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Apostila de Filosofia Social para uso exclusivo dos Estudantes de Licenciatura em Gestão de

Recursos Humanos, da USTM Turma 3L5LGRH – 2022A– Docente Mestre Benedito Mussácula –
bemussacula@gmail.com – 84 34 54 823/86 58 53 568

Aula : 1/2
1. Apresentação do docente e discentes Vice-versa

2. Apresentação do plano analítico e temático

3. Distribuição dos temas do trabalho de pesquisa e considerações gerais sobre o


trabalho

INTRODUÇÃO A FILOSOFIA SOCIAL

A cadeira da “Filosofia Social” pode indicar dois tipos de discurso. Em primeiro


lugar pode indicar uma reflexão filosófica sobre o problemas “sociais”, quer dizer,
sobre os problemas da sociedade ( problemas políticos, econômicos, sociais, culturais).
Em segundo lugar, pode tratar de uma Filosofia das “ Ciências Sociais”, de uma
reflexão epistemológica sobre o estatuto das ciências sociais e, mais precisamente,
sobre a “cientificidade” dos discursos reunidos sob o título “ ciências sociais” ou
“ciências humanas”. (BERTEN, 2002, 5).

Numa outra vertente, a Filosofia Social se ocupa de questões referentes ao


significado e a essência da sociedade, considerando sua trajetória, suas mudanças e
tendências, bem como as relações entre o indivíduo e a comunidade e as estruturas
de convivência.

Em parte é uma variante da Filosofia. Há certamente uma intersecção com a


sociologia, mas de facto a Filosofia Social trata de uma ampla variedade de temas,
dos processos cognitivos individuais a legitimidade das leis; dos contratos sociais
as revoluções e tem várias outras conexões com as demais áreas das ciências
Sociais. Há também uma considerável área de sobreposição entre a Filosofia
Social e a Ética, a Filosofia política, a Filosofia de Direito, a Filosofia da linguagem
e a Epistemologia social.

Constituem temas relevantes da Filosofia social: individualismo, comunidade,


sociedade, estado, vontade de poder, propriedade, direitos, autoridade, ideologia,
justiça, critica cultural, contrato social, jusnaturalismo, soberania e legitimação do
Estado moderno, modernidade e pós - modernidade.

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São considerados filósofos sociais: Sócrates, Platão, Aristóteles, santo Agostinho,


Tomás More, Hugos Grócio, Tomás Hobbes, John Locke, Rousseau, Hume,
Montesquieu, Jeremy Bentham, John Stuart Mill, Hegel, Karl Marx, Emile
Durkheim, Max Weber, Michel Foucault, Kelsen, Hannah Arendt, Karl- Otto Apel,
Charles Taylor Richard Rorty, Severino Ngoenha e outros.

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Aula : 3/4

1. Pensamento social de alguns filósofos

Nesta parte, pretendemos apresentar as contribuições dos filósofos acima


referenciados, tomando em consideração a época em que cada um viveu e que de certa
maneira o seu contexto histórico terá influenciado na sua reflexão sobre a forma
desejável de convivência social entre os homens que vivem em grupo, comunidade,
sociedade ou mesmo em nação.

Idade Antiga

1.1. Filosofia social em Sócrates

A filosofia Social em Sócrates parte da sua famosa expressão “conhece-te a ti


mesmo˝. Com este seu pensamento, Sócrates teve o próposito de se manter no
domínio da realidade humana. A missão é promover no homem a investigação em
torno do homem.

Esta investigação deve tender a pôr o homem, cada homem individual, a claro
consigo mesmo, a levá-lo ao reconhecimento dos seus limites e torná-lo justo, isto
é, solidário com os outros. Por isso, Sócrates adoptou a famosa expressão ˝conhece-
te a ti mesmo˝ e fez de filosofar um exame incessante de si próprio e dos outros: de
si próprio em relação aos outros, dos outros em relação a si próprio.

A questão do individualismo sofístico, Sócrates contrapõe, não o conceito de um


homem universal, um homem-razão que não tenha já nenhum dos caracteres precisos
e diferenciados do indivíduo, mas o vínculo de solidariedade e de justiça entre os
homens, graças ao qual nenhum deles se pode libertar ou alcançar qualquer coisa
de bom por si só, antes estando um vinculado aos outros e só podendo progredir
com a sua ajuda e ajudando-os por seu turno.

