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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACIS

RENATA BUENO PANZUTO

A PSICOLOGIA JUNGUIANA NA CONTEMPORANEIDADE:


Anima e Animus Nas Relações Homoafetivas

ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA JUNGUIANA

São Paulo
2017
1

RENATA BUENO PANZUTO

A PSICOLOGIA JUNGUIANA NA CONTEMPORANEIDADE:


Anima e Animus Nas Relações Homoafetivas

Monografia apresentada à
FACIS como requisito
parcial para obtenção do
título de especialista em
Psicologia Junguiana
Prof: Ajax Perez Salvador

São Paulo
2017
2

RESUMO

A presente monografia aborda o conceito de anima/animus concebido por Carl


Gustav Jung. Anima é o componente feminino na personalidade do homem e
Animus o componente masculino da psique da mulher. A temática principal da
pesquisa está em entender como aplicar esses elementos contra-sexuais e seus
mecanismos de projeções nas relações homoafetivas. O objetivo é apresentar os
conceitos de Jung e outros autores Junguianos sobre a homoafetividade e
correlacioná-los com a teoria de anima/animus. A linha de problematização reside
em como a teoria junguiana compreende a homoafetividade e qual a aplicabilidade
dos arquétipos anima/animus e seus mecanismos de projeções na relação
homoafetiva? Nossa proposta inicial é que a atuação do elemento anima/animus,
esteja dissociado de gênero e papel sexual ou que o componente projetado nas
relações homoafetivas sejam outros arquétipos: a persona ou o duplo. A análise
será baseada e desenvolvida em fontes de pesquisa bibliográficas e é de caráter
exploratório qualitativo. As respostas encontradas apontam que anima/animus,
enquanto figuras arquetípicas da psique estão além das influências que moldam a
consciência, como família, cultura e sociedade. Existe a possibilidade de
entendermos o funcionamento desse par de opostos, feminino e masculino, como
forças que atuam de forma íntima, em maior ou menor grau, dentro de cada
indivíduo, independe de gênero e orientação sexual. Isso se realiza a serviço do
propósito de desenvolvimento psicológico individual.

Palavras-chave: Homossexualidade e homoafetividade. Animus e Anima.


Arquétipo Andrógino. Psicologia Analítica. Masculino e Feminino.
3

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 4

CAPÍTULO 1: Homoafetividade ............................................................................................ 6


1.1 Breve História da Homoafetividade ......................................................................... 6
1.2 Entendendo Gênero, Orientação Sexual e Identidade de Gênero ............................. 9

CAPÍTULO 2: Homoafetividade na Psicologia Analítica................................................... 11


2.1 Jung e a Homoafetividade ...................................................................................... 11
2.2 Teorias Junguianas sobre a homoafetividade ........................................................ 14

CAPÍTULO 3: Explorando anima/animus ........................................................................... 19


3.1 Os elementos contra-sexuais na teoria de Jung ...................................................... 20
3.2 Aplicar anima/animus nas Relações Homoafetivas .............................................. 22
Projeção da Persona ......................................................................................... 23
Arquétipo Andrógino ........................................................................................ 24
Arquétipo do Duplo .......................................................................................... 26

CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 28

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 32
4

INTRODUÇÃO

A homoafetividade está presente desde as origens da humanidade. Foi diversamente


interpretada, reconhecida e explicada. Sua penosa e controversa história passa por
inspiração de comportamento na Grécia antiga para heresia, sodomia, pederastia,
anormalidade e até crime durante um longo período da história. No final do século XIX
deixou o campo da religião e da justiça para a psiquiatria, onde foi considerada uma
doença psíquica, o que legitimou mais ainda o preconceito social. Somente em 1973 a
American Psychiatric Association (APA) retirou a homossexualidade da lista de distúrbios
mentais, porém até meados de 1980, ainda era considerada uma perversão tratável.

Na perspectiva da Psicologia Analítica, Jung pouco escreveu sobre a


homoafetividade e quando o fez, era normalmente para descrever um caso que não tinha
como objetivo o estudo da sexualidade do paciente. Por este motivo, a base maior de
estudos será encontrada em autores contemporâneos como Robert Hopcke (1993), em sua
obra Jung, Junguianos e a Homossexualidade (1993), que é a principal referência de estudo
da homoafetividade na Psicologia Analítica. Ele faz uma revisão crítica de tudo o que foi
escrito por Jung e autores posteriores sobre o tema. Outra grande referencia é June Singer
em seu livro Androginia (1991), também muito citada em trabalhos sobre sexualidade. Ela
defende um aspecto andrógino inato na psique e fala das características consideradas
masculinas e femininas como estereótipos, ressaltando que todos possuem e expressam
qualidades de ambos os gêneros. Por fim, a obra de Maria Castañeda, A Experiência
Homossexual (2007), que mostra as particularidades sobre o desenvolvimento do indivíduo
homossexual, propondo um modelo de como construir uma identidade saudável.

Como objetivo geral, pretende-se revisar os conceitos apresentados por Jung sobre
a homoafetividade e verificar ideias contemporâneas pertinentes para uma melhor
compreensão do assunto. Posteriormente correlacionar com a teoria de anima/animus de
Jung, buscando resposta à questão de qual a aplicabilidade dos arquétipos contra-sexuais e
seus mecanismos de projeções na relação homoafetiva?

A proposta é investigar, dentro de uma revisão bibliográfica, possíveis explicações


para o fenômeno estudado. Entendendo igualmente que a própria teoria Junguiana passou
por uma grande revisão de conceitos através do tempo e que até hoje não existe um
consenso. Isso será feito ao longo de três capítulos: o primeiro, tendo como objetivo fazer
uma breve revisão histórica da homoafetividade e esclarecimentos sobre as questões de
gênero, identidade de gênero e orientação sexual. O segundo, revisar o que Jung e os
5

Junguianos apresentaram sobre o tema da homoafetividade. O terceiro, apresentar a teoria


anima/animus, discorrer sobre o arquétipo andrógino e outras possíveis discussões para
entender os elementos contra-sexuais nas relações homoafetivas.

A ideia do tema nasceu do contato com a teoria de Jung sobre anima/animus. Senti-
me fascinada pelo poder de interferência desse arquétipo em nossas vidas. Explorar o
conceito abriu-me para um novo nível de percepção, não só interiormente, onde sempre
busquei compreender os dois lados: feminino e masculino, mas exteriormente, gerando um
novo olhar para a dificuldade de homens e mulheres em entrar em contato com as
polaridades mais inconscientes de si mesmo. Percebo o quão presente, marcante, ativo e
atuante está este elemento e observo as desastrosas consequências nas relações,
proveniente da falta de seu equilíbrio. Prontamente surgiu o questionamento de como essa
teoria atuaria, ou não, no caso da relação homoafetiva.

Na mesma época, tive contato com o filme Daphne (2007), sobre a vida de Daphne
Du Maurier, famosa escritora inglesa do século XX. Segundo o filme de Margaret Forster,
ela era homossexual, mas rejeitava assumir-se, vivendo uma vida de aparências e
secretamente dando vazão a seus romances com mulheres. O marcante dessa historia é a
definição que Daphne expressa para se referir-se à sua parte masculina, a qual precisou
trancar e esquecer para adaptar-se a seu papel social feminino. Sentia-se como um “boy in
the box”1 . Ela declarava “I am a half-breed, someone internally male and externally
female”2. É impressionante como o teor dessas expressões faz correspondência à teoria de
Jung sobre a contraparte internalizada. Neste caso, consciente, mas bloqueada de
expressão, para adequar-se ao papel social vigente em seu tempo.

Considerando a atual época como a mais livre e sensata que já tivemos para
entender a temática e motivada a elucidar as questões ocultas em experiências como esta,
pretendo buscar referências na teoria de Jung e principalmente de autores pós-junguianos
para fundamentar o trabalho.

1
“Menino aprisionado” (Du Maurier, tradução nossa)
2
“Sou uma mistura, alguém internamente masculino e externamente feminino” (Du Maurier, tradução nossa)
6

CAPÍTULO 1

Homoafetividade

Independente das regras vigentes nas diversas culturas e épocas, a homoafetividade


sempre foi um fenômeno parte do gênero humano. Na Grécia antiga era uma prática
comum e não estava vinculada a ideia de segregação e de minoria, mas sim de parte
integrante da vida e da sociedade.

A controvérsia nasce com a tradição judaico-cristã, onde o cristianismo, além de


colocar os atos homossexuais fora da salvação e, portanto, fora da natureza, acabou por
acentuar a hostilidade da lei judaica e passou a condenar todos os prazeres sexuais não
ligados à reprodução.

Outro esclarecimento importante quando falamos sobre homoafetividade, é o de


compreender as diferenças das definições de Gênero, Orientação Sexual e Identidade de
Gênero. Existe muita confusão entre esses conceitos e comumente aplica-se um padrão
primário a tudo que envolve o assunto, mas as possibilidades de expressão humanas não
cabem em um sistema como este, pois o sexo biológico pode discordar do gênero psíquico,
a orientação sexual independe da identidade de gênero e o papel social de gênero não
define a sexualidade.

