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"O Homem é animal social".


Esta afirmação de Aristóteles nos remete a uma reflexão profunda em relação ao lugar do Homem no
mundo. O facto é que, o Homem é o único animal que vive em sociedade. A palavra Social constante da
frase vem de Sociedade. Ao falar de sociedade, implica afirmar conjunto de pessoas que se relacionam a
partir de normas, regras e princípios estabelecidos, os quais servem de regulação dos comportamentos entre
os integrantes na sociedade.

Ética
A palavra ética vem do grego ethos, que significa hábito ou costume, aludindo, assim, aos comportamentos
humanos.
-A ética é um modo de regulação dos comportamentos que provém do indivíduo e que assenta no
estabelecimento, por si próprio, de valores (que partilha com outros) para dar sentido às suas decisões e
acções.
Objetivo da E - O juízo de apreciação que distingue o bem e o mal, o comportamento correcto e o
incorrecto.
Função - Aristóteles, que o homem é um animal racional. Uma vez que não existem regras de
comportamento aplicáveis a todas as situações e a todo o momento, a ética tem a função de fornecer
princípios operativos, normas, valores para a actuação, que o homem vai aplicar, de uma forma evolutiva,
utilizando a sua razão, procurando em permanência as melhores soluções para os problemas que se lhe
colocam.
Em suma, se quisermos utilizar uma fórmula do Comportamento Ético fica: CE =V+R Em que CE é o
Comportamento Ético, V os Valores e R a Racionalidade.

Moral
Deriva da palavra latina mores (que também significa costumes). Moral é um conjunto de regras, valores e
proibições vindos do exterior ao homem, ou seja, impostos pela política, a religião, a filosofia, a ideologia,
os costumes sociais, que impõem ao homem que faça o bem, o justo nas suas esferas de atividade.

Costumes
Os costumes são formas de pensar e de viver partilhadas por um grupo. Assentam em regras informais e
não escritas que regem as práticas do grupo e que traduzem as suas expectativas de comportamento.
Hétero regulação (obrigação) Auto regulação (vontade de se regular)
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Direito
É o modo de regulação dos comportamentos mais operativo nas sociedades democráticas, pois impõe
obrigações e estabelece mecanismos procedimentais para garantir a sua aplicação. Através das leis, garante-
se a organização e o funcionamento da sociedade e estabelecem-se relações claras de autoridade e de poder.
No direito os comportamentos sucedem o seguinte:
• São, em simultâneo, legais e éticos;
• Há outros casos em que são eticamente não censuráveis, mas que o direito tem de sancionar, em nome do
"dano social" (são éticos, mas ilegais);
• E há também casos de comportamentos legais, mas eticamente condenáveis - neste caso, porque a lei pode
ser injusta e imoral, ou porque é possível respeitar a letra da lei, violando o sentido que ela deveria ter.

Deontologia
Deriva do grego deon ou deontos/logos e significa o estudo dos deveres especiais de uma situação,
particularmente dos deveres das diversas profissões. Muitas vezes utiliza-se mesmo a expressão
anglosaxónica Professional ethics para designar a deontologia.
O objectivo da deontologia é reger os comportamentos dos membros de uma profissão para alcançar a
excelência no trabalho, tendo em vista o reconhecimento pelos pares, garantir a confiança do público e
proteger a reputação da profissão.
Em resumo, se quisermos distinguir de forma sucinta:
• A deontologia determina o dever que regula uma dada situação;
• O sujeito apenas reflecte sobre o melhor meio de agir em conformidade com ele: utiliza-se o raciocínio
"normativo", que identifica e aplica uma norma que corporiza um dado valor;
• É, por isso, uma forma de hetero-regulação: o bom comportamento decorre da execução de uma norma,
de uma obrigação imposta do exterior.

ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ÉTICA


Idade antiga (Naturalismo Cosmológico)
O que favoreceu o nascimento da ética neste período são, a condição política precária que a Grécia (a cidade
de Atenas) vivia. Trata-se de problemas como: Democracia escravista, a democratização da vida política,
entre outros.
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Sócrates (469 – 399 a. C.) é considerado o pai da filosofia moral. Constitui o marco da divisão entre o
período cosmológico (chamado de pré-socrático) e o período humanista (iniciado por ele). Dedicou-se à
busca da verdade que segundo ele deveria ser uma forma de juízo universal, capaz de dirigir a vida das
pessoas no plano pessoal e político.
A questão central da sua ética era o bem supremo da vida humana que é a felicidade (eudemonia). Para
ele, a felicidade não de veria consistir em ter sorte ou ser rico mas pelo contrário em proceder o bem e ter
alma boa. Assim, o Bem era agir bem e a felicidade, ter uma vida correcta.
Sócrates - Quem pratica o mau é porque é ignorante, ou seja, não conhece o bem. Quem pratica o bem é
porque conhece e por conseguinte é feliz. Portanto, as questões morais devem ser resolvidas à luz da razão.

