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TEORIAS ÉTICAS

I - GRÉCIA CLÁSSICA (Dos Sofistas aos Epicuristas)

- as primeiras reflexões éticas conhecidas na Grécia Antiga procuravam desenvolver os


talentos individuais e a ética era encarada como “uma arte de viver para ser feliz”.
- esta concepção está na base da formação da pólis (cidade) e da democracia.
- o homem livre deveria ser moderado e um sujeito moral pela sua atitude (ethos) e não
apenas pela obediência a um código de conduta.
- a ética era uma reflexão sobre a “arte de saber viver”.
- com a democracia, a razão torna-se na principal função do homem livre e o “homem
excepcional” definia-se pela excelência ou virtude do seu estilo de vida e da forma como
desempenhava a sua função na pólis.
- a vida humana passa a ser uma praxis – acção orientada pelo dever, onde cada um
procura fazer da sua vida uma vida exemplar, procurando servir o bem comum para ser
feliz.
SOFISTAS (critério da conveniência/relativismo)
- 1os.profissionais do ensino (retórica, política, direito, moral); defendiam o
convencionalismo das ideias morais: não é fixo (o bom/o mau; o justo/o injusto); as
práticas culturais existem em função de convenções e que a moralidade/imoralidade de
um acto não devia ser julgada fora do seu contexto cultural.
- “valor instrumental da razão” = um meio ou instrumento de domínio da natureza e do
homem (diferente da razão crítica = aquela que possibilita o conhecimento verdadeiro e
emancipador do homem).
- a razão deixa de se preocupar com os fins da Virtude e é agora vista como um meio
para desenvolver a arte de argumentar e dominar pela palavra.
-o bem e o mal passam a ser convencionais e justificados segundo os interesses de cada
um:
--- a conveniência do mais forte – Trasímaco
--- o homem é a medida de todas as coisas – Protágoras
- segundo os sofistas há 2 leis que regem a natureza humana: a busca de prazer e o domínio
do mais forte.
SÓCRATES (critério da universalidade da razão)

-rompe com a ideia sofista de que tudo deveria ser avaliado segundo os interesses
particulares do homem e da forma como este vê subjectivamente a realidade.
-os valores do do bem da verdade, e da justiça correspondem a ideias universais e só
podiam valer quando, nas mesmas circunstâncias, fossem um bem para toda a gente.
- o que torna o ser humano é a razão, aquilo que lhe dá dignidade e que deve dar a resposta
á questão Como se deve viver?
- só pode ser feliz quem vive de harmonia com a sua natureza e, sendo por natureza um
ser racional, o homem só pode ser recompensado com a felicidade se orientar a sua
vontade pelos princípios da razão e não pelos instintos /desejos/interesses.
- a formação moral do homem é o caminho que conduz ao fim último: a felicidade.
- a função da razão: procurar o bem e a verdade universal, que existem,
independentemente dos interesses ou da vontade de cada um (só é bem /verdadeiro o que
for aceite por todos).
- Sócrates preferiu ser condenado à morte do que trair a razão.

PLATÃO
- segue as ideias do mestre. (Sócrates): Defende que os conceitos morais se podiam
estabelecer racionalmente, através de definições rigorosas, que pudessem ser assumidas
como valores morais de validade universal.
- ideias = conceitos morais, realidades eternas no mundo inteligível mas marcadas na
alma de todos nós levando o homem a se libertar das pressões do corpo que o prendem
ao mundo sensível dos desejos e dos instintos.
- nesse percurso, a alma deveria exercitar 3 faculdades: prudência, fortaleza, temperança

ARISTÓTELES
- surge a 1ª sistematização holística da ética: teoria ética fundada na observação empírica
(desligada da metafísica).
- interessa-se pela felicidade na terra e não pelo bem ideal.
-o homem não é apenas um animal racional, é também um animal político.
- a ética é inseparável da política.
- a principal virtude da política é a justiça: é a forma perfeita de excelência moral; e tem
2 sentidos: respeito pela lei e respeito pela igualdade.
- a felicidade pública não difere da felicidade privada.
- a política visa 2 fins:
1º : organizar a vida social através de leis justas que promovam a justiça: respeito
pela lei e pela igualdade; defesa do princípio da equidade, para corrigir a universalidade
da lei: dar a cada um o que lhe é devido, tendo em conta vários parâmetros.
2º: promover a educação para a virtude

