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Módulo I

PEDOFILIA E ABUSOS

“Purifica-me, e sairei limpo; lava-me como que com um esfregão, e


terei uma vida branca como a neve. Põe uma música alegre para mim,
conserta meus ossos quebrados, para que eu possa dançar. Não fiques
procurando manchas: cura-me completamente. Deus, faz um novo
começo em mim, dedica uma semana para organizar o caos da minha
vida - uma nova gênese. Não me jogue fora com o lixo, nem deixe
de soprar santidade em mim.” Sl 51:7-11 Bíblia “A Mensagem”

Milhares de crianças e adolescentes foram e são vítimas do abuso sexual,


considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um dos grandes pro-
blemas de saúde pública do planeta.
Muitas são as crianças, adolescentes, e até bebês, ao redor do mundo que
tiveram um dos seus bens mais preciosos roubados. Não se trata do brinquedo
preferido, do tênis da moda ou de qualquer coisa do gênero, e sim da sua infân-
cia, sua privacidade e sua integridade, algo que não tem preço, mas que pode
ser restaurado por Deus. São crianças que sofrem ataque aos seus sentimentos
mais íntimos, à sua sexualidade – muitas vezes ainda nem desenvolvidas.
Estudos realizados em diferentes partes do mundo sugerem que 36% das
meninas e 29% dos meninos com menos de catorze anos já foram molestados
pelo menos uma vez. E o tempo médio de abuso é de cerca de três anos.
A maioria dos agressores são pessoas em quem todo mundo confia, as
chamadas “pessoas do coração”. São referências amorosas fundamentais na
vida da criança, como avôs, tios, irmãos, padrastos, amigos da família, até o
pai e, em alguns casos, a mãe.
O alvo preferencial do abusador são as garotas, numa extensa faixa que
vai de zero a catorze anos, mas isso não quer dizer que garotos ficam de fora.
Presas fáceis, dificilmente tem como se defender. Quando pequenas, mal sabem
se expressar, mas intuem de certa forma que algo está errado. “A criança não
tem discernimento para entender o que está acontecendo. Sente algo que não
pode nomear, o que lhe dá muita angústia, pois não tem condições físicas nem
psíquicas para compreender a violência que está sofrendo”, como diz a psicana-
lista argentina Sylvia Bleichmar, da Faculdade de Psicologia da Universidade
de Buenos Aires.

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Pedofilia

A pedofilia (também chamada de paedophilia erótica ou pedossexualida-


de) é a perversão sexual, caracterizada pela atração sexual de um indivíduo
adulto ou adolescente por crianças pré-púberes (ou seja, antes da idade em
que a criança entra na puberdade) ou para crianças em puberdade precoce.
E essa atração pode vir de pais, padrastos, tios e avós que praticam abu-
so sexual contra crianças e até mesmo de padres nas igrejas ou pastores pro-
testantes.
O termo pedofilia, em sua origem grega, significa “amar ou gostar de cri-
anças”, sem nenhum significado patológico.
De acordo com estudiosos, o termo pedófilo surge como adjetivo no final
do século XIX, em referência à atração de adultos por crianças ou à prática efe-
tiva de sexo com meninos ou meninas.
Atualmente, o termo é usado de forma corrente para qualquer referência a
ato sexual com crianças e adolescentes, desde a fantasia e o desejo enrustidos
até a exploração comercial, passando pela pornografia infantil e a realização de
programas com crianças e adolescentes.
No entanto, a palavra tomou um outro sentido, sendo designada para ca-
racterizar comportamentos inadequados socialmente. De acordo com o Catálo-
go Internacional de Doenças (CID)19, a pedofilia é considerada um transtorno de
preferência sexual, classificada como parafilia (para = desvio; filia = aquilo para
que a pessoa é atraída) e também como uma perversão sexual. O CID é bastante
minucioso no que se refere à classificação de tais transtornos, sendo a pedofilia
assim definida como:
“Uma preferência sexual por crianças, usualmente de idade pré-puberal
ou no início da puberdade. Alguns pedófilos são atraídos apenas por meninas,
outros apenas por meninos e outros ainda estão interessados em ambos os se-
xos. A pedofilia raramente é identificada em mulheres. Contatos entre adultos
e adolescentes sexualmente maduros são socialmente reprovados, sobretudo
se os participantes são do mesmo sexo, mas não estão necessariamente asso-
ciados à pedofilia. Um incidente isolado, especialmente se quem o comete é
ele próprio um adolescente, não estabelece a presença da tendência persisten-
te ou predominante requerida para o diagnóstico. Incluídos entre os pedófilos,
entretanto, estão homens que mantêm uma preferência por parceiros sexuais
adultos, mas que, por serem cronicamente frustrados em conseguir contatos
apropriados, habitualmente voltam-se para crianças como substitutos. Homens
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que molestam sexualmente seus próprios filhos pré-púberes, ocasionalmente


seduzem outras crianças também, mas, em qualquer caso, seu comportamento
é indicativo de pedofilia.”