O objetivo deste capítulo é, portanto, uma breve introdução a esses conceitos.

1.1 Breve História da Homoafetividade

Na antiguidade a relação homossexual era tão habitual e inserida nos valores da


sociedade que não havia a necessidade de diferenciá-la com um termo específico. O
conceito simplesmente não existia, pois era uma intimidade considerada natural, virtuosa e
por vezes sagrada.

Na pré-história, segundo Brent L. Pickett (2009), algumas tribos no oceano Pacífico


já permitiam o sexo entre homens em rituais, pois acreditavam que o conhecimento
sagrado só poderia ser transmitido por meio da relação sexual entre pessoas do mesmo
sexo.
7

A mitologia representou o amor entre pessoas do mesmo sexo a partir de muitos


deuses bissexuais, homossexuais ou que não tinham sexo definido. O Deus Hindu
Ganesha, por exemplo, em uma das versões do seu mito, nasceu da relação entre duas
divindades femininas. Já na mitologia grega, Herácles, o Hércules na mitologia romana,
teve a ajuda de um amante, Abdero, na realização de seu oitavo trabalho.

Na antiga Mesopotâmia, que cerca de 1750 A.C, havia cultos religiosos onde as
relações entre devotos e “servos sagrados” eram consideradas divinas. Isso acontecia em
templos da Mesopotâmia, Fenícia, Egito, Sicilia, Índia e entre outros lugares. Essas
práticas estão descritas em um dos mais antigos e importantes conjuntos de leis do mundo
antigo, o código de Hammurabi. Neste mesmo período, união entre pessoas do mesmo
sexo fora reconhecido pelas autoridades.

No período da Grécia antiga, segundo Pickett (2009), as relações homossexuais


eram inspiração de comportamento, em especial as relações pederastas, entre professor e
aluno, onde havia uma função pedagógica e eram encaradas com um sentimento puro, pois
era uma forma de estreitar as relações afetivas e intelectuais entre aprendiz e mestre. Além
disso, era comum alternar as experiências homossexuais com heterossexuais e isso não
representava uma opção fora do normal, mas sim parte integrante da vida.

Na Ilha de Lesbos, a poetiza grega Safo, escrevia sobre suas dores e prazeres. Sua
poesia era considerada de conteúdo erótico e por isso foi censurada pelos escribas
medievais, ligados à Igreja Católica. Por este motivo restaram apenas fragmentos das suas
obras. Alguns historiadores afirmam que seus poemas sofreram alterações, havendo trocas
de pronomes femininos para masculinos e deste modo censurando o conteúdo
homoafetivo.

Em Roma os ideais amorosos eram equivalentes aos gregos. A homoafetividade


tinha suas particularidades e as relações deveriam ser do tipo amo/escravo ou entre um
homem adulto e um rapaz mais jovem, mas assim como na Grécia, era considerada uma
forma de amor puro.

Segundo Naphy (2006) a dificuldade inicia com o período da cultura judaico-cristã,


onde o Judaísmo pregava o sexo apenas para procriação e essa concepção começa a ganhar
forças, inclusive na pequena comunidade cristã que existia. No século IV quando o
imperador romano Constantino converteu-se ao cristianismo, a fé cristã torna-se
8

obrigatória e os valores e leis da tradição viram norma. O sexo passa a ser encarado apenas
como forma de gerar filhos e a homoafetividade torna-se uma anormalidade.

Em 533 o imperador Justiniano cria uma lei que vincula todas as relações
homossexuais ao adultério e, portanto, passível a pena de morte. Mais tarde, por volta de
538 e 544, criam-se outras leis que obrigavam os homossexuais a arrependerem-se de seus
pecados e a fazer penitencia.

Durante muito tempo os valores permaneceram os mesmos, somente em meados do


século 14, com o Renascimento, os preceitos clássicos regressam. A arte, a liberdade, o
humanismo, o gosto pela beleza e forma masculina, inspiram novamente o amor entre
homens. No entanto, com a peste negra assolando a Europa, entre 1347 e 1351, e o
desconhecimento de sua origem, a homoafetividade passa a ser apontada como uma das
possíveis causas. Os Judeus, hereges e sodomitas tornaram-se o “bode expiatório” 3 e a
causa de todos os males da sociedade. Medidas extremas foram tomadas por toda a
Europa, que foi de proibição à perseguição, enforcamento até pena de morte.

Já em nossa sociedade contemporânea, em 1848, nasce o termo


"homossexualismo", usado para apontar uma doença congênita e hereditária, resultante de
uma anormalidade genética associada a problemas mentais na família. Os médicos
tentavam curá-la com choques elétricos, lobotomia e injeções hormonais. Esse tipo de
“tratamento” ao homossexual durou muito tempo. Para ter uma ideia, a última lobotomia,
técnica cirúrgica que cortava um pedaço do cérebro, foi feita em 1981.

Apenas no final do século passado começa a ocorrer uma transformação mais


significativa, mas ainda de forma bem ambígua. Em 1979 a Associação Americana de
Psiquiatria tira a homoafetividade da lista oficial de doenças mentais, por outro lado, nesta
mesma época, surge a AIDS. Com a profusão da doença, o preconceito se evidencia e
muitos gays, apesar da situação hostil, mostram sua cara para dar início às reivindicações
de seus direitos.

Durante os anos 80 e 90 a maioria dos países ocidentais descriminalizou a


homoafetividade e proibiu a discriminação contra gays e lésbicas. Em 1995, as relações
homossexuais passam a ser consideradas um “transtorno de preferência sexual”, o sufixo

3
Termo de Sylvia Brinton-Perera (1991) o complexo de bode expiatório está associado ao mecanismo de
negação da sombra. O bode expiatório recebe a projeção da sombra e se identifica com características que o
outro não aceita em si mesmo, por não estar em acordo com o ego ideal.
9

“ismo” é substituído por “dade” significando “modo de ser”, o que traz maior leveza ao
termo e o afasta da ideia de doença.

No Brasil, em 1984, a Associação Brasileira de Psiquiatria posicionou-se contra a


discriminação e considerou a homoafetividade algo que não prejudica a sociedade. Em
1985, o Conselho Federal de Psicologia deixou de considerar a homossexualidade um
desvio sexual e, em 1999, estabeleceu regras para a atuação dos psicólogos em relação às
questões de orientação sexual, declarando que “a homossexualidade não constitui doença,
nem distúrbio e nem perversão e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços
que proponham tratamento e/ou cura da homossexualidade” 4.

No dia 17 de maio de 1990, a Assembleia-geral da Organização Mundial de Saúde


(OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, a Classificação
Internacional de Doenças (CID), sendo que a data passou a ser celebrada como o Dia
Internacional contra a Homofobia. Por fim, em 1991, a Anistia Internacional passou a
considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.

Podemos constatar, através dessa breve historia, que a atração afetivo-sexual entre
pessoas do mesmo sexo sempre existiu e o fator que a tornou, ao longo da história da
humanidade, admirada, consentida ou repudiada são os valores culturais vigentes de cada
época. Evidentemente que a sociedade contemporânea ainda traz um residual da
perspectiva higienista que, a partir do século XVIII, patologizou a sexualidade humana,
estabelecendo como “norma” o modelo heterossexual, monogâmico e com o sexo voltado
para a reprodução. Esse modelo, obviamente, restringe e favorece a discriminação,
injustiça, desigualdade e sofrimento daqueles que não se encaixam no padrão vigente.

1.2 Entendendo Gênero, Orientação Sexual e Identidade de Gênero

Com o movimento de liberdade sexual, iniciado no século XX, novas naturezas


passam a ser discutidas, entre elas a homossexualidade, a bissexualidade e a
transexualidade. Apesar da maior aceitação da sociedade contemporânea, o assunto ainda é
complexo, gera duvida e, portanto, faz-se necessário esclarecimento.

4
Resolução CFP Nº 001/1999, de 22 de março de 1999. Ementa: estabelece normas de atuação para os
psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual.
10

Gênero, orientação sexual e identidade de gênero não são sinônimos e devem ser
entendidos em sua complexidade e considerando a singularidade de cada ser humano.

O “gênero”, em um primeiro momento, de acordo com a noção tradicional,


significa o sexo biológico, se o indivíduo nasceu macho, fêmea ou interssexual. Nesta
definição, onde é sinônimo de sexo, ele se determina pela genitália e cromossomos de
nascença.

No entanto, do ponto de vista das ciências sociais, a palavra gênero foi usada para
expressar a diferença social e psicológica entre homens e mulheres. Sua definição é tida
como o conjunto de características sociais e culturais ligadas às percepções de masculino e
feminino.

As teorias feministas, no entanto, questionaram essa noção comum de gênero,


levantando a ideia de que as divisões entre "masculino" ou "feminino" são completamente
construídas culturalmente, historicamente e socialmente, afirmando que gênero é
simplesmente assumido através de papeis, gostos, costumes e comportamentos sem
acontecer um processo de escolha.

