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1.

CONTEXTUALIZAÇÃO

Decerto, não se pode falar de uma corrente filosófica ou pensamento sem antes situa-lo
num determinado contexto, tempo ou espaço, impacto que teve, o que levou ao seu
surgimento. Neste caso, Segundo Fonseca (1967) o existencialismo foi uma doutrina
filosófica e um movimento que surgiu na Europa no seculo XIX, inspirado pelos
filósofos como Soren Kierkegaard (1813-1855) e Friedrich Nietzsche (1844-1900).
Porém o seu valor foi exaltado no seculo XX influenciado pelo escritor e filosofo
francês Jean-Paul Sartre (1905-1980).

Há que ressaltar que, o surgimento do existencialismo foi marcado por guerras,


revoluções, genocídios, crises económica, desemprego e sobretudo o sofrimento
humano, Visto que emergiu no período das duas grandes Guerras mundiais, isto é a
primeira Guerra mundial (1914-1918) e a Segunda guerra mundial (1939-1945). É neste
âmbito, que todas estas experiencias geraram um sentimento de questionamento sobre o
ser humano, reflectindo sobre a sua existência, novos tema como o sentido da vida, o
sofrimento emocional, as dores de existir e angustias, isso fazendo com que as pessoas
buscassem novas respostas para novas indagações.

2.EXISTENCIALISMO

É uma corrente filosófica e literária que aprimora a experiencia como principal fonte de
aquisição do conhecimento, portanto, ele surgiu como uma resposta às angústias
vivenciadas pela Europa durante a segunda guerra mundial, sendo uma corrente
filosófica que popularizou-se por meio do jornalismo, das produções intelectuais, da
poesia, do romance, do teatro e as demais manifestações culturais daquela época.

O Existencialismo enquanto doutrina nasceu no século


XIX, e expandiu suas raízes ao longo de todo o século
XX. Foi uma Filosofia, mas também se traduziu em
dramas humanos reais, quer nas trajectórias peculiares de
seus autores, quer em suas produções escritas. Estas
transpuseram os limites da Filosofia, ampliando suas
produções para a literatura, terreno fértil onde puderam
encontrar uma maior correspondência com a vida humana
em si, em toda a sua complexidade (LISBOA, 2016,
pag.255).

2.1.Objecto central

O Existencialismo realça a liberdade individual e a responsabilidade, ele tem como


objecto de pensamento literário a existência humana e subjectividade. Na qual o homem
é o um único ser que é responsável pelos seus actos e destino. Para os existencialistas a
existência precede a essência, ou seja o homem cria a sua própria essência a partir das
suas obras ou experiencia no seu meio. Deste modo não havendo nenhuma forca
incomum que tenha projectado a essência do homem.

O Existencialismo é o resultado da tomada de consciência


do sujeito sobre sua própria trajectória de vida, na qual ele
é o grande responsável por redigir os capítulos da sua
narrativa existencial. Nisso reside a busca pelo si mesmo,
apesar das muitas prescrições sociais que versam sobre
quem é o homem e o que ele deve fazer (LISBOA, 20216,
pag.255).

2.2. Essência humana

A corrente existencialista é composta por duas vertentes no que tange a essência


humana, sendo uma crista ou religiosa, estas dizem que a essência humana é um atributo
de Deus, e outra vertente designada Ateu ou não religiosa afirmam que a essência
humana é construída durante a experiencia vivida no mundo, deste modo não existindo
nenhum Deus que tenha projectado a sua essência.

Falar da doutrina existencialista, implica falar em filosofia


da essência ou, em termos místicos, de Deus. Isto é,
implica falar, por um lado, dos que crêem nessa mesma
essência e, por outro, dos que a priori a contestam. De um
lado, temos o pensamento existencialista cristão ou
religioso; do outro, o pensamento existencialista ateu ou
não religioso (Sá,2009,pag.24).

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Vários são os filósofos que devido o seu teor filosófico identificam-se como
existencialistas.
Segundo (https://www.educabras.com/enem/materia/filosofia/aulas/o_existencialismo)
Muitos filósofos existencialistas não se identificavam com o movimento e nunca
utilizaram o termo “existencialismo”. O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard
(século XIX) e o filósofo alemão Friedrich Nietzsche são considerados filósofos pré-
existencialistas, tendo sido os precursores do movimento.

2.2.1. Soren Kierkegaard (1813-1885)

Segundo Batista Mondin (2017, p. 70) Soren Kierkegaard (1813-1885) foi um filósofo
dinamarquês, considerado o “Pai do Existencialismo”. Embora tenha criticado bastante
o mundo religioso do seu tempo ele fez parte da vertente existencialista Cristã,
doutorou-se em Teologia. Em seus pensamentos Kierkegaard foca-se mais na Teologia
do que na filosofia, ele analisa o estado do homem diante de Deus, mas isto não lhe
impediu de gerar discursos filosóficos.

Segundo Mondin (2017, p. 78-70), para Kierkegaard o homem está em uma contínua
mudança, todavia, esta mudança é compreendida em três fases ou estados:

 Estético- o homem é dominado por coisas efémeras como prazer, riqueza, etc. o
homem encontra-se num estado instável, incapaz de evoluir, sem compromisso a
velar;

 Ético- o individuo encontra-se num estado estável com compromissos sérios a


velar e aberto pra evoluir;

 Religioso- o individuo encontra-se submerso nas ordens e mandamentos de


Deus qualquer que sejam os mandamentos.

