A ética tem sido tradicionalmente analisada por filósofos desde o tempo dos gregos clássicos. A
palavra ética vem do grego ethos, que significa hábito ou costume, aludindo, assim, aos
comportamentos humanos. É o domínio da filosofia responsável pela investigação dos princípios
que orientam o comportamento humano. Ou seja, que tem como objeto o juízo de apreciação que
distingue o bem e o mal, o comportamento correto e o incorreto. A ética é um modo de regulação
dos comportamentos que provém do indivíduo e que assenta no estabelecimento, por si próprio, de
valores (que partilha com outros) para dar sentido às suas decisões e ações. Faz um maior apelo à
autonomia, ao juízo pessoal do indivíduo e também à sua responsabilidade do que os outros
modos de regulação, pelo que se situa numa perspetiva de autoregulação. A autonomia do
indivíduo é, desta forma, algo de paradoxal, na medida em que a liberdade de que dispõe é
simultaneamente um encargo: impõe ao indivíduo que se abra às necessidades dos outros e que
procure encontrar um equilíbrio entre a sua própria liberdade e a responsabilidade relativamente
aos outros. A ética ajuda o indivíduo neste caminho. Os princípios éticos são diretrizes pelas quais
o homem, enquanto ser racional e livre, rege o seu comportamento. O que significa que a ética
apresenta, em simultâneo, uma dimensão teórica (estuda o "bem" e o "mal") e uma dimensão
prática (diz respeito ao que se deve fazer).
Ajuda o indivíduo a explicar as razões das suas ações e a assumir as respetivas consequências. A
ética é, assim, uma filosofia prática que procura regulamentar a conduta tendo em vista o
desenvolvimento humano. Porque procura aperfeiçoar o homem através da ação e por isso procura
que os atos humanos se orientem pela retidão, isto é, a concordância entre as ações e a verdade ou
o bem. Nesta medida, a ética é uma racionalização do comportamento humano, ou seja, um
conjunto de princípios obtidos através da razão e que apontam o caminho certo para a conduta. Por
isso se diz, como Aristóteles, que o homem é um animal racional. Uma vez que não existem regras
de comportamento aplicáveis a todas as situações e a todo o momento, a ética tem a função de
fornecer princípios operativos, normas, valores para a atuação, que o homem vai aplicar, de uma
forma evolutiva, utilizando a sua razão, procurando em permanência as melhores soluções para os
problemas que se lhe colocam.
O comportamento humano foi, desde sempre, avaliado sob o ponto de vista do bem e do mal, do
certo e do errado. A ética diz-nos, não o que o homem pode fazer, mas o que o homem deve fazer.
Ou seja, elucida-nos sobre as escolhas que o homem deve fazer em liberdade e através das quais
se desenvolve e aperfeiçoa.
Estas escolhas (entre o bem e o mal, entre o certo e o errado) podem ser baseadas em várias
doutrinas, desenvolvidas ao longo da história por diversos filósofos, mas atualmente são estudadas
também por sociólogos, psicólogos e outros estudiosos do comportamento humano. Tais doutrinas
estabelecem conjuntos de princípios morais interligados de forma consistente. Os pressupostos e
opções das várias doutrinas éticas devem merecer uma análise crítica, para que cada indivíduo
possa identificar a que mais se adequa à sua concepção de humanidade.
Para muitos, a ética é essencialmente subjetiva, tem a ver com valores e opiniões pessoais, o que
explica porquê as pessoas discordam sobre tantas questões éticas. Esta discussão entre objetivismo
e subjetivismo remonta aos Sofistas e a Sócrates e Platão. Enquanto que os sofistas consideravam
que o bem e o mal refletem as opiniões subjetivas, Platão e Sócrates acreditavam que o bem e o
mal faziam parte da natureza objetiva das coisas. No mundo de hoje, o individualismo e a
concorrência feroz parece ter feito triunfar o utilitarismo: os fins justificam os meios. Não só no
mundo dos negócios mas também ao nível político, com decisões tomadas a partir do ideal
aritmético da justiça social que lhe está subjacente. Esta abordagem foi adoptada em detrimento de
uma abordagem objetiva das normas morais, reforçando o relativismo moral, as "éticas de
ocasião", "éticas corporativas", valores de conveniência. Mas será que a ética é mesmo só um
assunto de consciência individual? Reduzir-se-á apenas a um conjunto de normas de resolução de
conflitos de interesse, que pesam os resultados que proporcionam a maior satisfação a um maior
número de pessoas?
Ética, ou filosofia moral, é uma área do conhecimento dedicada à investigação dos princípios das
ações humanas. Em outras palavras, a ética é o estudo sobre as bases da moral.
Ela desenvolve teorias sobre o desenvolvimento do comportamento humano e a construção de
valores compartilhados socialmente, que orientam as ações.
A reflexão sobre conceitos-chave como "o bem", "a justiça" e "a virtude", constroem o saber ético,
iniciado no período antropológico da filosofia grega marcado pela tríade Sócrates-Platão-
Aristóteles.
Principalmente no texto Ética a Nicômaco, de Aristóteles, o filósofo define a ética como uma
disciplina da filosofia e busca definir a relação entre os comportamentos humanos, a virtude e a
felicidade.
Atualmente, a ética se ocupa da teorização e construção de princípios que fundamentem diversas
atividades. A deontologia, por exemplo, é uma área que visa estabelecer as bases éticas para o
desenvolvimento profissional. Assim como a bioética - um ramo dedicado a refletir sobre quais
princípios a ciência deve se desenvolver, tendo como foco o respeito à vida.
A moral tem como característica fundamental atuar como uma norma que orienta os
comportamentos humanos. Ainda que se pressuponha a liberdade dos indivíduos e a
impossibilidade de prever todas as ações, a moral vai desenvolver valores nos quais as ações
devem estar submetidas.
Diferente das teorias éticas, que buscam as características universais do comportamento humano, a
moral estabelece uma relação particular com os indivíduos, com sua consciência e a ideia do
dever.
A moral assume um caráter prático e normativo, em que a forma como se deve agir está
diretamente relacionada aos valores morais construídos socialmente.
Assim, enquanto a ética propõe questões como: "O que é o bem?", "O que é a justiça?", "O que é a
virtude?"; a moral se desenvolve a partir da aprovação ou reprovação de uma conduta. "Esta ação
é justa?", "É correto agir de determinada maneria?" Por isso, a moral, diferente da ética, vai estar
sempre inserida em um contexto particular. Cada grupo social em diferentes momentos históricos
possuirá valores morais também distintos.
Basicamente, ética é o comportamento individual e refletido de uma pessoa com base em um
código de ética ou de conduta que deve ter aplicabilidade geral. É chamado de ética o campo
da Filosofia que se dedica a entender e a refletir as ações humanas (ações morais) e a classificá-las
como certas ou erradas. Por isso, podemos dizer que ética é uma espécie de “filosofia moral”.
Moral é, por sua vez, o costume ou hábito de um povo, de uma sociedade, ou seja, de
determinados povos em tempos determinados.
A moral muda constantemente, pois os hábitos sociais são renovados periodicamente e de
acordo com o local em que são observados.
A moral é uma espécie de conjunto de hábitos e costumes de uma sociedade. A moral, em geral,
faz-se de acordo com a cultura de um local em um determinado espaço de tempo. Normalmente,
alguns elementos da sociedade influenciam-na, como a religião, o modo de vida da sociedade, o
acesso que essa sociedade tem à informação e o uso que as pessoas de determinado recorte social
fazem da informação. A moral, normalmente, é exposta sobre preceitos e, muitas vezes, expressa
como normas de proibição e permissão.
É comum ouvirmos a frase “fulano atentou contra a moral e os bons costumes”, isso porque a
moral é uma espécie de norma de conduta social que indica algo que é certo ou errado naquela
sociedade. Devido ao caráter cultural e subjetivo da moral, algo que é permitido em uma
determinada moral, pode ser proibido em outra. Apesar de várias normas morais repetirem-se, elas
são, muitas vezes, diferentes porque as sociedades construíram diferentes modos de vida. Aquilo
que uma sociedade convenciona como moralmente incorreto pode ser classificado como um tabu.
A ética tem a mesma raiz etimológica que a moral, só que esta deriva da palavra latina mores (que
também significa costumes). Todavia, a ética tem um significado mais amplo do que a moral.
Moral é um conjunto de regras, valores e proibições vindos do exterior ao homem, ou seja,
impostos pela política, a religião, a filosofia, a ideologia, os costumes sociais, que impõem ao
homem que faça o bem, o justo nas suas esferas de atividade. Enquanto a ética implica sempre
uma reflexão teórica sobre qualquer moral, uma revisão racional e crítica sobre a validade da
conduta humana (a ética faz com que os valores provenham da própria deliberação do homem), a
moral é a aceitação de regras dadas. A ética é uma análise crítica dessas regras. É uma "filosofia
da moral". No entanto, é preciso estar atento, uma vez que os termos são frequentemente
utilizados como sinónimos, sobretudo entre os autores anglo-saxónicos. A moral tem uma
dimensão imperativa, porque obriga a cumprir um dever fundado num valor moral imposto por
uma autoridade. Por isso, aplica-se através da disciplina e a motivação para a ação é, neste caso, a
convicção (interiorização do bem e do mal e da legitimidade da entidade que os enuncia) e a
sanção.
Exemplos de moral
Como o comportamento moral é moldado social e culturalmente, ou seja, os tabus e
as permissões morais vão sendo modelados de acordo com o desenvolvimento social dos povos.
Nesse sentido, vários traços do comportamento humano modificam-se, pois são relativos. Alguns
exemplos de moral podem ser encontrados nas seguintes relações:
- Normas de conduta em relação ao sexo e à sexualidade
A moral, por sofrer influência da religião, pode tratar o sexo e a sexualidade de diferentes
maneiras. Em sociedades politeístas antigas, como a grega e a romana, o celibato não era
estimulado (ao menos para os homens) como o é nas sociedades ocidentais cristãs, que se
formaram a partir do crescimento do cristianismo na Idade Média.
Como a religião cristã baseia-se nas ideias de pecado original e de que o afastamento dos pecados
é necessário para a obtenção da graça divina, a moral incorporou a proibição do sexo fora do
matrimônio como norma. Daí deriva o tabu quanto à prática de sexo que não seja uma prática
reprodutiva e que não tenha obtido a benção divina.
A homossexualidade também é um tabu nas culturas judaico-cristãs e islâmicas por conta dos
preceitos dessas religiões, mas, na Grécia Antiga, a homossexualidade era um elemento cultural
comum da sociedade, baseado, inclusive, no alto teor patriarcal daqueles povos que tendia a
colocar a mulher no simples lugar de fêmea reprodutora, incapaz de oferecer a plenitude espiritual
a um homem.
Frida Kahlo é um exemplo de mulher que lutou contra as injustiças de gênero de sua época,
questionando normas morais da sociedade onde estava inserida.
- Tratamento à mulher
O domínio dos homens nas relações sociais com as mulheres é antigo. O que chamamos, hoje,
de patriarcado é a marca desse domínio, que, durante milênios (e até hoje), colocou a mulher em
posição social inferior. Se pensarmos que, até a década de 1930, as mulheres não votavam na
maioria das potências republicanas e que, ainda hoje, às mulheres são negados certos direitos
básicos, como a liberdade de ir e vir e de se expressar, com base em normas morais, podemos
tomar como exemplo de norma moral o tratamento dado às mulheres. Hoje a ética tem o dever de
desmascarar e derrubar esse antigo domínio que subjuga e trata com inferioridade as mulheres.
- A escolha pelo certo e pelo errado ou pelo bem e pelo mal
Nos livros Genealogia da moral e Além do bem e do mal, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche
tenta desconstruir a imagem que a nossa sociedade tem dos valores morais, afirmando que essa
visão está demasiadamente entorpecida pela moral cristã. Segundo o filósofo, a gênese dos valores
morais tem data certa de nascimento, apesar de parecerem algo que sempre foi dado ou esteve aí.
O filósofo também fala do peso da escolha, por uma ou outra ação, que pode implicar o bem ou o
mal, mas faz questão de deixar claro que esse peso moral, que é considerado correto hoje, nem
sempre foi aceito ou valorizado pela sociedade. Segundo Nietzsche, os valores morais vigentes na
Modernidade enfraquecem e desvalorizam o que há de mais fortalecedor no ser humano, a sua
natureza animal.
O que é ética?
Ética é o que diz respeito à ação quando ela é refletida, pensada. A ética preocupa-se com o certo e
com o errado, mas não é um conjunto simples de normas de conduta como a moral. Ela promove
um estilo de ação que procura refletir sobre o melhor modo de agir que não abale a vida
em sociedade e não desrespeite a individualidade dos outros.
Em Ética prática, o filósofo australiano Peter Singer destaca e refuta quatro pontos que ele
considera que não se aplicam à ética, apesar das pessoas, insistentemente, considerarem tais
pontos características do que seria a ética.
1. Não é um conjunto de normas em relação ao sexo: isso cabe à moral, pois a
primeira é uma questão individual que, se afeta a sociedade, diz respeito a uma má conduta do
indivíduo e não ao sexo em si. Singer diz que os mesmos problemas de má conduta de um
indivíduo em relação ao sexo podem ser aplicados ao ato de dirigir um carro. Se ele é
responsável e, com suas atitudes sexuais, atinge apenas a si mesmo, ele não está agindo fora do
que a ética prediz, do mesmo modo que uma direção segura e responsável não afetaria a
sociedade.
2. Não é uma bela abstração teórica e inexequível na prática: pensar que a ética é
utópica, porque a maioria das pessoas não age de acordo com ela, é falso. Se a ética não for
aplicável na prática, não há o porquê de ela existir.
3. Não faz sentido apenas quando em contexto religioso: a ética é uma prática
reflexiva que deve nortear as ações cotidianas dos indivíduos, tanto em contextos religiosos
quanto fora deles.
4. Não é relativa: ao contrário da moral, que é subjetiva, a ética tenta expressar um
conjunto de práticas que devem ser consideradas corretas por toda a sociedade. Apesar de haver
um contexto de ação individual, o indivíduo ético deve procurar fazer o que é o correto, e isso
não é um traço subjetivo e individual mas está dentro de um contexto.
