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Aula do dia 27/07 → texto: ALENCASTRO, Luiz Felipe de. RENAUX, Maria Luiza.

Caras e
modos dos migrantes e imigrantes. In: História da vida privada no Brasil, volume II: Império:
a corte e a modernidade nacional. São Paulo, Companhia das Letras, 1997.

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Não cair na história de que depois que D. Pedro II assumiu o governo houve paz social
plena. É um período de estabilidade, mas houve vários conflitos novos e a continuação de
outros que vieram antes de 1840.

→ essa sociedade é multifacetada, dada a entrada de africanos até 1850 e também novos
contingentes de trabalhadores vindo da Europa e Ásia, ou seja, é um momento de grande
renovação cultural e miscigenação. Momento de grandes transformações nas estruturas do
país.

→ A maioridade de D. Pedro II dá comodidade ao Império e início a tensões regionais,


essas tensões regionais são diluídas pela maior participação de elites regionais que
acabam rivalizando com grupos de comando (liberais moderados) alternância de gabinete
entre os dois partidos formados formados no segundo reinado (partido conservador e
partido liberal). A partir da maioridade de d. pedro 2, esses grupos têm menos diferenças
ideológicas. → porém esses grupos não são hegemônicos, há outros grupos políticos nessa
época, como os liberais exaltados.

→ A partir de 1840, temos a consolidação da cafeicultura, com maior demanda de força de


trabalho. Está acontecendo uma mudança política com a produção cafeeira. Até essa época
o Brasil não tinha um produto que se consolidasse no mercado externo, fazendo um elo
com a produção do Brasil com o exterior.

→ Eixo econômico se transforma com o café, fazendo com que o eixo econômico se
transplantasse de vez do nordeste para o sudeste do país (essa transição já havia
começado com a extração de minérios na região).
→ Em 1850 se acaba (definitivamente) o tráfico marinho de escravos, com isso, houve
discussões de como seria suprida a mão-de-obra africana.

→ promessa de terras para atrair imigrantes

→ Quais imigrantes viriam? - para os fazendeiros não importava a origem, porém para a
elite dirigente, com o projeto de branqueamento em mente, os melhores imigrantes seriam
os europeus. Quem financiaria sua vinda?

→ Lei de Terras: terras como mercadorias. Aboliu as sesmarias, as terras só poderiam ser
compradas, não era mais necessário o requerimento da terra à Coroa (mudança na
legislação).

→ Imigrantes teriam que comprar as terras, porém a grande maioria das pessoas que
vinham para o Brasil eram pobres, ou seja, as promessas eram falsas. Eram obrigados a
fornecer a força de trabalho pela sobrevivência.
→ Esses imigrantes eram iludidos pelas promessas de terras.

→ algumas questões culturais mudam com a chegada dos imigrantes.


→ leitura da bíblia

→ falar sobre a forma em que os estrangeiros faziam a luta política em detrimento com o
que os proprietários estavam acostumados na escravidão.

Fragmentos e anotações do texto:

→ Os debates sobre a imigração europeia para o Brasil se iniciam antes da independência


da escravatura, na primeira década do século XIX já era prevista a interrupção do tráfico
negreiro devido a pressão inglesa pela abolição da escravatura. (p. 292)

→ A derrota de Napoleão e a paz no Congresso de Viena causaram o desemprego


generalizado de soldados na Europa querendo migrar para o Brasil, porém, o Império vetou
a vinda dessas pessoas devido a grande incidência de protestantes. Inclusive era crime
passível de multa qualquer manifestação religiosa que não representasse o catolicismo (p.
292)

→ Em 1818, tendo em vista o aumento da imigração e o declínio do tráfico negreiro,


aumentou-se uma vez e meia a tarifa para a entrada de escravos, sendo essa renda
destinada a subsidiar os imigrantes. (p. 292)

→ Mesmo após a proibição do tráfico de escravizados no Brasil em 1926, os fazendeiros


continuavam a inserir africanos ilegalmente no país até a ruptura definitiva com o tráfico
negreiro em 1850. É então que passa a ser pressionado pelos proprietários de terra
medidas para tornar possível a imigração em massa de trabalhadores livres. (p. 293)

→ Para os fazendeiros, não importava a raça dos imigrantes, apenas a força de trabalho
necessária para dar-lhes lucro, já para o Império, era necessária a vinda de brancos, dado o
projeto de embranquecimento da sociedade brasileira como estratégia de “civilizar” o país.
Essas duas camadas encaravam a imigração de modos diferentes, visto que tinham
objetivos radicalmente distintos. (p. 293).

