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Resumo: É fato que adolescentes têm sido bombardeados com estímulos sexuais pela mídia,
e os pais muitas vezes falham em dar orientações morais. Por isso, não é surpresa alguma que
os adolescentes não estejam bem informados sobre a moralidade da masturbação. Muitos já se
envolvem e se tornam viciados na prática antes mesmo de se conscientizarem plenamente que
ela é moralmente errada, segundo a moral cristã católica. Ao mesmo tempo eles se sentem
incapazes de controlar um hábito já existente, e em sua vergonha e culpa, escondem-se e
fogem ao invés de discutir o assunto com conselheiros. Incertos sobre si mesmos, confusos
acerca dos valores propostos pela cultura, e algumas vezes pela própria família, esses jovens
facilmente se refugiam no mundo da fantasia do prazer sexual. Muitas vezes temerosos de
relacionamentos reais com pessoas do outro sexo, eles mergulham no mundo da fantasia da
masturbação. Eles precisam de orientação, mas não a receberão enquanto não forem
informados sobre a moralidade da masturbação, e sobre os fatores psicológicos que muitas
vezes os impedem de exercer o livre-arbítrio. A partir de uma visão antropológica, fisiológica,
psicológica e moral este artigo pretende apresentar algumas orientações de ordem pastoral, de
modo a ajudar os adolescentes e jovens de hoje a lidar com a masturbação.
Abstract: It is a fact that teenagers have been bombarded with sexual stimuli by the media,
and parents often fail to give moral guidance. So it's no surprise that teenagers are not well
informed about the morality of masturbation. Many have become involved and become
addicted to the practice even before being fully conscientized that it is morally wrong,
according to the moral teaching of the Catholic Church. At the same time they feel unable to
control an existing habit, and, because of their shame and guilt they hide and run away from
discussing it with advisers. Unsure of themselves, confused about the values proposed by the
culture, and sometimes by their own family, these young people easily take refuge in the
fantasy world of sexual pleasure. Often fearful of real relationships with persons of the other
sex, they delve into the world of fantasy of masturbation. They need guidance, but will not
receive it until they are informed about the morality of masturbation, and psychological
factors that often prevent them from exercising free will. Starting from the anthropological,
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Acadêmico do curso de Teologia da Faculdade Palotina, FAPAS, Santa Maria, RS. E-mail: gildnh@gmail.com.
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Doutor em Teologia Moral pela Academia Afonsiana de Roma. Professor do curso de Teologia da Faculdade
Palotina, FAPAS, Santa Maria, RS. E-mail: celmoro@uol.com.br
Considerações iniciais
Não é tão fácil dar uma noção exata da masturbação. Este fenômeno é conhecido por
vários nomes. Bernard Haering diz que a masturbação aplicava-se inicialmente ao ser humano
do sexo masculino, provavelmente de “mas” (macho) e “turbare” (perturbar); mas é possivel
também que provenha de “manus” (mão), com o sentido de manipulação, portanto, o uso da
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mão (1982, p. 540). Certamente, todos sabem do que se trata e, no entanto todas as definições
já propostas foram julgadas insatisfatórias. Porém, a insatisfação das várias propostas não nos
impede de apresentar uma proposta como definição da masturbação. Durand nos propõe
como ponto de partida a seguinte definição: “a masturbação é a auto-estimulação dos órgãos
sexuais tendo por fim a satisfação sexual orgásmica” (1989, p. 183). Neste caso, se a
masturbação é mais frequente sob o efeito da manipulação dos órgãos genitais, ela pode ser
também produzida pela estimulação de qualquer zona erogênea, como por exemplo os seios,
no caso da mulher. Algumas pessoas podem até atingir o orgasmo recorrendo apenas a
fantasias eróticas.
A masturbação é uma alteração humana que afeta todo o ser do homem. Ela tem um
significado dentro da estrutura integral do ser humano. É justamente este significado que dará
origem a uma determinada avaliação moral da mesma.
