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O QUE A DIVISÃO MUNDIAL DE TERRITÓRIO TEM A VER

COM A CULTURA OCIDENTALIZADA BRASILEIRA?


Ocidente ou Oriente?
Brasil – século XIX
Há todo um percurso histórico de formação da nação brasileira, que explica muito bem
a gênese da ocidentalização da cultura nacional, em seu sentido mais amplo do
termo, como aquilo que é produzido pelo ser humano e não pela natureza. Como se
pode observar claramente, com os dados apresentados pela historiadora Célia Maria
Marinho de Azevedo, em Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites -
Séc. XIX, antes mesmo que a independência fosse proclamada em 1822, a
“preocupação” com a questão do ordenamento dos habitantes, em termos nacionais,
começa a ser colocada. Em 1821, por exemplo, o mineiro João Severino Maciel da
Costa, o marquês de Queluz, que governou a Guiana Francesa de 1809 a 1819,
publicou o livro Memória sobre a necessidade de abolir a introdução dos escravos
africanos no Brasil; sobre o modo e condições com que esta abolição se deve fazer; e
sobre os meios de remediar a falta de braços que ela pode ocasionar (Coimbra,
Imprensa da Universidade, 1821), no qual afirmou: “Que faremos pois nós desta
maioridade de população heterogênea, incompatível com os brancos, antes inimiga
declarada?” Grosso modo, a questão central da “inteligência” intelectual e política da
época era “o que fazer com o negro?” e com o indígena também.
Onda negra, medo branco: o imaginário sobre o negro das elites – século XIX
Fontes consultadas pela autora: “livros frequentemente citados pela historiografia,
mas quase nunca abordados em seu conteúdo, a não ser o destaque de algumas
propostas relativas à escravatura”; “artigos assinados de jornais e coleções de
jornais”; “anais parlamentares da Câmara Geral e das províncias, relatórios
presidenciais e policiais, correspondências oficiais e particulares, a literatura de
viajantes estrangeiros, entre outras ricas fontes do período”: “Para compreender como
se deu politicamente este sucesso imigrantista recorri aos Anais da Assembleia
Legislativa Provincial de São Paulo (ALPSP), acompanhando passo a passo os
debates travados pelos deputados ao longo das décadas de 1870 e 1880”.

A questão: “O que fazer com o negro?”


“Discute-se a questão de falta de braços, o paulista entendeu que o negro já era
inoportuno, não podia mais ser tolerado na província, ao lado dos nossos foros de
povo civilizado, das nossas condições de adiantamento moral e cristão, fechou sua
porta, e disse - não entra mais negro nenhum. Quis-se abrir algumas frestas por meio
de exceções; mas a assembleia levantou-se e disse — Não, a lei é absoluta, não
entra mais negro” (ALPSP, 1884, p. 220).
A construção do imaginário social sobre o negro/a e o branco/a:
a prioridade dos postos de trabalho para os imigrantes e descendentes de imigrantes

1) “O trabalhador negro do século XIX - escravo e livre - passou a ser desqualificado como
força de trabalho, e também como futuro cidadão brasileiro à medida que cresciam as
possibilidades de uma grande imigração europeia, impulsionada por uma corrente de políticos
imigrantistas de São Paulo, contando ainda com a simpatia de diversos abolicionistas. A
preocupação com o aumento dos crimes e revoltas de escravos na província de São Paulo
durante a década de 1870 contribuiu para consolidar a política imigrantista. Argumentos
construídos com base nas teorias científicas raciais eram cada vez mais usados ao longo dos
anos 1870 e 1880 para descartar os descendentes de africanos. Os negros eram definidos
como membros de uma raça inferior tendente fatalmente à ociosidade, à desagregação social
e ao crime. Apenas o imigrante branco poderia instaurar um tempo de paz e de progresso no
país, contribuindo para a formação de um “verdadeiro” povo brasileiro e para a construção de
um "novo Brasil". A argumentação herdada dos imigrantistas do século XIX havia permanecido
na historiografia do presente, destituída, porém, do seu teor racista”. Célia M. M. A.
2) “Numa palavra, a raça inferior negra, embora escravizada, teria determinado a má evolução ou
a não-evolução dos brasileiros brancos. E assim despido da imagem de vítima, que estava então
sendo construída pelos abolicionistas, o negro passava a incorporar a de opressor de toda uma
sociedade. Finalizando, Pereira Barreto propunha políticas para assegurar condições favoráveis à
imigração europeia, tais como a separação da religião do Estado, a grande naturalização, o
casamento civil, a secularização dos cemitérios, a elegibilidade dos não-católicos. Sem isso e mais
um severo controle social sobre os negros, não se conseguiria garantir as simpatias da Europa e
atrair uma grande corrente imigratória e, consequentemente, seria ‘absolutamente impossível
resolver-se a questão do trabalho’.” Célia M. M. A.