→ Depois do fim do tráfico negreiro, o governo cria cartórios para registrar brasileiros e
estrangeiros com qualquer religião (p. 294).

→ Nessa mesma época se delineava o debate sobre a nacionalidade, no cenário mundial


havia a unificação dos Estados Nacionais europeus, o que dava certa relevância para
elementos regionais como cultura, língua, etc para o reconhecimento de um Estado
Nacional moderno (p. 295). - “qual povo virá?” “qual sociedade resultará?”

→ Com o iminente fim da escravidão negra, os fazendeiros pensavam em recrutar chineses


para substituí-los, havendo de fato um começo de imigração chinesa para o Brasil (p 295).
→ Já para o Império, essa seria uma chance de civilizar e fazer o país “evoluir” o país,
portanto era esperado imigrantes brancos, não asiáticos.
→ o futuro do país dependia, para os funcionários imperiais, da imigração branca (p. 295)
→ os chineses eram vistos como “escravo da rotina e da superstição (p. 295)”

→ o tráfico de chineses não acontece por um projeto da Assembleia que visa a vinda de
africanos livres para o Império (p. 297). - A mídia é contra isso, como é expresso pelo jornal
do commercio que diz que apenas colonos europeus poderiam regenerar o país que os
negros teriam degenerado

→ o Estado não pretendia subsidiar a vinda de imigrantes para os fazendeiros, dado que
até então eles mesmos financiavam a vinda de escravos para o Brasil (p. 299).

→ Há um conflito entre os fazendeiros com os funcionários do império quando eles tentam


instrumentalizar o Estado a seu favor, já que o Estado estava mais preocupado com a vinda
de colonos para civilizar o país do que para a vinda de trabalhadores para substituir os
escravos (p. 299).

→ Os fazendeiros não se davam bem com os imigrantes (p. 300)

→ Desde o início da imigração, a inserção de estrangeiros nas fazendas de café era


complicada, pois houve o choque social e cultural entre eles e os fazendeiros, ocorrendo
intervenção estatal nesses conflitos em favor dos fazendeiros e protestos nos consulados
em favor dos imigrantes (p. 300).

→ Os fazendeiros no Brasil estão habituados somente com as revoltas escravas, o que


causou estranhamento quando os imigrantes organizam greves rurais (herança dos
movimentos por direitos comuns na Europa nesse período), essas greves se dão
principalmente pela reivindicação por pão, cerveja ou vinho, amplamente consumidos na
Europa (p. 301)

→ A partir de 1850 se intensifica a entrada de produtos importados da Europa no Brasil,


concorrendo com a produção nacional (no texto ele fala de MG), nessa época novos hábitos
alimentares são introduzidos pelos estrangeiros (p. 301).

→ Porém, esses hábitos europeus são propagados entre as elites coloniais, e não entre os
trabalhadores pobres, o autor cita um fragmento de O Cortiço muito interessante para
ilustrar essa questão (p. 303).

→ O pão, ao contrário de outros alimentos difundidos entre os núcleos coloniais,


incorporou-se à alimentação da população em geral, mudando os hábitos alimentares no
país (p. 303). Um dado que ilustra essa informação é o número de padarias (por influência
principalmente dos portugueses) que explodiu em meados do século 19 (p. 304).

→ Após o processo de independência, em 1822, a escolha da nacionalidade foi individual e


pautada por interesses próprios, tendo muitos funcionários voltado para Portugal, mas
também houve a permanência de muitos desses funcionários (p. 307-308).

→ Entretanto, por parte das classes dominantes, principalmente os detentores de escravos,


após 1882, o movimento foi de abraçar a nacionalidade brasileira, pois eles precisavam
garantir sua inserção nas novas instituições nacionais (p. 308).
→ diferente dos detentores de comércio, negócio de importação e distribuição de
importados, pois para eles não convinha adotar a nacionalidade brasileira devido aos
vínculos fortes que tinham com Portugal (p. 308).

→ “Desse modo, a comunidade dos comerciantes portugueses no Brasil reproduz-se, ao


longo do século XIX, no âmbito de um universo delimitado, cujo centro financeiro e mercantil
situa-se no Porto e cujas bases demográficas residem na províndia do Minho, plataforma de
imigração de caixeiros (p. 309).

→ esses comerciantes se tornam alvos da hostilidade nacionalista urbana, havendo a


ascensão do que Alencastro (p. 309) chama de lusofobia, atingindo esse preconceito altos
graus de efervescência, usando de preceitos como a masculinidade para atacar homens
portugueses e, na mídia havia matérias jornalísticas traçando supostas semelhanças entre
portugueses e africanos (p. 309-310).

