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Bases filosóficas e antropológicas da ética

• De acordo com Oliveira (2015), as bases fundamentais da ética se pautam


nos princípios antropológicos e filosóficos, os quais possibilitam reflexões
sobre normas e valores relacionados aos pensamentos e
comportamentos, sejam eles individuais ou grupais, dos campos pessoais,
sociais, culturais ou profissionais.
• A ética é um conceito amplo e abrangente, que envolve relações humanas
e está presente em todas as sociedades. Portanto, vale a pena
compreender as reflexões históricas dos grandes teóricos e filósofos
acerca do tema.

BASES ANTROPOLÓGICAS
Moore (1975) aponta que a palavra ética tem origem grega: vem de ethos,
que significa “propriedade do caráter, valores, princípios e costumes que orientam o
comportamento humano”. Para o autor, essas significações deram origem à
tradução do termo para o latim mos, ou, no plural, mores, que se refere à moral e se
relaciona com o comportamento em si, isto é, com o modo de ação, baseado nas
regras e costumes estabelecidos por cada sociedade.
Sócrates (470 – 399 a.C.), filósofo ateniense, viveu durante o período
clássico na Grécia Antiga. Precursor da filosofia ocidental, incentivava as pessoas a
formarem seus próprios conceitos de pensamento sobre a ética por meio de seu
método dialético. O filósofo trabalhava em locais públicos, como praças, ruas e
ginásios, disseminando seus ensinamentos através do diálogo com a população.
Para ele, sabedoria e conhecimento eram virtudes essenciais do ser humano. Além
disso, acreditava que o indivíduo só alcança o conhecimento pleno se seguisse um
método consistente de dois momentos:
→ Ironia
Ao debater sobre esse tema, vale a pena considerar o exemplo de dois indivíduos,
A e B, dialogando. A faz uma pergunta, simulando não saber a resposta, e B expõe
sua opinião. A, então, contrapõe os argumentos, o que faz com que B perceba a
ilusão da sabedoria que julga ter. Assim, B reflete sobre seu próprio conhecimento;
→ Maiêutica
Zen e Segarbi (2018) consideram-na um estímulo investigativo dos saberes, o qual
conduz o interlocutor a realizar novos questionamentos para alcançar o
conhecimento através de suas próprias reflexões.

Ao considerar a ética como um modo de entendimento de princípios


carregados de valores positivos,
Sócrates acreditava que o homem age de maneira
correta quando conhece e pratica o bem. A ação ou
comportamento que resulta de seus princípios éticos
fazem com que o homem se sinta dono de si e, por
conseguinte, alcance a felicidade. Para o filósofo, o
conhecimento, a bondade e a felicidade estão
relacionados estreitamente (VÁZQUEZ, 1968, p. 231).

Para o filósofo, o conhecimento do homem sobre si mesmo é uma virtude. Diante


desse pensamento, seu discípulo, Platão (2008), postulou suas clássicas frases:
Conhece-te a ti mesmo e Sei que nada sei. Inspirado pelas ideias de Sócrates, o
filósofo e matemático, que viveu entre 427 e 347 a.C., também considerava a dialética
em seus ensinamentos e entendia a ética como um objetivo último da busca pela
felicidade. Constituiu toda uma teoria do conhecimento, sob a qual referia que dois
momentos eram necessários para que o homem alcançasse o conhecimento total da
realidade:
• Doxa: refere-se ao conhecimento sensível. Platão (2008) reflete criticamente
sobre os sentidos humanos (tato, olfato, paladar, visão e audição) e afirma que
são imperfeitos. O ser humano, portanto, não pode basear seu conhecimento
nesses sentidos nem confiar completamente nas percepções deles advindas,
pois não são fontes seguras, são limitados e produzem conhecimento
superficial da realidade concreta;bullet
• Episteme: Zen e Secarbi (2018) afirmam que, para o filósofo, esse momento
diz respeito ao conhecimento inteligível, isto é, fundamentado na razão. Na sua
visão, é possível alcançá-lo diretamente pelo pensamento. Assim, o ser
humano só alcançaria o verdadeiro conhecimento se saísse do campo dos
sentidos e adentrasse no campo das ideias, lugar onde reside a verdadeira
essência de todas as coisas.