Na contemporaneidade, com os avanços nas ciências sociais, reforçou-se uma


dissociação entre gênero e genitais (sexo), pois se percebeu que o que define determinado
gênero é completamente mutável e cada vez mais flexível.

A “orientação sexual” é um termo relativamente mais conhecido e compreendido,


pois se refere à quais gêneros uma pessoa se sente atraída, seja sexualmente ou
emocionalmente. Ou seja, é como o indivíduo se sente em relação à afetividade e
sexualidade. Ela pode ser heterossexual, bissexual, homossexual, assexual ou pansexual.

Por não tratar-se de uma questão exclusivamente de sexo, o termo mais apropriado
é "orientação afetivo-sexual" ou “romântico-sexual" e a palavra correta é “orientação" e
não “opção” porque não é algo que se pode mudar de acordo com o próprio desejo.

A “identidade de gênero” é se expressão do gênero com o qual a pessoa se


identifica, que pode ou não concordar com o gênero que lhe foi atribuído em seu
nascimento. É como o indivíduo se sente, se reconhece e deseja que os outros o
reconheçam. Também incluí a maneira de agir, de vestir, andar e falar.
11

CAPÍTULO 2
Homoafetividade na Psicologia Analítica

Quem conhece as Obras Completas de Jung perceberá que ele pouco falou sobre a
questão da homoafetividade. Uma das possíveis razões seria por sua cisão e distanciamento
com Freud, que em sua teoria já havia dado demasiada importância aos assuntos relativos à
sexualidade. As menções de Jung aparecem mais em artigos onde o foco principal não era
o esclarecimento sobre o tema.

Entre os autores pós-junguianos, apesar de não haver um consenso, é possível


encontrar material sobre o assunto. No entanto, um ponto importante a ser levantado, é que
dentro da psicologia analítica existem diferentes vertentes e, portanto, diferentes visões,
abordagens e interpretações. A Escola Clássica utiliza a teoria inicial de Jung, a Escola
Desenvolvimentista revisa as principais ideias de Jung e a Escola Arquetípica se baseia no
trabalho com as imagens arquetípicas. Não encontra-se uma forma junguiana única e
exclusiva de entender a homoafetividade, por isso a proposta é repassar os conceitos e
selecionar reflexões que melhor elucidem as demandas do tema.

2.1 Jung e a Homoafetividade

O pensamento moderno a respeito da homoafetividade difere bastante da época de


Jung, graças aos movimentos sociais recentes que possibilitaram uma abertura deste
fenômeno para uma análise social, política e religiosa mais profunda.

Jung pouco falou sobre o tema da sexualidade e menos ainda sobre a


homoafetividade. Conforme Hopcke (1993), nas Obras Completas, Jung menciona, sem
elaborar e de forma secundária, pouco mais que uma dezena de vezes. Em Memórias,
sonhos e reflexões (2016) cita duas vezes e faz outras poucas referências em
correspondências publicadas, entrevistas e Seminários sobre os sonhos. Ou seja, é
importante ressaltar que Jung nunca desenvolveu uma teoria sobre o assunto e o que existe
são referências escassas, onde ele trata o tema de maneira indireta e espontânea. Por esse
motivo é preciso muita cautela ao examinar seus escritos.
12

Hopcke (1993) afirma que as ideias de Jung sobre homoafetividade sofrem muitas
variações. Inicialmente ligado ao movimento psicanalítico, havia uma visão como
patologia, depois passa por uma aparente noção de desvio e posteriormente é entendida
como uma consequência de identificação com o arquétipo contra-sexual de animus ou
anima. Independente disso fica claro que a postura de Jung foi buscar o significado e
impacto dentro da vida de seus pacientes.

Jung, ainda ligado ao movimento psicanalítico (1908-1920), via a homoafetividade


como uma forma de imaturidade psicológica, causada por uma perturbação no
relacionamento com a mãe. Apesar de suscitar que o paciente homossexual necessitaria de
uma “cura”, Hopcke (1993) aponta que Jung tinha uma atitude bem tolerante,
considerando os valores sociais e religiosos da época. Ele também destaca o olhar
precursor de Jung em situar a homoafetividade considerando a perspectiva histórica e sua
postura compreensiva de buscar o significado na experiência individual.

Após a expulsão de Jung dos círculos psicanalíticos em 1913 e da publicação de


Tipos Psicológicos em 1921, ele finaliza um período de isolamento profissional e começa a
apresentar pensamentos bem particulares. No capítulo “Definições" ele explana uma das
maneiras pela qual a homoafetividade pode se expressar, relacionando-a ao conceito de
“alma-imagem” - que mais tarde será chamada de anima/animus - onde a identificação
com esse arquétipo resultaria na projeção da persona. Hopcke (1993) afirma que era deste
modo que Jung interpretaria muitos casos de homoafetividade.

A visão de Jung sobre o fenômeno, de acordo com Hopcke (1993), era bastante
labiríntica e complexa. Muitos conceitos maduros surgem, mas igualmente aparecem
citações estereotipadas, onde misturava variáveis distintas como sexo, orientação sexual e
papel sexual em um único conceito indiferenciado. Apesar disso, era nítido que Jung já
considerava o caráter variado das relações homoafetivas. Em sua prática clínica,
primeiramente avaliava o contexto em que ela aparecia na vida do paciente e
posteriormente analisava os reflexos causados em pensamentos, sentimentos e ações;
medindo se os impactos eram positivos ou negativos para a vida da pessoa. Isso já mostra
uma perspectiva bem mais aberta e compreensiva para o contexto sociocultural da época,
fundamentada no histórico pessoal.

Em 1936 Jung publica um texto “Sobre os arquétipos, com referência especial ao


conceito de anima”. Nessa fase, de 1936 a 1950, segundo Hopcke (1993), é perceptível um
amadurecimento do pensamento de Jung. Ele faz uma importante ligação entre a
13

homossexualidade e o arquétipo do Hermafrodito ou “Homem original”, que representa o


arquétipo da plenitude psicológica: o Self. Nesse trabalho, ele levanta a hipótese da
homoafetividade resultar de uma resistência a uma sexualidade “unilateral” e a
possibilidade de estar ligada à plenitude hermafrodita do Self.

Para uma melhor assimilação das ideias – muitas vezes confusas e antagônicas - de
Jung sobre a homoafetividade, Hopcke (1993) organiza e enumera uma lista com as
afirmações mais importantes, montando uma interessante releitura de suas opiniões ao
longo do tempo.

O primeiro parecer de Jung que ele destaca é de que “A homossexualidade não


deve ser assunto das autoridades legais” (HOPCKE, 1993, p.61). Ele explica que, através
desse conceito, percebemos que Jung pensava que a homoafetividade não deveria diminuir
o valor do indivíduo na sociedade e que as leis eram desumanas.

Em segundo lugar ele aponta que "A homossexualidade é melhor compreendida


quando colocada num contexto histórico cultural” (HOPCKE, 1993, p.62). Aqui ele diz
que Jung reconhecia existir uma função política e social do fenômeno, com base na Grécia
clássica, mas ao mesmo tempo assumia que a função social da homoafetividade na vida
contemporânea era uma questão a ser examinada.

A terceira opinião é “Distinguir a homossexualidade de um indivíduo de outros


aspectos de sua personalidade” (HOPCKE, 1993, p.63). Ele elabora que Jung vai além do
comportamento e sentimentos do paciente para examinar outros aspectos do
desenvolvimento psicológico. Jung não ignorava os outros aspectos do paciente e
ultrapassava os preconceitos da época para chegar à compreensão do indivíduo em seu
conjunto, colocando a devida importância da homoafetividade no contexto de vida da
pessoa.

A mais importante concepção de Jung é a quarta: “A homossexualidade tem um


significado particular para o indivíduo em questão e o crescimento psicológico consiste
em tornar o indivíduo consciente desse significado” (HOPCKE, 1993, p.65). Essa
afirmação tem muita coerência com o pensamento junguiano, pois conforme Hopcke
(1993, p.65): "[...] supõe que a psique é um fenômeno intencional e que todos os aspectos
da vida psicológica do indivíduo - mesmo os que parecem extremamente regressivos e
patológicos - servem à finalidade do crescimento psicológico".
14

A quinta posição, refere-se a resquícios da ligação de Jung ao movimento


psicanalítico, que é “a homossexualidade é um resultado da imaturidade psicológica e,
consequentemente, é anormal e perturbada” (HOPCKE, 1993, p.67). Conforme Hopcke
(1993), esta aparenta ser uma “observação equivocada”, pois presume que a
heterossexualidade seja sinônimo de maturidade psicológica e única forma de
desenvolvimento psíquico.

2.2 Teorias Junguianas Sobre a Homoafetividade

Ao investigar textos que os primeiros psicólogos analíticos escreveram sobre a


homoafetividade, percebemos concepções muito próximas das ideias mais conservadoras
apresentadas por Jung. Não houve, neste período inicial, nenhuma evolução criativa.

