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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Criminosos psicóticos X criminosos psicopatas

Qual a diferença entre criminosos Psicóticos e criminosos


psicopatas?

Por: Marcela Carreiro Monteiro de Barros

Orientador

Prof. Ana Paula Ribeiro

Rio de Janeiro

2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Criminosos psicóticos X criminosos psicopatas Qual a


diferença entre criminosos Psicóticos e criminosos
psicopatas?

Apresentação de monografia à Universidade Candido


Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Psicologia Jurídica

Por: . Marcela Carreiro Monteiro de Barros


3

AGRADECIMENTOS

....aos meus pais, Angela e Caio, meus


irmãos, Paula e Caio, meu marido Felipe e
minha grande amiga Nina sem os quais
nada disso seria possível.
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DEDICATÓRIA

.....dedico este trabalho à minha mãe que


sempre me apoiou e incentivou sem nunca
desanimar no caminho que eu escolhi seguir.
5

RESUMO

Este trabalho mostra a diferença sobre criminosos psicóticos e criminosos


psicopatas, explicando as características principais de cada um deles, a forma de agir,
seus crimes e o tipo de lei que pode recair sobre estes criminosos. È um estudo que
mostra que criminosos psicopatas são frios, calculistas e não possuem sentimento de
culpa. Enquanto os criminosos psicóticos agem completamente tomados de violenta
emoção, ou seguindo algum tipo de alucinação ou delírio e possuem um sentimento
de culpa tão grande que podem cometer suicídio após cometerem um crime. Mas se
este criminoso psicótico se mantêm em tratamento é improvável que cometa um
crime. Na sociedade em que estamos vivendo hoje, é mais perigoso conviver com um
criminoso psicopata do que com um criminoso psicótico.

Palavras chaves: psicóticos, psicopatas e sociedade.

ABSTRACT

This work shows the difencia on psychotic criminals and criminal psychopaths,
explaining the main features of each, how to act, his crimes and the type of law that may be
taken against these criminals. It is a study that shows that criminal psychopaths are cold,
calculating and have no guilt. While the psychotic criminal act completely overcome with violent
emotion, or following some kind of delusion or laucinação and have a sense of guilt so great
that they can commit suicide after committing a crime. But if this criminal psychotic remain in
treatment is unlikely to commit a crime. Society in which we live today is more dangerous to live
with a criminal psychopath than a psychotic criminal.

Key words: psychotic, psychopathic and society.


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METODOLOGIA

Os métodos utilizados nesta pesquisa foram pesquisa bibliográfica como:


leitura de livros, revistas científicas, reportagens de revistas e jornais, pesquisas na
internet, etc.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Criminosos psicóticos e Criminosos psicopatas 10

CAPÍTULO II

Criminosos Psicóticos X Criminosos Psicopatas 31

CAPÍTULO III

A Justiça e o Manicômio 37

CONCLUSÃO 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 51

ÍNDICE 54

FOLHA DE AVALIAÇÃO 56
8

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa aborda um tema muito atual, pois nos dias de hoje a

violência virou parte do cotidiano das pessoas. Atualmente, o crime de

assassinato foi banalizado, cada vez que ligamos a televisão ou

abrimos o jornal para lermos as notícias encontramos casos de

assassinatos que deviam chocar a sociedade mas estão cada vez

mais comuns, assassinatos onde pais matam filhos e filhos matam pais

e ficamos nos perguntando: “Como pode isto acontecer? Essas

pessoas são”normais”?”

Com este estudo, busco a diferença entre um criminoso psicótico e

um criminoso psicopata, como forma de entender um pouco melhor

como funciona a mente destes criminosos e seus crimes, o que os

motiva, o que são capazes de fazer, não só com o crime de

assassinato mas com todas as formas de lesar as pessoas que vivem

a sua volta, seus possíveis “alvos”. Busco também entender como a

lei os diferencia, quais as conseqüências de seus atos e como são

punidos. È uma pesquisa também que serve como alerta para nos

defendermos o máximo possível destes criminosos que tanto

assustam a sociedade. Este estudo mostra a importância de se

“encarar de frente” a doença mental que acomete estes criminosos e

tentar compreender a sua diferença e uma maneira melhor de tratá-

los e perceber até quando isto é possível.


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Com este estudo busco responder a questão sobre a periculosidade

do criminoso psicótico e do psicopata, respondendo a questão de qual

deles é o mais perigoso para a sociedade?

No primeiro capítulo descreveremos o criminoso psicopata e o

criminoso psicótico .

No segundo capítulo falaremos sobre a diferença existente entre eles e

no terceiro e ultimo capítulo faremos um estudo sobre as leis

envolvidas e penas atribuídas neste tipo de crime.


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CAPÍTULO I

CRIMINOSOS PSICÓTICOS E CRIMINOSOS PSICOPATAS

1.1 CRIMINOSOS PSICÓTICOS

A loucura assume, ao longo da constituição da psiquiatria, um caráter

deficitário, degenerativo e a concepção de uma causalidade orgânica vigora

como sua hipótese etiológica. Os comportamentos bizarros, incluindo aí os

comportamentos criminais, nada mais seriam que o resultado deste déficit

orgânico. Desta forma a idéia de motivação para estes atos não era nem

mesmo interrogada, já que a inferência a causalidade orgânica tomava o

doente e seus sintomas como inexoravelmente desprovidos de razão e sentido

A psicose, de acordo com alguns autores, é uma doença mental

caracterizada pela distorção do senso de realidade, uma inadequação e falta

de harmonia entre o pensamento e a afetividade.

Não deve passar despercebido a qualquer psiquiatra, conforme diz Uchoa,

a importância de fatores como a constituição, temperamento, caráter,

peculiaridades de ordem tipológica, experiências anteriormente vividas e

ambiente familiar e/ou social na formação e estruturação das psicoses. A

articulação desta causalidade múltipla nas psicoses tem sido objeto de atenção

constante dos pesquisadores em psicopatologia e tem resultado em discussões

intermináveis entre as mais diversas escolas do pensamento psicológico.


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Se alguma conclusão dessa polêmica acirrada entre as várias tendências

sobre o adoecer mental pode ser aproveitada, esta se resume na constatação

da incompatibilidade entre as duas maneiras principais de abordar o problema

da loucura: a visão clínica e a visão cultural. O enfoque clínico da Doença

Mental será sempre diferente da abordagem cultural e filosófica.

As várias tendências de reflexão sobre a Doença Mental, notadamente

sobre as Psicoses, embora provenientes de diversos momentos históricos do

pensamento psicológico, estimulam a tônica das discussões acerca do tema.

Entre os autores encontramos defensores do modelo Sociogênico, no qual a

sociedade complexa e exigente é a responsável exclusiva pelo

enlouquecimento humano, defensores do modelo Organogênico,

diametralmente oposto ao anterior e onde os elementos orgânicos da função

cerebral seriam os responsáveis absolutos pela Doença Mental e do modelo

Psicogênico, onde a dinâmica psíquica é responsável exclusiva pela doença e

as disposições constitucionais pessoais pouco importam. Finalmente há o

modelo Organodinâmico, o qual compatibiliza os três anteriores num enfoque

bio-psico-social.

Tem sido quase unanimemente aceito na psiquiatria clínica a associação de

determinadas configurações de personalidade predispostas e a eclosão de

psicoses. Estas personalidades são as chamadas Personalidades Pré-

mórbidas, cujo conceito é abordado no capítulo sobre os Transtornos da

Personalidade, tanto pela CID (Classificação Internacional das Doenças)

quanto pela DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais).


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Trata-se de constituições de personalidades problemáticas que, por si só,

acabam transtornando a vida do indivíduo, incapacitando um desenvolvimento

pleno e, ainda, em certas circunstâncias, encerrando uma maior aptidão para o

desenvolvimento de determinadas doenças psíquicas.

A Constituição (Personalidade) Pré-mórbida é considerada pela psicopatologia

como uma variação do existir humano e traduz uma possibilidade mais

acentuada para o desenvolvimento de certa vulnerabilidade psíquica. Aqui o

termo "possibilidade" deve ser considerado em toda sua plenitude, ou seja,

trata-se de um caráter não-obrigatório mas que deve ser levado muito a sério.

