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Filosofia

Tema estudado

 Individuo

1. A construção da noção do individuo (145)


O termo indivíduo geralmente é usado para designar um ser
compreendido de modo independente
da comunidade da qual ele faz parte. De acordo com esse sentido, a
pessoa possui uma existência
única e indivisível.

Essa noção de indivíduo foi criada durante a Idade Moderna. Em


períodos históricos anteriores,
como na Idade Média, a sociedade tinha uma organização rígida e era
muito difícil passar de uma
camada social para outra. Por isso, as pessoas tinham poucas
oportunidades de entender-se como
sujeitos únicos e diferentes dos demais

Na Idade Moderna, com a estruturação jurídica dos Estados, os


sujeitos passaram a ser considerados
indivíduos dotados de direitos e deveres.

Os pensadores da época empenharam-se em investigar as


potencialidades da razão humana,
seus limites e o modo como as pessoas adquirem conhecimento.
Nesse contexto, o ramo da filosofia
denominado teoria do conhecimento destacou-se. Com base nessa
teoria, analisam-se, entre outros fatores, a origem e o modo de
construção do saber, elementos que se relacionam à formação
da razão e, principalmente, da individualidade.
René Descartes – “Penso, Logo existo”
Um dos filósofos da Idade Moderna que investigou a construção do
conhecimento pelos indivíduos foi o francês René Descartes. Ao
buscar um conhecimento seguro e verdadeiro, ele colocou à prova
tudo o que sabia, duvidando, sistematicamente, de todas as certezas
que tinha. Por meio desse procedimento, conhecido como dúvida
metódica, ele formulou a primeira certeza: a de que, enquanto
estava duvidando, ainda que nada mais fosse seguro, ele era um
sujeito que duvidava; por isso, existia. Assim, Descartes desenvolveu
a ideia do cogito, compreendido como o sujeito pensante e
sintetizado na célebre frase “Penso, logo existo” (Cogito ergo sum,
em latim). Com base nessa noção, ele analisou, principalmente, a
ideia da consciência de si, pois há um indivíduo que, no processo de
conhecer e duvidar, acaba por perceber a própria existência.

a compreensão de que o sujeito é formado por uma substância


pensante (res cogitans, em latim) e por uma substância extensa (res
extensa). De acordo com Descartes, na obra Meditações
concernentes à primeira filosofia, o ser humano está, essencialmente,
dividido em duas instâncias: a da alma – ou do pensamento (res
cogitans) – e a do corpo (res extensa).

Assim, remetendo à teoria do filósofo grego Platão


(c. 428-347 a.C.), que concebia a realidade como uma dicotomia
entre mundo sensível (dos objetos, das coisas, da imperfeição) e
mundo inteligível (das ideias, imutável, eterno e perfeito), Descartes
concebeu a ideia de indivíduo como o ser que unia duas substâncias
de ordens diferentes: a do mundo físico e a do pensamento.
O individuo e a liberdade
A crença na capacidade da razão e seu poder de conhecer foi uma
das bases da formação do Iluminismo, no século XVIII. Outro
elemento presente na estrutura desse movimento foi a ideia de
liberdade.

A ideia de liberdade foi fundamental para Jean-Jacques Rousseau,


filósofo que teve grande expressão no Iluminismo. Seus escritos se
relacionavam à formação do indivíduo e à estrutura política. A
liberdade, contudo, foi tema de diferentes obras do filósofo

Rousseau considerava a liberdade sobretudo na relação entre a


esfera privada e a pública. Para ele, o indivíduo em sociedade é livre
desde que obedeça às regras de sua comunidade, as quais
dependem de consenso.

2. Transformações noção de individuo na


contemporaneidade
A contemporaneidade abrange um amplo período histórico, que teve
início no final do século XVIII, com a Revolução Francesa, e ainda
persiste. Em razão dessa amplitude, a concepção de indivíduo passou
por transformações, teve diferentes consequências e serviu a
determinados propósitos.

