicas e de nosso empobrecimento ecológico.
E, sobretudo, é a história da exploração de um homem pelo outro. Nas
mãos do escravo, a enxada; na do feitor, o chicote; na do senhor, o “pão”
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este mesmo dia, à hora das véspe- PÁGINAS 12 E 13
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Entrei nos Ilhéus e fui a pé dar em uma aldeia que estava sete léguas da
vila [...] dei na aldeia e destruí todos os que quiseram resistir, e na vinda vim
queimando e destruindo todas as aldeias que ficaram para trás e, por o gentio
ajuntar e vir me seguindo ao longo da praia, lhe fiz algumas ciladas onde os
cerquei e lhes foi forçado deitarem-se a nado ao mar [...] mandei outros índios
atrás deles e gente solta que os seguiram perto de duas léguas e lá no mar
pelejaram de maneira que nenhum tupiniquim ficou vivo [...] e os puseram
ao longo da praia, por ordem que tomavam os corpos perto de uma légua.
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