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Simone de Beauvoir
Simone de Beauvoir não é apenas uma filósofa feminista existencialista,
conhecida principalmente pela publicação de sua obra O Segundo Sexo. Simone é
também uma escritora que tem como característica levar seus leitores a refletir sobre
conceitos filosóficos existenciais em suas narrativas literárias, o que faz com que seja
necessário uma certa iniciação filosófica para ter uma plena compreensão de seus
romances. Não que seja necessário conhecer filosofia para tal, mas esse conhecimento
permite mergulhar nas narrativas beauvoireanas de forma mais aprofundada.
Cada sujeito, isto é, homem ou mulher, é livre e responsável por suas escolhas,
mas é inegável que as contingências sociais têm negado à mulher a condição de exercer
sua vontade livremente e contra a qual é necessário lutar. É inegável que a condição da
mulher é radicalmente diferente da condição masculina. Há condicionamentos sociais,
históricos, culturais e até psicológicos que impõem essa diferença de condição.
Heidegger
Embora tenha abordado a questão da existência, o filósofo Martin Heidegger (1889-
1976) recusa ser enquadrado entre os filósofos existencialistas, argumentando que as
reflexões acerca da existência são, na sua filosofia, apenas introdução à análise do
problema do ser, e não propriamente da existência pessoal. Mas não resta dúvida de que
inspirou o pensamento dos existencialistas. Heidegger, discípulo de Husserl, na obra Ser
e tempo segue o método fenomenológico para discutir e elaborar uma teoria do ser.
Assim, parte da análise do ser, que ele denomina Dasein no caso do ser humano. Esta
expressão alemã significa justamente o "ser-aí", isto é, um ser-no-mundo: o ser humano
não constitui uma consciência separada do mundo; ser é "estourar", "eclodir" no mundo.
De acordo com o filósofo, há três etapas que caracterizam a vida humana, as quais, para
a maioria
dos indivíduos, culminam em uma existência inautêntica. São elas:
• o fato da existência – o ser humano é “lançado” ao mundo, sem saber por quê. ao
despertar para a consciência da vida, já está aí (Dasein), sem ter pedido para nascer; ou
seja, a consciência ocorre já aqui, na vida.
• o desenvolvimento da existência – o ser humano estabelece relações com o mundo
(ambiente natural e social historicamente situado). para existir, projeta sua vida e procura
agir no campo de suas possibilidades. Move uma busca permanente para realizar aquilo
que ainda não é. em outras
palavras, existir é construir um projeto; O desenvolvimento da existência ocorre em um
tempo histórico e limitado.
• a destruição do eu – tentando realizar seu projeto, o ser humano sofre a interferência
de uma série de fatores adversos que o desviam de seu caminho existencial. trata-se do
confronto do eu com os outros, confronto no qual o indivíduo comum geralmente é
derrotado. O seu “eu” é destruído, arruinado, dissolve-se na banalidade do cotidiano, nas
preocupações da massa humana. em vez de se tornar si-mesmo, torna-se o que os outros
são; assim, o eu é absorvido no com-o-outro e para-o-outro.
Na concepção de Heidegger, o sentimento profundo que nos faz despertar da existência
inautêntica é a angústia, pois se trata de um estado afetivo que revela o quanto nos
dissolvemos em atitudes impessoais, o quanto somos absorvidos pela banalidade do
cotidiano, o quanto anulamos nosso eu para inseri-lo alienadamente no mundo do outro.
Na angústia, sentimo-nos como um ser a caminho do nada, um ser-para-a-morte. Na
tentativa de sair desse estado, geralmente buscamos meios para esquecer aquilo que o
causa. Fugimos. essa é uma solução provisória, pois – conforme apontou o filósofo –
somente quando o indivíduo enfrenta seu sentimento e transcende o mundo e a si mesmo,
conferindo um sentido a seu ser, é que consegue superar sua angústia.
A autenticidade
A autenticidade ou a inautenticidade da sua vida decorre do sentido que o ser humano
imprime à sua ação. O indivíduo inautêntico é o que se degrada vivendo de acordo com
verdades e normas dadas; a despersonalização o faz mergulhar no anonimato, que anula
qualquer originalidade. É o que Heidegger chama mundo do "se", ao designar a
impessoalidade da ação: come-se, bebe-se, vive-se, como todos comem, bebem, vivem.
Ao contrário, a pessoa autêntica é aquela que se projeta no tempo, sempre em direção ao
futuro. A existência é o lançar-se contínuo às possibilidades sempre renovadas.