- Aristóteles é o primeiro filósofo a formular o princípio da responsabilidade: o futuro


não está pré-determinado; o homem escolhe voluntariamente; é necessária prudência e
pensar nas consequências.
- não há um bem em si (diferente de Platão) mas sim de acordo com as actividades (ex: a
medicina tem como bem a saúde que é o fim dessa actividade).
- há bens de ordem superior que provêm da parte nobre da alma e que é composta por: a
sensação, o desejo e a razão.
- A sensação, por si só, não determina a acção humana; agir implica escolher, segundo
um desejo; só a razão e o desejo podem produzir a acção humana; o desejo escolhe o fim
e a razão os meios próprios para esse fim/bem.
3 tipos de vida com 3 finalidades/bens:
1º - Vida agradável = “aproveitar a vida”, comparáveis aos animais; nada mais querem.
2º - Vida política = procura-se como bem as honras que resultam dos méritos; homens
qualificados e actuantes.
3º - Vida contemplativa = uma escala superior de finalidades; visam a verdade, a
perfeição ou o Supremo Bem.
- o 2º e o 3º possibilitam o máximo desenvolvimento de aptidões para alcançar a
excelência moral e o supremo bem/felicidade.

- Aristóteles considera que a virtude está no nosso poder de escolha e isso relaciona-se
com a predisposição do caráter para procurar a excelência:
1- excelência intelectual (sophia): inteligência, senso comum e que diz respeito ao saber
teórico, à temperança, à verdade.
2 – excelência moral (phoronesis): liberdade, moderação, o saber ligado à vida (sabedoria
prática), a coragem, a prudência, a justiça, a generosidade.

-assim, o homem torna-se virtuoso pelo modo como une a razão ao desejo e a virtude está
nos meios que o homem escolhe para agir.
- a ética de Aristóteles é uma ética da virtude porque o homem só alcança a felicidade
praticando a virtude.
ESTOICISMO

- a mudança política na Grécia antiga ditou o “fim” da democracia e a força moral do


homem deixou de se apoiar nas virtudes da vida cívica e o saber divide-se agora em Física
(saber natural), Lógica (saber racional) e Ética ( saber moral).
- o individualismo ganha espaço e força: perderam-se o espírito da cidade (preocupação
com uma vida em comum) e a liberdade política --- crise de valores – a felicidade é agora
procurada no interior de cada homem.
- o Estoicismo e o Epicurismo são agora os 2 sistemas éticos.
-a 1ª escola estoica é fundada por Zenão de Citio, estrangeiro que vive em Atenas em
311 a.C.
- objetivo: propor regras de acção que levem o homem a encontrar a felicidade.
- Influência da ideia semita de um deus todo-poderoso que governa o destino dos homens
e isto leva a uma concepção do Universo como um todo (cosmos), sendo as coisas que
nele existem (deus, alma, bondade) dotadas de corpo.
- Distinção entre a matéria propriamente dita e o princípio que anima, que dá vida (alma,
logos ou razão divina): é o Logos que governa a matéria universal/cosmos e assim nada
acontece por acaso: tudo está predeterminado por um destino e controlado pelo espírito
divino.
- o ponto de partida para estabelecer as regras que levam o homem à felicidade tem a ver
com uma harmonia entre as leis da natureza e a moralidade.
- o cosmos é orientado pelo logos e viver, segundo a natureza, é viver segundo a razão.
- deixa-se a relação homem/cidade (Aristóteles) e temos agora homem/cosmos.
- a virtude será escolher acções que se harmonizem com a lei natural.
-Lei Natural = tudo acontece como deve acontecer e porque tem de acontecer.
= a lei que anima o cosmos (incluindo o homem) é uma força interna que
se identifica com um princípio divino, OU razão OU Logos: princípio gerador de tudo o
que acontece.
- a lei natural torna-se na lei do homem e, consequentemente, lei ética e jurídica, antes de
ser lei política.
- segundo os estoicos: o homem sábio obedece à lei natural como sendo parte de uma
peça da ordem do cosmos e nada podemos fazer para mudar o curso dos acontecimentos
e o auto domínio é a principal virtude.
EPICURISMO
- a escola epicurista (jardim da felicidade) foi fundada por Epicuro (341-271 a. C.) em
Atenas
- segue a linha estoica, considerando que tudo é matéria e que é no seu eu interior que o
homem deve procurar a felicidade que seria alcançável se o homem se libertasse de 2
medos: o medo do castigo dos deuses e o medo da morte.
- morrer não é um mal e viver não é um peso.
- o bem que conduz à felicidade identifica-se com o prazer.
- o valor moral do prazer é aqui sistematizado como doutrina ética.
- o prazer mais básico e rudimentar: a fuga à dor e o prazer sensível.
- Há prazeres positivos – a alegria, a satisfação; e prazeres negativos – o repouso, a
serenidade, o descanso.
- só ganha dimensão ética a acção que busca o prazer e o prazer que nos dá felicidade é o
moderado, estável e duradouro.
- importância do autodomínio para evitar os excessos.
- o desejo de prazer é o fundamento da ética de Epicuro.