Hopcke (1993), em sua obra, apresenta e discute diversos destes trabalhos,


criticando os conceitos apresentados por essa primeira geração de analistas. Conforme sua
interpretação, ele os considera tendenciosos, pois partem do princípio de que a
heterossexualidade é a forma ideal de comportamento sexual humano e acreditam na
homoafetividade como um desvio passível à mudança. Sobre essas primeiras reflexões
Hopcke (1993, p.111) declara que “[...] parecem mais reformulações dos estereótipos
culturais contidos na terminologia junguiana do que contribuições originais para uma
psicologia da homossexualidade ou novos insights do processo de individuação de homens
e mulheres gays”.

Por este motivo, neste trabalho, não pretendemos examinar estes textos mais
remotos, pois seria pouco produtivo. Também não objetivamos trazer ideias, mesmo as
mais modernas, carregadas de preconceito e que reduzam a orientação sexual a alguma
forma de psicopatologia ou de imaturidade psicológica. O propósito é reflexionar sobre
conteúdos que enriqueçam insights de Jung de forma conscienciosa e aprimorada. Por essa
razão, concentraremos o estudo em autores contemporâneos com teorias consideradas mais
coerentes, tolerantes, inclusivas e fundamentadas.

Em 1981, de acordo com Hopcke (1993), Steven Centola escreve o artigo


“Individuação em Maurice, de E. M. Forster”, onde analisa o personagem homossexual
Maurice, no romance de Forster. Ele afirma que o autor usou o livro como função
terapêutica, na busca de integralidade diante de sua própria homossexualidade. Centola,
15

nesta análise, enfatiza o tema da individuação e sugere que o romance trata-se do desejo e
busca de plenitude por parte do protagonista. Essa busca não deveria ser diferente do
heterossexual, porém, para Maurice, somente após enfrentar os “sombrios recônditos" de
sua psique inconsciente e integrar sua homossexualidade a seu consciente, é que isso pôde
encontrar equilíbrio e completude. Hopcke (1993) destaca como Centola penetra nos
aspectos positivos da autorrealização homossexual, salientando que à medida que Maurice
explora suas relações e entende o caráter de suas paixões, é que pode transformar a sombra
da homossexualidade em plenitude. Centola prova neste trabalho que a homossexualidade
inconsciente é afetada pela sombra na individuação. Ele vê a jornada do personagem como
um símbolo de atingir a unidade e reconhece as relações amorosas como guias para
Maurice encontrar o caminho de seu Self.

Maurice experimenta um tipo de momento eterno quando aceita sua homossexualidade, porque
vislumbra momentaneamente seu verdadeiro Self, ‘a raiz de onde brotam corpo e alma, o ‘eu’
que ele fora treinado a ocultar e que percebe por fim’. Ele compreende que não é nem corpo
nem alma, tampouco corpo e alma, mas ‘ele’ perpassando ambos. (CENTOLA, 1981, p.58,
apud HOPCKE, 1993, p.118)

Sua preocupação era mostrar a estabilidade psíquica que Maurice descobriu ao


encontrar felicidade e acolhimento na relação homoafetiva.

Outro artigo interessante é do sociólogo David Walsh “Homossexualidade,


racionalidade e cultura ocidental”. Segundo Hopcke (1993), Walsh atribui o medo e
repulsa à homoafetividade como resultante de um "complexo geral de repressão à
sexualidade” e complementa que os estereótipos negativos de “efeminado afetado” e
“lésbica machona” são os que recebem diretamente a sombra projetada da sociedade, que
reprime a sexualidade e termina por constelar o “complexo de bode expiatório” nos
indivíduos que são diferentes.

Walsh afirma que grande parte da problemática da experiência sexual está no


comportamento anti-sexual judaico-cristão que inspira repulsão em relação ao corpo, à
sexualidade e às mulheres. Hopcke (1993) correlaciona essa ideia com a crítica de Jung ao
cristianismo, onde ele afirmava ser um sistema tendencioso, que não considerava a real
experiência humana, orientado para logos e que exclui a sombra. Em outras palavras, é
preciso integrar Eros (sexualidade, ligação, paixão, consciência feminina e intuição) ao
logos (razão, pensamento, linguagem e regra), pois como o texto aponta, a sublimação do
lado erótico da alma e o ato de subjugar Eros às convenções sociais é a verdadeira
patologia de nossa sociedade. Assim Walsh complementa:
16

A cultura ocidental projetou de forma fácil demais um problema coletivo como uma patologia
pessoal. Mas o material do qual a patologia é feita - a consciência misógina - abarca a cultura
em seu conjunto. O homossexual não é o portador da misoginia, mas sua vítima. A misoginia é
a rejeição do Eros e essa rejeição é precisamente o que não realizou o homossexual que vive
sua homossexualidade; e é o que realiza o heterossexual normal que vive sua vida segundo
estereótipos culturais do masculino e feminino. (WALSH, 1978, p.97, apud HOPCKE, 1993,
p.122)

Outro destaque de Hopcke (1993) é a resenha do livro “Comportamento


homossexual: uma reavaliação moderna”, dos analistas junguianos David Stockford e J.
Michael Steele (1980, p.47, apud HOPCKE, 1993, p.122) que criticam a forma com que a
psicologia trata a homossexualidade. Segundo eles, com uma visão antiquada judaico-
cristã, onde “a anatomia é o destino” e afirmam que os padrões de comportamento sexual
estão enraizados no gênero anatômico. Os autores apresentam outras ideias, dentre elas,
pesquisas sobre a existência de um comportamento homossexual em diversas espécies de
animais, mostrando ser um fenômeno da natureza e que não pode ser considerado uma
deformidade.

James Hillman (1998) apresenta um trabalho onde relaciona o arquétipo da


“Criança Divina”, puer aeternus, com o arquétipo do “Homem Velho”, senex, mostrando
que são opostos pertencentes à mesma polaridade arquetípica. Ele afirma que o arquétipo
em si é uno, mas ao mesmo tempo ambíguo e antagônico por nele abranger sim e não,
psique e matéria, consciente e inconsciente, espírito e natureza. A dualidade, presente em
nossa consciência, é que percebe apenas parte dele, transformando-o em um polo, havendo
assim a divisão.

Hillman (1998), no capítulo “União dos Iguais”, mostra como puer e senex devem
ser contemplados como figuras únicas com aspectos duplos. Fala também sobre a
insistência de nosso ego em romper a unidade com a “aparente dualidade” e
posteriormente sofrer oposição. Essa "união de iguais” pode ser correlacionada com a
homoafetividade, da seguinte forma:

Buscamos essa mistura em nossas próprias vidas. Buscamos uma transformação do conflito
dos extremos numa união de iguais. Nosso tempo e seu anseio de ser curado pede que duas
extremidades mantenham-se juntas, que nossa outra metade tão próxima de nós, tão igual a nós
como a sombra que projetamos, entre no círculo de nossa luz. Nossa outra metade não é apenas
do outro sexo. A união dos opostos - masculino e feminino - não é a única união a que
aspiramos e não é a única união que redime. Há também a união dos iguais, a reunião do eixo
vertical que curaria o espírito cindido. (HILLMAN, 1998, p. 55)
17

Neste momento Hillman (1998) compreende o aspecto do “duplo”, contido na


polaridade de juventude e velhice, como base de alcançar plenitude. Ele compara que a
cisão entre puer e senex é a mesma que produz a frustração do Eros homossexual.

Apesar de Hillman (1998) não ter teorizado especificamente sobre a


homoafetividade, seu raciocínio lança uma importante semente para a compreensão das
relações entre pessoas do mesmo sexo, abrindo portas para que escritores posteriores
pudessem gerar novos insights, dentro da visão arquetípica.

Um importante exemplo deste desdobramento foi feito por Mitch Walker (1994),
que utiliza mitologia e literatura para entender o arquétipo do duplo, que faz a função de
auxiliar interno de mesmo sexo. O duplo é como uma alma gêmea de forte afeto e que
aparece nas relações homoafetivas frequentemente. A projeção deste elemento funcionaria
exatamente como anima/animus, porém aplicado às relações homoafetivas.

Rafael Lopez Pedraza é outro autor que deu continuidade ao conceito de Hillman.
Em seu artigo “A lenda de Dríops e o nascimento de Pan”, ele usa os mitos para
aprofundar o arquétipo do Eros homem-homem e vê no mito de Apolo e Ádmeto uma
relação de afeição, amor, servidão, iniciação e poder.

June Singer (1991) é outra grande referência sobre o assunto sexualidade. Seu livro
Androginia é muito citado em trabalhos sobre homossexualidade. Singer (1991) defende
um aspecto andrógino inato na psique e fala das características consideradas masculinas e
femininas como estereótipos, ressaltando que todos enxergam em si qualidades de ambos
os gêneros.

Não podemos deixar de citar o trabalho de John Sanford (1987) explora as


dimensões de feminino e masculino e as respectivas projeções de animus e anima. Apesar
de Sanford (1987) examinar a dinâmica homoafetiva com uma visão tradicional e
conservadora, a qual não é nosso interesse aprofundar aqui, ele também faz uma
interessante análise dos mecanismos de projeção e levanta a hipótese de feminino e
masculino serem resultados de atribuições do papel social.

