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FACULDADE UNYLEYA

PG ACONSELHAMENTO E PSICOLOGIA PASTORAL

MARCUS UCHOA

Ética Moderna e Contemporânea: Atividade 3 - Unidade 2

São Luís/MA
2023
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O movimento renascentista, que se iniciou na Europa pelo final do século XIV


e início do século XV, e que desembocou tanto no racionalismo do século XVII
quanto no iluminismo do século XVIII, mexeu com a percepção de áreas
fundamentais do pensamento humano, separando o Estado da Igreja em áreas
como a economia, as artes, a política e a ciência.
A invenção da imprensa, por Gutenberg em meados do século XV catapultou
a divulgação das ideias renascentistas com uma rapidez nunca vista. A própria
religião seria impactada pela ideia de renascimento quando, em 31 de outubro de
1517, Martinho Lutero afixou às portas da Catedral de Wittenberg suas noventa e
cinco teses contra a venda de indulgências papais e teve início o movimento
protestante.
Na chamada Idade Moderna, o pensamento teocêntrico foi substituído pelo
antropocentrismo, a defesa de que o homem é o centro de todas as coisas e que,
portanto, os pensamentos e as decisões decorrentes deste entendimento devem
levar em consideração o direito à autonomia do ser humano, bem como da razão
humana sobre a inspiração e orientação das Escrituras Sagradas. Nesse aspecto o
humanismo apenas renova a tese de Protágoras de que “o homem é a medida de
todas as coisas”. Este foi o marco de ruptura definitivo com o chamado pensamento
medieval.
Já no pós-modernismo a crença no progresso inevitável que seria trazido pela
razão foi abandonada, assim como a aceitação de explicações abrangentes e
unificadas. O contemporâneo celebra a diversidade e, por isso, apregoa um
pluralismo relativista, de maneira que os conceitos de certo e errado são entendidos
de uma forma contextual para cada agrupamento social independente, ou tribo. Não
há uma centralidade bem definida, mas centros diversos que se inter-relacionam,
como a heterotopia descrita por Foucault, onde a regra é a justaposição de espaços
que poderiam mesmo ser incompatíveis. A ética contemporânea é mais focada na
responsabilidade pessoal em fazer escolhas adequadas que produzam o bem-estar
tanto pessoal quanto coletivo.
Sendo um ramo da filosofia, o entendimento sobre a ética não poderia ficar
inalterado quando o homem e a razão humana são alçados à condição de
elementos centrais da existência.
Em Kant a ética é racional e é fundamentada no dever, uma ética
deontológica e prescritiva. Por isso Kant distingue o imperativo da ética como sendo
categórico e não hipotético, já que o agir ético não seria baseado em uma
condicional de causa e consequência, mas no pressuposto incondicional e absoluto
do dever além da consequência. O agir ético é universal e válido para todos, em
todas as ocasiões, em todo e qualquer tempo. Para Kant a crença em Deus e na
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imortalidade da alma são necessárias e possibilitam a busca pela libertação dos


desejos humanos através da recompensa da virtude pela felicidade.
Para Hegel, em sua espiral dialética, o mais alto nível da ética seria atingido
na garantia das liberdades individuais ao mesmo tempo em que a obrigação pelos
deveres fosse alcançada através da consciência, que seria o princípio garantidor das
liberdades.
Á ética em Rousseau está baseada em sua concepção de que a natureza
humana é essencialmente boa e é a sociedade quem a corrompe. Entretanto, essa
mesma sociedade é necessária para resguardar a segurança do homem e o seu
bem-estar. Para isso é fundamental um pacto, um contrato social, onde a
consciência de cada indivíduo leve em consideração o interesse coletivo antes de
seu próprio interesse particular e para que a comunidade seja capaz de exercer sua
soberania política através da vontade geral de seus membros.
O existencialismo de Kierkegaard problematiza a experiência pessoal e os
sentimentos humanos mais profundos, defendendo que não é possível a justificativa
ética da ação humana pelo próprio desconhecimento que teríamos em relação à
nossa experiência de realidade. Por exemplo, a experiência de Abraão quando
recebida a ordem de Deus para sacrificar Isaac, seria a ponte para o “salto de fé” em
que uma ética teleológica é ultrapassada em determinada circunstância, nesse caso
a obediência à ordem de Deus.
Nietzsche se coloca como o questionador das convicções humanas em meio
às certezas sociais, propondo a subjetividade dos conceitos e valores comumente
aceitos, e mesmo da razão. Bom ou mau, feio ou bonito, certo ou errado dependem
de um ponto de vista particular. Seu niilismo defende a transcendência dos conceitos
do homem pelos conceitos de um super-homem que está além do bem e do mal,
além de amarras criadas pelas instituições que tolhem a liberdade do indivíduo.
Assim, sua ética é uma ética da liberdade de padrões pré-estabelecidos, uma forma
de rebelião contra a moral dos senhores gerada no ressentimento daqueles que são
escravizados por ela.
Para Freud a ética é um constructo social necessário e não uma
característica inata do homem. As estruturas verticalizadas e totêmicas de
autoridade e poder, iniciando com a família, estabelecem no inconsciente as noções
de certo e errado, bom ou mau, às quais se relacionam também com recompensa e
castigo, prazer e dor. As proibições acontecem porque os desejos estão presentes
no inconsciente e é necessário um mecanismo social para impedir que os desejos
tornem a convivência impossível. Sem tabus a busca pelo prazer seria o imperativo.
Sem o desejo supremo os tabus seriam supérfluos.
Apesar de não ter escrito sobre o tema ética de maneira específica, de sua
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crítica à organização social e ao sistema econômico vigente podemos depreender


