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As diferenças entre sexualidade, gênero e sexo biológico

O campo da sexualidade no ser humano, e de qualquer outro ser vivo, é plural. Ao


estudar Psicanálise, essa pluralidade se torna ainda mais evidente com todas as
nuances que um ser humano pode apresentar. Sabemos que a Psicanálise é o saber do
inconsciente e ele se dá na transferência, isto é, na interpretação, na particularidade
de cada pessoa.
Por isso, é preciso que as pessoas entendam, cada vez mais, as diferenças básicas
entre a orientação sexual (também chamada de sexualidade), a identidade de gênero,
o sexo biológico e a expressão de gênero. Conceitos que se ligam, mas que se referem
a coisas diferentes.

1- A orientação sexual
Chamada por algumas pessoas de sexualidade, a orientação sexual diz respeito a
vida afetivo-sexual de um determinado indivíduo. Em linhas gerais, ela diz por quem
ele se apaixona.
É importante ressaltar que a orientação sexual jamais deve ser chamada de “opção
sexual”, já que atualmente entende-se que ela não é uma escolha da pessoa, e sim
algo que se desenvolve com ela. Algumas pessoas ainda debatem acerca do termo
“orientação”, já que também, nenhum indivíduo é orientado a seguir determinado
caminho na vida afetiva. Para fins unicamente didáticos, chamaremos aqui neste texto
dessa forma.
Entre as principais orientações sexuais existentes, podemos destacar algumas:

- Heterossexual (ou heteroafetivo): indivíduo que sente atraído por alguém com a
representação de gênero diferente da sua;

- Homossexual (ou homoafetivo): indivíduo que se sente atraído por alguém com a
mesma representação de gênero que a sua;

- Bissexual: indivíduo que se sente atraído tanto por alguém com a representação
de gênero diferente da sua, quanto por alguém com a mesma representação de
gênero;

- Pansexual: indivíduo que se sente atraído por qualquer representação de gênero;

- Assexual: indivíduo que não se sente atraído sexualmente por outras pessoas.

Vale a pena ressaltar que tanto a homossexualidade, quanto qualquer outra


orientação sexual não são considerados doenças ou desvios pela OMS (Organização
Mundial da Saúde) e sim, particularidades de cada ser humano. Qualquer terapia que
diga ser de “reversão sexual” é proibida.

2- A identidade de gênero
A identidade de gênero diz respeito a como um determinado indivíduo se identifica
culturalmente na sociedade em que esta inserido. Em linhas gerais, a identidade de
gênero é como a pessoa se sente e como ela se identifica na sua cabeça. Essa
identidade de gênero, pode ou não ser condizente com o seu sexo biológico e não tem
relação alguma com a orientação sexual.
Entre as principais identidades de gênero, podemos destacar:

- Cisgênero: pessoa que se identifica com o gênero com a qual foi designada no
nascimento. Esse grupo corresponde às pessoas que se identificam com os padrões
culturais designados para seu sexo biológico. Ex.: Mulher cisgênero: indivíduo que
nasceu com o sexo biológico feminino e se reconhece como tal na sociedade.

- Transgênero: pessoa que não se identifica com o gênero com o qual foi designado
no nascimento. Corresponde às pessoas que não se identificam com os padrões
culturais do seu sexo biológico e nesse caso, realizam a transição para o gênero com o
qual melhor se identificam. Podem ou não passar por terapias hormonais de
adequação de gênero e cirurgias de redesignação sexual. Ex.: Homem transgênero:
indivíduo que nasceu com o sexo biológico feminino e não se reconhece como tal
perante a sociedade, transicionando então, para o gênero masculino.

- Gênero fluido: pessoa cuja identificação oscila entre os gêneros. Há períodos em


que se reconhece como gênero feminino e há períodos que se vê como do gênero
masculino;

- Não-binário: indivíduo cuja identificação não se coloca como do gênero masculino


ou feminino. Corresponde a um grupo com o gênero fora do padrão binário
convencional. Há discussões no plano político e social, sobre os papéis designados e
desempenhados pelo gênero masculino e pelo gênero feminino.

Além da identidade de gênero de um indivíduo, devemos considerar também a sua


expressão de gênero, que são os modos pelos quais a pessoa exterioriza a sua
identidade de gênero. Refere-se ao conjunto de vestimentas, acessórios, modos de se
portar e outros. A expressão de gênero se refere ao papel em que um determinado
gênero está designado a desempenhar no “status quo” de uma sociedade, já que os
papéis de gênero e suas performances são construções da sociedade em que o ser
humano está inserido.
Vale a pena ressaltar também, que segundo a OMS (Organização Mundial de
Saúde), ser transgênero não é uma doença e isso deve ser retificado na Classificação
Internacional de Doenças (CID) até 2022.

3- O sexo biológico
O sexo biológico, como o próprio nome sugere, se trata da condição biológica do
indivíduo. Dentro de sexo biológico, destaca-se o sexo cromossômico, o sexo de
genitais internos e o sexo de genitais externos.
O sexo biológico cromossômico diz sobre os cromossomos que aquela pessoa
possui, seu código genético. O sexo biológico de genitais internos e externos se refere
aos órgãos sexuais, internos (próstata em homens, útero em mulheres, por exemplo) e
externos (pênis em homens, vagina em mulheres, por exemplo).
Em todos os casos, eles podem coincidir, isto é, um ser do sexo biológico masculino
pode ter cromossomos, órgãos sexuais internos e externos condizentes com o sexo
masculino, por exemplo, ou diferir, como é o caso das pessoas intersexuais que
nascem com características físicas e/ou hormonais de sexos biológicos distintos.
O sexo biológico, além das suas subdivisões, pode ou não coincidir com a
identidade e expressão de gênero do indivíduo, conforme explicamos no tópico
anterior.

4- Considerações finais e conclusão


Observando a sexualidade humana sob esses três itens, já é possível confirmar
aquilo que afirmamos no início do texto: ela é plural, tanto no nível psíquico, quanto
no nível biológico e no afetivo-sexual.
É importante que saibamos respeitar cada particularidade e cada realidade, de
uma forma em que todos os indivíduos alcancem a devida equidade dentro da
sociedade em que estão inseridos. O ser humano não cabe numa caixinha, assim como
suas particularidades. Devemos entender e interpretar cada uma delas de forma única,
de modo a alcançar cada vez mais uma melhor convivência e aceitação de parcelas que
hoje são tão marginalizadas só por serem minorias.

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