Platão (427 – 347 a. C.) foi discípulo de Sócrates. Platão desiste o desejo de participar na vida política e
funde a Academia onde se dedicou à filosofia, matemática e Astronomia.
Platão defende que existem dois mundos: um sensível e o outro supra-sensível ou inteligível. O mundo
sensível subordina-se ao das ideias (inteligível). O mundo sensível é o das cópias e de imperfeição. Porém
o mundo das ideias é onde está a verdadeira realidade. Assim, o bem só pertence ao mundo sensível como
reflexo do mundo das ideias.
Segundo Platão, a alma é constituída de razão, vontade e apetite, destacando a superioridade da primeira (a
razão) em detrimento do apetite que era inferior pois está ligada as necessidades do corpo.
Para Platão, as virtudes devem ser praticadas. Destaca as seguintes virtudes: a Prudência (virtude da razão);
Fortaleza (virtude da vontade); e a Temperança (virtude do apetite). Como a sua teoria com ética associa-
se a política, a razão (a prudência) corresponderia aos governantes (filósofo), a fortaleza aos guerreiros e a
temperança aos artesãos.

Aristóteles (384 – 322 a. C.) foi o discípulo e preceptor de Alexandre Magno e discípulo da Academia de
Platão. A sua preocupação era a forma como as pessoas viviam na sociedade.
O pensamento ético de Aristóteles era finalista, isto é, visava alcançar um fim, no sentido do ser humano
poder alcançar a felicidade. Entendia a moral como um conjunto de qualidades que definiam a forma de
viver das pessoas, uma espécie de segunda natureza que guiaria o ser humano para a felicidade, considerada
a aspiração da vida humana.
O bem moral consistiria em agir de forma equilibrada e sob orientação da razão. Viver bem e de modo
equilibrado não era uma situação natural do ser humano, mas sim decorrente de um aprendizado que se
daria por intermédio da razão e do desenvolvimento de bons hábitos. Valorizou a vontade humana e a
deliberação, seguido de esforço para praticar bons hábitos.
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Idade média (Antropológico Humanismo)


A Idade Média é considerada época preconceituosa, marcada por um momento de obscurantismo; foi um
período justificado pelas epidemias e pelo medo reinante. Na Idade Média, o cristianismo tornou-se a
religião oficial
A ética cristã estabelece a relação entre Deus e o homem. Deus é colocado como origem e fim de tudo, até
mesmo as acções humanas. Cabe ao homem seguir as leis divinas, submeter-se a Ele. Com este
entendimento as virtudes morais da Idade Antiga são substituídas por outras como a fé, a esperança e a
caridade. Exalta-se a ideia de igualdade entre os seres humanos pela condição de filhos de Deus; trata-se de
uma igualdade espiritual.

Santo Agostinho (354 - 430) – viveu no período intermediário entre o fim do mundo grego e início da
Idade Média. Trata-se de um período em que o Cristianismo foi o centro de tudo, e a razão estava em
decadência. O pensamento ético de Santo Agostinho está enraizado no cristianismo. Para ele, o ser humano
era a sede de Deus e o mundo exterior só fazia sentido porque tinha Deus em si. Para ele o ser humano
constituía-se de uma massa de pecado e perdição cuja recuperação dependia da vontade e da bondade divina.
A moral fazia parte do domínio divino, as suas normas e valores eram criações livres de Deus. Assim, os
valores morais só teriam sentido por sua relação com a vontade de Deus, e o bem só seria bem diante da
mesma condição.

Tomás de Aquino (1225 - 1274) – foi um teólogo e professor da mesma área. A sua maior preocupação
em todos os seus escritos foi de discutir o uso da razão, os erros cometidos e os acertos apresentados. A
razão não deveria extrapolar seus limites e penetrar nos limites da fé. Já para Tomás de Aquino o fim último
é Deus, e a felicidade encontra-se Nele.
Tanto Aristóteles assim como Tomas de Aquino concluem que para chegar à felicidade é através da
contemplação e pelo conhecimento. Porém, para Tomas esse conhecimento refere-se a contemplação de
Deus e dos seus atributos.

