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Resumos de Ética e Deontologia:

A ética tem sido tradicionalmente analisada por filósofos desde o tempo dos gregos clássicos. A
palavra ética vem do grego ethos, que significa hábito ou costume, aludindo, assim, aos
comportamentos humanos. É o domínio da filosofia responsável pela investigação dos princípios
que orientam o comportamento humano. Ou seja, que tem como objeto o juízo de apreciação que
distingue o bem e o mal, o comportamento correto e o incorreto. A ética é um modo de regulação
dos comportamentos que provém do indivíduo e que assenta no estabelecimento, por si próprio, de
valores (que partilha com outros) para dar sentido às suas decisões e ações. Faz um maior apelo à
autonomia, ao juízo pessoal do indivíduo e também à sua responsabilidade do que os outros
modos de regulação, pelo que se situa numa perspetiva de autoregulação. A autonomia do
indivíduo é, desta forma, algo de paradoxal, na medida em que a liberdade de que dispõe é
simultaneamente um encargo: impõe ao indivíduo que se abra às necessidades dos outros e que
procure encontrar um equilíbrio entre a sua própria liberdade e a responsabilidade relativamente
aos outros. A ética ajuda o indivíduo neste caminho. Os princípios éticos são diretrizes pelas quais
o homem, enquanto ser racional e livre, rege o seu comportamento. O que significa que a ética
apresenta, em simultâneo, uma dimensão teórica (estuda o "bem" e o "mal") e uma dimensão
prática (diz respeito ao que se deve fazer).
Ajuda o indivíduo a explicar as razões das suas ações e a assumir as respetivas consequências. A
ética é, assim, uma filosofia prática que procura regulamentar a conduta tendo em vista o
desenvolvimento humano. Porque procura aperfeiçoar o homem através da ação e por isso procura
que os atos humanos se orientem pela retidão, isto é, a concordância entre as ações e a verdade ou
o bem. Nesta medida, a ética é uma racionalização do comportamento humano, ou seja, um
conjunto de princípios obtidos através da razão e que apontam o caminho certo para a conduta. Por
isso se diz, como Aristóteles, que o homem é um animal racional. Uma vez que não existem regras
de comportamento aplicáveis a todas as situações e a todo o momento, a ética tem a função de
fornecer princípios operativos, normas, valores para a atuação, que o homem vai aplicar, de uma
forma evolutiva, utilizando a sua razão, procurando em permanência as melhores soluções para os
problemas que se lhe colocam.
O comportamento humano foi, desde sempre, avaliado sob o ponto de vista do bem e do mal, do
certo e do errado. A ética diz-nos, não o que o homem pode fazer, mas o que o homem deve fazer.
Ou seja, elucida-nos sobre as escolhas que o homem deve fazer em liberdade e através das quais
se desenvolve e aperfeiçoa.
Estas escolhas (entre o bem e o mal, entre o certo e o errado) podem ser baseadas em várias
doutrinas, desenvolvidas ao longo da história por diversos filósofos, mas atualmente são estudadas
também por sociólogos, psicólogos e outros estudiosos do comportamento humano. Tais doutrinas
estabelecem conjuntos de princípios morais interligados de forma consistente. Os pressupostos e
opções das várias doutrinas éticas devem merecer uma análise crítica, para que cada indivíduo
possa identificar a que mais se adequa à sua concepção de humanidade.
Para muitos, a ética é essencialmente subjetiva, tem a ver com valores e opiniões pessoais, o que
explica porquê as pessoas discordam sobre tantas questões éticas. Esta discussão entre objetivismo
e subjetivismo remonta aos Sofistas e a Sócrates e Platão. Enquanto que os sofistas consideravam
que o bem e o mal refletem as opiniões subjetivas, Platão e Sócrates acreditavam que o bem e o
mal faziam parte da natureza objetiva das coisas. No mundo de hoje, o individualismo e a
concorrência feroz parece ter feito triunfar o utilitarismo: os fins justificam os meios. Não só no
mundo dos negócios mas também ao nível político, com decisões tomadas a partir do ideal
aritmético da justiça social que lhe está subjacente. Esta abordagem foi adoptada em detrimento de
uma abordagem objetiva das normas morais, reforçando o relativismo moral, as "éticas de
ocasião", "éticas corporativas", valores de conveniência. Mas será que a ética é mesmo só um
assunto de consciência individual? Reduzir-se-á apenas a um conjunto de normas de resolução de
conflitos de interesse, que pesam os resultados que proporcionam a maior satisfação a um maior
número de pessoas?

Qual é a diferença entre ética e moral:


A palavra Ética provém da Grécia, dos termos éthos e êthos, que se subdividem em realidades
diferentes mas ao mesmo tempo relacionadas e similares. Éthos traduz-se no comportamento
exterior, nos hábitos e costumes praticados, naquilo que é demonstrado enquanto êthos respeita o
carácter, modo de ser, e portanto possui uma preocupação com o interior.
Encontra-se diretamente relacionada com a Moral, que deriva das palavras mos (singular) ou
mores (plural) e que parece indiciar regras que estatuiem uma conduta, a tal que é praticada por
um ente livre perante a sociedade onde está inserido, tendo em conta aquilo que pensa ser o mais
justo, quer devido à sua própria consciência ou àquilo que prevalece na área geopolítica onde
habita. Moral é então o conjunto de regras sociais que indicam a conduta a adoptar e que
obrigatoriamente funciona de modo harmónico e interligado com a finalidade de praticar o bem na
sociedade, de a tornar mais agradável para a qualidade de vida dos indivíduos. Divide-se em
Moral Social ou Positiva quando estão em causa as ideias ou sentimentos dominantes da
Colectividade e, Individual, quando se refere à própria consciência. Contudo, ambas são
obviamente dependentes pois a Colectividade não é mais que a junção das consciências enquanto
aquilo que o sujeito pensa provém da vivência no meio envolvente onde está incorporado.
Como se pode melhorar as mesmas, torna-las mais coincidentes com a tal tentativa corrente de
alcançar o aperfeiçoamento do Ser Humano? Este estudo é precisamente realizado por uma ciência
filosófica denominada Ética. A mesma não é assim mais do que a reflexão interpretativa que
possui como objeto a análise e fundamentação do comportamento humano, também denominada
como a Ciência da Moralidade.
A Ciência da Moralidade estuda e avalia cuidadosamente as regras morais, a sua aplicação, o
porquê do modo de regulação, a conduta humana perante estas e como podem ser alteradas e
transformar o interior do indivíduo. De modo a que esse pratique mais consistentemente o Bem,
provocando a melhoria sistemática da vida em Sociedade mas obedecendo a princípios provindos
da alma (em grego, ética significa “Casa da Alma”) e não apenas com a finalidade de possibilitar o
convívio social, como acontece com o Direito, possuindo este último de uma finalidade “apenas”
de âmbito exterior.
Ética é assim aquilo que é bom para a sociedade e para o cidadão e o seu estudo contribui para
definir a natureza de deveres no relacionamento indivíduo/sociedade. Ética tem portanto como
objectivo, apresentar a melhor forma de promover o bem de um modo mais intenso que a
Moral e que lhe serve aliás de base.
A ética confunde-se muitas vezes com a moral, todavia, deve-se deixar claro que são duas coisas
diferentes, considerando-se que ética significa a teoria ou ciência do comportamento moral dos
homens em sociedade, enquanto que moral, quer dizer, costume, ou conjunto de normas ou regras
adquiridas com o passar do tempo.
A ética é o aspecto científico da moral, pois tanto a ética como a moral, envolve a filosofia, a
história, a psicologia, a religião, a política, o direito, e toda uma estrutura que cerca o ser humano.
Isto faz com que o termo ética necessite ter uma forma correta para ser imparcial, a tal ponto a ser
um conjunto de princípios que norteia uma maneira de viver bem, consigo próprio, e com os
outros.
A moral é eminentemente prática; a ética é teórica e reflexiva.
A moral sempre existiu, pois todo ser humano [saudável] possui a consciência moral que o
leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive; a ética teria surgido com Sócrates e a
investigação das normas morais, levando o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito,
mas principalmente por convicção e inteligência. A ética julga o comportamento moral das
pessoas.
 A moral apresenta-se como um conjunto de regras coercitivas de um tipo especial, que
consiste em julgar ações e intenções referindo-as a valores transcendentes (é certo, é errado...);
a ética é um conjunto de regras facultativas que avaliam o que fazemos, o que dizemos, em
função do modo de existência que isso implica.

Ética, ou filosofia moral, é uma área do conhecimento dedicada à investigação dos princípios das
ações humanas. Em outras palavras, a ética é o estudo sobre as bases da moral.
Ela desenvolve teorias sobre o desenvolvimento do comportamento humano e a construção de
valores compartilhados socialmente, que orientam as ações.
A reflexão sobre conceitos-chave como "o bem", "a justiça" e "a virtude", constroem o saber ético,
iniciado no período antropológico da filosofia grega marcado pela tríade Sócrates-Platão-
Aristóteles.
Principalmente no texto Ética a Nicômaco, de Aristóteles, o filósofo define a ética como uma
disciplina da filosofia e busca definir a relação entre os comportamentos humanos, a virtude e a
felicidade.
Atualmente, a ética se ocupa da teorização e construção de princípios que fundamentem diversas
atividades. A deontologia, por exemplo, é uma área que visa estabelecer as bases éticas para o
desenvolvimento profissional. Assim como a bioética - um ramo dedicado a refletir sobre quais
princípios a ciência deve se desenvolver, tendo como foco o respeito à vida.
A moral tem como característica fundamental atuar como uma norma que orienta os
comportamentos humanos. Ainda que se pressuponha a liberdade dos indivíduos e a
impossibilidade de prever todas as ações, a moral vai desenvolver valores nos quais as ações
devem estar submetidas.
Diferente das teorias éticas, que buscam as características universais do comportamento humano, a
moral estabelece uma relação particular com os indivíduos, com sua consciência e a ideia do
dever.
A moral assume um caráter prático e normativo, em que a forma como se deve agir está
diretamente relacionada aos valores morais construídos socialmente.
Assim, enquanto a ética propõe questões como: "O que é o bem?", "O que é a justiça?", "O que é a
virtude?"; a moral se desenvolve a partir da aprovação ou reprovação de uma conduta. "Esta ação
é justa?", "É correto agir de determinada maneria?" Por isso, a moral, diferente da ética, vai estar
sempre inserida em um contexto particular. Cada grupo social em diferentes momentos históricos
possuirá valores morais também distintos.
Basicamente, ética é o comportamento individual e refletido de uma pessoa com base em um
código de ética ou de conduta que deve ter aplicabilidade geral. É chamado de ética o campo
da Filosofia que se dedica a entender e a refletir as ações humanas (ações morais) e a classificá-las
como certas ou erradas. Por isso, podemos dizer que ética é uma espécie de “filosofia moral”. 

 Moral é, por sua vez, o costume ou hábito de um povo, de uma sociedade, ou seja, de
determinados povos em tempos determinados.
A moral muda constantemente, pois os hábitos sociais são renovados periodicamente e de
acordo com o local em que são observados.
A moral é uma espécie de conjunto de hábitos e costumes de uma sociedade. A moral, em geral,
faz-se de acordo com a cultura de um local em um determinado espaço de tempo. Normalmente,
alguns elementos da sociedade influenciam-na, como a religião, o modo de vida da sociedade, o
acesso que essa sociedade tem à informação e o uso que as pessoas de determinado recorte social
fazem da informação. A moral, normalmente, é exposta sobre preceitos e, muitas vezes, expressa
como normas de proibição e permissão.
É comum ouvirmos a frase “fulano atentou contra a moral e os bons costumes”, isso porque a
moral é uma espécie de norma de conduta social que indica algo que é certo ou errado naquela
sociedade. Devido ao caráter cultural e subjetivo da moral, algo que é permitido em uma
determinada moral, pode ser proibido em outra. Apesar de várias normas morais repetirem-se, elas
são, muitas vezes, diferentes porque as sociedades construíram diferentes modos de vida. Aquilo
que uma sociedade convenciona como moralmente incorreto pode ser classificado como um tabu.
A ética tem a mesma raiz etimológica que a moral, só que esta deriva da palavra latina mores (que
também significa costumes). Todavia, a ética tem um significado mais amplo do que a moral.
Moral é um conjunto de regras, valores e proibições vindos do exterior ao homem, ou seja,
impostos pela política, a religião, a filosofia, a ideologia, os costumes sociais, que impõem ao
homem que faça o bem, o justo nas suas esferas de atividade. Enquanto a ética implica sempre
uma reflexão teórica sobre qualquer moral, uma revisão racional e crítica sobre a validade da
conduta humana (a ética faz com que os valores provenham da própria deliberação do homem), a
moral é a aceitação de regras dadas. A ética é uma análise crítica dessas regras. É uma "filosofia
da moral". No entanto, é preciso estar atento, uma vez que os termos são frequentemente
utilizados como sinónimos, sobretudo entre os autores anglo-saxónicos. A moral tem uma
dimensão imperativa, porque obriga a cumprir um dever fundado num valor moral imposto por
uma autoridade. Por isso, aplica-se através da disciplina e a motivação para a ação é, neste caso, a
convicção (interiorização do bem e do mal e da legitimidade da entidade que os enuncia) e a
sanção.

Exemplos de moral
Como o comportamento moral é moldado social e culturalmente, ou seja, os tabus e
as permissões morais vão sendo modelados de acordo com o desenvolvimento social dos povos.
Nesse sentido, vários traços do comportamento humano modificam-se, pois são relativos. Alguns
exemplos de moral podem ser encontrados nas seguintes relações:
- Normas de conduta em relação ao sexo e à sexualidade
A moral, por sofrer influência da religião, pode tratar o sexo e a sexualidade de diferentes
maneiras. Em sociedades politeístas antigas, como a grega e a romana, o celibato não era
estimulado (ao menos para os homens) como o é nas sociedades ocidentais cristãs, que se
formaram a partir do crescimento do cristianismo na Idade Média.
Como a religião cristã baseia-se nas ideias de pecado original e de que o afastamento dos pecados
é necessário para a obtenção da graça divina, a moral incorporou a proibição do sexo fora do
matrimônio como norma. Daí deriva o tabu quanto à prática de sexo que não seja uma prática
reprodutiva e que não tenha obtido a benção divina.
A homossexualidade também é um tabu nas culturas judaico-cristãs e islâmicas por conta dos
preceitos dessas religiões, mas, na Grécia Antiga, a homossexualidade era um elemento cultural
comum da sociedade, baseado, inclusive, no alto teor patriarcal daqueles povos que tendia a
colocar a mulher no simples lugar de fêmea reprodutora, incapaz de oferecer a plenitude espiritual
a um homem.
Frida Kahlo é um exemplo de mulher que lutou contra as injustiças de gênero de sua época,
questionando normas morais da sociedade onde estava inserida.

- Tratamento à mulher
O domínio dos homens nas relações sociais com as mulheres é antigo. O que chamamos, hoje,
de patriarcado é a marca desse domínio, que, durante milênios (e até hoje), colocou a mulher em
posição social inferior. Se pensarmos que, até a década de 1930, as mulheres não votavam na
maioria das potências republicanas e que, ainda hoje, às mulheres são negados certos direitos
básicos, como a liberdade de ir e vir e de se expressar, com base em normas morais, podemos
tomar como exemplo de norma moral o tratamento dado às mulheres. Hoje a ética tem o dever de
desmascarar e derrubar esse antigo domínio que subjuga e trata com inferioridade as mulheres.
- A escolha pelo certo e pelo errado ou pelo bem e pelo mal
Nos livros Genealogia da moral e Além do bem e do mal, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche
tenta desconstruir a imagem que a nossa sociedade tem dos valores morais, afirmando que essa
visão está demasiadamente entorpecida pela moral cristã. Segundo o filósofo, a gênese dos valores
morais tem data certa de nascimento, apesar de parecerem algo que sempre foi dado ou esteve aí.
O filósofo também fala do peso da escolha, por uma ou outra ação, que pode implicar o bem ou o
mal, mas faz questão de deixar claro que esse peso moral, que é considerado correto hoje, nem
sempre foi aceito ou valorizado pela sociedade. Segundo Nietzsche, os valores morais vigentes na
Modernidade enfraquecem e desvalorizam o que há de mais fortalecedor no ser humano, a sua
natureza animal.

O que é ética?
Ética é o que diz respeito à ação quando ela é refletida, pensada. A ética preocupa-se com o certo e
com o errado, mas não é um conjunto simples de normas de conduta como a moral. Ela promove
um estilo de ação que procura refletir sobre o melhor modo de agir que não abale a vida
em sociedade e não desrespeite a individualidade dos outros.
Em Ética prática, o filósofo australiano Peter Singer destaca e refuta quatro pontos que ele
considera que não se aplicam à ética, apesar das pessoas, insistentemente, considerarem tais
pontos características do que seria a ética.
1. Não é um conjunto de normas em relação ao sexo: isso cabe à moral, pois a
primeira é uma questão individual que, se afeta a sociedade, diz respeito a uma má conduta do
indivíduo e não ao sexo em si. Singer diz que os mesmos problemas de má conduta de um
indivíduo em relação ao sexo podem ser aplicados ao ato de dirigir um carro. Se ele é
responsável e, com suas atitudes sexuais, atinge apenas a si mesmo, ele não está agindo fora do
que a ética prediz, do mesmo modo que uma direção segura e responsável não afetaria a
sociedade.
2. Não é uma bela abstração teórica e inexequível na prática: pensar que a ética é
utópica, porque a maioria das pessoas não age de acordo com ela, é falso. Se a ética não for
aplicável na prática, não há o porquê de ela existir.
3. Não faz sentido apenas quando em contexto religioso: a ética é uma prática
reflexiva que deve nortear as ações cotidianas dos indivíduos, tanto em contextos religiosos
quanto fora deles.
4. Não é relativa: ao contrário da moral, que é subjetiva, a ética tenta expressar um
conjunto de práticas que devem ser consideradas corretas por toda a sociedade. Apesar de haver
um contexto de ação individual, o indivíduo ético deve procurar fazer o que é o correto, e isso
não é um traço subjetivo e individual mas está dentro de um contexto.
A ética é, portanto, a reflexão moral acerca da ação. É a ética que vai garantir às ações das
pessoas a correção moral, sendo que, muitas vezes, uma ação moralmente ética pode não se
enquadrar na moral de uma determinada sociedade.
Por exemplo, se, em um país que segue a lei islâmica, uma mulher comete adultério, ela pode ser
condenada à morte por apedrejamento. Isso faz parte da moral daquela sociedade, mas não é
eticamente correto. Se, em uma situação hipotética, alguém salva uma mulher prestes a morrer
daquela maneira, essa pessoa está atentando contra a moral, mas está agindo certo, de acordo com
a ética.

Exemplos de ética:
 Respeitar as leis que sejam justas;
 Procurar agir com justiça;
 Não se apropriar, indevidamente, do que não é seu;
 Não prejudicar os outros;
 Respeitar o convívio social.
Ética
A ética, ou filosofia moral, se refere ao estudo do conjunto de valores e princípios que guiam
determinado grupo ou cultura. Assim, norteia o caráter das pessoas e como elas irão se portar no
meio social.
Apesar disso, a ética não deve ser confundida com a lei, pois pessoas não sofrem sanções ou
penalidades do Estado por não cumprirem normas éticas.
O conceito de ética também pode significar o conhecimento extraído da investigação do
comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional. Portanto, a ética
pode refletir e questionar valores morais.
A ética é responsável por definir certas condutas do nosso dia-a-dia. É o caso dos códigos de ética
profissional, que indicam como um indivíduo deve se comportar no âmbito da sua profissão
(Deontologia).
Exemplo do uso de ética
O conceito de ética é utilizado quando refletimos sobre a moral aceita em determinada sociedade,
podendo aceitar ou questioná-la.
João foi antiético porque não se levantou para que o idoso pudesse ocupar seu lugar no ônibus.

Moral
Moral é o conjunto de regras que orientam o comportamento do indivíduo dentro de uma
sociedade. Ela pode ser adquirida através da cultura, da educação, da tradição e do cotidiano.
Tais regras norteiam os julgamentos de cada indivíduo sobre como agir. Isto de acordo com o que
foi previamente aceito como norma em determinado grupo. Quando falamos de moral, as
definições do que é certo ou errado dependem do local onde a pessoa se encontra, da tradição e
cultura.

Exemplo do uso de moral


A moral se refere a determinadas normas e condutas. Estas são criadas e aceitas em determinado
grupo social, podendo variar de acordo com o local ou o tempo. Como no caso:
Antigamente, era imoral as mulheres usarem calças, mas hoje é moralmente aceito.

De onde vêm os princípios morais e éticos?


A moral é um padrão externo que pode ser fornecido por instituições, grupos ou cultura a qual um
indivíduo pertence. Também pode ser considerada um sistema social ou uma estrutura para um
comportamento aceitável.
A ética, apesar de ser influenciada pela cultura e pela sociedade, são princípios pessoais criados e
sustentados pelos próprios indivíduos. Por conta disso, o indivíduo pode basear-se em princípios
éticos para questionar uma moral vigente.

Consistência e flexibilidade
A moral é muito consistente dentro de um determinado contexto, mas pode variar entre culturas ou
épocas. Por exemplo, algo moralmente aceito na sociedade de hoje poderia ser imoral nos anos 70.
Já a ética é como o individuo reflete sobre determinada moral. Assim, é possível que certos
eventos modifiquem radicalmente as crenças e valores pessoais de um indivíduo.

Exemplos de Ética
Códigos de ética profissional
Os códigos de ética profissional são bons exemplos porque cumprem a função de orientar o
desenvolvimento de diversas atividades. São baseados em princípios que fundamentam a prática
profissional e reforçam sua relevância. Em geral, são referidos:
 A responsabilidade com a sociedade a partir das práticas profissionais;
 A valorização das relações humanas;
 O respeito aos valores que sustentam a comunidade;
 A reflexão permanente sobre o próprio papel do profissional.

Alguns exemplos de códigos de ética profissionais são:


 Código de Ética Médica
 Código de Ética da Ordem dos Advogados
 Código de Ética do Psicólogo

Exemplos de Moral
"Não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você"
A chamada Regra de Ouro visa regular a relação entre pessoas, grande foco da ética e da moral,
possibilitando o convívio em sociedade.
Esse é um exemplo de regra moral básica que visa estabelecer relações de respeito mútuo,
impedindo que uma pessoa cause algum tipo de mal a outra.
Proposta semelhante a encontrada nos textos bíblicos, fundamentais para a formação dos valores
morais do ocidente, em que se encontra como um mandamento "amar ao próximo como a si
mesmo".
Não mentir
Não mentir é um ensinamento moral comum na sociedade. O ato de mentir, ou faltar com a
verdade, corrompe o princípio da honestidade.
Entretanto, a questão da mentira pode ser um tema de debate por haver momentos específicos em
que a mentira pode ser socialmente aceita e a sinceridade compreendida como falta de educação
ou um comportamento anti-social.

Respeitar os mais velhos


Associa-se a idade avançada com uma vasta experiência de vida e sabedoria. Assim, constrói-se a
ideia de que as pessoas mais idosas devem ser alvos de respeito e admiração.

O que são tabus morais?