A ética é, portanto, a reflexão moral acerca da ação. É a ética que vai garantir às ações das
pessoas a correção moral, sendo que, muitas vezes, uma ação moralmente ética pode não se
enquadrar na moral de uma determinada sociedade.
Por exemplo, se, em um país que segue a lei islâmica, uma mulher comete adultério, ela pode ser
condenada à morte por apedrejamento. Isso faz parte da moral daquela sociedade, mas não é
eticamente correto. Se, em uma situação hipotética, alguém salva uma mulher prestes a morrer
daquela maneira, essa pessoa está atentando contra a moral, mas está agindo certo, de acordo com
a ética.
Exemplos de ética:
Respeitar as leis que sejam justas;
Procurar agir com justiça;
Não se apropriar, indevidamente, do que não é seu;
Não prejudicar os outros;
Respeitar o convívio social.
Ética
A ética, ou filosofia moral, se refere ao estudo do conjunto de valores e princípios que guiam
determinado grupo ou cultura. Assim, norteia o caráter das pessoas e como elas irão se portar no
meio social.
Apesar disso, a ética não deve ser confundida com a lei, pois pessoas não sofrem sanções ou
penalidades do Estado por não cumprirem normas éticas.
O conceito de ética também pode significar o conhecimento extraído da investigação do
comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional. Portanto, a ética
pode refletir e questionar valores morais.
A ética é responsável por definir certas condutas do nosso dia-a-dia. É o caso dos códigos de ética
profissional, que indicam como um indivíduo deve se comportar no âmbito da sua profissão
(Deontologia).
Exemplo do uso de ética
O conceito de ética é utilizado quando refletimos sobre a moral aceita em determinada sociedade,
podendo aceitar ou questioná-la.
João foi antiético porque não se levantou para que o idoso pudesse ocupar seu lugar no ônibus.
Moral
Moral é o conjunto de regras que orientam o comportamento do indivíduo dentro de uma
sociedade. Ela pode ser adquirida através da cultura, da educação, da tradição e do cotidiano.
Tais regras norteiam os julgamentos de cada indivíduo sobre como agir. Isto de acordo com o que
foi previamente aceito como norma em determinado grupo. Quando falamos de moral, as
definições do que é certo ou errado dependem do local onde a pessoa se encontra, da tradição e
cultura.
Consistência e flexibilidade
A moral é muito consistente dentro de um determinado contexto, mas pode variar entre culturas ou
épocas. Por exemplo, algo moralmente aceito na sociedade de hoje poderia ser imoral nos anos 70.
Já a ética é como o individuo reflete sobre determinada moral. Assim, é possível que certos
eventos modifiquem radicalmente as crenças e valores pessoais de um indivíduo.
Exemplos de Ética
Códigos de ética profissional
Os códigos de ética profissional são bons exemplos porque cumprem a função de orientar o
desenvolvimento de diversas atividades. São baseados em princípios que fundamentam a prática
profissional e reforçam sua relevância. Em geral, são referidos:
A responsabilidade com a sociedade a partir das práticas profissionais;
A valorização das relações humanas;
O respeito aos valores que sustentam a comunidade;
A reflexão permanente sobre o próprio papel do profissional.
Exemplos de Moral
"Não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você"
A chamada Regra de Ouro visa regular a relação entre pessoas, grande foco da ética e da moral,
possibilitando o convívio em sociedade.
Esse é um exemplo de regra moral básica que visa estabelecer relações de respeito mútuo,
impedindo que uma pessoa cause algum tipo de mal a outra.
Proposta semelhante a encontrada nos textos bíblicos, fundamentais para a formação dos valores
morais do ocidente, em que se encontra como um mandamento "amar ao próximo como a si
mesmo".
Não mentir
Não mentir é um ensinamento moral comum na sociedade. O ato de mentir, ou faltar com a
verdade, corrompe o princípio da honestidade.
Entretanto, a questão da mentira pode ser um tema de debate por haver momentos específicos em
que a mentira pode ser socialmente aceita e a sinceridade compreendida como falta de educação
ou um comportamento anti-social.
Ética Platônica:
A ética platônica tem como finalidade conduzir o homem à prática do bem. Esta é a base para se
conhecer a ética e a política na concepção platônica. A ética, segundo Platão, deve ter por base a
idéia da ordem ou da justa proporção que consiste em equilibrar elementos diversos que
desemboquem no mesmo fim. Por exemplo, a justa medida entre o prazer e a inteligência, é por
meio deste equilíbrio que as ações humanas atingem o bem.
O bem na concepção platônica, não são as coisas materiais, mas tudo aquilo que permita o
engrandecimento da alma, por isso, ele ensina que o homem deve desprezar os prazeres, as
riquezas e as honras em vista da pratica das virtudes.
As ações humanas na polis devem ter por fim o bem, por isso Platão defendia que a filosofia
deveria ser o instrumento de acesso do povo - enquanto nação – aos valores de justiça e do bem.
Partindo deste pressuposto, defende que a polis deveria ser governada pelo filosofo, já que este
despreza os prazeres, a fim de atingir o bem de si e do todo. Portanto, a práxis humana na
concepção platônica consiste em atingir o bem supremo.
Platão propõe uma ética transcendente, dado que o fundamento de sua proposta ética não é a
realidade empírica do mundo, nem mesmo as condutas humanas ou as relações humanas, mas sim
o mundo inteligível. O filósofo centra as suas indagações na Ideia perfeita, boa e justa que
organiza a sociedade e dirige a conduta humana. As Ideias formam a realidade platônica e são os
modelos segundo os quais os homens tem seus valores, leis, moral. Conforme o conhecimento das
ideias, das essências, o homem obtém os princípios éticos que governam o mundo social.
O uso reto da razão é entendido como o meio de alcançar os valores verdadeiros que devem ser
seguidos pelos homens. No mito da caverna, o filósofo expõe a condição de ignorância na qual se
encontra o homem ao lidar com o conhecimento das aparências. Somente pelo conhecimento
racional o homem pode elevar-se até as Ideias, até o Ser e conhecer a verdade das coisas. Isto se
dá através do método dialético, o qual elimina as aparências e encontra as essências, a verdade no
conhecimento das coisas. Este método filosófico tem por finalidade libertar os homens da
ignorância e levá-los ao conhecimento de ideia em ideia, até alcançar o conhecimento da Ideia
Suprema: o Bem. As outras ideias participam desta e devem sua existência a esta.
O Bem ilumina o ser com verdade, permitindo que seja conhecido, assim como o Sol ilumina os
objetos e permite que sejam vistos – nota-se aqui a analogia entre Bem e Sol apresentada no mito
da caverna. Existem diversas ideias e é devido à participação nestas, mesmo que enquanto cópia
imperfeita, que se fez possível o mundo sensível. Ao contemplar a ideia do Bem, o homem passa a
sofrer as exigências do Ser, isto é, suas ações devem ser pautadas conforme a ideia contemplada.
A alma humana – de suma relevância para a ética platônica- é tripartite, isto é, forma-se pela
inteligência, pela irascibilidade e pela concupiscência. Tal como as partes da cidade ideal, cada
uma das partes da alma possui suas funções específicas que não podem ser exercidas por nenhuma
das outras partes. Cada uma das partes da cidade e, por analogia, cada uma das partes da alma,
possui uma função própria a qual pode ser executada com excelência ou não, e, ao executá-la com
excelência, sua virtude própria é exercida.
A virtude é definida, pois, como capacidade de realizar a tarefa que lhe é inerente. No caso do
governante da cidade e da alma racional, a virtude inerente aos mesmos é a sabedoria; no caso dos
guerreiro e da parte irascível da alma, a virtude que lhes é própria é a coragem; por fim, no caso da
parte concupiscente da alma e dos produtores de bens da cidade, a virtude própria é temperança.
Dada a posição de cada classe, pode-se definir a justiça como cada parte fazendo o que lhe
compete, conforme suas aptidões. Portanto, ao estabelecer uma relação de analogia entre a
sociedade e indivíduo, Platão define o conceito de justiça – o qual seria também concebido como
princípio de equilíbrio do indivíduo e da sociedade – e o liga ao conceito de virtude.
O sentimento de justiça é, pois, a virtude maior cujo valor ético guia as condutas dos homens. Para
que esta virtude seja alcançada, o homem deve buscar o bem em si mesmo, porque ele realiza o
ideal de justiça, tanto com relação ao bem individual quanto social.
A ética platônica ocupa-se com o correto modo de agir e a sua relação com o alcance da
felicidade. Contudo, o discurso ético apresentado na República acerca da felicidade relaciona esta
com o conceito de justiça. O problema da justiça enquadra-se no âmbito político, o qual tem
estreita relação com o campo da ética: é deste modo que surge a tese central de que só o justo é
feliz. No diálogo República, buscando a constituição da cidade ideal, surge o problema cerne
acerca da definição da justiça para que se pudesse, posteriormente, definir o que é a justiça tanto
no indivíduo quanto no Estado. Há, pois, um paralelo entre Estado e indivíduo a fim de que se
encontre a definição de justiça.
Para Platão, a sociedade seria como algo orgânico e bem integrado, como uma unidade construída
por vários elementos independentes, embora integrados. A cidade forma-se por três classes, como
já apontamos, e cada classe possui sua função específica. Deve-se notar que tais funções são
determinadas conforme as aptidões naturais de cada membro da cidade. O objetivo desta divisão é
mostrar com mais clareza como ocorre o mesmo na alma humana. A finalidade da cidade justa e
boa é, então, propiciar a felicidade do indivíduo ao viabilizar a prática de suas virtudes, de suas
aptidões específicas.
Devemos ter em mente que a virtude correspondente a cada classe da cidade e a cada parte da
alma humana deve ser ensinada visando a realização do ideal da polis. Esta educação embasa-se
no método dialético ascendente, o qual liberta o homem dos sentidos e o eleva até o mundo
inteligível, até o ponto mais claro do Ser, a ideia do Bem. Após contemplar o Bem diretamente, o
filósofo deve retornar à cidade que lhe propiciou educação de modo a guiar os outros cidadãos da
ignorância ao conhecimento racional.
As ideias – das quais se originam as cópias sensíveis – são, pois, existentes em si e por si, são
realidades universais, eternas, imutáveis. Por tais motivos, são os modelos a serem seguidos, são
paradigmas para a construção da cidade ideal e para a educação moral, política e espiritual do
homem. Além do mais, são ordenadoras do cosmos.
Platão afirmava que a alma humana era divisível em três partes. Uma delas é racional, a qual nos
faz buscar o conhecimento. Outra delas é irascível, sendo a responsável pela produção de
emoções. A terceira parte é apetitiva e está relacionada a busca do prazer. Platão entendia que
uma pessoa só pode tomar decisões corretas quando a parte racional da sua alma fala mais
alto. Normalmente quando nós somos guiados pelas nossas emoções ou pelo nosso desejo de
sentir prazer, nós acabamos sendo precipitados e inconsequentes.
O ser humano deve procurar aquilo que engrandece a sua alma e abrir mão das coisas materiais ou
dos prazeres. Dessa forma, podemos afirmar que, para Platão, o indivíduo ético é aquele que é
capaz de governar a si mesmo. Ou seja, é aquele que exercita a sua habilidade de autocontrole.
Nós só podemos agir de maneira ética quando nós damos ouvido ao nosso lado racional, o
qual nos ajuda a tomar decisões mais justas. O que significa deixarmos de agir motivados pelas
nossas emoções.
O bem numa visão ontológica platônica encontra-se no mundo das idéia, por isso, é necessário que
o homem por meio da educação recorde essa idéia que se encontra no mundo inteligível. O
individuo não nasce ético, contudo é por meio da intervenção do estado através da educação que o
individuo torna-se ético.
A ética tem por base a liberdade, por isso o individuo não nasce determinado para agir conforme
princípios categóricos, mas aprende-se a agir de maneira correta.
Por fim, a ética é produto da ação educacional na vida do homem, por meio da academia e da
tradição da polis.
De acordo com Platão, somos nós mesmos quem devemos decidir se almejamos purificar a alma e
adotar uma vida mais justa. Afirmou que seria preciso suspender o julgamento e, não tendo certeza
absoluta, seguir apenas o que é razoável. No lugar da busca da harmonia cósmica, a virtude passou
a ser a prática e então assim defende a ideia de que as nossas almas são a sede da consciência
moral. Além desse sentido individualista, Platão acredita que não só o indivíduo precisa encontrar
a felicidade, mas também essa felicidade deve se refletir na sociedade como um todo, a ética se
encontra no ambiente social.
Os seres humanos só podem ser felizes no seio de uma comunidade bem organizada. Em
conseqüência, o bom e o justo para o indivíduo não podem ser algo distinto do que se considere
bom e justo para o bem comum, para alcançar ou manter uma cidade feliz.
Em Platão, longe de ser um padrão estético, a beleza é a forma na qual o Bem Universal se
manifesta através da ação do sujeito ético em toda a sua transparência. Podemos lembrar daqueles
que tomaram atitudes que todos consideraram como nobres e belas.
Portanto, a Ideia de Bem apresenta três propriedades: a proporção ou medida, a beleza e
a verdade. A unidade do Bem definirá, nesta tríplice união, o horizonte da moral em Platão:
A medida – não se refere a uma ordem externa ao sujeito à qual ele deva se
conformar, mas designa uma certa atitude do sujeito, um modo de comportamento particular
que carrega um nome: a moderação.
A beleza – longe de ser um padrão estético, a beleza aparece aqui como forma na qual
o Bem Universal poderá se manifestar, pelos seus atos, em toda a sua transparência. Aqui
podemos lembrar daqueles sujeitos que tomaram atitudes que todos consideraram como
nobres e belas, encarnando em si mesmos o Bem Universal percebido imediatamente e
intuitivamente por todas as pessoas — eis aqui a articulação entre o Belo e o Bom. Por outro
lado, aquilo que é “feio”, desaconselhável e insensato são as atitudes tomadas por
aqueles que são ignorantes desse Bem Universal; são dados aos excessos, à vaidade e ao
descontrole, prejudicando a si mesmos e aos outros. Ou, como declarou Sócrates (o maior
herói dos diálogos platônicos): “O homem faz o mal porque é ignorante do Bem”.