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masturbação corresponde a uma etapa evolutiva da sexualidade. A tendência masturbatória
constitui uma etapa normal, isto é, normativa e necessária, da evolução psicossexual na
adolescência. Essa tendência masturbatória inscreve-se como uma etapa passageira, num
processo de maturação psicossexual, que vai desde a sexualidade infantil difusa e quase
inconsciente até uma fase heterossexual, na qual a genitalidade é colocada a serviço do
encontro com o outro. Esta fase corresponde à descoberta da genitalidade: constitui o
resultado de uma evolução antes da passagem à fase adulta. Neste caso, o adolescente,
quando se defronta com fenômenos psíquicos e biológicos da sua natureza sexual, descobre
um mundo inédito e fascinante, apesar do negativismo que possa ter sofrido sua educação.
Despertada em épocas bem anteriores, sua curiosidade defronta-se aqui com um convite
supremo advindo da transformação em seu corpo, e um dia, mesmo sem entender, as
circunstâncias farão com que ele tropece no prazer oculto e misterioso. “É uma sensação
bastante prazerosa, que por vezes o adolescente tende a repetí-la em outras ocasiões”
(DURAND, 1989, p. 185).
Apesar desse aspecto relativamente positivo a respeito da masturbação, não podemos
entendê-la apenas como fenômeno objetivo, é necessário perceber toda historia afetiva e
sexual da pessoa (MOSER, 2001, p. 188).
Pode se dizer, contrariando um preconceito ainda muito espalhado e tenaz, que a
masturbação não oferece nenhum perigo à saúde física, salvo casos extremos de frequência
exagerada. De fato, segundo alguns médicos, a masturbação só é prejudicial quando muito
frequente e quando se converte num hábito obsessivo, e isto não é só pelo desgaste orgânico
que pressupõe e pelo sentimento de culpabilidade de que se fala, como também pela fixação
numa atividade sexual anormal, dado que o auto-erotismo deturpa a finalidade primordial da
atividade sexual, que é a união com outra pessoa, e deixa um vazio depois de sua prática
(VIDAL, 1978, p. 331). Durand (1989, p. 189) afirma que o “sentimento de culpabilidade,
não religioso, mas psicológico, é inevitável porque a masturbação vai em direção totalmente
oposta à do amadurecimento humano, a saber, a orientação para o outro”. A experiência da
culpabilidade resulta, então, da masturbação em si, e não de tabus religiosos ou sociais.
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Segundo Durand (1989, p. 186), podem-se atribuir várias causas à masturbação do
adolescente e à masturbação em geral. A primeira é a ignorância em matéria sexual: a viva
curiosidade dos adolescentes nesse domínio é exacerbada pelas informações incompletas e
pela busca febril do conhecimento. A segunda causa, conforme ressaltam Origilia e Quillon
(1971, p. 115-125) no livro L’adolescent, seria constituída pelas múltiplas solicitações da
sociedade moderna. A permissividade que reina nos costumes, os “mass media”, constituem
uma estimulação constante. Enfim, deve-se ressaltar a intimidade com os colegas. Para além
desta causa, Durand (1989, p. 186) explica que “o que suscita a tensão sexual, por um lado,
são os pensamentos, sonhos, as leituras, as fantasias eróticas, os conflitos com o outro, os
fracassos, os desencorajamentos”. Segundo o mesmo autor, isso explica porque a
masturbação é mais frequente em períodos de fracasso, de aborrecimento, de tristeza. A causa
mais frequente, portanto, está na procura de uma compensação para as frustrações
experimentadas no plano afetivo, seja no âmbito familiar, escolar ou no meio social em geral.
As desilusões afetivas no ambiente familiar conduzem frequentemente à masturbação, tanto
no caso de rapazes, quanto de meninas. De maneira mais geral, a incompreensão dos adultos
faz o sujeito voltar a si mesmo. “O medo de enfrentar um jovem do outro sexo, apesar do
desejo de diálogo, também contribui para este fenômeno” (DURAND, 1989, p.186). Vejamos
algumas considerações de ordem biológica e psicológica que atuam nesse contexto.
