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Doutoranda em História pela UNESP/Assis, bolsista Capes, orientador Prof. Dr. José Carlos Barreiro.
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na qual ele dizia que muitos aspiravam ao título de senhor de engenho. Ou seja,
conforme observa Santiago (2002), o título nobiliárquico de senhor de engenho só podia
ser conferido àquele colono que se afirmava no governo dos homens e no trabalho da
terra do qual era proprietário.
Durante os oitocentos, sobretudo a partir da vinda da família real para o Brasil,
em 1808, a escrita dos viajantes estrangeiros além de realizar o reconhecimento das
potencialidades geográficas, também passaram a revelar aspectos do cotidiano
econômico e social do novo reino. Suas impressões redundavam em descrições de
hábitos, cultura e costumes da população, fosse ela do campo ou da cidade, propagando
as famosas visões do Brasil em território europeu por meio da publicação de seus
escritos. O conhecimento do país foi sendo então construído também a partir dos
olhares de Francis de Laporte de Castelnau (1840), Augustin François César Prouvençal
de Saint-Hilaire (1820) e Spix Martius (1829).
Inúmeras expedições alcançaram o extremo oeste brasileiro com objetivo de
conhecer o Brasil e de atender interesses nacionais e internacionais, sobretudo
europeus. As expedições eram constituídas por astrônomos, geógrafos, artistas,
médicos, naturalistas, minerologistas, etnólogos, entre outros especialistas, das quais se
destacaram a comitiva austríaca de Johann Natterer, datada de 1822; a de Georg
Heinrich Langsdorff, de 1825, da qual participou Hercules Florence; a comissão
francesa de Francis Castelnau de 1843; a expedição chefiada por Joaquim Ferreira
Moutinho, de 1850; a italiana de Bartolomé Bossi, de 1862; a missão Morgan, com
Carlos Hartt e Herbert Smith, de 1870; e finalmente, no final do século, a expedição
belga de Ferdinand Nijs.
Além de traduzir concepções eurocêntricas a respeito dos modos, hábitos e
costumes da população local, a narrativa dos viajantes destacava o potencial econômico
dos lugares visitados, mas minimizavam a capacidade de seus habitantes em explorá-la.
Além disso, muitas das inferências e registros a respeito das questões sociais eram
realizadas a partir ponto de vista do segmento dominante. Em outras palavras, a visão
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Além dos autores citados por Maria Yedda Linhares, outros autores assentaram
suas interpretações sobre a formação social brasileira, como por exemplo, Capistrano de
Abreu. Interessa-nos as abordagens que estes autores realizaram sobre a economia
colonial, principalmente por destacarem o importante papel exercido pela criação
pastoril na conformação histórica brasileira.
Algumas dessas obras revelam que, pelos aspectos operacionais da economia
regional, sobretudo aqueles descritos por Capistrano de Abreu (1930), e analisados por
Antonio de Barros de Castro, em 7 Ensaios sobre a Economia Brasileira (1971), o
desenvolvimento da pecuária foi essencial para áreas sem vocação para agricultura
agroexportadora e monocultora. Castro também concordava com essa posição,
considerando que a produção pastoril caracterizou-se como
[...] atividade eminentemente extensiva, exigindo grande mobilidade
(mudança de pasto) e se desenvolvendo em regiões onde a terra
praticamente não tem valor econômico [...]era compatível, quer com a
indefinição da propriedade territorial quer com o surgimento de
grandes latifúndios (1975: 37).
É bem verdade que os estudos historiográficos tradicionais vêm hoje aos poucos
sendo superados pela crescente produção na área das humanidades, graças aos esforços
significativos de estudiosos do campo da economia, sociologia, antropologia e história.
As distintas interpretações da história brasileira têm sido geradas a partir de novos
campos investigativos abertos pelas universidades brasileiras, através de seus
Programas de Pós Graduação strito sensu.
A análise da historiografia brasileira sobre a sociedade pastoril se faz importante
para a minha pesquisa, porque a região em que estudo, bem como a sociedade que lá se
formou a partir do século XIX, era baseada na economia pastoril e de subsistência e
operado com mão-de-obra escrava, sendo possível encontrar em Livros Oficiais que
possuem a declaração de boiadeiros, quando da saída de boiadas da província, a
presença de cativos em suas comitivas. Cabe à pesquisa, em seu decorrer, tentar
compreender a rotina desse escravo dentro dessa comitiva.
Referências Bibliográficas:
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