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FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Capítulos 19 e 20.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Capítulos 21 e 23.


BEIGUELMAN, Paula. Formação política do Brasil. São Paulo: Pioneira, 1976, p. 3-27. (A destruição do
escravismo capitalista)
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Capítulo 24.

Objetivo: mostrar em que condições ocorreu a abolição do tráfico de escravos no Brasil, bem
como suas principais implicações. Relacionar a crise de mão de obra desencadeada pelo fim do
tráfico com as principais transformações socioeconômicas e políticas da segunda metade do século
XIX (caps. 19 a 21 do Furtado), analisando a nascente economia cafeeira e evidenciando quais são
os principais agentes sociais dessas transformações.

Cap. 19 – Declínio a longo prazo do nível de renda: primeira metade do século XIX
 Nenhuma indústria cria mercado para si mesma, logo, precisávamos de um mercado
exportador. O que seria mais intuitivo de começar no Brasil seria pela indústria têxtil, que
tinha algum mercado interno de tamanho considerável, mas o produto inglês era tão mais
barato que não valia a pena. Mesmo com cotas de importações, comprar do mercado
interno era muito mais caro e os ingleses tentavam impedir a todo custo a exportação de
maquinário fabril
 A elite dominante do Brasil sendo de grandes senhores agrários não tinha interesse em
desenvolver uma industrialização no país, mas, deixando-a de lado, Furtado reconhece que
as exportações eram necessárias para o desenvolvimento da política de industrial.
 A principal causa do atraso relativo do Brasil na primeira metade do século XIX foi a
diminuição das suas exportações
 Fala de uma baixa nos preços dos principais produtos exportados pelo Brasil na ordem de
40% em média (a renda real cresceu 40% menos do que os volumes exportados),
enquanto a média de preços das importações permaneceu estável
 O que poderia ter remediado a situação seria um aumento das atividades não ligadas ao
comercio exterior (indústria, urbanização), o que não ocorreu. O que Furtado sugere como
hipótese foi um aumento da representatividade do setor de subsistência, de produtividade
menor, que resultaria nessa queda da renda per capta durante o período.