3) “Ora, para que o imigrante ativo, laborioso, inteligente, progressivo, venha para o Brasil, é
preciso que este país ofereça condições de bem-estar para si e para sua família, impossíveis de
encontrar na Europa” (“Artigos de Propaganda”). Célia M. M. A.

4) “Era, sim, o negro, elemento considerado de raça inferior porque descendente de africanos,
viciado, imoral, incapaz para o trabalho livre, criminoso em potencial, inimigo da civilização e do
progresso, que os discursos imigrantistas repudiavam abertamente, em uma época que as teorias
raciais ainda estavam longe de cair em desuso”. “Para conseguir cachaça, ele rouba, (...) e
sacrificando tudo a esta paixão, inclusive a própria liberdade, ele trabalhará até no domingo”. Célia
M. M. A.
5) “Iniciado este salutar processo de miscigenação, a lei da seleção natural determinaria, por seu turno,
a vitória final da raça branca sobre a negra e a indígena, e ainda se obteria um espécime de homem
ariano superior, plenamente ambientado ao continente americano. Contudo, para que esta evolução
pudesse assim ocorrer, era preciso intervir na história ou na natureza (...) e injetar mais brancos no
espaço até então ocupado predominantemente por negros e índios. Era por isso precisamente que se
fazia presente a necessidade da imigração europeia, com todo o seu poder de purificação étnica. [...]
Para o cearense Domingos José Nogueira Taguaribe, médico, político e proprietário radicado em São
Paulo, havia uma perigosa desproporção racial entre brancos e não-brancos na sociedade brasileira.
Em Algumas Palavras sobre a Emigração: Meios Práticos de Colonizar Colônias do Barão de Porto
Feliz e Estatistas do Brasil (1877), Jaguaribe chama a atenção para o fato de que numa população de
cerca de 10 milhões de pessoas, apenas 3 milhões e 800 mil aproximadamente pertenciam à “raça
branca”, enquanto os restantes 6 milhões e tantos distribuíam-se entre negros, índios e sobretudo
mestiços. Em suma, o que a estatística estava a demonstrar com todas as letras era nada mais que
uma, assustadora “decadência da raça branca” e o avanço dos mestiços, ao contrário das teses que
previam o desaparecimento destes. Diante destes fatos era preciso pensar urgentemente num modo de
obter o aperfeiçoamento das raças no Brasil, “em ordem a melhorar e não a retrogradar, pois o africano
deve cruzar com o mulato, e este com o branco”. Célia M. M. A.

6) “O médico francês Louis Couty, radicado no Brasil, acreditava que não havia nenhuma jovem negra
que não se sentisse feliz em ser escolhida pelo seu senhor para parceira sexual”.
A imigração em números: “Onda Negra, Medo Branco”
“Entre 1871 e 1920, ingressaram no Brasil cerca de 3.400.000 europeus,
dos quais pelos menos 1.300.000 italianos, 900.000 portugueses e 500.000
espanhóis, dentre outros. Importante observar que num período de meio
século, o Brasil recebeu um número de imigrantes muito próximo ao
número de escravizados que aqui desembarcou em três séculos e meio”.
Dados do censo realizado na cidade de São Paulo em 1893:
# 55% dos residentes na cidade eram imigrantes;
# 84% dos trabalhadores da indústria manufatureira eram imigrantes;
# 81% dos empregados no ramo de transporte eram imigrantes;
# 72% dos empregados no comércio eram imigrantes.

O governo brasileiro, com políticas públicas, para atrair e fazer permanecer


os imigrantes ocidentais, buscou transformar o Brasil em uma “pequena
Europa” abaixo dos trópicos. Na verdade, o Brasil é o “quintal” do Ocidente.
“Já no período da República Velha (1889-1930), continuaram os incentivos públicos
para a vinda de mais imigrantes, agora, japoneses e chineses. Em 1892, Floriano Peixoto
assina a Lei Nº 97, de 5 de outubro de 1892, que permitia a livre entrada no território da
República de imigrantes de nacionalidade chinesa e japonesa. “A elite nacional não
queria a presença negra nas ruas, vilas e lavouras. Apesar de considerar os orientais
inferiores aos brancos, acreditava que eram superiores aos negros”. Célia M. M. A.