A sintomatologia psicótica se caracteriza, principalmente, pelas alterações a

nível do pensamento e da afetividade e, conseqüentemente, todo

comportamento e toda performance existencial do indivíduo serão

comprometidos. Enquanto nas neuroses o pensamento, os sentimentos e a

afetividade se encontram quantitativamente alterados, na psicose esses

atributos psíquicos se apresentam qualitativamente doentes, tal como uma

novidade patológica cronologicamente localizada na história de vida do

paciente e que passa, desse momento em diante, a atuar morbidamente em

toda sua performance psíquica.

O processo psicótico impõe ao paciente uma maneira patológica de

representar a realidade, de elaborar conceitos e de relacionar-se com o mundo

objectual. Não contam tanto aqui as variações quantitativas de apercepção do

real, como pode ocorrer na depressão, por exemplo, mas um algo novo e
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qualitativamente diferente de todas as variações normalmente permitidas entre

as pessoas normais, um algo essencialmente patológico, mórbido e sofrível.

A Esquizofrenia, representante mais característica das psicoses, é uma

doença da Personalidade total que afeta a zona central do eu e altera toda

estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o estereotipo do

"louco", um indivíduo que produz grande estranheza social devido ao seu

desprezo para com a realidade reconhecida. Agindo como alguém que rompeu

as amarras da concordância cultural, o esquizofrênico menospreza a razão e

perde a liberdade de escapar às suas fantasias.

Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é acometido pela

doença, geralmente iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer

camada sócio-cultural. O diagnóstico da doença ainda se baseia

exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental, muito

embora os meios de investigação por imagens funcionais esteja avançando a

passos largos no sentido de estabelecer-se um diagnóstico mais preciso. É

extremamente raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois

dos 50 anos de idade e parece não haver nenhuma diferença na prevalência

entre homens e mulheres.

Esquirol (1772-1840) considerava a loucura como sendo a somatória de

dois elementos: uma causa predisponente, atrelada à personalidade, e uma

causa excitante, fornecida pelo ambiente. Hoje em dia, depois de muitos anos

de reflexão e pesquisas, a psiquiatria moderna reafirma a mesma coisa com

palavras atualizadas. O principal modelo para a integração dos fatores


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etiológicos da esquizofrenia é o modelo estresse-diátese, o qual supõe o

indivíduo possuidor de certa vulnerabilidade específica, vulnerabilidade esta

colocada sob a influência de fatores ambientais estressantes (causa excitante).

Em determinadas circunstâncias o binômio diátese-estresse proporcionaria

condições para o desenvolvimento da esquizofrenia. Até que um fator

etiológico para a doença seja identificado, este modelo parece satisfazer as

teorias mais aceitas sobre o assunto.

Atualmente, através da CID-10, foi incluída na classificação das

esquizofrenias o Transtorno Esquizotípico. Na realidade não acreditamos

tratar-se de mais um tipo da doença mas, talvez, se trate apenas de um outros

estágio da mesma doença. Tomando-se por base os sintomas gerais e de

primeira ordem das esquizofrenias, podemos entender o Transtorno

Esquizotípico como sendo uma fase pré-mórbida da psicose. Seria um

estadiamento da doença mais sério que o Transtorno Esquizóide de

Personalidade e menos mórbido que a Esquizofrenia franca. Tanto está certa

esta visão que o próprio CID-10 considera este transtorno como sinônimo de

Esquizofrenia Prodrômica (Inicial), Borderline (limítrofe), ou Pré-Psicótica.

Alguns sintomas, embora não sejam específicos da Esquizofrenia, são

de grande valor para o diagnóstico. Seriam:

1- audição dos próprios pensamentos (sob a forma de vozes)


2- alucinações auditivas que comentam o comportamento do paciente
3- alucinações somáticas
4- sensação de ter os próprios pensamentos controlados
5- irradiação destes pensamentos
6- sensação de ter as ações controladas e influenciadas por alguma coisa do
exterior.
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Tentando agrupar a sintomatologia da esquizofrenia para sintetizar os

principais tratadistas, teremos destacados três atributos da atividade psíquica

morbidamente envolvidos: o comportamento, a afetividade e o pensamento.

Os Delírios surgem como alterações do conteúdo do pensamento

esquizofrênico e as alucinações como pertencentes à sensopercepção. Ambos

acabam sendo causa e/ou conseqüência das alterações nas 3 áreas

acometidas pela doença (comportamento, afetividade e pensamento).

Os Delírios na Esquizofrenia podem sugerir uma interpretação falsa da

realidade percebida. É o caso por exemplo, do paciente que sente algo sendo

tramado contra ele pelo fato de ver duas pessoas simplesmente conversando.

Trata-se, neste caso, de uma Percepção Delirante. Desta forma, a Percepção

Delirante necessita de algum estímulo para ser delirantemente interpretado (no

caso, duas pessoas conversando). Outras vezes não há necessidade de

nenhum estímulo à ser interpretado, como por exemplo, julgar-se deus. Neste

caso trata-se de uma Ocorrência Delirante. O Delírio mais freqüentemente

encontrado na Esquizofrenia é do tipo Paranóide ou de Referência, ou seja,

com temática de perseguição ou prejuízo no primeiro caso e de que todos se

referem ao paciente (rádios, vizinhos, televisão, etc) no segundo caso.

Na Esquizofrenia os Delírios surgem paulatinamente, sendo percebidos aos

poucos pelas pessoas íntimas aos pacientes. Em relação ao Delírio de

Referência, inicialmente os familiares começam à perceber uma certa aversão

à televisão, aos vizinhos, etc.


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As Alucinações mais comuns na Esquizofrenia são do tipo auditivas, em

primeiro lugar e, em seguida, visuais. Conforme diz Schneider, "de valor

diagnóstico extraordinário para o diagnóstico de uma Esquizofrenia são

determinadas formas de ouvir vozes: ouvir os próprios pensamentos (pensar

alto), vozes na forma de fala e respostas e vozes que acompanham com

observações a ação do doente". Esta Sonorização do Pensamento, juntamente

com alguns outros sintomas que envolvem alucinações auditivas e sensações

de ter os próprios pensamentos influenciados por elementos externos,

compõem a sintomatologia que Schneider considerou como sendo de Primeira

Ordem.

Um esquizofrênico pode estar ouvindo sua própria voz, dia e noite, sob a forma

de comentários e antecipações daquilo que ele faz ou pretende fazer , como

por exemplo: "ele vai comer" ou ainda, "o que ele está fazendo agora ? Está

trocando de roupas". Outro sintoma importante no diagnóstico da esquizofrenia

é a sensação de que o pensamento está sendo irradiado para o exterior ou

mesmo sendo subtraído ou "chupado" por algo do exterior: Subtração e

Irradiação do pensamento, também considerados de Primeira Ordem.

Igualmente podemos encontrar a sensação de que os atos estão sendo

controlados por forças ou influências exteriores.

Todas as demais alucinações, auditivas, visuais, tácteis, olfatórias,

gustativas, cenestésicas e cinestésicas, embora sejam consideradas sintomas

acessórios por Bleuler, aparecem na esquizofrenia com freqüência bastante

significativa. Normalmente as alucinações auditivas são as primeiras a

aparecer e as últimas a sumir.


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Um criminoso diagnosticado psicótico quando comete o ato criminoso

esta sob efeito do surto. Geralmente age sem saber o que esta fazendo, sem

ter noção que esta cometendo um crime e não se lembra do que fez quando

sai do surto. O criminoso psicótico, age geralmente porque alguma voz “dentro

da sua cabeça” o mandou fazer ou porque no seu entendimento a pessoa ia

fazer mal a ele ou estava perseguindo-o. No surto ele age para se defender ou

com alguma motivação irreal.

1.2 CRIMINOSOS PSICOPATAS

A psicopatologia em geral e a psiquiatria forense em especial têm

dedicado, há tempo, uma enorme preocupação com o quadro conhecido

por Psicopatia (ou Sociopatia, Transtorno Dissocial, Transtorno Sociopático,

etc).

Trata-se de um terreno difícil e cauteloso, este que engloba as pessoas

que não se enquadram nas doenças mentais já bem delineadas e com

características bastante específicas, a despeito de se situarem à margem da

normalidade psico-emocional ou, no mínimo, comportamental. As implicações

forenses desses casos reivindicam da psiquiatria estudos exaustivos,

notadamente sobre o grupo de entidades entendidas como Transtornos da

Personalidade.

