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Modernidade

I. Um conceito mínimo da Idade Moderna

Pela perspectiva histórica, a Idade Moderna tem início com a queda do Império
Bizantino e a tomada da cidade de Constantinopla pelo Império Turco-Otomano em
1453, tendo seu fim com a Revolução Francesa em 1789. O início da Idade Moderna
demarcou o fim da Idade Média, também conhecida como Idade das Trevas, idade essa
marcada pelo domínio da religião e o obscurantismo católico-cristão.
Com o início da Idade Moderna, foi retomada a perspectiva da Antiguidade
greco-romana e seus ideais. Foi nesse período que se iniciaram as Grandes Navegações.
A expansão da Europa pelos mares possibilitou a conquista de continentes inteiros, com
destaque para a África e as Américas. A conquista dessas novas terras trouxe enormes
lucros para as classes dominantes europeias e foi fundamental para que as mesmas
pudessem, mais tarde, difundir sua forma de organização social para o restante do
mundo.
As bases para essa difusão foram possíveis através do desenvolvimento do
capitalismo e a passagem de uma produção predominantemente agraria, para industrial.
No vértice cultural, a Idade Moderna produziu um dos períodos mais ricos da história
cultural da humanidade. Com o Renascimento, nos séculos XV e XVI e com o
Iluminismo no século XVII, novas formas cientificas, políticas e filosóficas foram
propostas a humanidade. Uma das mudanças mais drásticas desse período foi a
Reforma Protestante, iniciada no século XVI por Martinho Lutero e que alterou para
sempre o mundo cristão.
Mas o que significava ser moderno nesse período? Ser moderno era estar
antenado com as transformações cientificas, sociais e filosóficas da época. Desprender-
se da crença na religiosidade e assumir que os homens possuem capacidades, sonhos e
aspirações. E embora houvesse espaço para Deus na modernidade, o homem tomou para
si o direito a pensar, aprender, enriquecer e buscar novas verdades. O homem moderno
se tornava o centro do seu próprio universo, senhor do seu destino.

Como destacado em aula, os principais fatores que desencadearam a


modernidade são O humanismo renascentista dos séculos XV-XVI, A Reforma
Protestante (1517) e a Revolução Cientifica do século XVII.
O humanismo renascentista representou um rompimento com a visão teocêntrica
e a concepção filosófico-teológica medieval, assim como a retomada do ideal greco-
romano em oposição a escolástica medieval. Com essa mudança, passou a ser
valorizado os interesses do homem, suas aspirações e iniciativas como indivíduo.
A Reforma Protestante, liderada por Martinho Lutero, caracterizou-se como um
movimento de contestação aos rumos da Igreja Católica ao opor-se a autoridade
institucional, ao envolvimento dos Papas na política, a venda de indulgencias, entre
outros favores prestados pela instituição. Ao defender a interpretação das escrituras
pelos indivíduos, a “regra da fé” é criada, dispensando assim o envolvimento do clero
na intermediação entre o homem e Deus.
Acreditando que o homem possui luz e autoridade para seguir seu caminho, a
consciência individual é valorizada, em detrimento ao saber institucional e ao
conhecimento tradicional.
A revolução cientifica rompeu o modo como o homem via a si mesmo e o
mundo, substituindo assim, o modelo geocêntrico pelo modelo heliocêntrico. A
experimentação, a observação e a verificação de hipóteses são adotados como nova
metodologia cientifica em substituição ao argumento metafisico. O modelo
contemplativo é deixado de lado em prol da ciência ativa.

Características

Quais as características da modernidade? Na coluna de Juremir Machado da


Silva, a resposta vem de forma simples: ” a crença no poder absoluto da razão (o
homem como sujeito consciente e racional a caminho da emancipação), o culto do
progresso, a ideia de que, por força da racionalidade, o mundo avança sempre para o
melhor e, principalmente, a certeza de que a natureza, considerada uma fonte de
recursos inesgotáveis, devia ser subjugada pelos homens. ”
Como complemento, faço uso dos slides do professor Celso Martinazzo, que
divide a modernidade em três aspectos: A crença no progresso social e individual
indefinido, A crença em universais e A crença nos princípios da regularidade dos
fenômenos naturais e sociais.
Na crença no progresso social, o capitalismo cria a ideia do progresso através da
oportunidade dos indivíduos, apostando na capacidade dos mesmos de melhorar a
sociedade e melhorar sua vida através das oportunidades individuais. A crença em
universais, que na pré-modernidade era calçada na religião, agora tem a ciência como
ponto de apoio. São constituídas as leis da natureza, do mundo subjetivo e social. Na
crença nos princípios da regularidade dos fenômenos naturais e sociais, temos a busca
através da ciência pela regularidade no mundo da natureza. Os psicólogos buscam essa
regularidade na psique humana, os sociólogos no mundo social. Através dessa
regularidade, torna-se possível a previsão e o controle dos fenômenos naturais e
humanos.
Ainda nos slides do professor Martinazzo, temos a definição de Giroux para a
modernidade, divididas em social, estética e política.
Na social, Giroux destaca as possibilidades benéficas, a confiança e o progresso
através da ciência e da tecnologia, valorizando a razão e o pragmatismo. A Revolução
Francesa instalou a razão como nova deusa, o Iluminismo foi a grande doutrina. O
pragmatismo se encarregou da visão utilitarista, do conhecimento, a visão útil da ciência
em substituição a visão abstrata, contemplativa ou teórica do conhecimento. Na visão
estética, valorizou-se a arte da alta burguesia, a produção cultural da elite na arte e na
música, em detrimento a arte popular. Na política, os governos democráticos
começaram a ganhar espaço com a ruina das monarquias autocráticas. A democracia se
transformou em uma importante conquista do povo. O que não impediu a burguesia de
criar mecanismos para se apoderar do poder político e organizar a sociedade da forma
que melhor atendesse seus interesses.