As proibições morais, muitas vezes, apresentam-se em forma de tabu. Os tabus, em geral, possuem
fundamentos na religião e são temas colocados fora dos debates éticos, como uma certeza
adquirida.
Por exemplo, as relações e casamentos entre parentes consanguíneos são proibidas em diversas
culturas, criando o chamado tabu do incesto.
Entretanto, a concepção do que é considerado impróprio pode variar. Algumas culturas proíbem o
casamento entre membros do mesmo clã, independentemente da consanguinidade direta. Em
outras, o casamento entre primos é estimulado como forma de reforçar ao poder da família.
A antropologia aponta apenas para o incesto entre mãe e filho como um tabu universal, não
encontrando nenhuma sociedade em que esse tipo de casamento seja permitido.
Assim, existe uma proibição moral que define para os membros de uma sociedade quem são os
parceiros viáveis e quais devem ser evitados.
Outro exemplo são as relações entre pessoas do mesmo sexo, relatadas como comuns na Grécia
antiga e que durante o desenvolvimento da cultura judaico-cristã (ocidental) foram tomadas como
um tabu e consideradas crime ou doença até meados do século XX.
A moral é a formação do caráter individual. É aquilo que leva as pessoas a enfrentar a vida com
um estado de ânimo capaz de enfrentar as revezes da existência. É algo que nos faz sentir bem
após a realização de alguma atitude. É o que define o que é moral e não é moral é a consciência
humana, a consciência moral.
Os valores morais estão dentre a subjetividade humana, que desencadeia ao decorrer da sua
vivencia, como, as decepções, as emoções, os aprendizados, tudo que passa a caracterizar a
personalidade. O fruto da criação subjetiva é amoral e a norma moral é o convencionalismo.
A moral é algo individual, surge de acordo com os preceitos que se vive e que se julga ser bom.
Pois, os valores não se criam nem se transformam, se descobrem ou se ignoram. Uma das missões
da ética consiste precisamente em afinar no homem o órgão moral que torna passível tal
descobrimento.
Platão:
A ética como ciência nasceu com o advento das cidades gregas, no "Século de Péricles" (século V
a.C.), primeiro com os sofistas, depois com Platão e Aristóteles, autor das três obras básicas da
ética no Ocidente: Ética a Nicómaco, A grande moral e a Ética a Eudemio.
As suas obras ão inspiradas por uma compreensão socrática, pois ele foi conduzido ao dialogo, de
uma forma que a exposição das ideias não eram solitárias, em que ele se utiliza desse meio
socrático.
Por meio de utilização de métodos, Platão desenvolveu e aprimorou o seu próprio método de
maneira tão profunda que criou um processo de dialética, que podemos definir como a arte de
buscar o conhecimento pelo diálogo, cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que
levam a outras ideias.
Para Platão agir eticamente é agir com retidão de consciência. A inteligência, quando bem
utilizada, conduz ao Bem, ao Belo, ao Justo. Ao comportar-se de forma ética, o homem aproxima-
se do verdadeiro mundo, o mundo das Ideias, do qual o mundo em que vivemos é uma mera cópia.
O verdadeiro sábio procura atuar em busca do ideal e corrigir-se quando se engana. Através da sua
inteligência e virtude, o homem regressa ao mundo das ideias.

Ética Platônica:
A ética platônica tem como finalidade conduzir o homem à prática do bem. Esta é a base para se
conhecer a ética e a política na concepção platônica. A ética, segundo Platão, deve ter por base a
idéia da ordem ou da justa proporção que consiste em equilibrar elementos diversos que
desemboquem no mesmo fim. Por exemplo, a justa medida entre o prazer e a inteligência, é por
meio deste equilíbrio que as ações humanas atingem o bem.
O bem na concepção platônica, não são as coisas materiais, mas tudo aquilo que permita o
engrandecimento da alma, por isso, ele ensina que o homem deve desprezar os prazeres, as
riquezas e as honras em vista da pratica das virtudes.
As ações humanas na polis devem ter por fim o bem, por isso Platão defendia que a filosofia
deveria ser o instrumento de acesso do povo - enquanto nação – aos valores de justiça e do bem.
Partindo deste pressuposto, defende que a polis deveria ser governada pelo filosofo, já que este
despreza os prazeres, a fim de atingir o bem de si e do todo. Portanto, a práxis humana na
concepção platônica consiste em atingir o bem supremo.
Platão propõe uma ética transcendente, dado que o fundamento de sua proposta ética não é a
realidade empírica do mundo, nem mesmo as condutas humanas ou as relações humanas, mas sim
o mundo inteligível. O filósofo centra as suas indagações na Ideia perfeita, boa e justa que
organiza a sociedade e dirige a conduta humana. As Ideias formam a realidade platônica e são os
modelos segundo os quais os homens tem seus valores, leis, moral. Conforme o conhecimento das
ideias, das essências, o homem obtém os princípios éticos que governam o mundo social.
O uso reto da razão é entendido como o meio de alcançar os valores verdadeiros que devem ser
seguidos pelos homens. No mito da caverna, o filósofo expõe a condição de ignorância na qual se
encontra o homem ao lidar com o conhecimento das aparências. Somente pelo conhecimento
racional o homem pode elevar-se até as Ideias, até o Ser e conhecer a verdade das coisas. Isto se
dá através do método dialético, o qual elimina as aparências e encontra as essências, a verdade no
conhecimento das coisas. Este método filosófico tem por finalidade libertar os homens da
ignorância e levá-los ao conhecimento de ideia em ideia, até alcançar o conhecimento da Ideia
Suprema: o Bem. As outras ideias participam desta e devem sua existência a esta.
O Bem ilumina o ser com verdade, permitindo que seja conhecido, assim como o Sol ilumina os
objetos e permite que sejam vistos – nota-se aqui a analogia entre Bem e Sol apresentada no mito
da caverna. Existem diversas ideias e é devido à participação nestas, mesmo que enquanto cópia
imperfeita, que se fez possível o mundo sensível. Ao contemplar a ideia do Bem, o homem passa a
sofrer as exigências do Ser, isto é, suas ações devem ser pautadas conforme a ideia contemplada.
A alma humana – de suma relevância para a ética platônica- é tripartite, isto é, forma-se pela
inteligência, pela irascibilidade e pela concupiscência. Tal como as partes da cidade ideal, cada
uma das partes da alma possui suas funções específicas que não podem ser exercidas por nenhuma
das outras partes. Cada uma das partes da cidade e, por analogia, cada uma das partes da alma,
possui uma função própria a qual pode ser executada com excelência ou não, e, ao executá-la com
excelência, sua virtude própria é exercida.
A virtude é definida, pois, como capacidade de realizar a tarefa que lhe é inerente. No caso do
governante da cidade e da alma racional, a virtude inerente aos mesmos é a sabedoria; no caso dos
guerreiro e da parte irascível da alma, a virtude que lhes é própria é a coragem; por fim, no caso da
parte concupiscente da alma e dos produtores de bens da cidade, a virtude própria é temperança.
Dada a posição de cada classe, pode-se definir a justiça como cada parte fazendo o que lhe
compete, conforme suas aptidões. Portanto, ao estabelecer uma relação de analogia entre a
sociedade e indivíduo, Platão define o conceito de justiça – o qual seria também concebido como
princípio de equilíbrio do indivíduo e da sociedade – e o liga ao conceito de virtude.
O sentimento de justiça é, pois, a virtude maior cujo valor ético guia as condutas dos homens. Para
que esta virtude seja alcançada, o homem deve buscar o bem em si mesmo, porque ele realiza o
ideal de justiça, tanto com relação ao bem individual quanto social.
A ética platônica ocupa-se com o correto modo de agir e a sua relação com o alcance da
felicidade. Contudo, o discurso ético apresentado na República acerca da felicidade relaciona esta
com o conceito de justiça. O problema da justiça enquadra-se no âmbito político, o qual tem
estreita relação com o campo da ética: é deste modo que surge a tese central de que só o justo é
feliz. No diálogo República, buscando a constituição da cidade ideal, surge o problema cerne
acerca da definição da justiça para que se pudesse, posteriormente, definir o que é a justiça tanto
no indivíduo quanto no Estado. Há, pois, um paralelo entre Estado e indivíduo a fim de que se
encontre a definição de justiça.
Para Platão, a sociedade seria como algo orgânico e bem integrado, como uma unidade construída
por vários elementos independentes, embora integrados. A cidade forma-se por três classes, como
já apontamos, e cada classe possui sua função específica. Deve-se notar que tais funções são
determinadas conforme as aptidões naturais de cada membro da cidade. O objetivo desta divisão é
mostrar com mais clareza como ocorre o mesmo na alma humana. A finalidade da cidade justa e
boa é, então, propiciar a felicidade do indivíduo ao viabilizar a prática de suas virtudes, de suas
aptidões específicas.
Devemos ter em mente que a virtude correspondente a cada classe da cidade e a cada parte da
alma humana deve ser ensinada visando a realização do ideal da polis. Esta educação embasa-se
no método dialético ascendente, o qual liberta o homem dos sentidos e o eleva até o mundo
inteligível, até o ponto mais claro do Ser, a ideia do Bem. Após contemplar o Bem diretamente, o
filósofo deve retornar à cidade que lhe propiciou educação de modo a guiar os outros cidadãos da
ignorância ao conhecimento racional.
As ideias – das quais se originam as cópias sensíveis – são, pois, existentes em si e por si, são
realidades universais, eternas, imutáveis. Por tais motivos, são os modelos a serem seguidos, são
paradigmas para a construção da cidade ideal e para a educação moral, política e espiritual do
homem. Além do mais, são ordenadoras do cosmos.
Platão afirmava que a alma humana era divisível em três partes. Uma delas é racional, a qual nos
faz buscar o conhecimento. Outra delas é irascível, sendo a responsável pela produção de
emoções. A terceira parte é apetitiva e está relacionada a busca do prazer. Platão entendia que
uma pessoa só pode tomar decisões corretas quando a parte racional da sua alma fala mais
alto. Normalmente quando nós somos guiados pelas nossas emoções ou pelo nosso desejo de
sentir prazer, nós acabamos sendo precipitados e inconsequentes.
O ser humano deve procurar aquilo que engrandece a sua alma e abrir mão das coisas materiais ou
dos prazeres. Dessa forma, podemos afirmar que, para Platão, o indivíduo ético é aquele que é
capaz de governar a si mesmo. Ou seja, é aquele que exercita a sua habilidade de autocontrole.
Nós só podemos agir de maneira ética quando nós damos ouvido ao nosso lado racional, o
qual nos ajuda a tomar decisões mais justas. O que significa deixarmos de agir motivados pelas
nossas emoções.
O bem numa visão ontológica platônica encontra-se no mundo das idéia, por isso, é necessário que
o homem por meio da educação recorde essa idéia que se encontra no mundo inteligível. O
individuo não nasce ético, contudo é por meio da intervenção do estado através da educação que o
individuo torna-se ético.
A ética tem por base a liberdade, por isso o individuo não nasce determinado para agir conforme
princípios categóricos, mas aprende-se a agir de maneira correta.
Por fim, a ética é produto da ação educacional na vida do homem, por meio da academia e da
tradição da polis.
De acordo com Platão, somos nós mesmos quem devemos decidir se almejamos purificar a alma e
adotar uma vida mais justa. Afirmou que seria preciso suspender o julgamento e, não tendo certeza
absoluta, seguir apenas o que é razoável. No lugar da busca da harmonia cósmica, a virtude passou
a ser a prática e então assim defende a ideia de que as nossas almas são a sede da consciência
moral. Além desse sentido individualista, Platão acredita que não só o indivíduo precisa encontrar
a felicidade, mas também essa felicidade deve se refletir na sociedade como um todo, a ética se
encontra no ambiente social.
Os seres humanos só podem ser felizes no seio de uma comunidade bem organizada. Em
conseqüência, o bom e o justo para o indivíduo não podem ser algo distinto do que se considere
bom e justo para o bem comum, para alcançar ou manter uma cidade feliz.

O Belo e o Bom refletem a vida em perfeito equilíbrio:


Ao refletir sobre o tipo de existência que possa representar uma vida ética, isto é, a vida daquele
que busca o equilíbrio, a ética platônica busca uma articulação entre o Belo e o Bom.
Na filosofia de Platão, a ética implica compreensão do Bem universal de tal modo que o sujeito,
inspirado pela força deste Bem, consegue suplantar o excesso. Assim se articulam, na ética de
Platão, o Belo e o Bom, pois uma forma é bela se ela constitui em si mesma um todo
perfeitamente harmonioso. O Belo é, então, a forma manifesta do Bem.
A beleza carrega a ideia de harmonia. O sujeito ético é capaz de tomar consciência do Bem e
harmonizar-se internamente. Tornar-se um sujeito moral significa buscar manifestar a beleza.

Em Platão, longe de ser um padrão estético, a beleza é a forma na qual o Bem Universal se
manifesta através da ação do sujeito ético em toda a sua transparência. Podemos lembrar daqueles
que tomaram atitudes que todos consideraram como nobres e belas.
Portanto, a Ideia de Bem apresenta três propriedades: a proporção ou medida, a beleza e
a verdade. A unidade do Bem definirá, nesta tríplice união, o horizonte da moral em Platão:
 A medida – não se refere a uma ordem externa ao sujeito à qual ele deva se
conformar, mas designa uma certa atitude do sujeito, um modo de comportamento particular
que carrega um nome: a moderação.
 A beleza – longe de ser um padrão estético, a beleza aparece aqui como forma na qual
o Bem Universal poderá se manifestar, pelos seus atos, em toda a sua transparência. Aqui
podemos lembrar daqueles sujeitos que tomaram atitudes que todos consideraram como
nobres e belas, encarnando em si mesmos o Bem Universal percebido imediatamente e
intuitivamente por todas as pessoas — eis aqui a articulação entre o Belo e o Bom. Por outro
lado, aquilo que é “feio”, desaconselhável e insensato são as atitudes tomadas por
aqueles que são ignorantes desse Bem Universal; são dados aos excessos, à vaidade e ao
descontrole, prejudicando a si mesmos e aos outros. Ou, como declarou Sócrates (o maior
herói dos diálogos platônicos): “O homem faz o mal porque é ignorante do Bem”.
 A verdade – caracteriza o modo como o sujeito se fixa no projeto de se tornar sujeito
moral, de constituir para si uma existência digna do nome “boa”. Em outros termos, a verdade
designa o caráter de autenticidade daquele que busca para si uma existência moral através de
uma dialética que ocorre em sua própria experiência de vida. É, pois, aquele que pelas suas
atitudes e pelo seu discurso busca a verdade daquilo que é Belo e Bom, a conexão
primordial com o Bem Universal.

A articulação destes três princípios irá presidir a harmonização das diversas partes da vida
humana, ou seja, uma “medida determinada” que guia o homem em suas ações. A filosofia moral
de Platão está em total conformidade com sua Teoria das Ideias, a qual pressupõe um abandono
progressivo dos sentidos na apreensão da essência das coisas, tal como ocorre na sua Alegoria da
Caverna.
Para Platão a ética é necessária para conduzir o homem ao bem. Para Platão o homem não pode ter
uma vida de prazeres se pretende se tornar ético, e sim o homem deve ter uma vida focada no bem.
A ética platônica é baseada na ética de Sócrates. Para Platão a ética tem que ter por base a  ordem,
o homem deveria ter um perfeito equilíbrio entre os prazeres e inteligência, assim as ações geradas
com esse equilíbrio geraria o bem, que para Platão é qualquer coisa que engrandeça a
alma(deixando de lado o prazer, riqueza e honra, buscando somente praticar a virtude).

-> Para Platão, a ética consiste na obtenção da felicidade. Contudo, tal felicidade não pode ser
somente subjetiva do indivíduo, mas também inerte à comunidade como um todo. Estabelece que
a felicidade é alcançada por meio do conhecimento. Para Platão a ética não é um dom da natureza
e deve ser rigorosamente educado, ou seja, o individuo não nasce ético, e sim graças a educação se
torna ético.
O homem justo é mais feliz, pois a sabedoria é a sua virtude natural, ele possui experiência acerca
dos prazeres e o único capaz de conectar este conhecimento com a experiência.

Ética Aristotélica:
Aristóteles defendia que a ética é a ciência prática do bem. E Bem é aquilo que todos desejam.
Não existe um único bem, este é relativo, é um modo de existência determinado pela natureza das
diferentes criaturas - por isso, ao agir, cada um deve tratar de forma igual o que é igual e de forma
desigual o que é desigual. Cada um procura alcançar o bem ao atuar, pelo que do bem depende a
autorealização do homem, a sua felicidade. O bem próprio do homem é a inteligência: o homem é
um animal racional. Por isso, o homem deve viver segundo a razão, de forma a alcançar as
virtudes, nomeadamente a sabedoria.
Aristóteles define a virtude, por oposição à mediocridade, como um hábito que torna bom quem o
pratica. As virtudes são ideais que o homem procura alcançar e que proporcionam o completo
desenvolvimento da humanidade, como, por exemplo, honestidade, coragem, generosidade, justiça
e prudência. Esses ideais são descobertos através da reflexão.
O tema principal da ética de Aristóteles é delimitar o que é o “bem” e o significado que ele tem
para o homem. Somente quem conhece o bem é capaz de encontrar a felicidade, que na filosofia
aristotélica não é um sentimento passageiro, e sim “obra de uma vida inteira”.
Em relação à ética, o bem leva cada indivíduo a ser capaz de viver com os outros, na polis. Em
outras palavras, a ética, no campo individual, prepara terreno para a política, no campo coletivo.
Para Aristóteles, a finalidade da política é a busca do bem de todos os homens.
A virtude é a expressão maior da excelência de uma pessoa, de sua integridade, de sua identidade.
A paixão, por outro lado, torna-a confusa, dividida entre desejos contrários, conflitantes, opostos.
Alguém sob o domínio da paixão pode inclinar-se ao vício, que é o excesso ou a falta da paixão. A
virtude é encontrar, pelo uso da razão, o meio-termo entre esses extremos, que Aristóteles chamou
de justo meio.
Todo o conhecimento e todo trabalho visam a algum bem, e o mais alto de todos os bens
certamente será a felicidade, dessa forma, devemos procurar o bem e indagar o que ele é, se existe
uma finalidade para tudo o que fazemos, a finalidade será o bem. O bem deve ser algo atingível
pelo homem, através de sua atividade, na prática, e não um “bem em si”, ideal e inatingível.
Devemos prosseguir do bem que é desejável por causa de outra coisa ao bem que sempre é
desejável em si: Parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este bem
supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa de algo mais. E a felicidade
não como uma forma abstrata, ideal, mas a felicidade como uma forma de viver bem e conduzir-se
bem. Consideramos bens aquelas atividades da alma, a felicidade identifica-se com a virtude, pois
à virtude pertence à atividade virtuosa. 
Há duas espécies de virtudes: as intelectuais e as morais. As virtudes intelectuais são o resultado
do ensino, e por isso precisam de experiência e tempo; as virtudes morais, também chamada de
excelência moral, são adquiridas em resultado do hábito, da prática, elas não surgem em nós por
natureza, mas as adquirimos pelo exercício, tornamo-nos justos praticando atos justos. 
A importância do desenvolvimento da excelência moral está relacionada com as ações e emoções,
e estas relacionadas com o prazer ou sofrimento, é a capacidade que se desenvolve para lidar com
as emoções e ações na relação direta com o prazer ou sofrimento, o bom uso da relação entre
ambos.
É pelos atos que praticamos, nas relações com os homens, que nos tornamos justos ou
injustos. Por isso, faz-se necessário estar atento para as qualidades de nossos atos; tudo depende
deles, desde a nossa juventude existe a necessidade de habituar-nos a praticar atos virtuosos.
Também nas virtudes, o excesso ou a falta são destrutivos, porque a virtude é mais exata que
qualquer arte, pois possui como atributo o meio-termo – mas é em relação à virtude moral; é ela
que diz respeito a paixões e ações, nas quais existe excesso, carência e meio-termo. O excesso é
uma forma de erro, mas, o meio termo é uma forma digna de louvor; logo, a virtude é uma espécie
de mediana.
A prática da virtude não se confunde com um mero saber técnico, não basta só o conhecimento
simples da virtude, exige-se a consciência do ato virtuoso, e tem como resultado a ação, é
necessário frisar a prática dos atos, o homem considerado justo deve agir por força de sua vontade
racional, e são três condições para que um ato seja virtuoso, a saber:
- Primeiro, o homem deve ter consciência da justiça de seu ato;
- Segundo, a vontade deve agir motivada pela própria ação;
- Terceiro, deve-se agir com inabalável certeza da justeza do ato.
As virtudes são disposições ou hábitos adquiridos ao longo da vida e se fundamentam na ideia de
que o homem deve sempre realizar o melhor de si, “é o habito que torna o homem bom e lhe
permite cumprir bem a sua tarefa”.
Para Aristóteles as virtudes morais como disposições ou atitudes para a ação, adquiridas
mediante o exercício e aperfeiçoadas pela prática. Daí a importância do hábito no
desenvolvimento desta excelência: as pessoas não nascem boas, mas nascem com a capacidade de
tornarem-se boas se desenvolverem as disposições apropriadas mediante a prática reiterada de
boas ações.
É pela prática dos atos justos que se gera o homem justo, é pela prática de atos temperantes que se
gera o homem temperante; é através da ação que existe a possibilidade de alguém tornar-se bom.
O homem bom, portanto, é aquele que exerce com sucesso suas funções se realizando, elevando
sua vida até a mais alta excelência de que é capaz, vivendo bem e feliz: “o bem para o homem
vem a ser o exercício ativo das faculdades da alma de conformidade com a excelência”.
Depende de nós praticarmos atos nobres ou vis, ou então, depende de nós sermos virtuosos ou
viciosos.
Fica esclarecido que as virtudes são voluntárias, porque somos senhores de nossos atos se
conhecemos as circunstâncias, e estava em nosso poder o agir ou o não agir de tal maneira. E esse
agir não é isolado, ou individual, é sempre agir em relação ao outro. Os vícios também são
voluntários, porque o mesmo se aplica a eles.

As Virtudes Morais:
Coragem – é meio-termo em relação ao sentimento de medo e de confiança, a bravura relaciona-
se com as coisas mais nobres como a morte na guerra, e bravo é aquele que se mostra destemido
em face a uma morte honrosa, os bravos, embora temam aquelas coisas que estão acima das forças
humanas, caracterizam-se por enfrentá-las como se deve; e aquele que diz não ter medo, que é
insensível ao que realmente é terrível, é o homem temerário, ele é um simulador de coragem,
porque deseja parecer corajoso; e aquele que excede no medo é covarde, porque ele teme o que
não deve temer, falta-lhe confiança e é dado ao desespero por temer certas coisas, a covardia e a
temeridade são a carência e o excesso e a posição correta é a bravura.
Temperança – é o meio-termo em relação aos prazeres e dores, as espécies dos prazeres com que
se relaciona são os prazeres corporais, Ao intemperante somente interessa o gozo do objeto em si,
no comer e beber e na união dos sexos. Por causa dos prazeres, a intemperança é, dentre os vícios,
a mais difundida; e é motivo de censura porque nos domina, não como homens, mas como
animais. O apetite é natural, mas o engano é o excesso. O excesso em relação aos prazeres é
intemperança e é culpável, porque, nesse estado, somos levados pelo apetite. Os apetites devem
ser poucos e moderados, e não podem opor-se, de modo algum, ao princípio racional. No homem
temperante, o elemento apetitivo harmoniza-se ao racional, o que ambos tem em mira é o nobre.
Liberalidade – é o meio-termo no dar e no receber dinheiro. O excesso é a prodigalidade e a
deficiência é a avareza.
Magnificência – é um meio-termo quanto ao dinheiro dado em grandes quantias; o excesso é a
vulgaridade e o mau gosto, a deficiência é a mesquinhez. A deficiência a essa disposição de
caráter é a mesquinhez; este fica aquém da medida em tudo, em tudo o que faz estuda a maneira
de gastar menos e lamenta até o pouco que tem. O excesso é a vulgaridade, porque gasta além do
que é justo. Por exemplo, dá um jantar de amigos na escala de um banquete de núpcias.
Justo Orgulho – é o meio-termo em relação à honra e à desonra. O excesso é a ‘vaidade oca’ e a
deficiência é a humildade indébita.
Calma – é o meio-termo em relação à cólera; aquele que excede é o irascível, o que fica aquém é
o pacato. Louva-se o homem que se encoleriza justificadamente, tal homem tende a não deixar-se
perturbar nem guiar-se pela paixão, mas ira-se da maneira, com as coisas e no tempo prescrito. A
deficiência é a pacatez, e essas pessoas não se encolerizam com coisas que deveriam excitar sua
ira; também são chamados de tolos e insensíveis. O excesso é o homem irascível, que encoleriza-
se com coisas indevidas e mais do que convém.
Justiça – nela faz-se necessário distinguir as duas espécies e mostrar em que sentido cada uma
delas é um meio-termo. A justiça é a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer
o que é justo e a desejar o que é justo. Dessa forma, a justiça é uma virtude completa ou é muitas
vezes considerada a maior das virtudes. É uma virtude completa por ser o exercício atual da
virtude completa, isto é, aquele que a possui pode exercer sua virtude sobre si e sobre o próximo.
Por isso se diz que somente a justiça, entre todas as virtudes, é o bem do outro, visto que é
possível fazer o que é vantajoso a um outro. O melhor dos homens é aquele que exerce sua virtude
para com o outro, pois essa tarefa é a mais difícil.
A justiça política divide-se em natural e legal. A natural é aquela que tem a mesma força em toda
parte; a legal é a justiça estabelecida, no tocante à justiça, cabe destacar que é o caráter voluntário
ou involuntário que determina o justo. O homem somente é justo quando age de maneira
voluntária, e se age involuntariamente não é justo nem injusto, a não ser por acidente.

