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De Escravos e Cidadãos

Raça, republicanismo e cidadania em São Paulo.


James Woodard
13 de maio de 1888 – História tradicional:
momento de festa unânime, ficando de
fora alguns escravistas retrógrados.
Aspectos conflituosos
Ex-senhores: desejavam continuar
no mando, desfrutando do trabalho
alheio e da deferência imposta pela
instituição da escravidão mesmo
depois da abolição

Visão historiográfica nova


Aspectos conflituosos
Ex-escravos buscando novos meios de
sobrevivência, novas formas de
organização familiar e a restituição de
velhos laços familiares e de amizades
perdidas no tráfico interprovincial – enfim,
lutando por uma liberdade que ia além da
apenas legal

Visão Historiográfica nova


Missa Campal no dia 17 de Maio de
1888 - Comemoração da Lei Áurea

Capital Nacional: comemoração


A retirada da existência da escravidão do
debate político nacional deixou outras
questões de escopo e importância nacionais
abertas, indo da devolução potencial dos
poderes políticos e administrativos às
unidades provinciais do Império até a
possibilidade de eliminar por completo a
monarquia centralizadora.

Brasil pátria unitária.


Campanha antiescravista
Movimento republicano
1870
Partido Republicano Paulista
1873

São Paulo
Jornal Matutino: A Província de São Paulo
Título do jornal no dia 15 de maio:
Pátria Livre
Já não há mais escravos no Brasil
A abolição foi: “uma vitória esplêndida da
opinião”

O que deveria acontecer depois?


É preciso agora não nos esqueçamos do
trabalho de reconstruir
A Pátria sem escravos não é ainda a
Pátria Livre
Que trabalho que começava? P. 64

Trecho do jornal falando do futuro.


Abolição:Ocasião feliz
Mas não resolveu o principal problema da
nação:
O estabelecimento da República, em última
análise, assumiu maior importância em
relação à grandeza nacional e ao bem-estar
dos seus habitantes
Quanto aos futuros cidadãos da república-
que-ainda-não-era, eles foram representados
como:

BRANCOS!
Porém a relação “branquitude” e
Republicanismo é pouco explorada.
A declaração do jornal não foi um incidente
único, e sim um fato típico
Em maio de 1888, já fazia anos que os
republicanos paulistas se apropriavam de
apelos racistas, de explicação raciais do
suposto atraso político do país e de um
imaginário racializado dos cidadão da
república vindoura.

Cidadãos da República = Brancos


Citado até em Esaú e Jacob de Machado
de Assis

Pagina 66: Frase.


Jornal A Província de São Paulo
Membros do movimento republicano
Tinham interesse em promover a
imigração europeia influenciados por
ideias racistas acerca da capacidade cívica
de indivíduos europeus e projeções de
uma comunidade cívica futura
E não somente braços para a lavoura.

Ideia: formação de uma sociedade


branca nos moldes europeus.
Júlio Ribeiro
Apoiava a escravidão porém falava de
“filonegrismo ridículo” dos líderes do
movimento abolicionista
“Sentimentalismo piegas” não tinha nada
a ver com o que seria fundamentalmente
“a necessidade social” da abolição.

Idéias republicanas
“É um golpe imprescindível que aproveita
muito ao preto, mas que aproveita
infinitamente mais ao branco”
“Se é justo que o escravo se liberte do
senhor, é necessário, absolutamente
necessário que as classes livres se
libertem dos escravos”

O que ele queria dizer com isso?


Horácio Carvalho
“Os espíritos elevados não veem no decreto
de ontem só a libertação do negro – vê-se
nele também a libertação do branco”
“Estancadas as lágrimas do negro pela
sentimentalidade do povo, que muito é que se
pense em libertar o branco dos vexames de
uma política sem bússola, apenas
caracterizada por uma férrea centralização
compressora”

Quais os elementos das falas?


Horácio de Carvalho em Paris:
1904
Município de Jundiaí
Libertou os escravos antes da lei
Frases de um republicano local:
“Esse município que o primeiro a emancipar-se
do negro”
“é justo que trate de sua emancipação política”
Era de “absoluta necessidade que sacudamos o
jugo que nos oprime, nos sufoca e nos reduz à
classe de párias”

Liberto Negro x Párias:


antinatural? Injusto?
Cidade de Areias
Propagandista republicano
Após catalogar os males políticos do Brasil
e atribuí-los a monarquia declarou: “Havia
aqui súditos porque havia escravos”,
porém a escravidão havia sido extinguida
e “Liberto o filho da África , há de libertar-
se agora o filho da América.”

