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BASES ANTROPOLÓGICAS
Moore (1975) aponta que a palavra ética tem origem grega: vem de ethos,
que significa “propriedade do caráter, valores, princípios e costumes que orientam o
comportamento humano”. Para o autor, essas significações deram origem à
tradução do termo para o latim mos, ou, no plural, mores, que se refere à moral e se
relaciona com o comportamento em si, isto é, com o modo de ação, baseado nas
regras e costumes estabelecidos por cada sociedade.
Sócrates (470 – 399 a.C.), filósofo ateniense, viveu durante o período
clássico na Grécia Antiga. Precursor da filosofia ocidental, incentivava as pessoas a
formarem seus próprios conceitos de pensamento sobre a ética por meio de seu
método dialético. O filósofo trabalhava em locais públicos, como praças, ruas e
ginásios, disseminando seus ensinamentos através do diálogo com a população.
Para ele, sabedoria e conhecimento eram virtudes essenciais do ser humano. Além
disso, acreditava que o indivíduo só alcança o conhecimento pleno se seguisse um
método consistente de dois momentos:
→ Ironia
Ao debater sobre esse tema, vale a pena considerar o exemplo de dois indivíduos,
A e B, dialogando. A faz uma pergunta, simulando não saber a resposta, e B expõe
sua opinião. A, então, contrapõe os argumentos, o que faz com que B perceba a
ilusão da sabedoria que julga ter. Assim, B reflete sobre seu próprio conhecimento;
→ Maiêutica
Zen e Segarbi (2018) consideram-na um estímulo investigativo dos saberes, o qual
conduz o interlocutor a realizar novos questionamentos para alcançar o
conhecimento através de suas próprias reflexões.
É possível ver o cristianismo como uma base histórica da ética, visto que a religião
firmou a noção de livre arbítrio durante a Idade Média. Sob sua ótica, o divino
(Deus) é o caminho do bem, enquanto que a existência do mal é condição das
escolhas de cada pessoa. A ética cristã, então, busca a espiritualidade entendida
como ações baseadas no amor e na fraternidade. Santo
Agostinho, filósofo ocidental que viveu entre 354 e 430, é um dos principais
pensadores do cristianismo. Sua teoria permeava o “problema do Mal” envolvido
nas “confissões”. Apesar de o mundo ser uma criação de um ser de bondade, isto é,
Deus, a existência do mal é inegável. Ele desenvolveu o conceito de mal moral,
que resulta do livre arbítrio, ou seja, das ações e comportamentos humanos. Em
outras palavras, nós criamos o mal, não Deus. Para Agostinho, o ser humano
escolhe o mal por conta de um desvio de conduta, por desobedecer a Deus e,
consequentemente, privar-se das leis divinas. Sob essa visão, a ética é uma ação
voltada para o bem e embasada nos propósitos divinos.
Apesar de a sociedade evidenciar as desigualdades entre os seres humanos,
o filósofo teorizava que, perante ao criador ou à lei divina, todos são iguais; tudo
ocorre de acordo com a vontade de Deus e todo indivíduo é um fim em si mesmo.
Por entender que o Criador fez o homem à sua imagem, São Tomás de Aquino
chegou a conclusões peculiares para a época, como a ideia de que ninguém é
instrumento de outro e de que não há diferença de natureza intelectual entre os
gêneros.
A partir dessa noção de igualdade, ele introduz o Código de Direitos Humanos,
ancorado na lei natural de sua teoria. Divide esses direitos em três classes:
→ Autopreservação
Comungada entre todos os seres vivos, refere-se ao direito à vida;
→ Preservação da espécie
Ideia ligada ao matrimônio e à constituição de família; e
→ Inclinação ao bem
Remete ao conceito de racionalidade, isto é, ao conhecimento da verdade relacionada
a Deus e ao meio social.
De acordo com Boni (2018), São Tomás de Aquino afirma que a relação entre o
homem e Deus é mútua e recíproca. Existem, portanto, duas leis: a humana,
entendida como a boa relação entre os homens, e a divina, que se refere à relação
de amizade e proximidade do homem com Deus. Os aspectos éticos fundamentais
postulados pelo filósofo se relacionam ao amor ao próximo. Tal sentimento, em sua
visão, é genuíno, envolto de verdade, entrega e ação conduzida ao bem.
ABORDAGENS FILOSÓFICAS
As correntes filosóficas que abordam a ética possuem diferentes origens, mas se
complementam no sentido amplo. Aristóteles, discípulo de Platão que viveu entre 384
e 322 a.C., foi o primeiro a estruturar o termo. Entretanto, diverge das ideias de seu
mestre. Ele não desconsidera a percepção pelos sentidos, mas acredita que o mundo
sensível reflete o real. Em outras palavras, a essência das coisas reside nelas
próprias. Tudo que existe no mundo possui uma multiplicidade de significados, que
se encontram no ousía, isto é, na substância das coisas.