É possível ver o cristianismo como uma base histórica da ética, visto que a religião
firmou a noção de livre arbítrio durante a Idade Média. Sob sua ótica, o divino
(Deus) é o caminho do bem, enquanto que a existência do mal é condição das
escolhas de cada pessoa. A ética cristã, então, busca a espiritualidade entendida
como ações baseadas no amor e na fraternidade. Santo
Agostinho, filósofo ocidental que viveu entre 354 e 430, é um dos principais
pensadores do cristianismo. Sua teoria permeava o “problema do Mal” envolvido
nas “confissões”. Apesar de o mundo ser uma criação de um ser de bondade, isto é,
Deus, a existência do mal é inegável. Ele desenvolveu o conceito de mal moral,
que resulta do livre arbítrio, ou seja, das ações e comportamentos humanos. Em
outras palavras, nós criamos o mal, não Deus. Para Agostinho, o ser humano
escolhe o mal por conta de um desvio de conduta, por desobedecer a Deus e,
consequentemente, privar-se das leis divinas. Sob essa visão, a ética é uma ação
voltada para o bem e embasada nos propósitos divinos.
Apesar de a sociedade evidenciar as desigualdades entre os seres humanos,
o filósofo teorizava que, perante ao criador ou à lei divina, todos são iguais; tudo
ocorre de acordo com a vontade de Deus e todo indivíduo é um fim em si mesmo.
Por entender que o Criador fez o homem à sua imagem, São Tomás de Aquino
chegou a conclusões peculiares para a época, como a ideia de que ninguém é
instrumento de outro e de que não há diferença de natureza intelectual entre os
gêneros.
A partir dessa noção de igualdade, ele introduz o Código de Direitos Humanos,
ancorado na lei natural de sua teoria. Divide esses direitos em três classes:

→ Autopreservação
Comungada entre todos os seres vivos, refere-se ao direito à vida;
→ Preservação da espécie
Ideia ligada ao matrimônio e à constituição de família; e
→ Inclinação ao bem
Remete ao conceito de racionalidade, isto é, ao conhecimento da verdade relacionada
a Deus e ao meio social.

De acordo com Boni (2018), São Tomás de Aquino afirma que a relação entre o
homem e Deus é mútua e recíproca. Existem, portanto, duas leis: a humana,
entendida como a boa relação entre os homens, e a divina, que se refere à relação
de amizade e proximidade do homem com Deus. Os aspectos éticos fundamentais
postulados pelo filósofo se relacionam ao amor ao próximo. Tal sentimento, em sua
visão, é genuíno, envolto de verdade, entrega e ação conduzida ao bem.

ABORDAGENS FILOSÓFICAS
As correntes filosóficas que abordam a ética possuem diferentes origens, mas se
complementam no sentido amplo. Aristóteles, discípulo de Platão que viveu entre 384
e 322 a.C., foi o primeiro a estruturar o termo. Entretanto, diverge das ideias de seu
mestre. Ele não desconsidera a percepção pelos sentidos, mas acredita que o mundo
sensível reflete o real. Em outras palavras, a essência das coisas reside nelas
próprias. Tudo que existe no mundo possui uma multiplicidade de significados, que
se encontram no ousía, isto é, na substância das coisas.
De acordo com Zen e Segarbi (2018), Aristóteles postulou a teoria do ato e potência,
que determina que todos os seres existem em ato, ou seja, o estado atual do ser, e
potência, que representa o estado futuro, o que o ser poderá se tornar. Cabe ressaltar
que os dois estados coexistem ao mesmo tempo. Desse modo, o ser humano não
“é”, mas “está”, e, além disso, possui potencial de se tornar outra coisa.