Paralelismo impreciso.
Antes da abolição, republicanos paulistas
discutiam:
Como o Brasil (SP) poderia atrair
imigrantes europeus?
Substituir o trabalho do escravo pelo do
trabalhador não cativo, de forma a
garantir a prosperidade das terras
paulistas.

Imigrantes
O lance eram os europeus
Nem importar chins
Nem criar um regime de trabalho livre
que empregasse libertos e/ou
trabalhadores “nacionais”
Atrair os imigrantes estava além de atrair
braços.
Definiria o caráter racial da comunidade
cívica vindoura.

Europeus
Cartas D’oeste
Artigo longo, que exultava sobre a transição
ao trabalho livre guiada pelos futuros
magnatas do café
Página 69 citação.
Fatores eróticos.
Colonos italianos trariam: “nova aurora de
regeneração radical desta geração que passa,
enxovalhada pelos últimos bafejos da
escravidão”

Elogio à imigração
Deslocamento de escravos pag. 69/70
Luiz Perreira Barreto
“preponderância da raça ariana (como
sendo) fundada sobre condições naturais,
que seria fútil contestar”
Crítica ao fato de imigrantes protestantes
não terem os mesmos direitos políticos
dos libertos e dos filhos de mães escravas
depois da lei do ventre livre.

O que ocorreria na concessão de


direitos políticos? P. 71
“Precisamos nunca perder de vista que a
mistura com o africano nos tem
enfraquecido consideravelmente e que,
portanto, não temos a energia para as
grandes lutas civilizadoras do progresso
(i.e., uma campanha nacional para a
proclamação de um governo republicano).
Precisamos de uma renovação de sangue”
Isso completa o raciocínio

Havia súditos porque havia


escravos.
Ideias republicanas paulistas
Trazer imigrantes para melhorar a “raça” e
trazer a civilização.
Trazer imigrantes para não mais ter negros
trabalhando em suas lavouras
Quem trouxe os escravos foi a monarquia, e
isso prejudicou o país, por não serem
“civilizados”
A presença de escravos por não serem
“civilizados” não trariam a “república”
Por isso os brancos deveriam se livrar
do julgo monárquico e desconsiderar os
afro-brasileiros na cidadania
Renovação do “sangue” por meio de
“emigração (...) dos países do sul da
Europa, principalmente da Itália”. O
“problema social” (a “necessidade urgente
de povoamento”) e o “problema político”
(a “mudança na forma atual de governo”),
portanto, estavam ligados de uma forma
íntima, a participação política de italianos
através de uma “grande naturalização”

Naturalização
“Nós queremos que o estrangeiro,
qualquer que seja a sua procedência,
venha trazer a sua cooperação não só
para o progresso material, como para o
progresso social: queremos, pois, que o
estrangeiro não só possa exercer aqui a
sua atividade industrial, como também a
sua atividade política”

Atividade política: Manuel Ferraz de


Campos. Deputado provincial.
Art 69 - São cidadãos brasileiros:
4º) os estrangeiros, que achando-se no
Brasil aos 15 de novembro de 1889, não
declararem, dentro em seis meses depois
de entrar em vigor a Constituição, o
ânimo de conservar a nacionalidade de
origem;

Naturalização 1891
“raça emancipada” contra a “raça
emancipadora”, composta por “gente da
áfrica”, “libertos inconscientes”, “homens
de cor”.
Defensora da Princesa Isabel e de um
futuro Terceiro Reinado.
Entravam em conflito físico com os
republicanos nas manifestações.

Guarda Negra
13 de maio de 1888.
A representação foi dada como algo feito pelo
povo (branco) para os membros de (outra)
raça.
Citação p. 73
Assim entendido, o abolicionismo era um
movimento “pela liberdade dos miseráveis
escravos” que correu paralelamente à
campanha republicana “pela liberdade (dos)
brancos.”

Inclusão no calendário republicano


Crítica de Machado de Assis. Página 75
Inteira.

Emancipação dos Brancos

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