O enorme interesse que o psicopata tem despertado atualmente se

deve, em parte, ao desenvolvimento das pesquisas sobre as bases

neurobiológicas do funcionamento do cérebro em geral e, particularmente, da

personalidade. Em outra parte, deve-se também ao enorme potencial de


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destrutividade de alguns psicopatas, quando ou se tiverem acesso aos

instrumentos que a tecnologia e a ciência disponibilizam.

Estudar o potencial da destrutividade humana é bastante interessante e

poderá esclarecer certos pontos em comum entre grandes manifestações de

destrutividade, como são as guerras, os genocídios, torturas, o terrorismo e,

talvez, manifestações incomuns da personalidade humana, baseadas na

psicopatologia, na psicologia e nas neurociências.

Lorenz e outros etólogos consideram a agressividade organizada uma

aquisição evolutiva que aparece na espécie humana há uns 40.000 anos. Em

sentido social, a agressividade organizada nasceu da necessidade de uma

arma de sobrevivência mais eficaz. Nascia assim uma forma especializada de

agressão comunitária e organizada, um entusiasmo que agrega um grupo

contra um inimigo comum. Uma de suas expressões seria a “paranóia de

guerra”, que afeta e afetou populações inteiras.

Atualmente pode ser representada também por grupos étnicos,

religiosos ou políticos que se unem através de uma conduta agressiva em

função de alguma ameaça comum a todos integrantes do grupo (ameaça real

ou acreditada).

Devido à falta de um consenso definitivo, esse assunto tem despertado

um virulento combate de opiniões entre os mais diversos autores ao longo do

tempo. Igualmente variadas também são as posturas diante desses casos que

resvalam na ética e na psicopatologia simultaneamente. As dificuldades vão

desde a conceituação do problema, até as questões psicopatológicas de

diagnóstico e tratamento. Como seria de se esperar, também na área forense

as discordâncias são contundentes.


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A evolução dos conceitos sobre a personalidade psicopática transcorreu,

durante mais de um século,oscilando entre a bipolaridade orgânica-psicológica,

passando a transitar também sobre as tendências sociais e parece ter

aportado, finalmente, numa idéia bio-psico-social que, senão a mais

verdadeira, ao menos se mostrou a mais sensata.

Historia do conceito

O conceito de Psicopata, Personalidade Psicopática e, mais

recentemente Sociopata é um tema que vem preocupando a psiquiatria, a

justiça, a antropologia, a sociologia, a psicologia e a filosofia desde a

antiguidade. Evidentemente essa preocupação contínua e perene existe

porque sempre houve personalidades anormais como parte da população

geral.

Psicopatas pessoas cujo tipo de conduta chama fortemente a atenção e

que não se podem qualificar de loucos nem de débies; elas estão num campo

intermediário. São indivíduos que se separam do grosso da população em

termos de comportamento, conduta moral e ética. Vejamos a opinião dos vários

autores sobre a Personalidade Psicopática:

Uma das primeiras descrições registradas pela medicina sobre algum

comportamento que pudesse se identificar à idéia de Personalidade

Psicopática foi a de Girolano Cardamo (1501-1596), um professor de medicina

da Universidade de Paiva. O filho de Cardamo foi decapitado por ter

envenenado sua mulher (mãe do réu) com raízes venenosas. Neste relato

Cardamo fala sobre “improbidade”, quadro que não alcançava a insanidade


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total porque as pessoas que disso padeciam mantinham a aptidão para dirigir

sua vontade.

Pablo Zacchia (1584-1654), considerados por alguns como fundador da

Psiquiatria Médico Legal, descreve, em questões Médico Legais, as mais

notáveis concepções que logo dariam significação às “psicopatias” e aos

“transtornos de personalidade”.

Philippe Pinel, em 1801, publica seu Tratado médico filosófico sobre a

alienação mental e fala de pessoas que têm todas a s características da mania,

mas que carecem do delírio. Entendemos que Pinel chama de mania aos

estados de furor persistentes e comportamento florido, distinto do conceito

atual de mania. (Berrios,1993).

Dizia no tratado, que se admirava de ver muitos loucos que, em nenhum

momento, apresentavam prejuízo algum do entendimento, e que estavam

sempre dominados por uma espécie de furor instintivo, como se o único dano

fosse em suas faculdades instintivas. A falta de educação, uma educação mal

dirigida ou traços perversos e indômitos naturais, podem ser as causas desta

espécie de alteração.(Pinel,1988).

Prichard, tanto quanto Pinel, lutavam contra a idéia do filósofo Locke, o

qual dizia não poder existir mania se delírio, ou seja, mania sem prejuízo do

intelecto. Portanto, nessa época, os juízes não declaravam insanos nenhuma

pessoa que não tivesse um comprometimento intelectual manifesto

(normalmente através do delírio). Pinel e Prichard, tratavam de impor o

conceito, segundo o qual, existiam insanidades sem comprometimento

intelectual, mas possivelmente com prejuízo afetivo e volitivo ( da vontade). Tal


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posição acabava por sugerir que essas três funções mentais, o

intelecto,afetividade e a vontade poderiam adoecer independentemente.

Em 1835, Prichard publicava sua obra da qual falava da insanidade

moral. A partir desta obra o historiador G. Berrios (1993) discute o conceito da

insanidade moral como o equivalente ao nosso atual conceito de psicopatia.

Moreal, em 1857, parte do religioso para elaborar sua teoria da

degeneração. O ser humano tinha sido criado segundo um tipo primitivo

perfeito e, todo desvio desse tipo perfeito, seria uma degeneração. A essência

do tipo primitivo e, portanto da natureza humana, é a contínua supremacia ou

dominação do moral sobre o físico.

A doença mental inverteria esta hierarquia e converteria o humano “em

besta”. Uma doença mental não é mais que a expressão sintomática das

relações anormais que se estabelecem entre a inteligência e seu instrumento

doente, o corpo. A degeneração de um indivíduo se transmite e se agrava ao

longo das gerações, até chegar à decadência completa (Bercherie, 1986).

Alguns autores posteriores, como é o caso de Magnam, suprimiram o elemento

religioso das idéias de Morel e acentuaram os aspectos neurobiológicos. Estes

conceitos afirmavam a ideologia da hereditariedade e da predisposição em

várias teorias teorias sobre as doenças mentais.

Em 1888, Koch (Schneider,1980) fala de inferioridade Psicopáticas mas,

se refere a inferioridade no sentido social e não moral, como se0 referiam

anteriormente. Para Koch, as inferioridades psicopáticas eram congênitas e

permanentes e divididas em 3 formas: disposição psicopática, tara psíquica

congênita e inferioridade psicopática.


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Dentro da primeira forma, disposição psicopática, se encontram os tipos

psicológicos astênicos, de Schneider. A tara inclui a “ as almas

impressionáveis, os sentimentos lacrimosos, os sonhadores e fantásticos,os

escrupulosos morais, os delicados e susceptíveis, os caprichosos, os

exaltados, os excêntricos, os justiceiros, os reformadores do estado e do

mundo, os orgulhosos, os indiscretos, os vaidosos e os presumidos, os

inquietos, os malvados, os colecionadores e os inventores, os gênios

fracassados e não fracassados”. Todos estes estados são causados por

inferioridades congênitas da constituição cerebral, mas não são considerados

doenças.

Personalidade criminosa, deliquência, criminalidade, etc. Isso seria o

memso que “tarado é uma pessoa normal pega em flagrante”. A tendência em

descobrir méritos nas atitudes sociopáticas, pelo simples fato delas se

ajustarem perfeitamente aos requisitos da emergência e da sobrevivência,

caem por terra ao considerarmos as questões gregárias e éticas associadas

aos propósitos das atitudes. Considerando os 3 elementos condutores mestres

da ação humana como sendo o Querer, o Dever e o conseguir na linguagem

Freudiana o Id, o ego e o superego sociopata seria aquele que não dispondo

ou dispondo deficitariamente do Dever (superego) estaria autorizado, por si

mesmo, a proceder da maneira mais eficiente para seu prazer ou sua

sobrevivência. Portanto, a despeito da eficácia existencial, o psicopata seria o

exemplar humano mais próximo da animalidade. Este é um fenômeno ao qual

todos estamos sujeitos de acordo com a existência eminente de severa

ameaça. A distinção e o mérito ético de cada um se medem de acordo com o

limiar,a partir do qual, recorremos à animalidade para conquista de nossos


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objetivos. Quanto mais vulnerável a animalidade menor o sentido (e

sentimento) ético da pessoa. O Psicopata vive na animalidade (das atitudes)

falta-lhe totalmene a condição ética. O psicopata não aprende com certas

experiências e nem com argumentações e menos ainda com o discurso ético.