O universalismo socrático não é a negação do valor dos indivíduos: é o


reconhecimento do valor dos indivíduos. Mas a relação entre os indivíduos, se é tal
que garanta a cada um a liberdade da pesquisa de si próprio, é uma relação fundada
na virtude e na justiça. E é aqui, portanto, que encontramos o interesse de Sócrates,

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na medida em que entende promover em cada homem a investigação de si próprio.


Neste sentido, se volta naturalmente para o problema da virtude e da justiça.

A busca de si é ao mesmo tempo busca de verdadeiro saber e da melhor maneira


de viver: por outras palavras, é simultaneamente investigação do saber e da virtude.
Segundo Sócrates, Saber e virtude identificam-se. O homem não pode tender senão
para saber aquilo que deve fazer ou aquilo que deve ser: tal saber é a própria virtude.
Este é o princípio fundamental da ética socrática.

Para Sócrates um erro de juízo, a ignorância portanto, é a base de toda a culpa e de


todo o vício. Uma má avaliação é que faz o homem preferir o prazer do momento, não
obstante as consequências más ou dolorosas que daí possam advir; e um cálculo
errado é o fruto da ignorância. Quem sabe verdadeiramente, faz bem os seus cálculos,
escolhe em cada caso o melhor prazer, aquele que não ocasionar-lhe nem dor nem
mal, e esse é o prazer da virtude.

Portanto, para ser virtuoso, não é necessário que o homem renuncie ao prazer. A
virtude não é a negação da vida humana, mas a vida humana perfeita; engloba o
prazer e é acima de tudo o prazer máximo. A diferença entre o homem virtuoso e o
homem que o não é, está em que o primeiro sabe avaliar os prazeres e escolher o
maior e o segundo não sabe fazer essa avaliação e entrega-se ao prazer do momento.

Mas, na verdade, o que se pode censurar à Sócrates, quando pretende entrever nele a
tentativa de distinções entre a ctividades ou faculdades humanas que Platão e
Aristóteles introduziram na Filosofia.

Para Sócrates, o homem é ainda uma unidade indivisa. O seu saber não é apenas a
actividade do seu intelecto ou da sua razão, mas um modo de ser e de se
comportar total, o empenhamento numa investigação que não reconhece limites ou
pressupostos fora de si, mas encontra em si a sua disciplina. Segundo Sócrates, a
virtude é ciência, primeiro que tudo porque não se pode ser virtuoso
conformando-se simplesmente com as opiniões correntes e com as regras de vida
já conhecidas. É ciência porque é investigação, investigação autónoma dos valores
em que a vida se deve fundar.

Em poucas palavras, o ensinamento ético de Sócrates reside no conhecimento e na


felicidade. Emprimeiro lugar, ética significa conhecimento, tendo-se em vista que, ao
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praticar o mal, crê-se praticar algo que leve à felicidade, e, normalmente, esse juízo é
falseado por impressões e aparências puramente externas ( HODOT, 1998: 46-47).
Para saber julgar acerca do bem e do mal, é necessário conhecimento, este sim
verdadeira sabedoria e discernimento. O conhece-te a ti mesmo é esse mandamento
que inscreve como necessária a gnose interior para a construção de uma ética sólida.
Em segundo lugar, a felicidade, a busca de toda a ética, para Sócrates, pouco tem a
ver com a posse de bens materiais ou com o conforto e a boa situação entre os
homens; tem ela a ver com a semelhança com o que é valorizado pelos deuses, pois
parecem estes ser os mais beatos dos seres. O cultivo da verdadeira virtude,
consistente no controle efectivo das paixões e na condução das forças humanas
para a realização do saber, é o que conduz o homem à felicidade ( PLATÃO,
Fédon, trad., 1999, p. 131).

1.2. Filosofia Social em Platão

Depois de vários problemas políticos que ocorriam no seu tempo inclusive a morte
de Sócrates, Platão deu-se conta de que a melhoria da cidade somente poderia ser
levada a cabo pela Filosofia .