Entre as possibilidades, a pessoa vislumbra uma delas, privilegiada e inexorável: a
morte. O "ser-aí" é um "ser-para-a-morte". A máxima "situação-limite", que é a morte, ao
aparecer no cotidiano, possibilita-lhe o olhar crítico sobre sua existência. É característica
da inautenticidade abordar a morte como "morte na terceira pessoa", ou seja, a morte dos
outros, evitando tematizar a própria finitude e, portanto, nunca questionando a própria
existência.
Jean-Paul Sartre
Jean-Paul Sartre foi um filósofo e escritor consagrado que viveu no século XX
conhecido por suas obras filosóficas, literárias e suas reflexões sobre a existência humana
com ênfase na liberdade, responsabilidade e no engajamento político (BEAUFRET, 1976;
GIORDANI, 1997; HUISMAN, 2001).
A existência humana foi alvo de profundas reflexões literárias e filosóficas, desde
o século XIX até o século XX, tendo em Sartre um de seus principais expoentes. Para o
existencialismo a existência é o ponto de partida da reflexão filosófica. A filosofia deve
refletir sobre o homem no mundo, sobre o ser-no-mundo e, por isso, tem uma função
eminentemente prática. O existencialismo destaca o valor da pessoa, da existência, da
liberdade; acentua mais a vivência do que o “ser”. O cerne do pensamento existencialista
é de que “a existência precede a essência” (SARTRE, 1987), no sentido de que o ser
humano é aquilo que quiser ser. O homem é livre sendo ele o único responsável pelo que
faz de si mesmo.
A orientação individualista da filosofia da existência de Kierkegaard foi renovada
por Sartre que se diferencia do filósofo dinamarquês por seu ateísmo. Além de postular a
liberdade como um fundamento existencial Sartre parte do princípio de que não existe
nenhum Deus que tenha criado o homem e por isso o homem é o único responsável pelo
que faz de si mesmo.
Sartre identifica o homem com a sua liberdade: a vida do homem não está de modo
algum determinada como em uma planta, cujo futuro já está “inscrito” na semente; o
homem é o artífice do seu futuro. E não há como se desculpar: somos responsáveis por
nossas glórias e por nossas tragédias; se falirmos ou vencermos, falimos ou vencemos
porque escolhemos a derrota ou a vitória. Ninguém nasce covarde ou herói, diz Sartre. O
covarde se fez covarde, assim como o herói se torna herói. O homem escolhe livremente
o seu futuro. Ele pode escolher ter ou não ter filhos, se alistar ou desertar em caso de
guerra, mas não pode deixar de escolher. Não escolher já é escolher, mesmo sendo uma
atitude de fuga provocada por algum medo (SARTRE, 1987 e 1997).
Uma das afirmações mais conhecidas de Sartre é que o ser humano está condenado
à liberdade. Isso significa que cada pessoa pode a cada momento escolher o que fará de
sua vida, sem que haja um destino previamente concebido. Para Sartre o homem foi
lançado num mundo que não escolheu: não escolheu seu nome, sua classe social, sua
compleição física etc. Mas, desde que foi lançado no mundo, está condenado a escolher:
escolher sua vida, sua liberdade. Ao homem só resta a liberdade. E é ela que determina a
escolha.
Todos temos o sonho de sermos pessoas que já realizaram todas as suas potencialidades,
todos os projetos. Sartre nos diz que o projeto fundamental é tornar-se um ser que já
realizou tudo, mas preserva sua consciência. A liberdade é que torna possível escolher
dentre todas as alternativas possíveis, aquela que vai nos levar a um caminho mais curto
em direção ao projeto fundamental. Todo projeto humano contém em si um certo futuro.
Se decido me casar, estou ciente de que minha decisão irá afetar uma boa parte da minha
vida futura, senão a vida inteira. Se me lanço na política, crio alguma expectativa de como
posso intervir na vida em sociedade ou, ao contrário, de como a vida política pode me
beneficiar pessoalmente. Se sou um camponês minha vida existe em função daquilo que
resolvi semear e projeto um ano inteiro de expectativa diante dos meus olhos.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introdução à Filosofia. 6ª ed. São Paulo: Moderna, 2016.
COTRIM, Gilberto Fundamentos de filosofia / Gilberto Cotrim, Mirna Fernandes. -- 4.
ed. -- São Paulo : Saraiva, 2018.