→ Os europeus pobres habitavam o país exercendo atividades antes destinadas aos


negros, “os imigrandes pobres portugueses mergulhavam quase inevitavelmente no
universo dominado pelas práticas escravagistas” (p. 310).

→ imigrantes coabitavam com escravos nas senzalas nos campos e nas cidades, crianças
imigrantes trabalhavam em fábricas ao lado de crianças escravizadas (p. 311).

→ Havia muitas notícias de levantes escravos e também de trabalhadores dados como


livres, surge na imprensa protestos contra a escravidão branca (p. 311).

→ “a imigração de proletários portugueses alimentava também os debates sobre o passado,


que constitui uma outra maneira de questionar o presente que ainda hoje incomoda uma
parte da velha oligarquia brasileira” (p. 311).

→ Os incidentes com os imigrantes estrangeiros, como o levante dos Mucker e as questões


com os imigrantes portugueses levaram a classe que dirigia o brasil a repensar a visão que
tinham do Brasil, que consideravam o brasileiro “calmo, sóbrio, inteligente, apto a tudo e
desinteressado”, algumas pessoas chegavam a comparar a qualidade de vida entre
brasileiros e ingleses vivendo a Revolução Industrial, portanto, tendo condições de vida
insalubres (p. 312).

→ Nos sertões do Nordeste, as secas de 1825 e 1846 e posteriormente a de 1877 a 1878


foram acompanhadas de imigração para outras áreas do país, tendo um custo humano
muito alto (p. 313).

→ A entrada maciça de imigrantes tem início apenas no final do século XIX, e, nessa época,
devido a explosão da imigração há um novo debate sobre o modo de vida imigrante entre a
classe econômica dominante e os funcionários do Império (p. 314).

→ os espanhóis, portugueses e italianos eram os maiores grupos de imigrantes entre a


Independência e a primeira parte do século 20, conseguiam satisfazer as demandas de
ambos Império e latifundiários, substituindo a mão de obra escrava e ao mesmo tempo
tendo o catolicismo como religião (p. 315).
→ em 28 de junho de 1890 é proibida a entrada de asiáticos e africanos no Brasil, porém,
com a pressão dos latifundiários, o governo volta atrás na decisão (p. 316).

→ Nessa época já estava constituída as comunidades alemãs e italianas no sul do Brasil,


das quais tiveram um papel central na construção de uma nova fase da cultura brasileira (p.
316).

● segunda parte

coisas que eu preciso escrever (descartar o resto): sobre a leitura da bíblia e o


protestantismo, sobre o desejo de terras e sobre a questão feminina.

→ Nas colônias do sul do Império é importante considerar a heterogeneidade entre os


membros dessas comunidades, por volta de 350 mil alemães chegaram ao Império a partir
de 1824, com o passar do tempo, seus hábitos mudaram e muitos foram para outros
lugares além da Colônia de São Leopoldo (no Rio Grande do Sul) (p. 317).

→ As viagens da Europa para o Brasil não tinha distinção espacial por origem das pessoas,
o que fazia com que os imigrantes tivessem um profundo sentimento de isolamento, como
se não tivessem mais identidade própria (p. 317-318).

→ A viagem se dava em condições insalubres e as instruções eram para que eles se


concentrassem em grupos da mesma região, para nascer disso uma consciência de
condição coletiva (p. 318).

→ Para os mais pobres, o sentimento de nacionalidade estava intimamente entrelaçado


com a possessão de terras, “o que tornava alguém sem terra o mesmo que alguém sem
pátria, com a consequente condição de desgarramento, ou ausência de sentimento
comunitário”, portanto a vinda para o Brasil representava a esperança de ter um pedaço de
terra próprio (p. 319). - A imigração expressava o desejo consciente de terra e liberdade.

→ Veio para o Brasil pessoas de diferentes estratificações sociais e profissões para o plano
de colonização e produção para o mercado, para isso foi prometida a liberdade tanto em
relação a relações feudais de vassalagem, quanto à crenças religiosas e opções políticas
(p. 319-320).

→ como a maioria dos imigrantes eram pobres eles não podiam se envolver no grande
comércio ou na grande agricultura de exportação (p. 320).

→ Os imigrantes vieram para o Brasil com o preceito de que não trabalhariam para
terceiros, eles queriam total autonomia econômica (p. 321).

→ os imigrantes procuravam a posse de terra, enquanto os oriundos das áreas urbanas


procuravam as condições de sua vida anterior (p. 321).