A importância

Descartes, citando Savater, em A aventura do pensamento, é personagem de uma


das mais celebres anedotas da filosofia. Ao dar voltas em uma estufa, começa a
questionar suas dúvidas e certezas, concluído que a única coisa de que pode ter certeza
são suas dúvidas, que, “ se duvido, existo. “ Ao dar-se conta da dúvida, Descartes
conclui que possui algumas capacidades intelectuais, então “ se penso, logo existo. “ Da
certeza da dúvida, nasce o pensamento moderno.
Para Descartes, o pensar é muito mais amplo que o termo em si, não apenas se
referindo ao ato de pensar, mas também a pura reflexão sobre o que chamamos de
pensamento e a busca pelo conhecimento. É a atividade de questionar-se, as dúvidas, as
hesitações e engloba sentimentos como a alegria, a tristeza, a gratidão entre outras
formas de sentir e refletir.
Tais sentimentos e reflexões entram no amplo amago do cogito. Para Descartes,
“vejo e percebo que existo”, ou, “percebo que existo porque se estou enganado existo,
porque não posso me enganar sem existir, se estou duvidando existo, se estou perplexo
existo”. Portanto, partindo de qualquer pressuposto intelectual, Descartes chega à
conclusão de que existe ao menos uma certeza: existir.
Embora admita que possamos ser enganados em nossas percepções, por um
suposto “gênio mal”, Descartes acredita na existência de um Deus benévolo, que não
engana. Segundo Savater, tal constatação “parece derivar da própria realidade espiritual
do ser humano, e a partir desse Deus surge uma série de ideias claras e distintas que vão
formar o conjunto dos nossos conhecimentos”.
Descartes é considerado o pai da filosofia moderna e contemporânea, por
converter a subjetividade humana no parâmetro do que é ou não real, do que é ou não
verdadeiro (Savater, 79). Tal parâmetro, antes ancorado na divindade e tradição, ou na
autoridade é levado por Descartes para a subjetividade. Sua filosofia leva ao surgimento
do idealismo, a busca pela ciência como a conhecemos.

Compreensão do paradigma

Citando Morin, “o paradigma cartesiano separa o sujeito do objeto, cada qual na


sua esfera própria: a filosofia e a pesquisa reflexiva, de um lado, a ciência e a pesquisa
objetiva de outro”. Descartes considera o homem como ego cogitans e res extensa, e
assim promove uma separação do paradigma outorgado a consciência individual e o
poder de atingir a certeza pela intuição. Para Descartes, a verdade fundamental é a
existência do “penso, logo existo” englobando todas as formas de reflexão e sentimento
que vem com o ato de refletir.
Kant, ao questionar-se a respeito do ato de conhecer, coloca-se no centro da
filosofia da consciência. Para Kant, o sujeito é ativo, sistematizador e organizador do
conhecimento. Em sua filosofia transcendental, a razão possui força estruturante perante
os dados colhidos pelos sentidos. Em Critica a Razão Pura, Kant define a metafisica
como “um conhecimento especulativo da razão inteiramente isolado que se eleva
completamente acima do ensinamento da experiência através de simples conceitos (não
como a matemática, através de aplicação da mesma à intuição), na qual, portanto a
razão deve ser aluna de si própria [...]”. (Martinazzo, 06).

Uma noção básica sobre a práxis pedagógica na modernidade

A ação pedagógica na modernidade tinha como objetivo a formação de um


sujeito racional e consciente, amparando-se nas ideias da natureza humana, da
autonomia dos homens, da capacidade humana de se educar, da emancipação do homem
através da razão, assim libertando-se do obscurantismo e da ignorância. Sob a influência
dos fundamentos metafísicos, a Pedagogia Moderna tem como finalidade a formação de
um sujeito consciente e racional, pensando em um homem essencialista, não histórico e
universal.

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