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Gisele Varani
Ética versus moral
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Costumeiramente pensamos que moral e ética são sinônimos, mas filo-
soficamente são palavras parecidas, interligadas, mas não iguais.
Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de ética e moral e poderá
fazer a diferenciação entre estes dois termos, além da possibilidade de
reflexão sobre o quanto esses dois conceitos impactam na sua vida.
Você vai estudar sobre o poder da escolha moral, a ética no cotidiano,
o comportamento, os valores e tudo o que traz nexo sobre a ética e a
moral na sociedade em que vivemos.
imutável, pois ela não é, mas se sabe que o que a sociedade ainda considera
primordial para sua existência, mesmo mudando algumas regras, continua
valendo para o todo.
Rousseau, filósofo do século XVIII, acreditava que o sujeito poderia re-
cuperar sua natureza original boa e benevolente, perdida pelos efeitos da vida
social, se tivesse um bom relacionamento com a natureza, ou seja, a consciência
moral e o sentimento do dever atrelado ao divino (dedo de Deus interferindo
na razão utilitária dos homens).
Kant, por sua vez, contradizia a “moral do coração” do Rousseau, em que
volta a afirmar o papel da ética, não acreditando na bondade inata. Para ele,
o homem nasce egoísta, ambicioso, destrutivo, cruel, ávido por prazeres que
nunca saciam e por isso a necessidade do dever para frear esse sentimento
natural e virarmos seres morais.
No século XIX, o filósofo Hegel contradiz o que anteriormente os filósofos
Kant e Rousseau definiram como ética na sociedade do século XVIII. Ele
criticava os dois pensadores anteriores por utilizarem mais a relação humana
com a natureza (suas paixões e razões) do que o fato de a cultura ou a história
serem mais interligadas e importantes para o homem. Então, a partir das ideias
dos filósofos que ele criticava e que considerava muito frágeis, construiu suas
teorias. Considerava que os autores anteriores deveriam estudar os laços da
ética com a sociabilidade dos seres humanos e utilizar como base de suas
teorias as relações sociais coletivas e não individuais, como as instituições
sociais (família, sociedade civil, Estado). Elas sim, segundo ele, teriam laços
mais fortes para manter a conduta ética das sociedades ao que ele chamou de
vontade objetiva, pois elas seriam um conjunto de conteúdos determinados
com fins, valores, normas determinadas pelas instituições ou pela cultura
(CHAUÍ, 2010, p. 391–397).
O filósofo brasileiro Clóvis Barros Filho, em seu artigo O que é Ética, traz
a ideia de que ao tentarmos definir ética, falamos de vida, em como vivê-la e
de viver bem. Ele conceitua: “E isto é ética. A atividade mental de aprender,
hierarquizar e aplicar valores na nossa vida, com o objetivo de que ela seja a
melhor possível” (BARROS FILHO, 2017, documento on-line). Parece simples
a conceituação do termo, mas ao aprofundar mais esse tema diversas dúvidas
surgem, tais como tentar fazer de tudo para viver bem, pensar e hierarquizar
ações para o bem quando vivemos numa sociedade com tantos valores dife-
renciados e grupos culturais com diversos costumes de vida.
Marilena Chauí (2010) traz em seu livro Convite à Filosofia o conceito
de ética como um campo estudado pela filosofia e o define como “[...] estudo
dos valores morais (as virtudes), da relação entre vontade e paixão, vontade e
4 Ética versus moral
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6 Ética versus moral
O que é moral?
Enquanto a ética assume uma posição questionadora das atitudes e com-
portamentos do homem na qual há a possibilidade da escolha por meio da
racionalização, a moral é mais prática, assumindo a característica de regular
o comportamento humano, uma experimentação no cotidiano, na vivência
e interação com os outros, fazendo com que sejam criadas novas normas e
regras de convivência. Os valores humanos são peças importantes na cons-
trução cultural das normas que regem a sociedade vigente e eles formam
a realidade e dão significado aos fenômenos, acontecimentos e à interação
social. Os signos, as organizações de códigos definem o modo de viver dos
grupos sociais e tentam regulamentar as relações a partir de um conjunto de
valores (DALBERIO, 2012, p. 7).
Subdivisões da moral
Cortina e Martinez, em seu livro Ética, no subcapítulo “A ética como filosofia
moral”, utilizam o termo moral como um substantivo e assim classificam o
termo em cinco probabilidades de definições.
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em sociedade, essas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo
cotidiano” (SILVANO, 2008 apud RIBEIRO, 2008, p. 78).
Já dizia Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, que a ética nos ensina a viver,
ela, para ser vivida, é práxis e não propriamente teoria ou póesis. Desse
ensinamento se deduz que ética se instala em solo moral, uma vez que ela se
depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral (FIGUEI-
REDO, 2008, p. 1).
ética seria a natureza dos princípios que se antecipam a essas normas descritas
para a moral. Ela faz como que um questionamento acerca do sentido dessa
moral, a estrutura dessas teorias morais e de argumentação que mantém ou
não os costumes e traços culturais de uma sociedade. Exemplificando para
construir critérios de definição ou diferenças entre os dois termos, “[...] a
moral procura responder à pergunta: como havemos de viver? a ética (meta
normativa ou meta ética) defronta-se com a questão: porque havemos de viver
segundo x ou y modo de viver?” (PEDRO, 2014, p. 486).
Borges (2018), em seu artigo sobre as diferenças entre moral e ética, elabora
um quadro comparativo e procura deixar mais compreensível as definições de
cada termo e suas nuances. Pode-se perceber as sutis diferenças e compreender
onde os termos estão imbricados. Confira no Quadro 1.
Moral Ética
lida com o certo versus errado lida com o certo versus errado
Ética
Moral
SANCHEZ VASQUEZ, A. Ética. 36. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
VAZ, H. C. L. Escritos de Filosofia IV: introdução à Ética Filosófica 1. São Paulo: Loyola.
1999. (Filosofia).
Leituras recomendadas
FERREIRA, R. J. Ética: até quando esperar? 2015. 62 f. Monografia (Especialização em
Altos Estudos de Política e Estratégia) – Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 2015.
Disponível em: <http://www.esg.br/images/Monografias/2015/Ferreira_ricardo_jose.
pdf>. Acesso em: 21 maio 2018.
FRITZEN, A. Evolução Histórica da Ética. 2013. Disponível em: <https://sites.google.
com/site/aloisiofritzen/Home/etica-apresentacao/etica_conteudos/evolucao_his-
torica_etica>. Acesso em: 21 maio 2018.
LAISSONE, E. J. C.; AUGUSTO, J.; MATIMBIRI, L. A. Manual de Ética Geral. Beira: Universi-
dade Católica de Moçambique, 2017. Disponível em: <http://www.ucm.ac.mz/cms/
sites/default/files/publicacoes/pdf/MANUAL-DE-ETICA-GERAL.pdf>. Acesso em: 21
maio 2018.
RAMOS, F. P. A evolução conceitual da Ética. 2012. Disponível em: <http://fabiopes-
tanaramos.blogspot.com.br/2012/03/evolucao-conceitual-da-etica.html>. Acesso
em: 21 maio 2018.
SGANZERLA, R. Ética, valores e espiritualidade. 2011. Disponível em: <http://www.
robertosganzerla.com.br/etica-valores-e-espiritualidade/>. Acesso em: 21 maio 2018.