Para Aristóteles (1984), a felicidade é o objetivo da base ética da vida humana.


Para alcançá-la, o indivíduo deve sempre buscar a justa medida, a mediana. Para
Aristóteles (1984), a felicidade é o objetivo da base ética da vida humana. Para
alcançá-la, o indivíduo deve sempre buscar a justa medida, a mediana.

Já no utilitarismo, a ética prioriza o bem coletivo. Nessa visão, a ação ética é


aquela cuja consequência é a utilidade. Nessa corrente, Stuart Mill (2020) considera
que, antes de realizar alguma coisa, é preciso analisá-la e verificar que seu objetivo
moral é produzir o maior benefício ao maior número de pessoas possível.
Na corrente humanista, destaca-se o filósofo judeu, Emanuel Lévinas, que
viveu durante o período da Segunda Guerra Mundial e criticou o pensamento
ocidental enfatizando que este se opõe à ética, transmite uma postura de poder e
dominação e, ainda, reflete ações desumanas. Conforme Nascimento (2015), o
filósofo acreditava que a ética deve ser um princípio anterior a todas as ações
humanas. É importante que ela traduza uma relação de encontro com o outro,
pautando-se na responsabilidade e no humanismo ético. A este princípio, Lévinas deu
o nome de ética da alteridade. Na
corrente existencialista, Kierkegaard (2003) baseia seus escritos em suas vivências
e entende a ética como um modo de existência humana. Considera que a filosofia e
o “existir concreto” são inseparáveis: só é possível compreender a vida real a partir
de uma reflexão interior subjetiva de cada pessoa.
Michael Foucault, filósofo e psicólogo, interpreta a ética como um “modo de
ser” entendido como a relação do “ser consigo mesmo” em uma busca constante da
constituição de si. De acordo com ajchman (1993), Foucault denominou essa relação
ethos, que significa a constituição de si enquanto sujeito. O indivíduo, então, se
inquieta e reflete criticamente sobre seus próprios valores e comportamentos com o
objetivo de tomar consciência e problematizá-los em uma elaboração ética de si
mesmo.
Immanuel Kant (2013) elaborou a corrente deontológica. O filósofo alemão
entende que, para que uma ação humana seja ética, deve seguir um dever pautado
na verdade e em normas morais. Conforme inkler, Caetano e Ramos (2013),
estudiosos sobre o tema, a deontologia trata dos deveres. Ela determina o que
devemos fazer e orienta que é preciso realizar ações conforme o permitido e por meio
de posturas que estejam de acordo com códigos e normas estabelecidos.

Ética: campo e conceituação


O entendimento dos pressupostos filosóficos e históricos favorece a compreensão
dos conceitos relacionados à ética nos diversos campos que envolvem o tema.
// Reflexões sobre os conceitos relacionados à ética
As teorias éticas enfatizam o caráter, ou o “jeito de ser”, como um modo autônomo de
pensamento de cada pessoa diante do mundo. Para Singer (1994), a ética é um
conjunto de valores, princípios e modos de pensar que antecedem e orientam as
ações sociais dos indivíduos. Em outras palavras, a ética é o conjunto de constructos
que o indivíduo considera como correto. O autor entende que essa coleção de
crenças, aprendida socialmente e internalizada pelos indivíduos, serve como uma
base que orienta a conduta e o comportamento; a ela, chamou de moral. Uma
maneira simples de entendê-la envolve enxergá-la como o modo de agir das pessoas;
diz respeito ao caráter ou ao “jeito de ser” do indivíduo.
Koerich, Machado e Costa (2005) afirmam que um indivíduo é ético quando suas
atitudes se baseiam nos princípios de respeito, justiça, direito comum e
responsabilidade. Este último, por sinal, deve estar presente em todos os âmbitos e
se relacionar aos aspectos da ética da responsabilidade individual, isto é, o
comportamento singular de cada pessoa. Esses aspectos são: responsabilidade
pública, que se refere ao papel e deveres do Estado para com os cidadãos; e
responsabilidade planetária, que fala do compromisso das pessoas frente à
preservação do planeta.
Donzelli (2016) entende a moral como um conceito geral, que avalia todas as
situações e circunstâncias por meio de códigos e condutas inflexíveis, ou seja, que
independem da situação. Já a ética, em sua visão, avalia as situações de modo
singular; o indivíduo considera cada contexto ao refletir sobre a maneira adequada de
agir.