A ética aristotélica inicia-se com o estabelecimento da noção de felicidade. Neste sentido, pode ser
considerada uma ética eudemonista por buscar o que é o bem agir em escala humana, o agir
segundo a virtude. A felicidade é definida como uma certa atividade da alma que vai de acordo
com uma perfeita virtude. Partindo dessa definição, faz-se necessário um estudo sobre o que é uma
virtude perfeita e, assim, faz-se necessário, também, o estudo da natureza da virtude moral.
Aristóteles define a virtude moral como disposição – já que não podem ser nem faculdades nem
paixões – para agir de forma deliberada e a disposição está de acordo com a reta razão. A virtude
moral consiste em uma mediania relativa a nós. Após estabelecer a virtude moral como uma
disposição –  héxis – ou seja, como se dá o comportamento do homem com relação às emoções, há
ainda a necessidade de que a diferença específica entre virtude moral e virtude intelectual seja
explicitada.
Segundo o Estagirita, o que distingue as duas espécies de virtude é a mediania. A virtude
intelectual é adquirida através do ensino, e assim, necessita de experiência e tempo. A virtude
moral é adquirida, por sua vez, como resultado do hábito. O hábito determina nosso
comportamento como bom ou mau. É devido ao hábito que tomamos a justa-medida com relação à
nós. Logo, a mediania é imposta pela razão com relação às emoções e é relativa às circunstâncias
nas quais a ação se produz.
Ao propor a mediania como gênero de virtude moral, como regra moral, o Estagirita retornou à
sabedoria grega clássica porque esta indicava a mediania como a regra de ouro do agir moral. A
mediania tem o aspecto de não silenciar as emoções, mas buscar a proporção e, devido a essa
proporção, a ação será adequada sob a perspectiva moral e, concomitantemente, a ação ficará
ligada às emoções e paixões. De acordo com Aristóteles, a posição de meio é o que tem a mesma
distância de cada um dos extremos. Com relação a nós e sempre considerando nesse viés, meio é o
que não excede nem falta. Aqui fica evidente que o “meio” se dá em relação ao agente pois “não é
único e o mesmo para todos” 
A virtude moral deve possuir a qualidade de visar o meio-termo por se relacionar com as paixões e
ações. Nas ações e paixões, por sua vez, existem a carência, o excesso e o meio-termo. As ações e
os apetites não tem, em sua natureza, algo que determine sua tendência para a falta ou para o
excesso. Por sua vez, a tendência à mediania expressa a virtude moral, expressa a excelência da
faculdade desiderativa da alma. O que nos faz tender à mediania é a educação e a repetição de atos
bons e nobres. Por conseguinte, o hábito é desenvolvido e visa a mediania. Esta, por sua vez, é
determinada por um princípio racional. Pode-se notar que, para Aristóteles, a virtude é uma
espécie de mediania que visa o meio-termo e que é vista como disposição de caráter que tem
relação com a escolha dos atos e das paixões.
A justa-medida é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria
prática. Assim, ao buscar pela essência da virtude, por sua definição, Aristóteles define-a como
mediania, ou ainda, “a mediedade é a quididade da virtude”.
A virtude é um meio-termo entre dois vícios. Um desses vícios envolve o excesso e o outro vício
envolve a carência. Logo, cabe à virtude e à sua natureza visar a mediania tanto nas ações –
embora algumas ações não permitem um meio-termo por seus próprios nomes já implicarem, em
si mesmos, maldade – quanto nas paixões. Um dos extremos – entre os quais a mediania se
localiza – é mais equivocado que o outro. Deve-se, portanto, estar atento aos erros para os quais
tem-se maior facilidade para ser arrastado. Pode-se saber para qual erro se é arrastado ao se
analisar o prazer e o sofrimento acarretado pelo mesmo. Ao descobrir para qual erro se tende mais,
deve-se ir em direção oposta, ao outro extremo para que se chegue ao estado intermediário e,
consequentemente, afastar-se do erro.

-> A virtude (areté) é a expressão maior da excelência de uma pessoa, de sua integridade, de sua
identidade. A paixão, por outro lado, torna-a confusa, dividida entre desejos contrários,
conflitantes, opostos. Alguém sob o domínio da paixão pode inclinar-se ao vício, que é o excesso
ou a falta da paixão. A virtude é encontrar, pelo uso da razão, o meio-termo entre esses extremos,
que Aristóteles chamou de justo meio.
Suponha-se alguém dominado pelo prazer (que, para Aristóteles, é uma paixão). Esse alguém pode
ser libertino (um dos extremos do prazer prazer em excesso) ou insensível (o extremo oposto: falta
de prazer), O justo meio, aqui, é a temperança, à qual se chega pelo uso da razão.
A virtude, assim, está ligada à razão. E, como todo homem é dotado de razão, todo homem pode
alcançar a virtude. Basta identificar a paixão que o domina, reconhecer seus extremos e procurar,
racionalmente, o seu justo meio.
A maior de todas as virtudes, diz Aristóteles, é a justiça. Sua força sobre as demais consiste em
sua perfeição, porque quem é justo projeta-se mais para o outro do que para si mesmo. Em outras
palavras, tudo que protege o conjunto dos indivíduos (a sociedade) é mais importante do que
aquilo que protege somente um dos membros dessa sociedade, Por isso, dos males, a injustiça é o
maior, pois destrói o tecido social.

Ética de Platão e Aristóteles: diferenças e semelhanças


A ética aristotélica, em oposição à ética do seu mestre (Platão), é imanente, tendo as suas bases na
realidade empírica do mundo, no questionamento acerca das condutas humanas e na organização
social. As exigências em relação à vida na polis e a realidade do homem formam o conteúdo das
ideias, e são ambas as responsáveis pela escolha dos valores, pela moralidade e pelas leis, pela
definição das condutas dos homens. A sua teoria ética era realista, empirista em contrapartida à
visão idealista e racionalista de Platão.
A ética aristotélica inicia-se com o estabelecimento da noção de felicidade. Neste sentido, pode ser
considerada eudemonista por buscar o que é o bem agir em escala humana, o agir segundo a
virtude – diferentemente de Platão, que buscava a essência das ideias de felicidade e da ideia do
Bem sem relacioná-las diretamente à prática. A felicidade é definida como uma certa atividade da
alma que vai de acordo com uma perfeita virtude. Partindo dessa definição, faz-se necessário um
estudo sobre o que é uma virtude perfeita e, assim, faz-se necessário, também, o estudo da
natureza da virtude moral.
A virtude é definida por Aristóteles como hábito ou disposição racional constante, sendo a virtude
o hábito que torna o homem bom e o capacita na boa execução de sua função. Esta definição se
mostra oposta à de Platão: a virtude é definida como capacidade de realizar uma função
determinada, inerente a alguma parte da alma humana ou da cidade ideal.
A virtude moral é consistida por uma mediedade relativa a nós e o filósofo define- a como
disposição – já que não podem ser nem faculdades nem paixões – para agir de forma deliberada,
sendo que a disposição está de acordo com a reta razão. Após estabelecer a virtude moral como
uma disposição – héxis – ou seja, como se dá o comportamento do homem com relação às
emoções, há ainda a necessidade de que a diferença específica entre virtude moral e virtude
intelectual seja explicitada. Aristóteles, em contrapartida às visões de Sócrates e Platão, atribui um
papel importante dos sentimentos no âmbito ético, pois esta parte emocional da alma também é
responsável na formação das virtudes, quando em conformidade com a parte racional.
O que distingue as duas espécies de virtude é a mediania. A virtude intelectual é adquirida através
do ensino, e assim, necessita de experiência e tempo. A virtude moral é adquirida, por sua vez,
como resultado do hábito. O hábito determina nosso comportamento como bom ou ruim. É devido
ao hábito que tomamos a justa-medida com relação à nós. Logo, a mediania é imposta pela razão
com relação às emoções e é relativa às circunstâncias nas quais a ação se produz.
Nenhuma das virtudes morais surge nos homens por natureza – ao contrário da visão inatista
platônica – porque o que é por natureza não pode ser alterado pelo hábito, a natureza nos capacita
em receber tais virtudes e esta capacidade em recebê-las é aperfeiçoada pelo hábito. Virtudes e
artes são adquiridas pelo exercício, ou seja, a prática das virtudes é um pré-requisito para que se
possa adquiri-las. Sem a prática, não há a possibilidade de o homem ser bom, de ser virtuoso.
Neste ponto da exposição aristotélica, podemos notar outra oposição com relação à ética platônica:
conforme esta, o homem só pode ser bom e virtuoso ao contemplar a ideia do Bem, o que aponta
para a diferença entre as concepções idealistas/racionalistas apresentadas por Platão e as
concepções realistas/empiristas expostas pelo peripatético.
Aristóteles critica a identificação feita por seu mestre entre virtude e conhecimento, de modo
que conhecer a essência da Justiça implicaria em ser justo, haja vista que são identificados. Assim,
o conhecimento da ideia do Bem seria a condição para o bem agir, e a virtude consistiria em
somente um tipo de conhecimento teórico, conforme a crítica feita por Aristóteles. Este afirma
que a razão não é a única a atuar na determinação da boa conduta, devendo-se levar em conta os
sentimentos por auxiliarem na formação das virtudes, além do facto de que as virtudes implicam
uma atividade racional.
As virtudes morais são vistas como produto do hábito, consequentemente não são tomadas como
inatas – como o fizeram Sócrates e Platão. Ao considerar as virtudes morais como adquiridas, há
uma implicação de que o homem é causa de suas próprias ações, responsável por seu caráter – por
esse motivo a ação precede e prevalece sobre a disposição – o que refuta a ideia platônica de que o
homem que age mal, o faz por ignorância, pois o mal é a ausência do bem. Está na natureza das
virtudes a possibilidade de serem destruídas pela carência ou pelo excesso e cabe à mediania
preservar as virtudes morais e também diferenciá-las das virtudes naturais. Pode-se notar, pois,
que a ideia de justa-medida preconiza que qualquer virtude é destruída pelos extremos: a virtude é
o equilíbrio entre o sentir em excesso e a apatia.
Portanto, fica evidente que a virtude busca pela harmonia – e esta é dada pela razão entre as
emoções extremas. O meio-termo é experimentar as emoções certas no momento certo e em
relação às pessoas certas e objetos certos, de maneira certa. Isso é a mediania, é a excelência
moral, a qual diverge da noção platônica de excelência moral, que seria cada parte da alma exercer
sua tarefa própria da melhor maneira possível, com excelência para exercer sua respectiva virtude.
A mediania tem o aspecto de não silenciar as emoções, mas buscar a proporção e, devido a essa
proporção, a ação será adequada sob a perspectiva moral e, concomitantemente, a ação ficará
ligada às emoções e paixões – contrariamente à doutrina platônica, na qual a ação moral tem uma
relação intrínseca com a contemplação do Bem. De acordo com Aristóteles, a posição de meio é o
que tem a mesma distância de cada um dos extremos. Com relação a nós e sempre considerando
nesse viés, meio é o que não excede nem falta. Aqui fica evidente que o “meio” se dá em relação
ao agente, pois não é válido para todos.
A virtude moral deve possuir a qualidade de visar o meio-termo por se relacionar com as paixões e
ações. Nas ações e paixões, por sua vez, existem a carência, o excesso e o meio-termo. As ações e
os apetites não tem, em sua natureza, algo que determine sua tendência para a falta ou para o
excesso. Por sua vez, a tendência à mediania expressa a virtude moral, expressa a excelência da
faculdade desiderativa da alma. O que nos faz tender à mediania é a educação e a repetição de atos
bons e nobres. Por conseguinte, o hábito é desenvolvido e visa a mediania. Esta, por sua vez, é
determinada segundo um princípio racional. Pode-se notar que, para Aristóteles, a virtude é uma
espécie de mediania já que visa o meio-termo e que é vista como disposição de caráter que tem
relação com a escolha dos atos e das paixões. A justa-medida é determinada por um princípio
racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. Assim, ao buscar pela essência da virtude,
por sua definição, Aristóteles define-a como mediania.

Platão defendia o Inatismo, nascemos como princípios racionais e ideias inatas. A origem das
ideias segundo Platão é dado por dois mundos que são o mundo inteligível, que é o mundo que
nós, antes de nascer, passamos para ter as ideias assimiladas em nossas mentes. Quando nós
nascemos no mundo conhecidos por todos, o mundo em que vivemos, denominado por Platão
como mundo sensível nós já temos as ideias formuladas em nossas mentes mas muito guardadas
que para serem utilizadas é necessário “relembrar” as ideias já conhecidas através do mundo
inteligível.
Para Platão existem quatro formas ou graus de conhecimento que são a crença, opinião, raciocínio
e indução. Para ele as duas primeiras podem ser descartadas da filosofia pois não são concretas,
sendo as duas últimas são as formas de fazer filosofia. Para Platão tudo se justifica através da
matemática e através dessa que nós chegamos a verdadeira realidade.
Para Platão o conhecimento sensível (crença e opinião) é apenas uma da realidade, como se fosse
uma visão dos homens da caverna do texto “Alegoria da Caverna” e o conhecimento intelectual
(raciocínio e indução) alcança a essência das coisas, as ideias.
Ao contrário de Platão, Aristóteles defendia que a origem das ideias é através da observação de
objetos para após a formulação da ideia dos mesmos. Para Aristóteles o único mundo é o sensível
e que também é o inteligível.
Aristóteles diz que existem seis formas ou grau de conhecimento: sensação, percepção,
imaginação, memória, raciocínio e intuição. Para ele o conhecimento é formado e enriquecido por
informações trazidas de todos os graus citados e não há diferença entre o conhecimento sensível e
intelectual, um é continuação do outro, a única separação existente é entre as seis primeiras formas
e a última forma pois a intuição é puramente intelectual, mas isso não quer dizer que as outras
formas não sejam verdadeiras mas sim formas de conhecimento diferentes que utilizam coisas
concretas.

Platão era um mestre da linguagem literária e da construção de alegorias. Os seus livros tinham
uma estrutura narrativa, pois ele escrevia na forma de diálogos, normalmente protagonizados por
Sócrates, que foi o seu mestre.
Já os escritos de Aristóteles são grandes compilações das aulas que ele proferiu em sua escola (o
Liceu), quando voltou a Atenas, com cerca de 50 anos de idade. Embora essas anotações muitas
vezes não formem um discurso linear, elas se tratam da primeira grande tentativa de
sistematização do conhecimento.
Mas a grande diferença entre Platão e Aristóteles não estava apenas no estilo da escrita, mas
em suas linhas de interesses. Platão era um estudioso da matemática, e sua capacidade de
abstração permitiu que ele formulasse os conceitos metafísicos que constituem o seu maior legado.
Já Aristóteles era concentrado no mundo empírico, nos dados da experiência. Diversamente de seu
mestre Platão, ele foi um grande naturalista, um conhecedor dos fenômenos físicos, com interesses
que hoje seriam entendidos como científicos, e não filosóficos.
Tal como Platão, Aristóteles também valoriza o estudo da metafísica, vista como o conhecimento
das causas primeiras, dos princípios primeiros e imutáveis, do ser enquanto ser. Porém, as chaves
de compreensão utilizada por Aristóteles não apontam para a pressuposição de um arquétipo fora
do mundo físico, e sim para um estudo das características intrínsecas do próprio ser. Assim, a
metafísica aristotélica assume a forma de uma ontologia, ou seja, de um estudo acerca do ser
(ontos em grego).

O que é epicurismo?
Chamamos de epicurismo o sistema filosófico que prega a necessidade da busca pelos prazeres
moderados de forma a atingir um estado de libertação do medo, ausência do sofrimento corporal e
tranquilidade, pois quando os desejos são exaltados e exacerbados, podem causar perturbações
constantes. Isso impediria o alcance da verdadeira felicidade, que só pode ser alcançada por meio
da saúde do corpo e serenidade do espírito.
Para Epicuro, a filosofia era o melhor caminho para alcançar a felicidade, pois isso refletia na
libertação dos desejos, e acreditava que o prazer estava ligado tanto ao início como ao fim de uma
vida feliz.
Acreditava na existência de duas formas de prazer: a primeira, é o prazer estável que se alcança
com a ausência da dor e da perturbação; a segunda, da alegria e do gozo, situação em que o
homem pode acabar se tornando escravo do prazer, e vivendo uma vida infeliz.
Ética Epicurista
Epicuro e a sua doutrina surgiram em um momento de insatisfação com a condição das Cidades-
Estados gregas, onde predominava a injustiça social e a concentração do poder nas mãos da
aristocracia urbana. Todos encontravam-se infelizes, e as pessoas interessavam-se principalmente
pelas riquezas e poder. A religião tornou-se alto cercado de mitos e rituais sem significado, além
de aumentar a crença e a procura por oráculos e adivinhações. Apoiando-se em coisas supérfluas
copo poder e dinheiro, as pessoas eram apenas relativamente felizes, esquecendo do que realmente
é importante para chegar à verdadeira felicidade. Tendo isso em mente, Epicuro criou a sua
doutrina indo contra essas superstições e aos bens materiais, de forma a mostrar qual era o real
caminho para a felicidade.
De acordo com ele, a felicidade é alcançada por meio do controle dos medos e desejos, de modo a
chegar à ataraxia, que representa um estado estável de prazer e equilíbrio, tranquilidade e ausência
de perturbações. Ainda segundo Epicuro, possuir bens materiais limitados e não obter cargos
públicos ocasionariam em uma vida plena e feliz, com tranquilidade interior. Epicuro criou quatro
remédios que seriam necessários para alcançar a felicidade:
 Não temer os deuses;
 Não temer à morte;
 O bem não é difícil de alcançar;
 E os males não são difíceis de suportar.

A primeira tarefa, então, na busca da felicidade, deve ser a consideração da natureza dos deuses, a
busca de compreendê-los, pois, segundo a crença da maioria dos gregos, os deuses causariam
malefícios e benefícios aos humanos. Isso, aparentemente, não parece implicar algum problema,
mas, considerando-se atentamente, essa afirmação contém dois desdobramentos:
(a) a ideia de que os deuses se ocupam com os seres humanos;
(b) a ideia de que, quando alguém sofre uma desgraça ou um sucesso, isso se deve a uma
retribuição divina, e não ao próprio indivíduo.
Se se levar esta análise ao extremo, ver-se-á que os deuses terminam por inspirar medo nos
humanos. Como, porém, caminhar para a felicidade se se tem medo?
O princípio que leva Epicuro a esclarecer a natureza dos deuses é a necessidade de que, para que
eles sejam deuses, sejam também incorruptíveis (theòn áphtarton), ou seja, não submissos às
mudanças da natureza física. Caso sejam mutáveis, situar-se-ão no nível da natureza física, e, por
isso, perderão a natureza divina. Se é assim, os deuses não podem sequer ter contato com o mundo
físico, pois este é inadequado à sua natureza divina. Como no caso do primeiro motor imóvel de
Aristóteles, que não pode sequer saber da existência do mundo sublunar (uma vez que o perfeito
não poderia conter o imperfeito, nem sob a forma de coisa conhecida), também para Epicuro os
deuses não podem sequer saber da existência da realidade mutável, pois eles, que são imutáveis
(porque divinos) conteriam a mutabilidade, ao menos sob a forma de conhecimento. Por isso, os
deuses não fazem senão entreter-se entre si, na convivência com seus semelhantes, sem se ocupar
com os humanos. Ao criticar a visão popular dos deuses e ao propor uma outra concepção,
Epicuro afirma que os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em prolepses, ou seja,
em imagens inatas ou nascidas das percepções e formadas no espírito humano a partir da repetição
dessas percepções ou do reconhecimento dessas percepções. Essas imagens chamam-se
Antecipações (prolépseis) porque nos permitem conhecer antecipadamente tanto as formas como
os caracteres próprios das coisas, sem que seja necessário tê-las diante de nós e percebê-las
atualmente: antecipamos os caracteres e as formas que as coisas nos manifestarão quando, através
da sensação, como num esquema atomista, encontrarmo-nos novamente com elas.
Numa palavra, Epicuro não pôs em questão a existência dos deuses. Para ele, seria um
contrassenso negá-la, pois o mundo não parece explicar-se sem os deuses. O que, então,
interessou-lhe esclarecer é que, num cosmo material, os deuses têm de ser distintos da natureza e
destacar-se dela.
Ora, essa concepção dos deuses levou à anulação do primeiro desdobramento contido na visão que
a maioria dos gregos tinha sobre o divino. Mas também anulou automaticamente o segundo
desdobramento, que associava os malefícios e os benefícios humanos a retribuições divinas. Numa
palavra, se os deuses não se ocupam dos humanos, não são eles que retribuem pelas ações
humanas, dando recompensas ou punições. Como corolário, obtém-se uma primeira e fundamental
lição da ética epicurista: a responsabilidade pelo estado atual da vida de cada indivíduo
pertence a ele mesmo, pois não há retribuição divina que o faça feliz ou sofredor. Felicidade e
sofrimento serão consequências de seu modo de vida. Como segunda consequência direta, também
se anula qualquer temor com relação aos deuses, o que é fundamental para a busca da felicidade,
segundo Epicuro, pois é inconcebível ser feliz com medo.

Afastado o medo dos deuses, por meio da consideração da natureza deles, restaria ainda aos
humanos a morte como aguilhão provocador de medo. Por isso, àquele que busca a felicidade cabe
investigar também a natureza da morte, a fim de saber se ela deve ou não despertar tal medo.
A compreensão da morte como nada decorre diretamente da associação epicurista entre ser e
natureza física. Ora, a morte é a cessação da vida física ou o aniquilamento do indivíduo no
dinamismo da phýsis, de maneira que não há sofrimento nela, afinal, sofrimento e prazer, mal e
bem, residem nas sensações. Como a morte implica privação de sensações, não se pode pensar que
ela acarrete algum sofrimento aos indivíduos. Por conseguinte, o sábio, aquele que se aplica a
refletir sobre a natureza da morte, não terá nada a temer.

A estratégia central de Epicuro para analisar o prazer consistiu em associá-lo com a completude
indicada acima, ou seja, a posse da saúde do corpo e da serenidade da alma. O núcleo dessa
completude seria o prazer porque, na posse da completude, os humanos ficam satisfeitos e não
sentem necessidade de nada; ao passo que, sofrendo qualquer ausência, passa-se a sentir
necessidade de prazer. Assim, dizer que, para Epicuro, buscar a felicidade significa buscar o
prazer equivale a dizer que buscar a felicidade significa buscar a posse da saúde do corpo e da
serenidade de alma. Esse é o bem primeiro e próprio dos indivíduos humanos.
Epicuro esclareceu que esse é o verdadeiro bem, o verdadeiro prazer, e explicou que nem sempre
o prazer é aquilo que geralmente se toma por ele. Assim, há ocasiões em que evitamos prazer
quando deles advêm efeitos desagradáveis, ao passo que muitos sofrimentos são preferíveis aos
prazeres quando um prazer maior pode advir caso se suporte a dor do sofrimento. É a ponderação
dos prazeres e sofrimentos, segundo o critério dos benefícios e danos, que garante ao indivíduo a
posse da felicidade.
O sábio, então, seria o prudente, aquele que não atribui sua sorte aos deuses, mas, embora os
venere, entende que o seu estado de vida depende da sua escolha prudente, baseada, como se viu
acima, na busca do prazer e na perscrutação dos desejos. Por conseguinte, em linguagem moderna,
parece possível dizer que o sábio será aquele que assume a sua responsabilidade moral sobre a
existência, pois deixa de atribuir aos deuses a sua sorte. O sábio entende que há alguns eventos
necessários na natureza, outros casuais e outros que dependem de nós. Ele não aceita nenhum
determinismo ético, tal como subjaz à noção de destino, muito comum no mundo antigo. Epicuro,
ao contrário, embora seja um naturalista em termos metafísicos, não admite nenhum determinismo
moral.
Não há dúvida de que é inteiramente correto chamar a ética epicurista de “ética do prazer”, como
vimos acima, mas chamá-la de “ética da prudência” permite acentuar o esforço de Epicuro no
sentido de esclarecer que sua ética não consiste num hedonismo vulgar, mas numa ética que gire
em torno de dois valores centrais: a saúde física e a serenidade interior. Ocorre, porém, que, ao
aprofundar o sentido do prazer, Epicuro se viu instado a fazer de uma virtude outro valor central
de sua ética: a prudência (phrónesis), a sábia medida do prazer. Ora, se é assim, pode-se perguntar
se é o prazer que ocupa, de fato, o lugar central da ética epicurista, ou se este lugar é ocupado pela
prudência, assim como o fora para Aristóteles?
Seja como for, a ética de Epicuro ou do epicurismo é inconfundivelmente clássica, situada em
continuidade direta com a tradição que remonta a Platão e Aristóteles, a respeito da sua crítica à
metafísica desses filósofos.