Cap. 20 – Gestação da economia cafeeira


 Panorama do século XVIII:
o Durante os três primeiros quartos do século, a população cresceu por causa de
migração, mas, posteriormente, o crescimento vegetativo foi pouco representativo
o As fases de progresso foram rápidas e concentradas localmente
o A instalação de processos administrativos rudimentares foi a transformação mais
marcante, mas ainda insuficiente para transformar o panorama geral
o A importação de escravos tornara-se mais difícil e não se resolveu por uma mão de
obra alternativa, cortando a expansão da força de trabalho no Brasil
o As técnicas da revolução industrial mal chegaram na colônia e nosso sistema
produtivo continuou praticamente o mesmo
 Para superar essa fase, o Brasil precisava se reintegrar no mercado internacional, já que
não possuía capital próprio suficiente para desenvolve-se em novas atividades e nem
técnicas próprias.
 Sem acesso a capital externo e sem capacidade de se autofinanciar, o Brasil precisava de
um produto em cuja produção o fator terra fosse primordial, o único fator produtivo que a
colônia tinha em abundância. O café surgiu atendendo a essa condição
 Apesar de já presente no Brasil desde o início do século XVIII, foram os conflitos no Haiti,
colônia francesa e principal fornecedora mundial, que permitiram a alta de preços que
beneficiaria o Brasil
 O desenvolvimento da produção ficou concentrado nas regiões montanhosas próximas a
capital (Rio de Janeiro, à época). Lá havia disponibilidade de mão-de-obra oriunda da
desorganização da economia mineira e proximidade dos portos.
o Na primeira fase do café, temos aproveitamento de recursos já existentes, mas
subutilizados (século XVIII)
 A elevação dos preços no fim do século XVIII também estimulou a produção em outras
regiões na América e na Ásia, ocasionando queda nos preços que se manteve até os anos
1840.
o Os produtores brasileiros continuaram a produção de café, utilizando os recursos
semi-ociosos
o Mesmo com a queda do preço médio, a quantidade exportada cresceu bastante
 Fase de gestação da economia cafeeira: 2º e 3º quartel do século XIX
o Comparação breve com a economia açucareira:
 Uso intensivo de mão de obra escrava (similaridade)
 Necessidade de capital inicial menor (diferença)
 Maior representatividade do fator em relação ao fator capital (diferença)
 Necessidade de reinvestimento para manutenção menor (diferença)
devido a maior simplicidade dos equipamentos
 Furtado afirma que, devido a essas características, o que poderia limitar o crescimento da
produção seria o aumento do preço da mão-de-obra (escravos), o que não foi um
problema na primeira fase do café devido a ampla disponibilidade de mão-de-obra
subutilizada, dado o fator terra já abundante. Por isso foi possível a manutenção da
produção mesmo no período de queda de preços internacionais (final do século XVIII –
1840)
 Quando os preços voltaram a subir, o setor cafeeiro beneficiou-se da migração da mão-de-
obra do açúcar do Norte para o Sul, na direção do café
 Formação da classe empresária do café - antecedentes:
o Após a chegada da família Real e da Corte portuguesa no Brasil, a região do Rio
passou a apresentar hábitos de consumo mais dinâmicos, demandando um
abastecimento mais dinâmico. Por isso, os núcleos da população rural passaram a
ter o abastecimento desse mercado como sua principal atividade. A localização
dessa população era reflexo da economia mineira, que demandava gêneros
diversos e acabou por gerar uma classe de comerciantes locais.
o Essa classe local, quando do surgimento do café, utilizou do seu capital acumulado
nas atividades comerciais para produzi-lo.
 Formação da elite cafeeira X formação da elite do açúcar:
o Na época do açúcar, o comercio era monopólio de europeus (portugueses e,
principalmente, holandeses), que faziam o comercio do açúcar no mercado,
cabendo às elites locais a produção do produto bruto. Essa elite tinha pouca
consciência do “todo” da economia açucareira porque isolada ao panorama de
uma fase, e da fase menos lucrativa. Os europeus queriam comprar o produto
bruto no menor preço possível, por eles mesmos estabelecido, enquanto os
produtores queriam vendê-lo ao maior preço possível, que também seria
estabelecido pelos dois países com quem eram autorizados a comercializar. Com a
decadência dos preços externos, essa classe involui para um ambiente rural
isolado, fundamentalmente inafetados pela desacoplação de Portugal pós-União
Ibérica e posteriormente comandados em suas atividades comerciais pelos
ingleses
o No caso do café, os produtores eram, antes de tudo, comerciantes, e tinham um
panorama completo da atividade, cujos interesses eram condizentes com ambas as
fases, ao contrário do que acontecia com o açúcar. Logo os empresários do café
perceberam a importação de ter o governo refletindo e corroborando seus
interesse, o que se consolida com a proclamação da República, quando a maquina
administrativa pode se voltar às atividades internas devido a descentralização
política característica do regime