O Psicopata começam a manifestar sua psicopatia desde criança. Gross, dizia

que o retardo dos neurônios para estabilizarem-se depois da descarga elétrica

determinava diferenças no caráter. No seu livro Inferioridades Psicopáticas,a

recuperação neuronal rápida determinava indivíduos tranqüilos, e os de

estabilização neuronal mais lenta, ou seja, com maior duração da estimulação,

seriam os excitáveis, portadores desta inferioridade.

Kraepelin, quando faz a classificação das doenças mentais usava o

termo Personalidade Psicopática para referir-se, precisamente, a este tipo de

pessoas que não são neuróticos nem psicóticos, também não estão incluídas

no esquema de mania-depressão, mas que se mantêm em choque

contundente com os parâmetros sociais vigentes. Incluem-se aqui os

criminosos congênitos, a homossexualidade, os estados obsessivos, a loucura

impulsiva, os inconstantes e os farsantes (Schneider, 1980).

Para Kraepelin, as personalidades psicopáticas são formas frustradas de

psicose, classificadas segundo um critério fundamentalmente genéticoe

considera que seus defeitos se limitam essencialmente à vida afetiva e a

vontade (Bruno,1996).

Scheneider, em 1923, elabora uma conceituação e classificação do que

é, para ele, a personalidade psicopática, descarta no conjunto classificatório da

personalidade atributos tais como, a inteligência, os instintos e sentimentos

corporais e valoriza como elementos distintivos o conjunto dos sentimentos e


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valores, das tendências e vontades. Para este autor, as Personalidades

Psicopáticas, formam um subtipo daquilo que classificava como Personalidade

Anormais, de acordo com o critério estatístico e da particularidade de sofrerem

por sua anormalidade e/ou fazerem outros sofrer. Entretanto, a calssificação de

Personalidade Psicopática não pode ser reconhecida ou aceita pelo próprio

paciente e, às vezes, nem mesmo por algum grupo social pois, a característica

de fazer sofrer os outros ou a sociedade é demaisiadamente relativo e

subjetivo: um revolucionário, por exemplo, é um psicopata para alguns e um

herói para outros. Em conseqüência dessa relatividade de diagnóstico (devido

á relatividade dos valores), não é lícito ou válido realizar um diagnóstico do

mesmo modo que fazemos com as outras doenças. Pode-se destacar neles

características e propriedades que os caracterizam de maneira nada

comparável aos sintomas de outras doenças. O psicopata é uma maneira de

estar no mundo, é uma maneira de ser estável. Para este autor, o psicopata é

um indivíduo que não leva em conta as circunstâncias sociais, é uma

personalidade estranha, separada do seu meio. A psicopatia não é, portanto,

exógena, sendo sua essência constitucional e inata, no sentido de ser pré-

existente e emancipada das vivências. Mas a conduta do psicopata nem

sempre é toda psicopática, existindo momentos, fases e circunstâncias de

condutas adaptadas, as quais permitem que ele passe desapercebido em

muitas áreas do desempenho social. Essa dissimulação garante sua

sobrevivÊncia social. Schneider, englobou no conceito de Personalidade

Psicopática todos os desvios da normalidade não suficientes para serem

considerados doenças mentais francas, incluindo nesses tipos, também aquele

que hoje entendemos como psicopata. Dizia que a Personalidade Psicopáticas


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(que não tinha o mesmo conceito do sociopata de hoje) como aquelas

personalidades anormais que sofrem por sua anormalidade e/ou fazem sofrer a

sociedade. Ele distinguia os seguintes tipos de Personalidade Psicopática:

Hipertímicos,depressivos, inseguros, fanáticos, carentes de atenção,

emocionalmente lábeis, explosivos, desalmados, abúlicos e astênicos.

Evidentemente o que entendemos hoje por psicopata ou sociopata seriam na

classificação de Schneider seriam os desalmados.

Mira y López definiu a personalidade psicopática como “...aquela

personalidade.” A conduta anti-social começa desde a infância, caracterizada

por atitudes de mentir, roubar, falsificar cheques, prostituir-se, assaltar,

maltratar animais, etc. Nota-se, desde tenra idade, uma ausência da

capacidade do sentimento de culpa e de arrependimento. Quando teatralizam

esses sentimentos, o fazem simplesmente para conseguir uma atenuação da

pena.

O Prof. E.Marques adota a denominação de Personalidade Psicopática

Amoral (ou simplesmente, PP) para o que considera Sociopatia. Como cita no

texto a seguir:

“O PP amoral é um indivíduo incapaz de incorporar valores.Ele funciona

sempre na relação prazer-desprazer-imediato. São indivíduos incapazes de se

integrar a qualquer grupo, devido ao seu egoísmo absoluto e a não aceitarem

qualquer tipo de regras. Só o que eles querem é o que interessa. No início, eles

até fazem amizades com facilidade mas, diante dos primeiros conflitos, a sua

amoralidade aparece em todo o seu potencial. Terminam por ser rejeitados

pelos grupos em pouco tempo. São, por isso, em geral, indivíduos solitários,
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que migram de grupo em grupo até que não restem mais grupos para os

aceitarem”.

Esse transtorno pode aparecer precocemente em tenra idade, conforme

diz o Prof. E. Marques:

“ Ainda crianças já aparece o seu componente amoral, por não

aceitarem regras jamais, não respeitarem qualquer limite e terem um

comportamento absolutamente inadequado na escola, de onde são

frequentemente expulsos. Já na adolescência tendem francamente para a

marginalidade e tentam integrar-se aos grupos marginais mas mesmo esses,

com a sua ética marginal rígida, logo o rejeitam. Quando pressionado pelo

ambiente, especialmente em ambientes fechados, como numa penintenciária,

eles atuam de modo primoroso, mal estruturado,predisposta à desarmonia

intrapsíquica, que tem menos capacidade que a maioria dos membros de sua

idade,sexo e cultura para adaptar-se às exigências da vida social”

E considerava 11 tipos dessas personalidades anormais muito

semelhantes aos tipos de Schneider, eram eles: Astênica, compulsiva,

explosiva, instável,histérica,ciclóide, sensitiv-paranóide, esquizóide, perversa,

hipocondríaca e homossexual.

Clecklev, em 1941, escreveu um livro chamado “A mascara da saúde”, o

qual se referia a este tipo de pessoas. Em 1964, descreveu as características

mais freuquentes do que hoje chamamos de psicopata.

Karpmam,disse:

“dentro dos psicopatas há dois grandes grupos,os depredadores e

os parasitas, os depredadores são aqueles que tomam as coisas

pela força e os parasitas tomam-na através da astúcia e do

engodo. Algumas características citadas por ele: problema de


27

conduta na infância;inexistência de alucinações e delírios;ausência

de manifestação neuróticas; impulsividade e ausência de

autocontrole;irresponsabilidade; encanto superficial; notável

inteligência e loquacidade; egocentrismo patológico;

autovalorização e arrogância; incapacidade de amar; grande

pobreza de reações afetivas básicas; vida sexual impessoal, trivial

e pouco integrada; indigno de confiança, falta de empatia nas

relações pessoais; manipulação do outro com recursos

enganosos; mentiras e insinceridade; perda específica da

intuição;incapacidade para seguir qualquer plano de vida; conduta

anti-social sem aparente arrependimento; ameaças de suicídio

raramente cumpridas; falta de capacidade para aprender com a

experiência vivida. Incapacidade de identificar valores morais,

incapacidade de compromisso com os outros, porém, existe

capacidade de sentimento de culpa incapacidade de identificar

valores morais, incapacidade de compromisso com os outros,

porém, existe capacidade de sentimento de culpa. (Kernberg,

1988).

Principais Sintomas

1. - Encanto superficial e manipulação

Nem todos psicopatas são encantadores, mas é expressivo o grupo

deles que utilizam o encanto pessoal e, conseqüentemente capacidade de

manipulação de pessoas, como meio de sobrevivência social.