O alcance da virtude
Epicuro acreditava que com os remédios citados acima, seria possível cultivar os pensamentos
positivos que permitiriam uma vida feliz e filosófica baseada em uma ética. Um sábio deve ser
forte e saber suportar a dor que será breve, e que mesmo que não seja breve, é sempre suportável.

De acordo com a ética da filosofia epicurista, a virtude subordinada ao prazer somente poderá ser
alcançada:
 Pela inteligência, uma vez que prudência e ponderamento evitam a dor;
 Raciocínio, pois por meio dele reflete-se sobre os ponderamentos levantados, reconhecendo
qual entre os prazeres é mais vantajoso, analisar qual deve ser suportado, entre outros.
 Autodomínio – evita o que é supérfluo, como bens materiais, cultura sofisticada e participação
política;
 Justiça – deve ser buscada pelos frutos que produz, pois foi estipulada para que não haja
prejuízo entre os homens.

Além disso, o prazer é um bem absoluto, quando usado como forma de suprimir a dor, pois não se
pode adicionar à ele outras formas de prazer; pelo autodomínio, evitando aquilo que é supérfluo
como o poder, os bens materiais, participação na política e cultura sofisticada, por exemplo; e,
finalmente, pela justiça. Esta foi estipulada para que não houvesse prejuízo e injustiça entre os
homens, e por isso deve ser buscada para alcançar seus resultados.

A moral epicurista
Epicuro sempre pregou como meta de sua filosofia, a felicidade das pessoas, e acreditava que a
amizade era o melhor dos sentimentos, proporcionando a correção de falhas. A sua moral, então,
baseia-se na propagação das ações, pois ele não apenas discutiu sobre as normas da moralidade
como sento o sentimento e o prazer, definindo a ética como a felicidade diretamente ligada ao
prazer, mas viveu tudo aquilo que dizia.
O que é o estoicismo?
O estoicismo é uma tradição filosófica que prega uma ética da busca da vida boa e a felicidade.
Desse modo, os estoicos também definem o que é essa vida.
Conforme o estoicismo, sábio e feliz é o indivíduo que consegue se sintonizar com o fluxo dos
acontecimentos sem se abalar com nenhuma adversidade. Logo, ele não deve precisar de nada a
mais – assim, nada também trará insatisfação.
Por essa razão, essa é uma filosofia que valoriza a conexão prática das suas ideias, ao invés de
focar em questões estritamente intelectuais.
Os estóicos defendiam que a ética decorre de uma lei natural universal. Para os estóicos, a vida
feliz é a vida virtuosa, conforme com a Natureza, conforme a razão. Defende que o fundamental é
viver com retidão, lutando contra as paixões. Aspetos fundamentais da doutrina estóica são
também a compreensão, o cosmopolitismo (o homem como cidadão do mundo) e a igualdade de
todos os homens.
Os esforços na ética estoica, assentam-se na eudaimonia – a felicidade proveniente da vida
racional, pelo exercício da virtude. Não se trata, assim, de uma entrega sem critérios às paixões,
mas a um exercício do autoconhecimento, do “conhece-te a ti mesmo” para que, reconhecendo o
seu lugar no mundo, o homem possa se apegar ao necessário e desprender-se do supérfluo. Em
outras palavras, não se permitir o apego apaixonado às coisas que ontologicamente não lhe
pertence.
O imperativo desta ética é seu caráter obediente a uma lei natural. Tudo o que é transmitido pelo
filósofo deve assumir a responsabilidade, explicitamente, de correspondência entre aquilo que
fazemos e leis que promulgamos com uma realidade além do gênero humano, uma espécie de
ordenamento imanente à natureza (physis). Se o homem deseja ser feliz, para um estoico, é
necessário que aceite seu destino como um curso natural inerente à sua existência, e combata as
paixões em vista de não perder a tranquilidade da sua alma.
A ideia de uma lei que seja natural, isto é, uma ordem que esteja no fulcro da natureza, subjacente
a ela, trata-se de um conceito amplamente discutido em toda a história da filosofia e
profundamente estudado no âmbito do direito natural. A concepção desta ordem é de que,
intrínseca a toda a realidade que vemos, existe algo racional que a tudo ordena e promove, e que é
orgânico. Se assim o for, a questão que emerge é se é possível ao homem se opor a toda essa
dança universal, indo contra a natureza. Um segundo dilema é se essa lei natural realmente existe
ou aludiria a uma crença do homem em algo superior, já que foge de seu controlo.
O Estoicismo, baseado numa ética rigorosa de acordo com a leis da natureza, assegurava que o
universo era governado por uma razão universal divina. Dessa forma, para os estoicos, a felicidade
era encontrada na dominação do homem ante suas paixões (considerada um vício da alma) em
detrimento da razão. Os estoicos cultivavam a perfeição moral e intelectual inspirada no conceito
de “Apathea”, que significa a indiferença em relação a tudo que é externo ao ser.

Diferenças e as semelhanças entre o Epicurismo e o Estoicismo


Inimiga da escola estóica, o epicurismo perdura ainda hoje, sob a designação de hedonismo ou
utilitarismo. Basicamente, defende que o homem deve fazer o que gosta mais, o que lhe dá prazer,
do corpo e da alma. Esta busca do prazer deve ser regida pela prudência: o homem deve diminuir
os desejos, para ser auto-suficiente, despreocupado e tranquilo: "não ter dor no corpo nem
perturbação na alma". Todavia, as interpretações simplistas desta doutrina levaram quase sempre à
conclusão de que, em termos éticos, é lícito tudo o que produz prazer, desde que se faça com
domínio de si mesmo, sem perturbação. Por outro lado, contrariamente ao estoicismo, o
epicurismo defende uma vida associal, sem participação do filósofo na vida da cidade.
Para os epicuristas, diferente dos estoicos, os homens eram movidos por interesses individuais e o
dever de cada um estava em buscar nos prazeres a felicidade.
Para os estoicos, a alma deveria ser cultivada, enquanto os epicuristas não acreditavam na
reencarnação. Por fim, para os estoicos a virtude representava o único bem do homem, o mais
importante, enquanto o epicurismo estava apoiado nos prazeres.

Ética nos dias de hoje:


A sucessão de acontecimentos históricos nos revela que apesar de haver uma enorme variedade de
teorias controversas a Ética soube se ajustar a cada uma das objeções. O pensamento
contemporâneo deverá elaborar novos conceitos e esboçar soluções selecionando e conhecendo as
teorias éticas do passado.
Em relações cotidianas entre os indivíduos sempre temos duvidas como: sempre deve-se dizer o
que é verdade ou dependendo da ocasião devo mentir? (existem situações em que nos sentimos
obrigados a isso). É certo julgar o que uma pessoa fez ou deixou de fazer?
Os indivíduos são ensinados a viverem rodeados de formas que se julgam apropriadas de serem
cumpridas. São normas obrigatórias e seguindo-as de forma certa sabem como agir em
determinado caso.
Na vida real para resolver dúvidas assim os indivíduos recorrem a normas que lhe foi ensinado,
formulam juizes e usam argumentos que justifiquem seus atos. O comportamento do qual falamos
é pratico e moral, sujeito a mudanças de acordo com a época ou sociedade existente.
Os homens refletem sobre esse comportamento pratico, e como objeto utilizam o pensamento.
Nós sabemos o que devemos ou não fazer, mas temos de agir com responsabilidade.
A ética coopera para que haja uma justificação de certa forma do comportamento moral das
pessoas, ditando-lhes normas ou princípios pelos quais modelam esse comportamento.
A ética decorre do fato da existência de uma história da moral, tomando como ponto de partida a
diversidade de morais no tempo, onde em cada época tinham seus princípios, valores e normas
específicos.

Deontologia
Deontologia, deriva do grego deon ou deontos/logos e significa o estudo dos deveres. Emerge da
necessidade de um grupo profissional de autoregular, mas a sua aplicação traduz-se em
heteroregulação, uma vez que os membros do grupo devem cumprir as regras estabelecidas num
código e fiscalizadas por uma instância superior (ordem profissional, associação, etc.).
O objetivo da deontologia é reger os comportamentos dos membros de uma profissão para
alcançar a excelência no trabalho, tendo em vista o reconhecimento pelos pares, garantir a
confiança do público e proteger a reputação da profissão.
Trata-se, em concreto, do estudo do conjunto dos deveres profissionais estabelecidos num código
específico que, muitas vezes, propõe sanções para os infratores. Melhor dizendo, é um conjunto de
deveres, princípios e normas reguladoras dos comportamentos exigíveis aos profissionais, ainda
que nem sempre estejam codificados numa regulamentação jurídica. Isto porque alguns conjuntos
de normas não têm uma função normativa (presente nos códigos deontológicos), mas apenas
reguladora (como, por exemplo, as declarações de princípios e os enunciados de valores).
Diversas profissões apresentam códigos de conduta para orientar os profissionais quanto a uma
atuação ética e comprometida. Assim, as pessoas que exercem a carreira conseguem compreender
quais são as regras básicas que regem a atuação. Essa também é uma forma de proteger a
população em geral.
Afinal, a ética é indispensável em qualquer área, e as pessoas que têm contato com os
profissionais merecem ser tratadas com respeito.
Neste sentido, a deontologia é uma disciplina da ética especialmente adaptada ao exercício de uma
profissão. Em regra, os códigos de deontologia têm por base grandes declarações universais e
esforçam-se por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o às particularidades de
cada profissão e de cada país. As regras deontológicas são adoptadas por organizações
profissionais, que assume a função de "legisladora" das normas e garante da sua aplicação.
Os códigos de ética são dificilmente separáveis da deontologia profissional, pelo que é frequente
os termos ética e deontologia serem utilizados como sinónimos, tendo apenas origem etimológica
distinta. Muitas vezes utiliza-se mesmo a expressão anglosaxónica professional ethics para
designar a deontologia.

A importância da Ética na Psicologia


Ao longo da história humana, diversos pensadores e doutrinadores escreveram e teorizaram sobre
Ética e, dentre eles: Sócrates, Platão e Aristóteles, Kant, Kierkegaard, Marx e Nietzsche. Por ser
tão importante, o profissional munido de ética demonstra uma imagem de credibilidade, traz
consigo grandes possibilidades de crescimento na carreira, com respeito e honra em seu exercício.
Na Psicologia, a ética tem um papel fundamental, já que profissionais com essa característica
ganham maior credibilidade na profissão. O papel do psicólogo é procurar entender os problemas
humanos e se solidarizar com eles. Se cumprida de forma correta, a ética proporciona benefícios
tanto para aquém pratica, quanto para quem recebe.

Alguns pontos fundamentais da Psicologia (Código Deontológico):


• O psicólogo deve respeitar os valores contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos
(liberdade, dignidade e integridade). Assim como zelar pela integridade da psicologia, usando-a
apenas para promover o bem;
• A psicologia tem que lutar contra a discriminação, violência e crueldade, zelando pela saúde e
qualidade de vida;
• Aprimorar os estudos é uma obrigação do psicólogo, para que possa atuar na profissão com
responsabilidade e contribuir para o desenvolvimento da psicologia como ciência;
• É proibida a emissão de documentos sem fundamentação técnica e científica;
• Não é considerado ético da parte do psicólogo avaliar ou atender pessoas com as quais tenha
relações pessoais ou familiares, para que a qualidade do seu trabalho não seja prejudicada;
• Crianças e adolescentes só poderão ser atendidas mediante autorização de um responsável legal
ou das autoridades competentes;
• O sigilo é inerente à profissão do psicólogo, pois é guardando-o que ele protege a integridade e
a confidencialidade daqueles para os quais presta os seus serviços;
• A participação de psicólogos em veículos de comunicação de massa deve ter a função de
esclarecer para a população o papel da profissão e divulgar as suas bases científicas;
• Os/as psicólogos/as devem respeitar as decisões e os direitos da pessoa, desde que estes sejam
enquadrados num exercício de racionalidade e de respeito pelo outro. Nesta perspectiva, não
devem fazer distinções entre os seus clientes por outros critérios que não os relacionados com os
problemas e/ou questões apresentadas, e devem, com a sua intervenção, promover o exercício da
autonomia dos clientes.
• Os/as psicólogos/as têm como obrigação exercer a sua actividade de acordo com os pressupostos
técnicos e científicos da profissão, a partir de uma formação pessoal adequada e de uma constante
actualização profissional, de forma a atingir os objectivos da intervenção psicológica. De outro
modo, acresce a possibilidade de prejudicar o cliente e de contribuir para o descrédito da
profissão. A competência é adquirida através de uma formação teórica e prática especializada,
obtida no ensino superior e constantemente actualizada, bem como de uma formação prática
supervisionada por psicólogos/as. Cada psicólogo/a deve garantir as suas qualificações
particulares em virtude dos seus estudos, formação e experiência específicas, fixando pelas
mesmas os seus próprios limites.
• Os/as psicólogos/as devem ter consciência das consequências que o seu trabalho pode ter junto
das pessoas, da profissão e da sociedade em geral. Devem contribuir para os bons resultados do
exercício da sua actividade nestas diferentes dimensões e assumir a responsabilidade pela mesma.
Devem saber avaliar o nível de fragilidade dos seus clientes, pautar as suas intervenções pelo
respeito absoluto da decorrente vulnerabilidade, e promover e dignificar a sua actividade.
• Os/as psicólogos/as devem ser fiéis aos princípios de actuação da profissão promovendo-os de
uma forma activa. Devem prevenir e evitar os conflitos de interesse e, quando estes surgem,
devem contribuir para a sua resolução, actuando sempre de acordo com as suas obrigações
profissionais.
• Os/as psicólogos/as devem ajudar o seu cliente a promover e a proteger os seus legítimos
interesses. Não devem intervir de modo a prejudicá-lo ou a causar -lhe qualquer tipo de dano, quer
por acções, quer por omissão.
• Os/as psicólogos/as têm a obrigação de assegurar a manutenção da privacidade e
confidencialidade de toda a informação a respeito do seu cliente.
• Os/as psicólogos/as não são os únicos que perseguem estes objectivos, sendo conveniente, e
mesmo necessário em alguns casos, a colaboração com outros profissionais, sem prejuízo das
competências e saberes de cada um.

Matéria para o 2º teste:


A Ética Cristã: a diferença de perspectiva entre Novak e Weber
Pensamento ético não metafísico: David Hume e Kant
A Ética de John Stuart Mill
O pensamento de Adam Smith (a conduta apropriada, as virtudes, a concorrência)
A Justiça, o Direito e a Lei: relação e distinção entre os conceitos.
A justiça no pensamento de Aristóteles.
Tipos de éticas
A literatura classifica e organiza os diferentes tipos de éticas com base no princípio orientador de
cada um. Basicamente três categorias são apontadas como principais, das quais outras
subcategorias são derivadas. São elas:

1. Éticas humanísticas: as éticas humanísticas partem do princípio de que o homem é o centro de


todas as coisas. Existem várias formas de ética humanística. Há aquelas que objetivam a
experiência, ou seja, o correto é a ação e o errado é a inércia, como no existencialismo. Desde que
o homem esteja agindo, qualquer experiência pode se tornar válida e justificável.
Há também aquelas éticas humanísticas que elegem como o padrão moral aceitável aquele que se
concentra no bem maior para a sociedade. Isso significa que aquilo que for bom para a maioria das
pessoas, então deve ser tido como correto. O utilitarismo é um exemplo desse tipo de ética.
Há ainda aquelas éticas que priorizam o prazer individual. Elas são fortemente marcadas por uma
tendência egoísta. Tudo é válido desde que o prazer, a satisfação e a felicidade particular sejam
alcançados. O hedonismo, e os seus derivados, individualismo e materialismo, são exemplos dessa
forma de ética.
2. Éticas naturalísticas: são éticas que se fundamentam nas leis da natureza. A ética naturalística
diz que aquilo que é natural é correto e bom.
3. Éticas religiosas: são éticas alicerçadas naquilo que cada religião acredita ser moralmente
correto segundo a visão que possuem acerca do que é bom, favorável e agradável diante de uma
divindade. A ética cristã é classificada dentro dessa categoria de alternativa ética, mas obviamente
ela não é a única. Existem muitas éticas religiosas não-cristãs que pregam os seus padrões éticos
de acordo com a crença nos seus deuses.
Para os cristãos, qualquer forma de ética que não esteja fundamentada nas Escrituras é
inapropriada e deve ser rejeitada.

Ética Cristã
Ética cristã são os princípios estabelecidos e considerados pela Igreja Católica, com o objetivo de
tornar os ensinamentos da Igreja como padrões para agir na sociedade, nos relacionamentos
interpessoais e na vida. É um grupo de princípios morais fundamentado na Palavra de Deus. Esses
princípios instruem o homem sobre como ele deve viver a sua vida neste mundo, de uma forma
que agrade a Deus. A ética cristã regulamenta o relacionamento do homem com o próximo e
consigo mesmo. Os fundamentos da ética cristã podem ser vistos do começo ao fim das Escrituras.
Um dos maiores instrumentos para representar a ética cristã é a Bíblia. É através dela que os fiéis
podem se guiar para saber como agir com a ética estabelecida pela Igreja Católica. Uma vez que a
ética é o estudo das questões relativas às ideias e normas de conduta na sociedade, a ética cristã é a
regulamentação dessas normas sob o prima cristão.
Um exemplo desse padrão pode ser encontrado de forma sintetizada nos 10 mandamentos no
Antigo Testamento, e no sermão da montanha no Novo Testamento.
Os princípios da ética cristã
Os princípios da ética cristã são extraídos das Escrituras Sagradas. A Bíblia é a infalível e
inerrante Palavra de Deus, ou seja, o próprio Deus se revelou nas Escrituras. Por isso ela inspira e
possui autoridade plena para exortar, corrigir, ensinar e guiar o homem num modo de vida de
acordo com a vontade do Senhor.

A ética cristã e a existência de Deus e a sua revelação à humanidade


Em primeiro lugar, a ética cristã fundamenta-se na realidade da existência de um único Deus. Esse
único e verdadeiro Deus subsiste nas pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ele é santo e
imutável, criador de todas as coisas. Ele criou o homem como um ser moralmente responsável, e
lhe revelou o padrão moral que o agrada.
Essa revelação de Deus à humanidade ocorre de diversas formas. Ele se revela através das obras
da criação. Tudo o que foi criado por Ele aponta para os seus atributos divinos. O próprio homem
foi criado à imagem e semelhança de Deus. Isso significa que apesar do pecado ter deformado essa
imagem, na sua consciência o homem ainda carrega os reflexos do padrão moral exigido pelo
Criador.
Mas é através das Escrituras que Deus se revelou de forma especial à humanidade. Tudo isto torna
o homem indesculpável. Ele jamais poderá argumentar que quebrou o padrão ético exigido por
Deus devido à ignorância ou desconhecimento.

A ética cristã e o estado caído do homem


Em segundo lugar, a ética cristã reconhece que o homem falhou em obedecer a Deus. Ele quebrou
a sua lei moral, assumindo uma posição de total rebelião contra o Criador. Dessa forma, o homem
não se encontra mais num estado moralmente neutro. A sua natureza é caída e inclinada ao mal.
Todas as suas decisões naturais são influenciadas pelo pecado. Por isto ele não pode,
naturalmente, desejar, amar e cumprir aquilo é espiritualmente bom diante de Deus. Ao contrário,
a sua ética natural sempre está fundamentada em propósitos egoístas que contrariam a vontade de
Deus.

A ética cristã e a obra da redenção


Em terceiro lugar, a ética cristã se baseia no facto de que Deus providenciou uma solução para o
problema do pecado. Ele enviou o seu próprio Filho ao mundo para resgatar o homem morto nos
seus delitos e pecados.
Então o Espírito Santo aplica a obra da redenção no homem. Através da regeneração, o homem é
feito nova criatura. Ele é ressuscitado do seu estado de morte espiritual para uma vida de
comunhão e paz com Deus. Então mediante a fé no unigênito Filho de Deus, o homem é habilitado
a viver uma vida que agrada ao Senhor. Tudo isso indica que é impossível o homem natural adotar
a ética cristã. Somente aqueles que foram regenerados é que são capacitados pelo Espírito Santo a
cumprir os princípios morais que agradam a Deus.

A aplicação da ética cristã


É verdade que a Bíblia não é um tipo de lista exaustiva que se refere diretamente e explicitamente
a todas as situações de nosso quotidiano. Porém, de modo geral, ela fornece de forma clara e
suficiente tudo o que precisamos saber para viver a nossa vida diante de Deus e do próximo. Então
a ética cristã expõe os padrões absolutos das Escrituras e os aplicam às mais diversas situações da
nossas vidas.
O padrão ético não-cristão do mundo, seja qual for a alternativa ética adotada, sempre será falho e
pecaminoso. Às vezes diante de uma atrocidade alguém pode dizer que faltou a ética. No entanto,
isto nunca será verdade.
Todas as decisões que o homem toma se enquadram numa forma ética. Foi dessa forma que até
mesmo os eventos mais tenebrosos de nossa História foram justificados por quem os cometeu. Foi
assim com o nazismo e os demais casos de genocídio. As grandes guerras também foram
fundamentadas em alguma alternativa ética.
Atos como a defesa do aborto, eutanásia e ideologias que procuram deturpar a instituição familiar,
também seguem princípios de formas éticas não-cristãs, sejam elas humanísticas ou naturalísticas.
Essas formas éticas facilmente introduzem os seus valores egoístas, individualistas, materialistas e
relativistas na sociedade.
Por isto os verdadeiros cristãos rejeitam todas essas alternativas éticas, e enxergam na ética cristã
o conjunto dos valores morais exigidos por Deus aos homens, independentemente da sua cultura
ou época. Esses valores são imutáveis e absolutos.
Mas deve ficar claro que é a ética cristã não é algo que concede ao homem uma forma de salvação
ou justificação própria. A ética cristã é aplicada na vida do cristão como uma forma de gratidão.
Ele foi salvo pela graça mediante a fé em Jesus Cristo, e agora deseja viver a sua vida com uma
conduta que agrada a Deus.

Diferença de perspectiva entre Novak (Ética Católica) e Weber (Ética Protestante)


Weber fundou um método de estudo sociológico baseado no que ele chamou de ação social e
produziu estudos para a compreensão da formação do capitalismo.
Novak no seu livro "A Ética Católica e o Espírito do Capitalismo" argumenta que a teologia
católica explica melhor o fundamento do sistema capitalista do que a teologia protestante. Na
teologia católica, a ênfase está na criatividade humana.
Weber, pelo contrário, argumenta que a essência do capitalismo é a lógica pura, que até se poderia
denominar lógica burocrática, a que Novak prefere chamar lógica "teutónica", dado que foi, sem
dúvida, a admiração que Weber tinha por esta ordem medieval de cavalaria, que influenciou as
suas ideias sobre como alcançar a prosperidade.
A dinâmica do capitalismo requer pessoas ativas mas igualmente criativas, capazes de iniciativa e
de aceitar riscos. Não basta a racionalidade, a rotina e a disciplina do trabalho: o aspecto crucial no
capitalismo está na capacidade e coragem de empreender, de cometimentos ousados, de aproveitar
oportunidades.
A criatividade humana, incluindo o sonho, a aventura e a ambição, são o que melhor explica o seu
incrível sucesso. Novak lembra-nos que a teologia católica tem enfatizado sempre o sentido de
comunidade.
Pelo contrário, Weber e muitos outros pensadores persistem no erro de considerar que a essência
do capitalismo é o individualismo. Ora a verdade é que o capitalismo só arranca, só se inicia,
quando o problema é social. É preciso mais do que um indivíduo para que a ordem social emerja.
Evidentemente que a esfera individual existe, mas só quando o mercado, as empresas e as
sociedades surgem, se pode falar do sistema capitalista. A essência do capitalismo é a
comunidade, é a criação como projecto de vida, é a livre associação e a cooperação que se dá
entre homens e mulheres para realizar objectivos comuns. 
Para se ser um bom empresário, é necessário ter bom senso e talento para inspirar e mobilizar os
outros e para os organizar voluntariamente. Sem investimento no capital social, sem redes e
relações de confiança, os projectos e os negócios ficam à partida minados, sem crédito. O
fenómeno social não é produto do individualismo, nem tão pouco é sinónimo do colectivismo.