" vi que o género humano não mais seria libertado do mal se antes fossem
ligados ao poder os verdadeiros filósofos, ou os governantes do Estado não fossem
tornados, por divina sorte, verdadeiramente filósofos" (carta VII, 325 C).

Das experiências políticas da sua juventude, experiências de espectador, não de actor,


Platão extraiu, pois , o pensamento que havia de inspirar toda a sua obra: “Só a
Filosofia pode realizar uma comunidade humana fundada na justiça” ( PLATÃO,
Fédon, trad., 1999, 127).

Todos os temas especulativos e todos os resultados fundamentais dos diálogos


precedentes acham-se resumidos na obra máxima de Platão , a República, que os
ordena e os une em volta do motivo central de uma comunidade perfeita, em que o
indivíduo encontra a sua perfeita formação.

O projecto dessa comunidade assenta no princípio que constitui a directriz de toda a


Filosofia platónica. "se os filósofos não governam a cidade ou se aqueles a quem
agora chamamos reis ou governantes não cultivarem verdadeira e seriamente a
Filosofia, se o poder político e a Filosofia não coincidirem nas mesmas pessoas e a
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multidão dos que agora se ocupam exclusivamente de uma ou da outra não for
rigorosamente impedida de o fazer, é impossível que cessam os males da cidade e
até os do género humano" (Rep., V., 473).

Mas neste ponto de desenvolvimento da investigação, a constituição de uma


comunidade política governada por filósofos apresenta a Platão dois problemas
fundamentais:

1. Qual é o fim e o fundamento de uma tal comunidade?

2. Quem são propriamente os filósofos?

Segundo Platão o fim e o fundamento de uma tal comunidade é justiça. E, com efeito,
a República dirige-se explicitamente para a determinação da natureza da justiça.

Nenhuma comunidade humana pode subsistir sem a justiça.

À opinião sofística que queria reduzi-la ao direito do mais forte, opõe-se Platão
que nem um bando de salteadores ou de ladrões poderia realizar alguma coisa se os
seus componentes violassem as normas da justiça uns em prejuízo dos outros.

A Justiça é a condição fundamental do nascimento e da vida do Estado.

Este deve ser constituído por três classes: a dos governantes, a dos guardiões ou
gurreiros e a dos cidadãos que exercem qualquer outra actividade ( agricultores,
artesãos, comerciantes e.tc).

A sabedoria pertence a 1ª Classe- basta que os governantes sejam sábios para que
todo o Estado seja sábio.

A coragem – pertence a classe dos guerreiros.

A temperança – pertence a classe dos artesãos.

A justiça compreende estas três virtudes: realiza-se ela quando cada cidadão se
dedica à tarefa que lhe é própria e tem o que lhe pertence.

Com efeito, num Estado as tarefas são muitas e todas necessárias à vida da
comunidade: cada qual deve escolher aquela a que se adapta e dedicar-se-lhe. Só
assim cada homem será uno e não já multiplo; e o póprio Estado será uno.

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A justiça garante a unidade e, com ela, a força do Estado. Mas garante igualmente
a unidade e a eficência do indivíduo.

Na alma individual Platão distingue , como Estado, três partes:

1ª A parte racional, que é aquela pela qual a alma raciocina e domina os impulsos;

2ª Concupiscível que é o princípio de todos os impulsos corporais.

3ª Irascível que é o auxiliar do princípio racional e se enfurece e luta por aquilo que
a razão considera justo.

Ao princípio racional pertencerá a sabedoria, ao princípio irascível a coragem; ao


passo que o acordo das três partes em deixar o comando à alma racional será a
temperança.

Também no homem individual a justiça terá lugar quando cada parte da alma
exercer somente a função que lhe é própria.

Evidentemente que a realização da justiça não pode prosseguir paralelamente no


indivíduo e no Estado. O Estado é justo quando cada indivíduo se dedica somente à
tarefa que lhe é própria. Mas i indivíduo que se aplica apenas à sua própria tarefa é ele
próprio justo.