Marciano Vidal (1979, p. 332) afirma que, induzidos pela elevada frequência
estatística da masturbação, principalmente na adolescência, muitos médicos consideram-na
como uma atividade normal. Do ponto de vista médico-biológico, pode-se admitir a
normalidade geral da masturbação. Com efeito, segundo Vidal (1979, p. 332) dentro de uma
consideração estritamente biológica, a masturbação surge no princípio da adolescência como
um fenômeno de caráter eletivo (provisório), e, à medida em que se aproxima da plena
maturidade sexual e a ela se chega, ela vai se tornando cada vez menos frequente, pois o/a
adolescente passa a substituí-la pelas relações afetivas com outras pessoas do sexo oposto.
Quando, porém, falta a capacidade de manter boas relações afetivas com outras pessoas,
passa-se a substituí-las pela masturbação.
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Na masturbação da puberdade, o caráter anormal aparece menos. O fenômeno
masturbatório pode ser considerado uma característica, embora não obrigatória, do longo
processo de evolução sexual. A biologia do adolescente, principalmente do adolescente
homem, adquire características tão determinadas que constituem o ponto de partida do
impulso para a masturbação. As glândulas do aparelho genital tendem a esvaziar suas
secreções; portanto, do ponto de vista estritamente biológico, a ejaculação, espontânea ou
provocada, representa uma exigência do organismo – contanto que não ultrapasse
determinados limites (VIDAL, 1979, p. 332). Esta análise não faz com que se esqueça que a
masturbação pode ser nociva, principalmente quando for exagerada.
A masturbação pode ser considerada uma ‘fuga para o imaginário’, uma fuga para o
mundo irreal; exprime uma inaptidão para as relações reais com os outros
(imaturidade afetiva): revela um medo do mundo real. Assim a masturbação pode
servir como um calmante ou consolo diante das tensões que o indivíduo enfrenta
(1989, p.188).
O medo pode ser provocado por uma educação austera e pelo consequente
sentimento de culpa. Alguns psicólogos afirmam que nas pessoas introvertidas nota-se maior
tendência à masturbação; em contrapartida, as pessoas extrovertidas encontram mais
facilmente a maneira de superar essa inclinação (VIDAL, 1979, p. 333). As causas são bem
mais de origem psicogênica, conforme descreve Vidal:
É necessário deste modo levar em conta essas diferentes causas que influem na
masturbação, pois elas darão configurações diversas. A avaliação moral e a educação não
podem prescindir destas variações particulares dentro da generalidade do fenômeno.
Os mecanismos psíquicos, mediante os quais se realiza o fenômeno da masturbação
em nível psicológico, devem também ser tomados em consideração para uma avaliação
adequada. Dentre tais mecanismos podem-se distinguir os seguintes: repressão, fixação,
regressão, progressão lenta. Aplicando estes conceitos gerais ao tema concreto da
masturbação, depara-se com diferentes configurações psicológicas. A masturbação pode ser
manifestada perante o fenômeno da repressão, pois certos conteúdos desagradáveis reprimidos
(ao esquecimento) voltam ao consciente, adotando diversas formas, sendo a masturbação
uma delas. O mecanismo da fixação ocorre quando um determinado ato acarreta um choque
para o psiquismo da pessoa e continua vivo. No fundo de muitos hábitos masturbatórios existe
um ato traumatizante, como por exemplo uma iniciação brutal realizada por um adulto numa
criança. Os mecanismos de regressão e progressão lenta podem explicar muitas formas de
masturbação (VIDAL, 1979, p. 334-335).
Em razão da frequência costuma-se distinguir a masturbação acidental da habitual.
A diferença não está principalmente no número de atos, mas na forma psicológica adotada.
Na masturbação acidental não há fixação num estado de crise autoerótica, e também não
existe problema em abandonar uma situação em que foram mais abundantes os atos
masturbatórios. A masturbação habitual, pelo contrário, instala-se de maneira habitual e
acontece uma ou mais vezes por semana, durante períodos que variam, conforme os sujeitos,
entre alguns meses e alguns anos. Nota-se então a presença de um fenômeno patológico da
masturbação depois da adolescência, daí que os fatores psíquicos tomam seu lugar no
comportamento masturbatório posterior à adolescência (VIDAL, 1979, p. 334-335).