A verdade – caracteriza o modo como o sujeito se fixa no projeto de se tornar sujeito
moral, de constituir para si uma existência digna do nome “boa”. Em outros termos, a verdade
designa o caráter de autenticidade daquele que busca para si uma existência moral através de
uma dialética que ocorre em sua própria experiência de vida. É, pois, aquele que pelas suas
atitudes e pelo seu discurso busca a verdade daquilo que é Belo e Bom, a conexão
primordial com o Bem Universal.
A articulação destes três princípios irá presidir a harmonização das diversas partes da vida
humana, ou seja, uma “medida determinada” que guia o homem em suas ações. A filosofia moral
de Platão está em total conformidade com sua Teoria das Ideias, a qual pressupõe um abandono
progressivo dos sentidos na apreensão da essência das coisas, tal como ocorre na sua Alegoria da
Caverna.
Para Platão a ética é necessária para conduzir o homem ao bem. Para Platão o homem não pode ter
uma vida de prazeres se pretende se tornar ético, e sim o homem deve ter uma vida focada no bem.
A ética platônica é baseada na ética de Sócrates. Para Platão a ética tem que ter por base a ordem,
o homem deveria ter um perfeito equilíbrio entre os prazeres e inteligência, assim as ações geradas
com esse equilíbrio geraria o bem, que para Platão é qualquer coisa que engrandeça a
alma(deixando de lado o prazer, riqueza e honra, buscando somente praticar a virtude).
-> Para Platão, a ética consiste na obtenção da felicidade. Contudo, tal felicidade não pode ser
somente subjetiva do indivíduo, mas também inerte à comunidade como um todo. Estabelece que
a felicidade é alcançada por meio do conhecimento. Para Platão a ética não é um dom da natureza
e deve ser rigorosamente educado, ou seja, o individuo não nasce ético, e sim graças a educação se
torna ético.
O homem justo é mais feliz, pois a sabedoria é a sua virtude natural, ele possui experiência acerca
dos prazeres e o único capaz de conectar este conhecimento com a experiência.
Ética Aristotélica:
Aristóteles defendia que a ética é a ciência prática do bem. E Bem é aquilo que todos desejam.
Não existe um único bem, este é relativo, é um modo de existência determinado pela natureza das
diferentes criaturas - por isso, ao agir, cada um deve tratar de forma igual o que é igual e de forma
desigual o que é desigual. Cada um procura alcançar o bem ao atuar, pelo que do bem depende a
autorealização do homem, a sua felicidade. O bem próprio do homem é a inteligência: o homem é
um animal racional. Por isso, o homem deve viver segundo a razão, de forma a alcançar as
virtudes, nomeadamente a sabedoria.
Aristóteles define a virtude, por oposição à mediocridade, como um hábito que torna bom quem o
pratica. As virtudes são ideais que o homem procura alcançar e que proporcionam o completo
desenvolvimento da humanidade, como, por exemplo, honestidade, coragem, generosidade, justiça
e prudência. Esses ideais são descobertos através da reflexão.
O tema principal da ética de Aristóteles é delimitar o que é o “bem” e o significado que ele tem
para o homem. Somente quem conhece o bem é capaz de encontrar a felicidade, que na filosofia
aristotélica não é um sentimento passageiro, e sim “obra de uma vida inteira”.
Em relação à ética, o bem leva cada indivíduo a ser capaz de viver com os outros, na polis. Em
outras palavras, a ética, no campo individual, prepara terreno para a política, no campo coletivo.
Para Aristóteles, a finalidade da política é a busca do bem de todos os homens.
A virtude é a expressão maior da excelência de uma pessoa, de sua integridade, de sua identidade.
A paixão, por outro lado, torna-a confusa, dividida entre desejos contrários, conflitantes, opostos.
Alguém sob o domínio da paixão pode inclinar-se ao vício, que é o excesso ou a falta da paixão. A
virtude é encontrar, pelo uso da razão, o meio-termo entre esses extremos, que Aristóteles chamou
de justo meio.
Todo o conhecimento e todo trabalho visam a algum bem, e o mais alto de todos os bens
certamente será a felicidade, dessa forma, devemos procurar o bem e indagar o que ele é, se existe
uma finalidade para tudo o que fazemos, a finalidade será o bem. O bem deve ser algo atingível
pelo homem, através de sua atividade, na prática, e não um “bem em si”, ideal e inatingível.
Devemos prosseguir do bem que é desejável por causa de outra coisa ao bem que sempre é
desejável em si: Parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este bem
supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa de algo mais. E a felicidade
não como uma forma abstrata, ideal, mas a felicidade como uma forma de viver bem e conduzir-se
bem. Consideramos bens aquelas atividades da alma, a felicidade identifica-se com a virtude, pois
à virtude pertence à atividade virtuosa.
Há duas espécies de virtudes: as intelectuais e as morais. As virtudes intelectuais são o resultado
do ensino, e por isso precisam de experiência e tempo; as virtudes morais, também chamada de
excelência moral, são adquiridas em resultado do hábito, da prática, elas não surgem em nós por
natureza, mas as adquirimos pelo exercício, tornamo-nos justos praticando atos justos.
A importância do desenvolvimento da excelência moral está relacionada com as ações e emoções,
e estas relacionadas com o prazer ou sofrimento, é a capacidade que se desenvolve para lidar com
as emoções e ações na relação direta com o prazer ou sofrimento, o bom uso da relação entre
ambos.
É pelos atos que praticamos, nas relações com os homens, que nos tornamos justos ou
injustos. Por isso, faz-se necessário estar atento para as qualidades de nossos atos; tudo depende
deles, desde a nossa juventude existe a necessidade de habituar-nos a praticar atos virtuosos.
Também nas virtudes, o excesso ou a falta são destrutivos, porque a virtude é mais exata que
qualquer arte, pois possui como atributo o meio-termo – mas é em relação à virtude moral; é ela
que diz respeito a paixões e ações, nas quais existe excesso, carência e meio-termo. O excesso é
uma forma de erro, mas, o meio termo é uma forma digna de louvor; logo, a virtude é uma espécie
de mediana.
A prática da virtude não se confunde com um mero saber técnico, não basta só o conhecimento
simples da virtude, exige-se a consciência do ato virtuoso, e tem como resultado a ação, é
necessário frisar a prática dos atos, o homem considerado justo deve agir por força de sua vontade
racional, e são três condições para que um ato seja virtuoso, a saber:
- Primeiro, o homem deve ter consciência da justiça de seu ato;
- Segundo, a vontade deve agir motivada pela própria ação;
- Terceiro, deve-se agir com inabalável certeza da justeza do ato.
As virtudes são disposições ou hábitos adquiridos ao longo da vida e se fundamentam na ideia de
que o homem deve sempre realizar o melhor de si, “é o habito que torna o homem bom e lhe
permite cumprir bem a sua tarefa”.
Para Aristóteles as virtudes morais como disposições ou atitudes para a ação, adquiridas
mediante o exercício e aperfeiçoadas pela prática. Daí a importância do hábito no
desenvolvimento desta excelência: as pessoas não nascem boas, mas nascem com a capacidade de
tornarem-se boas se desenvolverem as disposições apropriadas mediante a prática reiterada de
boas ações.
É pela prática dos atos justos que se gera o homem justo, é pela prática de atos temperantes que se
gera o homem temperante; é através da ação que existe a possibilidade de alguém tornar-se bom.
O homem bom, portanto, é aquele que exerce com sucesso suas funções se realizando, elevando
sua vida até a mais alta excelência de que é capaz, vivendo bem e feliz: “o bem para o homem
vem a ser o exercício ativo das faculdades da alma de conformidade com a excelência”.
Depende de nós praticarmos atos nobres ou vis, ou então, depende de nós sermos virtuosos ou
viciosos.
Fica esclarecido que as virtudes são voluntárias, porque somos senhores de nossos atos se
conhecemos as circunstâncias, e estava em nosso poder o agir ou o não agir de tal maneira. E esse
agir não é isolado, ou individual, é sempre agir em relação ao outro. Os vícios também são
voluntários, porque o mesmo se aplica a eles.
As Virtudes Morais:
Coragem – é meio-termo em relação ao sentimento de medo e de confiança, a bravura relaciona-
se com as coisas mais nobres como a morte na guerra, e bravo é aquele que se mostra destemido
em face a uma morte honrosa, os bravos, embora temam aquelas coisas que estão acima das forças
humanas, caracterizam-se por enfrentá-las como se deve; e aquele que diz não ter medo, que é
insensível ao que realmente é terrível, é o homem temerário, ele é um simulador de coragem,
porque deseja parecer corajoso; e aquele que excede no medo é covarde, porque ele teme o que
não deve temer, falta-lhe confiança e é dado ao desespero por temer certas coisas, a covardia e a
temeridade são a carência e o excesso e a posição correta é a bravura.
Temperança – é o meio-termo em relação aos prazeres e dores, as espécies dos prazeres com que
se relaciona são os prazeres corporais, Ao intemperante somente interessa o gozo do objeto em si,
no comer e beber e na união dos sexos. Por causa dos prazeres, a intemperança é, dentre os vícios,
a mais difundida; e é motivo de censura porque nos domina, não como homens, mas como
animais. O apetite é natural, mas o engano é o excesso. O excesso em relação aos prazeres é
intemperança e é culpável, porque, nesse estado, somos levados pelo apetite. Os apetites devem
ser poucos e moderados, e não podem opor-se, de modo algum, ao princípio racional. No homem
temperante, o elemento apetitivo harmoniza-se ao racional, o que ambos tem em mira é o nobre.
Liberalidade – é o meio-termo no dar e no receber dinheiro. O excesso é a prodigalidade e a
deficiência é a avareza.
Magnificência – é um meio-termo quanto ao dinheiro dado em grandes quantias; o excesso é a
vulgaridade e o mau gosto, a deficiência é a mesquinhez. A deficiência a essa disposição de
caráter é a mesquinhez; este fica aquém da medida em tudo, em tudo o que faz estuda a maneira
de gastar menos e lamenta até o pouco que tem. O excesso é a vulgaridade, porque gasta além do
que é justo. Por exemplo, dá um jantar de amigos na escala de um banquete de núpcias.
Justo Orgulho – é o meio-termo em relação à honra e à desonra. O excesso é a ‘vaidade oca’ e a
deficiência é a humildade indébita.
Calma – é o meio-termo em relação à cólera; aquele que excede é o irascível, o que fica aquém é
o pacato. Louva-se o homem que se encoleriza justificadamente, tal homem tende a não deixar-se
perturbar nem guiar-se pela paixão, mas ira-se da maneira, com as coisas e no tempo prescrito. A
deficiência é a pacatez, e essas pessoas não se encolerizam com coisas que deveriam excitar sua
ira; também são chamados de tolos e insensíveis. O excesso é o homem irascível, que encoleriza-
se com coisas indevidas e mais do que convém.
Justiça – nela faz-se necessário distinguir as duas espécies e mostrar em que sentido cada uma
delas é um meio-termo. A justiça é a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer
o que é justo e a desejar o que é justo. Dessa forma, a justiça é uma virtude completa ou é muitas
vezes considerada a maior das virtudes. É uma virtude completa por ser o exercício atual da
virtude completa, isto é, aquele que a possui pode exercer sua virtude sobre si e sobre o próximo.
Por isso se diz que somente a justiça, entre todas as virtudes, é o bem do outro, visto que é
possível fazer o que é vantajoso a um outro. O melhor dos homens é aquele que exerce sua virtude
para com o outro, pois essa tarefa é a mais difícil.
A justiça política divide-se em natural e legal. A natural é aquela que tem a mesma força em toda
parte; a legal é a justiça estabelecida, no tocante à justiça, cabe destacar que é o caráter voluntário
ou involuntário que determina o justo. O homem somente é justo quando age de maneira
voluntária, e se age involuntariamente não é justo nem injusto, a não ser por acidente.
A ética aristotélica inicia-se com o estabelecimento da noção de felicidade. Neste sentido, pode ser
considerada uma ética eudemonista por buscar o que é o bem agir em escala humana, o agir
segundo a virtude. A felicidade é definida como uma certa atividade da alma que vai de acordo
com uma perfeita virtude. Partindo dessa definição, faz-se necessário um estudo sobre o que é uma
virtude perfeita e, assim, faz-se necessário, também, o estudo da natureza da virtude moral.
Aristóteles define a virtude moral como disposição – já que não podem ser nem faculdades nem
paixões – para agir de forma deliberada e a disposição está de acordo com a reta razão. A virtude
moral consiste em uma mediania relativa a nós. Após estabelecer a virtude moral como uma
disposição – héxis – ou seja, como se dá o comportamento do homem com relação às emoções, há
ainda a necessidade de que a diferença específica entre virtude moral e virtude intelectual seja
explicitada.
Segundo o Estagirita, o que distingue as duas espécies de virtude é a mediania. A virtude
intelectual é adquirida através do ensino, e assim, necessita de experiência e tempo. A virtude
moral é adquirida, por sua vez, como resultado do hábito. O hábito determina nosso
comportamento como bom ou mau. É devido ao hábito que tomamos a justa-medida com relação à
nós. Logo, a mediania é imposta pela razão com relação às emoções e é relativa às circunstâncias
nas quais a ação se produz.
Ao propor a mediania como gênero de virtude moral, como regra moral, o Estagirita retornou à
sabedoria grega clássica porque esta indicava a mediania como a regra de ouro do agir moral. A
mediania tem o aspecto de não silenciar as emoções, mas buscar a proporção e, devido a essa
proporção, a ação será adequada sob a perspectiva moral e, concomitantemente, a ação ficará
ligada às emoções e paixões. De acordo com Aristóteles, a posição de meio é o que tem a mesma
distância de cada um dos extremos. Com relação a nós e sempre considerando nesse viés, meio é o
que não excede nem falta. Aqui fica evidente que o “meio” se dá em relação ao agente pois “não é
único e o mesmo para todos”
A virtude moral deve possuir a qualidade de visar o meio-termo por se relacionar com as paixões e
ações. Nas ações e paixões, por sua vez, existem a carência, o excesso e o meio-termo. As ações e
os apetites não tem, em sua natureza, algo que determine sua tendência para a falta ou para o
excesso. Por sua vez, a tendência à mediania expressa a virtude moral, expressa a excelência da
faculdade desiderativa da alma. O que nos faz tender à mediania é a educação e a repetição de atos
bons e nobres. Por conseguinte, o hábito é desenvolvido e visa a mediania. Esta, por sua vez, é
determinada por um princípio racional. Pode-se notar que, para Aristóteles, a virtude é uma
espécie de mediania que visa o meio-termo e que é vista como disposição de caráter que tem
relação com a escolha dos atos e das paixões.