Características do Pedófilo/Abusador

O abusador é uma pessoa comum, que mantém preservadas as demais


áreas de sua personalidade, ou seja, é alguém que pode ter uma profissão
e até ser destaque nela, pode ter uma família e até ser repressor e moralis-
ta, pode ter bom acervo intelectual, enfim, aos olhos sociais e familiares
pode ser considerado “um indivíduo normal”. Ele é perverso, e faz parte da
sua perversão enganar a todos sobre sua parte doente. Para ele, enganar é
tão excitante quanto a própria prática do abuso. Pode esconder-se vestindo
uma pele de cordeiro, ou uma pele de autoritário, ou uma pele de moralista,
mas isso não passa de um artifício a serviço da sua perversão. Esse é o pon-
to central da sua perversão. Ele necessita da fantasia de poder sobre sua
vítima, usa das sensações despertadas no corpo da criança ou adolescente
para subjugá-la, incentivando a decorrente culpa que surge na vítima.
O abusador pode ser agressivo, mas na maioria das vezes, ele usa da vio-
lência silenciosa da ameaça verbal ou apenas velada. Covarde, ele tem muito
medo e sempre vai negar o abuso quando for denunciado ou descoberto.
O pedófilo procura, frequentemente, a situação de exercer a função de
substituto paternal para ter a condição de praticar sua perversão. Seu dis-
túrbio mental é compulsivo: ele vai repetir e repetir seu comportamento
abusivo, como o mais forte dos vícios. Nenhuma promessa de mudança de
seu comportamento pode ser cumprida por ele, pois ele é dependente do
abuso. Ele tem consciência do que pratica, portanto, deve ser responsabili-
zado criminalmente, sem atenuantes.
O maior dano que ele causa é à mente da criança, que é invadida por
concretização das fantasias sexuais próprias da infância e que deveriam
permanecer em seu imaginário. Essa concretização precoce dessas fanta-
sias pode explicar a evolução de abusado para abusador. A criança fica
aprisionada nessa prática infantil do sexo e suas numerosas implicações
psicológicas adoecedoras, e apenas muda de lado quando se torna adulto,
permanecendo assim, na cena sexual infantil traumática.
O tipo mais comum de pedófilo abusador é o indivíduo imaturo. Em algum
ponto da vida, ele descobre que pode obter, com crianças, níveis de satisfação
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xual que não consegue alcançar de outra maneira. Trata-se de tipo solitário, e a
falta de habilidade social acaba levando-o a mergulhos cada vez mais profundos
e fantasiosos na pedofilia. Tende a se envolver com pornografia infantil, pela in-
ternet ou utilizando fotografias.
Em geral, o abusador já sofreu abuso na infância, a partir disso é constru-
ído o caráter de pedófilo, pois do abuso sexual surge o desejo demoníaco pela
pedofilia. Busca atenção e amizades infantis e prefere a companhia de crianças,
procurando agradá-las em demasia.
O pedófilo pode ser qualquer pessoa (pai, tio, mãe, avó, amigo da família,
um desconhecido qualquer).
Essas características, apesar de comuns aos pedófilos, podem, também,
ser identificadas em qualquer pessoa. A partir do momento em que o desejo de
se relacionar com crianças deixa de ser apenas desejo, atravessando a barreira
da imaginação para o contato real com a criança, a pedofilia deixa de ser apenas
pedofilia para se tornar abuso sexual.

O que é Abuso Sexual?

É uma violação e/ou exploração do corpo e da sexualidade de crianças e


adolescentes – seja pela força ou outra forma de coerção –, ao envolver meni-
nas e meninos em atividades sexuais impróprias para sua idade cronológica ou
a seu desenvolvimento físico, psicológico e social.
O abuso é qualquer ato de natureza ou conotação sexual em que adultos
submetem menores de idade a situações de estimulação ou satisfação sexual,
imposto pela força física, pela ameaça ou pela sedução. O agressor costuma ser
um membro da família ou conhecido.

Quais as Formas de Abuso Sexual?