que Marx avaliava a ética a partir de sua ótica materialista, onde o ideal social seria
atingido na medida em que não houvesse exploração econômica de um indivíduo
por outro e onde os fatores de produção fossem dispostos de maneira que não
houvesse excessos ou necessidades insatisfeitas. Em sua visão de comuna ele
defendeu que todas as estruturas da sociedade capitalista, desde a família até a
Igreja, estão voltadas para subjugar o proletário e para enriquecer a burguesia,
portanto seria lícita uma revolução que demovesse do poder os protetores das
estruturas capitalistas. Uma ética fundamentada em uma visão revolucionária seria
inteiramente teleológica, sendo a avaliação ética da ação julgada apenas pelo
resultado que produz para aproximar a causa revolucionária do seu objetivo final.
A ética cristã é, como em Kant, deontológica, atemporal, prescritiva, absoluta
e geral. O seu lastro está na revelação da vontade de um Deus que possui entre
Suas Perfeições a presciência, a onisciência, a imutabilidade e a soberania. Um
Deus que É O Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis, incluindo o homem, e
que estabeleceu as regras para todas as relações. A ética cristã não está centrada
no homem, mas em Deus e naquilo que Ele revelou sobre Si mesmo, sobre o
homem e sobre Sua vontade para com este. Ela é válida para todos, independente
de admitirem ou não a existência de Deus. Estes, que não O admitem, são os
indesculpáveis aos quais se refere o apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos1.
Diferente do que defendia Rousseau, a ética cristã leva em consideração que
o homem, após a queda, teve sua natureza corrompida e que ele não mais reflete,
de forma pura, a imago Dei com a qual foi estabelecido sobre o restante da criação.
O seu arbítrio está cativo à busca da própria satisfação e o seu ego o leva a buscar
vantagens pessoais mesmo quando, algumas vezes, se dispõe a praticar o bem.
Apenas quando busca e se apega à revelação do próprio Deus, o homem é capaz
de uma transformação mental que o permite se desmoldar dos padrões do mundo2,
voltando sua atenção para as coisas do alto, deixando as práticas próprias da antiga
natureza caída, e assumindo uma nova natureza3, domável e capaz de submeter-se
à “boa, agradável e perfeita vontade de Deus4”, não para ganhar uma recompensa,
mas porque já a ganhou.

1 Bíblia, Romanos, 1.19-23


2 Bíblia, Romanos, 12.2
3 Bíblia, Colossenses, 3.2-11
4 Bíblia, Romanos, 12.2
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REFERÊNCIAS

GEISLER, Norman L.. Ética Cristã: Opções e questões contemporâneas. 2 ed. Sao
Paulo/SP: Vida Nova, 2010.

GRENZ, Stanley J.. Pós modernismo: um guia para entender a filosofia de nosso
tempo. 2 ed. São Paulo/SP: Vida Nova, 2008.

HOLMES, Arthur F.. Ética: as decisões morais à luz da Bíblia. Rio de Janeiro/RJ:
CPAD, 2012.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: Dos pré-socráticos a


Wittgeinstein. Rio de Janeiro/RJ: Zahar - Ebook Kindle, 2000.

NAUGLE, David K.. Filosofia: um guia para estudantes. 2 ed. Brasília/DF:


Monergismo, 2018.

RICALDES, João. Breve história da ética: de Sócrates a Paulo Freire. 1 ed. Mogi
Mirim/SP: Ebook Kindle, 2021.

SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL. Bíblia de Estudo de Genebra. 2 ed. São


Paulo/SP: Cutura Cristã, 2009.

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