A justa-medida é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria
prática. Assim, ao buscar pela essência da virtude, por sua definição, Aristóteles define-a como
mediania, ou ainda, “a mediedade é a quididade da virtude”.
A virtude é um meio-termo entre dois vícios. Um desses vícios envolve o excesso e o outro vício
envolve a carência. Logo, cabe à virtude e à sua natureza visar a mediania tanto nas ações –
embora algumas ações não permitem um meio-termo por seus próprios nomes já implicarem, em
si mesmos, maldade – quanto nas paixões. Um dos extremos – entre os quais a mediania se
localiza – é mais equivocado que o outro. Deve-se, portanto, estar atento aos erros para os quais
tem-se maior facilidade para ser arrastado. Pode-se saber para qual erro se é arrastado ao se
analisar o prazer e o sofrimento acarretado pelo mesmo. Ao descobrir para qual erro se tende mais,
deve-se ir em direção oposta, ao outro extremo para que se chegue ao estado intermediário e,
consequentemente, afastar-se do erro.
-> A virtude (areté) é a expressão maior da excelência de uma pessoa, de sua integridade, de sua
identidade. A paixão, por outro lado, torna-a confusa, dividida entre desejos contrários,
conflitantes, opostos. Alguém sob o domínio da paixão pode inclinar-se ao vício, que é o excesso
ou a falta da paixão. A virtude é encontrar, pelo uso da razão, o meio-termo entre esses extremos,
que Aristóteles chamou de justo meio.
Suponha-se alguém dominado pelo prazer (que, para Aristóteles, é uma paixão). Esse alguém pode
ser libertino (um dos extremos do prazer prazer em excesso) ou insensível (o extremo oposto: falta
de prazer), O justo meio, aqui, é a temperança, à qual se chega pelo uso da razão.
A virtude, assim, está ligada à razão. E, como todo homem é dotado de razão, todo homem pode
alcançar a virtude. Basta identificar a paixão que o domina, reconhecer seus extremos e procurar,
racionalmente, o seu justo meio.
A maior de todas as virtudes, diz Aristóteles, é a justiça. Sua força sobre as demais consiste em
sua perfeição, porque quem é justo projeta-se mais para o outro do que para si mesmo. Em outras
palavras, tudo que protege o conjunto dos indivíduos (a sociedade) é mais importante do que
aquilo que protege somente um dos membros dessa sociedade, Por isso, dos males, a injustiça é o
maior, pois destrói o tecido social.
Platão defendia o Inatismo, nascemos como princípios racionais e ideias inatas. A origem das
ideias segundo Platão é dado por dois mundos que são o mundo inteligível, que é o mundo que
nós, antes de nascer, passamos para ter as ideias assimiladas em nossas mentes. Quando nós
nascemos no mundo conhecidos por todos, o mundo em que vivemos, denominado por Platão
como mundo sensível nós já temos as ideias formuladas em nossas mentes mas muito guardadas
que para serem utilizadas é necessário “relembrar” as ideias já conhecidas através do mundo
inteligível.
Para Platão existem quatro formas ou graus de conhecimento que são a crença, opinião, raciocínio
e indução. Para ele as duas primeiras podem ser descartadas da filosofia pois não são concretas,
sendo as duas últimas são as formas de fazer filosofia. Para Platão tudo se justifica através da
matemática e através dessa que nós chegamos a verdadeira realidade.
Para Platão o conhecimento sensível (crença e opinião) é apenas uma da realidade, como se fosse
uma visão dos homens da caverna do texto “Alegoria da Caverna” e o conhecimento intelectual
(raciocínio e indução) alcança a essência das coisas, as ideias.
Ao contrário de Platão, Aristóteles defendia que a origem das ideias é através da observação de
objetos para após a formulação da ideia dos mesmos. Para Aristóteles o único mundo é o sensível
e que também é o inteligível.
Aristóteles diz que existem seis formas ou grau de conhecimento: sensação, percepção,
imaginação, memória, raciocínio e intuição. Para ele o conhecimento é formado e enriquecido por
informações trazidas de todos os graus citados e não há diferença entre o conhecimento sensível e
intelectual, um é continuação do outro, a única separação existente é entre as seis primeiras formas
e a última forma pois a intuição é puramente intelectual, mas isso não quer dizer que as outras
formas não sejam verdadeiras mas sim formas de conhecimento diferentes que utilizam coisas
concretas.
Platão era um mestre da linguagem literária e da construção de alegorias. Os seus livros tinham
uma estrutura narrativa, pois ele escrevia na forma de diálogos, normalmente protagonizados por
Sócrates, que foi o seu mestre.
Já os escritos de Aristóteles são grandes compilações das aulas que ele proferiu em sua escola (o
Liceu), quando voltou a Atenas, com cerca de 50 anos de idade. Embora essas anotações muitas
vezes não formem um discurso linear, elas se tratam da primeira grande tentativa de
sistematização do conhecimento.
Mas a grande diferença entre Platão e Aristóteles não estava apenas no estilo da escrita, mas
em suas linhas de interesses. Platão era um estudioso da matemática, e sua capacidade de
abstração permitiu que ele formulasse os conceitos metafísicos que constituem o seu maior legado.
Já Aristóteles era concentrado no mundo empírico, nos dados da experiência. Diversamente de seu
mestre Platão, ele foi um grande naturalista, um conhecedor dos fenômenos físicos, com interesses
que hoje seriam entendidos como científicos, e não filosóficos.
Tal como Platão, Aristóteles também valoriza o estudo da metafísica, vista como o conhecimento
das causas primeiras, dos princípios primeiros e imutáveis, do ser enquanto ser. Porém, as chaves
de compreensão utilizada por Aristóteles não apontam para a pressuposição de um arquétipo fora
do mundo físico, e sim para um estudo das características intrínsecas do próprio ser. Assim, a
metafísica aristotélica assume a forma de uma ontologia, ou seja, de um estudo acerca do ser
(ontos em grego).
O que é epicurismo?
Chamamos de epicurismo o sistema filosófico que prega a necessidade da busca pelos prazeres
moderados de forma a atingir um estado de libertação do medo, ausência do sofrimento corporal e
tranquilidade, pois quando os desejos são exaltados e exacerbados, podem causar perturbações
constantes. Isso impediria o alcance da verdadeira felicidade, que só pode ser alcançada por meio
da saúde do corpo e serenidade do espírito.
Para Epicuro, a filosofia era o melhor caminho para alcançar a felicidade, pois isso refletia na
libertação dos desejos, e acreditava que o prazer estava ligado tanto ao início como ao fim de uma
vida feliz.
Acreditava na existência de duas formas de prazer: a primeira, é o prazer estável que se alcança
com a ausência da dor e da perturbação; a segunda, da alegria e do gozo, situação em que o
homem pode acabar se tornando escravo do prazer, e vivendo uma vida infeliz.
Ética Epicurista
Epicuro e a sua doutrina surgiram em um momento de insatisfação com a condição das Cidades-
Estados gregas, onde predominava a injustiça social e a concentração do poder nas mãos da
aristocracia urbana. Todos encontravam-se infelizes, e as pessoas interessavam-se principalmente
pelas riquezas e poder. A religião tornou-se alto cercado de mitos e rituais sem significado, além
de aumentar a crença e a procura por oráculos e adivinhações. Apoiando-se em coisas supérfluas
copo poder e dinheiro, as pessoas eram apenas relativamente felizes, esquecendo do que realmente
é importante para chegar à verdadeira felicidade. Tendo isso em mente, Epicuro criou a sua
doutrina indo contra essas superstições e aos bens materiais, de forma a mostrar qual era o real
caminho para a felicidade.
De acordo com ele, a felicidade é alcançada por meio do controle dos medos e desejos, de modo a
chegar à ataraxia, que representa um estado estável de prazer e equilíbrio, tranquilidade e ausência
de perturbações. Ainda segundo Epicuro, possuir bens materiais limitados e não obter cargos
públicos ocasionariam em uma vida plena e feliz, com tranquilidade interior. Epicuro criou quatro
remédios que seriam necessários para alcançar a felicidade:
Não temer os deuses;
Não temer à morte;
O bem não é difícil de alcançar;
E os males não são difíceis de suportar.
A primeira tarefa, então, na busca da felicidade, deve ser a consideração da natureza dos deuses, a
busca de compreendê-los, pois, segundo a crença da maioria dos gregos, os deuses causariam
malefícios e benefícios aos humanos. Isso, aparentemente, não parece implicar algum problema,
mas, considerando-se atentamente, essa afirmação contém dois desdobramentos:
(a) a ideia de que os deuses se ocupam com os seres humanos;
(b) a ideia de que, quando alguém sofre uma desgraça ou um sucesso, isso se deve a uma
retribuição divina, e não ao próprio indivíduo.
Se se levar esta análise ao extremo, ver-se-á que os deuses terminam por inspirar medo nos
humanos. Como, porém, caminhar para a felicidade se se tem medo?
O princípio que leva Epicuro a esclarecer a natureza dos deuses é a necessidade de que, para que
eles sejam deuses, sejam também incorruptíveis (theòn áphtarton), ou seja, não submissos às
mudanças da natureza física. Caso sejam mutáveis, situar-se-ão no nível da natureza física, e, por
isso, perderão a natureza divina. Se é assim, os deuses não podem sequer ter contato com o mundo
físico, pois este é inadequado à sua natureza divina. Como no caso do primeiro motor imóvel de
Aristóteles, que não pode sequer saber da existência do mundo sublunar (uma vez que o perfeito
não poderia conter o imperfeito, nem sob a forma de coisa conhecida), também para Epicuro os
deuses não podem sequer saber da existência da realidade mutável, pois eles, que são imutáveis
(porque divinos) conteriam a mutabilidade, ao menos sob a forma de conhecimento. Por isso, os
deuses não fazem senão entreter-se entre si, na convivência com seus semelhantes, sem se ocupar
com os humanos. Ao criticar a visão popular dos deuses e ao propor uma outra concepção,
Epicuro afirma que os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em prolepses, ou seja,
em imagens inatas ou nascidas das percepções e formadas no espírito humano a partir da repetição
dessas percepções ou do reconhecimento dessas percepções. Essas imagens chamam-se
Antecipações (prolépseis) porque nos permitem conhecer antecipadamente tanto as formas como
os caracteres próprios das coisas, sem que seja necessário tê-las diante de nós e percebê-las
atualmente: antecipamos os caracteres e as formas que as coisas nos manifestarão quando, através
da sensação, como num esquema atomista, encontrarmo-nos novamente com elas.
Numa palavra, Epicuro não pôs em questão a existência dos deuses. Para ele, seria um
contrassenso negá-la, pois o mundo não parece explicar-se sem os deuses. O que, então,
interessou-lhe esclarecer é que, num cosmo material, os deuses têm de ser distintos da natureza e
destacar-se dela.
Ora, essa concepção dos deuses levou à anulação do primeiro desdobramento contido na visão que
a maioria dos gregos tinha sobre o divino. Mas também anulou automaticamente o segundo
desdobramento, que associava os malefícios e os benefícios humanos a retribuições divinas. Numa
palavra, se os deuses não se ocupam dos humanos, não são eles que retribuem pelas ações
humanas, dando recompensas ou punições. Como corolário, obtém-se uma primeira e fundamental
lição da ética epicurista: a responsabilidade pelo estado atual da vida de cada indivíduo
pertence a ele mesmo, pois não há retribuição divina que o faça feliz ou sofredor. Felicidade e
sofrimento serão consequências de seu modo de vida. Como segunda consequência direta, também
se anula qualquer temor com relação aos deuses, o que é fundamental para a busca da felicidade,
segundo Epicuro, pois é inconcebível ser feliz com medo.
Afastado o medo dos deuses, por meio da consideração da natureza deles, restaria ainda aos
humanos a morte como aguilhão provocador de medo. Por isso, àquele que busca a felicidade cabe
investigar também a natureza da morte, a fim de saber se ela deve ou não despertar tal medo.
A compreensão da morte como nada decorre diretamente da associação epicurista entre ser e
natureza física. Ora, a morte é a cessação da vida física ou o aniquilamento do indivíduo no
dinamismo da phýsis, de maneira que não há sofrimento nela, afinal, sofrimento e prazer, mal e
bem, residem nas sensações. Como a morte implica privação de sensações, não se pode pensar que
ela acarrete algum sofrimento aos indivíduos. Por conseguinte, o sábio, aquele que se aplica a
refletir sobre a natureza da morte, não terá nada a temer.
A estratégia central de Epicuro para analisar o prazer consistiu em associá-lo com a completude
indicada acima, ou seja, a posse da saúde do corpo e da serenidade da alma. O núcleo dessa
completude seria o prazer porque, na posse da completude, os humanos ficam satisfeitos e não
sentem necessidade de nada; ao passo que, sofrendo qualquer ausência, passa-se a sentir
necessidade de prazer. Assim, dizer que, para Epicuro, buscar a felicidade significa buscar o
prazer equivale a dizer que buscar a felicidade significa buscar a posse da saúde do corpo e da
serenidade de alma. Esse é o bem primeiro e próprio dos indivíduos humanos.
Epicuro esclareceu que esse é o verdadeiro bem, o verdadeiro prazer, e explicou que nem sempre
o prazer é aquilo que geralmente se toma por ele. Assim, há ocasiões em que evitamos prazer
quando deles advêm efeitos desagradáveis, ao passo que muitos sofrimentos são preferíveis aos
prazeres quando um prazer maior pode advir caso se suporte a dor do sofrimento. É a ponderação
dos prazeres e sofrimentos, segundo o critério dos benefícios e danos, que garante ao indivíduo a
posse da felicidade.
O sábio, então, seria o prudente, aquele que não atribui sua sorte aos deuses, mas, embora os
venere, entende que o seu estado de vida depende da sua escolha prudente, baseada, como se viu
acima, na busca do prazer e na perscrutação dos desejos. Por conseguinte, em linguagem moderna,
parece possível dizer que o sábio será aquele que assume a sua responsabilidade moral sobre a
existência, pois deixa de atribuir aos deuses a sua sorte. O sábio entende que há alguns eventos
necessários na natureza, outros casuais e outros que dependem de nós. Ele não aceita nenhum
determinismo ético, tal como subjaz à noção de destino, muito comum no mundo antigo. Epicuro,
ao contrário, embora seja um naturalista em termos metafísicos, não admite nenhum determinismo
moral.