Maria Castañeda (2007), já contribui de maneira distinta, elucidando sobre o papel


da homoafetividade na cultura e na sociedade contemporânea. Ela propõe que o
homossexual vive um universo interior muito diferente e que, diante de suas
particularidades, precisaria de ajuda para a construção de sua identidade. O livro visa
18

esclarecer sobre a particular dinâmica psíquica do homossexual, ajudando famílias e


terapeutas a uma melhor compreensão do assunto.

Esses são alguns dos trabalhos significativos, apresentados por junguianos, que
contribuíram para um melhor entendimento das relações homoafetivas. Ainda longe de
qualquer postura conclusiva, exploramos o tema de forma breve e resumida, pretendendo
retomar, em maior profundidade, aos conceitos que mais satisfatoriamente ampararem a
pesquisa.
19

CAPÍTULO 3

Explorando Anima e Animus

Na teoria de Junguiana, a persona é a face externa da psique, isto é, a fachada


aparente que pode ser notada pelo mundo, encarregada de facilitar a comunicação do
indivíduo com seu mundo externo. Por outro lado, para que ocorra equilíbrio, existe
também uma face interna, a qual se denominou de anima (lat., “alma”) no homem e de
animus (lat., “espírito”) na mulher, responsável por governar as relações do mundo interior
com os conteúdos do inconsciente.

Jung percebeu que todos carregam em si qualidades femininas e masculinas, não


somente no sentido biológico com os hormônios, mas também no psicológico com
sentimentos e atitudes. Ao estudar essas diferenças entre homens e mulheres, Jung notou
que ambos trazem na psique uma contraparte-sexual; e nela está contida, de forma
inconsciente, as qualidades e atributos relativos ao sexo oposto. Trata-se do lado feminino
no homem e do lado masculino na mulher.

Para fundamentar sua teoria, Jung correlacionou a estrutura da anima (consciência


feminina) ao eros materno, com a função de relacionamento, dependente e subjetiva; e do
animus (consciência masculina) ao logos paterno como função racional, autônoma e
objetiva.

Sem dúvida, a teoria de Anima/animus, com sua primeira versão publicada em


1916, parece ser um dos mais polêmicos e controversos conceitos do pensamento de Jung,
pois na época em que foi criada, os papéis masculinos e femininos eram muito diferentes
da atualidade. Por esse motivo, existem severas críticas quanto aos valores “machistas” em
sua concepção, especialmente ao determinar quais atributos são relativos ao feminino e
quais se referem ao masculino.

Precisamos reconhecer que se realmente existiu uma visão estereotipada, ela deve
ser associada ao contexto cultural em que Jung estava inserido, numa sociedade
conservadora e patriarcal, onde as mulheres não tinham sequer direito ao voto, mas que o
conceito em si, sobre a existência de uma contraparte sexual inconsciente, deve ser sim
respeitado.
20

De qualquer maneira, o próprio Jung reconheceu que não era nada fácil conceituar
essa ideia e afirma que “[...] na realidade, tenho plena consciência de que se trata de um
trabalho pioneiro que deve contentar-se com seu caráter provisório” (Jung, OC 9/2). Ele
menciona essa dificuldade dizendo “[..] se não é simples expor o que se deve entender por
anima, é quase insuperável a dificuldade de tentar descrever a psicologia do animus”.
(Jung, OC 7/2)

Diante do exposto acima, reconhecemos a grande controvérsia envolvida no tema e


constatamos o vasto desafio à frente. Se aplicar a da teoria da contra-sexualidade para
homens e mulheres heterossexuais já se faz complexa, imaginemos o esforço em empregá-
la para homens e mulheres homossexuais. Conscientes disso, no desenrolar deste capítulo,
abordaremos as questões de Anima/animus para melhor compreender e a aprofundar as
reflexões.

3.1 Os Elementos Contra-sexuais na Teoria de Jung

Diante do processo de tornar-se um ser inteiro, Jung (OC 9/1) diz “se o confronto
com sombra era a obra do aprendiz, o confronto com anima é a obra-prima”.
Anima/animus, além de parte da estrutura da personalidade, são arquétipos com
raízes no inconsciente coletivo. Eles abrangem as experiências que todos os homens e
mulheres trazem em si com o sexo oposto, por toda a história da humanidade.

Originada de uma estrutura arquetípica básica, Jung identificou essa contraparte


sexual em nossa psique e explicou que nela está encerrada as qualidades inerentes ao sexo
oposto, mas que não são conscientes. Ele observou que conforme as experiências e traços
psicológicos de cada indivíduo, os aspectos do outro sexo formam imagens no
inconsciente, concebendo a "imagem-animus" ou a "imagem-anima". Nas palavras de
Jung, temos a seguinte explanação:

Cada homem sempre carregou dentro de si a imagem da mulher; não é a imagem desta
determinada mulher, mas a imagem de uma determinada mulher. Essa imagem, examinada a
fundo, é uma massa hereditária inconsciente, gravada no sistema vital e proveniente de eras
remotíssimas; é um ‘tipo’ (‘arquétipo’) de todas as experiências que a série dos antepassados
teve com o ser feminino, é um precipitado que se formou de todas as impressões causadas pela
mulher, é um sistema de adaptação transmitido por hereditariedade. Se já não existissem
mulheres, seria possível, a qualquer tempo, indicar como uma mulher deveria ser dotada do
ponto de vista psíquico, tomando como ponto de partida essa imagem inconsciente. O mesmo
vale também para a mulher, pois também ela carrega igualmente dentro de si uma imagem
inata do homem. A experiência, porém, nos ensina a sermos mais exatos: é uma imagem de
21

homens, enquanto que no homem se trata de uma imagem da mulher. Visto esta imagem ser
inconsciente, será sempre projetada, inconscientemente, na pessoa amada; ela constitui uma
das razões importantes para a atração passional ou para a repulsa. A essa imagem denominei
anima. (JUNG, OC 1/7 § 210-211)

Este componente influi sobre o princípio psíquico dominante do indivíduo. Ou seja,


o inconsciente do homem, onde o dominante é o masculino, encontrará expressão com
uma personalidade interior feminina, através de anima; já o inconsciente da mulher, onde o
prevalecente o feminino, se expressará com uma personalidade interna masculina, por
meio de animus. Contudo, por serem elementos inconscientes, o contato com este
arquétipo é feito inevitavelmente na forma de projeção em parceiros do sexo oposto.

Hall e Nordby (1980) elucidam Jung da seguinte forma:


O homem herda a sua imagem da mulher e inconscientemente estabelece certos padrões
que lhe influenciarão poderosamente a aceitação ou rejeição de qualquer mulher. A
primeira projeção de anima é feita sempre na mãe, assim como a primeira projeção de
animus é feita no pai. Mais tarde, passa o indivíduo a projetá-la nas mulheres que lhe
suscitam sentimentos positivos e negativos. Quando experimenta uma ‘atração
apaixonada’, a mulher sem duvida alguma possuirá os mesmos traços de sua imagem-
anima da mulher. E vice-versa: quando sente ‘aversão’, a mulher estará dotada de
qualidades que entram em conflito com sua imagem-anima inconsciente. O mesmo
acontece com relação à mulher e à projeção de seu animus. (HALL E NORDBY, 1980, p.
39)

Todas as relações com o sexo oposto, incluindo pais, são intensamente afetadas
pelas projeções de anima/animus. Sanford (1987) diz que "[...] a projeção é um mecanismo
psíquico que ocorre sempre que um aspecto vital de nossa personalidade que
desconhecemos é ativado. Quando algo é projetado, vemo-lo fora de nós, como se fizesse
parte de outra pessoa e nada tivesse conosco”.

A projeção, é claro, cumpre uma função e pode ser entendida como a de um


espelho, o qual o indivíduo vê reflexos de seus conteúdos psíquicos fora dele. Ela é
também responsável pelas paixões, fascínio, encantamento, ódio, supervalorização ou de
desvalorização do parceiro que carrega as imagens psíquicas projetadas. Essas imagens
constituem o que Sanford (1987) chama de “Parceiros Invisíveis”. Ele esclarece que
existem diversos níveis em que a projeção acontece: primeiramente a atração mais
consciente; passando para um segundo nível, onde anima/animus se projetam de forma
positiva; e posteriormente o nível mais inconsciente e intenso, onde o animus de um se
apaixona pela anima de outro e assim estabelece o mais poderoso laço, o mesmo que
determina o impulso avassalador de um para o outro. Essa é a fonte do forte magnetismo
das paixões. Quanto maior for o grau de inconsciência, mais intensa e profunda será a
22

projeção. O contrário também é verdadeiro e Sanford (1987) menciona quanto mais real
uma pessoa se torna para a outra, menor a possibilidade das imagens mágicas do
inconsciente permanecerem projetadas.

