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Aula 3- Concepções de ser humano

Ser humano

O ser humano é o indivíduo pertencente à espécie viva que se


distingue das outras por possuir inteligência, que pode usar para elaborar
conceitos e realizar outras atividades intelectuais. Isso é o que significa ser
humano. Essa denominação também pode ser usada para se referir aos
membros da espécie de modo geral (por exemplo, o ser humano é um
mamífero). Explicados os significados do termo ser humano, aprofundemo-nos
aos aspectos biológicos da questão.

A espécie a que pertencem os seres humanos, a espécie humana, tem o


nome científico Homo sapiens. Esse nome científico, que pode ser traduzido
como “homem que sabe”, foi cunhado pelo médico e naturalista sueco Carlos
Lineu (forma portuguesa do nome do cientista, que, às vezes, é usado na forma
latinizada Carolus Linnaeus ou na forma sueca Carl von Linné, que ele adotou
depois de ter recebido título de nobreza).

A espécie Homo Sapiens é a única pertencente ao gênero Homo que


ainda existe. Aprofundando mais a questão de um ponto de vista biológico, os
seres humanos são hominídeos. O gênero Homo, a que o ser humano pertence,
faz parte da família Hominidae (dos hominídeos) assim como fazem parte dela
as espécies pertencentes aos gêneros Pan (dos chimpanzés), Gorila (dos
gorilas) e Pongo (dos orangotangos). Mais à frente, falaremos sobre o que é o
ser humano para a filosofia.

SER HUMANO OU SERUMANO?

Explicado o significado do termo ser humano, falaremos de sua grafia.


Algumas pessoas têm dúvidas sobre como grafar o termo ser humano. Como
não se trata de palavra composta, não há hífen entre as palavras “ser” e
“humano”. Consequentemente, as duas são grafadas separadas: o correto,
portanto, é escrever ser humano, não serumano. O plural de ser humano é seres
humanos. Por exemplo: O que é ser humano? O que são seres humanos?

CARACTERÍSTICAS DO SER HUMANO

Explicado de modo geral o que é o ser humano, podemos perguntar: o


que caracteriza o ser humano? Entre as características dos membros da espécie
Homo sapiens que colaboram para distingui-los dos outros animais, podemos
citar racionalidade, consciência da própria existência, consciência da própria
morte, organização social na forma de grupos como famílias e nações,
capacidade de fazer uso de meios complexos de comunicação, entre os quais
podemos citar fala, escrita e gestos, capacidade de pensar de forma abstrata e
capacidade de criar construções intelectuais, como hipóteses, teorias, ideologias
e religiões. Outras características do ser humano é ser mamífero, ter polegares
opositores, ser bípede e fazer uso de ferramentas.

O SER HUMANO PARA A FILOSOFIA

O que é o ser humano? Filosofia tem sua própria resposta. A definição de


ser humano para a Filosofia considera-o como um ser vivo, capaz de usar a
razão, capaz da formação de conceitos e de entender as diferenças entre as
coisas. A condição humana e seus significados interessou a vários filósofos
importantes, entre os quais podem ser citados Aristóteles, Platão e Jean-Paul
Sartre.

Platão

(Atenas, 428/427 a.C. – Atenas, 348/347 a.C.)

O pensamento antropológico desenvolvido por Platão, tendo grande


influência do Orfismo (seita filosófico-religiosa originada na Grécia do séc. VII
a.C., cuja fundação era atribuída ao poeta mitológico Orfeu e cuja doutrina
mística pregava a reencarnação da alma humana após a morte corporal.), é
marcado por um grande dualismo no que se refere à alma e ao corpo. Nesse
contexto, Platão desenvolve a teoria dos “dois mundos”, isto é, o mundo
inteligível, marcado pela imutabilidade, eternidade e perfeição; e o mundo
sensível, caracterizado pelo devir, materialidade e corruptibilidade. Para o
referido filósofo, a alma está ligada ao suprassensível e o corpo, ao sensível. Por
isso, para Platão, o corpo não é visto como algo que faz parte da essência
humana, mas o contrário, como “túmulo” e “cárcere” da mesma, em outras
palavras, como um local de expiação da alma.