Através do encanto superficial o psicopata acaba coisificando as

pessoas, ele as usa e quando não o servem mais, descarta-as, tal como uma

coisa ou uma ferramenta usada. Talvez seja esse processo de coisificação a

chave para compreendermos a absoluta falta de sentimentos do

psicopata para com seus semelhantes ou para com os sentimentos de seu


28

semelhante. Transformando seu semelhante numa coisa, ela deixa de ser seu

semelhante.

O encanto, a sedução e a manipulação são fenômenos que se sucedem

no psicopata. Partindo do princípio de que não se pode manipular alguém que

não se deixe manipular, só será possível manipular alguém se esse

alguém foi antes seduzido.

2. - Mentiras sistemáticas e Comportamento fantasioso.

Embora qualquer pessoa possa mentir, temos de distinguir a mentira

banal da mentira psicopática. O psicopata utiliza a mentira como uma

ferramenta de trabalho. Normalmente está tão treinado e habilitado a mentir

que é difícil captar quando mente. Ele mente olhando nos olhos e com atitude

completamente neutra e relaxada.

O psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para

conseguir safar-se de alguma situação. Ele sabe que está mentindo, não se

importa, não tem vergonha ou arrependimento, nem sequer sente desprazer

quando mente. E mente, muitas vezes, sem nenhuma justificativa ou motivo.

Normalmente o psicopata diz o que convém e o que se espera para

aquela circunstância. Ele pode mentir com a palavra ou com o corpo, quando

simula e teatraliza situações vantajosas para ele, podendo fazer-se

arrependido, ofendido, magoado, simulando tentativas de suicídio, etc. É

comum que o psicopata priorize algumas fantasias sobre circunstâncias reais.

Isso porque sua personalidade é narcisística, quer ser admirado, quer ser o

mais rico, mais bonito, melhor vestido. Assim, ele tenta adaptar a realidade à

sua imaginação, à seu personagem do momento, de acordo com a

circunstância e com sua personalidade é narcisística. Esse indivíduo pode


29

converter-se no personagem que sua imaginação cria como adequada para

atuar no meio com sucesso, propondo a todos a sensação de que estão, de

fato, em frente a um personagem verdadeiro.

3. - Ausência de Sentimentos Afetuosos Desde criança se observa, no

psicopata, um acentuado desapego aos sentimentos e um caráter dissimulado.

Essa pessoa não manifesta nenhuma inclinação ou sensibilidade por nada e

mantém-se normalmente indiferente aos sentimentos alheios Os laços

sentimentais habituais entre familiares não existem nos psicopatas. Além

disso, eles têm grande dificuldade para entender os sentimentos dos outros

mas, havendo interesse próprio, podem dissimular esses sentimentos

socialmente desejáveis. Na realidade são pessoas extremamente frias, do

ponto de vista emocional.

4. – Amoralidade

Os psicopatas são portadores de grande insensibilidade moral,

faltando-lhes totalmente juízo e consciência morais, bem como noção de ética.

5. - Impulsividade

Também por debilidade do Superego e por insensibilidade moral, o

psicopata não tem freios eficientes à sua impulsividade. A ausência de Os

laços sentimentais habituais entre familiares não existem nos psicopatas.

Além disso, eles têm grande dificuldade para entender ossentimentos dos

outros mas, havendo interesse próprio, podem dissimular esses sentimentos

socialmente desejáveis.

Existem psicopatas que nunca iram cometer um assassinato porém

sempre vão lesar as pessoas que estão a sua volta, alguma pessoa ou

instituição específica. Esses psicopatas podem causar um dano emocional,


30

psicológico,social e material as vítimas. Mas todos possuem as mesmas

características.
31

CAPÍTULO II

Criminosos Psicóticos X Criminosos Psicopatas

Os criminosos psicóticos não tem uma consciência precisa da dimensão

dos seus atos, agem em consequência de delírios e alucinações, sem

percepção crítica das ações que cometem. Normalmente, estes indivíduos são

dados como inimputáveis em tribunal.

Os criminosos psicopatas diferem do psicótico porque possui uma

consciência precisa do que faz, ou seja, consegue distinguir, perfeitamente, o

certo do errado e não apresenta sintomatologia alucinatória. Estes indivíduos

são, na maioria das vezes, considerados imputáveis pelas instâncias judiciais e

condenados a penas bastante pesadas.

Michael Benezech (1998) propõe uma classificação para estes dois tipos

de criminosos. Segundo este autor, o homicida psicopata tanto pode provir de

famílias desestruturas ou banais. O pai é uma figura ausente, delinqüente ou

violenta e a mãe comporta-se, muitas vezes, de forma peculiar. A sua conduta

caracteriza-se, essencialmente, por uma incoerência reativa oscilando entre a

passividade, a submissão, a agressividade e a rejeição, do transbordo de afeto

à frieza indiferente, do rigor moral extremo ao laxismo ou à cumplicidade. Essa

ambivalência de sentimentos é, constantemente, posta em ação, provocando

na criança estados de insegurança e indefinição de atitudes.

Enquanto que o ambiente familiar do psicótico é monopolizado pela

figura materna, quase sempre uma mãe simbiótica e controladora.

Em termos psicanalíticos a mãe pode representar o centro do amor e do

perigo, enquanto o pai simboliza a lei e a ordem que de certa forma, se


32

interpõe entre a mãe e a criança. O pai auxilia o bebe a criar um espaço

psíquico de segurança. No qual, a criança consegue não só ver-se a si própria

como separada da mãe, mas pode também, perceber que a mãe possui um

relacionamento com o pai. Isto representa para a criança a possibilidade de

conter o seu impulso para a união indissolúvel com o objeto de amor

(frequentemente a mãe), com o pai a apresentar-se como a proteção para fugir

dessa imersão, “o que a protege ao mesmo tempo do medo de ser aniquilada

e engolfada” (Fonagy, 1995).

Este fenômeno, que acontece durante o complexo de Édipo, não se

processa normalmente. A mãe incorpora e domina toda dinâmica familiar

relegando o paipara segundo plano. Desta forma, a criança não consegue

atingir a sua integridade e este fato acarreta conseqüências para toda a vida. É

de extrema importância para o desenvolvimento psíquico de um indivíduo a

presença dad figuras parentais de forma consistente. Os pais tem que possuir

limites e saber impô-los, de maneira, a serem interiorizados pelas crianças.

O psicopata não possui antecedentes psiquiátricos, mas, na maioria das

vezes, já tem cadastro criminal, ao contrário do psicótico que não possui

antecedentes criminais, mas já esteve, por diversas vezes, hospitalizado em

instituições psiquiátricas. O consumo de álcool e de estupefacientes é comum

no criminosos psicopatas, enquanto que no psicótico é raro este tipo de

consumos. Geralmente, as drogas que estes sujeitos tomam são prescitas

pelos médicos ou resultantes de tratamentos psiquiátricos como quimioterapias

psicotrópicas.

O estilo de vida do criminoso psicopata é bastante movimentado,

normalmente, vive acompanhado; tem mulher e filhos. \possui uma vida social
33

que, á primeira vista, é perfeitamente adequada, sendo, no entanto, um

indivíduo bastante superficial e desprovido de sentimentos imprescindíveis a

um bom relacionamento interpessoal, como, por exemplo, a empatia. Estes

indivíduos são frios e manipuladores. Desta forma, conseguem fingir emoções

e apresentarem-se ao outro como extremamente sociáveis e sedutores, o que

lhe permite sempre enganar as vítimas.

O seu narcisismo é, bastante, elevado o que aumenta a sua

predisposição para comportamentos vingativos. A vingança esta inerente a

uma sede para destruir e inflingir sofrimento, Um vingador obtém prazer no

sofrimento do outro. Ele não vai só matar, mas violar, torturar, pilhar e queimar

o q restar. Isto deve-se a satisfação que consegue obter do sofrimento da

vítima. A ausência de empatia e sentimentos de que o mundo que roda a sua

volta são o centro de todos os acontecimentos, e um sentido de tudo que lhe

pode ser negado contribuírem para que se sinta de tal forma grandioso que

nenhuma ofensa ou injúria pode ser feita contra ele, o que de certa forma

diminui as restrições ou constrangimentos sociais e éticos que poderiam

possuir. A sua ética está virada somente para si próprios.