Hall e Nordby (1980) alegam que existem múltiplos motivos para que a atração
entre duas pessoas se estabeleça, mas as razões são secundárias, pois a causa primária está
alicerçada no inconsciente. E tudo que permanece inconsciente, tenderá cumprir sua
função de projeção no outro.

O que acontece muitas vezes, é que esses arquétipos encontram-se


subdesenvolvidos. Hall e Nordby (1980) levantam que socialmente existe um
desencorajamento da feminilidade nos homens e da masculinidade na mulher. Isso começa
na infância, onde esperam que meninos se moldem ao papel masculino viril e meninas ao
papel feminino passivo. Deste modo a persona, que leva primazia, sufoca anima/animus,
que ficam potencialmente carregados de energia e atuando de forma inconsciente.

Quando devidamente reconhecidos e integrados ao ego, anima/animus contribuem


para a maturidade do psiquismo. É um arquétipo, que quando acessado, pode gerar
imagens e projeções no mundo interno e externo, onde no sentido comum nos
apaixonamos e no sagrado acessamos os aspectos mais ocultos da psique. Sanford (1987)
diz que “toda vez que surge uma projeção, surge para nós uma nova oportunidade de
conhecermos em nosso interior os parceiros invisíveis, e esse é o caminho para chegarmos
ao conhecimento de nossas próprias almas”.

Como o próprio Jung (OC, 9/2) já esperava, seriam necessárias novas elucidações
na pesquisa sobre anima/animus e afirmou: “[...] na realidade, tenho plena consciência de
que se trata de um trabalho pioneiro que deve contentar-se com seu caráter provisório. [...]
Longe de mim querer dar uma definição por demais específica destes conceitos intuitivos”.

3.2 Aplicar Anima/Animus nas Relações Homoafetivas

Na busca de reflexões que elucidassem as questões ao redor de feminino, masculino


e a orientação sexual, encontramos diversas teorias, discussões e abordagens. Entretanto,
para fundamentar este trabalho, apuramos apenas ideologias consideradas relevantes e
expressivas. Não tendo como objetivo apresentar quantidade de argumentos, ou mesmo de
23

revisar tudo o que já foi exposto sobre o tema, mas sim de acessar, em profundidade,
pensamentos e questionamentos que atinjam nossas mais íntimas reflexões e que nos
tragam maior direcionamento. Tendo isso em mente, aprofundaremos a seguir, nas
considerações que nos trouxeram senso de significado e de conexão.

Projeção da Persona

A primeira possibilidade, que pareceu bastante interessante para a explanação do


tema, foi na teoria de Jung sobre a projeção da persona. Em Tipos Psicológicos, enquanto
formulava o conceito de alma-imagem, o qual mais tarde chamou de anima/animus, ele
elabora uma explicação para uma das maneiras de como a homoafetividade se manifesta:

Para o homem, a mulher é a mais adequada para ser a verdadeira portadora de sua alma-
imagem por causa da qualidade feminina de sua alma; para a mulher, é o homem. Onde quer
que haja uma relação apaixonada entre os dois sexos, é invariavelmente o caso de uma alma-
imagem projetada. Uma vez que essas relações são muito comuns, a alma deve ser
inconsciente com a mesma frequência, ou seja, um grande número de pessoas deve estar
bastante inconsciente da forma como se relacionam com seus processos psíquicos internos. E
como essa inconsciência sempre vem junto com uma identificação completa com a persona,
essa identificação deve ser também bastante frequente (…) Por outro lado, pode também
acontecer de a alma-imagem não ser projetada, mas ficar com o sujeito, e disso resulta uma
identificação com a alma porque o sujeito está neste caso convencido de que a forma pela qual
se relaciona com seus processos internos é seu verdadeiro caráter. Neste caso, a persona,
estando inconsciente, será projetada numa pessoa do mesmo sexo, fornecendo assim a base
para muitos casos de homossexualidade aberta ou latente e de transferências para o pai nos
homens ou para a mãe nas mulheres. Nesses casos, sempre há uma adaptação imperfeita à
realidade externa e uma incapacidade de se relacionar, porque a identificação com a alma
produz uma atitude predominantemente orientada para a percepção dos processos internos e o
objeto é desprovido de seu poder de determinação (OC 6 § 471-472)

Robert Hopcke (1993) afirma que foi nesta base que Jung compreenderia muitos
casos de pacientes homossexuais. Isto é, a origem estaria na identificação com o arquétipo
contra-sexual de anima ou animus ("alma" ou “alma-imagem" na definição inicial acima) e
a consequente projeção da persona. Em outras palavras, a identificação do homem com
sua feminilidade inconsciente levam-o à projeção de sua persona e consequentemente o
fará enxergar a masculinidade no externo, ou seja, em outro homem. Isto é, segundo Jung,
o que cria a atração pelo mesmo sexo, pois o homem que projeta sua masculinidade
perceberá o outro (o outro homem que receberá a projeção) como possuidor de algo
essencial e irresistível.

Interessante notar que, para Jung, tanto a atração homossexual como a paixão
heterossexual seriam consequências dos mesmos mecanismos psicológicos: a identificação
e a projeção. A diferença é que no homossexual a persona é projetada por causa da
24

identificação com a anima/animus e na heterossexualidade anima/animus é projetada por


causa da identificação da persona.

Arquétipo Andrógino

Outra possibilidade, encontramos ao buscar as origens no arquétipo do andrógino.


Singer (1991) traz de volta esse protótipo e propõe ser uma via de um processo interior.
Ela diz que através dele, abre a possibilidade de uma fusão dos sexos em busca de
plenitude. No nível pessoal corresponde a uma maneira de juntar os aspectos masculinos e
femininos em um único ser e no coletivo é o mais fiel arquétipo norteador do ser humano.

Em um sentido mais amplo, segundo Singer (1991), podemos entender esse


arquétipo como possibilidade de mudança intrapsíquica individual e não apenas relegá-lo à
mera relação interpessoal. Trata-se de uma interação consciente entre aspectos femininos e
masculinos na psique individual, do “Um que contém Dois” e de um arquétipo inerente a
psique humana, ao qual Jung descreveu prover do arquétipo do Absoluto.

O Absoluto está além da possibilidade da experiência humana, mas aparece em nós


como um senso da unidade cósmica primordial. Ou seja: "a unicidade ou inteireza da
androginia antecede qualquer separação". (SINGER, 1991, p. 27)

Ela diz que esse arquétipo foi quase totalmente expungido da tradição judaico-
cristã, pois ele ameaçava a ideia da imagem patriarcal de Deus, que sempre foi a “pedra
fundamental” da civilização, onde a dominação masculina e as principais instituições
sempre funcionaram de acordo com os princípios masculinos.

Os movimentos feministas tiveram sua grande importância, mas polarizou ainda


mais as imagem de homem e mulher, ou seja, da “masculinidade” e “feminilidade”. Singer
(1991) diz que deveríamos enxergar esse princípio além da disputa pela dominação ou da
polarização de uma consciência masculina ou feminina, pois ali reside segredos de algo
que consciência humana precisa desenvolver.

Intrigada diante de questões feitas no passado, Singer (1991) nos faz pensar e
divagar sobre essas diversas indagações: "De onde surgiram nossas concepções de uma
personalidade masculina ideal e de uma personalidade feminina ideal? As mulheres
possuem aquilo que se chamou de qualidades masculinas da consciência? E os homens as
qualidades ditas femininas? O que pode potencialmente acontecer se reconhecermos esses
25

elementos aparentemente divergentes em uma única personalidade? Será que uma nova
alquimia poder consumar uma união ou reunião dos elementos contrários, em uma
conjunção capaz de gerar uma nova imagem norteadora para a humanidade? Qual seria a
natureza de uma imagem que abarcasse o par de contrários masculino/feminino na
consciência humana?”.

Singer (1991) afirma que não descobriremos a imagem do andrógino voltando-nos


para fora, mas sim dentro de nós mesmos. A androginia é um corpo sutil e imaterial,
imerso no domínio do inconsciente coletivo, partilhado por todos os seres humanos. Este
arquétipo que repousa no inconsciente coletivo, e que contém a possibilidade de revelar
seus tesouros lentamente, raramente emerge no plano cognitivo ou perceptivo, pois
geralmente é reprimido.

A androginia é um estado de consciência muito distante do comum e pode ameaçar


o equilíbrio de muitos. Outro motivo é que a androginia contraria diversos pressupostos
acerca de nossa identidade enquanto homem ou mulher e, portanto, ameaça a nossa
segurança. Isso amedronta as atitudes convencionais diante do sexo e frente ao gênero.

Outro momento em que o ser Andrógino surge é no livro "O banquete”. Platão
(1966) apresenta uma série de discursos sobre as qualidades e natureza do amor. Dentre
diversos discursos, encontramos o “Mito do Andrógino”.

No discurso de Aristófanes começa afirmando que os homens definitivamente


ainda não perceberam o poder do amor, mas que se houvessem percebido, deveriam lhe
preparar os maiores altares, templos e sacrifícios. Declara: “É ele, com efeito, o deus mais
amigo do homem, protetor e médico desses males, de cuja cura dependeria sem dúvida a
maior felicidade para o gênero humano”.