Idade moderna (escolástica, Humanismo e Renascimento)


A Idade Moderna estabeleceu-se entre os séculos XVI e XIX e teve características totalmente diferentes da
Idade Média em todos os aspectos: económico, político, social e espiritual. Esteve centrada nas relações
económicas capitalistas e no desenvolvimento científico.
Esta ética que surge e vigora neste período teve tendências antropocêntricas (centrada no homem), em que
o ser humano é seu fim e fundamento. O homem aparece como o centro de tudo: da ciência, da politica, da
arte e da moral.
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Immanuel Kant (1724-1804) – a sua teoria ética baseia-se nas obras: Fundamentação da metafísica dos
costumes (1785) e Crítica da razão prática (1788). Na sua teoria ética, defende que o valor concedido ao
sujeito como activo e criador. A lei moral é apresentada ao homem através da sua consciência.
Para Kant, o bem em si é a boa vontade. A vontade é boa quando o indivíduo age sem nenhum interesse
que não seja o cumprimento do dever pelo dever. Enquanto as doutrinas éticas anteriores tinham por
objectivo atingir uma felicidade ou bem, já a moral kantiana é uma mora da pura razão e do puro dever.
Kant reconhecia que os preceitos da sua ética eram duros e difíceis de serem colocadas em prática, mas
estava convencido de que uma sociedade perfeita só seria possível se a beleza, a felicidade, o amor, se
submetessem ao dever e à moralidade.

Idade contemporânea (Reforma religiosa, Iluminismo e Razão)


Este é o período marcado de grandes progressos ao nível científico e da valorização do ser humano em
concreto. Nesse período exalta-se uma ética que tenha o ser humano como sua origem e seu fim. As regras
morais transformaram-se em regras de convivência e os direitos fundamentais passam a ser a igualdade e a
liberdade, ou seja, as chamadas virtudes públicas.

Karl Marx (1818 - 1883) – foi fundador e maior representante do materialismo histórico. Fundou uma
moral com bases concretas e reais. Entendia o ser humano como um ser social e histórico, objectivo e
subjectivo, capaz de interferir na realidade e transforma-la à sua medida.
A moral na perspectiva marxista é relativa porque é condicionada ao momento e as condições históricas, e
também de classe, pois cada classe elabora seus princípios morais, os quais serão constituídos ou adaptados
aos princípios da classe dominante. Com isso os valores morais alteram-se de época para época ou
apresentam-se com características diferentes dentro de um mesmo período, a depender das classes sociais.

Friedrich Nietzsche (1844 -1900) – de origem alemã, o seu interesse não era de formular um sistema
teórico, mas uma experiência estética da vida. Procurou ultrapassar a dicotomia que colocava a verdade
como um Bem e o erro como Mal, buscando conhecer a origem dos valores, ou seja, entender o porquê da
valorização de determinados actos e não de outros.
Para Nietzsche, a sociedade ensina os indivíduos a viverem de acordo com um moralismo doentio, que
desqualifica o que existe de mais humano, como os sentimentos e os instintos. Usa a dor como um recurso
importante, como auxiliar da memória.
Portanto, o indivíduo soberano é aquele que se orienta por sua consciência e responde por si mesmo. Os
seres humanos devem lutar para tornarem-se senhores dos seus instintos fundamentais, dos seus instintos
animalistas que foram deixados de lado por imposição de um moralismo doentio.
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Jean- Paul Sartre (1905 - 1980) – é considerado um dos maiores expoentes da corrente existencialista.2
A sua teoria ética baseia-se na liberdade como fim, de modo que são os seres humanos que vão atribuir
valor ao mundo, pois ele não tem valor nem sentido. Os seres humanos vão lhe atribuindo valor, a partir da
sua experiencia concreta e das suas escolhas. Assim, o valor do acto moral não se dá pela submissão a
princípios estabelecidos e sim pelo uso que o sujeito fizer da sua liberdade. Só a liberdade decide, e como
existem parâmetros, leis, normas, a liberdade torna-se o fim e o valor mais importante.

Resumo
Na Idade Antiga a moral estava relegada somente para homens livres. As ideias de Sócrates, Platão e
Aristóteles confluem no mesmo ponto ao defenderem uma moral de elite
período medieval, os princípios morais possuíam um conteúdo religioso e que prometiam aos indivíduos
uma vida melhor, numa realidade mais justa e igualitária no céu.
Na Idade moderna, principalmente com Kant, houve uma reacção aos princípios da ética medieval
desenvolvendo uma ética antropocêntrica
No período contemporâneo, a ética apresenta-se como uma forma de reacção contra o formalismo das
teorias modernas, sobretudo a de Kant, a favor de um mundo concreto, histórico e do ser humano real

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