“ O narcisismo pode, assim, ser descrito como um estado da experiência

em que só a própria pessoa, seu corpo, suas necessidades, seus sentimentos,

seus pensamentos, seus atributos, tudo e todos que lhe pertença são

experimentados como plenamente reais, enquanto que tudo e todos que não

formam parte da sua pessoa ou não constituem objeto de suas necessidades

não são percebidos apenas por meio de um reconhecimento intelectual,

enquanto afetivamente sem peso e sem cor. (Fromm,1975).


34

A agressividade pode ser classificada em dois tipos, como afetiva versus

predatória (Raine, 1998) ou reative versus operativa (Blair, 2001). A

agressividade afetiva ou reativa manifesta-se em resposta a eventos ou

situações que provoquem sentimentos de frustração, raiva ou medo no

indivíduo.

A agressividade operativa ou predatória, por outro lado, é planeada e

executada de maneira calculada para atingir um objetivo específico. A

justificação para a diferenciação do comportamento agressivo em duas

categorias é a hipótese de que estas manifestações comportamentais seriam

processadas por substratos neuronais distintos. (Raine1998;Blair 2001).

O criminoso psicótico vive, geralmente, sozinho ou com os pais. Não

consegue, como o psicopata, enquadrar-se no mundo social e profissional,

ficando sempre limitado à vida familiar com os pais ou em caso de morte

destes, fica sozinho na casa onde nasceu. Dito de outra maneira, é um solitário

que se mantém dentro do território onde foi criado viajando muito raramente.

Quanto ao psicopata e no que diz respeito à passagem ao ato, este

quase sempre premedita os seus crimes, caso que só acontece nos criminosos

psicóticos quando estes são paranóicos.

A vítima é, na maioria das vezes, alguém que o psicopata conhece ou,

então, é alguém que possui as características que, de alguma forma, excitam o

predador.

A morte da vítima não ocorre de imediato; pode haver longos diálogos

com o agressor, possíveis torturas ante-mortem e sadismo sexual. Quando

mata, este indivíduo, tem como objetivo final humilhar a vítima. Para ele, o

crime é secundário, pois o que realmente lhe interessa é exercer poder sobre
35

ela, dominá-la, de forma a se sentir superior. O que o psicopata hedonista

busca é o seu próprio prazer.

O cadáver é escondido após o crime para que o assassino não seja

descoberto pela polícia. O predador pode voltar ao local onde escondeu o

corpo para reviver e experenciar todo o prazer e satisfação sexual, ou não, que

lhe causou assassinar a vítima.

O arrependimento e a culpa não se verificam nestes casos, o que

transforma a hipótese de suicídio, após o crime, um acontecimento muito

remoto.

No caso do assassino em série psicótico podemos encontrar algumas

diferenças de comportamento em relação à condução dos atos criminosos.

Este age sempre sozinho e seu comportamento modifica-se pela altura

do crime, ou seja, torna-se perigoso anunciando o ato. As suas vítimas são

pessoas que ele conhece, muitas vezes, até bastante próximas.

A passagem ao ato é feita de forma desorganizada e muito violenta com

enucleação e castração possíveis. Durante a agressão existe pouco ou

nenhum diálogo, é tudo muito rápido e geralmente a vítima é violada. A arma

que este utiliza para realizar os seus crimes é escolhida ao acaso, ou seja,

geralmente, é o que estiver à mão.

Todo assassinato é vivenciado pelo psicótico com grande ansiedade e

angústia, podendo muitas vezes, o indivíduo entrar em choque e ficar prostrado

junto ao corpo da vítima. O suicídio acontece, frequentemente, após os

crimes.Quando não acontece, o cadáver é abandonado sem que o criminoso

tome qualquer precaução para que o crime seja ocultado. Estes indivíduos
36

devido ao sentimento de culpa que sentem denunciam-se à polícia ou deixam-

se prender sem oferecer resistência.

Hoje em dia as abordagens mais interessantes e em constante evolução

no estudo da Psicopatia, para além da abordagem psico-neurofisiológica, são:

o estudo dos traços de psicopatia em pessoas ditas normais, e a abordagem

que encara o psicopata como possuidor de agressividade predatória.

Vicente Garrido (2003), afirma que há pais psicopatas, patrões

psicopatas, maridos psicopatas, políticos psicopatas,empresários psicopatas,

colegas de trabalho psicopatas. A maioria deles jamais serão presos e jamais

cometerão algum crime. Mas geralmente enganam, manipulam e arruínam

financeiramente e emocionalmente dos que tem a má sorte ou a imprudência

de se associar pessoal ou profissionalmente com eles. Na sociedade atual, a

psicopatia encontra um campo favorável , na medida em que o meio social

incluí crenças e valores que contribuem para o desenvolvimento de

comportamentos não solidários, egocêntricos e até mesmo agressivo, a

psicopatia aumentará e afetará cada vez mais sujeitos.


37

CAPÍTULO III

A JUSTIÇA E O MANICÔNIO

Um criminoso é um indivíduo que viola uma norma penal, sem

justificação e de forma reprovável.Aos criminosos condenados e submetidos a

um devido processo legal aplica-se uma sanção criminal, uma pena ( privativa

de liberdade, restritiva de direitos, multa ).

A punição aplicada a um criminoso pode ser de caráter corretivo, com a

intenção de reeducar o indivíduo para que não volte a cometer delito, ou de

caráter exemplar, com a intenção de desincentivar outras pessoas a

cometerem atos semelhantes.

A classificação dos criminosos segundo Candido Motta pode ser assim

resumida:

Criminosos impetuosos - são aqueles que cometem crimes movidos

por impulso emotivo, por exemplo os crimes passionais ou crimes que ocorrem

em uma discussão de trânsito. O criminoso impetuoso costuma se arrepender

em seguida.

Criminosos ocasionais - são aqueles que decorrem da influência do

meio, isto é, são pessoas que acabam caindo em "tentação" devido a alguma

circunstância facilitadora. Neste caso aplica-se o ditado "a ocasião faz o

ladrão". Os delitos mais comuns são furto e estelionato. O criminoso ocasional

tem chances de se redimir.


38

Criminosos habituais - são os profissionais do crime. Normalmente se

iniciam no crime durante a adolescência e progressivamente adquirem

habilidades mais sofisticadas. Praticam todo tipo de crime. A violência tem o

intuito de intimidar a vítima.

Criminosos fronteiriços - são criminosos que enquadram-se em zona

fronteiriça entre a doença mental e os indivíduos normais. São pessoas que

delinquem devido a distúrbios de personalidade, por exemplo, transtorno de

personalidade anti-social (psicopatia); transtornos sexuais etc. Em geral, são

pessoas frias, sem valores éticos e morais, que cometem crimes com extrema

violência desmotivada.

Loucos criminosos - são pessoas que possuem doença mental, isto é,

alteração qualitativa das funções psíquicas que compromentem o entendimento

e a auto-determinação do indivíduo. Por exemplo: esquizofrênicos, paranóicos,

psicóticos, toxicômacos graves etc. Em geral agem sozinhos, impusivamente,

sem premeditação e remorso.

A evolução histórica mostra-nos que a doença mental sempre esteve

cercada de misticismos, rituais, superstições, e que o doente mental sempre foi

identificado à violência, ou seja, ser louco é ser violento representando uma

ameaça à sociedade que deveria então afastá-lo de seu convívio, geralmente

trancando-os em hospitais psiquiátricos e exluino totalmente estes do convívio.

Abordaremos especificamente o doente mental criminos psicótico e criminoso

psicopata hoje, no séc. XXI, aquele que cometeu crime em decorrência da

doença mental sua relação com a justiça


39

As relações entre a psiquiatria e a Justiça penal têm sido, pelo menos

desde o séc. XIX, bastante estreitas. Por um lado, a Justiça não dispunha de

meios para dar conta de certo tipo de crime cujas características pareciam fugir

completamente à razão. Culpado ou louco, eis a questão ao mesmo tempo

deixada em aberto pela Justiça criminal e proposta pela psiquiatria e psicologia.

Enquanto a Justiça só pode agir sobre o delito depois de cometido, a

psiquiatria e psicologia parece capaz de prevê-lo em função de critérios de

periculosidade, definidos cientificamente.

Nota-se a existência, desde então, de uma polaridade entre a justiça e a

medicina, segundo a qual o saber médico tende a estabelecer meios de

formalizar a loucura num estatuto cientifico e, por outro lado, a justiça procura

determinar o ato criminoso e a sua sentença a partir de um juízo moral.