• Abuso Verbal: o uso de palavras obscenas, de duplo sentido que demons-


tram segundas intenções.
• Abuso Visual: induzir a criança a ver pornografia, exposição dos órgãos genitais,
permitir ou obrigar a criança a ver uma relação sexual, fazer gestos obscenos,
permitir que a criançavejaa nudez dos pais(tomar banhojuntocom a criança).
• Abuso Físico: usar toques desagradáveis à criança sob forma de carícias
e não parar quando a criança pede, além de forçar a criança a ter relação
sexual (estupro).
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Indicadores que Demonstram Quando uma Criança é Abusada

O abuso sexual pode deixar marcas profundas no corpo da vítima, como


lesões, contágio por doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce.
Mais do que isso, o abuso sexual prejudica profundamente o desenvolvimento
psicossocial de crianças e adolescentes, gerando problemas como estresse,
depressão e baixa autoestima.
As crianças e adolescentes “avisam” de diversas maneiras, quase
sempre não verbais a respeito dos abusos que estejam sofrendo.
Veja abaixo alguns indicadores na conduta da criança/adolescente que so-
freu abuso sexual:

Sinais Corporais

• Enfermidades psicossomáticas, que são uma série de problemas de sa-


úde sem aparente causa clínica, como dores de cabeça, erupções na pe-
le, vômitos e outras dificuldades digestivas que têm, na realidade, fundo
psicológico e emocional.
• Doenças sexualmente transmissíveis, diagnosticadas em coceira na área
genital, infecções urinárias, odor vaginal, corrimento ou outras secre-
ções vaginais e penianas e cólicas intestinais.
• Dificuldade de engolir devido à inflamação causada por gonorréia na
garganta ou reflexo de engasgo hiperativo e vômitos (por sexo oral).
• Dor, inchaço, lesão ou sangramento nas áreas da vagina ou ânus a
ponto de causar, inclusive, dificuldade de caminhar e sentar.
• Ganho ou perda de peso, visando afetar a atratividade do agressor.
• Traumatismo físico ou lesões corporais, por uso de violência física.

Sinais Comportamentais

• Medo ou pânico de certa pessoa ou sentimento generalizado de de-


sagrado quando é deixado sozinho em algum lugar com alguém.
• Medo do escuro ou de lugares fechados.
• Mudanças extremas súbitas e inexplicadas no comportamento, como
oscilações no humor entre retraída e extrovertida.
• Mal estar pela sensação de modificação do corpo e confusão de idade.
• Regressão a comportamentos infantis, como choro excessivo sem
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causa aparente, enurese (xixi na cama) e chupar dedos.
• Tristeza, abatimento profundo ou depressão crônica. Fraco controle
de impulsos e comportamento autodestrutivo ou suicida.
• Baixo nível de autoestima e excessiva preocupação em agradar os
outros.
• Vergonha excessiva, inclusive de mudar de roupa na frente de outras
pessoas.
• Culpa e autoflagelação.
• Ansiedade generalizada, comportamento tenso, sempre em estado de
alerta, fadiga.
• Comportamento disruptivo, agressivo, raivoso, principalmente diri-
gido contra irmãos e um dos pais não incestuoso.
• Alguns podem apresentar transtornos dissociativos na forma de
personalidade múltipla.

Sexualidade

• Interesse ou conhecimento súbitos e não usuais sobre questões


sexuais.
• Expressão de afeto sensualizada ou mesmo certo grau de provocação
erótica, inapropriado para uma criança.
• Desenvolvimento de brincadeiras sexuais persistentes com amigos,
animais e brinquedos.
• Masturbar-se compulsivamente.
• Relato de avanços sexuais por parentes, responsáveis e outros adultos.
• Desenhar órgãos genitais com detalhes além de sua capacidade etária.

Hábitos, Cuidados Corporais e Higiênicos

• Abandono de comportamento infantil, de laços afetivos, de antigos


hábitos lúdicos, de fantasias, ainda que temporariamente.
• Mudança de hábito alimentar – perda de apetite (anorexia) ou excesso
de alimentação (obesidade).
• Padrão de sono perturbado por pesadelos frequentes, agitação no-
turna, gritos, suores, provocados pelo terror de adormecer e sofrer
abuso.
• Aparência descuidada e suja pela relutância em trocar de roupa.
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• Resistência em participar de atividades físicas.


• Frequentes fugas de casa.
• Práticas de delitos.
• Envolvimento em prostituição infanto-juvenil.
• Uso e abuso de substâncias como álcool, drogas lícitas e ilícitas.

