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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

FLUMINENSE

ISABELA PESSANHA CARDOSO PAULAGAMA

MACAÉ

2023
Neste capítulo de sua obra, intitulado “O império escravocrata e a aurora
burguesa”, Caio Prado Júnior elabora uma análise da transformação econômica
que se estabelece no Brasil Império na segunda metade do século XIX. Para o
autor, esse século se inicia como uma extensão do período anterior, herdando
suas complexidades e desajustes, e somente na metade final que as soluções
elaboradas surtem efeito e, com êxito, o Brasil encara a maior virada econômica
de sua história. Com essa expansão das forças produtivas brasileiras, o país
cresce em escala internacional, e a vida material também se reestrutura.

A abolição do tráfico africano, tema que recebe bastante atenção do autor,


é um dos motivos para essa reformulação ímpar das bases brasileiras. Já
existiam planos para a era moderna da economia do Brasil, estes que podem
ser reconhecidos principalmente pela evolução da agricultura no país, outra
temática que ocupa grande espaço no texto de Caio Prado Júnior. Nesse período
estudado pelo autor o Brasil passa pela maior remodelação de sua história, essa
que, mesmo com a extinção do império em 1889, ainda se encara como um
importantíssimo passo para a estabilidade e força da economia no país.

Iniciando sua análise desse período tão próspero da história brasileira,


Caio Prado Júnior discorre sobre o renascimento agrícola que ocorreu no século
XVIII. Nesse assunto, dois tópicos guiam a discussão: a mudanças das
atividades agrícolas do Norte do país para o novo Centro-Sul, e a decadência
das então prevalentes lavouras de cana-de-açúcar, algodão e tabaco. A
transferência do Norte para o Centro-Sul se deu, segundo o autor, por conta da
desvalorização do Norte e do crescente – e novo – interesse no recente e
florescente Centro-Sul. Com a decadência das lavouras anteriormente citadas,
o Norte não teria encontrado um substituto bom o suficiente; enquanto o Sul
contava com o café, importante elemento desse novo período do país. Além
disso, as condições climáticas no Sul contribuíram para o estabelecimento e
aproveitamento de plantações de café.

A libertação e desenvolvimento do mercado norte-americano é um


importante elemento estimulante da produção brasileira. As colônias inglesas,
agora independentes, estabelecem interesses livres dos europeus e se tornam
grandes consumidoras do café brasileiro, favorecido por ser alheio à influência
inglesa e privilegiado geograficamente. A produção cafeeira, que dominou
principalmente Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, tomará grandes
proporções de forma vertiginosa, seguindo os moldes clássicos da agricultura
brasileira: uma monocultura sustentada pelo trabalho escravo, que
posteriormente seriam substituídos pela mão de obra assalariada. Em relação
às fazendas, Caio Prado Júnior as descreve como bastante autossuficientes,
assim como funcionavam os engenhos de açúcar – viviam como um mundo em
miniatura, como o autor define, independentes e isoladas, operando inteiramente
para produzir café. Dessa forma, o Brasil se torna mundialmente conhecido pela
produção de café, dominando o comércio de forma ímpar, porém
desajustamentos e os conflitos não demorariam a surgir.

Um destes viria justamente do trabalho servil que, em meados do século


XIX, já demonstrava sinais de sua inevitável abolição. O debate em relação à
escravidão domina a sociedade brasileira após as medidas tomadas contra o
tráfico africano, em 1850, e o Parlamento começa a trabalhar para a preservação
do trabalho escravo ainda existente e persistente no Brasil. As divergências
Centro-Sul e Norte contribuiriam para os embates em relação ao trabalho
escravo, problema esse que seria acentuado, em meados do século XIX, pela
imigração de mão de obra europeia. Além disso, o início da indústria
manufatureira no Brasil também colaboraria contra a continuidade do trabalho
servil. Ao empregar trabalhadores servis nas indústrias, se notou a inabilidade
de muitos nas atividades mais complexas, o que demandou a contratação de
trabalhadores especializados – o que, como analisado, compensaria mais que a
compra de escravos para os ofícios.

