156

"A condição dos negros da

América Latina é diferente da
encontrada, por exemplo, nos
Estados Unidos onde a
mesticagem com os negros foi
evitada pela população branca, e
muitos deles, ainda boje, vivem
em um regime de quase
segregação-seja nas grandes
cidades (em guetos e bairros
negros, seja concentrados no
sul, região que abrigava as
grandes plantações de algodão e
utilizava mão de obra escrava."

"Na América Latina, em especial

no Brasil, os negros e os
indigenas foram incorporados à
população por melo da
miscigenação Todavia, não se
pode esquecer que, em muitos
casos, o cruzamento genético
era resultado de violência sexual
contra as mulheres
escravizadas negras e as
mulheres indigenas."

"A escravização dos negros

africanos no Brasil insere-se no
processo de colonização,
iniciado pouco me- nos de
cinquenta anos após a chegada
dos portugueses. "

"E importante salientar que o

modelo escravista não foi
instituido pelos europeus e
tampouco foi inicia- do nas
colonias americanas A
escravidão já existia na Africa
antes da chegada dos europeus
ao continente. Milhares de
pessoas capturadas em disputas
tribais no continente eram
vendidas a comerciantes
caravanei-ros e transportadas
através das rotas transaarianas
para o mundo islámico, para
a Europa e a China."

157

"Entre 1525 e 1851 foram

trazidos para o Brasil mais de 5
milhões de africanos na
condição de escravizados
Excluidos desse grupo estão os
que morreram no caminho por
causa das pessimas condições
de transporte maritimo, os que
foram vitimados pela caça, ainda
em solo africano, e aqueles que
foram trazidos ilegalmente."

"A importação dos colonos

pretos para o Brasil, feita pelos
traficantes, teve lugar de todas
as nações, não só do litoral de
Africa que decorre desde o Cabo
Verde para o sul e ainda do
Cabo da Boa Esperança nos
territórios e custos de
Moçambique, como também não
menos de outras dos sertões
que com eles estavam em
guerra, e as quais faziam muitos
prisioneiros, sem os matarem. "

"Ainda no século XIX, um

documento retirado do jornal
balano Idade de Ouro nos deu o
numero exa- to de pessoas
escravizadas que entraram pelo
porto de Salvador entre 1812 e
1820 as regices da África de
onde vinham."

"O fluxo se intensificou no final

do século XVIII e no ini cio do
XIX, gracas à expansão das
lavouras de café no Sudeste.
Foram muitos povos e de di-
versas regiões da África, mas,
de modo geral, pode se dividir os
negros trazidos ao Brasil em dois
grandes grupos linguísticos:
Bantos e Sudaneses."
158

"Deve-se frisar que esses são

apenas termos que definem
grupos de linguas aparentadas"

"Ainda assim, em razão da

grande quantidade de grupos
etnicos representados por
escravizados trazidos ao Brasil,
essa classificação fornece
algumas pistas sobre a região de
origem dessas pessoas."

"Tal exploração mudou

geograficamente a partir da
expansão agri cola e urbana do
pais."

"Nesse processo, destaca-se o

deslocamento de africanos
escravizados
em direção ao Nordeste, para
atender à demanida por
trabalhadores nas lavouras."

159

"durante o periodo canavieiro, e

as regiões auriferas de Minas
Gerais, no auge do chamado
ciclo do ouro Também houve o
deslocamento em direção aos
campos de fumo e cacau da
Bahia e de Sergipe e aos
cafezas de São Paulo durante o
periodo cafeeiro."

"Nas cidades, os escravizados

realizavam tarefas no comércio
crescente como estivadores,
barqueiros, ar- tesãos,
domésticos, etc Eram pagos por
esses trabalhos, ficando
conhecidos como "escravos de
ganho mas todo o dinheiro ou
parte dele eram destinados ao
senhor de escravos."
"Para fiscalizar o cumprimento
de suas tarefas diarias, o
fazendeiro contava com o auxilio
de capatazes responsáveis pela
vigilância e punição dos
subordinados Castigos
corporais, mutilações e
assassinatos
eram comuns."

"Muitos organizavam fugas e

procuravam formar cortunidades
independentes de resistèn ca
Essas comunidades eram mais
conhecidas como quilombos e
desafiavam o modelo de
organização social imposto pela
administração colonial O mais
famoso desses quilombos fixou-
se na região de Alagoas com o
nome de Palmares."

160
"Com a assinatura da Lei Aurea
em 13 de maio de 1888. O fim
dela não representou, todavia,
uma real inserção dos negros na
sociedade brasileira: Grande
parte da sua cultura foi
exterminada, o que restou
eventualmente é visto com
preconceito."

"A democracia racial for um

concento que ganhou coro com
o lançamento do livro Casa-
grande & senzala, em 1933, do
sociologo brasileiro Gilberto
Freyre (1900-1987) "

"A ideia de democracia racial

ganhou força no governo de
Getúlio Vargas (1930-1945 1950-
1954), que criou leis trabalhistas
e ampliou o número de postos
de trabalho. Dessa ma neira, as
atividades urbanes acabaram
absorvendo grandes
contingentes de trabalhadores
ne gros e pardos, incorporando-
os definitivamente
as classes operárias e a vida
livre nas cidades."

"O principal problema em

acreditar que o racismo não
existe é que isso pode ocultar
uma realidade ainda carregada
de preconceitos Além disso, e
importante considerar as
consequências sociais de um
longo período de escravidão,
que são
intrinsecas à condição de
marginalização econômica em
que vivem os negros no Brasil."

161

"Ao negar a existência do

racismo, fica ainda mais dñol
tratar do assunto e achar
soluções para esse problema.
Enquanto isso, mais casos de
racismo ocomem e são
divulgados todos os dias, so
bretudo com o avanço dos meios
de comunicação
e a popularização das redes
sociais."

"Isso fica claro ao com tamos

alguns indicadores socias, como
renda mé dia, acesso à
educação, profasão, ocupação
dos país, estado de residencia
da população negra em
comparação com a população
branca."

"A explicação para isso e que

tais des gualdades apresentam
caráter racial implicto ligado à
propria estrutura histórica, social
económica do Brasil, o que
dificulta uma igualdade de
oportunidades. A democracia
racial e, portan to, ainda uma
condição a ser alcançada."
"As chamadas politicas
afirmativas antiracismo são
ainda muita recentes em todo o
mundo."