Impossível, pois, declarar alguém ao mesmo tempo culpado e louco; o

diagnóstico de loucura, uma vez declarado, não pode ser integrado no Juízo,

ele interrompe o processo e retira o poder da Justiça sobre o autor do ato.

É nesse ambiente de novas definições que surge a medida de

segurança, como proposta de proporcionar ao louco criminoso um destino

diferente daquele dado ao criminoso comum. Nesse ínterim, as medidas de

segurança têm caráter preventivo e terapêutico, e não punitivo, pois

prescrevem tratamento.

O cárcere ou o asilo, tal será o destino de uma determinada categoria de

indivíduos. Entretanto, na própria fronteira entre as duas instituições, haverá

aqueles considerados excessivamente lúcidos para as casas de alienados e


40

insuficientemente responsáveis para a prisão, o que suscita uma questão: se o

louco-criminoso não pode ser simplesmente condenado à pena de prisão ou

ser internado em manicômio comum, qual seria o local adequado a ele? Uma

resposta a essa questão leva à adoção de medidas de segurança que trazem

consigo a exigência de diversos estilos arquitetônicos e a existência de

aparelhagem interna nos estabelecimentos penais destinados a sua execução.

Assim, desenvolve-se o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico

(HCTP), um hospital-prisão que visa a assegurar a custódia e o tratamento do

internado. O HCTP, em sua essência, é ambivalente e ambíguo, já que agrupa

não só características hospitalares como equipe de saúde, enfermarias, postos

de enfermagem, salas de atendimento médico e psicológico, oficinas

terapêuticas, como também características de presídio, simbolizadas pelo

sistema de segurança composto de equipe de guardas, muros altos com

arame, portões de ferro, grades em portas, janelas e cadeados.

Um dos grandes desafios da psicologia voltada para o cuidado nas

situações de cárcere seria vencer o preconceito, a discriminação, a aversão e o

medo, desempenhando seu verdadeiro papel no cuidado humano, que envolve

o respeito à vida, à dignidade e aos direitos da pessoa em todo seu ciclo vital,

sem discriminação de qualquer natureza.

3. 1 A loucura e suas relações com a justiça

Ao longo da história, várias expressões foram usadas para designar a

loucura. Em Roma, por exemplo, consta que o furiosos era o indivíduo que,
41

entre as suas crises tinha intervalos lúcidos durante os quais deveria ser

considerado plenamente imputável. Já a dementia seria a loucura plena, sem

intervalos. Para a alienação da mente eram empregados os termos mente

captus e mente alienatione. O imbecilitas era o incapaz para gerir os próprios

bens.

O Direito Romano preocupava-se com os aspectos civis, ou seja, com a

capacidade do louco. Assim, a punição ao louco era inconcebível, pois a

própria doença já se encarregava de fazê-lo. Se necessário fosse, medidas

poderiam ser tomadas como contenção ou acorrentamento com a finalidade

apenas de preservar a segurança e integridade das pessoas.

As ordenações do Reino (Filipinas), de 11 de janeiro de 1603, não se

referem especificamente ao louco, mas incluem o desenvolvimento mental

incompleto (menoridade) no capítulo da responsabilidade penal.

O código penal do Império do Brasil, de 16 de dezembro de 1824, no

artigo 10, parece ter-se inclinado no sentido de excluir o crime, quando fosse

cometido por um louco de todo o gênero, salvo em intervalo lúcido.

Os loucos que cometessem fatos tipificados como crimes eram

recolhidos às casas especialmente destinadas ou entregues às suas famílias,

como parecesse mais conveniente ao juiz, conforme artigo 12.

O código penal dos Estados Unidos do Brasil, de 1890, também parece

ter colocado a saúde mental como pressuposto para a configuração de crime.

Não eram considerados criminosos os menores de 9 anos, os maiores de 9 e

os maiores de 14 que não tinham discernimento, os portadores de imbecilidade


42

nativa, enfraquecimento senil, os privados totalmente dos sentidos e da

inteligência e os surdosmudos sem discernimento, artigo 26.

Aqui, o destino do louco criminoso continua a ser determinado pelo juiz,

mas com uma significativa mudança, a internação passou a exigir

fundamentação com base na doença mental, na periculosidade do agente e na

garantia da ordem pública.

O código penal de 1940 trouxe algumas novidades como, por exemplo, a

definição de responsabilidade penal em contraposição aos pressupostos da

existência do crime.

Pela primeira vez surge a medida de segurança, sucessora da primitiva

internação para segurança do público, introduzida pelo código republicano de

1890 (art.29). A medida de segurança tinha como fundamento o grau de perigo

que determinados delinqüentes representavam para a sociedade

(periculosidade).

Surge o inovador código penal de 1969, que revogado na voccacio legis,

nunca entrou em vigor. Na versão original, o código mantinha a maioridade

penal nos 18 anos. Porém, excepcionalmente, se o menor entre 16 e 18 anos

demonstrasse suficiente desenvolvimento psíquico para entender o caráter

ilícito do fato a governar a sua conduta, poderia o juiz declará-lo imputável,

artigo 33.

O grande avanço trazido pelo código de 1969 foi à possibilidade de não

internação do louco, se não houvesse periculosidade. Junto com a sentença, o

juiz deveria declarar o grau de periculosidade do condenado, artigo 51.


43

Em tema de inimputabilidade penal, doença mental é toda manifestação

nosológica, de cunho orgânico, funcional ou psíquico, episódico ou crônico, que

pode, eventualmente, ter como efeito a situação de incapacidade psicológica

do agente de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo

com esse entendimento, conforme artigo 26 do Código Penal.

3.2 O surgimento do manicômio judiciário

A questão do surgimento do Manicômio Judiciário pode ser entendida

por dois paradigmas: "a partir de que relações significativas entre

representações e práticas que se ocupam da transgressão às normas e valores

sociais foi possível surgir a figura do louco-criminoso e a instituição que dele se

ocupa?".

As questões levantadas colocam em foco o que se julgou fundamental

para a compreensão do surgimento do Manicômio Judiciário, ou seja, a

maneira como se constituiu o significado social do crime ou da transgressão, a

partir de diversos discursos e práticas que os tomaram enquanto objetos de

reflexão e de intervenção, particularmente no discurso e na prática da medicina

mental.

Efetivamente, parece ter sido a Inglaterra o primeiro país a erigir um

estabelecimento especial para os delinqüentes alienados, a prisão especial de

Broadmoon em 1870. Antes dela, tanto a França quanto os Estados Unidos,

havia, apenas designado anexos especiais a alguns presídios para a reclusão

e tratamento dos delinqüentes loucos ou dos condenados que enlouqueceram

nas prisões.
44

O direito brasileiro, através da lei de execução penal, vem regulamentar

como deve ser a estrutura do Hospital de Custódia e Tratamento através de

seu art.99. "O Hospital de custódia e tratamento psiquiátrico destina-se aos

inimputáveis e semi-imputáveis referidos no artigo 26 e em seu parágrafo único

do Código Penal".

As situações se misturam e se tornam confusas num Manicômio

Judiciário. A dicotomia custodiar/tratar encontra-se veementemente

exacerbada em todos os momentos. De um lado, tem-se a equipe terapêutica,

sempre buscando criar um ambiente que proporcione tratamento, realizando

trabalhos como oficina de argila, oficina da terra, musicoterapia, debates,

palestras, saídas terapêuticas, entre outros. De outro lado, encontra-se a

equipe de segurança, composta por guardas, os quais sabem de sua

importância na instituição e que sem eles o caos se instalaria, procurando

manter a ordem e a disciplina com rigor, deixando bem claro o caráter prisional

do estabelecimento.

Porém, parece-nos que conflitos não são privilégios apenas das equipes

internas do Manicômio Judiciário, "pois ainda estes desentendimentos já vêm

de instâncias superiores: frente à legislação, o primeiro ponto a ser descrito é o

que se refere à própria posição do perito psiquiátrico e a relação entre o seu

papel e o que é desempenhado pelo juiz. [...] não se pode deixar de perceber o

conflito de competência que subjaz à superfície ordenada das disposições

legais e como, através delas, a autoridade jurídica se protege, impondo limites

ao poder de intervenção dos psiquiatras em matéria penal".