Não há dúvida de que é inteiramente correto chamar a ética epicurista de “ética do prazer”, como
vimos acima, mas chamá-la de “ética da prudência” permite acentuar o esforço de Epicuro no
sentido de esclarecer que sua ética não consiste num hedonismo vulgar, mas numa ética que gire
em torno de dois valores centrais: a saúde física e a serenidade interior. Ocorre, porém, que, ao
aprofundar o sentido do prazer, Epicuro se viu instado a fazer de uma virtude outro valor central
de sua ética: a prudência (phrónesis), a sábia medida do prazer. Ora, se é assim, pode-se perguntar
se é o prazer que ocupa, de fato, o lugar central da ética epicurista, ou se este lugar é ocupado pela
prudência, assim como o fora para Aristóteles?
Seja como for, a ética de Epicuro ou do epicurismo é inconfundivelmente clássica, situada em
continuidade direta com a tradição que remonta a Platão e Aristóteles, a respeito da sua crítica à
metafísica desses filósofos.
O alcance da virtude
Epicuro acreditava que com os remédios citados acima, seria possível cultivar os pensamentos
positivos que permitiriam uma vida feliz e filosófica baseada em uma ética. Um sábio deve ser
forte e saber suportar a dor que será breve, e que mesmo que não seja breve, é sempre suportável.
De acordo com a ética da filosofia epicurista, a virtude subordinada ao prazer somente poderá ser
alcançada:
Pela inteligência, uma vez que prudência e ponderamento evitam a dor;
Raciocínio, pois por meio dele reflete-se sobre os ponderamentos levantados, reconhecendo
qual entre os prazeres é mais vantajoso, analisar qual deve ser suportado, entre outros.
Autodomínio – evita o que é supérfluo, como bens materiais, cultura sofisticada e participação
política;
Justiça – deve ser buscada pelos frutos que produz, pois foi estipulada para que não haja
prejuízo entre os homens.
Além disso, o prazer é um bem absoluto, quando usado como forma de suprimir a dor, pois não se
pode adicionar à ele outras formas de prazer; pelo autodomínio, evitando aquilo que é supérfluo
como o poder, os bens materiais, participação na política e cultura sofisticada, por exemplo; e,
finalmente, pela justiça. Esta foi estipulada para que não houvesse prejuízo e injustiça entre os
homens, e por isso deve ser buscada para alcançar seus resultados.
A moral epicurista
Epicuro sempre pregou como meta de sua filosofia, a felicidade das pessoas, e acreditava que a
amizade era o melhor dos sentimentos, proporcionando a correção de falhas. A sua moral, então,
baseia-se na propagação das ações, pois ele não apenas discutiu sobre as normas da moralidade
como sento o sentimento e o prazer, definindo a ética como a felicidade diretamente ligada ao
prazer, mas viveu tudo aquilo que dizia.
O que é o estoicismo?
O estoicismo é uma tradição filosófica que prega uma ética da busca da vida boa e a felicidade.
Desse modo, os estoicos também definem o que é essa vida.
Conforme o estoicismo, sábio e feliz é o indivíduo que consegue se sintonizar com o fluxo dos
acontecimentos sem se abalar com nenhuma adversidade. Logo, ele não deve precisar de nada a
mais – assim, nada também trará insatisfação.
Por essa razão, essa é uma filosofia que valoriza a conexão prática das suas ideias, ao invés de
focar em questões estritamente intelectuais.
Os estóicos defendiam que a ética decorre de uma lei natural universal. Para os estóicos, a vida
feliz é a vida virtuosa, conforme com a Natureza, conforme a razão. Defende que o fundamental é
viver com retidão, lutando contra as paixões. Aspetos fundamentais da doutrina estóica são
também a compreensão, o cosmopolitismo (o homem como cidadão do mundo) e a igualdade de
todos os homens.
Os esforços na ética estoica, assentam-se na eudaimonia – a felicidade proveniente da vida
racional, pelo exercício da virtude. Não se trata, assim, de uma entrega sem critérios às paixões,
mas a um exercício do autoconhecimento, do “conhece-te a ti mesmo” para que, reconhecendo o
seu lugar no mundo, o homem possa se apegar ao necessário e desprender-se do supérfluo. Em
outras palavras, não se permitir o apego apaixonado às coisas que ontologicamente não lhe
pertence.
O imperativo desta ética é seu caráter obediente a uma lei natural. Tudo o que é transmitido pelo
filósofo deve assumir a responsabilidade, explicitamente, de correspondência entre aquilo que
fazemos e leis que promulgamos com uma realidade além do gênero humano, uma espécie de
ordenamento imanente à natureza (physis). Se o homem deseja ser feliz, para um estoico, é
necessário que aceite seu destino como um curso natural inerente à sua existência, e combata as
paixões em vista de não perder a tranquilidade da sua alma.
A ideia de uma lei que seja natural, isto é, uma ordem que esteja no fulcro da natureza, subjacente
a ela, trata-se de um conceito amplamente discutido em toda a história da filosofia e
profundamente estudado no âmbito do direito natural. A concepção desta ordem é de que,
intrínseca a toda a realidade que vemos, existe algo racional que a tudo ordena e promove, e que é
orgânico. Se assim o for, a questão que emerge é se é possível ao homem se opor a toda essa
dança universal, indo contra a natureza. Um segundo dilema é se essa lei natural realmente existe
ou aludiria a uma crença do homem em algo superior, já que foge de seu controlo.
O Estoicismo, baseado numa ética rigorosa de acordo com a leis da natureza, assegurava que o
universo era governado por uma razão universal divina. Dessa forma, para os estoicos, a felicidade
era encontrada na dominação do homem ante suas paixões (considerada um vício da alma) em
detrimento da razão. Os estoicos cultivavam a perfeição moral e intelectual inspirada no conceito
de “Apathea”, que significa a indiferença em relação a tudo que é externo ao ser.
Deontologia
Deontologia, deriva do grego deon ou deontos/logos e significa o estudo dos deveres. Emerge da
necessidade de um grupo profissional de autoregular, mas a sua aplicação traduz-se em
heteroregulação, uma vez que os membros do grupo devem cumprir as regras estabelecidas num
código e fiscalizadas por uma instância superior (ordem profissional, associação, etc.).
O objetivo da deontologia é reger os comportamentos dos membros de uma profissão para
alcançar a excelência no trabalho, tendo em vista o reconhecimento pelos pares, garantir a
confiança do público e proteger a reputação da profissão.
Trata-se, em concreto, do estudo do conjunto dos deveres profissionais estabelecidos num código
específico que, muitas vezes, propõe sanções para os infratores. Melhor dizendo, é um conjunto de
deveres, princípios e normas reguladoras dos comportamentos exigíveis aos profissionais, ainda
que nem sempre estejam codificados numa regulamentação jurídica. Isto porque alguns conjuntos
de normas não têm uma função normativa (presente nos códigos deontológicos), mas apenas
reguladora (como, por exemplo, as declarações de princípios e os enunciados de valores).
Diversas profissões apresentam códigos de conduta para orientar os profissionais quanto a uma
atuação ética e comprometida. Assim, as pessoas que exercem a carreira conseguem compreender
quais são as regras básicas que regem a atuação. Essa também é uma forma de proteger a
população em geral.
Afinal, a ética é indispensável em qualquer área, e as pessoas que têm contato com os
profissionais merecem ser tratadas com respeito.
Neste sentido, a deontologia é uma disciplina da ética especialmente adaptada ao exercício de uma
profissão. Em regra, os códigos de deontologia têm por base grandes declarações universais e
esforçam-se por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o às particularidades de
cada profissão e de cada país. As regras deontológicas são adoptadas por organizações
profissionais, que assume a função de "legisladora" das normas e garante da sua aplicação.
Os códigos de ética são dificilmente separáveis da deontologia profissional, pelo que é frequente
os termos ética e deontologia serem utilizados como sinónimos, tendo apenas origem etimológica
distinta. Muitas vezes utiliza-se mesmo a expressão anglosaxónica professional ethics para
designar a deontologia.
Ética Cristã
Ética cristã são os princípios estabelecidos e considerados pela Igreja Católica, com o objetivo de
tornar os ensinamentos da Igreja como padrões para agir na sociedade, nos relacionamentos
interpessoais e na vida. É um grupo de princípios morais fundamentado na Palavra de Deus. Esses
princípios instruem o homem sobre como ele deve viver a sua vida neste mundo, de uma forma
que agrade a Deus. A ética cristã regulamenta o relacionamento do homem com o próximo e
consigo mesmo. Os fundamentos da ética cristã podem ser vistos do começo ao fim das Escrituras.
Um dos maiores instrumentos para representar a ética cristã é a Bíblia. É através dela que os fiéis
podem se guiar para saber como agir com a ética estabelecida pela Igreja Católica. Uma vez que a
ética é o estudo das questões relativas às ideias e normas de conduta na sociedade, a ética cristã é a
regulamentação dessas normas sob o prima cristão.
Um exemplo desse padrão pode ser encontrado de forma sintetizada nos 10 mandamentos no
Antigo Testamento, e no sermão da montanha no Novo Testamento.
Os princípios da ética cristã
Os princípios da ética cristã são extraídos das Escrituras Sagradas. A Bíblia é a infalível e
inerrante Palavra de Deus, ou seja, o próprio Deus se revelou nas Escrituras. Por isso ela inspira e
possui autoridade plena para exortar, corrigir, ensinar e guiar o homem num modo de vida de
acordo com a vontade do Senhor.
A objecção da justiça
Um crime horrível ocorreu numa cidade. O chefe da polícia descobriu que o assassino está morto.
Todavia, ninguém acreditará nele caso apresente os indícios conclusivos que tem em sua posse. O
estado de pânico na cidade é incontrolável. Rapidamente um suspeito terá de ser julgado e
condenado. Se tal não acontecer, revoltas semearão o caos e a violência. Haverá certamente
mortos e feridos.
Estava o angustiado chefe da polícia a pensar no caso e eis que entra no seu gabinete um
desconhecido que lhe diz vaguear pela cidade e não ter relações ou amizades que o prendam ao
mundo. O chefe da polícia tem de repente a solução para o caso. Por que não prender o vagabundo
solitário e manipular as provas de maneira a que ele seja julgado, condenado e executado, uma vez
que a lei estabelece a pena de morte para casos do género? Ninguém saberá o que de facto se
passou. Se for esta a opção, morrerá uma pessoa mas a vida e o bem-estar de outras serão
preservados. A consequência será claramente mais felicidade para o maior número. Ora, se o
utilitarismo for verdadeiro, esta é a opção certa. Mas será esta a opção justa? Não haverá aqui um
conflito muito sério entre o padrão utilitarista e o valor da justiça? Se para ti o valor da justiça é
mais importante que o Princípio da Maior Felicidade, verás nesta história uma razão para rejeitar o
utilitarismo de Mill.
A objeção da integridade
Esta objecção foi formulada por Bernard Williams, um importante filósofo moral. As histórias em
que se baseia poderiam passar-se contigo. Os dilemas que elas apresentam são genuínos e não
deixam pessoa alguma indiferente.
George fez um doutoramento em química mas não tem emprego. A sua saúde frágil limita as
opções de trabalho. Tem dois filhos. É o trabalho da sua mulher que garante a subsistência de uma
família que vive dificuldades e tensões. Os filhos ressentem-se de tudo isto e tomar conta deles
tornou-se um problema. Mas um dia um químico mais velho propõe-lhe um emprego num
laboratório que faz investigação em guerra química e biológica. George é contra este tipo de
guerra. Já a sua mulher nada vê de incorrecto na investigação em questão. Quer aceite quer não, a
investigação prosseguirá. George não é realmente necessário.
Os acasos de uma expedição botânica atiram Jim para o centro de uma aldeia sul-americana. De
repente, vê à sua frente uma série de homens atados e alinhados contra uma parede. Estão prestes a
ser fuzilados. Mas tudo dependerá de Jim. Por cortesia, o capitão que comanda as operações
concede a Jim o privilégio de matar um dos índios. Se o fizer os outros serão libertados. Se recusar
a proposta, todos os índios morrerão.
Segundo a teoria moral de Mill, George deve aceitar o emprego e Jim deve matar o índio. Não se
trata apenas de dizer que nada há de errado nisso, mas de afirmar que essas são as opções
correctas. E óbvias. Mas será que são realmente correctas e óbvias? Serão as considerações
utilitaristas as únicas relevantes para tratar destes casos? Se a tua resposta for não, é porque te
sentes especialmente responsável não só pelo que és, mas também pelo que deves ser, pelo tipo de
pessoa que deves ser. E nesse caso é a tua integridade que está em jogo. Se admitires que uma
teoria ética não pode limitar-se a ponderar consequências e terá de incluir considerações sobre o
tipo de pessoa que devemos ser, o utilitarismo de Mill é claramente insatisfatório.
Como o utilitarismo tem de pesar as boas e as más consequências umas em relação às outras e essa
avaliação pode depender de detalhes subtis, poucas são as regras gerais que ele aprova. Regras
como “Não mintas” ou “Cumpre promessas” até podem aplicar-se em muitos casos, mas por vezes
são maneiras de fugir às questões e de evitar pensar seriamente sobre elas. Quebrar promessas
ocasionalmente pode parecer geralmente repulsivo, mas há alguns casos em que parece
intuitivamente correcto quebrar promessas.
Resumindo:
O Princípio da Utilidade: Devemos agir de modo a que da nossa ação resulte a maior felicidade ou
bem-estar possível para as pessoas por ela afetadas. Uma ação boa é a que é mais útil, ou seja, a
que produz mais felicidade global ou, dadas as circunstâncias, menos infelicidade. Quando não é
possível produzir felicidade ou prazer devemos tentar reduzir a infelicidade. O princípio da
utilidade é por isso conhecido também como princípio da maior felicidade.
Ética Consequencialista: Considera–se que a ética de Mill é consequencialista porque defende que
o valor moral de uma ação depende das suas consequências. É boa a ação que tem boas
consequências ou dadas as circunstâncias melhores consequências do que ações alternativas.