Em seguida, Aristófanes descreve que, no início, a raça dos homens era diferente e
não como hoje. Não havia apenas os dois gêneros, homem e mulher, mas sim três. Esses
seres, que eram duplos de si mesmos, se dividiam da seguinte forma: o
masculino/masculino (homens), o feminino/feminino (mulheres) e o masculino/feminino
(andrógino). A criatura andrógina era muito poderosa, pois era a mistura das duas forças:
do homem (Sol) e da mulher (Terra). Possuía uma potência extraordinária e por sua
presunção e ambição queriam destronar Zeus, porém Zeus decide castigá-los e, para não
matá-los, divide-os exatamente ao meio, tornando-os mais fracos e menos orgulhosos.
26

Desde que a natureza humana foi mutilada em duas, cada parte só ansiava por unir-
se a sua própria metade. No ardor de se fundirem, morriam de fome e de inércia, por nada
quererem fazer longe um do outro. Então Zeus, sensibilizado, resolve intervir. Conforme
Aristófanes segue:

Tomado de compaixão, Zeus consegue outro expediente, e lhes muda o sexo para frente - pois até
então eles o tinham para fora, e geravam e reproduziam não um no outro, mas na terra, como as
cigarras; pondo assim o sexo na frente deles fez com que através dele se processasse a geração um
no outro, o macho na fêmea, pelo seguinte, para que no enlace, se fosse um homem a encontrar
uma mulher, que ao mesmo tempo gerassem e se fosse constituindo a raça, mas se fosse um
homem com um homem, que pelo menos houvesse saciedade em seu convívio e pudessem
repousar, voltar ao trabalho e ocupar-se do resto da vida. E então de há tanto tempo que o amor de
um pelo outro está implantado nos homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa
de fazer um só de dois e de curar a natureza humana. Cada um de nós, portanto, é uma téssera
complementar de um homem, porque cortado como os linguados, de um só em dois; e procura
então cada um o seu próprio complemento. Por conseguinte, todos os homens que são um corte do
tipo comum, o que então se chamava andrógino, gostam de mulheres, e a maioria dos adultérios
provém deste tipo, assim como também todas as mulheres que gostam de homens e são adúlteras,
é deste tipo que provêm. Todas as mulheres que são o corte de uma mulher não dirige muito sua
atenção aos homens, mas antes estão voltadas para as mulheres e as amiguinhas provêm deste tipo.
E todos os que são corte de um macho perseguem o macho, e enquanto são crianças, como
cortículos do macho, gostam dos homens e se comprazem em deitar-se com os homens e a eles se
enlaçar, e são estes os melhores meninos e adolescentes, os de natural mais corajoso. Dizem
alguns, é verdade, que eles são despudorados, mas estão mentindo; pois não é por despudor que
fazem isso, mas por audácia, coragem e masculinidade, porque acolhem o que lhes é semelhante.
(PLATÃO, 1972, p.28-30)

Assim Aristófanes esclarece que aqueles que sofreram um “corte do andrógino” são
homens ou mulheres e procurarão sua metade em seu contrário, explicando assim o amor
heterossexual; mas aqueles que foram do “corte da mulher” ou “corte do homem”,
buscarão unir-se a seu semelhante e isso explicaria o amor homossexual.

Ele ainda complementa que quando estas metades se encontram, sentem as mais
extraordinárias sensações de intimidade, amor e amizade, não mais querendo se separar um
do outro, podendo passar a vida inconscientes do que os une. Platão (1972) finaliza “[...]
que é que quereis, ó homens, ter um do outro? [...] Porventura é isso que desejais, ficardes
no mesmo lugar o mais possível um para o outro, de modo que nem de noite nem de dia
vos separeis um do outro?”. Descobrir o que se quer um do outro é o grande enigma.

O Arquétipo do Duplo

Walker (1994) conceitua “o duplo”, uma figura arquetípica, de significado erótico e


espiritual e que pertencente ao mesmo sexo do indivíduo, mas que não é a sombra. Ele é a
27

alma gêmea, que se assemelha pela intimidade, amizade e carinho; é o espírito que encarna
o amor entre os seres humanos do mesmo sexo.

Como figura da alma, ele carrega uma forte tendência à homoafetividade, mas pode
ou não abranger o instinto sexual. Ele é também o responsável por fundir o destino de duas
pessoas em um só e serve como um agente mobilizador no indivíduo.

Os mecanismos e processos do duplo são iguais e complementares aos de


anima/animus, inclusive na aplicação das projeções. Juntos formam o todo da natureza
andrógina e ambos podem fazer parte da função transcendente.

No plano psíquico são “guias da alma” e parte integrante do processo de


individuação. Na mitologia e literatura aparecem como pares de heróis, geralmente
carregando uma aura de beleza, juventude e perfeição. Como Walker (1994) o descreve:

O duplo é um amigo espiritual de intenso calor e proximidade. O amor entre homens e entre
mulheres, enquanto experiência psíquica, está muitas vezes enraizado na projeção do duplo,
assim como anima/animus é projetada na forma de amor entre sexos diferentes. E como na
anima/animus, esse tipo de amor pode ocorrer dentro ou fora da busca heróica. Além disso, já
que duplo é uma figura da alma, o instinto sexual pode estar envolvido ou não. Isto é, o tema
do duplo pode incluir uma tendência para homossexualidade, mas ele não é necessariamente
um arquétipo homossexual. Em vez disso, o duplo corporifica o espírito do amor entre aqueles
do mesmo sexo. E o espírito do amor no duplo é o que eu vejo como o terreno de apoio do ego
(1976, p. 169, apud HOPCKE 1993, p.127-128)

Com relação ao lado sombrio do arquétipo do duplo, Walker (1994) diz que se esse
"companheiro espiritual" não é reconhecido, ele é repelido ao inconsciente e agregado à
sombra. Ocorreria algo semelhante a um homem que reprima sua feminilidade e fique tomado
por uma “anima negativa”. Ou seja, quando altamente inconsciente, ela assume sua função
destrutiva e sombria. No caso do homossexual, se o duplo é renegado, seguiria dinâmica
semelhante. Nessa situação, em que se mistura com a sombra, o companheiro reverte-se em
um inimigo, assim perde suas qualidades de guia para autorreflexão e torna-se um competidor
que ameaça um “outro pecaminoso”. Walker (1994) levanta que essa seria a raiz da
homofobia.
A percepção consciente do duplo e a possibilidade da existência de um “outro”, que
duplica a existência do sujeito, desdobrando o “eu” em mais de um, é que expande nossa
visão sobre a contraparte sexual na homossexualidade e enriquece a possibilidade de
entendermos as verdadeiras fontes de projeções nas relações homoafetivas.
28

CONCLUSÃO

Partindo do pressuposto que o papel social molda um indivíduo conforme atributos


da cultura vigente, acredito que a possível resposta sobre a teoria da contra-sexualidade nas
relações homoafetivas, resida na possibilidade de olhar a questão de anima/animus como
forças arquetípicas, acessíveis igualmente a todos os seres humanos, homens e mulheres,
independente do gênero.

Essas forças, femininas e masculinas, vistas de forma mais fluída, como dualidades
psíquicas, estariam em maior ou menor grau de desenvolvimento dentro da personalidade
de cada indivíduo, desassociado da questão de gênero ou orientação sexual. Assim sendo, a
busca externa de sua contraparte, seria vista como uma jornada ímpar e individual, onde
cada qual, inconscientemente, buscará a parte que lhe falta. Essa seria a maneira de
encontrarmos nossa verdade e estarmos no caminho daquilo que nos tornará inteiros, assim
como o propõe o arquétipo do ser andrógino.

Segundo Stein (2006), Jung afirma que anima/animus é moldado mais pelo
arquétipo do que pelo consenso coletivo do tempo. Assim, a visão proposta, não é
exatamente contrária à teoria de Jung, mas simplesmente aconteceria desprendido do papel
sexual, gênero, identidade de gênero, uma vez que os mesmos mecanismos de projeção e
de busca de integração seriam mantidos.

Neumann (1995) afirma que a natureza do homem é a bissexualidade física e


psíquica, mas os moldes socioculturais, os mesmos que nos constroem, não nos permitem
vivenciar a realidade interna de nosso ser, sendo então sacrificada nossa totalidade.