45

Por conseguinte, o cumprimento da medida de segurança no manicômio

judiciário invoca o seguinte dilema: tratamento ou punição? O HCTP é uma

instituição vinculada à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado e é

uma instituição protetora da sociedade retendo aqueles que, em decorrência de

transtorno mental, violaram as leis de sociabilidade civil, ou seja, desviaram-se

e cometeram crimes. Esse tipo de criminoso, o direito penal trata de maneira

diferente do criminoso comum, baseando-se na noção de culpabilidade. O

criminoso psicótico é isento de pena por ter praticado o ato em estado de não-

responsabilidade jurídico-legal.

À luz do direito, as medidas de segurança não têm caráter repressivo e

muito menos penal. São medidas preventivas e terapêuticas, pois prescrevem

tratamento. Entretanto, os Manicômios Judiciários jamais cumpriram essa

finalidade, funcionando como instituição entre a saúde e a justiça, entre o

tratamento e a penitência.

O destino do louco-criminoso sofreu mudanças no decorrer do tempo

que, a princípio, o louco-criminoso era tratado como criminoso comum, não

sendo levado em consideração seu estado mental alterado. Porém, à medida

que o Estado se organiza, surgem leis que vão estabelecer um novo olhar

sobre o louco-criminoso, pois, se loucura é sinônimo de falta ou deficiência das

faculdades mentais, incapacidade de compreensão do que é certo ou errado, o

loucocriminoso é uma particularidade, devendo ser tratado de forma diferente.

Sendo o agente incapaz de conter os impulsos criminosos determinados por

sua anomalia psíquica, a sistemática crime/castigo é inútil e imoral. Não é

válido, portanto, dispensar tratamento idêntico ao mentalmente sadio e ao


46

psiquicamente incapaz, ou seja, que teria a pena quando a manifestação

mental patológica impede que o agente aprenda com a conseqüência dos seus

erros?

A pena comum, prisão/punição, é aplicada aos imputáveis, àqueles que

têm condições mentais mínimas de responder penalmente pelo ato criminoso

que praticou. Ela é um dos elementos da culpabilidade, do juízo de reprovação

social da conduta. Dessa maneira imputabilidade se traduz na capacidade

psíquica abstrata de alguém ser responsabilizado por infração penal.

A partir do direito penal o louco-criminoso passa a ser denominado

inimputável, ou seja, agente que, por doença mental ou desenvolvimento

mental incompleto ou retardado, é, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente

incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com

esse entendimento.

Entendendo os doutos da lei a singularidade do louco-criminoso, passa a

ser necessário dar outro destino, que não a pena/prisão ao louco-criminoso.

Surge, assim, a medida de segurança como solução a essa problemática. As

medidas de segurança variam de acordo com o estado do praticante e de

acordo com o delito, sendo de dois tipos: internação e tratamento ambulatorial,

centrado numa dupla finalidade: proteger a sociedade dos loucos-criminosos e

tratá-los até que cesse a periculosidade.

As medidas de segurança são também sanções penais, à semelhança

das penas. Diferem, porém, destas, principalmente pela natureza e

fundamento. Enquanto as penas têm caráter retributivo-preventivo e se


47

baseiam na culpabilidade, as medidas de segurança têm natureza apenas

preventiva e encontram fundamento na periculosidade do sujeito.

A medida de segurança artigo 97 §1º do Código Penal assinala que a

internação e/ou tratamento ambulatorial serão por tempo indeterminado,

perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação

de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de um a três anos. Por outro

lado, a cessação de periculosidade se dá findo o prazo mínimo de duração da

internação ou da submissão a tratamento ambulatorial. A verificação do estado

de periculosidade do agente por meio de perícia médica determinará a

cessação da execução da medida de segurança.

A assistência mecanizada manipula, ordena e domestica os corpos,

forjando práticas institucionalizadas, para as quais não é preciso conhecimento

cientifico, ou algum treinamento especifico, são apenas práticas domésticas,

aplicadas no espaço institucional com o objetivo de legitimar e consolidar um

poder sobre corpos e mentes doentes


48

CONCLUSÃO

Este trabalho possibilitou um estudo maior das características de dois

grupos importantes de criminosos dentro da justiça e da saúde mental. O

psicopata é um indivíduo incapaz de incorporar valores. Ele funciona sempre

na relação prazer-desprazer-imediato. São indivíduos incapazes de sentir

amor, arrependimento e culpa. Tem como características um egoísmo e

egocentrismo absoluto que faz com que eles se importem apenas com o

quererem, não importanto o que pode acontecer as outras pessoas envolvidas.

Podem levar uma vida normal, casar, ter filhos, trabalhar no entanto sua

capacidade de seguir regaras é praticamente nula. São extremamente

simpáticos e encantadores quando necessitam,mas no entanto não sentem

empatia por ninguém. Esse transtorno pode aparecer precocemente, ainda

crianças já aparece o seu componente amoral, por não aceitarem regras

jamais, não respeitarem qualquer limite e terem um comportamento

absolutamente inadequado na escola, de onde são frequentemente expulsos.

Já na adolescência tendem francamente para a marginalidade e tentam

integrar-se aos grupos marginais mas mesmo esses, com a sua ética marginal

rígida, logo o rejeitam. Quando pressionado pelo ,ambiente, especialmente em

ambientes fechados, como numa penintenciária, eles atuam de modo

primoroso, mal estruturado,predisposta à desarmonia intrapsíquica, que tem

menos capacidade que a maioria dos membros de sua idade,sexo e cultura

para adaptar-se às exigências da vida social.


49

Os psicóticos agem sobre forma de um violento impulso, agindo sem

premeditação e sobre forte emoção, geralmente usam armas que estejam no

local, e agem exclusivamente sobre a forma de delírios e alucinações. Como

por exemplo: escutar vozes que mandam matar. Estes criminosos, ao contrário

do psicopata sentem uma grande culpa ou remorço, não oferecem resistência a

prisão quando pegos e é bastante comum que eles cometam suicídio após

cometer o crime devido a culpa que os persegue. Eles agem sem saber o que

estão fazendo ao contrário do psicopata que conhece todas as regras e leis e

não seguem. Sobre a punição que existe, as penas têm caráter retributivo-

preventivo e se baseiam na culpabilidade, as medidas de segurança têm

natureza apenas preventiva e encontram fundamento na periculosidade do

sujeito.

A medida de segurança artigo 97 §1º do Código Penal assinala que a

internação e/ou tratamento ambulatorial serão por tempo indeterminado,

perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação

de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de um a três anos. Por outro

lado, a cessação de periculosidade se dá findo o prazo mínimo de duração da

internação ou da submissão a tratamento ambulatorial. A verificação do estado

de periculosidade do agente por meio de perícia médica determinará a

cessação da execução da medida de segurança.

Conforme o estudo desta pesquisa concluímos que o criminoso

psicopata é mais perigoso para a sociedade do que o criminosos psicótico.

Devido ao criminoso psicopata não sentir culpa, não ter afeto, não apresentar

arrependimento e por planejar seus crimes friamente, enquanto o criminoso


50

psicótico age sobre efeito de um surto e este mesmo criminoso mantido em

tratamento psiquiátrico e psicológico, devido ao controle de sua patologia ele

raramente chegará ao extremo de cometer um crime.


51

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39. Vicente Garrido,O Psicopata, um camaleão na sociedade atual. Editora:


Paulinas.
54

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

CRIMINOSOS PSICÓTICOS E CRIMINOSOS PSICOPATAS 10

1.1 – Criminosos Psicóticos 10

1.2 – Criminosos Psicopatas 17

CAPÍTULO II

Criminosos Psicóticos X Criminosos Psicopatas 31

CAPÍTULO III

A JUSTIÇA E O MANICOMIO 37

3.1 – A loucura e suas relações com a justiça 40

3.2 – Surgimento do Manicômio judiciário 43

CONCLUSÃO 48
55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 51

ÍNDICE 54
56

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes. Projeto Instituto A Vez do


Mestre.

Título da Monografia: Criminosos Psicóticos X Criminosos Psicopatas. Qual a


diferença entre criminosos psicóticos e criminosos psicopatas?

Autor: Marcela Carreiro Monteiro de Barros

Data da entrega: 24 de fevereiro de 2010

Avaliado por: Ana Paula Ribeiro Conceito:

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