O estudo da Ética Protestante segundo Max Weber (1864-1920) reveste-se de fundamental


importância para a compreensão da transição para a Modernidade, tendo o protestantismo
representado verdadeira ruptura, na medida em que se relaciona intimamente com o
desenvolvimento e a consolidação do capitalismo.
É importante destacar que a relação entre o protestantismo e o capitalismo nunca foi posta por
Weber como uma relação de causa e efeito, ou seja, não existe a lógica do protestantismo como
condição prévia para o capitalismo. O que existe, segundo o autor, é uma mediação entre o
capitalismo e a ética específica do protestantismo, criando condições para que o capitalismo se
desenvolvesse como forma econômica predominante no Ocidente. Evidentemente, não se deve
encarar tais considerações de forma rígida, cabendo registrar que há várias formas transitórias
entre o Oriente e o Ocidente, bem como dentro do próprio Ocidente. Também existem capitalistas
sem "espírito" e capitalistas em países de diferentes tradições religiosas, o que não retira o mérito
de Weber de demonstrar o "espírito do capitalismo" com base nessa interpretação específica do
trabalho e na espiritualidade da vida ética e cristã reformada.
O ponto da questão é perquirir qual elemento da ética protestante instigou o posterior
desenvolvimento do capitalismo, o que se afigura bem diferente da tese simplista de que o
capitalismo, enquanto sistema econômico, seria um mero produto da reforma. Segundo o próprio
Weber, formas de capitalismo existiram antes da própria reforma.
Para Weber, no Oriente faltou o que representou uma diferença decisiva na economia do Ocidente,
a saber, a racionalização na obtenção de lucros, ou seja, a incorporação desse impulso no sistema
de ética da ação intramundana e racional. Isto foi exatamente o que proporcionou o advento do
protestantismo e o que faltou ao Oriente, onde as premissas básicas do capitalismo jamais
surgiram. O misticismo oriental, com a ética da inação e do escapismo, não poderia servir de base
para o desenvolvimento do conceito de racionalidade econômica especificamente ocidental e
típico do capitalismo.
Especificamente o calvinismo, no âmbito do protestantismo, representou uma transformação no
que se refere às interpretações precedentes do trabalho como algo neutro, estabelecendo-se um elo
inteiramente novo entre a vida religiosa e a ação prática intramundana. O agir no mundo, nesse
sentido, tornou-se uma tarefa estabelecida por Deus e a certeza da salvação passa a ser obtida ao
se responder ao chamado Dele, ou seja, caso se cumpra a tarefa de resolver um problema concreto.
O trabalho passa a ser encarado enquanto chamado e apenas dessa maneira, e não pelo perdão ou
pelo arrependimento, torna-se possível superar o estado de natureza. A ascese cristã pisa em solo
mundano, deixando para trás os portões da igreja. Deus não mais exige que o indivíduo pratique
boas obras, mas que realize ações sistemáticas e previamente refletidas dentro dos limites do
mundo, ou seja, as responsabilidades do indivíduo não se esgotam com o mero cumprimento das
obrigações tradicionais, mas sim com o atendimento ao "chamado" protestante.
Tal lógica típica do protestantismo apresenta uma ascese intramundana específica, representando,
simultaneamente, um confronto com o catolicismo. A obtenção do lucro não é mais vista como
algo condenável, mas sim como algo que o próprio Deus pôs como tarefa. Nesse sentido, a
fundamentação do "espírito do capitalismo" é um modo de vida racional, baseado na ideia de
chamado, nascido do espírito da ascese cristã. O desenvolvimento posterior deslocará a
fundamentação religiosa em favor do secularismo utilitário, em um contexto no qual o capitalismo
revela uma melhor organização racional do trabalho formalmente livre.
Weber, assim, propõe a ética da responsabilidade, como corretivo específico à ordem
despersonalizada e projetada como racional de um mundo desmistificado. Ele acredita que a
alternativa não seja a ética da convicção, que acentua a adequação moral da conduta prática mais
do que sua eficiência, nem a ética da adaptação e subjugação a essa mesma eficiência, mas sim
uma possibilidade de mediação entre estas duas éticas.
Em contraposição à teoria do determinismo econômico, Weber tenta articular uma teoria pluralista
da interdependência, buscando examinar a esfera da atividade econômica como um aspecto
particular no contexto de racionalização geral da vida. Weber não propõe uma interpretação
idealista do capitalismo, deduzindo as suas raízes das ideias religiosas, mas sim uma interpretação
da ascensão da Europa moderna em função de mudanças no modo de vida, a partir da saturação do
trabalho pela ética protestante. A mudança fundamental, portanto, é o novo espírito do trabalho
introduzido pelo protestantismo.
No que se refere às relações de poder, a separação entre a ética e a política representa uma das
características mais proeminentes da era moderna. O fenômeno do absolutismo, causado pela
cisão na comunidade cristã, acentua indiretamente o desenvolvimento da sociedade civil, por meio
da unicidade dos Estados Nacionais. O protestantismo, por meio de uma nova interpretação do
trabalho, torna-se compatível com tal desenvolvimento, que é condicionado, em certa medida, por
elementos religiosos que, de facto, explicam a diferença no desenvolvimento entre os países
católicos e os protestantes.
Portanto, a época moderna, segundo Weber, surge graças a uma nova mediação e a uma nova
determinação do trabalho, em que os fatores essenciais da atividade econômica são, na verdade,
fatores morais. O protestantismo, nesse sentido, representou a síntese reformulada da religião, do
modo de vida e do trabalho.
A ética protestante é vista, no contexto da Reforma, como crítica do Catolicismo, e propunha uma
forma de religiosidade diferente, mais espiritualizada.
Ambas as religiões apresentam uma característica comum, qual seja: o "estranhamento do
mundo", no sentido de que estão neste mundo apenas transitoriamente, aguardando a salvação. No
entanto, há uma crítica católica que sustenta que a posição protestante configura um materialismo,
com elevado apego a bens e ao dinheiro, enquanto na posição oposta, os católicos são vistos como
dotados de menor impulso aquisitivo, preferindo viver uma vida segura e, portanto, com
rendimentos inferiores.
Há uma clara indicação de que, para o protestante, os bens e o dinheiro não é um fim em si
mesmo, na verdade, nenhuma das duas religiões assim o considera: para o católico, é apenas um
meio para garantir a estabilidade, a segurança e a tranqüilidade; para o protestante, a ênfase sequer
está no dinheiro, mas sim, no trabalho. Ganhar dinheiro, na ética protestante, nada mais é que o
resultado do esforço, da dedicação do trabalho.
Se por um lado, os católicos baseavam numa ideia de satisfação das necessidades, por outro, os
protestantes baseavam nos ganhos como corolário natural de um trabalho dedicado.
Além disso, enfatizava a firmeza de caráter e o desenvolvimento da confiança, uma vez que,
educado para ser criativo e inovador, romperia com a tranquilidade e a segurança das relações
comerciais existentes à época, visto que seria elemento de mudança no cenário vigente,
estimulando a concorrência. 
Concluindo, Max Weber, autor de estudos da Ética Protestante, vivenciou o final do século XIX e
as primeiras décadas do século XX. Com isso, trouxe para a Modernidade esclarecimentos sobre a
relação entre a ruptura protestante e o desenvolvimento e a consolidação do capitalismo.
A ética anterior revestia-se da virtude, envolta em tradição, como ocorrera com os gregos – Platão
e Aristóteles, e com os cristãos – Santo Agostinho, Marcílio de Pádua e São Tomás de Aquino.
Entretanto, a Modernidade e o Protestantismo subverteram o paradigma anterior, da ética virtuosa,
observada desde a Antiguidade até a Idade Média. No seu lugar, surgiu a ética responsável, com
estreitas ligações ao protestantismo. A partir de então, essa nova ética protestante se inseriu de
forma basilar no contexto do sistema capitalista de produção, indicando os alicerces do seu
desenvolvimento, cujo histórico de transformações o trouxe até a configuração atual.

Pensamento ético não metafísico: David Hume e Kant


A filosofia de David Hume ameaçou (ou mesmo chegou a destruir) as bases, supostamente
racionais, da ciência Newtoniana, da moralidade, e da religião. A filosofia de Hume focalizou-se
em três conjuntos de problemas: epistemológicos, filosófico-morais, e filosófico-religiosos. A
acusação, pois, de que a sua obra filosófica ameaçou os fundamentos da ciência, da ética, e da
religião está diretamente relacionada aos três focos principais da sua atenção filosófica.
O próprio Kant admitiu ter sido Hume que, através da sua obra epistemológica, o despertou da
sua "sonolência dogmática" e que o levou a fazer as investigações que culminaram na Crítica da
Razão Pura. Muitos já mostraram que o problema básico da primeira Crítica foi proposto a Kant
por Hume. O facto é reconhecido quase que universalmente, e o próprio Kant o menciona
repetidas vezes. Muitos também já mostraram que a crítica filosófica que Hume fez à religião e à
teologia influenciaram a filosofia da religião de Kant, e muitas passagens na "Dialética" da
primeira Crítica substanciam esta afirmação.
O que não é amplamente reconhecido, porém, é que também o problema básico da filosofia moral
de Kant pode ser visto como uma tentativa consciente, por parte de Kant, de responder às
conclusões céticas e "irracionalistas" de Hume a respeito da moralidade. Hume tentou mostrar que
a razão não pode ser a fonte de nossas distinções morais e o motivo de nossas ações. Isto o levou a
concluir que a base da moralidade se encontra nas "paixões", no sentimento. Ao fazer as distinções
morais uma questão, ultimamente, de sentimento ou de gosto, e ao reivindicar que a razão nunca
pode determinar a vontade, ou mover-nos a agir, Hume excluiu a moralidade da esfera da razão e
excluiu a razão pura de toda e qualquer participação na vida moral.
O que Kant fez foi compreender a essência do desafio Humeano, tentando, então, atacar este
problema central. Kant discute, ao analisar os conceitos de bem e mal, um ponto de vista ético que
inclui a teoria Humeana, mesmo que não seja inteiramente idêntico a ela. O contraste entre a
posição de Kant e a posição que ele está discutindo é bastante iluminador. Kant apresenta as duas
posições na forma de uma alternativa: "Ou: um princípio da razão é visto como sendo
determinativo da vontade, sem referência a possíveis objetos da faculdade do desejo (e, assim,
visto como sendo determinativo apenas através da sua forma legal); neste caso aquele princípio é
uma lei prática a priori, e a razão pura terá que ser considerada prática, pois a lei diretamente
determina a vontade: a ação que se conforma a esta lei é, em si própria, boa, e a vontade, cujas
máximas sempre se conformam a esta lei, é boa, absolutamente, e em todos os seus aspectos, e,
também, a condição de todo o bem. Ou: um determinante oriundo da faculdade do desejo precede
a máxima da vontade e pressupõe um objeto de prazer ou disprazer, e, consequentemente, algo
que causa prazer ou sofrimento; neste caso, a máxima da razão, que nos exorta a buscar o primeiro
e evitar o segundo, determina que ações são boas somente com referência à nossa inclinação; estas
ações são boas, porém, somente como meios para um certo fim, e as máximas que as dirigem não
devem ser chamadas de leis, pois são somente preceitos práticos e razoáveis".
Para Hume, as noções de bem e mal são primárias, as de certo e errado secundárias, e derivadas
das primeiras. Hume mal menciona a ideia do dever. Uma ação ou intenção certa é simplesmente
aquela que leva, ou tende a levar, a um bom resultado.
Para Kant, a noção do dever, ou da obrigação, e as noções do certo e errado, são fundamentais.
Um homem bom é aquele que habitualmente age certamente, e uma ação certa é aquela que é
realizada por um sentimento de dever.
Na opinião de Kant, "os conceitos de bem e mal não devem ser definidos anteriormente à lei
moral, como se fossem o fundamento no qual ela se baseia". Na opinião Kantiana, os conceitos de
bem e mal "devem ser definidos depois, e por meio, da lei moral". Deve entender-se o que é bom,
num sentido moral, segundo Kant, em referência àquilo que é ordenado pela lei moral, através de
um imperativo categórico. O bem deve ser definido em termos daquilo que deve,
incondicionalmente, ser feito, ou, em outras palavras, em termos do que é certo. Kant
corretamente vê que a diferença básica entre estas duas posições tem a haver com método, ou
abordagem. E as abordagens são diferentes porque as questões que elas tomam como ponto de
partida são diferentes.
Hume aborda o seu estudo da moralidade com a convicção, quase indubitável, de que há
"distinções morais". "Aqueles que negam a existência de distinções morais", observa ele, "devem
ser classificados como disputantes não-engenhosos, que realmente não acreditam nas opiniões que
defendem, mas que entram em controvérsias porque são afetados, têm espírito de contradição, ou
porque desejam exibir espirituosidade e esperteza maiores do que as do restante da humanidade".
A realidade das distinções morais que fazemos é, para Hume, o facto básico de nossa experiência
moral e vai constituir o ponto de partida para a sua teoria ética. Nós, de facto, distinguimos entre
bem e mal, virtude e vício, certo e errado - de onde provêm estas distinções? Esta é a pergunta
básica de Hume.
É nesta altura que o seu método experimental entra em cena. Na segunda Investigação Hume
promete fazer o seguinte. Primeiro, estudar a natureza das nossas distinções morais, estudar o que
queremos dizer quando chamamos algo bom, ou alguém virtuoso. A sua sugestão inicial é que o
bom ou o virtuoso é aquilo (ou aquele) que recebe uma aprovação geral da humanidade, quando a
humanidade tem toda a informação factual relevante para julgar.
Segundo, Hume tenciona fazer uma sinopse das coisas que são chamadas boas, ou virtuosas.
Hume também observa, neste contexto, que somos atraídos pelas coisas que chamamos boas e
repelidos por aquelas que chamamos más, de modo que o bem tem, por assim dizer, um "poder
magnético" que nos move - ou que determina a nossa vontade - a agir em sua busca.
Terceiro, Hume tenciona investigar o que é que todas as qualidades que consideramos boas, ou
virtuosas, têm em comum, de modo que princípios universais - dos quais aprovação ou culpa
morais possam ser derivadas - sejam trazidos à tona.
Hume também observa que a razão empírica, agindo para descobrir relações causais, pode também
nos informar a respeito do melhor meio de atingir os nossos fins (os quais são sempre ditados
pelas nossas paixões e inclinações). Mas ela nunca dita fins a ninguém. Isto quer dizer que a razão
empírica opera, segundo Hume, mais ou menos da mesma maneira que para Kant: tentando
descobrir os melhores meios de se atingir um dado fim.
Em Kant, o fim - felicidade - é natural, no sentido de que todos os seres racionais, em virtude da
constituição da sua natureza, querem, de facto, ser felizes. Em Hume, os fins, aquilo que realmente
nos atrai e nos move a agir - são os prospectos de prazer ou dor que certos objetos ou ações nos
oferecem.
Kant concorda com Hume que a razão, na medida em que ela tenta averiguar quais os melhores
meios de alcançar os fins empíricos do homem, na medida em que ela é razão empírica - é a
escrava das paixões.
Segundo Hume, a única coisa que é capaz de mover a vontade do homem é a sua natureza
passional (os seus desejos, as suas inclinações, etc.). A razão só pode ser a escrava, ou a
coordenadora, destas paixões. Ela é inerte, não pode mover a vontade, não pode propor fins e
objetivos à vontade. Estritamente falando, não pode haver um conflito entre a razão e as paixões,
porque a razão não pode mover a vontade, ou resistí-la, quando esta for movida pelas paixões. Só
uma paixão pode resistir uma outra paixão, e o conflito mencionado acima nada mais é do que um
conflito entre as paixões calmas e as violentas. A razão só participa da vida moral de um modo
instrumental, procurando encontrar os melhores meios para a realização de propósitos que são
sempre condicionados empiricamente. Kant, obviamente, nega isto. Ele acha que a razão pura, ou
a razão nao-influenciada por desejos, emoções, ou paixões, e mesmo contrária a estes, pode ser um
determinante direto da vontade e pode causar ações. Portanto, pode haver, e sem dúvida há, um
conflito entre a razão e as paixões, entre o dever e o interesse. Na verdade, a moralidade, na forma
em que a conhecemos, isto é, envolvendo coação e obrigação, depende deste conflito para a sua
existência. Dizer, pois, que a razão pura pode mover a vontade e opor-se às paixões, é dizer que a
razão pode dar-se a si própria fins e propósitos, contrário ao que Hume pensava.
Portanto, a questão básica entre Hume e Kant é que o primeiro negou, e o segundo afirmou, que a
razão pura pode ser prática.
David Hume é conhecido pelo seu ceticismo quanto à nossa capacidade de conhecer a
realidade que nos cerca. Chegou a negar que a causalidade seja um aspeto objetivo e afirmou que
a razão está subordinada aos aspetos conativos da psicologia humana. Foi considerado um dos
pensadores mais difíceis de ser refutado. Sabe-se que o seu estudo sobre os limites
epistemológicos da mente humana foi influenciado pela máxima de Isaac Newton: Hypotheses
non fingo (Não adoto hipóteses), baseando-o, assim, num modelo experimental. A sua crítica a
toda metafísica e a perspetivas dogmáticas é mencionada por Immanuel Kant como um factor de
reviravolta no seu pensamento.
A teoria do conhecimento desse filósofo é baseada na sua interpretação das operações da
mente. Ele propõe que todo o conteúdo da mente (o que John Locke havia nomeado de modo
semelhante como ideias) seja considerado como percepção. Esse termo é usado num sentido mais
amplo do que o do quotidiano e abrange as diversas operações e capacidades da mente.
As percepções só são distinguidas pelo grau de vivacidade com o qual nos afetam, assim, qualquer
desejo, reflexão ou sentimento será sempre mais intenso   do que uma recordação ou uma
imaginação dessas situações. A lembrança do nascimento de um filho ou uma filha, por exemplo,
não poderia comparar-se com o momento do nascimento em si. Sendo assim, teríamos
as impressões, que são as percepções mais intensas, e os pensamentos (ou ideias), que são
as percepções mais fracas. David Hume afirmou, por isso, que mesmo o pensamento mais
intenso não se compara à impressão mais fraca.
Esse filósofo defendeu que os pensamentos representam o que originalmente apreendemos pelas
impressões. Isso explicaria não apenas por que algumas percepções são fracas mas por que alguns
pensamentos ocorrem apenas na mente e não na realidade. Podemos, por exemplo, imaginar uma
montanha de ouro, mas nenhuma existe concretamente. Decompondo esse conteúdo em elementos
mais simples (montanha e ouro), descobriríamos que esses conteúdos resultaram de experiências
anteriores. É por meio dessa identificação que concluiríamos que todos os conteúdos da mente
originam-se de alguma impressão.
David Hume limita o entendimento humano às próprias percepções, de modo que essas
percepções originárias simplesmente surgiriam na mente. Isso significa que não se pode
experimentar o que está além dessas percepções mais simples.
O que será mais inovador em seu pensamento é a investigação das questões de fato, na qual
encontramos as causalidades. Todos os fatos seriam explicados por essa relação, no entanto, a
causalidade em si não seria um fator objetivo, mas subjetivo, uma vez que não podemos ter uma
impressão da força que põe as coisas em relação causal, mas apenas dos eventos observados
subsequentemente.
O que se supõe ser uma questão de causa, afirma David Hume, é antes fruto do hábito. É por meio
de muitas experiências e com o auxílio da memória que entendemos haver uma conjunção
constante entre certos eventos, quando não haveria nenhuma necessidade lógica nessas relações de
causa e efeito.
Em seu famoso exemplo, afirma que é pelo hábito que acreditamos que o Sol nascerá todos os
dias, e com isso quer dizer que esse evento é apenas uma probabilidade, não uma verdade
estabelecida pela razão. Todas as questões de facto seriam contingentes, ou seja, poderiam deixar
de ser, mas as propriedades do triângulo, por outro lado, que são conceituais, permanecem por
necessidade lógica.

O imperativo categórico: a base da ética de Kant


Kant entende a ética como uma expressão da racionalidade humana. Por outro lado, o imperativo
categórico representa o amadurecimento da ética, assim como o Iluminismo poderia ter sido o
amadurecimento do conhecimento.
A ética de Kant é tão poderosa porque transcende circunstâncias, individualidades e
condicionalidades. É uma ética que esgota a liberdade da pessoa. Pelo contrário, é garantia, porque
adquire sentido justamente nesta liberdade. Enfim, destaca-se por ser um fim em si mesma, não
está sujeita à felicidade, ao amor ou ao prazer. Não é um meio para nos sentirmos bem, nem um
colchão confortável para a nossa autoestima.
Seguir a ética de Kant – formal e universal – exige esforço. Não é algo que surge naturalmente.
Portanto, o nosso compromisso com ela é o dever, a obrigação, o imperativo.
“Aja apenas de maneira que possa esperar que a máxima da sua ação se torne uma lei universal”.
Em outras palavras, o seu jeito de agir será aprovado pela ética de Kant quando satisfizer o desejo
de que todos ajam da mesma forma. Esta é a Revolução Copernicana de Kant: a ética não existe
como um produto da liberdade, da imoralidade ou da existência de Deus, mas justifica a existência
do restante dos elementos.
Assim, se olharmos para o mundo, perceberemos que a ética de Kant está longe de imperar. O
poder, ou a aspiração pelo poder, o medo da incerteza, a necessidade de segurança, parecem ser
motivações muito mais poderosas do que agir com a intenção honesta de que essa forma de agir é
universal.

A Razão Pura Prática em Kant 


A “Crítica da Razão Pura” é o livro em que Kant separa os domínios da ciência e da ação. O
conhecimento constroi-se a partir do fenómeno que alia a intuição sensível ao conceito do
intelecto. Assim, são as categorias lógicas que constituem objetos, permitindo que possam ser
conhecidos de forma universal e necessária.
No entanto, Kant distingue conceitos de ideias. Estas são, por excelência, objeto da Razão Pura, já
que não podem ser conhecidas (não há fenómenos das ideias). A Razão é a faculdade do
incondicionado e o seu limite para conhecer é o fenômeno. Logo, sem função na área do
conhecimento, a Razão pensa objetos, ainda que não possam ser conhecidos. Para Kant, a Razão
não constitui objetos, mas tem uma função reguladora das ações humanas. As principais ideias
listadas por Kant são as de Deus, de Alma e de Mundo como totalidade metafísica, isto é, como
um todo.
A ideia Cosmológica ou de Mundo como totalidade guia o nosso pensamento na expectativa de
que o mundo seja um todo. Kant situa-se no século XVIII, não tendo informações como nós hoje.
Mesmo assim, pela estrutura do aparelho representacional (o ânimo), nenhum homem pode
conhecer ou experimentar a totalidade do mundo, apenas partes. Mas concebemos o mundo como
um todo, acreditamos nisso e isso guia as nossas ações.
A ideia psicológica ou de Alma vem da tradição que acredita que somos seres não somente
materiais, mas dotados de uma entidade metafísica, a alma, pertencente ao reino dos fins e não das
coisas. A alma não pode ser conhecida (pois não se tem fenómeno), mas as aflições, angústias, as
escolhas, enfim, o drama humano, fazem crer que há uma alma e que é nela que devemos buscar
princípios que forneçam leis para regular as ações entre os homens. O homem é livre, por isso não
pode ser conhecido (tal como o modelo hipotético-dedutivo), mas somente apreciado nas suas
ações exteriorizadas. Portanto, o estudo da alma diz respeito à Ética e não à psicologia, pois esta é
impossível, segundo Kant.
Do mesmo modo, a ideia Teológica ou de Deus, tradicionalmente em debate, não é objeto de
conhecimento humano. Deus não é fenómeno, não é objeto de ciência, mas sim de crença. E a
crença, isto é, aquilo que é verdade para alguém, depende da autoridade transmitida ou revelada.
Deus não pode ser conhecido, mas norteia as ações e condutas humanas.
Dessa forma, é possível pensar em como uma ética pode ser universal sem cair no empirismo ou
num dogmatismo exagerado. Conforme Kant, deve-se usar a mesma solução da ciência: os juízos
sintéticos a priori. Nesse caso, seria necessário um esquema que auxiliasse na construção de leis
válidas universalmente. São elas:
- Máxima: a máxima moral é a pergunta que um ser consciente deve se fazer para saber se deve ou
não agir de uma forma e não de outra. Ex.: “Posso, em uma dificuldade, roubar?”.
- Lei: a lei é a constatação do interesse egoísta, visto que a contradição expressa na máxima deverá
sair do particular para o universal. A lei é a expressão do interesse universal, evidenciando que é
possível pensar em leis racionais válidas universalmente. Ex.: “Nenhum ladrão, por mais que
roube, aceita ser roubado”.
- Ação: após este exercício de consciência, o agente moral age segundo a escolha que fizer. Para
ser uma escolha moral, a ação deve ser conforme a lei, isto é, conforme o dever. No entanto, Kant
entende que é possível agir somente por dever, isto é, obedecer à lei a contragosto, forçado ou
constrangido. Ainda assim, a ação é moral. Essa distinção é importante, justamente para mostrar
que a lei, sendo racional, deve ter força para obrigar os indivíduos a obedecê-la, sem isso nenhuma
convivência seria possível. É o fundamento da organização social, que começa nos hábitos,
costumes e cultura de um povo, mas deve passar pelo crivo da reflexão crítica do ser racional e
consciente.