Relacionamento Social

• Tendência ao isolamento social com poucas relações com colegas e


companheiros.
• Relacionamento entre crianças e adultos com ares de segredo e
exclusão dos demais.
• Dificuldade de confiar nas pessoas à sua volta.
• Fuga de contato físico
O surgimento de objetos pessoais, brinquedos, dinheiro e outros bens
que estão além das possibilidades financeiras da criança/adolescente e da
família pode ser indicador de favorecimento e/ou aliciamento.

Consequências na Vida de uma Pessoa que Sofre Abuso Sexual

A gravidade da reação de uma pessoa ao abuso sexual depende de muitos


fatores diferentes. É importante notar que nem todo abuso sexual é traumático
(ou seja, nem todo abuso acarreta um impacto de longo prazo). Presumir que
toda pessoa que alguma vez sofreu um abuso sexual está, por essa razão,
traumatizada constitui uma presunção e levará à insistência de que certas se-
quelas estariam presentes quando, na realidade, não estão. Mas isso também
não significa que o abusado não tenha que passar por ministração de cura e li-
bertação. Muitos fatores estão envolvidos na aferição tanto da severidade do
abuso quanto da reação da pessoa a ele. Isso significa que duas pessoas po-
dem viver
experiências semelhantes de abuso e apresentar respostas bastante distintas.
Os efeitos de longo prazo do abuso sexual em crianças podem ser bastante
amplos e acompanharem a pessoa até sua fase adulta. Veremos algumas dessas
consequências abaixo:
• Luta interior. O abuso destrói a capacidade da pessoa de se relacionar
com ela mesma. Vivendo atormentada por sentimentos de culpa, vergo-
nha, auto rejeição, ódio de si mesma, complexo de inferioridade.
• Dificuldade de confiar nas pessoas e em Deus.
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• Imagem distorcida de Deus.
• Confunde carinho com sexo, pois alguém de quem espera carinho usa-a
para satisfazer seus desejos sexuais.
• Medo de nunca achar alguém que possa amá-la.
• Automutilação (física e emocional).
• O abuso sexual viola a identidade sexual da pessoa, destruindo sua auto-
estima.
• Passa a ver o corpo como algo profano e vergonhoso.
• Quebra de relações de confiança (no caso de abuso incestuoso).
• É incutida na pessoa uma identidade homossexual. O abuso é o mais for-
te elo com a homossexualidade.

Como o Agressor Age?

Pode ser comum que o abusador inicie um processo de relacionamento


e de conhecimento com o abusado antes de chegar aos contatos sexuais.
Para isso ele age da seguinte maneira:
• Alguns agressores passam a conversar mais com a vítima, procurando
passar mais tempo em sua companhia com o objetivo de ganhar sua con-
fiança.
• Tratando-se do pai ou da mãe, a aproximação é mais fácil, pois já exis-
te um vínculo emocional entre eles, um relacionamento de confiança.
• O abusador seduz a vítima, muitas vezes oferecendo algo que ele sabe
que vai atraí-lo, ou o seduz em função de suas carências e de suas ne-
cessidades.
• Às primeiras tentativas de sedução do adulto, somam-se ameaças, para
forçar a vítima a submeter-se.
• Normalmente, o abusador constrange a vítima, fazendo-lhe ameaças
e impondo condições que, muitas vezes, a impedem de falar da situação.
• O abusador coage á vítima:
a) Foi você quem me provocou.
b) Se você contar para alguém, vou dizer que é mentira e ninguém
vai acreditar em você!
c) Se você contar pra alguém eu te mato ou mato seu pai, sua mãe, etc.
d) Faço isso para te agradar e porque você gosta.
e) “Você é minha ou meu preferido”. “Gosto mais de você do que de
outra mulher.”

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f) Gosto mais de você do que da sua mãe.


g) Esse negócio será nosso segredo.

Como Tratar a Pedofilia e o Abuso Sexual

• Estabelecer um vínculo de confiança com a pessoa que sofreu o abuso.


• Ter cuidado com toques físicos nos primeiros encontros.
• Tratar do assunto com respeito e atenção e com toda delicadeza
possível, lembrando-se sempre de que você está tocando em uma fe-
rida aberta e muito sensível.
• Trabalhar com a autoestima da pessoa.
• Interceder pela pessoa, pois todo abusado necessita de um liber-
tador/restaurador.
• Levar a pessoa ao entendimento da importância do perdão.
• Lidar com os espíritos que muitas vezes querem atingir e manter a
pessoa presa
• Desligar a alma da pessoa da alma do abusador.
• Retirá-la do local (ou locais) em que a pessoa foi abusada.

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