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de caráter íntegro; honrado, honesto, reto (Houaiss).
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A Quarta Força
Devo também dizer que considero a Psicologia Humanista, ou Terceira Força da
Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Psicologia ainda “mais
elevada”, transpessoal, transumana, centrada mais no cosmo do que nas necessidades e
interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade, da individuação e
quejandos4 (Maslow [1968], p. 12).5
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Os colchetes marcam o fim da página na edição original.
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Ou seja, que se encontra estruturada psiquicamente (Veríssimo).
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que ou o que é da mesma natureza, semelhante (Houaiss).
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Lembra-nos a proposta de Nietzsche da Superação do Homem, a transmutação, simbolizada por
Zaratustra (Veríssimo).
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Todos os autores são norte-americanos. Henry David Thoreau (1817 —1862), poeta,
filósofo naturalista (amava a natureza, e é um referencial para estudos de ecologia); Walt
Whitman (1819 –1892) poeta, ensaísta e jornalista. Nos seus poemas, celebrou a natureza
humana e a vida em geral. Numa de suas obras, expressa um ideal de unidade cósmica que o
Eu representa; William James, filósofo, pioneiro da psicologia e referência para estudos da
experiência religiosa e da psicologia transpessoal (1842 – 1910); John Dewey, filósofo e
pedagogo (1859 – 1952).
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SZASZ, T. S. “The Myth of Mental Illness,” American Psychol., 1960, 15, 113-118.
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MAY, R. e outros (orgs.). Existence, Basic Books, 1958. [E] MAY, R. e outros (org.).
Existential Psychology. Random House, 1961.
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que serve para a descoberta ou para a investigação de fatos; diz-se de hipótese de trabalho que, a
despeito de ser verdadeira ou falsa, é adotada a título provisório como ideia diretriz na investigação dos
fatos (Houaiss).
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Aqui está um forte ponto de tensão com a psicologia existencial pautada em Heidegger ou em Sartre
(Veríssimo).
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x Homeostase
Coerente com as outras teorias holísticas, Maslow (1,3) também rejeita uma definição de
motivação baseada em conceitos de equilíbrio, homeostase ou redução de impulso. De
acordo com Maslow, os anos recentes de pesquisa e experiência em psicoterapia,
criatividade, psicologia infantil e trabalho com soldados portadores de lesões cerebrais
repudiaram veementemente essas teorias (Frick, 1975, p. 169).
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* Caráter exigente (demand-character) é empregado por Maslow de acordo com o conceito
gestaltista que caracteriza os atributos provocadores de necessidade dos objetos. Assim, uma
reluzente maçã vermelha “exige” ser comida; um quadro impressionante “exige” ser olhado e
admirado. (N. do T.).
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Crédito à ciência12
É essa espécie de pesquisa que recomendo mais insistente e urgentemente aos jovens e
ambiciosos psicólogos, sociólogos e cientistas sociais em geral. E a outras pessoas de boa
vontade, que querem ajudar a construir um mundo melhor, recomendo veementemente
que considerem a ciência — a ciência humanista — uma forma de fazer isso, uma forma
muito boa e necessária, talvez até a melhor de todas.
Simplesmente, não dispomos hoje de conhecimentos bastante idôneos para avançar na
construção de Um Mundo Bom. Não dispomos sequer de conhecimentos suficientes para
ensinar aos indivíduos como se amarem uns aos outros — pelo menos, com uma razoável
dose de certeza. Estou convencido de que a melhor resposta está no progresso do
conhecimento. Minha Psychology of Science [é uma clara demonstração] [...] de que a
vida da ciência também pode ser uma vida de paixão, de beleza, de esperança para a
humanidade e de revelação de valores13] (Maslow [1968], p. 13).
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Parece, aqui, um rastro positivista (Veríssimo).
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Proposta humanista conferida à ciência (Veríssimo).
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Hermenêutica aqui não existe: o modelo de verdade científico adotado é verdade como adequação
(Veríssimo).
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Forte marca do Humanismo de Rousseau e de seu Romantismo (Veríssimo).
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No original: Since this inner nature is good or neutral rather than bad, it is best to bring it out and
to encourage it rather than to suppress it. MASLOW, Abraham H. Toward a Psychology of Being.
Second Edition. New York: Van Nostrand Reinhold, 1968, p. 4.
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Assinale-se que, se a verdade desses pressupostos for demonstrada, eles prometem uma
ética científica, um sistema natural de valores, uma corte de apelação suprema para a
determinação do bem e do mal, do certo e errado.
Quanto mais aprendemos sobre as tendências naturais do homem, mais fácil será dizer-
lhe como ser bom, como ser feliz, como ser fecundo, como respeitar-se a si próprio, como
amar, como preencher as suas mais altas potencialidades. 19
Isso equivale à solução automática de muitos problemas da personalidade do futuro.
A coisa a fazer, segundo me parece, é descobrir o que é que realmente somos em nosso
âmago, como membros da espécie humana e como indivíduos (Maslow [1968], p. 29).
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Cf. Carl Rogers, donde a noção central rogeriana de aceitação incondicional (Veríssimo).
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Rogers enfatiza também esse ponto (Veríssimo).