→ A produção era totalmente familiarizada, daí vinha a necessidade de ter filhos para
ajudar na lavoura, “a família apresentava-se como uma pequena empresa e, enquanto os
filhos cresciam, o maior número de tarefas repousava sobre os ombros das mães”.
→ No que se refere às mulheres de descendência alemã, era óbvia as diferenças entre sua
terra natal e o Brasil, hábitos de vestimenta mudaram completamente por causa do clima
tropical do Brasil e elas não estavam habituadas a ficarem tão isoladas quanto normalmente
ficavam (p. 324).

→ Não eram as mulheres que escolhiam vir para o Brasil, sendo perceptível assim que a
maioria delas viviam uma vida cheia de melancolia (p. 324).

→ Entre os imigrantes havia a noção de que a leitura era importante devido ao


protestantismo, principalmente entre aqueles adeptos ao luteranismo, pois eram educados
para praticar constantemente a leitura da bíblia (p. 325).

→ A educação era comunitária (responsabilidade dos membros), existiam associações para


promover o convívio social, promovendo a construção de escolas, igrejas, grupos de
ginástica, de tiro e até de associações de homens que fumavam charuto (p. 326.)

→ Para os alemães a religião estava no âmbito privado, ao contrário do catolicismo em que


ritos públicos como casamento eram comuns devido a união Estado-Igreja do Império (p.
326).

→ Por causa dessa discrição de seus ritos, o Estado não os via como uma ameaça e de
certa forma tolerou o protestantismo e até o favoreceu (p. 327).

→ O principal livro dentro de escolas teuto-brasileiras era a Bíblia, em versão portuguesa e


alemã

→ Percebemos assim um biculturalismo e o protestantismo teve um papel central nisso no


sentido de que a língua e os costumes estavam sendo preservados, por outro lado, os
alemães eram vistos como estranhos comparados a gente que já morava no lugar, o que
fez recrudescer mais ainda os ritos protestantes para a esfera íntima (p. 329).

→ as religiões divergentes e esse recrudescimento por parte dos protestantes fizeram com
que aumentasse a desconfiança entre os fiéis. Apesar do Império ter reconhecido o
protestantismo como crença viável em 1870, eles assumiram uma postura defensiva diante
dos conflitos com os católicos. Um dos motivos desses conflitos seria a alta incidência de
feriados católicos, o que, segundo os protestantes, atrapalharia a continuidade do trabalho
agrícola (p. 330).

→ O Império considerava favorável a imigração alemã porque eles nutriam simpatia pelo
Império, sendo a imagem de d. Pedro II venerada entre eles (p. 330-331).

sobre o texto da Emília Viotti da Costa



expõe ideias sobre as relações estabelecidas a partir de conexões entre a história do
Brasil e história europeia que ocorria no momento da Independência, as relações
macroestruturais de interdependência, de dependência econômica, vendo a colônia como
mero apêndice da metrópole, ligado a isso a ideia de acumulação primitiva de capital que
favorece a metrópole enquanto desapropria a colônia.

No capítulo 1 intitulado Introdução ao estudo da emancipação política no Brasil, do


livro Da Monarquia à República, Emília Viotti da Costa (2007) faz uma ampla discussão
trazendo conceitos e problematizações com o objetivo de analisar o processo de
Independência do Brasil, debate pertinente até os dias atuais, por um lado, devido aos
frequente ataques à democracia no contexto em que estamos situados e, por outro, em razão
da falta de criticidade para pensar as contradições que constituem o Estado brasileiro desde
sua origem. Costa aborda assuntos que gravitam ao redor da formação do Estado brasileiro,
bem como o pano de fundo para a construção das instituições democráticas, analisando desde
a ruína do pacto colonial entre monarcas e colonos, passando pelos movimentos em defesa da
Independência e seus desdobramentos, abordando os limites do liberalismo e nacionalismo no
Brasil, refletindo sobre a Revolução do Porto e o fim da monarquia no país, além disso,
comenta sobre a ideia de monarquia dual e os interesses das camadas dirigentes do país
(comumente em conflito) em relação ao aparelho estatal.
Já no conhecido estudo A interiorização da metrópole e outros estudos, Maria Odila
Leite da Silva Dias (2005), destoa da visão marxista e entra em discordância em alguns
pontos com Emília Viotti da Costa no sentido de se propor a apontar elementos internos que
foram significativos para o processo de independência, estudando as condicionantes
econômicas, sociais e políticas para nos ajudar a entender esse período, explorando as
especificidades coloniais, não focando apenas na estrutura macroeconômica, mas abrindo
uma gama de possibilidade para pensarmos o processo de Independência do Brasil.

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