A justiça não é só a unidade do Estado em si mesmo e do indivíduo em si mesmo; é ao


mesmo tempo, a unidade do indivíduo e do Estado e, por isso, o acordo do indivíduo
com a comunidade.

Duas condições são necessárias para a realização da justiça no Estado. Em primeiro


lugar, a eliminação da riqueza e da pobreza, pois ambos tornam impossível ao homem
aplicar-se à sua tarefa. Aqui, Platão sustenta que os governantes não deviam possuir a
propriedade privada isto porque estariam a emanar as leis a favor dos seus interesses e
não pelos interesses do povo.

Mas esta eliminação não implica uma organização de tipo comunista.

Segundo Platão, as duas classes superiores dos governantes e dos guerreiros não devem
possuir o que quer que seja nem ter qualquer retribuição, além dos meios para viver.

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Mas a classe dos artesãos não é excluída da propriedade; e os meios de produção e de


distribuição são deixados nas mãos dos indivíduos.

A segunda condição é abolição da vida familiar, abolição que deriva da participação das
mulheres na vida do Estado com base na mais perfeita igualdade com os homens, pondo
como única condição a sua capacidade.

As uniões entre homens e mulheres são estabelecidos pelo Estado com vista à procriação
de filhos sãos. Os filhos são criados e educados pelo Estado, que de todos faz uma única
e grande família.

Estas duas condições tornam possível um Estado segundo a justiça, sempre que, é claro,
se verificar esta outra: que o governo seja entregue aos filósofos.

A natureza da justiça é indirectamente esclarecida pela determinação da injustiça.


Estado de que fala Platão é o Estado aristocrático, em que o governo pertence aos
melhores. Mas esse Estado não corresponde a nenhuma das formas de governo
existentes. Todas estas são degenerações do Estado perfeito; e os tipos de homem
correspondentes são degenerações do homem justo, que é uno em si e com a
comunidade , pois é fiel à sua tarefa. São três as degenerações do estado e três as
correspondentes do indivíduo.

A primeira é a Timocracia, governo fundado na honra, que nasce quando os governantes


se apropriam de terras e de casas; corresponde-lhe o homem timocrático, ambicioso e
amante do mando e das honras, mas desconfiado em relação aos sábios.

A segunda forma é a Oligarquia, governo fundado no património, em que são os ricos a


mandar; corresponde-lhe o homem ávido de riqueza e laborioso.

A terceira forma é a Democracia, na qual os cidadãos são livres e a cada um é permitido


fazer o que quiser; corresponde-lhe o homem democrático que antes tende a abandonar-
se a desejos descometidos.

Finalmente a mais baixa de todas as formas de governo é a tirania, que frequentemente


tem origem na excessiva liberdade da democracia. É a forma mais desprezível, porque o
tirano para se protegr do ódio dos cidadãos, é obrigado a rodear-se dos piores individuos.
O homem tirânico é escravo das suas paixões, às quais se abandona desordenadamente, e
é o mais infeliz dos homens.
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Segundo Platão, a vida do homem não pode ser uma vida fundada no prazer. Uma vida
assim, que acabaria por excluir a consciência do prazer, é do animal, não do homem. Por
outro lado, não pode ser tão - pouco uma vida de pura inteleigência, que seria divina, e
não humana. Deve ser, pois, uma vida mista de prazer e de inteligência. O importante
é determinar a justa proporção em que o prazer e a inteligência devem entremisturar-
se para constituir a forma perfeita do bem. O problema de bem torna-se aqui um
problema de medida, de proporção de conveniência. ( ABBGNANO, 1999: 127).

Em síntesse, de acordo com Freitas do Amaral, o pensamento de Platão é importante


na história das ideias políticas, na medida em que:

- lançou o primeiro grande modelo utópico de sociedade humana.

- Foi o primeiro a propor uma organização social de tipo comunista, assente num
modelo político não democrático, totalitário, e caracterizado nomeadamente pela
abolição do casamento e da família, e pela entrega da formação e educação dos
jovens ao monópolio exclusiva do Estado, não obstante se tratar de “... um
comnunismo da elite e para o bem do Estado , ou seja um comunismo elitista e
aristocrático”. (BASTOS, 1999: 43).

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