Para Platão, a alma existe desde sempre (pré-existência da alma) no


mundo das Ideias e só possui um corpo por acidente (Mito do “cavalo alado”).
De acordo com o filósofo supracitado, o homem é essencialmente “alma” e, por
esse fato, quando se tem um corpo é como se estivesse “morto”, pois enquanto
a alma estiver presa a um corpo, estar-se-á como que em estado de morte.
Sendo assim, quando a pessoa morre “no corpo” é sinal de vida, pois nesse
momento a alma se liberta de seu “cárcere”. Na concepção platônica o corpo é
visto como a origem de todos os prazeres desordenados, das paixões, dos
desejos e isso é indicação de morte para a alma. Por essa razão, esta necessita,
ao máximo, buscar um meio para se libertar do corpo.

Aristóteles
(Estágira, 384 a.C. — Atenas, 322 a.C.)

“O conceito de animal político em Aristóteles”

Aristóteles observa que o homem é um ser que necessita de coisas e dos


outros, sendo, por isso, um ser carente e imperfeito, buscando a comunidade
para alcançar a completude. E a partir disso, ele deduz que o homem é
naturalmente político. Além disso, para Aristóteles, quem vive fora da
comunidade organizada (cidade ou Pólis) ou é um ser degradado ou um ser
sobre-humano (divino).

Conforme Aristóteles, o conceito de cidadão varia de acordo com o tipo


de governo. Isso porque o cidadão é aquele que participa ativamente da
elaboração e execução das leis, sendo estas elaboradas pelo rei (monarquia),
por poucos (oligarquia) ou por todos os cidadãos livres (democracia). No entanto,
nem todos os que moram na cidade são cidadãos. Aristóteles diferencia
habitante de cidadão, pois aqueles apenas moram na cidade, não participam
dela, enquanto esses dos que realmente pensam sobre ela tem o direito de
deliberar e votar as leis que conservam e salvam o Estado. Dito de outro modo,
cidadão é aquele que tem o poder executivo, legislativo e judiciário. Os velhos e
as crianças não são realmente cidadãos. Os velhos pela idade estão isentos de
qualquer serviço e as crianças não têm idade ainda para exercer as funções
cívicas.

Seguindo a etiologia estabelecida em sua metafísica, Aristóteles concebe,


também, as quatro causas que determinam uma comunidade. Estas são
agrupamentos de homens unidos por um fim comum, relacionando-se pela
amizade e justiça, isto é, por um vínculo afetivo. São características da
comunidade:

• Causa Material: Lares, vilarejos etc. É a partir de onde nasce a cidade;


• Causa Formal: O regime ou a Constituição que ordena a relação entre
suas partes, dando forma a ela;
• Causa Eficiente: Desenvolvimento natural. Para Aristóteles a cidade é um
ser natural, um organismo vivo;
• Causa Final: A finalidade da cidade é a Felicidade, ou seja, alcançar o
bem soberano.

Para Aristóteles, “toda comunidade visa um bem”. O bem de que se trata


aqui é na verdade um fim determinado. Não se refere ao bem correto, universal,
mas a todo ato que tem como finalidade um certo bem. Sendo assim, toda
comunidade tem um fim como meta, uma vantagem que deve ser aquela
principal e que contém em si todas as outras. Portanto, a maior vantagem
possível é o bem soberano.

Jean-Paul Sartre

(Paris, 21 de junho de 1905 — Paris, 15 de abril de 1980)

Foi um filósofo e crítico francês. É considerado um dos maiores


pensadores do século XX e representantes da filosofia existencialista, ao lado
dos filósofos Albert Camus e Simone de Beauvoir.

A corrente existencialista é pautada na liberdade do ser humano e de


acordo com Sartre: “Estamos condenados a ser livres.”