Enquanto a disposição natural de todo indivíduo o inclina a uma bissexualidade física e


psíquica, o desenvolvimento diferencial da nossa cultura força-o a deslocar o elemento contra-
sexual para o inconsciente. Como resultado, a consciência só aceita o tipo de caráter que a
valoração coletiva considera correspondente às características sexuais externas. Assim é que as
características “femininas” e “relativas à alma” são consideradas indesejáveis num garoto, pelo
menos na nossa cultura. Tal acentuação unilateral da sexualidade específica de cada pessoa
termina por constelar o elemento contra-sexual no inconsciente, na forma da anima, nos
homens, e do animus, nas mulheres; a anima e o animus, sendo figuras parciais que
permanecem inconscientes, dominam a relação do inconsciente com a consciência. Esse
processo é apoiado pelo coletivo e, como a repressão do lado contra-sexual é frequentemente
difícil, a diferenciação sexual é de início acompanhadas pelos modos típicos de antipatia com
relação ao sexo oposto. Também esse desenvolvimento obedece ao princípio geral da
diferenciação, que pressupõe o sacrifício da totalidade, aqui representada pela figura do
hermafrodita. (NEUMANN, 1995, p.386)

Hopcke (1993), afirma que Whitmont, em seu artigo “Reavaliando a feminilidade


e a masculinidade”, vê demasiada rigidez com as delimitações da masculinidade ao
29

homem e da feminilidade à mulher; e entende essas definições como algo ilusório no ponto
de vista psicológico:

A alma não segue esses contornos tão rígidos. Se, como ele supõe, se reconhecer que a
masculinidade e feminilidade podem ser encontradas tanto no homem como na mulher, então
‘parece ser inevitável e não confirmado pela experiência psicológica contemporânea de nossa
cultura esse confinamento dos conceitos de anima/animus a um só sexo’ (WHITMONT,
Anima 7, no.2:138, apud HOPCKE, p.129)

Já McKenzie (2006), sobre o papel sexual atrelado ao gênero, faz uma severa crítica à
teoria de animus/anima de Jung e defende que:
Gênero e identidade do gênero são muito mais complexos e fluidos, tanto em casais do mesmo
sexo quanto em casais de sexo oposto, do que qualquer modelo de união de opostos poderia
começar a descrever. A aparência relativa a um gênero nem sempre prevê o papel sexual sendo
interpretado entre os parceiros (McKENZIE, 2006, p. 409).

Stein (2006) também dá uma dica de que pode ser feita uma leitura de anima/animus
sem incluir qualquer menção de gênero. Isso me abriu a pensar que, dentro dessa realidade
arquetípica, o sexual pode ser visto de forma secundária, fazendo mais sentido pensá-la como
consequência e não como causa. Ele fala que podemos avaliar algo primeiro por sua
substância, pois "a essência de um objeto não é determinada por sua cor”.
Estamos falando de forças arquetípicas, que Jung descreve dotadas de energia e
iniciativa própria, fornecedoras de imagens simbólicas, que interferem nas situações com seus
impulsos e pensamentos intrínsecos. Então, me pergunto: será que essa força, acessível
igualmente a todos os seres humanos, poderia discriminar ou categorizar homens e mulheres?
Creio que anima/animus sejam instrumentos pelos quais todos deveriam penetrar nas
partes mais profundas de sua natureza psicológica e elevar a consciência. Em teoria, tem a
função de complementar a persona e vincular o ego à camada mais profunda da psique, ou
seja, à imagem e experiência do Si-mesmo; e devem funcionar como uma conexão, levando às
imagens do inconsciente coletivo, da mesma forma que a persona é um elo para o mundo.
Mas, para isso, precisamos de certo autoconhecimento, de um trabalho interior de
profundidade, de olhar para os porões recalcados de nossa parte sombria e absorver, aos
poucos, tudo aquilo que deixamos para trás, em prol de uma adaptação ao mundo exterior. É
parte do amadurecimento individual escolher seu caminho, ou então ficaremos sempre presos
na superfície da representação dos papéis sociais, identificados com a persona.
Jung dizia que no encontro do ego com anima/animus reside um rico potencial de
desenvolvimento psicológico, pois essa é a grande ponte para o Si-mesmo. Da união dos
opostos interiores, nasce o símbolo do Self.
30

O amor, como lembra Aristófanes, é um presente dos deuses. É nessa relação que
se viabiliza o desenvolvimento da consciência. Esse processo não é algo que conquistamos
em isolamento, mas sim que aprendemos na relação com o outro e as consequentes
projeções. Conhecemos o "eu" com outro, que representa o “não eu” ou o “ainda não eu”.

Entendo, ao estudar Jung, que tudo serve um propósito de desenvolvimento da


psique. Seja como for, tudo aquilo que projetamos, em algum momento, tem o desígnio de
ser experienciado, reconhecido, absorvido e integrado ao nosso consciente.

Quando Sócrates discursa sobre o amor, em O banquete, ele explica que só


podemos desejar quando acreditamos que algo nos falta. Ninguém deseja o que já possui
ou o que não precisa mais, mas elege como objeto do amor aquilo que não se tem. Em
Platão (1966), ele diz: “O que deseja, deseja aquilo de que é carente, sem o que não deseja,
se não for carente”. Diante dessas palavras, refleti que se o amor, na forma de desejo,
nasce dessa “falta”, ou seja, dessa parte de nós que ainda não foi compreendida, seremos
naturalmente atraídos para vivencia-la, através dos relacionamentos, gerando aprendizado
no espelho que é o outro.

Em termos de desenvolvimento psicológico, se o “objeto de nosso amor e desejo” é


compensatório de uma ausência, o fato desse “não eu” ser projetado em “um outro” do
sexo oposto (heterossexual), do mesmo sexo (homossexual), ou ambos (bissexual), não
deveria importar. Ao contrário, agir respeitando sua singularidade, é o que importa, por ser
um ato de coragem daquele que busca a realização de sua personalidade total.

Na visão de Jung, anima/animus é o destino. Somos guiados para nossos destinos


pelas imagens de poderes arquetípicas situadas muito além de nossa vontade consciente.
As projeções de anima/animus não são como a projeção de sombra que tem um fim
defensivo, são projeções com a finalidade de desenvolvimento, integração e a revelação do
Si-mesmo. Isso que dizer que os relacionamentos amorosos são parte do caminho de
reconhecimento de nossas próprias almas e o que coloca-nos na trilha para sermos inteiros,
mesmo que, inicialmente, nos apaixonamos buscando partes perdidas de nós mesmos.
Além disso, pela teoria de Jung, a relação amorosa é elemento fundante da individuação.
Jung (OC 8/2) diz: “[...] a meta para atingir a unidade psíquica é por meio da reconciliação
de opostos e, consequentemente, o atingimento da individualidade, a função de tudo que
existe, potencialmente, na psique e, portanto, o significado da existência humana”.
31

O objetivo da vida é a individuação, que significa concretizar o mais pleno


potencial da personalidade de cada um. Um processo que engloba todos os aspectos da
vida: espiritual, social e biológico. Ou nas palavras de Jung:

A individuação é um processo natural, que surge de um desabrochar interior, um


desenvolvimento autodirigido, e não imposto artificialmente de fora. É uma função que temos
em comum com todas as coisas vivas. É uma expressão do processo biológico, através do qual
todas as coisas vivas tornam-se aquilo que, desde o princípio, foram destinadas a ser. (JUNG,
OC 8/2 § 192 -193-194)

Se olharmos a homoafetividade como um fenômeno natural, existente em toda


história da humanidade, por que o indivíduo homossexual seria prejudicado ou deixado de
fora dessa possibilidade pela existência? Por que as relações homoafetivas, diante de
vínculos saudáveis com o outro, não trariam as mesmas chances de integração que um
casal heterossexual?

Realmente acredito que o destino sempre aponta para a maior realização da


personalidade, pois esse é o grande propósito da vida. Integrar a sexualidade, qualquer que
seja sua forma e formato, é parte indispensável deste caminho.

A alternativa lastimável seria sucumbir à expressão verdadeira, assim como Daphne


Du Maurier o fez, vivendo sua “parte masculina” confinada como um “boy in the box”.
Mais tarde em sua vida, ela poeticamente descreveria:

“[...] então o garoto necessitou crescer e não poderia mais ser um menino. Ele precisou
transformar-se em uma menina e ficou aprisionado em uma caixa. Daphne Du Maurier
escreveu seus livros, namorou, casou, teve filhos e amantes. A vida era por vezes
maravilhosa e por vezes triste, mas somente quando ela achou Menabilly5 e lá viveu
sozinha, ocasionalmente ela abria essa caixa, permitindo que um fantasma, que não era
homem nem mulher, mas sim um espírito sem forma, dançasse na escuridão da noite,
onde não havia ninguém para notar” (DAPHNE, 2007, tradução nossa).

Que nossa expressão mais verdadeira jamais seja trancada em uma caixa para
sempre, senão seremos apenas fantasmas, perambulando na escuridão de uma vida cega e
sem propósito. Que o pensamento contemporâneo nos possibilite maior consciência e que
tenhamos uma visão mais aberta e humana. Podemos sim especular, mas a verdade é que
ninguém ainda foi capaz de compreender os mistérios das paixões. Esse talvez seja um dos
muitos enigmas da existência, onde tudo cumpre um designo e como Jung nos faz refletir
“[...] todas as coisas vivas tornam-se aquilo que, desde o principio, foram destinadas a ser”
(JUNG apud CLARKE, 1993, p. 205).

5
nome da casa de campo onde Daphne Du Maurier morou
32

REFERÊNCIAS

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