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ÉTICA

I. Origem e significação do termo


 Significado original do termo ETHOS na
língua grega usual: morada ou abrigo de
animais (significado ainda presente no
termo etologia).

 Transposição para o universo humano:


ETHOS como o modo pelo qual o homem
organiza a sua habitação, tanto no que se
refere à particularidade da sua casa quanto
no que se refere ao seu grupo e ao mundo
como lugar que o homem habita.
 Relação entre ETHOS e costumes ou
hábitos: o conjunto de hábitos que
constituem a vida humana é a forma pela
qual o homem habita seu mundo. O
mundo humano é eticamente constituído,
tanto do ponto de vista individual quanto
coletivo.

 ETHOS possui, pois, dois aspectos


inseparáveis: a dimensão da vida
individual regida por costumes e hábitos
privados; e a dimensão da vida coletiva - a
POLÍTICA - constituída pelos costumes e
hábitos que regem a vida da comunidade.
 Tanto na vida privada quanto na vida política
o ETHOS diz respeito à dimensão prática da
vida: a maneira de compreender e organizar
a conduta. Distingue-se de outros aspectos
importantes da vida que são a atividade
teórica - a ciência - e a arte.

 Essa separação indica que a origem grega


da Ética está comprometida com a
delimitação específica da realidade humana
e com a posição singular do homem no
conjunto dos seres. A tomada de consciência
do ETHOS é a apreensão por parte do
homem de sua diferença como ser moral.
Os Fundamentos da Ética

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 O estabelecimento da racionalidade prática
transfere o fundamento da ética da consciência
religiosa para a razão. É a razão (não
demonstrativa ou científica) que sustentará as
normas adequadas de conduta e os critérios de
escolha moral. A partir dessa concepção surge
o problema da relação entre ética e razão:
questões de hierarquia e subordinação.
1.1. Ética e Conhecimento

A definição aristotélica de ser humano:


animal racional; animal político; animal
falante. Consequência desses atributos
igualmente essenciais: a articulação entre
a racionalidade, a comunidade e a
linguagem.
 A inclusão do ETHOS na definição "animal
político" indica o caráter originalmente
comunitário da Ética: a passagem natural
do indivíduo à comunidade e o sentido
essencialmente comunitário da vida
humana.

 A articulação entre racional idade e ETHOS


coloca a questão do conhecimento do
ETHOS. É o homem, enquanto ser moral,
um objeto de conhecimento? Em caso
positivo, como se organiza esse tipo de
conhecimento?
 Impossibilidade de conhecer
demonstrativamente (teoricamente) a conduta
humana. O mundo humano - moral - é
dominado pela contingência, que no caso da
conduta humana se manifesta na liberdade da
vontade. A realidade humana não é um objeto
natural, matemático ou teológico.
 Mas a articulação entre racionalidade e ética
exige um saber acerca do ETHOS, isto é,
acerca da prática. A racionalidade prática
relaciona-se com esse saber, que é específico
da realidade humana enquanto ética. Sabedoria
e ciência.
É a especificidade da
realidade humana que leva
a filosofia a instituir a
distinção entre
racionalidades teorica e
prática
 O advento da filosofia cristã traz o
problema da relação entre fé e razão que
repercute na concepção de ética. A origem
desse problema está na oposição feita por
São Paulo entre sabedoria do mundo e
sabedoria de Deus. A ética cristã se
fundamenta na sabedoria de Deus,
portanto na revelação.
 A distinção agostiniana entre ciência e
sapiência: o cristão deve adquirir a
sabedoria do mundo para chegar à
sabedoria de Deus. O mundo, aí incluída a
filosofia como saber profano, é
instrumento (uso) para o fim que é a
fruição da sabedoria divina. O cristianismo
é saber prático relacionado com a
salvação.
 A concepção de Tomás de Aquino de que
a filosofia é serva da teologia estabelece a
hierarquia entre fé e razão e subordina a
ética da conduta ao objetivo principal que
é a salvação da alma. A definição do
homem como criatura implica na
fundamentação divina da ética.