Existencialismo em Sartre

O existencialismo teve alguns precursores importantes, mas atingiu seu


ápice na filosofia do francês Jean-Paul Sartre. O existencialismo é uma corrente
teórico-filosófica de pensamento que ganhou notoriedade no século XX a partir
dos trabalhos desenvolvidos pelo filósofo alemão Martin Heidegger e pelo
filósofo francês Jean-Paul Sartre. Porém, as raízes dessa vertente filosófica
encontram-se nos escritos do filósofo alemão Edmund Husserl e, mais
profundamente, ainda no século XIX, no pensador dinamarquês Søren
Kierkegaard e no controverso filósofo alemão Friedrich Nietzsche. A filosofia,
segundo Nietzsche e Kierkegaard, deveria abandonar a pretensão de construir
grandes sistemas teórico-racionais universalmente válidos, bem como
abandonar a dedicação exclusiva para entender somente uma realidade lógica
e metafísica. Os filósofos, no lugar da lógica e da metafísica, deveriam voltar-se
para a própria vida humana como um fenômeno filosófico. Kierkegaard
estabeleceu que, para que o filósofo compreenda a vida humana, ele deve
pensar sobre sua própria vida; Nietzsche afirmou que o sentido da filosofia é uma
busca do sentido da vida cotidiana, biológica, fisiológica e sensorial; somente a
partir desse olhar para a própria vida é que o ser humano consegue atingir uma
vida plena e autêntica, pois é a partir daí que ele vai construindo sua própria
existência.

Junto a esse apanhado teórico deixado pelos filósofos oitocentistas, está


o método criado por Husserl, batizado de fenomenologia. A fenomenologia é um
método filosófico que procura entender as essências das coisas por meio das
impressões que os fenômenos provocam nas pessoas, ou seja, em vez de
elaborar sistemas filosóficos que compreendam as essências dos objetos do
mundo para se criar uma metafísica, o filósofo, chamado por Husserl de
fenomenólogo, deveria utilizar a sua percepção sensorial, utilizar os seus
sentidos, para compreender o mundo em que vive.

Jean-Paul Sartre criou, a partir de todo esse aparato filosófico e das


influências do alemão Martin Heidegger, uma filosofia profundamente
existencialista que priorizava a existência material e concreta a qualquer
essência possível. Isso significa dizer que o ser humano não possui uma
essência que o defina de imediato, mas ele é definido de acordo com o modo
como vive. O ser humano constrói-se, individualmente, a cada dia e nunca estará
pronto e definido, pois aquele processo de construção somente cessa com a
morte. E é dessa maneira que todo ser humano também se torna responsável
pelo modo como ele vive, pois se realmente a existência precede a essência, o
homem é responsável pelo que é. Desse modo, o primeiro passo do
existencialismo é o de pôr todo homem na posse do que ele é, de submetê-lo à
responsabilidade total de sua existência.

Essa situação o torna, paradoxalmente, um condenado à liberdade, pois


tudo o que ele faz, em certo sentido, faz por escolha própria. Para explicar a
teoria existencialista, Sartre recorreu ao dualismo psicofísico como composição
do ser humano: nós somos compostos de um corpo (matéria) e de uma
consciência imaterial. Não é possível existir uma consciência sem um corpo
(Sartre é um filósofo materialista), do mesmo modo que um corpo sem
consciência não é um ser humano. O filósofo lança mão então de dois conceitos
centrais:

Ser-em-si: é aquele que tem uma identidade definida, ou seja, são os


objetos e as coisas. Faz parte também do ser humano, pois é o seu corpo;

Ser-para-si: tem consciência de si, vive para si, mas não tem uma
identidade definida. É a consciência que nos compõe enquanto seres
humanos.

Esses dois conceitos levam o ser humano a uma situação de angústia,


pois, enquanto “ser-em-si”, ele quer ser idêntico a si mesmo, mas não consegue,
pois a consciência não tem identidade pronta e definida. Também não há como
ser somente consciência, consciência pura, pois toda consciência, para existir,
necessita de um corpo.

Portanto, não há essência humana, e, se não há essência, também não


há natureza humana. Somente há a condição humana. O ser humano sempre
terá que construir sua existência. Ele não é algo, ele sempre estará na condição
de algo. Por isso, sempre estará também condicionado a algo que o qualifica
momentaneamente enquanto um ser que existe para aquilo.

SARTRE, J.P. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril


Cultural, 1984, p. 6.

Por Francisco Porfírio

Graduado em Filosofia

https://abstracta.pro.br/ser-
humano/#:~:text=A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20ser%20humano,as
%20diferen%C3%A7as%20entre%20as%20coisas.

https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-conceito-animal-politico-aristoteles.htm

https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/existencialismo-sartre.htm

Vídeo sobre o existencialismo


https://www.youtube.com/watch?v=g26I8ufn2xc

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