Não há ações particularmente boas. Para o utilitarista, as ações são moralmente corretas ou
incorretas conforme as consequências: se promovem imparcialmente o bem-estar, são boas. Só as
consequências as tornam boas ou más. Assim sendo, não há, para o utilitarista, deveres que devam
ser respeitados em todas as circunstâncias. Não há deveres morais absolutos.
Teoria Ética Hedonista: Todas as atividades humanas têm um objetivo último, isto é, são meios
para uma finalidade que é o ponto de convergência de todas. Esse fim é a chamada felicidade ou
bem-estar. Procuramos em todas as atividades a que nos dedicamos viver experiências aprazíveis e
evitar experiências dolorosas ou desagradáveis. Esta perspectiva que identifica a felicidade com o
prazer ou o bem-estar tem o nome de hedonismo.
Os Fins e os Meios: Para Mill, o fim – a felicidade geral – justifica os meios. Na teoria utilitarista,
há uma prioridade dos fins da ação em relação aos meios. Para ele, é suficiente que a felicidade
produzida com a ação seja superior ao sofrimento eventualmente provocado com a sua realização
para que a ação tenha valor moral. É neste sentido que há uma prioridade dos fins da ação, da
maximização da felicidade para o maior número, sobre os meios, mesmo que a ação produza
sofrimento a algumas pessoas.
Utilitarismo e Egoísmo: O egoísta é parcial. Devemos procurar agir de forma a promover
unicamente o nosso próprio bem-estar e felicidade. Esta é para o egoísta ético a única forma
moralmente válida de ação. Devemos procurar agir de forma a promover a felicidade de todos os
que são afetados pela ação (incluindo a felicidade do próprio agente). A minha ação é correta se
promover de forma imparcial (ou seja, sem distinções) os interesses de todas e cada uma das
pessoas implicadas pela ação, sendo o interesse de cada pessoa a obtenção da felicidade.
O utilitarismo, como uma filosofia moral, coloca o prazer no centro das atenções, argumentando
que as ações seriam boas na medida em que aumentam a felicidade e reduzem o sofrimento, e
seriam más se provocassem o contrário. Ainda assim, os primeiros utilitaristas não entravam em
acordo se os tipos de prazer tinham de ser ranqueados. Jeremy Bentham acreditava que todas as
fontes de prazer têm igual importância.
O seu discípulo John Stuart Mill discordava dele e estabeleceu uma distinção entre prazeres
superiores e inferiores. Prazeres mais elevados dependem de capacidades distintamente humanas,
que têm um elemento cognitivo mais complexo, exigindo habilidades como pensamento racional,
autoconsciência ou uso da linguagem. Prazeres inferiores, por contraste, exigem mera senciência.
Humanos e outros animais gostam de se aquecer ao sol, comer algo saboroso, etc. Apenas os
humanos se envolvem em arte, filosofia e assim por diante.
Mill certamente não foi o primeiro a propor esta diferenciação. Aristóteles, entre outros,
acreditava que os sentidos do tato e do paladar eram “servis e embrutecedores”; os prazeres do
comer eram “como os brutos também compartilham” e bem menos valiosos que aqueles que
dependem de uma mente humana mais desenvolvida. No entanto, muitos continuariam ao lado de
Bentham, afirmando que, na verdade, não somos tão intelectuais ou elevados assim, e que também
podemos nos aceitar enquanto brutos que somos, moldados pela bioquímica e pelos impulsos
animais.
Todos os animais se alimentam, usando os sentidos do olfato e do paladar. Não requer nenhuma
cognição complexa para concluir que algo é delicioso. Filósofos geralmente assumem que sentir
prazer em comer é saciar um desejo primitivo. Então, por exemplo, Platão acreditava que cozinhar
nunca poderia ser considerado uma forma de arte, porque “nunca considera nem a natureza nem a
razão desse prazer ao qual se dedica, mas se encaminha direto ao seu fim”.
Brillat-Savarin criou uma distinção entre a mera alimentação animal, que é a ingestão de comida
como combustível, e o ato humano de comer, que pode e deve envolver mais do que um desejo
carnal básico. Comer é um ato complexo. Juntar ingredientes simplesmente exige raciocínio, já
que o que compramos exige não só planejamento mas afeta o bem-estar de criadores, produtores,
animais e o planeta. Cozinhar envolve o conhecimento de ingredientes, a aplicação de talentos, o
balanço de diferentes sabores e texturas, considerações sobre nutrição, atenção ao ordenamento
das refeições ou ao lugar de uma comida no ritmo do dia. Comer, no seu melhor, reúne todas essas
coisas, acrescentando uma apreciação estética sobre o resultado final.
Mill estava certo, portanto, em acreditar que prazeres vêm em formas superiores e inferiores, mas
errado em acreditar que podemos distingui-los com base naquilo em que sentimos prazer. O
importante é como os apreciamos, o que significa que prazeres superiores ou inferiores não são
categorias distintas, mas formam um contínuo. Penso que a persistência dessa falsa distinção entre
prazeres superiores/inferiores decorre do fato de que algumas coisas são mais passíveis de
apreciação elevada do que outras. A arte é tipicamente apreciada de maneiras que envolvem a
mente, comida muitas vezes é consumida de forma animalesca.
O erro também trai uma visão falsa da natureza humana, que enxerga nossos aspectos intelectuais
ou espirituais como atributos que verdadeiramente nos tornam humanos, e nossos corpos como
veículos embaraçosos para carregá-los. Quando aprendemos a ter prazer nas coisas corporais de
maneiras que envolvem nossos corações e mentes, assim como nossos cinco sentidos, desistimos
da ilusão de que somos almas presas em bobinas mortais e aprendemos a ser totalmente humanos.
Nós não somos nem anjos acima dos prazeres do corpo nem bestas grosseiras seguindo-os
servilmente, mas todos psicossomáticos que trazem coração, mente, corpo e alma para tudo o que
fazemos.
Natureza econômica
Smith alegava que a economia se move pelo interesse pessoal das pessoas. Por exemplo, um
empregado não levanta todos os dias de manhã porque ama o seu emprego, mas sim porque
precisa do trabalho para viver. No entanto, com essa atitude, ajuda a sociedade, e graças ao seu
esforço, os seus dependentes também são beneficiados. Ou seja, mesmo que não fosse intencional,
o egoísmo das pessoas leva ao bem comum.
A mão invisível
Esse é, talvez, um dos ideais mais conhecidos de Adam Smith – tornando-se uma das ideias
económicas mais famosas e o lema do liberalismo económico. Smith utiliza essa metáfora para
explicar que a “mão invisível” leva os seres humanos a preferirem produtos nacionais do que
estrangeiros, por exemplo. Outro exemplo que ele defendia era sobre o facto de os ricos não
conseguem consumir toda a riqueza que possuem. Assim, mesmo quando utilizam o seu dinheiro
para interesses pessoais, seja comprando bens ou abrindo negócios, essa riqueza acaba sendo
distribuída naturalmente pela mão invisível ao resto da população, atingindo um equilíbrio
económico.
A Economia estuda a maneira pela qual a sociedade distribui os recursos limitados da Terra para
os insaciáveis apetites dos seres humanos e, nesse cenário, a “oferta” e a “demanda” (procura) são
as forças atuantes.
Naquilo que é chamado de “ponto de equilíbrio”, o preço de mercado permite que a quantidade
oferecida seja igual à quantidade demandada. Dessa forma, os fornecedores ficam dispostos a
vender, os consumidores dispostos a comprar e a oferta se iguala à demanda por um determinado
preço.
Estruturas de Mercado
Num mercado competitivo existem forças que atuam movendo a oferta, a demanda e os próprios
preços. Pois, quanto maior for a concorrência num determinado mercado, mais sensível fica o
preço de mercado, em relação à mudanças na oferta e na demanda.
Concorrência: Caracteriza-se por haver muitos concorrentes vendendo um determinado produto
(ou serviço) com muitos similares, os quais podem ser facilmente substituídos. E, nesse caso, a
competição favorece os consumidores, com produtos de qualidade e com preços cada vez
menores.
Um dos grandes contributos de Adam Smith foi o alcançar de uma explicação acerca da forma
como numa economia de mercado o interesse próprio racional possibilita o atingir do máximo
bem-estar económico de todos os agentes. Esse fenómeno acontece pela ação de um mecanismo
que Smith denominou de "mão invisível" e que corresponde a um conceito fundamental no âmbito
da economia de mercado.
A existência de uma benévola "mão invisível" tal qual preconizado por Adam Smith resulta do
facto de os agentes económicos, numa economia competitiva, terem de produzir algo com valor de
forma a poderem auferir um rendimento. Esse valor corresponde àquele que é percecionado pelos
outros indivíduos que possam vir a adquirir o bem ou serviço em causa. Em suma, Smith prevê a
ocorrência de ganhos para as duas partes envolvidas numa transação, pelo que se o
desenvolvimento da atividade de cada indivíduo for feito no sentido de criação do máximo valor,
mesmo tendo em conta que o interesse a ela subjacente é pessoal, vai proporcionar a maximização
do bem-estar dos restantes indivíduos e, em última instância, da sociedade em geral. Aliás, apesar
de prosseguir o seu interesse individual e não tendo sequer em vista o interesse da comunidade,
um indivíduo que cumpra as condições atrás referidas acaba por propiciar frequentemente à
sociedade um benefício superior ao que propiciaria se voluntariamente o tentasse conceder.
A ocorrência do mecanismo da "mão invisível" implica a existência de um conjunto alargado de
pressupostos genericamente associados a estruturas de mercado de concorrência perfeita. Assim,
pressupõe a inexistência de quaisquer falhas de mercado, como sejam a subsistência de estruturas
de mercado monopolistas (em que as condições impostas pelo monopolista no mercado não são as
melhores para os consumidores e implicam um desperdício de benefício em prejuízo da sociedade)
e de fenómenos de externalidades, designadamente negativas (resultantes da ocorrência de efeitos
nefastos sobre a economia sem que haja mecanismos de mercado associados, como é o caso da
poluição). Nestes casos verificam-se restrições ao mecanismo da mão invisível, facto que não
belisca a importância teórica e prática deste instrumento na teoria económica.
Divisão do trabalho
Smith defendia que o trabalho deveria ser feito em etapas para que todo trabalhador melhorasse
seu empenho ao longo da produção. Além disso, defendia que cada nação deveria produzir apenas
alguns poucos produtos para vendê-los no mercado. Isso criaria mão-de-obra qualificada e um
conhecimento difícil de ser superado por outros países.
Estado apenas para manter a segurança pública
No século XVIII vigorava o Mercantilismo, no qual havia forte intervenção estatal e entraves no
comércio exterior. Nessa época, a riqueza de uma nação era medida pela quantidade de ouro e
prata nos cofres. Adam Smith discordava e alegava que a riqueza de uma nação está na habilidade
de produzir bens. Para isso, os cidadãos devem ser capacitados e o Estado não deve intervir. Ele
defendia a propriedade privada, a não intervenção do Estado na economia e a liberdade contratual
entre patrões e empregados. Assim, o papel do Estado deveria ser apenas de manter a segurança
pública e a ordem e garantir o direito de propriedade privada e as liberdades individuais das
pessoas.
Podemos afirmar que Adam Smith foi amplamente influenciado pelas ideias de David Hume no
que concerne aos fundamentos do fenómeno moral.
Assim como Hume, Smith parte do pressuposto de que é impossível chegarmos a um
entendimento satisfatório do fenómeno moral sem nos debruçarmos sobre a natureza humana. Tal
movimento permite o desvelamento de certos mecanismos que são essenciais para a ocorrência
dos fenómenos entendidos como morais. A partir disso, Smith aceita a proposição humeana de que
o mecanismo natural que norteia todo e qualquer fenómeno moral é a simpatia, isto é, a
capacidade de sentir-se como nos sentiríamos caso estivéssemos vivenciando um determinado
facto em um determinado momento. É importante ressaltar que quando fazemos referência ao
conceito de simpatia em escritos antes do século XX, na verdade estamos nos dirigindo ao
fenómeno psicobiológico denominado hoje de empatia.
A ética de Smith é fundada na simpatia com o sentido de compartilhar afetos, emoções ou
sentimentos. No entanto, o que distingue Smith de Hume é o facto de que compartilhar afetos não
significa apenas acompanhar o prazer que o espectador sente ao reconhecer a beleza do sistema.
Hutcheson e Hume se preocuparam mais com a finalidade dos afetos do que com as causas,
fundamentando o julgamento moral em considerações de estética: moral. Smith se diferencia pois,
para ele, o julgamento moral provém mais do senso de conveniência do que do senso de beleza do
sistema. O que Smith denomina de senso de conveniência constitui o despertar para a análise dos
motivos das ações e condutas. O ato é moralmente um bem ou um mal dependendo mais do
sentimento que o motivou do que do efeito por ele produzido: depende mais da conveniência
percebida no compartilhar emoções, do que do mérito ou demérito das ações e condutas (conduta
apropriada).
Seja, por exemplo, o caso de um cientista profundo conhecedor de sua matéria. Aprovamos o
julgamento do cientista se estiver conforme a razão, ou nos termos de Smith, conforme a verdade
e a realidade. A utilidade social da opinião acerca dos resultados aumenta o valor do cientista para
a comunidade. Mas, até agora, não foi definida a aprovação moral do que foi dito pelo cientista.
Se a exposição trata de objetos que não têm relação conosco ou com as pessoas que estamos
julgando, há pouco perigo de brigas ou intrigas, em caso de discordâncias. O debate se concentra
na capacidade de bom gosto e discernimento, e não na atitude moral das pessoas. Diferente é o
caso em que os objetos afetam ou influenciam a nós e ao nosso modo de vida. Agora, clamamos
por solidariedade, companheirismo e correspondência de sentimentos, e desprezamos a
indiferença, o individualismo, a insensibilidade e falta de sentimentos. É aqui que os espectadores
morais devem se esforçar para adotar o sentimento da pessoa que age. Esta pessoa também deve se
esforçar para adequar o grau de sua paixão até um limite que possa ser adotada com mais
facilidade pelos espectadores. Um pretende acompanhar o que o outro parece sentir, e o outro
tenta conter seus sentimentos num grau que possam ser simpatizados pelo espectador ordinário. É
o compartilhar emoções, no aqui e agora, em duas vias, que caracteriza o que Smith denomina de
simpatia: a solidariedade com qualquer paixão reconhece que a utilidade exerce ampla influência
no prazer que sentem os agentes e os espectadores quando contemplam sistemas bem
engendrados. Esse é o princípio que recomenda a criação e manutenção de instituições voltadas
para o interesse público, e promove o debate político, comercial e produtivo. Smith sugere
persuadir o governante expondo a harmonia e a suavidade com que pode rodar a máquina de
governo, se implantadas as medidas recomendadas, causando impacto estético. Essa é a mesma
orientação de Hume, destacada por Rawls, já que a contemplação do sistema que agrada define a
utilidade dos objetos que o compõem.