A Ética de John Stuart Mill


O utilitarismo é um tipo de ética consequencialista. O seu princípio básico, conhecido como o
Princípio da Utilidade ou da Maior Felicidade, é o seguinte: a ação moralmente certa é aquela que
maximiza a felicidade para o maior número. E deve fazê-lo de uma forma imparcial: a tua
felicidade não conta mais do que a felicidade de qualquer outra pessoa. Saber por quem se
distribui a felicidade é indiferente. O que realmente conta e não é indiferente é saber se uma
determinada acção maximiza a felicidade. Saber se a avaliação moral de uma acção a partir do
Princípio da Maior Felicidade depende das consequências que de facto tem ou das consequências
esperadas é um aspecto da ética de Mill que permanece em aberto.
Apesar de haver pessoas que não o aceitam, o princípio básico dos utilitaristas é hoje central nas
disputas morais. Mas há cento e cinquenta anos foi uma ideia revolucionária. Pela primeira vez,
filósofos defendiam que a moralidade não dependia de Deus nem de regras abstractas. A
felicidade do maior número é tudo o que se deve perseguir com a ajuda da experiência. Isto
explica que os utilitaristas tenham sido reformadores sociais empenhados em mudanças como a
abolição da escravatura, a igualdade entre homens e mulheres e o direito de voto para todos,
independentemente de deterem ou não propriedade.
Mill tem uma perspectiva hedonista de felicidade. Segundo esta perspectiva, a felicidade consiste
no prazer e na ausência de dor. O prazer pode ser mais ou menos intenso e mais ou menos
duradouro. Mas a novidade de Mill está em dizer que há prazeres superiores e inferiores, o que
significa que há prazeres intrinsecamente melhores do que outros. Mas o que quer isto dizer?
Simplesmente que há prazeres que têm mais valor do que outros devido à sua natureza. Mill
defende que os tipos de prazer que têm mais valor são os prazeres do pensamento, sentimento e
imaginação; tais prazeres resultam da experiência de apreciar a beleza, a verdade, o amor, a
liberdade, o conhecimento, a criação artística. Qualquer prazer destes terá mais valor e fará as
pessoas mais felizes do que a maior quantidade imaginável de prazeres inferiores. Quais são os
prazeres inferiores? Os prazeres ligados às necessidades físicas, como beber, comer, descansar,
etc.
Diz-se que o hedonismo de Mill é sofisticado por ter em conta a qualidade dos prazeres na
promoção da felicidade para o maior número; a consequência disso é deixar em segundo plano a
ideia de que o prazer é algo que tem uma quantidade que se pode medir meramente em termos de
duração e intensidade. É a qualidade do prazer que é relevante e decisiva. Daí Mill dizer que é
preferível ser um “Sócrates insatisfeito a um tolo satisfeito”. Sócrates é capaz de prazeres elevados
e prazeres baixos e escolheu os primeiros; o tolo só é capaz de prazeres baixos e está limitado a
uma vida sem qualidade. Mas será que é realmente preferível ser um “Sócrates insatisfeito”? Mill
afirma que, se fizéssemos a pergunta às pessoas com experiência destes dois tipos de prazer, elas
responderiam que os prazeres elevados produzem mais felicidade que os prazeres baixos. Todas
fariam a escolha de Sócrates.
Há filósofos que consideram a distinção entre prazeres inferiores e superiores incompatível com o
hedonismo. Se, como afirma o hedonismo, uma experiência vale mais do que outra apenas em
virtude de ser mais aprazível, ao aumentarmos progressivamente a aprazibilidade do prazer
inferior, chegaremos a um ponto em que este pesará mais do que um prazer superior na balança
dos prazeres; e nesse caso, se quisermos manter o hedonismo, a distinção entre prazeres inferiores
e superiores deixará de fazer sentido e terá de ser abandonada. 
A prova de Mill do Princípio da Maior Felicidade consiste num argumento que parte da analogia
entre visibilidade e desiderabilidade. Podemos reconstruí-lo da seguinte maneira:
1. Ver uma coisa prova que ela é visível.
2. Logo, desejar uma coisa prova que ela é desejável.
3. A única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria felicidade.
4. Logo, a única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a sua própria
felicidade.
5. Logo, cada pessoa deve realizar as acções que promovem a maior felicidade.
Que avaliação podemos fazer deste argumento? Desde logo, é provável que vejas o seguinte
problema: 1 não é uma razão para aceitar 2; se podes ver uma coisa, isso significa que ela é
visível; mas se podes desejar uma coisa, isso não significa que ela seja desejável, isto é, que deva
ser desejada. Por que razão a analogia não resulta? Porque o conceito de visibilidade é um
conceito descritivo enquanto o conceito de desiderabilidade é um conceito normativo.
Vejamos agora a premissa 3. Trata-se de uma premissa falsa ou pelo menos bastante duvidosa.
Dizer que a felicidade é o fim último de cada pessoa significa que tudo o que as pessoas desejam é
um meio para assegurar esse fim. Se desejares que as crianças sujeitas a maus-tratos recebam
amor e protecção, Mill diz que queres isto como um meio para assegurar a tua felicidade. Mas a
verdade é que o bem-estar dos outros tem uma importância que não depende da importância que
dás à tua felicidade. Como ninguém pode negar que muitas pessoas têm preferências deste tipo, a
premissa 3 é falsa. Por outro lado, pessoas deprimidas parecem por vezes não desejar a sua própria
felicidade.
E o que dizer do raciocínio que conclui 4 a partir de 3? Se reparares bem, verás que é o mesmo
tipo de raciocínio que conclui 2 a partir de 1. Logo, o problema que levanta é o mesmo. Do facto
de desejares como fim último a tua própria felicidade não se segue que a coisa mais desejável para
ti é veres os teus desejos satisfeitos. Isso depende do tipo de desejos que tens. Se tiveres desejos
violentos, o melhor para ti é abandoná-los. Mesmo que a tua felicidade seja a coisa mais desejável
para ti, isso não implica que deves maximizar a felicidade geral. Em certas circunstâncias, a
felicidade dos outros exige que sacrifiques a tua felicidade, e não que a persigas.
Ao dizer de maneira descritiva, e não normativa, que cada um deseja apenas a sua felicidade, 3
exprime um egoísmo psicológico; e nesse caso, como os seres humanos de facto apenas podem
desejar a sua própria felicidade, segue-se que não lhes é possível ter como fim a felicidade geral.
Logo, se de todo não podem ter como fim a felicidade geral, é absurdo dizer que o fim último é
maximizar a felicidade geral.

A objecção da máquina de experiências


Esta objecção foi formulada pelo filósofo Robert Nozick. Imagina que tens à tua disposição um
computador capaz de te fornecer todas as experiências que mais desejas. Passarás a ser uma
pessoa absolutamente feliz e não alguém que ora sente alegria e entusiasmo pela vida, ora tristeza
e tédio. A tua felicidade não terá interrupções. Mas tens de escolher entre ligar-te à máquina de
experiências ou prosseguir a vida que já tens. Lembra-te que, se o fizeres, poderás viver a ilusão
de seres, por exemplo, um ídolo pop, um revolucionário que transforma o mundo num lugar
perfeito ou até um jogador de futebol milionário, informado e com gosto. Qual é a tua escolha?
Se o utilitarismo de Mill for verdadeiro, a escolha certa é estabelecer a ligação à máquina. Mas
muito provavelmente não vais ser capaz de esquecer o valor que tem o facto de viveres uma vida
real e dar o salto para a doce ilusão. Parece claro que fazer certas coisas tem valor para além do
sentimento de felicidade que produz em ti. Não queres perder a autonomia e a realidade de fazer
as coisas. Isto é eticamente crucial e está acima da felicidade.

A objecção da justiça
Um crime horrível ocorreu numa cidade. O chefe da polícia descobriu que o assassino está morto.
Todavia, ninguém acreditará nele caso apresente os indícios conclusivos que tem em sua posse. O
estado de pânico na cidade é incontrolável. Rapidamente um suspeito terá de ser julgado e
condenado. Se tal não acontecer, revoltas semearão o caos e a violência. Haverá certamente
mortos e feridos.
Estava o angustiado chefe da polícia a pensar no caso e eis que entra no seu gabinete um
desconhecido que lhe diz vaguear pela cidade e não ter relações ou amizades que o prendam ao
mundo. O chefe da polícia tem de repente a solução para o caso. Por que não prender o vagabundo
solitário e manipular as provas de maneira a que ele seja julgado, condenado e executado, uma vez
que a lei estabelece a pena de morte para casos do género? Ninguém saberá o que de facto se
passou. Se for esta a opção, morrerá uma pessoa mas a vida e o bem-estar de outras serão
preservados. A consequência será claramente mais felicidade para o maior número. Ora, se o
utilitarismo for verdadeiro, esta é a opção certa. Mas será esta a opção justa? Não haverá aqui um
conflito muito sério entre o padrão utilitarista e o valor da justiça? Se para ti o valor da justiça é
mais importante que o Princípio da Maior Felicidade, verás nesta história uma razão para rejeitar o
utilitarismo de Mill.

A objeção da integridade
Esta objecção foi formulada por Bernard Williams, um importante filósofo moral. As histórias em
que se baseia poderiam passar-se contigo. Os dilemas que elas apresentam são genuínos e não
deixam pessoa alguma indiferente.
George fez um doutoramento em química mas não tem emprego. A sua saúde frágil limita as
opções de trabalho. Tem dois filhos. É o trabalho da sua mulher que garante a subsistência de uma
família que vive dificuldades e tensões. Os filhos ressentem-se de tudo isto e tomar conta deles
tornou-se um problema. Mas um dia um químico mais velho propõe-lhe um emprego num
laboratório que faz investigação em guerra química e biológica. George é contra este tipo de
guerra. Já a sua mulher nada vê de incorrecto na investigação em questão. Quer aceite quer não, a
investigação prosseguirá. George não é realmente necessário.
Os acasos de uma expedição botânica atiram Jim para o centro de uma aldeia sul-americana. De
repente, vê à sua frente uma série de homens atados e alinhados contra uma parede. Estão prestes a
ser fuzilados. Mas tudo dependerá de Jim. Por cortesia, o capitão que comanda as operações
concede a Jim o privilégio de matar um dos índios. Se o fizer os outros serão libertados. Se recusar
a proposta, todos os índios morrerão.
Segundo a teoria moral de Mill, George deve aceitar o emprego e Jim deve matar o índio. Não se
trata apenas de dizer que nada há de errado nisso, mas de afirmar que essas são as opções
correctas. E óbvias. Mas será que são realmente correctas e óbvias? Serão as considerações
utilitaristas as únicas relevantes para tratar destes casos? Se a tua resposta for não, é porque te
sentes especialmente responsável não só pelo que és, mas também pelo que deves ser, pelo tipo de
pessoa que deves ser. E nesse caso é a tua integridade que está em jogo. Se admitires que uma
teoria ética não pode limitar-se a ponderar consequências e terá de incluir considerações sobre o
tipo de pessoa que devemos ser, o utilitarismo de Mill é claramente insatisfatório.
Como o utilitarismo tem de pesar as boas e as más consequências umas em relação às outras e essa
avaliação pode depender de detalhes subtis, poucas são as regras gerais que ele aprova. Regras
como “Não mintas” ou “Cumpre promessas” até podem aplicar-se em muitos casos, mas por vezes
são maneiras de fugir às questões e de evitar pensar seriamente sobre elas. Quebrar promessas
ocasionalmente pode parecer geralmente repulsivo, mas há alguns casos em que parece
intuitivamente correcto quebrar promessas.

Resumindo:
O Princípio da Utilidade: Devemos agir de modo a que da nossa ação resulte a maior felicidade ou
bem-estar possível para as pessoas por ela afetadas. Uma ação boa é a que é mais útil, ou seja, a
que produz mais felicidade global ou, dadas as circunstâncias, menos infelicidade. Quando não é
possível produzir felicidade ou prazer devemos tentar reduzir a infelicidade. O princípio da
utilidade é por isso conhecido também como princípio da maior felicidade.

Ética Consequencialista: Considera–se que a ética de Mill é consequencialista porque defende que
o valor moral de uma ação depende das suas consequências. É boa a ação que tem boas
consequências ou dadas as circunstâncias melhores consequências do que ações alternativas.

Não há ações particularmente boas. Para o utilitarista, as ações são moralmente corretas ou
incorretas conforme as consequências: se promovem imparcialmente o bem-estar, são boas. Só as
consequências as tornam boas ou más. Assim sendo, não há, para o utilitarista, deveres que devam
ser respeitados em todas as circunstâncias. Não há deveres morais absolutos.

Teoria Ética Hedonista: Todas as atividades humanas têm um objetivo último, isto é, são meios
para uma finalidade que é o ponto de convergência de todas. Esse fim é a chamada felicidade ou
bem-estar. Procuramos em todas as atividades a que nos dedicamos viver experiências aprazíveis e
evitar experiências dolorosas ou desagradáveis. Esta perspectiva que identifica a felicidade com o
prazer ou o bem-estar tem o nome de hedonismo.

Os Fins e os Meios: Para Mill, o fim – a felicidade geral – justifica os meios. Na teoria utilitarista,
há uma prioridade dos fins da ação em relação aos meios. Para ele, é suficiente que a felicidade
produzida com a ação seja superior ao sofrimento eventualmente provocado com a sua realização
para que a ação tenha valor moral. É neste sentido que há uma prioridade dos fins da ação, da
maximização da felicidade para o maior número, sobre os meios, mesmo que a ação produza
sofrimento a algumas pessoas.
Utilitarismo e Egoísmo: O egoísta é parcial. Devemos procurar agir de forma a promover
unicamente o nosso próprio bem-estar e felicidade. Esta é para o egoísta ético a única forma
moralmente válida de ação. Devemos procurar agir de forma a promover a felicidade de todos os
que são afetados pela ação (incluindo a felicidade do próprio agente). A minha ação é correta se
promover de forma imparcial (ou seja, sem distinções) os interesses de todas e cada uma das
pessoas implicadas pela ação, sendo o interesse de cada pessoa a obtenção da felicidade.

O utilitarismo, como uma filosofia moral, coloca o prazer no centro das atenções, argumentando
que as ações seriam boas na medida em que aumentam a felicidade e reduzem o sofrimento, e
seriam más se provocassem o contrário. Ainda assim, os primeiros utilitaristas não entravam em
acordo se os tipos de prazer tinham de ser ranqueados. Jeremy Bentham acreditava que todas as
fontes de prazer têm igual importância.
O seu discípulo John Stuart Mill discordava dele e estabeleceu uma distinção entre prazeres
superiores e inferiores. Prazeres mais elevados dependem de capacidades distintamente humanas,
que têm um elemento cognitivo mais complexo, exigindo habilidades como pensamento racional,
autoconsciência ou uso da linguagem. Prazeres inferiores, por contraste, exigem mera senciência.
Humanos e outros animais gostam de se aquecer ao sol, comer algo saboroso, etc. Apenas os
humanos se envolvem em arte, filosofia e assim por diante.
Mill certamente não foi o primeiro a propor esta diferenciação. Aristóteles, entre outros,
acreditava que os sentidos do tato e do paladar eram “servis e embrutecedores”; os prazeres do
comer eram “como os brutos também compartilham” e bem menos valiosos que aqueles que
dependem de uma mente humana mais desenvolvida. No entanto, muitos continuariam ao lado de
Bentham, afirmando que, na verdade, não somos tão intelectuais ou elevados assim, e que também
podemos nos aceitar enquanto brutos que somos, moldados pela bioquímica e pelos impulsos
animais.
Todos os animais se alimentam, usando os sentidos do olfato e do paladar. Não requer nenhuma
cognição complexa para concluir que algo é delicioso. Filósofos geralmente assumem que sentir
prazer em comer é saciar um desejo primitivo. Então, por exemplo, Platão acreditava que cozinhar
nunca poderia ser considerado uma forma de arte, porque “nunca considera nem a natureza nem a
razão desse prazer ao qual se dedica, mas se encaminha direto ao seu fim”.
Brillat-Savarin criou uma distinção entre a mera alimentação animal, que é a ingestão de comida
como combustível, e o ato humano de comer, que pode e deve envolver mais do que um desejo
carnal básico. Comer é um ato complexo. Juntar ingredientes simplesmente exige raciocínio, já
que o que compramos exige não só planejamento mas afeta o bem-estar de criadores, produtores,
animais e o planeta. Cozinhar envolve o conhecimento de ingredientes, a aplicação de talentos, o
balanço de diferentes sabores e texturas, considerações sobre nutrição, atenção ao ordenamento
das refeições ou ao lugar de uma comida no ritmo do dia. Comer, no seu melhor, reúne todas essas
coisas, acrescentando uma apreciação estética sobre o resultado final.
Mill estava certo, portanto, em acreditar que prazeres vêm em formas superiores e inferiores, mas
errado em acreditar que podemos distingui-los com base naquilo em que sentimos prazer. O
importante é como os apreciamos, o que significa que prazeres superiores ou inferiores não são
categorias distintas, mas formam um contínuo. Penso que a persistência dessa falsa distinção entre
prazeres superiores/inferiores decorre do fato de que algumas coisas são mais passíveis de
apreciação elevada do que outras. A arte é tipicamente apreciada de maneiras que envolvem a
mente, comida muitas vezes é consumida de forma animalesca.
O erro também trai uma visão falsa da natureza humana, que enxerga nossos aspectos intelectuais
ou espirituais como atributos que verdadeiramente nos tornam humanos, e nossos corpos como
veículos embaraçosos para carregá-los. Quando aprendemos a ter prazer nas coisas corporais de
maneiras que envolvem nossos corações e mentes, assim como nossos cinco sentidos, desistimos
da ilusão de que somos almas presas em bobinas mortais e aprendemos a ser totalmente humanos.
Nós não somos nem anjos acima dos prazeres do corpo nem bestas grosseiras seguindo-os
servilmente, mas todos psicossomáticos que trazem coração, mente, corpo e alma para tudo o que
fazemos.

O pensamento de Adam Smith


Adam Smith foi um filósofo e economista britânico que nasceu na Escócia. No ramo da filosofia,
foi um filósofo social influenciado pelas ideias do Iluminismo. Durante a sua vida, abordou temas
como: divisão do trabalho, crescimento econômico, livre concorrência, moral, evolução social,
dentre outras questões.

Natureza econômica
Smith alegava que a economia se move pelo interesse pessoal das pessoas. Por exemplo, um
empregado não levanta todos os dias de manhã porque ama o seu emprego, mas sim porque
precisa do trabalho para viver. No entanto, com essa atitude, ajuda a sociedade, e graças ao seu
esforço, os seus dependentes também são beneficiados. Ou seja, mesmo que não fosse intencional,
o egoísmo das pessoas leva ao bem comum.

A mão invisível
Esse é, talvez, um dos ideais mais conhecidos de Adam Smith – tornando-se uma das ideias
económicas mais famosas e o lema do liberalismo económico. Smith utiliza essa metáfora para
explicar que a “mão invisível” leva os seres humanos a preferirem produtos nacionais do que
estrangeiros, por exemplo. Outro exemplo que ele defendia era sobre o facto de os ricos não
conseguem consumir toda a riqueza que possuem. Assim, mesmo quando utilizam o seu dinheiro
para interesses pessoais, seja comprando bens ou abrindo negócios, essa riqueza acaba sendo
distribuída naturalmente pela mão invisível ao resto da população, atingindo um equilíbrio
económico.
A Economia estuda a maneira pela qual a sociedade distribui os recursos limitados da Terra para
os insaciáveis apetites dos seres humanos e, nesse cenário, a “oferta” e a “demanda” (procura) são
as forças atuantes.
Naquilo que é chamado de “ponto de equilíbrio”, o preço de mercado permite que a quantidade
oferecida seja igual à quantidade demandada. Dessa forma, os fornecedores ficam dispostos a
vender, os consumidores dispostos a comprar e a oferta se iguala à demanda por um determinado
preço.

Estruturas de Mercado
Num mercado competitivo existem forças que atuam movendo a oferta, a demanda e os próprios
preços. Pois, quanto maior for a concorrência num determinado mercado, mais sensível fica o
preço de mercado, em relação à mudanças na oferta e na demanda.
Concorrência: Caracteriza-se por haver muitos concorrentes vendendo um determinado produto
(ou serviço) com muitos similares, os quais podem ser facilmente substituídos. E, nesse caso, a
competição favorece os consumidores, com produtos de qualidade e com preços cada vez
menores.
Um dos grandes contributos de Adam Smith foi o alcançar de uma explicação acerca da forma
como numa economia de mercado o interesse próprio racional possibilita o atingir do máximo
bem-estar económico de todos os agentes. Esse fenómeno acontece pela ação de um mecanismo
que Smith denominou de "mão invisível" e que corresponde a um conceito fundamental no âmbito
da economia de mercado.
A existência de uma benévola "mão invisível" tal qual preconizado por Adam Smith resulta do
facto de os agentes económicos, numa economia competitiva, terem de produzir algo com valor de
forma a poderem auferir um rendimento. Esse valor corresponde àquele que é percecionado pelos
outros indivíduos que possam vir a adquirir o bem ou serviço em causa. Em suma, Smith prevê a
ocorrência de ganhos para as duas partes envolvidas numa transação, pelo que se o
desenvolvimento da atividade de cada indivíduo for feito no sentido de criação do máximo valor,
mesmo tendo em conta que o interesse a ela subjacente é pessoal, vai proporcionar a maximização
do bem-estar dos restantes indivíduos e, em última instância, da sociedade em geral. Aliás, apesar
de prosseguir o seu interesse individual e não tendo sequer em vista o interesse da comunidade,
um indivíduo que cumpra as condições atrás referidas acaba por propiciar frequentemente à
sociedade um benefício superior ao que propiciaria se voluntariamente o tentasse conceder.
A ocorrência do mecanismo da "mão invisível" implica a existência de um conjunto alargado de
pressupostos genericamente associados a estruturas de mercado de concorrência perfeita. Assim,
pressupõe a inexistência de quaisquer falhas de mercado, como sejam a subsistência de estruturas
de mercado monopolistas (em que as condições impostas pelo monopolista no mercado não são as
melhores para os consumidores e implicam um desperdício de benefício em prejuízo da sociedade)
e de fenómenos de externalidades, designadamente negativas (resultantes da ocorrência de efeitos
nefastos sobre a economia sem que haja mecanismos de mercado associados, como é o caso da
poluição). Nestes casos verificam-se restrições ao mecanismo da mão invisível, facto que não
belisca a importância teórica e prática deste instrumento na teoria económica.

Divisão do trabalho
Smith defendia que o trabalho deveria ser feito em etapas para que todo trabalhador melhorasse
seu empenho ao longo da produção. Além disso, defendia que cada nação deveria produzir apenas
alguns poucos produtos para vendê-los no mercado. Isso criaria mão-de-obra qualificada e um
conhecimento difícil de ser superado por outros países.
Estado apenas para manter a segurança pública
No século XVIII vigorava o Mercantilismo, no qual havia forte intervenção estatal e entraves no
comércio exterior. Nessa época, a riqueza de uma nação era medida pela quantidade de ouro e
prata nos cofres. Adam Smith discordava e alegava que a riqueza de uma nação está na habilidade
de produzir bens. Para isso, os cidadãos devem ser capacitados e o Estado não deve intervir. Ele
defendia a propriedade privada, a não intervenção do Estado na economia e a liberdade contratual
entre patrões e empregados. Assim, o papel do Estado deveria ser apenas de manter a segurança
pública e a ordem e garantir o direito de propriedade privada e as liberdades individuais das
pessoas.