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2 Avaliação moral
Esta foi considerada por alguns moralistas como a etapa do silêncio. Apesar dos
testemunhos da literatura greco-romana, não se encontra na Sagrada Escritura nenhuma
passagem em que se aluda ao vício da masturbação (VIDAL, 1979, p. 338). O Antigo
Testamento parece desconhecer esta prática. O único texto veterotestamentário que por vezes
se aponta como alusivo à masturbação é o do Gênesis (38,6-10), referente a Onã, mas esse
fato não parece dizer algo sobre a masturbação, mas à lei do levirato. O que Deus condena no
comportamento de Onã não é a masturbação, nem mesmo o coito interrompido, mas a recusa
de Onã em dar uma posteridade a Er, seu irmão falecido (DURAND, 1989, p. 191). Por isso,
o onamismo não pode designar, sem contra-senso, a masturbação. Durand afirma que a
masturbação não faz parte dos pecados que Iahweh condena em Israel, mesmo que a tradição
talmúdica1 se mostre bastante severa com respeito à masturbação, comparando-a ao
homicídio: “aquele que ejacula o sémen em vão assemelha-se àquele que derrama o sangue
(1989, p. 191).
No Novo Testamento se faz referência aos textos de São Paulo (1Cor 6, 9-10; Ef 5,3;
Gl 5,19-21) que falam da impureza, adultério, fornicação, libertinagem e idolatria, no sentido
mais generalizado, referindo-se às obras da carne. Mas nenhum destes textos fala
explicitamente da masturbação (HAERING, 1982, p. 541).
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Tradição Talmúdica: vem do hebraico ‘Talmud’, livro sagrado dos judeus, um registro das discussões rabínicas
que pertencem à lei, ética, costumes e história do judaismo.
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2.2 Período patrístico e Idade Média
Os padres da Igreja, nos primeiros séculos, quase não falam da masturbação. A. Plé
relata que, explorando os textos dos primeiros monges, encontrou um bom número de
passagens sobre os pecados da carne, sobretudo em imaginação, alguns sobre a polução
noturna, mas nada sobre a masturbação (DURAND, 1989, p. 192).
Durand (1989, p. 193-194) nos diz que a legislação de Órleans, por volta de 813,
condena a masturbação, à maneira de outros pecados de ordem sexual. Segundo a pesquisa
feita neste período, o primeiro texto verdadeiramente oficial remonta ao século XI. Trata-se
de uma carta do papa Leão IX a São Pedro Damião, em 1054, na qual o Papa exige que os
masturbadores sejam proibidos de ingressar no sacerdócio. Em contra-partida, a masturbação
é mencionada com bastante frequência nos penitenciais, os catálogos de penitências, a serem
impostas durante a confissão. O penitencial de São Columbano impõe ao masturbador leigo
dois anos de penitência, e três anos se for um clérigo ou monge. Faz-se a menção de um
penitencial irlandês, que apresenta alguns detalhes: prevê cem dias de penitência por uma
masturbação, mas sete anos se for habitual. Mas para os jovens de 12 a 20 anos, essas penas
podem ser reduzidas à metade. Na Alemanha havia menos severidade. O penitencial de
Reginon (+ 915) impõe 40 dias de penitência à criança que se masturba, 100 dias se for adulto
e quando se tratar de uma simples curiosidade, 20 dias se for um clérigo, 30 dias se for um
diácono ou padre. Porém, devemos notar que esses penitenciais não consideram as diversas
circunstâncias que levam à masturbação.
Durand (1989, p. 194-195) comenta que a Era Moderna foi uma época de
renascimento, marcada por rivalidades teológicas (rigorismo, probabilismo, laxismo).