Cap. 21 – O problema da mão de obra


I. Oferta interna potencial
 Oferta de trabalho inelástica. Na metade do século XIX, existiam uns 2 milhões de escravos
na colônia. Furtado deduz pelo censo demográfico feito no final do século e pelo provável
número de importações de escravos que a taxa de mortalidade era muito maior do que a
de natalidade, tornando necessária a constante importação para que houvesse alguma
flexibilidade.
 Nos EUA, que começaram o século com aproximadamente a mesma quantidade de
escravos que o Brasil, terminaram-no com um contingente maior, dado que a natalidade
era maior nas 3 colônias.
 Furtado conclui que as condições de vida dos escravos no Brasil eram bastante piores do
que aquelas encontradas nos EUA
 Logo, no contexto do surgimento do café, o sul passa a comprar escravos de regiões com
economias em decadência (algodão – MA, foi a principal fornecedora, enquanto a região
do açúcar forneceu menos mão de obra)
 Quando é proibida a importação de escravos, o problema da inelasticidade piora.
Enquanto a industrialização na Europa gerava rápidas transformações e evoluía na
urbanização e aumento da qualidade de vida, com crescimento vegetativo populacional da
força de trabalho assalariada, no Brasil o crescimento era extensivo, incorporando mais
trabalho para explorar mais terras. Entretanto, a mão de obra se esgotava, a despeito
daquela que deveria haver disponível no setor de subsistência
 Furtado afirma que esta não estava livre para migração para atender a demanda cafeeira
porque estaria atrelada por laços de dependência aos senhores das terras que utilizavam.
A terra, apesar de abundante, estava concentrada na mão de latifundiários que a
disponibilizava para que um grupo de colonos livres a utilizasse para produção de sua
própria subsistência em troca do exercício de funções diversas para o senhor, ficando esse
grupo dependente do latifundiário. Ademais, a dispersão dessa economia impossibilitava o
recrutamento para regiões produtivas
 No caso da população urbana, que migrava entre atividades diversas, a dificuldade estava
na incapacidade de adaptação ao trabalho da grande lavoura.
 Apesar dessa disponibilidade, que poderia ser acessada no caso de uma movimentação
significativa de recursos, o governo não se mobilizou nesse sentido, cogitando a
importação de mão-de-obra asiática, ao invés de mobilizar aquela dentro do seu próprio
território.