De acordo com Zen e Segarbi (2018), Aristóteles postulou a teoria do ato e potência,
que determina que todos os seres existem em ato, ou seja, o estado atual do ser, e
potência, que representa o estado futuro, o que o ser poderá se tornar. Cabe ressaltar
que os dois estados coexistem ao mesmo tempo. Desse modo, o ser humano não
“é”, mas “está”, e, além disso, possui potencial de se tornar outra coisa.
Acha e Piva (2013) ressaltam que a moral não é um conceito estático; cada cultura e
sociedade a entende de diferentes modos. O que parece correto ao americano pode
sofrer repressão do asiático, por exemplo. Também é possível ver a moral como um
constructo variável subjetivamente, pois diferentes indivíduos, mesmo que
pertencentes à mesma sociedade ou cultura, entendem-na do seu próprio jeito.
ÉTICA E CAMPOS DE ABRANGÊNCIA
Camargo (1999) diz que a ética, no campo pessoal, corresponde aos princípios e
valores de cada pessoa, dado que eles são singulares e se constroem ao longo da
vida. Estes preceitos são a base das ações e do comportamento, pois guiam suas
atitudes em todas as circunstâncias e relações interpessoais. Já Filho e Trisotto
(2003) dizem que não se pode ver a conduta ética de uma maneira simplista, reduzida
apenas à vontade do indivíduo. Afinal, os padrões socialmente estabelecidos
influenciam o modo como as pessoas conduzem suas ações.
Portanto, é necessário reconhecer que a amplitude do campo social influencia as
questões éticas quase que intrinsecamente.
No âmbito social, embora a ética abranja as relações e condutas em sociedade,
também é possível entendê-la de maneiras diversas conforme cada cultura, tempo e
local. Valls (2000) aponta que a ética é uma condição situacional, que diz respeito
aos hábitos e comportamentos socialmente aceitos em determinado espaço e tempo.
Nesse sentido, a ética é uma construção variável, que apresenta mudanças. Já
Passos (2004) diz que a ética profissional corresponde às normas morais que
orientam a prática e postura de um profissional em todas as esferas de atuação.
A filosofia deontológica se relaciona com a atuação ética no campo profissional, como
afirmam Finkler, Caetano e Ramos (2013). Entretanto, é importante ressaltar que
essa vertente da ética deve se pautar em valores, padrões e normas éticas
correspondentes aos direitos humanos e disposições estabelecidas nos códigos de
ética profissional, elaborados pelos conselhos profissionais de classe. Estes
contribuem na orientação da adequada relação de cada profissional tanto com seus
pares quanto a sociedade.
// Campo socal
A sociedade antecede o indivíduo. Conforme Constantino e Malentachi (2014), a
realidade social já existe quando nascemos. Portanto, somos inseridos em uma
cultura preexistente. Os autores afirmam que o meio social envolve o cotidiano e as
relações interpessoais estabelecendo uma relação simbiótica entre ambos.
O processo de globalização, porém, transforma a sociedade atual. De acordo com
Constantino e Malentachi (2014), as pessoas experimentam novos modos de vida, os
quais apontam para uma valorização de aspectos materiais e individuais em
detrimento de relações pessoais humanos e solidárias. Os autores ainda destacam a
cultura da hiperabundância, o hipercapitalismo, a individualidade, a ausência de
significações e o excesso do “ter” e o vazio do “ser”. Em meio a essa lógica, os
indivíduos se veem em meio a uma abundância de objetos e infinidade de serviços
que possibilitam o ilimitado.
➢ SINTETIZANDO
Os fundamentos históricos da ética advêm etimologicamente da sociedade grega e
perpassam por bases filosóficas introduzidas por diferentes correntes e teóricos. A
ética possibilita a compreensão dos princípios e valores que antecedem e determinam
o comportamento de indivíduos diante da sociedade e das relações interpessoais em
todos os campos do cotidiano.
As principais abordagens são: teleologia, que entende o tema como uma conduta
virtuosa que busca a felicidade como a finalidade; utilitarismo, que prioriza o bem
coletivo e a utilidade como princípios éticos; humanismo, onde a ética só pode ser
construída na relação com o outro, ou seja, nas relações interpessoais;
existencialismo, que compreende a ética como um modo de existência humana; e
deontologia, que diz que toda ação ética deve considerar a verdade e as normas
morais estabelecidas socialmente.