Smith considerou que as ações virtuosas são aquelas que são úteis ou agradáveis , seja para a
própria pessoa, seja para a outra pessoa. Todavia, essa utilidade não pode ser a fonte principal da
aprovação ou desaprovação moral das ações e condutas; os sentimentos são distintos, entre o
compartilhar afetos e o contemplar sistemas funcionais, e principalmente porque o senso de
conveniência é distinto da percepção de utilidade. A ideia de utilidade é refinada no pensamento
smithiano. Contemplar o bom funcionamento das instituições, a ordem do sistema, sentir prazer
nessa contemplação, não constitui o elemento essencial para a aprovação da conduta. O senso de
conveniência supera essa restrição estética da utilidade e oferece outros elementos para o
julgamento moral. (as virtudes)
Quando se trata de examinar questões da mecânica social, funcionamento de instituições,
adequação da legislação e cálculo de medidas quantitativas e qualitativas, pode ser adotado o
princípio da utilidade, quando então se avalia a beleza estética do sistema (Smith, 1999: 106, 107).
Mas quando se trata de examinar as interações morais, as questões supremas de justiça e de regras
gerais de condutas, cabe primordialmente o exame da conveniência das ações conduzido na ótica
do espectador imparcial.
Para Smith, o sistema moral que reduz a virtude à utilidade é absorvido pelo sistema da
conveniência. Isso porque o caráter agradável ou útil precisa ser graduado segundo a conveniência
da ação. Esse sistema, segundo Smith, precisa definir, não a utilidade do caráter, mas o grau
apropriado, porque um afeto é moralmente útil se confinado a certo grau de moderação. A medida
original desse grau apropriado até pode ser avaliada pela utilidade média, porém ainda permanece
o cálculo do prazer sentido com a beleza do sistema, agora transferido para o sujeito ideal, ou o
observador ideal de Rawls, mantendo o distanciamento da avaliação ética da situação. Smith
acrescenta o afeto correspondente do espectador, a graduação dos sentimentos vigiada pelo
espectador imparcial, aperfeiçoando a explicação das ações e condutas morais. Os julgamentos
estritamente utilitaristas, por se vincularem à estética, são secundários na ética smithiana.
O espectador imparcial se apresenta para o exame e julgamento da própria conduta, em cada
situação de compartilhar afetos. Na condição de arguto observador, obriga-se a analisar a situação
também com os olhos das outras pessoas. É por isso que a imaginação do suposto espectador
imparcial alcança a vivência social experimentada pela própria pessoa, especialmente àquelas
situações em confronto com as visões dos outros, quando há necessidade de dosar as paixões
sentidas. O espectador imparcial não aparece na teoria de Smith como modelo de racionalidade,
tampouco como a consciência capaz de deter todo o conhecimento dos diversos aprendizados
morais. Não é sequer o observador ideal que contempla unicamente o prazer obtido com as
satisfações dos desejos. O espectador imparcial constitui a percepção geral da necessidade de
partilhar afetos, especialmente o de reduzir o excesso de amor de si, para obter a justa aprovação
das condutas, em cada situação, em cada momento, sendo moldado a cada situação vivenciada.
O julgamento do espectador imparcial proposto por Smith é circunstancial, contingente; ocorre a
todo o momento, notadamente na presença de conflitos morais, ocasião para considerar o justo.
Requer uma perspectiva geral, como se olhasse do alto todo o teatro moral. Essa perspectiva não
se fixa exclusiva e necessariamente no prazer contemplativo da beleza das cenas. Como diferencia
Smith, é mais decisivo fazer reflexão acerca dos motivos presentes nas ações, do que se guiar
pelos variáveis e múltiplos resultados, previstos ou atingidos, os quais sustentam as éticas
consequencialistas, tal como a da tese utilitarista.
O senso de conveniência é sentimento natural humano evidenciado pela apreciação dos motivos
das condutas. Contudo, o olhar diferenciado do espectador requer reflexão. Smith, nesse sentido,
adota a filosofia de Hume: trata-se do uso da razão segundo o hábito e a experiência. Por indução,
experimentando o compartilhar sensações ao longo da vida (do senso de conveniência), o
espectador da própria pessoa forma os seus padrões sobre como agir e se conduzir. Porém, mesmo
que esses padrões sejam imediatamente reconhecidos pelo juiz interior, sendo usados nas
aprovações e desaprovações seguintes de condutas, eles não escapam de reexame nos conflitos, o
que representa a vigilância exercida pelo espectador imparcial, quando surge a necessidade do
exercício da simpatia nas duas vias, rebaixando as ações egoístas e se esforçando para distinguir o
sentimento dos outros.
Assim, não é o poder da humanidade ou da benevolência universal que determinam o sacrifício
dos interesses próprios, não é o prazer sentido com o que é útil ou agradável: “é a razão, o
princípio, a consciência, o habitante do peito, o homem interior, o grande juiz e árbitro da nossa
conduta”. Não são as reflexões sobre a ordem social que corrigem o excesso de amor de si. São as
reflexões sobre as ações e condutas de cada um nessa sociedade: “... o amor ao que é honrado e
nobre, à grandeza, dignidade e superioridade de nossos próprios caracteres”. Essa razão do
espectador imparcial é a que nos chama à noite para prestar contas do movimento do dia; faz-nos
ver que somos apenas um na multidão, nada melhor que os outros, e que se fomos egoístas,
seremos objetos apropriados de ressentimento e execração.
A grande escola da vida é a do autodomínio, duramente exercido nos conflitos diários. Somente a
partir dessa educação exemplar o agente pode emular o suposto espectador, que serve de juiz
imparcial das suas condutas. A formação desse juiz é lenta, gradual e progressiva. Todo dia
melhora-se um traço e corrige-se uma falha. O costume leva à identificação quase completa entre
o agente e o seu espectador.
Lei:
É importante ressaltar que a lei é um dispositivo que o Estado utiliza não apenas para regular a
vida em sociedade, mas também, surge como um elo tanto ao direito objetivo, mais
principalmente, ao direito subjetivo dando a possiblidade de assegurar direitos essenciais a vida de
cada cidadão. Dessa forma, a lei surge da necessidade particular de cada sociedade, por isso cada
constituição tem as suas particularidades refletindo a economia, a política, a religião e as crenças
de determinado povo. A criação das leis passa por várias etapas para primeiro entrar em vigor.
Primeiro tem a iniciativa da lei, discursão, votação, aprovação, sanção, promulgação, publicação e
a própria vigência da mesma.
Formas de interpretar a Lei:
Elementos gramaticais: consiste em utilizar as regras linguísticas;
Elemento lógico: determina a criação da lei;
Elemento histórico: revela em qual ambiente social e econômico a lei foi posta em vigor e
teve sua utilidade;
Elemento sistemático: formula a própria lei de acordo com os princípios jurídicos virgentes.
Direito:
A vida em sociedade e as relações inter-pessoas faz do direito uma ciência que visa a formulação
de regras de condutas, disciplinando as interações entre as pessoas; nessa ciência prevalece o
objetivo de alcançar o bem comum e a organização em sociedade. Nesse sentido, cabe ao Estado
regular a população através de um conjunto de normas em vigor ditadas em um determinado
território, dando a este conjunto de normas escritas o chamado direito positivo, ou baseado nos
costumes designado o direito consuetudinário que ambos podem variar de acordo com as
necessidades sociais.
No meio popular a palavra direito pode muitas vezes ser confundida ou invertida seu papel, pois
direito para a maioria das pessoas tem sempre o mesmo significado. Nessa perspectiva, o mundo
jurídico trata dessa questão como direito objetivo, o qual os indivíduos tem a obrigação de fazer
ou deixar de fazer aquilo que a constituição determina. Por outro lado existe o direito subjetivo,
esse por sua vez assegura os direitos básicos de uma pessoa como: direito a vida, direito a
liberdade, direito a privacidade, direito a saúde, direito a educação etc.
Justiça:
Uma das formas de definir o conceito de justiça é através do cumprimento das suas leis. Um
Estado justo seria aquele que trás uma sensação de segurança e conforto a toda população. Estas
sensações são obtidas na medida em que o Estado garante que todos estão a cumprir as normas
jurídicas, as quais regem a vida em sociedade.
Segundo Thomas Robbes, “a justiça é a consequência do esforço dos homens para a manutenção
de um pacto social”, no qual a sociedade perde em parte a sua liberdade para ser regulada pelo
Estado, que tem como princípio básico assegurar a igualdade de todos perante a lei.
Quando pensamos em justiça criamos um ideal universal, mas o termo justiça tem primeiramente
que partir do caráter pessoal de cada indivíduo. O justo é o cidadão, o qual cumpre com os seus
deveres, segue a conduta do homem com o objetivo de tornar o convívio social um pouco mais
fácil. No entanto, essa é apenas uma pequena parcela da humanidade que tem essa concepção, por
isso a necessidade do Estado regular e julgar os casos, levando em consideração o princípio
jurídico, segundo o qual o cidadão só é obrigado a fazer ou deixar de fazer aquilo que a
constituição determina. Delimitar o conceito de justiça é uma tarefa complexa, pois a mesma sofre
variações tanto no tempo histórico como de Estado para Estado.
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Código Deontológico:
• Publicado na 2ª Série do Diário da República a 20 de Abril de 2011-
• 1ª Revisão publicado no Diário da República 2ª Série nº 246/2 de dia 26 de Dezembro de 2016.
São o conjunto de princípios e deveres gerais que devem reger o comportamento profissional dos
psicólogos; Identificar princípios e promover o raciocínio ético; Base para pensar respostas e
orientar a atuação e prática clínica do psicólogo; A pertença à Ordem dos Psicólogos obriga ao
cumprimento dos princípios estabelecidos no presente Código Deontológico. Conjunto de
princípios e deveres gerais que devem reger o comportamento profissional dos psicólogos.
Princípios gerais:
a) Atuar com independência e isenção profissional;
b) Prestigiar e dignificar a profissão;
c) Colocar a sua capacidade ao serviço do interesse público;
d) Empenhar-se no estabelecimento de uma dinâmica de cooperação social com o objetivo de
melhorar o bem-estar individual e coletivo;
e) Defender e fazer defender o sigilo profissional;
f) Exigir aos seus membros e colaboradores o respeito pela confidencialidade;
g) Utilizar os instrumentos científicos adequados ao rigor exigido na prática da sua profissão;
h) Conhecer e agir com respeito pelos preceitos legais e regulamentares;
i) Respeitar as normas de incompatibilidade que decorram da lei.
Deveres gerais:
a) Abster-se de sancionar documentos ou de fazer declarações que indevidamente resultem em
favorecimento próprio ou de outrem;
b) Evitar a deturpação da interpretação do conteúdo, explícito ou implícito, de documentos de
apoio técnico ao exercício da profissão, com o intuito de iludir a boa-fé de outrem;
c) Defender os princípios da ética da profissão,recusando colaborar ou participar em qualquer
serviço ou empreendimento que julgue ferir esses princípios;
d) Exercer a sua atividade em áreas dentro da psicologia para as quais tenha recebido formação
específica;
e) Recusar quaisquer interferências no exercício da sua atividade que ponham em causa aspectos
técnicocientíficos ou éticos do exercício profissional, sejam quais forem as suas funções e
dependências hierárquicas ou o local onde exerce a sua atividade;
f) Abster-se de utilizar materiais específicos da profissão para os quais não tenha recebido
formação, que saiba desatualizados ou que sejam desadequados ao contexto de aplicação.
O que acontece se um psicólogo não seguir, violar, princípios e deveres do código deontológico?
- Em que situações se pode fazer queixa contra um psicólogo? Artigo 2.º do regulamento,
"Considera-se infração disciplinar toda a ação ou omissão que consista na violação dolosa ou
culposa, por qualquer membro da Ordem, dos deveres consignados no Estatuto, no Código
Deontológico e nos respetivos regulamentos.
Procedimento disciplinar
- Averiguar e punir no caso de incumprimento dos deveres deontológicos
1) Instrução - investigar a existência de uma infração
2) Defesa do visado - possibilidade do acusado de expor a sua apreciação dos factos
3) Decisão - Conselho Jurisdicional decide pela absolvição ou punição do visado
A sanção pode consistir numa advertência, numa repreensão registada ou, nos casos mais graves,
na suspensão ou na expulsão do membro.
4) Execução - nos casos em que seja decidida a suspensão ou expulsão do visado, tem lugar a
execução da decisão, com a suspensão ou cancelamento da sua inscrição na Ordem.
Infração disciplinar:
• Leve - violação de forma pouco intensa dos deveres profissionais a que se encontra adstrito no
exercício da profissão;
• Grave - violação de forma séria dos deveres profissionais a que se encontra adstrito no exercício
da profissão;
• Muito grave - violação dos deveres profissionais a que está adstrito no exercício da profissão,
afetando a sua conduta, a dignidade e o prestígio profissional de tal forma que fique
definitivamente inviabilizado o exercício da profissão.
As infrações disciplinares são puníveis a título de dolo ou negligência.
Sanções disciplinares:
a) Advertência: aplicada ao membro que cometa infração com culpa leve, de que não tenha
resultado prejuízo grave para terceiro nem para a Ordem.
b) Obrigação de prática supervisionada até ao máximo de 12 meses: aplicada ao membro que
cometa infração disciplinar que resulte de manifesto défice de formação.
c) Repreensão registada: aplicada ao membro que cometa infração com negligência grave, mas
sem consequência assinalável, ou que reincida nas infrações referidas anteriormente.
d) Suspensão até ao máximo de 24 meses: aplicável ao membro que cometa infração disciplinar
que afete gravemente a dignidade e o prestígio da profissão, ou lese direitos ou interesses
relevantes de terceiros.
e) Expulsão: aplicável a infração muito grave quando a infração tenha posto em causa a vida, a
integridade física das pessoas ou seja gravemente lesiva da honra ou do património alheios.