Heidegger
Ao investigar o ser, Heidegger buscou o sentido profundo da
existência humana, chegando ao conceito de Dasein, termo traduzido
para o português como ser-aí. O ser-aí é um ente que, entre diversas
possibilidades, questiona. Trata-se do ser humano compreendido em
sua existência como um ente que se conhece, que realiza um
processo reflexivo e é capaz de colocar-se como objeto de
conhecimento. Nessa medida, o ser humano se diferencia
de todos os outros seres pela especificidade de seu existir.

Heidegger analisa diversos aspectos do ser-aí. Podemos


destacar dois deles: a facticidade e a existencialidade

A facticidade diz respeito à situação característica de


a existência humana ser submetida aos acontecimentos
e fatos do mundo. Em outros termos, o indivíduo está no
mundo sem que isso dependa, imediatamente, de seu
querer.

Já a existencialidade se relaciona à forma como cada indivíduo,


internamente, lida com o mundo a seu redor. A existência humana
não está centralizada no mundo, de maneira isolada e fora do
indivíduo, nem é restrita ao interior do indivíduo, uma vez que
nenhum elemento é previamente dado a ele, formando uma
essência, mas vai sendo estruturado no processo de existir. O ser
humano, então, sai de dentro de si, transcende e se projeta no
mundo.

Existência autêntica e existência inautêntica


Heidegger desenvolveu as ideias de existência autêntica e de
existência inautêntica. De acordo com o filósofo, muitas vezes
o ser-aí apresenta uma existência inautêntica, tendo uma
percepção errônea de sua existência e fugindo de si mesmo
ao se focar em pequenas preocupações. O sentimento de
angústia, por sua vez, permite ao ser humano compreender
sua existência como finita, revela a morte como o fim e o ajuda
a se descobrir como um ser para a morte. Essa consciência da
finitude traz a oportunidade de uma existência autêntica, em
que o ser humano se distingue na multidão.
O existencialismo: Jean-Paul Sartre
e Simone de Beauvoir
O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, além de textos teóricos,
escreveu romances e peças de teatro, entre outros gêneros literários,
para aprofundar suas ideias com base em diferentes visões.
Ele foi fortemente influenciado pelo pensamento de René Descartes
e pela fenomenologia. Com base no cartesianismo e analisando a
realidade humana, Sartre publicou O ser e o nada: ensaio de
ontologia fenomenológica. Nessa obra, ele estudou a situação do
indivíduo ao retomar a perspectiva da relação entre sujeito e objeto,
questionando, assim como Heidegger, o que é o ser. Sartre
estabeleceu duas estruturas bastante diferentes que compõem a
realidade humana: o ser e o nada

Ao investigar o ser e o modo como este aparece para a


consciência, discussão desenvolvida com base na fenomenologia,
Sartre caracterizou os seres como em-si, pois, como objetos, são
fechados em si mesmos, ignorando qualquer coisa que lhes seja
exterior e não estabelecendo relações com outros seres, posto que já
são plenos.

De acordo com o filósofo, o indivíduo não é o ser, mas


sim aquele que é marcado pelo nada. Justamente por ser
vazio, sem qualquer essência ou natureza preestabelecida,
é possível para o sujeito buscar sua forma de ser, uma vez
que se constitui enquanto falta.

Nesse contexto, é importante apresentarmos um dos


temas centrais para Sartre: a liberdade. O indivíduo pode
buscar seu ser e projetar-se em razão da liberdade que
possui. De acordo com o filósofo, o ser humano está condenado a ser
livre.
A condição da mulher
Grande parte da obra da filósofa francesa Simone de
Beauvoir recebeu influência do existencialismo. No livro
O segundo sexo, a filósofa propôs a análise da condição da
mulher considerando, especialmente, a ausência de uma essência
que a determinasse. Essa obra representou um grande avanço nas
discussões a respeito do feminismo, pois Beauvoir realizou uma
investigação do significado de ser mulher e de suas implicações
sociais. A obra é estruturada no argumento de que “não se nasce
mulher; torna-se mulher”. Tal ideia de Simone de Beauvoir deve ser
compreendida no contexto da filosofia existencialista: se o indivíduo
é marcado pelo seu nada e se projeta no futuro para construir-se, se
não há uma essência que constitua o ser humano, não há,
consequentemente, uma essência que defina previamente alguém
como homem ou mulher. O processo de tornar-se mulher está aliado
à existência, de modo que a condição da mulher é uma construção
histórica e social, que não está pronta e acabada, mas passa por um
processo de significação.