Não se pode falar de Kierkegaard sem falar da sua obra “A liberdade e o pecado”.
Segundo Rovigh (2011, p. 111) o pecado não é um objecto da ciência, mas do mundo da
existência. Nesta obra Kierkegaard não pretende explicar o pecado, mas descrever o que
antecede o pecado. Para ele o pecado é antecedido da inocência, ele define a inocência
como sendo a ausência do bem e mal e que acaba gerando a angústia. Por outro lado a
angustia e dada como a vertigem da liberdade ou seja o descontrole emocional da
liberdade. Ele explica que a angústia é anterior ao pecado original em Adão e Eva, pois

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foi este sentimento incómodo na qual eles se depararam em escolher entre obedecer ou
não à proibição de Deus em não comer o fruto do conhecimento, dai que ele diz que o
pecado entrou no mundo com o pecado. Para ele o pecado é decidido no momento, e o
momento é feito pela ausência do passado e o futuro.

2.2.2.Martin Heidegger (1889-1976)

Segundo Mondin (2017,p.2014) Considerado um dos maiores representantes do


existencialismo do seculo XX. Nasceu na Alemanha, foi filósofo, escritor e professor,
cristão. Heidegger, parte da natureza do ser. De acordo com Heidegger, a questão do
ser, embora sempre estudada ao longo da história da filosofia, jamais foi resolvida;
sendo até muitas vezes deturpada (uma vez que outros filósofos estudavam aspectos
particulares / algumas “partes” do ser, e não este como um todo). Em Ser e Tempo, sua
obra mais reconhecida, ele faz uma elaboração concreta acerca do sentido do ser; não de
forma conceitual, mas sim de maneira interpretativa. Ele elabora uma análise existencial
a partir do método fenomenológico; o qual, Heidegger considera o único possível ao
esclarecimento e interpretação dos fenómenos da existência. Portanto em sua pesquisa
antropológica concebe alguns traços característicos do homem, que são:

 Ser-no-mundo, diz que neste existencial o homem se encontra submerso na sua


zona de conforto e faz com que ele fique preso neste estado, o homem contenta-
se com o que já fez e com o que já feito prendendo-se assim no passado
(MONDIN,2017,pag.216);

 Existência, o homem não encontra-se submersa nalguma situação e fazendo


com que neste estado esteja aberto a se tornar algo novo e criar algo novo, em
um individuo visionário sabe pensar no amanhã (MONDIN,2017,pag.216);

 Temporalidade, a existência do homem está sujeita ao tempo, o homem não


repousa no seu presente ser, mas torna o seu presente em passado e esta sempre
perspectivando o seu futuro ser, assim unindo a sua essência e a sua existência
(MONDIN,2017,pag.216).

Por meio do primeiro e do segundo existencial surge as tais formas de vida autêntica e
inautêntica.

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 Inautêntica ou banal: O homem deixa-se dominar pela situação na qual se
encontra, o homem desempenha mais a função de consumidor do que dum
homem que cria para sua subsistência, é um homem que esquiva-se de
responsabilidade, não tem iniciativa em tomar decisão, um homem totalmente
dependente (MONDIN, 2017, pag.217);

 Autentica: é compreendido como um homem já responsável por seu futuro,


com disposição de criar coisas pra sua subsistência ou existência, um individuo
independente que sabe criar as coisas e sabe o fim último da sua existência
(MONDIN, 2017, 218).

2.2.3.Jean-Paul Sartre (1905-1980)

Foi um filósofo Francês considerado um dos maiores representantes do existencialismo


ateu. Assim como Heidegger, Sartre também em sua obra analisa o ser partindo homem.
Em sua filosofia prevalece a distinção entre o homem com outros seres, pelo facto do
homem ser dotados de conhecimento ao passo que outros seres não (MONDIN,2017,
pag.228), ele fala de um homem livre que não está sujeito ao determinismo, ou seja, o
homem é o único responsável por seus actos e o único criador do seu futuro.

Segundo Reale e Antiseri (2008, pag.229-230) Sartre considera o homem um ser


absolutamente livre pra criar a sua essência diferentemente dos outros seres, Sartre diz
que a existência precede a essência, a essência humana é construída durante a sua
vivencia por meio das experiencias vividas, portanto a essência do homem não e
projectada por Deus ou uma forca incomum, porque se assim fosse o homem não seria
livre, Por isso que o homem molda a sua essência através do seu acto.

“O homem é condenado a ser livre” condenado pelo facto de assumir as consequências


do seu acto. Essa liberdade não significa que o homem pode fazer tudo quanto quiser,
pois isso é característico de alguém que não pretende assumir as consequências dos seus
actos (MONDIN,pag.230).

3.CONVERGENCIA E DIVERGÊNCIA NOS TRÊS FILÓSOFOS

No pensamento desses três filósofos há uma semelhança muito importante, no que


concerne ao Ser, partindo do homem, a essência do homem como objecto, analisa o que
homem faz da sua existência, a construção da essência pra sua existência sendo livre, as

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complexidades das situações que ele enfrenta que podem vir a condicionar a sua
liberdade. Porém eles também divergem em seus pensamentos, no que tange a criação
do homem, Kierkegaard e Heidegger concebe Deus como criador homem e como
omnipresente na vida homem enquanto Sartre não reconhece Deus como criador do
homem, ele impõe o Paradoxo que diz que o homem em seu desejo mal sucedido de se
tornar Deus projecta o ser Deus, ou seja cria Deus (Mondin,2017,pag.234).

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