Podemos afirmar que Adam Smith foi amplamente influenciado pelas ideias de David Hume no
que concerne aos fundamentos do fenómeno moral.
Assim como Hume, Smith parte do pressuposto de que é impossível chegarmos a um
entendimento satisfatório do fenómeno moral sem nos debruçarmos sobre a natureza humana. Tal
movimento permite o desvelamento de certos mecanismos que são essenciais para a ocorrência
dos fenómenos entendidos como morais. A partir disso, Smith aceita a proposição humeana de que
o mecanismo natural que norteia todo e qualquer fenómeno moral é a simpatia, isto é, a
capacidade de sentir-se como nos sentiríamos caso estivéssemos vivenciando um determinado
facto em um determinado momento. É importante ressaltar que quando fazemos referência ao
conceito de simpatia em escritos antes do século XX, na verdade estamos nos dirigindo ao
fenómeno psicobiológico denominado hoje de empatia.
A ética de Smith é fundada na simpatia com o sentido de compartilhar afetos, emoções ou
sentimentos. No entanto, o que distingue Smith de Hume é o facto de que compartilhar afetos não
significa apenas acompanhar o prazer que o espectador sente ao reconhecer a beleza do sistema.
Hutcheson e Hume se preocuparam mais com a finalidade dos afetos do que com as causas,
fundamentando o julgamento moral em considerações de estética: moral. Smith se diferencia pois,
para ele, o julgamento moral provém mais do senso de conveniência do que do senso de beleza do
sistema. O que Smith denomina de senso de conveniência constitui o despertar para a análise dos
motivos das ações e condutas. O ato é moralmente um bem ou um mal dependendo mais do
sentimento que o motivou do que do efeito por ele produzido: depende mais da conveniência
percebida no compartilhar emoções, do que do mérito ou demérito das ações e condutas (conduta
apropriada).
Seja, por exemplo, o caso de um cientista profundo conhecedor de sua matéria. Aprovamos o
julgamento do cientista se estiver conforme a razão, ou nos termos de Smith, conforme a verdade
e a realidade. A utilidade social da opinião acerca dos resultados aumenta o valor do cientista para
a comunidade. Mas, até agora, não foi definida a aprovação moral do que foi dito pelo cientista.
Se a exposição trata de objetos que não têm relação conosco ou com as pessoas que estamos
julgando, há pouco perigo de brigas ou intrigas, em caso de discordâncias. O debate se concentra
na capacidade de bom gosto e discernimento, e não na atitude moral das pessoas. Diferente é o
caso em que os objetos afetam ou influenciam a nós e ao nosso modo de vida. Agora, clamamos
por solidariedade, companheirismo e correspondência de sentimentos, e desprezamos a
indiferença, o individualismo, a insensibilidade e falta de sentimentos. É aqui que os espectadores
morais devem se esforçar para adotar o sentimento da pessoa que age. Esta pessoa também deve se
esforçar para adequar o grau de sua paixão até um limite que possa ser adotada com mais
facilidade pelos espectadores. Um pretende acompanhar o que o outro parece sentir, e o outro
tenta conter seus sentimentos num grau que possam ser simpatizados pelo espectador ordinário. É
o compartilhar emoções, no aqui e agora, em duas vias, que caracteriza o que Smith denomina de
simpatia: a solidariedade com qualquer paixão reconhece que a utilidade exerce ampla influência
no prazer que sentem os agentes e os espectadores quando contemplam sistemas bem
engendrados. Esse é o princípio que recomenda a criação e manutenção de instituições voltadas
para o interesse público, e promove o debate político, comercial e produtivo. Smith sugere
persuadir o governante expondo a harmonia e a suavidade com que pode rodar a máquina de
governo, se implantadas as medidas recomendadas, causando impacto estético. Essa é a mesma
orientação de Hume, destacada por Rawls, já que a contemplação do sistema que agrada define a
utilidade dos objetos que o compõem.
Smith considerou que as ações virtuosas são aquelas que são úteis ou agradáveis , seja para a
própria pessoa, seja para a outra pessoa. Todavia, essa utilidade não pode ser a fonte principal da
aprovação ou desaprovação moral das ações e condutas; os sentimentos são distintos, entre o
compartilhar afetos e o contemplar sistemas funcionais, e principalmente porque o senso de
conveniência é distinto da percepção de utilidade. A ideia de utilidade é refinada no pensamento
smithiano. Contemplar o bom funcionamento das instituições, a ordem do sistema, sentir prazer
nessa contemplação, não constitui o elemento essencial para a aprovação da conduta. O senso de
conveniência supera essa restrição estética da utilidade e oferece outros elementos para o
julgamento moral. (as virtudes)
Quando se trata de examinar questões da mecânica social, funcionamento de instituições,
adequação da legislação e cálculo de medidas quantitativas e qualitativas, pode ser adotado o
princípio da utilidade, quando então se avalia a beleza estética do sistema (Smith, 1999: 106, 107).
Mas quando se trata de examinar as interações morais, as questões supremas de justiça e de regras
gerais de condutas, cabe primordialmente o exame da conveniência das ações conduzido na ótica
do espectador imparcial.
Para Smith, o sistema moral que reduz a virtude à utilidade é absorvido pelo sistema da
conveniência. Isso porque o caráter agradável ou útil precisa ser graduado segundo a conveniência
da ação. Esse sistema, segundo Smith, precisa definir, não a utilidade do caráter, mas o grau
apropriado, porque um afeto é moralmente útil se confinado a certo grau de moderação. A medida
original desse grau apropriado até pode ser avaliada pela utilidade média, porém ainda permanece
o cálculo do prazer sentido com a beleza do sistema, agora transferido para o sujeito ideal, ou o
observador ideal de Rawls, mantendo o distanciamento da avaliação ética da situação. Smith
acrescenta o afeto correspondente do espectador, a graduação dos sentimentos vigiada pelo
espectador imparcial, aperfeiçoando a explicação das ações e condutas morais. Os julgamentos
estritamente utilitaristas, por se vincularem à estética, são secundários na ética smithiana.
O espectador imparcial se apresenta para o exame e julgamento da própria conduta, em cada
situação de compartilhar afetos. Na condição de arguto observador, obriga-se a analisar a situação
também com os olhos das outras pessoas. É por isso que a imaginação do suposto espectador
imparcial alcança a vivência social experimentada pela própria pessoa, especialmente àquelas
situações em confronto com as visões dos outros, quando há necessidade de dosar as paixões
sentidas. O espectador imparcial não aparece na teoria de Smith como modelo de racionalidade,
tampouco como a consciência capaz de deter todo o conhecimento dos diversos aprendizados
morais. Não é sequer o observador ideal que contempla unicamente o prazer obtido com as
satisfações dos desejos. O espectador imparcial constitui a percepção geral da necessidade de
partilhar afetos, especialmente o de reduzir o excesso de amor de si, para obter a justa aprovação
das condutas, em cada situação, em cada momento, sendo moldado a cada situação vivenciada.
O julgamento do espectador imparcial proposto por Smith é circunstancial, contingente; ocorre a
todo o momento, notadamente na presença de conflitos morais, ocasião para considerar o justo.
Requer uma perspectiva geral, como se olhasse do alto todo o teatro moral. Essa perspectiva não
se fixa exclusiva e necessariamente no prazer contemplativo da beleza das cenas. Como diferencia
Smith, é mais decisivo fazer reflexão acerca dos motivos presentes nas ações, do que se guiar
pelos variáveis e múltiplos resultados, previstos ou atingidos, os quais sustentam as éticas
consequencialistas, tal como a da tese utilitarista.
O senso de conveniência é sentimento natural humano evidenciado pela apreciação dos motivos
das condutas. Contudo, o olhar diferenciado do espectador requer reflexão. Smith, nesse sentido,
adota a filosofia de Hume: trata-se do uso da razão segundo o hábito e a experiência. Por indução,
experimentando o compartilhar sensações ao longo da vida (do senso de conveniência), o
espectador da própria pessoa forma os seus padrões sobre como agir e se conduzir. Porém, mesmo
que esses padrões sejam imediatamente reconhecidos pelo juiz interior, sendo usados nas
aprovações e desaprovações seguintes de condutas, eles não escapam de reexame nos conflitos, o
que representa a vigilância exercida pelo espectador imparcial, quando surge a necessidade do
exercício da simpatia nas duas vias, rebaixando as ações egoístas e se esforçando para distinguir o
sentimento dos outros.
Assim, não é o poder da humanidade ou da benevolência universal que determinam o sacrifício
dos interesses próprios, não é o prazer sentido com o que é útil ou agradável: “é a razão, o
princípio, a consciência, o habitante do peito, o homem interior, o grande juiz e árbitro da nossa
conduta”. Não são as reflexões sobre a ordem social que corrigem o excesso de amor de si. São as
reflexões sobre as ações e condutas de cada um nessa sociedade: “... o amor ao que é honrado e
nobre, à grandeza, dignidade e superioridade de nossos próprios caracteres”. Essa razão do
espectador imparcial é a que nos chama à noite para prestar contas do movimento do dia; faz-nos
ver que somos apenas um na multidão, nada melhor que os outros, e que se fomos egoístas,
seremos objetos apropriados de ressentimento e execração.
A grande escola da vida é a do autodomínio, duramente exercido nos conflitos diários. Somente a
partir dessa educação exemplar o agente pode emular o suposto espectador, que serve de juiz
imparcial das suas condutas. A formação desse juiz é lenta, gradual e progressiva. Todo dia
melhora-se um traço e corrige-se uma falha. O costume leva à identificação quase completa entre
o agente e o seu espectador.

A Justiça, o Direito e a Lei: relação e distinção entre os conceitos:


Existem três importantes pilares no mundo jurídico: leis, direito e justiça; os quais têm como
principal preocupação garantir não apenas a harmonia entre os povos, mas também assegurar o
desenvolvimento de uma forma homogenia a todos os indivíduos.

Lei:
É importante ressaltar que a lei é um dispositivo que o Estado utiliza não apenas para regular a
vida em sociedade, mas também, surge como um elo tanto ao direito objetivo, mais
principalmente, ao direito subjetivo dando a possiblidade de assegurar direitos essenciais a vida de
cada cidadão. Dessa forma, a lei surge da necessidade particular de cada sociedade, por isso cada
constituição tem as suas particularidades refletindo a economia, a política, a religião e as crenças
de determinado povo. A criação das leis passa por várias etapas para primeiro entrar em vigor.
Primeiro tem a iniciativa da lei, discursão, votação, aprovação, sanção, promulgação, publicação e
a própria vigência da mesma.
Formas de interpretar a Lei:
 Elementos gramaticais: consiste em utilizar as regras linguísticas;
 Elemento lógico: determina a criação da lei;
 Elemento histórico: revela em qual ambiente social e econômico a lei foi posta em vigor e
teve sua utilidade;
 Elemento sistemático: formula a própria lei de acordo com os princípios jurídicos virgentes.

Direito:
A vida em sociedade e as relações inter-pessoas faz do direito uma ciência que visa a formulação
de regras de condutas, disciplinando as interações entre as pessoas; nessa ciência prevalece o
objetivo de alcançar o bem comum e a organização em sociedade. Nesse sentido, cabe ao Estado
regular a população através de um conjunto de normas em vigor ditadas em um determinado
território, dando a este conjunto de normas escritas o chamado direito positivo, ou baseado nos
costumes designado o direito consuetudinário que ambos podem variar de acordo com as
necessidades sociais.
No meio popular a palavra direito pode muitas vezes ser confundida ou invertida seu papel, pois
direito para a maioria das pessoas tem sempre o mesmo significado. Nessa perspectiva, o mundo
jurídico trata dessa questão como direito objetivo, o qual os indivíduos tem a obrigação de fazer
ou deixar de fazer aquilo que a constituição determina. Por outro lado existe o direito subjetivo,
esse por sua vez assegura os direitos básicos de uma pessoa como: direito a vida, direito a
liberdade, direito a privacidade, direito a saúde, direito a educação etc.

Justiça:
Uma das formas de definir o conceito de justiça é através do cumprimento das suas leis. Um
Estado justo seria aquele que trás uma sensação de segurança e conforto a toda população. Estas
sensações são obtidas na medida em que o Estado garante que todos estão a cumprir as normas
jurídicas, as quais regem a vida em sociedade.
Segundo Thomas Robbes, “a justiça é a consequência do esforço dos homens para a manutenção
de um pacto social”, no qual a sociedade perde em parte a sua liberdade para ser regulada pelo
Estado, que tem como princípio básico assegurar a igualdade de todos perante a lei.
Quando pensamos em justiça criamos um ideal universal, mas o termo justiça tem primeiramente
que partir do caráter pessoal de cada indivíduo. O justo é o cidadão, o qual cumpre com os seus
deveres, segue a conduta do homem com o objetivo de tornar o convívio social um pouco mais
fácil. No entanto, essa é apenas uma pequena parcela da humanidade que tem essa concepção, por
isso a necessidade do Estado regular e julgar os casos, levando em consideração o princípio
jurídico, segundo o qual o cidadão só é obrigado a fazer ou deixar de fazer aquilo que a
constituição determina. Delimitar o conceito de justiça é uma tarefa complexa, pois a mesma sofre
variações tanto no tempo histórico como de Estado para Estado.

Ética e justiça no pensamento de Aristóteles:


A ética em Aristóteles parte do conceito de teleologia, no sentido de que todas as formas
existentes tendem a uma finalidade (thélos). Nessa linha, “toda ação e todo propósito visam um
bem”, entendendo-se por bem ”aquilo a que todas as coisas visam”. Portanto, daí infere-se que as
ações humanas também são sempre voltadas, por meio da razão, a atingir um fim, que é a busca
pelo bem supremo. A razão é a faculdade que distingue os seres humanos dos demais seres vivos.
É por meio dela que o indivíduo se guia teleologicamente, como forma de obter o bem supremo,
ou seja, a eudaimonía.
A razão teleológica é que permite ao ser humano guiar-se pelos caminhos do meio , que se
encontra entre dois extremos, o do excesso e o da falta, considerados pelo Filósofo como
deficiências morais. Cabe à razão discernir e optar pelo meio-termo de forma habitual, que cuja
prática contínua e reiterada das virtudes leva à excelência moral, e por conseguinte, se atinge a
felicidade.
A justiça, no pensamento aristotélico, é compreendida como uma virtude, e como tal, localiza-se
no meio-termo (mesotés). Ela se difere das demais virtudes e se coloca em posição superior por ser
uma virtude que manifesta na aplicação da excelência moral em relação às outras pessoas, não em
relação a si mesmo.
Aristóteles trata da justiça e da injustiça, afirmando que a primeira é a “disposição da alma que
graças à qual elas dispõem a fazer o que é justo, a agir justamente e a desejar o que é justo; de
maneira idêntica, diz que a injustiça é a disposição da alma de graças à qual elas agem
injustamente e desejam o que é injusto”. A justiça é considerada como a maior das virtudes, pois
esta visa o “bem do outro”, relacionando-se com o próximo. 

Nas palavras de Aristóteles:


“A justiça é a forma perfeita de excelência moral porque ela é a prática efetiva da excelência
moral perfeita. Ela é perfeita porque as pessoas que possuem o sentimento de justiça podem
praticá-la não somente a sim mesmas como também em relação ao próximo.”
A ação justa se é reconhecida pelo seu contrário, ou seja, pela ação injusta, pois, “muitas das vezes
se reconhece uma disposição da alma graças a outra contrária, e muitas vezes as disposições são
idênticas por via das pessoas nas quais elas se manifestam”.
Assim, Aristóteles divide a justiça em duas classes: a justiça universal e a justiça particular.
Pela analogia dos contrários, Aristóteles conclui que “o termo injusto se aplica tanto às pessoas
que infringem a lei quanto às pessoas ambiciosas (no sentido de quererem mais do que aquilo a
que têm direito) e iníquas, de tal forma que as cumpridoras da lei e as pessoas corretas serão
justas. O justo, então, é aquilo conforme à lei e correto, e o injusto é o ilegal e iníquo.” 
Daí se extrai o conceito de justo universal, pois este é o cidadão cumpridor da lei. Trata-se de
uma obediência à lei, ou seja, ao ordenamento jurídico expresso pelas normas, englobando
também os costumes e princípios preponderantes em uma determinada comunidade.
“se a lei é uma prescrição de caráter genérico e que a todos vincula, então o seu fim é a realização
do Bem da comunidade, e, como tal, do Bem Comum. A ação que se vincula à legalidade obedece
a uma norma que a todos e para todos é dirigida; como tal, essa ação deve corresponder a um justo
legal e a forma de justiça que lhe é por conseqüência é a aqui chamada justiça legal”.
Explica ainda que esse é o conceito de justiça em sentido amplo, o qual, de todos os sentidos é o
mais genérico, daí ser também denominado de justiça total ou integral, haja vista que tem
aplicação mais abrangente e extensa, pois “as leis valem para o bem de todos, para o bem
comum”. 
A justiça particular é uma espécie de justiça que, ao contrário do que ocorre com a justiça
universal, corresponde a apenas uma parte da virtude e não à virtude total. Portanto, o justo
particular é espécie do género justo total. Divide-se em duas espécies, justiça distributiva e justiça
corretiva.
A justiça distributiva é a que se observa na distribuição pela  polis, isto é, pelo Estado, de bens,
honrarias, cargos, assim como responsabilidades, deveres e impostos. Conforme dito pelo próprio
Filósofo: “Uma das espécies de justiça em sentido estrito e do que é justo na acepção que lhe
corresponde, é a que se manifesta na distribuição de funções elevadas de governo, ou de dinheiro,
ou das outras coisas que devem ser divididas entre os cidadãos que compartilham dos benefícios
outorgados pela constituição da cidade, pois em tais coisas uma pessoa pode ter participação
desigual ou igual à de outra pessoa.” Em suma, a justiça distributiva é um meio termo com quatro
termos na relação: dois sujeitos comparados entre si e dois objetos. Será justo, portanto se atingir a
finalidade de dar a cada um aquilo que lhe é devido, na medida dos seus méritos.
A justiça corretiva difere-se da distributiva no sentido de que esta utiliza como critério de justa
repartição aos indivíduos os méritos de cada um, enquanto aquela visa o “restabelecimento do
equilíbrio rompido entre os particulares: a igualdade aritmética.” A justiça corretiva é a que
desempenha função corretiva nas relações entre as pessoas. Esta última se subdivide em duas:
algumas relações são voluntárias e outras são involuntárias; são voluntárias a venda, a compra, o
empréstimo a juros, o penhor, o empréstimo sem juros, o depósito e a locação (estas relações são
chamadas voluntárias porque a sua origem é voluntária); das involuntárias, algumas são sub-
reptícias (como o furto, o adultério, o envenamento, o lenocínio, o desvio de escravos, o assassino
traiçoeiro, o falso testmunho), e outras são violentas, como o assalto, a prisão, o homicídio, o
roubo, a mutilação, a injúria e o ultraje.”
A aplicação da justiça corretiva fica ao encargo do juiz, que é o mediador de todo o processo. O
juiz é considerado para Aristóteles, a personificação da justiça, pois, “ir ao juiz é ir à justiça,
porque se quer que o juiz seja como se fosse a própria justiça viva (…) é uma pessoa eqüidistante
e, em algumas cidades são chamados de ‘mediadores’, no pressuposto de que, se as pessoas obtêm
o meio-termo, elas obtêm o que é justo.”
Justiça Política e Justiça Doméstica
A justiça política dá-se no âmbito das relações dos indivíduos na polis, pertinente ao status
civitatis do cidadão perante os seus iguais. “existente no meio social, é a justiça que organiza um
modo de vida que tende à autossuficiência da vida comunitária, vigente entre homens que
partilham de um espaço comum”.
Conforme se extrai dos escritos de Aristóteles, o justo político “se apresenta entre as pessoas que
vivem juntas com o objetivo de assegurar a auto-suficiência do grupo – pessoas livres e
proporcionalmente ou aritmeticamente iguais. Logo, entre pessoas que não se enquadram nesta
condição não há justiça política, e sim a justiça em um sentido especial e por analogia.”
Portanto, as pessoas consideradas cidadãs na  polis, na época de Aristóteles, formavam um
conjunto restrito e excludente (pois se excluem deste conjunto os estrangeiros, mulheres, escravos,
menores e aqueles que não são livres), não se aplicando a justiça política sobre os demais
membros, atingindo-os apenas obliquamente.
A justiça doméstica é a que se encontra no âmbito da casa, no que se refere aos filhos, escravos e a
mulher. Assim, “pode-se dizer que a justiça doméstica tem estas últimas como espécies (justiça
para com a mulher; justiça para com os filhos; justiça para com os escravos).” 
Aristóteles sustenta que “a justiça do senhor para com o escravo e a do pai para com o filho não
são iguais à justiça política, embora se lhe assemelhem; na realidade, não pode haver injustiça no
sentido irrestrito em relação a coisas que nos pertencem, mas os escravos de um homem, e os seus
filhos até uma certa idade em que se tornam independentes, são por assim dizer, partes deste
homem, e ninguém faz mal a si mesmo (por esta razão uma pessoa não pode ser injusta em relação
a si mesma)”.

Justiça Legal e Justiça Natural


A justiça legal e a justiça natural são divisões do género que é a justiça política. Bittar (2010)
explica a distinção aristotélica entre o justo legal (díkaion nomikón) e o justo natural (díkaion
physikón) no sentido de que aquele corresponde às prescrições derivadas do nómos, isto é, das
regras vigentes entre os cidadãos políticos, e este, encontra fundamento na própria natureza. É
assim a distinção feita por Aristóteles: “A justiça política é em parte natural e em parte legal; são
naturais as coisas que em todos os lugares têm a mesma força e não dependem de as aceitarmos ou
não, e é legal aquilo que a princípio pode ser determinado indiferentemente de uma maneira ou de
outra, mas depois de determinado já não é indiferente.” A justiça legal tem fundamento na lei, que
é definida pela vontade do legislador. Possui força não natural, e é fundada na convenção, pois a
vontade do órgão que emana o ato legislativo é soberana e pressupõe consenso de todos os
súditos; uma vez vigente a lei adquire obrigatoriedade e vincula todos os cidadãos.
A justiça natural, consiste no “conjunto de todas as regras que encontram aplicação, validade,
força e aceitação universais. Assim pode-se definir o justo natural como sendo parte do justo
político que encontra respaldo na natureza humana, e não depende do arbítrio volitivo do
legislador, sendo por consequência, de caráter universalista.” Portanto, a justiça natural tem uma
força que rompe com as barreiras políticas, sendo que transcende a vontade humana e são
imutáveis, e tem a mesma forma em todo lugar.

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Código Deontológico: Princípios éticos para atuação do psicólogo


• Criação da Ordem dos Psicólogos – Lei 57/2008

Código Deontológico:
• Publicado na 2ª Série do Diário da República a 20 de Abril de 2011-
• 1ª Revisão publicado no Diário da República 2ª Série nº 246/2 de dia 26 de Dezembro de 2016.

São o conjunto de princípios e deveres gerais que devem reger o comportamento profissional dos
psicólogos; Identificar princípios e promover o raciocínio ético; Base para pensar respostas e
orientar a atuação e prática clínica do psicólogo; A pertença à Ordem dos Psicólogos obriga ao
cumprimento dos princípios estabelecidos no presente Código Deontológico. Conjunto de
princípios e deveres gerais que devem reger o comportamento profissional dos psicólogos.
Princípios gerais:
a) Atuar com independência e isenção profissional;
b) Prestigiar e dignificar a profissão;
c) Colocar a sua capacidade ao serviço do interesse público;
d) Empenhar-se no estabelecimento de uma dinâmica de cooperação social com o objetivo de
melhorar o bem-estar individual e coletivo;
e) Defender e fazer defender o sigilo profissional;
f) Exigir aos seus membros e colaboradores o respeito pela confidencialidade;
g) Utilizar os instrumentos científicos adequados ao rigor exigido na prática da sua profissão;
h) Conhecer e agir com respeito pelos preceitos legais e regulamentares;
i) Respeitar as normas de incompatibilidade que decorram da lei.

Deveres gerais:
a) Abster-se de sancionar documentos ou de fazer declarações que indevidamente resultem em
favorecimento próprio ou de outrem;
b) Evitar a deturpação da interpretação do conteúdo, explícito ou implícito, de documentos de
apoio técnico ao exercício da profissão, com o intuito de iludir a boa-fé de outrem;
c) Defender os princípios da ética da profissão,recusando colaborar ou participar em qualquer
serviço ou empreendimento que julgue ferir esses princípios;
d) Exercer a sua atividade em áreas dentro da psicologia para as quais tenha recebido formação
específica;
e) Recusar quaisquer interferências no exercício da sua atividade que ponham em causa aspectos
técnicocientíficos ou éticos do exercício profissional, sejam quais forem as suas funções e
dependências hierárquicas ou o local onde exerce a sua atividade;
f) Abster-se de utilizar materiais específicos da profissão para os quais não tenha recebido
formação, que saiba desatualizados ou que sejam desadequados ao contexto de aplicação.

O que acontece se um psicólogo não seguir, violar, princípios e deveres do código deontológico?
- Em que situações se pode fazer queixa contra um psicólogo? Artigo 2.º do regulamento,
"Considera-se infração disciplinar toda a ação ou omissão que consista na violação dolosa ou
culposa, por qualquer membro da Ordem, dos deveres consignados no Estatuto, no Código
Deontológico e nos respetivos regulamentos.

