Você está na página 1de 3

Sobre Parafilias e Perversões

Hoje em dia os psicólogos, cada vez mais, têm tido de lidar com questões relacionadas
à sexualidade e apesar de nossas crenças de sabermos o que é certo ou errado, aqui
todas as fronteiras se tornam sutis. Assim, torna-se importante a compreensão sobre
os transtornos de preferência sexual envolvidos.

Os autores e os manuais de classificação médica divergem em alguns tópicos na


caracterização diagnóstica desses transtornos.

Em linhas gerais, podemos dizer que as parafilias ou transtornos de preferência sexual


são distúrbios diretamente relacionados à “escolha” do objeto sexual. O termo
escolha está em aspas porque até hoje, apesar de toda contribuição da psicanálise e da
biologia, não podemos dizer que a definição de um objeto sexual é totalmente
inconsciente, determinada socialmente, ou tem sua abordagem biológica. O que
podemos e devemos afirmar é que esta “escolha” é involuntária.

Na definição do objeto sexual, a pessoa acaba fixando-se ou num determinado


comportamento ou fantasia relacionado com qualquer outra coisa que não um outro
ser humano adulto – ou adulto jovem -, inteiro e voluntariamente disponível para o
ato sexual.

Difícil, não? Não muito, se pensarmos que fantasias sexuais todos temos, mas
elas ocupam uma pequena parte de nossas atividades sexuais, e nos preparam para o
ato sexual em si.

Nas parafilias, o ato sexual em si perde a importância tanto para o objeto, quanto para
a fantasia.

Segundo autores americanos, só a fantasia duradoura (mais de seis meses) basta para
o diagnóstico, não sendo necessário o comportamento – a ação propriamente dita. Só
fantasiar de vez em quando, ou usar recursos fantasiosos com a finalidade de
incrementar uma relação sexual, não faz de ninguém um parafílico.

Esta característica deve também causar sofrimento psíquico ao indivíduo, para que
possamos chamá-lo de parafílico. Um dado importante, mas que se deve tomar
cuidado com interpretações feministas, é que a quase totalidade das parafilias se dá
em homens, muitas vezes heterossexuais.
Tão longa é a lista das possíveis parafilias, quanto à imaginação humana. Aqui, busca-
se caracterizar os comportamentos ou fantasias duradouras:

Fetichismo: Uso, ou fantasias de uso, de objetos inanimados com a finalidade de


estímulo para a realização sexual; muitas vezes os objetos são extensões do corpo
humano, como por exemplo, meias ou luvas.

Exibicionismo: Exposição da genitália a estranhos, com o intuito de chocar.


Geralmente é um homem heterossexual, muitas vezes casado e com uma vida sexual
ativa.

Pedofilia: Preferência sexual por crianças pré-puberes ou no início da puberdade.


Alguns autores estabelecem uma idade máxima de treze anos para a caracterização de
pedofilia. O interesse pode ser por meninas, meninos, ou ambos. Se o comportamento
é estabelecido por outra criança, ou um adolescente, deve-se tomar muito cuidado
para estabelecer esse diagnóstico, pois pode se tratar de um acontecimento isolado.
Às vezes esse quadro também pode ser caracterizado como incestuoso.

Sadomasoquismo: Alguns autores dividem em quadros separados, sadismo e


masoquismo, outros não. Envolve submissão e/ou inflição de dor, humilhação ou
sofrimento. O sufocamento como forma de aumentar o prazer pode ser incluído como
um comportamento sadomasoquista.

Travestismo Fetichista: Uso de roupas do sexo oposto para obtenção de prazer sexual.
Geralmente é um homem heterossexual, que após a masturbação ou ato sexual,
desvencilha-se das roupas. Não deve ser confundido com o que popularmente
chamamos de travesti, que é um homossexual que se veste de mulher com o intuito de
atrair outros homens. Nem deve ser confundido, também, com transexual.

Voyeurismo: Ato de observar, sem a anuência ou consentimento, uma pessoa despir-


se, ou em atividade sexual. Geralmente é acompanhada de masturbação. Atitudes
esparsas de voyeurismo na adolescência é comum e não deve ser considerado
anormal. O uso de filmes ou revistas pornográficas para a excitação sexual, também
não deve ser considerado patológico ou voyeur, tendo em vista que são
confeccionados para esta finalidade.

Além destas, muitas outras são possíveis, mas com menor freqüência:
Zoofilia: atração por animais,
Necrofilia: atração por cadáveres,
Frotteurismo: tocar ou esfregar-se em uma pessoa sem o seu consentimento, e outras.

Muitas vezes, as alterações de preferência se associam, transformando-se em


múltiplas. Por exemplo, um sadomasoquismo com fetichismo, uma pedofilia com
voyeurismo, etc..

Os parafílicos sofrem não só psiquicamente, mas também socialmente, pois em nossa


sociedade, estes comportamentos são de difícil aceitação.

Tratamentos existem, mas ainda têm efeitos parciais e dependendo do tipo de


parafilia, quase nenhum.

Em alguns países os parafílicos tentam se associar em grupos, tentando legalizar-se


como minorias, a exemplo do que aconteceu com os homossexuais – considerados
como doentes durante décadas.

Outro fenômeno interessante é o uso da internet como veículo de fantasias parafílicas,


ou como canal de comunicação para encontros, ou como troca de informações.

A veiculação de fotos ou filmes, via internet, envolvendo crianças e, portanto se


referindo a pedofilia, é alvo de críticas e sensura em vários países.

De qualquer forma, o parafílico ainda é considerado um doente, que merece


tratamento médico, desde que busque ajuda para o seu sofrimento.

Fonte:

http://www.redepsi.com.br/2004/02/06/revista-psyu-n-6-coluna-profiss-o-novembro-2000/

Você também pode gostar