Cap. 22 – O problema da mão de obra


II. Imigração europeia
 Na época, optou-se por incentivar a imigração europeia para trabalhar no café, tendo-se
como inspiração o que ocorreu com as 13 colônias. A diferença é que, lá, aqueles vinham
para trabalhar em pequenas propriedades para sua subsistência, e não na grande lavoura.
Era evidente que emigrantes europeus não viriam ao Brasil para trabalhar no regime
demandado por esse sistema produtivo. Os EUA utilizavam do crescimento orgânico da sua
população escrava nas suas terras de plantation, não europeus
 Esse impulso à vinda da mão de obra europeia não tinha fundamento econômico, mas
eugenista. Criaram-se colônias voltadas para esses emigrantes, inventando-se obras para
trabalharem, mas que eventualmente viravam regiões abandonadas e improdutivas. Não
havia demanda para os excedentes produtivos, que pudesse originar uma economia
monetária. Com a derrocada do experimento e a péssima condição de vida enfrentada
pelos emigrantes europeus, logo a demanda para vir ao Brasil caiu.
o Os europeus não iriam plantar café para competir com os preços dos produtores
locais que contavam com mão de obra escrava, nem poderia produzir outro bem,
pois o desenvolvimento de um mercado interno pressupunha ligação inicial com
produtos do mercado externo, que, naquela circunstância, era o café. As tentativas
basicamente terminavam em um regime de servidão, em que o europeu
trabalhava para quitar os custos empenhados no seu transporte, mas tendo
apenas o dono das terras como mediador e não conseguindo produzir o suficiente
para competir com os produtos de lavouras escravistas.
 Na guerra da Secessão, o preço do algodão observou alta repentina, tornando mais
precária a situação da disponibilidade de mão de obra para o sul do café. Este passou a
adotar uma forma de compartilhamento dos lucros com os colonos europeus onde o
governo se encarregava dos encargos do transporte e os fazendeiros disponibilizavam uma
fração de terra para fornecer a certeza de sobrevivência e renda futura do colono, em
consonância com a crescente atratividade do café.
 Se não fosse uma oferta advinda de conflitos na italia dada sua unificação, é possível que o
contingente não tivesse sido tao significativo.
Cap. 23 – O problema da mão de obra
III. Transumância Amazônica
 Corrente migratória do NE para a Amazônia
o Furtado afirma que depois que a exploração da população indígena pelos jesuítas
foi desorganizada no século XVIII, a região involuiu para letargia.
o Ao longo dos séculos se desenvolveu a agricultura para exportação no Pará
(conectado ao Maranhão pela Companhia criada na época de Pombal) e
Maranhão. Arroz e algodão prosperaram na época das guerras napoleônicas e o
cacau se manteve importante até o século XIX, sem alcançar relevância nacional
o A principal dificuldade estava na baixa população, e envolver a população indígena
na produção era difícil.
o Então surge a borracha, que passa a ser largamente demandada no final do século
XIX pela indústria de veículos terrestres.
o Sendo ela extativa e estando o estoque concentrado na Bacia Amazônica, para
aumentar a produção precisava-se de mais mão de obra. Se essas arvores se
saíssem bem em regiões com maior mao de obra disponível, seria ideal que a
atividade extrativa se concentrasse lá. Só que a demanda crescia muito rápido e
precisava-se resolver logo o problema, em um primeiro momento. Nessa primeira
fase o desenvolvimento é todo na Amazônia e é marcada pelas dificuldades da
região. Ela acaba quando a borracha oriental é inserida no mercado depois da
Primeira Guerra.
 O problema da mao de obra no caso da borracha era mais serio do que no café. Todos os
aumentos de produção se deram pelo influxo populacional para a região da Amazônia,
porque não houve incremento tecnológico envolvido no processo, segundo Furtado.
 Os números estimados por Furtado de pessoas que migraram indicam (segundo ele
mesmo) reservatório considerável de mão de obra e ele conclui que se não tivessem
trazido imigrantes europeus para a produção do café, o problema teria sido resolvido com
esse reservatório.
 A imigração europeia deixou os nordestinos disponíveis para a borracha
 Antes da borracha, a população nordestina estava ocupada em duas atividades:
o Açúcar
o Pecuária
 A partir do sec. XVII, da crise do açúcar, a pecuária se transformou exclusivamente em
economia de subsistência.
 A região teve alguns surtos (tipo o do algodão), mas eles desorganizavam a economia de
subsistência, pra onde a população sempre voltava.
 Por causa da seca de 1877-1880, surgiu um programa de ajuda às populações nordestinas,
que oportunamente se reverteu em auxilio para a emigração, principalmente para a
Amazônia.
o Furtado argumenta a importância da abundancia de terras para a expansão desse
tipo de economia usando de exemplo as colônias de europeus no RS, PR e SC. Ele
diz que nessas regiões a qualidade e a abundancia de terras possibilitou alto
crescimento vegetativo mesmo sem muita expressão de uma economia monetária.
O excedente da produção combinado com a massa populacional foram fatores
essenciais para explicar o rápido desenvolvimento dessas regiões quando o café
cria os estímulos para o surgimento de um mercado interno
o Na pop central, onde ficam as minas, a população tendeu a se dispersar mais em
busca de terras boas, que não eram abundantes. Essa migração ocorreu em massa
pra são Paulo, mesmo antes do café, e para o Mato Grosso, segundo Furtado. Ele
destaca que a liderança desses movimentos era de pessoas com algum capital que
logo pegavam as melhores terras da região que disponibilizavam partes delas para
exercício da economia de subsistência.
 Contraste entre o imigrante europeu e o nordestino:
o O europeu, via de regra, chegou aqui com tudo pago, casa e gastos de manutenção
garantidos (esses últimos ate a primeira colheita). No fim do ano, eram livres para
procurarem outra fazenda que lhes oferecessem mais vantagens do que a
primeira. Era colocada terra a sua disposição para plantar o essencial à sua família,
ficando protegidos de especulações de comerciantes.
o O nordestino começava endividado porque, ao contrario da experiencia europeia,
em que quando tentaram força-los a trabalharem para pagarem os gastos dos
fazendeiros, os países de origem interferiram, ninguém defendeu os nordestinos,
que continuaram a ter que trabalhar para pagar dívidas infindáveis. Tinham que
pagar seus alimentos e sofriam com as especulações em uma área de difícil
acesso. Ficavam isolados e desprotegidos em um regime de servidão onde tinham
seus períodos de vida encurtados.
o Os nordestinos foram deslumbrados pelo preço internacional da borracha, mas
assim que ele caiu, a miséria tomou conta. A população regrediu às formas mais
precárias de economia de subsistência, vivendo na floresta tropical da caça e
pesca.
o Furtado vê o fluxo migratório nordestino para a Amazonia como um desgaste
humano utilizado em um momento de emergência para aumento da mao de obra.

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