Acha e Piva (2013) ressaltam que a moral não é um conceito estático; cada cultura e
sociedade a entende de diferentes modos. O que parece correto ao americano pode
sofrer repressão do asiático, por exemplo. Também é possível ver a moral como um
constructo variável subjetivamente, pois diferentes indivíduos, mesmo que
pertencentes à mesma sociedade ou cultura, entendem-na do seu próprio jeito.
ÉTICA E CAMPOS DE ABRANGÊNCIA
Camargo (1999) diz que a ética, no campo pessoal, corresponde aos princípios e
valores de cada pessoa, dado que eles são singulares e se constroem ao longo da
vida. Estes preceitos são a base das ações e do comportamento, pois guiam suas
atitudes em todas as circunstâncias e relações interpessoais. Já Filho e Trisotto
(2003) dizem que não se pode ver a conduta ética de uma maneira simplista, reduzida
apenas à vontade do indivíduo. Afinal, os padrões socialmente estabelecidos
influenciam o modo como as pessoas conduzem suas ações.
Portanto, é necessário reconhecer que a amplitude do campo social influencia as
questões éticas quase que intrinsecamente.
No âmbito social, embora a ética abranja as relações e condutas em sociedade,
também é possível entendê-la de maneiras diversas conforme cada cultura, tempo e
local. Valls (2000) aponta que a ética é uma condição situacional, que diz respeito
aos hábitos e comportamentos socialmente aceitos em determinado espaço e tempo.
Nesse sentido, a ética é uma construção variável, que apresenta mudanças. Já
Passos (2004) diz que a ética profissional corresponde às normas morais que
orientam a prática e postura de um profissional em todas as esferas de atuação.
A filosofia deontológica se relaciona com a atuação ética no campo profissional, como
afirmam Finkler, Caetano e Ramos (2013). Entretanto, é importante ressaltar que
essa vertente da ética deve se pautar em valores, padrões e normas éticas
correspondentes aos direitos humanos e disposições estabelecidas nos códigos de
ética profissional, elaborados pelos conselhos profissionais de classe. Estes
contribuem na orientação da adequada relação de cada profissional tanto com seus
pares quanto a sociedade.