A relação entre os indivíduos na filosofia de Sartre


Com base no pensamento de Sartre, podemos considerar que é
instaurada uma situação de conflito entre um indivíduo e os outros. A
relação deles será de dominação ou de subjugação, pois o indivíduo
apresenta uma estrutura subjetiva (a do para-si) e outra objetiva (a
do corpo, em-si). Em razão disso, oscila entre uma e outra, ora
exercendo sua liberdade plenamente (dominando os outros), ora
suprimindo sua liberdade (tornando-se objeto). Assim, o indivíduo
está em constante movimento e em conflito
Confesso que essa parte não entendi muito bem, se entender você fala
A relação do individuo com o outro
O filósofo Emmanuel Lévinas abordou a relação com o outro de
modo diverso do de Sartre. Lévinas concebeu a convivência entre os
indivíduos de forma positiva, como fator de acréscimo e de
construção da ética.

Assim como Sartre, Lévinas refletiu sobre o indivíduo, mas, em vez de


partir da lógica do eu, que se consolidava de modo mais intenso
desde Descartes, partiu da lógica predominantemente do outro.
Assim, o modo de estudar o indivíduo passou a ser pela ética, e não
pelo conflito.

Lévinas investigou a diferença entre os sujeitos, indicando o fato de


que eles se encontram originariamente separados. Segundo ele,
refletir sobre a intersubjetividade significa, então, compreender que
a relação social se constitui por meio da separação entre o sujeito e o
outro.

Intersubjetividade: relação interpessoal que se contrapõe ao


fechamento individualista.

O sujeito consegue passar de seu mundo fechado para o social


por meio de uma abertura para o outro

Essa abertura requer disponibilidade e responsabilidade diante de


outro ser humano. Significa o abandono da indiferença e a
valorização da relação com um ser que é diferente do indivíduo.
Assim, Lévinas nos fornece instrumentos para analisar a base da
sociedade e da condição social do indivíduo, sustentando uma
relação entre este e o outro que não é marcada pela dominação, mas
pelo respeito e pela responsabilidade ética
Merleau-Ponty: a vivência do corpo

De acordo com ele, na obra Fenomenologia da percepção, o corpo


possibilita a existência do indivíduo, a percepção da realidade e a
aquisição de conhecimento. Ele destaca, ainda, a importância das
sensações do corpo para a constituição do indivíduo. Antes de ser um
sujeito do conhecimento, a pessoa possui um corpo por meio do qual
realiza suas experiências. A existência do corpo, conforme Merleau-
Ponty, torna possível a existência do espaço, pois é o instrumento
usado pelo indivíduo para experimentar a realidade e perceber o
tempo.
1. (Enem-MEC)
Texto I
“Há já algum tempo eu me apercebi de que,
desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas
opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que
depois eu fundei em princípios tão mal assegurados
não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida,
desfazer-me de todas as opiniões a que até então
dera crédito, e começar tudo novamente a fm de
estabelecer um saber frme e inabalável.”
DESCARTES, R. Meditações concernentes à primeira
filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (Adaptado).
Texto II
“É o caráter radical do que se procura que exige a
radicalização do próprio processo de busca. Se todo
o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza
que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma
gerada pela própria dúvida, e não será seguramente
nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.”
SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade.
São Paulo: Moderna, 2001 (Adaptado).
A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do
conhecimento, deve-se
a) retomar o método da tradição para edificar a
ciência com legitimidade.
b) questionar de forma ampla e profunda as antigas
ideias e concepções.
c) investigar os conteúdos da consciência dos seres
humanos menos esclarecidos.
d) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.
e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que
dispensam ser questionados.

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