A civilização medieval é estruturada ética


e politicamente a partir do fundamento
teocrático.
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O advento do pensamento moderno e o


início do mundo laico. A reivindicação de
autonomia da razão. Os fatos históricos
que abalaram o fundamento teocrático da
teoria e da prática. A autonomia do
conhecimento em Galileu. A primazia da
subjetividade em Descartes. O
Humanismo e o fundamento racional.
 A reformulação da noção de Sabedoria em
Descartes. O fundamento único dado na
unidade da razão. O sistema integral e a
árvore do saber. O ideal de harmonia
entre teoria e prática. Conhecimento e
controle das paixões.

 O aprofundamento da autonomia racional


no Iluminismo. A crítica do papel histórico-
político da religião e a laicidade como
liberdade.
 Kant e o aprofundamento da laicidade. A
recusa do fundamento racional metafisico.
A nova distinção entre razão teórica e
razão pratica. Causalidade e liberdade.
Imperativo moral. Distinção entre
autonomia e heteronomia. A subjetividade
dividida. Fato e Valor.
 O início da época contemporânea. Hegel e
a relação entre o sujeito e a história como
modo de constituição da ética. O ser
moral do homem se realiza
historicamente, por via de uma sucessão
racional dos momentos da civilização,
através dos quais a consciência ética se
vai esclarecendo na direção da visão do
seu fundamento. A oposição e a
conciliação entre o interesse particular do
indivíduo e o interesse geral da
humanidade.
A Crise dos Fundamentos

 Nietzsche e a crítica dos fundamentos éticos. A


genealogia da moral mostra que a instituição de
fundamentos é estratégia de dominação e de
recalque dos impulsos naturais. A crítica do
niilismo desde Platão até o cristianismo. O
caráter moralista da civilização e a pseudo-
autonomia. Sentido e valor. A "morte de Deus".
 Freud e a arqueologia da consciência: os
fundamentos e preceitos morais são
elementos super-estruturais que visam
impedir a expansão dos impulsos
primários, recalcados no inconsciente. O
homem vive permanentemente sob auto-
censura e a civilização é constitutivamente
repressão. Super-ego. Cultura como
recalque e mal-estar.
 Marx e a desmistificação: moral e
ideologia. Os fundamentos éticos como
instrumentos de dominação. A análise
ético-política do processo histórico de
ascensão e consolidação da classe
burguesa como dominante. A afirmação
ideológica dos valores burgueses como
universais. A ética é um produto histórico
que regula historicamente as relações
humanas, e as justifica em cada caso.
Ética e história.
 O que as três críticas têm em comum é
por em questão a racionalidade ética, isto
é, a capacidade da razão de instituir
valores universais de conduta, que em
princípio não estariam comprometidos
com qualquer interesse histórico e
simplesmente representariam a Verdade e
o Bem. Pode haver neutralidade na ética?
OS COMPROMISSOS
HISTÓRICOS DA RAZÃO
 Conhecimento e justificativa ética do mundo.
 O caráter justificacionista da teoria em geral.
 Ciência e justificação.
 Ciência e objetividade.
 Ciência e neutralidade.
 A história do século XX põe em xeque a
neutralidade da ciência.
 A ciência e a ética / O cientista e a ética.
CIÊNCIA E GLOBALIZAÇÃO -
ÉTICA E POLÍTICA
 A institucionalização da ciência.
 Ciência e tecnologia. O que vem primeiro.
 A tecnologia é transformadora?
 Progresso e exclusão. As contradições da
civilização.
 Ciência como força produtiva.
 A mercantilização da pesquisa científica.
 O genocídio administrado.
 O fracasso do sonho humanista:
supremacia da técnica sobre a ética

dissolução ética da política


totalitarismo tecnocrático
dogmatismo economicista
barbárie tecnológica

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