“Lei nº. 19.482 de 1930, promulgada por Getúlio Vargas, que ficou conhecida como Lei
dos 2/3, que obrigava as empresas a preencherem pelo menos dois terços dos seus
postos com trabalhadores brasileiros. Lei esta que, a propósito, ainda hoje consta da CLT
(Consolidação das Leis do Trabalho). Isso porque o primeiro censo industrial, realizado
em São Paulo (1910), registrou que apenas 10% dos operários industriais eram
brasileiros (negros e indígenas), a fim de mitigar a exclusão do trabalhador nacional e,
portanto, do ex-trabalhador escravizado. A inclusão do trabalhador negro na economia,
mesmo nas margens, como revelam as estatísticas, deu-se apenas a partir dos anos 30
com a diversificação da produção e ampliação do parque industrial. E esta inclusão
precária se deu à revelia das elites brasileiras” Célia M. M. A.
Como enfrentar a universalização/globalização do novo império?
Um caminho possível é a globalização alternativa!
“Há, assim, uma globalização alternativa, contra-hegemônica, organizada da base para o topo
das sociedades. Esta globalização é apenas emergente, mas é mais antiga que a sua
manifestação mais consistente até hoje, a realização do primeiro Fórum Social Mundial em
Porto Alegre, em janeiro de 2001”.
Foco da globalização alternativa contra-hegemônica: “Reinventar a Emancipação Social” e
envolve seis países – África do Sul, Brasil, Colômbia, Índia, Moçambique e Portugal
“A voracidade com que a globalização hegemônica tem devorado, não só as promessas do
progresso, da liberdade, da igualdade, da não discriminação e da racionalidade, como a
própria ideia da luta por elas. Ou seja, a regulação social-hegemônica deixou de ser feita em
nome de um projeto de futuro e com isso deslegitimou todos os projetos de futuro alternativos
antes designados como projetos de emancipação social. A desordem automática dos
mercados financeiros é a metáfora de uma forma de regulação social que não precisa da ideia
de emancipação social para se sustentar e legitimar. Mas, paradoxalmente, é dentro deste
vazio de regulação e de emancipação que estão surgindo em todo o mundo iniciativas,
movimentos, organizações que lutam simultaneamente contra as formas de regulação que não
regulam e contra as formas de emancipação que não emancipam”.
Emancipação Social está diretamente ligada
a Emancipação Epistemológica

“Estas comunidades científicas (no caso do Brasil – negras e


indígenas) têm enfrentado, mais do que quaisquer outras, uma
dupla disjunção: por um lado, a discrepância e inadequação das
teorias e quadros analíticos desenvolvidos na ciência central para
analisar adequadamente as realidades dos seus países; por outro
lado, a incapacidade passiva ou a hostilidade ativa da ciência
central em reconhecer o trabalho científico produzidos nesses
países de maneira autônoma e sem obediência servil aos cânones
metodológicos e teóricos e aos termos de referência
desenvolvidos pelos centros hegemônicos de produção científica e
por eles exportados, quando não impostos, em nível global”.
Boaventura de Souza Santos
O que é filosofia? Por que filosofia?

Texto referência dessa aula: “Para que Filosofia”


O que é a filosofia?
Egípcios:
Filosofia = Rekhet (Théophile Obenga – filósofo congolês)
Rekhet = perguntar pela natureza das coisas (khet)
Método: baseado no conhecimento acurado (rekhet) e bom (nefer) discernimento (upi)
A palavra upi significa “julgar”, “discernir”, o que é “dissecar”. Na mesma etimologia de
upi, a palavra upet significa “especificação”, “julgamento” e upset quer dizer
“específico”, isto é, dar os detalhes de algo.