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A última coisa que um existencialista acreditaria é nisso. Ele não duvida que o ser humano se lance
numa ética, numa busca de sentido para a existência (ao contrario, aqui, das acuações de niilismo
feitas ao existencialismo), que ele se apaixone, ame. Mas a diferença consiste, em que, para a
Psicologia Existencial, grosso modo, não há receitas prescritas de antemão para viver, nem naturezas
dadas (potencialidades) em estado latente (Veríssimo).
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Jung não pensaria isso (Veríssimo).
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Pareceu-me uma ironia de Maslow (Veríssimo).
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Autoestima e autoimagem
Está cada vez mais claro que essas experiências têm algo a ver com um sentido de
realização e de robustez do ego; e, portanto, com o sentido de salutar amor-próprio e
autoconfiança.
A pessoa que não conquistou, não resistiu e não superou continua duvidando de que possa
consegui-lo. Isso é certo não só a respeito dos perigos externos; também é válido para a
capacidade de controlar e de protelar os próprios impulsos e, portanto, para não ter medo
deles. [pág. 28] (Maslow [1968], p. 28).
O inconsciente
A coisa mais séria que cada pessoa vivida e pungentemente reconheceu, cada uma por si
própria, é que toda e qualquer abjuração22 da virtude da espécie, todo e qualquer crime
contra a nossa própria natureza, todo e qualquer ato maldoso, cada um sem exceção, se
registra no nosso próprio inconsciente e faz com que nos desprezemos a nós mesmos.
Karen Horney usou uma boa palavra para descrever essa percepção e recordação
inconsciente; ela falou de “lançamento”. Se fazemos algo de que nos envergonhamos,
isso é “lançado” a nosso descrédito, se fazemos algo honesto, ou admirável, ou bom, é
“lançado” a nosso crédito.
Os resultados líquidos, em última análise, só podem ser uma coisa ou outra: ou nos
respeitamos e aceitamos, ou nos desprezamos e sentimos desprezíveis, inúteis e
repulsivos.
Os teólogos costumavam [pág. 29] usar a palavra “accidie” para descrever o pecado de
não fazermos da nossa vida o que sabíamos que podia ser feito (Maslow [1968], p. 29).
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abjurar = renunciar, renegar.
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Mas existe também outro elemento na consciência ou, se preferirem, outra espécie de
consciência, que todos nós possuímos, seja ela débil ou vigorosa. Trata-se da “consciência
intrínseca”. Esta baseia-se na percepção inconsciente ou pré-consciente da nossa própria
natureza, do nosso próprio destino ou das nossas próprias capacidades, da nossa própria
“vocação” na vida.
Ela insiste em que devemos ser fiéis à nossa natureza íntima e em que não a
neguemos, por fraqueza, por vantagem ou qualquer outra razão.
Aquele que [nega23] o seu talento, o pintor nato que, em vez de pintar, vende roupas feitas,
o homem inteligente que leva uma vida estúpida, o homem que vê a verdade, mas
conserva a boca fechada, o covarde que renuncia à sua virilidade, todas essas pessoas
percebem, de uma forma profunda, que fizeram mal a si próprias e desprezam-se por isso.
Dessa autopunição só pode resultar neurose, mas também poderá resultar muito bem uma
coragem renovada, uma legítima indignação, um aumento de amor-próprio, quando se
faz, posteriormente, a coisa certa; numa palavra, crescimento e aperfeiçoamento podem
ocorrer através da dor e do conflito (Maslow [1968], p. 30).
A Eupsiquia
Maslow inventou o termo “eupsiquia” para se referir a uma sociedade ideal, como
alternativa para a utopia, que para ele parecia muito visionária e impraticável. Ele
acreditava que uma sociedade ideal podia ser desenvolvida a partir da construção de uma
comunidade de indivíduos psicologicamente saudáveis e auto-atualizadores
[autorrealizados]. Todos os membros da comunidade estariam engajados na busca do
desenvolvimento pessoal e na realização em seu trabalho e em suas vidas pessoais.
Contudo, mesmo uma sociedade ideal não produzirá indivíduos auto-
atualizadores. “Um professor ou uma cultura não criam um ser humano. Não implantam
nele a capacidade de amar, ou de ser curioso, ou de filosofar, ou de simbolizar, ou de ser
criativo. O que fazem, sim, é permitir, ou promover, ou encorajar, ou ajudar o que existe
em embrião a que se torne real e concreto” (Maslow, Introdução à Psicologia do Ser,
1968, p. 193, citado por Fadiman e Frager. São Paulo: Harbra, 1986, p. 270-271).
Referências
FRICK, Willard B. Psicologia Humanista. Entrevistas com Maslow, Murphy e Rogers.
Trad. de Eduardo D’Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
MASLOW, Abraham H. Introdução à Psicologia do Ser. Trad. de Álvaro Cabral. Rio
de Janeiro: Eldorado [1968]. http://groups.google.com/group/digitalsource Acessado em
7 de fevereiro de 2017.
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He who belies his talent … (no original). MASLOW, Abraham H. Toward a Psychology of Being.
Second Edition. New York: Van Nostrand Reinhold, 1968, p. 7.