A guerra do Paraguai expôs as falhas e hipocrisias do país que, mesmo


vencedor, retornou consideravelmente abalado. Em uma população que é
composta, em sua boa parte, de pessoas escravizadas, foram estes os
convocados para lutarem pelo Brasil na guerra. Esse ato, podendo ser encarado
como uma demonstração de fraqueza, deu aos escravos algo que encurralou os
brasileiros – crédito pelos serviços prestados. Assim, a abolição virou questão
de honra.

A partir desse momento, o que procede são tentativas desesperadas de


disfarçadamente preservar o trabalho servil no Brasil. A lei do Ventre Livre, de
28 de setembro de 1871, que declarava livre qualquer filho de pessoa
escravizada, ainda designava ao senhor a tutela. Dessa forma, como afirma Caio
Prado Júnior, nada fez a lei do Ventre Livre pelas pessoas escravizadas ou
mesmo pela abolição – os filhos destes, ainda obedecendo ao proprietário dos
pais, continuariam o trabalho servil. Leis como essas só surgiriam para fomentar
as revoltas populares em relação à escravidão, de forma que o povo do Rio de
Janeiro organizaria sociedades abolicionistas nesse período. Além disso, os
escravizados, até então alheios a todos os processos, reagem com fugas e
ascensões.

Haveria outras tentativas de reproduzir o que foi feito com a lei do Ventre
Livre, mas sem sucesso. Já havia se construído uma resistência a estes
processos, e a abolição era, nesse momento, inevitável, de forma que até
mesmo os interessados nos direitos da escravidão abandonam seus
argumentos. Assim, em 13 de maio de 1888, com uma quase unanimidade, a
abolição era punhada.

A imigração europeia em meados do século XIX está diretamente ligada


com a abolição da escravidão em território brasileiro, ambos elementos
importantes para a transformação da economia e modo de trabalho do Brasil.
Até então, o povoamento no Brasil era realizado pela imigração portuguesa, pela
importação de escravizados e pelos povos originários. Além da mão de obra, o
Brasil também se preocupava com a organização de um exército do país –
voltando à guerra do Paraguai, quando Caio Prado Júnior reforça que o Brasil
era composto, quase que em sua metade, por pessoas escravizadas, e portando
contaram com eles para realizar o massacre no Paraguai, as questões de
segurança e defesa foram fatores que incentivaram a imigração europeia.

A imigração para o Brasil encarou alguns problemas, como a questão do


clima tropical, muitas vezes incompatível com os colonos europeus. Havia
também a situação do governo vigente que, mesmo com a abolição da
escravidão ainda cedia pouca liberdade aos colonos, além das restrições
religiosas, que causavam desconfortos aos protestantes europeus. Outra
problemática que veio com a imigração foi a pífia seletividade ao aceitar os
europeus em território brasileiro: segundo Caio Prado Júnior, muitos eram
enfermos e mesmo idosos, inválidos para o trabalho braçal.
Foi só quando a Itália entrou em cena que as coisas melhoraram para o
cenário da imigração para o Brasil. Os italianos, mais familiares com o clima
brasileiro, se adaptaram com facilidade, além de serem mais abertos e menos
exigente perante os trabalhos encarados. Assim, esses imigrantes chegavam ao
Brasil se estabelecendo em fazendas cafeeiras, como simples assalariados – de
forma que, em 1880, as fazendas contavam quase unicamente com
trabalhadores livres.

Da mesma forma que o trabalho livre foi incentivado pela decadência do


trabalho servil, o mesmo foi extinto em território brasileiro com a aderência aos
imigrantes europeus nas fazendas. Portanto, a dissolução da escravatura se
atribui, em grande parte, pelo crescimento do trabalho livre no Brasil, que
contribuiria, também, para o fim do império, fortemente dependente do trabalho
servil.
REFERÊNCIA

PRADO JR., Caio. O império escravocrata e a aurora burguesa, In: Historia


Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1981.

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