Filosofia = Seba (Molefi Asante - filósofo afro-americano)


O termo africano seba, consta no túmulo de Antef I de 2.052 a.C. = Sábio
Da palavra Seba derivou Sebo, em copta, e, Sophia, em grego.
Seba, em ciKam (língua falada no Egito), significa “estilo de raciocínio do povo”

Gregos: Filo = amigo, amor; Sophia = sabedoria;


“amigo da sabedoria” ou “amor pelo saber”
Per Ankh: (Casa da Vida) era a instituição existente no Antigo Egipto
dedicada ao ensino no seu nível mais avançado, funcionando igualmente
como biblioteca, arquivo e oficina de cópia de manuscritos. As Casas de
Vida eram acessíveis apenas aos escribas e aos sacerdotes. Não se conhecem
muitos pormenores sobre esta instituição, mas sabe-se que está surgiu na época
do Império Antigo. Teria como sede o palácio real, mas funcionaria numa parte do templo ou
então no edifício situado dentro da área do templo. Provavelmente cada cidade de dimensão
média teria a sua Casa de Vida, conhecendo-se a presença destas instituições em locais
como Amarna, Edfu, Mênfis, Bubástis e Abidos. Em Amarna a Casa de Vida era constituída
por duas salas principais e os seus anexos, como a casa do director da instituição. Entre os
ensinamentos ministrados nas Casas de Vida encontravam-se os de medicina, astronomia,
matemática, doutrina religiosa e línguas estrangeiras. O conhecimento destas últimas tornou-
se importante durante o Império Novo devido ao cosmopolitismo da era, marcada pelo
domínio do Egipto sobre uma vasta área que ia da Núbia até ao rio Eufrates. Os escribas que
trabalhavam nas Casas de Vida tomavam títulos como "Servidores de Rá" ou "Seguidores de
Rá". Rá era o deus solar egípcio, aquele que dava a vida; assim, o título estava associado à
ideia de que os escribas seriam eles próprios transmissores de vida. As Casas de Vida
encontravam-se também associadas a Osíris, deus do renascimento. Acreditava-se que o
acto de copiar textos ajudaria o deus a renascer todos os anos no seu festival.
A natureza da filosofia e seu funcionamento:
1. A filosofia não tem um único objeto como as demais disciplinas
ou ciências. Mas todas as formas de pensar - históricas,
teóricas e técnicas – são objetos da filosofia.
2. O foco da filosofia é a busca pela origem e o sentido do
existente, do que existe: sua origem (causa), seu sentido, sua
finalidade (télos).
3. Os objetos da filosofia mudam conforme a história e são
objetos plurais, que variam com o passar dos anos.
4. A filosofia se caracteriza por uma atitude: a interrogação
interrogar é tomar consciência do seu ser, é tornar-se capaz de
conectar os fatos, os dados, estabelecer relações de causa e
consequência.
SENSO COMUM – ACEITAÇÃO DO DADO

“Achando óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de conduta,
possuem valores morais, sociais, religiosos, políticos, artísticos, vivem na
companhia de seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes dos quais
discordam e com os quais entram em conflito, acreditamos que somos seres
sociais, morais e emocionais. Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda
feita de crenças silenciosas, da aceitação tácita de evidências que nunca
questionamos porque nos parecem naturais, óbvias. Cremos em culturas
universalizadas, no espaço, no tempo, na realidade, na quantidade, na qualidade,
na verdade, na diferença entre realidade e sonho ou loucura, entre verdade e
mentira; cremos também na objetividade e na diferença entre ela e a subjetividade,
na existência da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade”.

A FILOSOFIA ESTÁ NA CONTRAMÃO DO SENSO COMUM E REJEITA A ACEITAÇÃO SEM


REFLEXÃO E QUESTIONAMENTO!! O QUE É O SENSO COMUM? TUDO QUE NÃO FOI OBJETO
DE CONHECIMENTO ESTABELECIDO PELO SUJEITO QUE PENSA: A CIÊNCIA, A HISTÓRIA, A
POLÍTICA, A RELIGIÃO, ETC.
Atitude Filosófica/Crítica: questões de base para se chegar à causa e ao fim

“Em vez de “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, a filosofia pergunta: O que é o
tempo? Em vez de dizer “está sonhando” ou “ficou maluca”, a filosofia quer
saber: o que é sonho? a loucura? a razão? A filosofia inverte o foco da atenção,
as afirmações são trocadas por interrogações: “Onde há fumaça, há fogo”, ou
“não saia na chuva para não ficar resfriado”, por: O que é efeito?; “O que é
causa? “Seja objetivo”, ou “eles são subjetivos”, por: “O que é a objetividade? O
que é a subjetividade? “Esta casa é mais bonita do que a outra”, por: O que é
“mais”? O que é “menos”? O que é o belo? Em vez de afirmar “mentiroso!”,
questiona: o que é a verdade? O que é a mentira? Antes de falar sobre a
subjetividade dos amantes, ela questiona: o que é o amor? O que é o desejo? O
que são os sentimentos? A filosofia pergunta: o que é um valor? O que é um
valor moral? O que é um valor artístico? O que é a moral? O que é a vontade? O
que é a liberdade?”.
A PRIMEIRA ETAPA DO MÉTODO FILOSÓFICO