Princípios Gerais (Orientações para guiar e inspirar os psicólogos para uma atuação centrada nos
ideais da intervenção psicológica)
• Princípio A. Respeito pela dignidade e direitos da pessoa
• Princípio B. Competência
• Princípio C. Responsabilidade
• Princípio D. Integridade
• Princípio E. Beneficência e Não-maleficência
Princípio B. Competência
• O psicólogo tem como obrigação exercer a sua atividade de acordo com os pressupostos técnicos
e científicos da profissão, a partir de uma formação pessoal adequada e de uma constante
atualização profissional, de forma a atingir os objetivos da intervenção psicológica para não
prejudicar o cliente e não contribuir para o descrédito da profissão.
• Boas práticas baseadas em conhecimentos científicos atualizados e não presta serviço para o qual
não está qualificado devido ao risco acrescido de prejudicar seriamente alguém.
• Uma atuação pouco competente poderá levar ao questionamento da credibilidade do profissional
e da profissão, além do prejuízo que o seu cliente poderá sofrer. Ex: técnicas e áreas de atuação
específicas.
Princípio C. Responsabilidade
• O psicólogo deve ter consciência das consequências que o seu trabalho pode ter junto das
pessoas, da profissão e da sociedade. Devem contribuir para os bons resultados do exercício da sua
atividade nestas diferentes dimensões e assumir a responsabilidade pela mesma. Deve saber
avaliar o nível de fragilidade dos seus clientes, pautar as suas intervenções pelo respeito absoluto
da vulnerabilidade, e promover e dignificar a sua atividade.
• O psicólogo é responsável por proporcionar, dentro das suas possibilidades, a devolução da
autonomia ao cliente que a ele recorre e deve ajudar todos aqueles que necessitem dos seus
serviços profissionais.
• Deve ter consciência das consequências do seu trabalho e que o aplique em prol do bem-estar da
pessoa.
• O profissional deve assumir a escolha, a aplicação e as consequências dos métodos e técnicas
que aplica, bem como dos seus pareceres, perante as pessoas, os grupos e a sociedade, e respeitar
escrupulosamente o Código Deontológico. Ex:relatórios, avaliações.
Princípio D. Integridade
• O psicólogo deve ser fiel aos princípios de atuação da profissão promovendo-os de uma forma
ativa. Deve prevenir e evitar os conflitos de interesse e, quando estes surgem, deve contribuir para
a sua resolução, atuando sempre de acordo com as suas obrigações profissionais.
• A integridade poderá ficar comprometida sempre que o profissional se deixar influenciar pelas
suas próprias motivações ou crenças, preconceitos e juízos morais, nos casos em que surjam
conflitos de interesse pessoal, profissional e institucional, dilemas centrados nas hierarquias ou
mesmo a partir de pedidos não razoáveis dos clientes.
• Frente a dificuldades o profissional deverá promover a discussão das diferentes perspectivas em
equação, tentando encontrar situações de compromisso que respeitem os princípios gerais,
específicos e linhas de orientação da prática da Psicologia. Ex: terapia casal, grupo.
Princípios Específicos
1. Consentimento Informado
2. Privacidade e Confidencialidade
3. Relações Profissionais
4. Avaliação Psicológica
5. Prática e Intervenção Psicológicas
6. Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas
7. Investigação
8. Declarações Públicas
1. Consentimento Informado
- Fornecer informação ao cliente e assegurar a sua compreensão através da clarificação e discussão
das informações para obter o consentimento informado por parte do cliente no início da relação
profissional.
- Consentimento informado do representante legal do cliente
- Garantir a participação voluntária
- Situações agudas – intervir em tempo útil de forma a garantir o bem-estar do cliente e de
terceiros
- Processo legal – psicólogo deve clarificar o seu papel e os limites da confidencialidade da
informação recolhida, enfatizar a importância da colaboração no trabalho e discutir as
consequências prováveis da intervenção para o cliente.
- Registo da informação – consentimento escrito para registos fotográficos, áudio, vídeo e
posterior utilização dos dados obtidos.
2. Privacidade e Confidencialidade
O psicólogo tem a obrigação de assegurar a manutenção da privacidade e confidencialidade de
toda a informação a respeito do seu cliente, obtida direta ou indiretamente, incluindo a existência
da própria relação, e de conhecer as situações específicas em que a confidencialidade apresenta
algumas limitações éticas ou legais.
- Recolha e registo de informação estritamente necessária
- Informar o cliente sobre o tipo de utilização dos registos, como será conversado, por quanto
tempo e quem tem acesso
- O cliente tem direito de acesso à informação sobre si próprio
- Para divulgação de informação confidencial o psicólogo deve ter autorização prévia do cliente
- A não manutenção da confidencialidade pode justificar-se sempre que existir uma situação de
perigo para o cliente ou para terceiros que possa ameaçar de forma grave a sua integridade física
ou psíquica, ou qualquer forma de maus-tratos a menores de idade ou adultos indefesos
(deficientes ou vulneráveis).
- Informação confidencial é transmitida apenas a quem se considerar de direito e imprescindível
para uma intervenção adequada e o cliente deve ser informado antes dessa partilha de informação
ocorrer.
- O psicólogo que trabalha em equipas interdisciplinares pode transmitir apenas a informação que
for estritamente necessário para os objetivos em causa, e o cliente deve ser aviso e esclarecido
sobre essa possibilidade de partilha de informação dentro da equipa.
- Cliente criança, adolescente, adulto indefeso – partilha-se com o responsável legal apenas a
informação estritamente necessária para que se possa atuar em seu benefício.
- Serviços prestados por meios informáticos – informar o cliente sobre eventuais riscos e
limitações relativos à manutenção da privacidade e confidencialidade.
- Em apresentações (formação, ensino) é sempre protegida a identidade do cliente, e em casos de
haver possibilidade de identificação do cliente, deve-se assegurar previamente o consentimento
informado.
- Situações legais – solicitação de informação confidencial sobre o cliente é enviada para um
destinatário específico e apenas a informação relevante deve ser fornecida, e o cliente deve ser
informado previamente da informação a ser revelada.
- Se o psicólogo considerar que a divulgação de informação confidencial pode ser prejudicial para
o seu cliente, pode invocar o direito de escusa (de acordo com o disposto no art.º 135.º do Código
de Processo Penal).
- A não manutenção da confidencialidade pode justificar-se se o psicólogo for processado pelo
cliente. Nessa situação, o psicólogo transmite apenas a informação considerada necessária para
assegurar o seu processo de defesa.
3. Relações Profissionais
- O psicólogo respeita as relações profissionais, competência específica, deveres e
responsabilidades de colegas e outros profissionais.
- Promover a boa prática da Psicologia colaborando com os colegas, independentemente de estes
utilizarem os mesmos ou outros modelos teóricos ou metodologias de intervenção.
- Encaminhar clientes sempre que não tenha competência ou manifeste impossibilidade de assumir
a intervenção.
- O psicólogo é independente e tem autonomia profissional para o exercício da sua profissão.
- O psicólogo contribui e coopera com a instituição para a qual colabora, desde que não sejam
contrárias aos princípios do Código Deontológico.
- Pautar as suas relações profissionais pela integridade, não desviando casos de instituição pública
para a prática privada, e não julgando ou criticando outros colegas ou outros profissionais de
forma não fundamentada.
- O psicólogo respeita as relações profissionais, a competência específica, os deveres e a
responsabilidade de outros, e limitam o seu trabalho ao âmbito da sua competência.
- Sensibilizar os colegas para a boa prática da psicologia e quando toma conhecimento de um
desrespeito grave ou reiterado por parte de outro psicólogo deve:
a) Informar esse colega do seu desrespeito pelo atual Código Deontológico
b) proceder a uma exposição escrita dirigida ao Conselho Jurisdicional da OPP, órgão competente
para análise deste tipo de conteúdo.
O psicólogo deve denunciar outras pessoas que desempenhem funções para as quais apenas o
psicólogo está habilitado.
4.Avaliação Psicológica
A avaliação psicológica concretiza-se através da utilização de protocolos válidos e deve responder
as necessidades objetivas de informação,salvaguardando o respeito pela privacidade da pessoa.
- Ato exclusivo da Psicologia
- As técnicas e instrumentos de avaliação são utilizados por psicólogos qualificados com
formação, experiência e treino específicos para a administração, cotação, interpretação dos
mesmos.
- É necessário a obtenção de consentimento informado para os processos de avaliação ou
diagnóstico psicológico, exceto quando estes fazem parte das atividades de rotina institucional,
organizacional ou educacional, que correspondam a uma solicitação regulamentada na lei ou
pretendam identificar a capacidade de tomada de decisão.
- Deve-se selecionar e utilizar de modo adequado e válido o protocolo de avaliação (entrevistas,
testes e instrumentos de avaliação psicológica) para justificar formulações e conclusões incluídas
em avaliações, diagnósticos, relatórios e pareceres.
- Os materiais e protocolos de avaliação (manuais, instrumentos e sistemas de cotação e
interpretação) não são disponibilizados aos clientes ou a outros profissionais não qualificados,
assegurando a proteção e segurança dos materiais, prevenindo a sua divulgação para o domínio
público.
- O psicólogo só deve utilizar instrumentos de avaliação validados para a população portuguesa e
deve ter conhecimento das condições para a administração, cotação e interpretação dos resultados
dos mesmos.
- O psicólogo deve proporcionar explicações objetivas sobre a natureza e finalidade da avaliação,
dos limites dos instrumentos, resultados e interpretações formuladas. O psicólogo faz uma
entrevista de devolução dos resultados da avaliação, onde explica os dados constantes no relatório
e possibilita ao cliente a manifestação de dúvidas e o seu esclarecimento.
Relatórios psicológicos: Devem ser documentos escritos objetivos e rigorosos e inteligíveis que
fornecem informação relevante que permita dar resposta às questões e pedidos de avaliação
considerados pertinentes.
- O psicólogo deve ponderar as consequências das informações disponibilizadas nos relatórios,
considerar criticamente o carácter relativo das avaliações e interpretações, e especificar o alcance,
limites e grau de certeza dos conteúdos comunicados.
- Os relatórios incluem o nome do psicólogo e o número da cédula profissional.
- Se o cliente pretender uma segunda opinião de outro psicólogo, dados mais completos de
avaliação devem ser enviados diretamente a este último, para evitar interpretações incorretas por
parte do cliente e assegurar a segurança e integridade dos materiais de avaliação.
7. Investigação
- O psicólogo investigador têm em conta o princípio geral da beneficência e não-maleficência, que
o leva a colocar em primeiro lugar o bem-estar dos participantes nas investigações, e o princípio
geral da responsabilidade social no sentido da produção e comunicação de conhecimento
científico válido e suscetível de melhorar o bem-estar das pessoas.
- Não causar danos físicos e/ou psicológicos aos participantes nas investigações.
- O investigador avalia os potenciais riscos para a saúde, bem-estar, valores ou dignidade do
participante para eliminá-los ou minimizá-los antes de decidir pela realização de uma
investigação. Os potenciais riscos e benefícios devem ser comunicados adequadamente aos
participantes.
- Participação voluntária - ninguém pode ser obrigado ou coagido a participar numa investigação.
Compensação, monetária ou outra, não pode constituir um estímulo que leve o participante a
ignorar riscos eventuais da sua participação.
- Os investigadores fornecem aos participantes a informação necessária sobre a investigação que
permita uma decisão informada quanto aos potenciais riscos e benefícios em participar.
- Nos casos em que os participantes não têm capacidade para dar consentimento informado, o
consentimento deve ser fornecido pelos seus representantes legais, mas a manifestação de recusa
por parte do participante pode ser impeditiva da sua participação.
- Anonimato e confidencialidade de dados recolhidos - no contexto de investigação só se recolhem
os dados pessoais estritamente necessários à investigação e os mesmos são mantidos
confidenciais.
- Uso do engano em investigação – utilizado apenas quando tem justificação significativa e
fundamentada cientificamente.
- Em todas as investigações oferece-se aos participantes a oportunidade de obter informação sobre
os objetivos, resultados e conclusões da investigação. O esclarecimento pós-investigação é
obrigatório quando o engano fizer parte do procedimento.
- Investigação com animais – assegurado condições de vida adequadas e evita-se o sofrimento
desnecessário.
- Os investigadores asseguram que as investigações são realizadas de acordo com os princípios
mais elevados de integridade científica.
- Os investigadores não fabricam resultados, incluindo invenção, manipulação ou apresentação
seletiva de resultados e corrigem publicamente erros encontrados.
- Comunicação de resultados das investigações de forma adequada para a comunidade científica e
o público em geral não fazendo afirmações públicas falsas ou fraudulentas.
- Os investigadores não apresentam partes de trabalhos ou ideias de outros autores como suas e
dão crédito autoral em trabalhos publicados a todos que o realizaram de forma significativa. Os
investigadores cumprem estas regras e asseguram o cumprimento por todos que com eles
colaborem e/ou estejam sob a sua supervisão.
8. Declarações Públicas
- As declarações públicas prestadas (programas de rádio e televisão, artigos em jornais ou revistas,
conferências e internet), devem pautar-se no respeito as regras deontológicas da profissão. E
devem ser considerados os princípios da competência específica, privacidade e confidencialidade,
respeito pela dignidade da pessoa, integridade, beneficência e não-maleficência.
- Em declarações públicas (verbais ou escritas utilizando os media ou outras formas de
divulgação) o psicólogo deve observar o princípio do rigor e da independência, abstendo-se de
fazer declarações falsas ou sem fundamentação científica, deve relatar os factos de forma
criteriosa com base em fundamentação científica adequada.
- O psicólogo limita as suas declarações públicas apenas a temas para os quais têm formação e
experiência específicas.
- O psicólogo reconhece o impacto das suas declarações junto do público, em função da
credibilidade da ciência que representa. Este facto aumenta a sua responsabilidade em relação às
suas afirmações, uma vez que o psicólogo representa uma classe profissional.
- Quando solicitado a comentar publicamente casos particulares, o psicólogo pronuncia-se sobre
os problemas psicológicos em questão mas não sobre os casos em específico.