Problemas éticos e morais


No cotidiano, a ética e a moral se complementam, pois são as bases que norteiam as
posturas e atitudes humanas, revelando, assim, caráter e virtudes perante as relações
e situações. Desse modo, surgem algumas problemáticas envolvidas nesses
conceitos. Partindo desse princípio, é possível dividir o tema em dois campos
específicos: profissional e social.
// Campo profissional
Peduzzi (2003), aponta que esse campo envolve ações técnicas e éticas que se
complementam. A dimensão técnica envolve a realização de procedimentos e
condutas correspondentes às atribuições de cada profissão. Já a dimensão ética
envolve posturas que se refletem no relacionamento com os demais membros da
equipe, bem como com os usuários e pacientes do serviço ou instituição. Além disso,
ela considera responsabilidades que vão além do saber técnico.
Arroyo (2008) considera como ética a postura do profissional que respeita a dignidade
humana, dado que cada pessoa pertence a um contexto territorial, familiar,
educacional, econômico e, em sentido mais amplo, social e cultural. Tudo isso
envolve a condição de existência de cada pessoa e impacta sua condição pessoal,
bem como sua saúde física e psicológica. Durante o processo de promoção de
cuidado, os profissionais devem considerar tais determinantes.
Em conjunto com seus colaboradores, Montenegro (2016) aponta que o processo de
trabalho, quando pautado na ética, possibilita a evolução harmoniosa e promotora de
cuidado. Quando os profissionais são capazes de enfrentar os conflitos de maneira
equilibrada, por meio de competências e habilidades promotoras de relações
respeitosas, dinâmicas e que preservam a autonomia, é possível considerar as
funções e hierarquias existentes nos serviços como espaços promotores de relações
profissionais pautadas no rigor ético.
No entanto, apontam os autores, problemas podem surgir nesse campo e se
relacionarem a questões de postura profissional no campo de atuação. Destacam-se
as situações que envolvem o processo de tomada de decisão diante de casos
específicos. Tais divergências entre as categorias profissionais se relacionam a uma
postura de hierarquia de saberes. Em outras palavras, diante de demandas que
envolvam decisões de todos os envolvidos no caso, alguns profissionais julgam ter
mais conhecimento que os demais. É importante ressaltar, porém, que essa situação
pode culminar em problemas éticos.
Arroyo (2008) também colabora na discussão das atitudes dos profissionais. Para ele,
os que agem sobre bases éticas devem considerar que, em alguns casos, seus
saberes e habilidades técnicas não são suficientes para efetivar um cuidado resolutivo
e eficaz. Desse modo, é preciso levar em consideração os conhecimentos de outras
categorias de profissionais. Jamais se deve considerar tal colaboração como
evidência de uma insuficiência de saberes. Em outras palavras, um profissional não
deve julgar a si mesmo incapaz por solicitar ajuda de outro independentemente da
demanda.
Nesse sentido, Ford e seus colaboradores (2008) destacam o trabalho em equipe
baseado no modelo de cuidado interdisciplinar. Pautado em uma abordagem
sistêmica, ele considera o indivíduo em sua condição ampliada de “sujeito inserido
em contextos que perpassam sua capacidade individual”. O modelo também envolve
a reflexão entre os profissionais sobre a importância e eficiência de uma atuação
compartilhada e com olhares de diferentes perspectivas. O contexto vai além de uma
complementação técnica; envolve um compartilhamento de valores morais e éticos
concernentes aos profissionais. Dada a importância de uma visão ampliada do
indivíduo e de uma prática pautada no compartilhamento de saberes, é importante
estimular a discussão sobre a importância da interdisciplinaridade desde a formação
acadêmica.
Conflitos de ordem ética surgem em todos os contextos profissionais. De
acordo com Kemp e seus colaboradores (2008), eles normalmente se relacionam com
posturas profissionais que não consideram certos princípios, como:

Nesse sentido, Bettinelli, Waskievicz e Erdmann (2003) consideram como não


humanizados as práticas ou ambientes onde o profissional não reconhece a
autonomia e corresponsabilidade do usuário/paciente no seu cuidado. Nessa visão,
ele se torna passivo às prescrições profissionais, que podem se distanciar de suas
reais necessidades.
Conforme a política nacional de humanização de 2013, práticas humanizadas
de cuidado no campo profissional refletem posturas éticas e responsáveis quanto aos
pacientes. Elas englobam estratégias de acolhimento e o uso de tecnologias em
saúde; mais precisamente, a tecnologia leve que compreende a promoção de vínculo
e possibilita um melhor entendimento das demandas. Por sua característica
transversal, o acolhimento pode ocorrer em todos os âmbitos de promoção de
cuidados; não apenas no setor de saúde.