Atitude filosófica negativa + Atitude filosófica positiva = Atitude crítica


(dizer não ao senso comum) (dizer sim à reflexão)

1ª. Atitude Filosófica negativa: “A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é,
um dizer não ao senso comum (cultura), aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias
da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido. A filosofia é a
decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações,
os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceita-los sem antes havê-
los investigado e compreendido.

2ª Atitude Filosófica Positiva: “A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é,


uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, as
ações, nós mesmos. É, também, uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma
interrogação sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como
é? É um dizer sim ao questionamento constante, desmistificante. O princípio fundante da
filosofia é assumir que ninguém sabe nada.
Reflexão Filosófica: o que é pensar, falar e agir?
Trata-se de pensar a si mesmo, voltar-se para o sujeito que conhece, a
reflexão filosófica é um pensar o próprio pensar, o foco recai sobre o
sujeito que pensa e se organiza em torno de três grandes grupos de
questões:

1º. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e


fazemos o que fazemos? Quais são os motivos, as razões e as CAUSAS
para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos, fazermos o
que fazemos?

2º. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer


quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Qual é o
CONTEÚDO ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?

3º. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos,


fazemos o que fazemos? Qual é a intenção ou a FINALIDADE do que
pensamos, dizemos e fazemos?
Método completo

Pensamento Sistemático: A filosofia trabalha com


enunciados preciosos e rigorosos, busca encadeamentos
lógicos de demonstração e prova, exige a
fundamentação racional (ocidente) do que é enunciado.
Por isso, a filosofia é menos sujeita aos “modismos” das
demais ciências ou do tempo histórico. Ela exige sempre
inserção na tradição de uma certa cultura, retomada,
diálogo e avanço.

Pensamento Sistemático ᴝ [Atitude Crítica + Reflexão Filosófica]


Para que filosofia?
A sociedade e a cultura ocidental tem o costume de considerar que algo
só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, por isso,
ninguém pergunta “para quê” a outras ciências, cuja visibilidade utilitária é
imediata. “Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer
fatos, relações entre teoria e prática, correção e acúmulo de saberes: tudo
isso não é ciência, são questões filosóficas. O cientista parte delas como
questões já respondidas, mas é a Filosofia quem as formula e busca
respostas para elas. O trabalho das ciências pressupõe, como condição, o
trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. Como
apenas o cientista e o filósofo sabem disso, o senso comum continua
afirmando que a Filosofia não serve para nada” (p. 11).
A Filosofia não é “útil” no entendimento econômico, mercantilista,
produtivista e também não é útil em uma perspectiva servil, ela “não serve
para nada”, mas cabe a ela, com maestria, fazer as perguntas
“incômodas”.
COMPREENSÃO DE MUNDO
(Ética & Política)
Ocidental Africana/Indígena
(antes da ocidentalização)

Foco na razão Foco no coração/corporeidade

O homem domina A natureza é a mãe


e explora a natureza da humanidade, o filho
e se acha dono dela não pode ser dono da mãe

Território tem a ver Território tem a ver


com dinheiro, com herança com memória, com ancestralidade
com propriedade com pertencimento

Individualidade Coletividade (ubuntu)


MEU NOSSO (ubuntu)
“A desocidentalização da cultura, no sentido mais
amplo desse termo, e da sociedade brasileira é
urgente! Esse seria um caminho possível para a
construção coletiva dessa sociedade, pautada na
justiça social, na diversidade, na coabitação, na
pluralidade epistemológica, no respeito ao meio-
ambiente, ao outro, seja ele quem for! A
desocidentalização é o passo necessário para
instaurar uma democracia participativa, que
garanta direitos e liberdades reais e não abstratas
para todos os brasileiros, sem exceção”.
Adna C. de Paula
AULA:

Introdução às Antigas Civilizações Africanas


Introdução às Pesquisas sobre as Antigas Civilizações Africanas

“Nos estudos históricos, considera-se a civilização humana


um atributo quase exclusivo do Ocidente. Até a pouco tempo,
a ideia de que o ser humano original fosse negro e africano
soava entre ridícula e absurda. Ao longo de séculos, a
ciência ocidental construiu uma série de teses que
supostamente comprovavam que os africanos eram criaturas
inferiores e incapazes de criar civilizações. Pesquisas mais
recentes (Cheikh Anta Diop, Théophile Obenga, Yoporeka
Somet) vêm confirmando não apenas que a humanidade
nasceu na África, como também que os negros africanos
estão entre os primeiros a construir civilizações humanas e
erigiram as bases da própria civilização ocidental”.
Cheikh Anta Diop (1923-1986)
“Químico, físico, antropólogo, arqueólogo e historiador, ele fundou e
dirigiu o Laboratório de Radiocarbono do Instituto Fundamental da
África Negra (IFAN), da Universidade de Dakar, no Senegal. Diop
abalou os círculos científicos com sua tese de doutorado defendida
em 1960, na Universidade de Paris, e desafiou alguns conceitos e
interpretações mais básicos da ciência e da pseudociência
ocidentais. Seu trabalho se fundamentava em rigorosa pesquisa
científica, conduzida de acordo com os padrões metodológicos da
academia. Ele produziu uma obra que o mundo científico não podia
ignorar, demonstrando a origem africana da humanidade e da
própria civilização ocidental. As teses de Cheikh Anta Diop vêm
sendo confirmadas e desenvolvidas por pesquisadores de vários
campos do conhecimento científico: Teóphile Obenga, Van Sertima,
Martin Bernal e Yoporeka Somet, entre outros”.
PANGEIA
Em 1596, o holandês, Abraham Ortelius,
considerado o pai do Atlas Moderno,
apresentou a teoria de que os continentes
eram conectados como um só continente.
Ortelius é autor do Theatrum Orbis Terrarum
(1570), considerado o primeiro Atlas da Idade
Moderna. Foi Ortelius quem sugeriu que as
Américas "foram rasgadas e afasta-das da
Europa e da África por terremotos e
inundações" e acrescentou: "os vestígios da
ruptura revelam-se, se alguém trouxer para a
sua frente um mapa do mundo e observar com
cuidado as costas dos três continentes”. A tese
de Ortelius foi retomada no século XIX, com a
tese de que há 200 milhões de anos existia um
único supercontinente: o Pangeia, que se
fragmentou em dois grandes continentes:
Laurásia (América do Norte e Eurásia) e
Gondwana (América do Sul, África, Índia,
Austrália e Antártida).
Geologia, Arqueologia
e Paleontologia

No continente africano
há os registros de grande
parte dos hominídeos já
encontrados.

Foi na Etiópia que se


registrou a origem do
hominídio do qual
descende o ser humano
como conhecemos hoje,
o homo sapiens sapiens.
ÁFRICA, NASCEDOURO DO SER HUMANO