SÍNTESE

As teorias éticas gregas, entre o século V e o século IV a.C. são marcadas por dois
aspectos fundamentais:

Polis = A organização política em que os cidadãos vivem - as cidades-estado -, favorecem


a sua participação activa na vida política da sociedade. As teorias éticas apontam para um
determinado ideal de cidadão e de sociedade.

Cosmos = Algumas destas teorias ético-políticas procuram igualmente fundamento em


concepções cósmicas.

Teorias Éticas Fundamentais

Sofistas = defendem o relativismo de todos os valores. Alguns sofistas afirmam que o


valor supremo de qualquer cidadão era atingir o prazer supremo; o máximo prazer
pressupunha o domínio do poder político e este só estava ao alcance dos mais fortes,
corajosos e hábeis no uso da palavra. A maioria eram fracos ou inábeis, pelo que estavam
condenados a serem dominados pelos mais fortes.

Sócrates (470-399 a.C.) = Defende o carácter eterno de certos valores como o Bem, a
Virtude, a Justiça, o Saber. O valor supremo da vida é atingir a perfeição e tudo deve ser
feito em função deste ideal, o qual só pode ser obtido através do saber. Na vida privada
ou na vida pública, todos tinham a obrigação de se aperfeiçoarem fazendo o Bem, sendo
justos. O homem sábio só pode fazer o bem, sendo as injustiças próprias dos ignorantes.
Platão (427-347 a.C.) = Defende o valor supremo do Bem. O ideal que todos os homens
livres deveriam tentar atingir. Para isto acontecesse deveriam ser reunidas, pelo menos
duas condições: 1º Os homens deviam seguir apenas a razão, desprezando os instintos ou
as paixões; 2º A sociedade devia de ser reorganizada, sendo o poder confiado aos sábios,
de modo a evitar que as almas fossem corrompidas pela maioria, composta por homens
ignorantes e dominados pelos instintos ou paixões.

Aristóteles (384-322 a.C.) = Defende o valor supremo da felicidade. A finalidade de todo


o homem é ser feliz. Para que isto aconteça é necessário que cada um siga a sua própria
natureza, evite os excessos, seguindo sempre a via do "meio termo" (Justa Medida).
Ninguém consegue, todavia, ser feliz sozinho. Aristóteles, à semelhança de Platão, coloca
a questão da necessidade de reorganizar a sociedade, de modo a proporcionar que cada
um dos seus membros possa ser feliz na sua respectiva condição. Ética e política acabam
sempre por estar unidas.

Com o domínio da Grécia por Alexandre Magno, e os Impérios que lhe seguiram, altera-
se os contextos em que o homem vive. As cidades-Estados são substituídas por vastos
Impérios constituídos por uma multiplicidade de povos e de culturas. Os cidadãos sentem
que vivem numa sociedade na qual as questões políticas são sentidas como algo muito
distantes das suas preocupações.
Agora, as teorias éticas são nitidamente individualistas, limitando-se em geral a
apresentar um conjunto de recomendações (máximas) sobre a forma mais agradável de
viver a vida.

A relação do homem com a cidade é substituída pela sua relação privilegiada com o
cosmos. Viver em harmonia com ele é a suprema das sabedorias.

Epicuristas = O objectivo da vida do sábio é atingir máximo de prazer, mas para que isso
seja possível ele deve apartar-se do mundo. Atingir a imperturbabilidade do espírito e a
tranquilidade do corpo.

Estóicos = O homem é um simples elemento do Cosmos, cujas leis determinam o nosso


destino. O sábio vive em harmonia com a natureza, cultiva o autodomínio, evitando as
paixões e os desejos, em suma, tudo aquilo que pode provocar sofrimento.

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