Gerson (1363-1429) inaugura uma corrente de pensamento bastante severo; acha a fornicação
menos grave que a masturbação, e afirma ele que o pecado da masturbação provoca mais a
perda da virgindade de um menino do que se este tivesse frequentado as mulheres. Ao
contrário de Gerson, o cisterciense Jean Caramuel Lobkowick, segundo os comentários de
Durand (1989, p. 194-195) afirma que a masturbação, a sodomia e a bestialidade são pecados
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da mesma espécie leve e que basta só declarar na confissão que se buscou uma polução. Este
até afirma que a masturbação pode em alguns casos ser obrigatória, sob pena de pecado
mortal, se Deus não a tivesse proibido. Esta posição, porém, foi mais tarde condenada como
escandalosa. Neste âmbito, Moser afirma que, “os papas Alexandre VII (1665) e Inocêncio XI
(1679) condenaram, com veemência, as posições de Caramuel (1606 – 1682) o ‘príncipe dos
laxistas’ que justificavam a masturbação” (2001, p. 194).
Afonso de Ligório, por exemplo, não via diferença entre masturbação do adulto e a
do adolescente. Ele é mais severo na questão da masturbação. Para ele, a masturbação é um
pecado grave2. Nota-se então que este período do século XIX é marcado por uma obsessão
coletiva sobre o tema da masturbação (DURAND, 1989, p. 195).
No século XX, a evolução científica, com Freud e a Psicanálise, conseguiu penetrar
lentamente a reflexão dos moralistas. Embora a psicanálise permitisse uma melhor
compreensão da responsabilidade subjetiva dos indivíduos, os católicos permaneceram
irredutíveis à sua posição quanto à qualificação moral da masturbação. Os manuais clássicos
da moral católica ensinavam todos que a masturbação é um pecado grave em todas as
circunstâncias ( DURAND, 1989, p. 196). Essa severidade era justificada antes de mais nada
por diversas razões teológicas: a masturbação é um ato “contra a natureza”, isto é, contrário
ao fim da sexualidade, a procriação, e em consequência produz um prazer desordenado.
Depois, as razões psicológicas: desejava-se lutar contra esse mal aumentando a angústia;
segundo Ple (1966, p. 258-292) quanto mais estigmatizada a gravidade da masturbação, mais
ela seria evitada. E, por fim, razões sociológicas: acreditava- se que, se a masturbação fosse
proibida, apenas como falta leve, os fiéis se absteriam do casamento e das exigências da
procriação (DURAND,1989, p. 196). Uma outra questão ocasionada pela evolução científica
levou à seguinte resposta, em Agosto de 1929: é ilicita a masturbação diretamente buscada
para obter o ‘sémen’ para a realização de exames médicos; por exemplo, para verificar se o
marido é estéril ou para detecção de certas enfermidades venéreas. Um outro caso que foi
rapidamente condenado, em 1952, foi o livro de Marc Oraison. Este era médico, psiquiatra e
padre, que acabava de publicar sua tese de doutorado. Sua conclusão era a seguinte: “nós
somos tão sexualmente imaturos, nossa liberdade diante dos impulsos sexuais é tão reduzida,
2
Afonso de Ligório, Theologia Morallis, lib.3, trat. 4, caput 2, n. 415, 465,477. Esta questão da leveza da
materia no dominio sexual foi resolvida pela via autoritativa. Em 1612, o Pe. Geral da Companhia de Jesus
ordenou aos jesuítas a ensinar unicamente a tese da gravidade da matéria, e, muito rapidamente, esse
ensinamento se generalizou.
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que na prática, assim como na regra geral, devemos presumir que as desordens sexuais
(masturbação, homossexualidade, fornicação, adultério) são materialmente graves, mas que
aqueles que a cometem são subjetivamente culpados apenas de pecados veniais. Apesar da
condenação desse livro, as ideias de Oraison propagaram-se rapidamente, e aumentou
bastante a tomada de consciência dos psicólogos e pastores católicos (DURAND, 1989, p.
196-197).
