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Definições de virtude
No mito, em Homero (séc. IX-VIII a.C.): a virtude é a areté, ou seja, a excelência, uma
capacitação especial transmitida pelos deuses. O herói, que é filho de um deus com um(a)
mortal, nasce dotado da areté. A excelência é, portanto, uma herança divina, “a
superioridade em relação aos outros mortais” (Brandão3, 1987, p. 23).
Junto com a areté, encontramos um outro valor importante, a time, a honra pessoal do
herói, o reconhecimento da sua filiação divina (filho um(a) mortal com um deus).
Em Hesíodo (VIII a.C.): a virtude é o trabalho e a time corresponde à sua sede de justiça.
Em Sócrates (V a.C.) a principal virtude é o conhecimento da própria alma (conheça a ti
mesmo). Sócrates está ligado ao surgimento do Humanismo na Grécia.
Aristóteles4 emprega “virtude”” para indicar “excelência” – excelência da atividade por
meio das qual se realizam as potencialidades peculiares ao homem (Fromm, 1964, p. 22).
Na ética, importa considerar o desenvolvimento da racionalidade enquanto sabedoria
prática, ou seja, um saber que se desenvolve pelas ações (práxis) conjugadas à uma
sabedoria que vai sendo formada ao longo de nossas aprendizagens vivenciais
(Verissimo).
Spinoza [Espinoza] chega a um conceito de virtude que é apenas a aplicação da norma
geral à existência do homem. ‘Agir absolutamente de acordo com a virtude é, em nós,
nada mais que agir, viver e preservar nossa existência (estas três coisas têm o mesmo
significado) [...]” (Ética, IV, prop. 24).
Preservar a própria existência quer dizer, para Spinoza, tornar-se alguém o que é
potencialmente5 (Fromm, 1964, p. 33).
A virtude do homem, analogamente, é aquele conjunto definido de qualidades que
caracteriza a espécie humana [racionalidade, afetividade, senso estético, preocupações
morais, etc.], ao passo que a virtude de cada pessoa é sua individualidade exclusiva. É
“virtuoso” quem expande sua “virtude” (Fromm, 1964, p. 22).
[A virtude é] a excelência da realização da pessoa (Fromm, 1964, p. 26))
1
1900 – 1980.
2
FROMM, Erich. Análise do Homem. Trad. Octavio Alves Velho. 4.ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1964.
3
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega Vol. III. Petrópolis: Vozes, 1987.
4
´Século IV a. C., 384 a.C. — 322 a.C.
5
Por associação de ideias me ocorreu a indicação de Píndaro, ressaltada por Nietzsche, torne-te quem tu
és (Veríssimo).
6
Frase do sofista Protágoras (V a. C., 492 a.C.- 422 a.C.).
2
Refutação da refutação
Esse argumento comumente apresentado de molde a contestar a capacidade – e o
direito – do homem a postular e a julgar as normas válidas para sua vida, [...] não implica
que a natureza humana, é tal que o egoísmo ou o isolamento sejam bons para ele. Não
quer dizer que a finalidade do homem possa ser preenchida ficando este desligado do
mundo exterior. De fato, conforme muitos defensores da ética humanista aventaram, é
uma das características da natureza humana o homem só poder realizar-se e ser feliz em
ligação e solidariedade com seus semelhantes (Fromm, 1964, p. 23).
O amor
Entretanto, amar o próximo não é um fenômeno transcendente ao homem; é algo de
inerente a ele, que dele se irradia. O amor não é uma força superior que desça sobre o
homem nem um dever que lhe seja imposto: é seu próprio poder pelo qual se relaciona
com o mundo e torna este verdadeiramente seu (Fromm, 1964, p. 23).
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