“Há cerca de três milhões de anos, na África central, uma


espécie de hominídeo chamado Homo habilis – ou Homo
sapiens – deu origem ao primeiro ser humano arcaico. Por
volta de um milhão de anos depois do Homo habilis, surgiu o
Homo erectus, seu descendente. Este manufaturava
implementos como o machado e saiu do continente africano
rumo à Ásia e à Europa, iniciando o primeiro fluxo migratório
de seres humanos arcaicos para fora da África. O Homo
erectus, datado de 1,8 milhão a cem mil anos atrás, possuía
uma cultura lítica e fazia uso de ferramentas rudes como o
machado de pedra. Foi o primeiro a sair da África e espalhar-
se pela Europa e pela Ásia”.
“Recentemente, a confirmação dessa evolução pôs fim a uma
controvérsia sobre a origem das raças humanas. Havia duas teorias.
Uma postulava múltiplos locais de origem dos seres humanos, que
viriam a constituir os grupos raciais de negros, brancos e amarelos,
de acordo com a região geográfica de origem. A outra apontava uma
origem única para os seres humanos, na África, de onde eles teriam
saído para povoar as diferentes regiões do mundo, as evidências
científicas têm demonstrado a veracidade da segunda teoria,
comprovando que a origem do ser humano e a evolução de sua
cultura e tecnologia se deram na África. As datas dessa evolução
também têm sido revistas. O uso do fogo havia sido atribuído ao
espécime de Homo erectus chamado Homem de Pequim, encontrado
no sistema de cavernas Zhoukoudian, perto de Beijing, há cerca de
quinhentos mil anos. Em 1982, porém, foram descobertos em
Chesowanja, no Quênia, restos de um fogo doméstico feito por
africanos há 1,4 milhões de anos”.
“O Homo sapiens também se originou e evoluiu na África, há cerca
de duzentos mil anos. Aproximadamente cem mil anos atrás, ele saiu
do continente em uma série de ondas migratórias, atravessou a
Eurásia e atingiu as Américas. Além das evidências paleontológicas
e arqueológicas, as pesquisas na área da biologia genética,
particularmente a análise do DNA mitocondrial, confirmam a origem
comum de todos os seres humanos na África. As estimativas a
respeito da data de sua saída da África para outras partes do mundo
também vêm recuando à medida que as pesquisas avançam. Foi no
Quênia que se encontrou uma ossada do Homo sapiens sapiens.
Trata-se do Omo I, datado de cerca de 130 mil anos atrás.
Fisicamente, esse primeiro ser humano se parecia com um indivíduo
do povo twa ou san, do sul da África. Era negro, de baixa estatura,
com as feições africanas. Esse homo sapiens sapiens africano
migrou para a Europa cerca de oitenta mil a cinquenta mil anos atrás
e foi chamado de Grimaldi”.
O povoamento da Terra e a expansão do Homo Sapiens
Conclusão: “O homo sapiens sapiens surgiu na África há aproximadamente duzentos mil
anos e, cerca de cem mil anos depois, em uma segunda onda migratória, povoou a Eurásia
e chegou às Américas. O homem branco começou a evoluir na Europa entre quarenta mil e
vinte mil anos atrás. Podemos concluir que durante cinco milhões de anos, até o fim do
período glacial na Europa há cerca de quinze mil anos, os negros africanos povoaram o
mundo, exportando sua influência cultural, sua (pré-)indústria e suas inovações”.
EGITO AFRICANO, FONTE DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