O pecado grave para Haering existe quando a pessoa, jovem ou adulta, decide
provocar livre e voluntariamente a masturbação, porque sua decisão constitui uma opção
fundamental capaz de perverter o significado da sexualidade. Encontra-se também na
declaração Persona humana, citada por Durand (1989,p. 201), uma análise que ajuda a
entender as diversas circunstâncias que levam a masturbação, embora termine com uma
advertência contra um certo laxismo:
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ausência de responsabilidade grave não deve ser presumida; isso seria menosprezar a
capacidade moral das pessoas.
Hoje em dia, afirma Haering (1982, p. 541), o critério comum dos estudiosos da ética
e moral fora da Igreja Católica e de muitos teólogos moralistas da geração atual consiste em
encarar primeiramente a diversidade do fenômeno, e, somente a partir daí, tentar descobrir o
sentido moral, o perigo moral ou possivelmente o grau de malícia do pecado em cada
fenômeno individual.
3 Orientações pastorais
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É verdade e necessário que todos devem confiar na graça de Deus, mas não devem
ser tão irrealistas, a ponto de querer eliminar um “hábito” da masturbação num só dia. Tudo
acontece de uma forma gradual. Esta deve ser a tarefa dos pastores nas comunidades: não
condenar, culpar, traumatizar o jovem a este respeito, mas ajudá-lo a entender o significado da
sexualidade na sua vida; encorajar o jovem para que possa com tranquilidade superar os
medos que esta prática provoca. Haering afirma que somente um ensino moral caracterizado
por uma visão dinâmica e que saliente uma necessidade do crescimento e do amadurecimento
serão capazes de ajudar os jovens a superar estas dificuldades e a não desanimarem por
fracassos parciais (1982, p. 544). Se possivel, também é necessário orientar o/a jovem para
uma terapia, visto que o problema da masturbação tem várias causas que a pessoa não esteja
consciente. A orientação espiritual também é de grande importância, isto é, pedir a ajuda de
Deus, e fazer exercícios físicos pode ajudar neste processo de superação.
Aos jovens, que caem e recaem cotidianamente, é preciso encorajá-los,
principalmente, enfatizando que eles não são excluídos do amor de Deus; instruí-los que
podem comungar sem confessar-se antes, sem porém, tirar o fato de que eles precisam sempre
se esforçar em confessar o mais frequente possível, pois isso vai ajudá-los a tomar consciência
do valor da confissão, e cada vez mais lutar na superação dos seus problemas.
A respeito da confissão, comenta Azpitarte:
O Orientador cristão necessita encorajá-los para que não tenham uma mente
matemática, calculável, mas deverá antes interrogar a pessoa sobre seus progressos na oração
e na abertura para com os outros.
Deus não espera que o ser humano seja tão perfeito como Ele é, mas que busque
incessantemente, na sua condição e estado, a perfeição. Nesse prisma, não é a atitude
contábil favorável, mas a de libertação, não ficando assim preso ao passado, às experiências
negativas, mas com esperanças na edificação do futuro. Portanto, o imperativo moral,
segundo Haering, consiste “em aceitar pacientemente o que não pode ser curado, e,
simultaneamente, lutar com maior generosidade para conquistar a maturidade e a
magnanimidade em todos os setores da vida” (1982, p. 544), o que não significa ficar num
certo relaxismo, mas sim uma luta constante no sentido de buscar sempre o melhor na vida.
Considerações finais
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problema. A masturbação não é um fenômeno que se supera em um dia, é um processo que
exige um grande esforço, dedicação e oração, daí que o indivíduo que pretende deixar esta
prática precisa perseverar na luta, ter paciência, e sair da ilusão de que pode eliminar esta
prática de um dia para o outro. Deste modo, o indivíduo deve ter outro foco na vida, tendo
sempre o propósito de fazer o bem para sua vida e na vida de outras pessoas.
Referências
DURAND, G. Sexualidade e fé. Síntese de teologia moral. São Paulo: Loyola, 1989, p.179-
204.
HAERING, B. Livres e fiéis em Cristo. Teologia moral para sacerdotes e leigos. V. 2. São
Paulo: Paulinas, 1982.
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