Os interessado/as em fazer chegar ao Conselho Jurisdicional a participação de uma suposta


infracção disciplinar, devem, tanto quanto possível, procurar garantir que a mesma contém alguns
elementos essenciais à fase de instrução tais como:
(1) Identificação dos/as psicólogos/as relativamente aos/às quais exista suspeita de má prática
(nome completo e, se possível, n.º de cédula profissional)
(2) Indicação dos factos concretos que são imputados aos/às psicólogos/as alegadamente
infratore/as.
A descrição dos factos deve incluir referência a aspetos específicos relativos a: (a) intervenientes
(i.e., pessoas envolvidas), (b) modo (i.e., condutas praticadas pelo/as psicólogos/as), (c) tempo
(i.e., datas a que se referem os factos apontados) e (d) lugar (i.e., local ou locais onde se
registaram os factos indicados)
(3) Se possível, sobretudo quando o/as Participantes sejam Psicólogos/as, enquadramento
preliminar das supostas infrações, ou seja, explicitação dos princípios, artigos e/ou normas dos
Estatutos, Código Deontológico ou Regulamentos que o/a participante considere terem sido objeto
de violação
(4) Apresentação de provas circunstanciais a que o/a participante tenha tido ou possa ter acesso e
que sejam relevantes ao apuramento da responsabilidade disciplinar.
As provas apresentadas devem estar diretamente relacionadas com os factos descritos
dispensando-se todas as provas que não sejam susceptíveis de demostrar esses mesmos factos e
que, por isso, podem ser consideradas inúteis ou impertinentes na contextualização da suposta
infracção disciplinar.
(5) Identificação do/a participante (nome completo e contactos para comunicação futura). Perante
participações anónimas ou participações em que seja solicitado o anonimato pelo/a participante, o
Conselho Jurisdicional reserva-se o direito de não prosseguir na averiguação do incumprimento
dos deveres profissionais do/a psicólogo/a visado/a, caso não seja justificada pelo/a participante de
forma atendível a necessidade de anonimato ou se mostre inevitável a colaboração do/a
participante para o apuramento dos factos relevantes.

Procedimento disciplinar
- Averiguar e punir no caso de incumprimento dos deveres deontológicos
1) Instrução - investigar a existência de uma infração
2) Defesa do visado - possibilidade do acusado de expor a sua apreciação dos factos
3) Decisão - Conselho Jurisdicional decide pela absolvição ou punição do visado
A sanção pode consistir numa advertência, numa repreensão registada ou, nos casos mais graves,
na suspensão ou na expulsão do membro.
4) Execução - nos casos em que seja decidida a suspensão ou expulsão do visado, tem lugar a
execução da decisão, com a suspensão ou cancelamento da sua inscrição na Ordem.

Infração disciplinar:
• Leve - violação de forma pouco intensa dos deveres profissionais a que se encontra adstrito no
exercício da profissão;
• Grave - violação de forma séria dos deveres profissionais a que se encontra adstrito no exercício
da profissão;
• Muito grave - violação dos deveres profissionais a que está adstrito no exercício da profissão,
afetando a sua conduta, a dignidade e o prestígio profissional de tal forma que fique
definitivamente inviabilizado o exercício da profissão.
 As infrações disciplinares são puníveis a título de dolo ou negligência.

Sanções disciplinares:
a) Advertência: aplicada ao membro que cometa infração com culpa leve, de que não tenha
resultado prejuízo grave para terceiro nem para a Ordem.
b) Obrigação de prática supervisionada até ao máximo de 12 meses: aplicada ao membro que
cometa infração disciplinar que resulte de manifesto défice de formação.
c) Repreensão registada: aplicada ao membro que cometa infração com negligência grave, mas
sem consequência assinalável, ou que reincida nas infrações referidas anteriormente.
d) Suspensão até ao máximo de 24 meses: aplicável ao membro que cometa infração disciplinar
que afete gravemente a dignidade e o prestígio da profissão, ou lese direitos ou interesses
relevantes de terceiros.
e) Expulsão: aplicável a infração muito grave quando a infração tenha posto em causa a vida, a
integridade física das pessoas ou seja gravemente lesiva da honra ou do património alheios.

Conselho Jurisdicional - constituído por cinco psicólogos (não remunerados) e um jurista.


• Presidente: Mário Jorge Silva
• Vogais: Ana Torres, Ana Ribas, Hélio Bento Ferreira, Ana Conde
• Consultor Jurídico: Duarte Lebre de Freita
• 2010 a 2014 – 171 processos/queixas - 8 pedidos de recurso

Princípios Gerais (Orientações para guiar e inspirar os psicólogos para uma atuação centrada nos
ideais da intervenção psicológica)
• Princípio A. Respeito pela dignidade e direitos da pessoa
• Princípio B. Competência
• Princípio C. Responsabilidade
• Princípio D. Integridade
• Princípio E. Beneficência e Não-maleficência

Princípio A. Respeito pela dignidade e direitos da pessoa


• O psicólogo devem respeitar as decisões e os direitos da pessoa, desde que estes sejam
enquadrados num exercício de racionalidade e de respeito pelo outro. Nesta perspectiva, não
devem fazer distinções entre os seus clientes por outros critérios que não os relacionados com os
problemas e/ou questões apresentadas, e devem, com a sua intervenção, promover o exercício da
autonomia dos clientes.
• Este princípio obriga o psicólogo a olhar para a pessoa como um ser único, com vontade própria
que, mais do que ser respeitada deverá ser promovida no contexto relacional característico da
pessoa humana.
• Obriga o psicólogo a respeitar e a promover a autonomia e autodeterminação do seu cliente,
aceitando de uma forma incondicional todas as suas opiniões, preferências, religiões e todas as
características decorrentes da afirmação do seu carácter, desde que integradas num quadro de
coerência e de respeito pelo outro. Ex:"terapias de conversão” ou “cura gay”

Princípio B. Competência
• O psicólogo tem como obrigação exercer a sua atividade de acordo com os pressupostos técnicos
e científicos da profissão, a partir de uma formação pessoal adequada e de uma constante
atualização profissional, de forma a atingir os objetivos da intervenção psicológica para não
prejudicar o cliente e não contribuir para o descrédito da profissão.
• Boas práticas baseadas em conhecimentos científicos atualizados e não presta serviço para o qual
não está qualificado devido ao risco acrescido de prejudicar seriamente alguém.
• Uma atuação pouco competente poderá levar ao questionamento da credibilidade do profissional
e da profissão, além do prejuízo que o seu cliente poderá sofrer. Ex: técnicas e áreas de atuação
específicas.

Princípio C. Responsabilidade
• O psicólogo deve ter consciência das consequências que o seu trabalho pode ter junto das
pessoas, da profissão e da sociedade. Devem contribuir para os bons resultados do exercício da sua
atividade nestas diferentes dimensões e assumir a responsabilidade pela mesma. Deve saber
avaliar o nível de fragilidade dos seus clientes, pautar as suas intervenções pelo respeito absoluto
da vulnerabilidade, e promover e dignificar a sua atividade.
• O psicólogo é responsável por proporcionar, dentro das suas possibilidades, a devolução da
autonomia ao cliente que a ele recorre e deve ajudar todos aqueles que necessitem dos seus
serviços profissionais.
• Deve ter consciência das consequências do seu trabalho e que o aplique em prol do bem-estar da
pessoa.
• O profissional deve assumir a escolha, a aplicação e as consequências dos métodos e técnicas
que aplica, bem como dos seus pareceres, perante as pessoas, os grupos e a sociedade, e respeitar
escrupulosamente o Código Deontológico. Ex:relatórios, avaliações.

Princípio D. Integridade
• O psicólogo deve ser fiel aos princípios de atuação da profissão promovendo-os de uma forma
ativa. Deve prevenir e evitar os conflitos de interesse e, quando estes surgem, deve contribuir para
a sua resolução, atuando sempre de acordo com as suas obrigações profissionais.
• A integridade poderá ficar comprometida sempre que o profissional se deixar influenciar pelas
suas próprias motivações ou crenças, preconceitos e juízos morais, nos casos em que surjam
conflitos de interesse pessoal, profissional e institucional, dilemas centrados nas hierarquias ou
mesmo a partir de pedidos não razoáveis dos clientes.
• Frente a dificuldades o profissional deverá promover a discussão das diferentes perspectivas em
equação, tentando encontrar situações de compromisso que respeitem os princípios gerais,
específicos e linhas de orientação da prática da Psicologia. Ex: terapia casal, grupo.

Princípio E.Beneficência e Não-maleficência


• O psicólogo deve ajudar o seu cliente a promover e a proteger os seus legítimos interesses. Não
deve intervir de modo a prejudicá-lo ou a causar-lhe qualquer tipo de dano, quer por ações, quer
por omissão.
• Psicólogo desenvolve o seu trabalho na promoção do bem-estar físico, psíquico e social de
pessoas, grupos, organizações e comunidades. É seu dever se preocupar em fazer o bem ao seu
cliente e evitar prejudicá-lo.
• Quando surgem conflitos de interesse o psicólogo deve fazer o máximo esforço para minimizar
dos danos. Deverá ter sempre o melhor interesse do cliente como referência, procurando ajudá-lo e
nunca o prejudicar. Deve ser sempre evitado todo o prejuízo que resultar de uma atuação
grosseira, negligente propositadamente malévola ou não fundamentada em conhecimentos
científicos atualizados.
• O psicólogo pode recusar-se a estabelecer relações profissionais com clientes que estejam a ser
assistidos simultaneamente por um colega, sempre que entender que tal duplicação de
intervenções possa ser prejudicial para o cliente.

Princípios Específicos
1. Consentimento Informado
2. Privacidade e Confidencialidade
3. Relações Profissionais
4. Avaliação Psicológica
5. Prática e Intervenção Psicológicas
6. Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas
7. Investigação
8. Declarações Públicas

1. Consentimento Informado
- Fornecer informação ao cliente e assegurar a sua compreensão através da clarificação e discussão
das informações para obter o consentimento informado por parte do cliente no início da relação
profissional.
- Consentimento informado do representante legal do cliente
- Garantir a participação voluntária
- Situações agudas – intervir em tempo útil de forma a garantir o bem-estar do cliente e de
terceiros
- Processo legal – psicólogo deve clarificar o seu papel e os limites da confidencialidade da
informação recolhida, enfatizar a importância da colaboração no trabalho e discutir as
consequências prováveis da intervenção para o cliente.
- Registo da informação – consentimento escrito para registos fotográficos, áudio, vídeo e
posterior utilização dos dados obtidos.

2. Privacidade e Confidencialidade
O psicólogo tem a obrigação de assegurar a manutenção da privacidade e confidencialidade de
toda a informação a respeito do seu cliente, obtida direta ou indiretamente, incluindo a existência
da própria relação, e de conhecer as situações específicas em que a confidencialidade apresenta
algumas limitações éticas ou legais.
- Recolha e registo de informação estritamente necessária
- Informar o cliente sobre o tipo de utilização dos registos, como será conversado, por quanto
tempo e quem tem acesso
- O cliente tem direito de acesso à informação sobre si próprio
- Para divulgação de informação confidencial o psicólogo deve ter autorização prévia do cliente
- A não manutenção da confidencialidade pode justificar-se sempre que existir uma situação de
perigo para o cliente ou para terceiros que possa ameaçar de forma grave a sua integridade física
ou psíquica, ou qualquer forma de maus-tratos a menores de idade ou adultos indefesos
(deficientes ou vulneráveis).
- Informação confidencial é transmitida apenas a quem se considerar de direito e imprescindível
para uma intervenção adequada e o cliente deve ser informado antes dessa partilha de informação
ocorrer.
- O psicólogo que trabalha em equipas interdisciplinares pode transmitir apenas a informação que
for estritamente necessário para os objetivos em causa, e o cliente deve ser aviso e esclarecido
sobre essa possibilidade de partilha de informação dentro da equipa.
- Cliente criança, adolescente, adulto indefeso – partilha-se com o responsável legal apenas a
informação estritamente necessária para que se possa atuar em seu benefício.
- Serviços prestados por meios informáticos – informar o cliente sobre eventuais riscos e
limitações relativos à manutenção da privacidade e confidencialidade.
- Em apresentações (formação, ensino) é sempre protegida a identidade do cliente, e em casos de
haver possibilidade de identificação do cliente, deve-se assegurar previamente o consentimento
informado.
- Situações legais – solicitação de informação confidencial sobre o cliente é enviada para um
destinatário específico e apenas a informação relevante deve ser fornecida, e o cliente deve ser
informado previamente da informação a ser revelada.
- Se o psicólogo considerar que a divulgação de informação confidencial pode ser prejudicial para
o seu cliente, pode invocar o direito de escusa (de acordo com o disposto no art.º 135.º do Código
de Processo Penal).
- A não manutenção da confidencialidade pode justificar-se se o psicólogo for processado pelo
cliente. Nessa situação, o psicólogo transmite apenas a informação considerada necessária para
assegurar o seu processo de defesa.

3. Relações Profissionais
- O psicólogo respeita as relações profissionais, competência específica, deveres e
responsabilidades de colegas e outros profissionais.
- Promover a boa prática da Psicologia colaborando com os colegas, independentemente de estes
utilizarem os mesmos ou outros modelos teóricos ou metodologias de intervenção.
- Encaminhar clientes sempre que não tenha competência ou manifeste impossibilidade de assumir
a intervenção.
- O psicólogo é independente e tem autonomia profissional para o exercício da sua profissão.
- O psicólogo contribui e coopera com a instituição para a qual colabora, desde que não sejam
contrárias aos princípios do Código Deontológico.
- Pautar as suas relações profissionais pela integridade, não desviando casos de instituição pública
para a prática privada, e não julgando ou criticando outros colegas ou outros profissionais de
forma não fundamentada.
- O psicólogo respeita as relações profissionais, a competência específica, os deveres e a
responsabilidade de outros, e limitam o seu trabalho ao âmbito da sua competência.
- Sensibilizar os colegas para a boa prática da psicologia e quando toma conhecimento de um
desrespeito grave ou reiterado por parte de outro psicólogo deve:
a) Informar esse colega do seu desrespeito pelo atual Código Deontológico
b) proceder a uma exposição escrita dirigida ao Conselho Jurisdicional da OPP, órgão competente
para análise deste tipo de conteúdo.
O psicólogo deve denunciar outras pessoas que desempenhem funções para as quais apenas o
psicólogo está habilitado.

4.Avaliação Psicológica
A avaliação psicológica concretiza-se através da utilização de protocolos válidos e deve responder
as necessidades objetivas de informação,salvaguardando o respeito pela privacidade da pessoa.
- Ato exclusivo da Psicologia
- As técnicas e instrumentos de avaliação são utilizados por psicólogos qualificados com
formação, experiência e treino específicos para a administração, cotação, interpretação dos
mesmos.
- É necessário a obtenção de consentimento informado para os processos de avaliação ou
diagnóstico psicológico, exceto quando estes fazem parte das atividades de rotina institucional,
organizacional ou educacional, que correspondam a uma solicitação regulamentada na lei ou
pretendam identificar a capacidade de tomada de decisão.
- Deve-se selecionar e utilizar de modo adequado e válido o protocolo de avaliação (entrevistas,
testes e instrumentos de avaliação psicológica) para justificar formulações e conclusões incluídas
em avaliações, diagnósticos, relatórios e pareceres.
- Os materiais e protocolos de avaliação (manuais, instrumentos e sistemas de cotação e
interpretação) não são disponibilizados aos clientes ou a outros profissionais não qualificados,
assegurando a proteção e segurança dos materiais, prevenindo a sua divulgação para o domínio
público.
- O psicólogo só deve utilizar instrumentos de avaliação validados para a população portuguesa e
deve ter conhecimento das condições para a administração, cotação e interpretação dos resultados
dos mesmos.
- O psicólogo deve proporcionar explicações objetivas sobre a natureza e finalidade da avaliação,
dos limites dos instrumentos, resultados e interpretações formuladas. O psicólogo faz uma
entrevista de devolução dos resultados da avaliação, onde explica os dados constantes no relatório
e possibilita ao cliente a manifestação de dúvidas e o seu esclarecimento.
Relatórios psicológicos: Devem ser documentos escritos objetivos e rigorosos e inteligíveis que
fornecem informação relevante que permita dar resposta às questões e pedidos de avaliação
considerados pertinentes.
- O psicólogo deve ponderar as consequências das informações disponibilizadas nos relatórios,
considerar criticamente o carácter relativo das avaliações e interpretações, e especificar o alcance,
limites e grau de certeza dos conteúdos comunicados.
- Os relatórios incluem o nome do psicólogo e o número da cédula profissional.
- Se o cliente pretender uma segunda opinião de outro psicólogo, dados mais completos de
avaliação devem ser enviados diretamente a este último, para evitar interpretações incorretas por
parte do cliente e assegurar a segurança e integridade dos materiais de avaliação.

5. Prática e Intervenção Psicológicas


- O psicólogo deve seguir modelos teóricos disponíveis e os princípios associados a um exercício
cientificamente comprovado, rigoroso e responsável (princípios da beneficência e não-
maleficência e competência específica), salvaguardando o respeito pelas diferenças individuais e o
consentimento informado.
- O psicólogo deve exercer a sua prática dentro dos limites da sua competência específica, como
base na sua formação, treino, experiência e desenvolvimento profissional, procurando atualizar-se
ao longo do seu percurso profissional.
- Obter sempre o consentimento informado no início da atividade profissional com o cliente.
- O psicólogo deve assegurar a maior isenção e objetividade possível explicitando junto do cliente
as limitações inerentes a esse mesmo processo, e não discriminar os seus clientes em razão de
qualquer tipo de fator ou condição.
- Quando atuam com populações minoritárias devem obter conhecimento profissional e científico
relevante para intervir de forma ética e eficaz, adequando as suas intervenções a fatores
importantes como idade, sexo, orientação sexual, identidade de género, etnia, origem cultural,
nacionalidade, religião, língua, nível socioeconómico e outros.
- O psicólogo deve prevenir e evitar eventuais conflitos de interesse, portanto não deve estabelecer
relação profissional com quem mantenha ou tenha mantido uma relação prévia de outra natureza.
Não devem desenvolver outro tipo de relações com os seus clientes ou com pessoas próximas dos
seus clientes, sendo responsável por qualquer prejuízo que possa vir a ocorrer nesse contexto.
- O psicólogo não se envolve em relações românticas ou sexuais com os clientes.
- A publicidade profissional é feita com exatidão e rigor e restringe-se à divulgação de informação
sobre tipos de intervenção e títulos que o psicólogo é detentor.
- O psicólogo atua em instalações adequadas que garantam a privacidade do cliente.
- Intervenção à distância – atenção as limitações e dificuldades deste tipo de intervenção (ex.,
telefone, internet, etc.) e discutir previamente as mesmas com os seus clientes. Neste contexto, a
responsabilidade do psicólogo é igual a qualquer outro tipo de intervenção.
- Honorários - são fixados de forma a representar uma justa retribuição pelos serviços prestados e
discutidos com o cliente antes do estabelecimento da relação profissional.
- Conclusão da intervenção - quando alcançados os objetivos propostos, em casos de ineficácia da
intervenção, ou quando se observa qualquer tipo de constrangimento à continuação, incluindo
situações de ameaça por parte dos clientes. Se necessário o cliente pode ser referenciado a outro
profissional que possa continuar o processo de intervenção de uma forma adequada.

6. Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas


- Os programas de ensino, formação e supervisão apresentam conteúdos, objetivos e requisitos de
admissibilidade e avaliação bem definidos, e devem refletir uma formulação atual e representativa
das matérias, com referência a críticas fundamentadas.
- Importância da formação especializada e manter-se informados sobre os desenvolvimentos
científicos e profissionais da sua área de trabalho.
- Supervisão: atividade psicológica especializada, fundamentada em conhecimento teórico e
empírico, por isso requer formação e responsabilidade pela atualização relativa a conhecimentos
científicos, princípios éticos, legislação, e outros documentos relevantes para a promoção da
qualidade da atividade de supervisão.
- Os supervisores partilham a responsabilidade com o supervisando pelo bem-estar dos clientes e
pela privacidade e confidencialidade da informação.
- Os docentes, formadores, supervisores ou orientadores não se envolvem em relações românticas
ou sexuais com os estudantes,supervisandos ou estagiários com os quais possam ser uma
autoridade em termos avaliativos, e devem evitar outro tipo de relações que possam diminuir a
objetividade do processo de avaliação.
- Os docentes, formadores, supervisores e orientadores defendem a aplicação do Código
Deontológico pelos estudantes,supervisandos, etc. no exercício das suas competências.
- Devem ser proporcionadas aos estudantes e profissionais, no seu processo de aprendizagem,
formação e supervisão, condições para uma reflexão sobre as questões éticas associadas à prática
profissional e investigação em Psicologia.

7. Investigação
- O psicólogo investigador têm em conta o princípio geral da beneficência e não-maleficência, que
o leva a colocar em primeiro lugar o bem-estar dos participantes nas investigações, e o princípio
geral da responsabilidade social no sentido da produção e comunicação de conhecimento
científico válido e suscetível de melhorar o bem-estar das pessoas.
- Não causar danos físicos e/ou psicológicos aos participantes nas investigações.
- O investigador avalia os potenciais riscos para a saúde, bem-estar, valores ou dignidade do
participante para eliminá-los ou minimizá-los antes de decidir pela realização de uma
investigação. Os potenciais riscos e benefícios devem ser comunicados adequadamente aos
participantes.
- Participação voluntária - ninguém pode ser obrigado ou coagido a participar numa investigação.
Compensação, monetária ou outra, não pode constituir um estímulo que leve o participante a
ignorar riscos eventuais da sua participação.
- Os investigadores fornecem aos participantes a informação necessária sobre a investigação que
permita uma decisão informada quanto aos potenciais riscos e benefícios em participar.
- Nos casos em que os participantes não têm capacidade para dar consentimento informado, o
consentimento deve ser fornecido pelos seus representantes legais, mas a manifestação de recusa
por parte do participante pode ser impeditiva da sua participação.
- Anonimato e confidencialidade de dados recolhidos - no contexto de investigação só se recolhem
os dados pessoais estritamente necessários à investigação e os mesmos são mantidos
confidenciais.
- Uso do engano em investigação – utilizado apenas quando tem justificação significativa e
fundamentada cientificamente.
- Em todas as investigações oferece-se aos participantes a oportunidade de obter informação sobre
os objetivos, resultados e conclusões da investigação. O esclarecimento pós-investigação é
obrigatório quando o engano fizer parte do procedimento.
- Investigação com animais – assegurado condições de vida adequadas e evita-se o sofrimento
desnecessário.
- Os investigadores asseguram que as investigações são realizadas de acordo com os princípios
mais elevados de integridade científica.
- Os investigadores não fabricam resultados, incluindo invenção, manipulação ou apresentação
seletiva de resultados e corrigem publicamente erros encontrados.
- Comunicação de resultados das investigações de forma adequada para a comunidade científica e
o público em geral não fazendo afirmações públicas falsas ou fraudulentas.
- Os investigadores não apresentam partes de trabalhos ou ideias de outros autores como suas e
dão crédito autoral em trabalhos publicados a todos que o realizaram de forma significativa. Os
investigadores cumprem estas regras e asseguram o cumprimento por todos que com eles
colaborem e/ou estejam sob a sua supervisão.

8. Declarações Públicas
- As declarações públicas prestadas (programas de rádio e televisão, artigos em jornais ou revistas,
conferências e internet), devem pautar-se no respeito as regras deontológicas da profissão. E
devem ser considerados os princípios da competência específica, privacidade e confidencialidade,
respeito pela dignidade da pessoa, integridade, beneficência e não-maleficência.
- Em declarações públicas (verbais ou escritas utilizando os media ou outras formas de
divulgação) o psicólogo deve observar o princípio do rigor e da independência, abstendo-se de
fazer declarações falsas ou sem fundamentação científica, deve relatar os factos de forma
criteriosa com base em fundamentação científica adequada.
- O psicólogo limita as suas declarações públicas apenas a temas para os quais têm formação e
experiência específicas.
- O psicólogo reconhece o impacto das suas declarações junto do público, em função da
credibilidade da ciência que representa. Este facto aumenta a sua responsabilidade em relação às
suas afirmações, uma vez que o psicólogo representa uma classe profissional.
- Quando solicitado a comentar publicamente casos particulares, o psicólogo pronuncia-se sobre
os problemas psicológicos em questão mas não sobre os casos em específico.

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