// Campo socal
A sociedade antecede o indivíduo. Conforme Constantino e Malentachi (2014), a
realidade social já existe quando nascemos. Portanto, somos inseridos em uma
cultura preexistente. Os autores afirmam que o meio social envolve o cotidiano e as
relações interpessoais estabelecendo uma relação simbiótica entre ambos.
O processo de globalização, porém, transforma a sociedade atual. De acordo com
Constantino e Malentachi (2014), as pessoas experimentam novos modos de vida, os
quais apontam para uma valorização de aspectos materiais e individuais em
detrimento de relações pessoais humanos e solidárias. Os autores ainda destacam a
cultura da hiperabundância, o hipercapitalismo, a individualidade, a ausência de
significações e o excesso do “ter” e o vazio do “ser”. Em meio a essa lógica, os
indivíduos se veem em meio a uma abundância de objetos e infinidade de serviços
que possibilitam o ilimitado.

Nesse contexto, a fragilidade ética se torna marcante. Afinal, quando os indivíduos


facilitam o consumo sem limites, a abundância de objetos e a infinidade de serviços,
a ideia de “se tornar ético” fica em segundo plano. As pessoas experimentam novos
modos de vida, os quais apontam para uma valorização de aspectos materiais e
individuais em detrimento de relações pessoais humanas e solidárias.
Outro ponto que perpassa a ética diz respeito ao preconceito contra indivíduos,
grupos ou culturas. Para compreender o preconceito, é necessário entender o
conceito de “atitude”, baseado na psicologia social. “Atitude” corresponde a um
sistema relativamente estável que compreende experiências e comportamentos
relacionados a um objeto ou evento específico. Para cada atitude existe um
componente cognitivo, afetivo e comportamental, ou seja, de crenças, ideias e
sentimentos, valores e afetos associados que levam a tendências comportamentais,
a predisposições.
O preconceito se forma pela atitude negativa do sujeito em relação a um
determinado grupo, cultura, raça ou religião. Trata-se de um fenômeno histórico,
observado em todas as sociedades e relacionado à ética e à moral. O exemplo mais
evidente é o racismo: os racistas acreditam que os membros de determinados grupos
são inferiores do ponto de vista cognitivo, social e biológico, portanto, merecedores
de hostilidade. Situações que envolvem racismo seguem para além de uma questão
ética e moral; envolvem o entendimento irracional e a criminalidade.

➢ SINTETIZANDO
Os fundamentos históricos da ética advêm etimologicamente da sociedade grega e
perpassam por bases filosóficas introduzidas por diferentes correntes e teóricos. A
ética possibilita a compreensão dos princípios e valores que antecedem e determinam
o comportamento de indivíduos diante da sociedade e das relações interpessoais em
todos os campos do cotidiano.

Sócrates introduziu o conceito de ética na filosofia. Por meio de seu método de


diálogo, ele incentivava as pessoas a construírem seu pensamento ético. Seu
discípulo, Platão, considerava o método dialético e entendia que a finalidade de toda
conduta ética é a felicidade. Considerando os vários pensadores sobre o tema,
surgiram diversas correntes e abordagens filosóficas que tratam sobre a ética.

As principais abordagens são: teleologia, que entende o tema como uma conduta
virtuosa que busca a felicidade como a finalidade; utilitarismo, que prioriza o bem
coletivo e a utilidade como princípios éticos; humanismo, onde a ética só pode ser
construída na relação com o outro, ou seja, nas relações interpessoais;
existencialismo, que compreende a ética como um modo de existência humana; e
deontologia, que diz que toda ação ética deve considerar a verdade e as normas
morais estabelecidas socialmente.

No campo pessoal, a ética se constrói ao longo do tempo e traduz os valores e


princípios singulares de cada pessoa. Já o campo social reflete os hábitos e
comportamentos aceitos como corretos e virtuosos, mas reconhece que eles mudam
de acordo com o tempo e local. No campo profissional, além dos valores dispostos
no campo individual e social, a ética também deve prezar pelas normas estabelecidas
nos códigos de ética profissional de classe. Vale salientar que problemas éticos
podem surgir nesse campo, os quais se relacionam ao processo de trabalho e às
relações entre equipe e usuário/paciente.

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