“O Continente Africano foi o palco da primeira revolução tecnológica


da história: a passagem da caça e da colheita de frutos silvestres à
agricultura. Pesquisas do século XX comprovam que a agricultura era
praticada no Vale do rio Nilo há dezoito mil anos, ou seja, é duas
vezes mais antiga que do sudeste da Ásia. Há sete mil anos, o Saara
não era um deserto – lá, os africanos cultivavam grãos e legumes. A
criação de gado também surgiu na África há quinze mil anos, no
morro Lukenya, perto de Nairobi. A África também testemunhou, na
região do Saara e do Sudão, a criação dos sistemas de escrita dos
akan e dos manding. A alegação de que a África não desenvolveu a
escrita beira ao ridículo quando se considera que os hieróglifos
egípcios, que compõem um dos primeiros sistemas de escrita,
tiveram como antecedentes a escrita meroítica, originada no Sudão”.
A Pedra de Roseta é uma estela de granito, encontrada na cidade de Roseta, no Egito, que apresenta nela esculpidas
inscrições em três dialetos diferentes, sendo um deles grego antigo e o outro composto por hieróglifos egípcios. A
Pedra de Roseta, datada de 196 a.C., representou um divisor de águas para estudos arqueológicos, históricos e
linguísticos. A comparação com a língua grega permitiu decodificar os hieróglifos e os símbolos do demótico, tipo de
escrita simplificada muito utilizada por sacerdotes e escribas. A inscrição representa um Decreto de Mênfis, que
estabelecia o culto ao faraó Ptolomeu V.
“Causou surpresa quando foi decifrada a Pedra de Roseta,
no séc. XVIII, e ficou evidente que praticamente todo o
conhecimento científico e filosófico da Grécia Antiga teve
origem no Egito, na própria África. Essa e outras
constatações fizeram com que o historiador francês,
Constantin Volney, afirmasse: ‘os egípcios antigos eram
verdadeiros negros, do mesmo tipo que todos os nativos
africanos. Pensem só, que esta raça de negros, hoje nossos
escravos e objeto de nosso desprezo, é a própria raça a que
devemos nossas artes, ciência e até mesmo o uso da
palavra!’ De fato, a cultura e a ciência egípcias forma as
primeiras pedras fundamentais de toda a civilização
ocidental”.
“A astronomia egípcia era tão avançada que, em 4.240 a.C., já
havia desenvolvido um calendário mais exato do que o ocidental
contemporâneo. As pirâmides comprovam o conhecimento e a
prática de arquitetura, engenharia e matemática, isto é, a alta
tecnologia africana de quase cinco mil anos atrás. Os papiros de
Ahmes, também conhecido como papiro de Amósis (nome do
escriba que o produziu), apresenta em detalhes a solução de 85
problemas de aritmética, frações, cálculo de áreas, volumes,
progressões, repartições proporcionais, regra de três simples,
equações lineares, trigonometria e geometria. Milênios antes de
Hipócrates, os verdadeiros fundadores da medicina forma Atótis,
filho do primeiro faraó do Egito unificado, que praticava por volta
de 3200 a.C.; e Imhotep, que, por volta de 2700 a.C., realizava
várias pesquisas, inclusive na medicina”.
“Os sistemas teológicos e filosóficos gregos também têm origem no Egito,
local onde estudaram Sócrates, Platão, Tales de Mileto, Anaxágoras e
Aristóteles, com pensadores africanos. George James, no livro Legado
roubado, mostra como autores gregos se apresentam como autores de
conceitos ou teorias que aprenderam com os mestres africanos. O saque da
Biblioteca de Alexandria foi um episódio central nesse processo, implicando a
destruição e o deslocamento de muitos textos antigos. A Europa
fundamentava a ética da escravidão na hipótese da inferioridade congênita
dos africanos, por isso, criou a egiptologia com o objetivo de tirar do Egito o
crédito por suas realizações e atribuí-las a uma cultura realmente branca, a
grega. Contudo, além de vários pensadores, como Heródoto, afirmarem a
fonte de seus conhecimentos, os próprios egípcios chamava seu país de Kmt,
ou Kemet, que significa “cidade negra” ou “comunidade negra”. A esfinge, os
faraós e suas rainhas, além das pessoas comuns, são representadas nas
artes egípcias com as feições e a aparência negra-africana”.
Não somente egiptólogos, linguistas, cientistas e filósofos
africanos desenvolveram pesquisas a fim de corrigir esse erro
absurdo sobre a história da humanidade, mas vários
pesquisadores europeus e norte-americanos também
empreenderam ações nesse sentido, como britânico Martin
Bernal, em sua obra Atena Negra: “Em vez de se apresentar na
história humana como devedor insolvente, o mundo negro é a
própria origem da civilização “ocidental” de hoje. A matemática
pitagórica, a teoria dos quatro elementos de Tales de Mileto, o
materialismo epicureano, o idealismo platônico, o judaísmo, o
Islã e a ciência moderna têm suas raízes na cosmogonia e na
ciência africanas do Egito. É só meditar sobre Osíris, deus
redentor que se sacrifica, morre e ressuscita para salvar a
humanidade; é uma figura essencialmente identificável com
Cristo”.
As fases do Império Egípcio: o Antigo Império; Médio Império e o Novo Império
ANTIGO IMPÉRIO (3200 a.C. – 2100 a. C.) – Da I à X Dinastias
Durante o Antigo Império foram construídas obras de drenagem e irrigação, que permitiram a expansão
da agricultura; trata-se da I Dinastia Egípcia Negra, cujo faraó Narmer foi responsável pela unificação
do Egito e constituição da 1ª dinastia. São desse período, ainda, as grandes pirâmides dos faraós
Quéops, Quéfren e Miquerinos, construídas nas proximidades de Mênfis, a capital do Egito na época.

MÉDIO IMPÉRIO (2100 a.C. – 1580 a.C.) – Da XI à XVII Dinastias


Durante o Médio Império, os faraós reconquistaram o poder político no Egito e faz de Tebas a nova
capital. Nesse período, conquistas territoriais trouxeram prosperidade econômica. Mas algumas
agitações internas voltariam a enfraquecer o império, o que possibilitou, por volta de 1750 a.C., a
invasão dos hicsos, povo nômade de origem asiática. Os hicsos permaneceram no Egito cerca de 170
anos.

NOVO IMPÉRIO (1580 a.C. – 715 a.C.) – Da XVIII à XXX Dinastias


O período iniciou-se com a expulsão dos hicsos e foi marcado por numerosas conquistas territoriais. Em
seu final ocorreram agitações internas e outra onda de invasões. Devido ao enfraquecimento do Estado,
o Egito foi conquistado sucessivamente pelos Assírios (670 a.C.), Persas (525 a.C.), Gregos (332 a.C.)
e Romanos (30 a.C.). A XXV Dinastia era a Dinastia Núbia ou Dinastia dos Faraós Negros.

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