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ESCRAVIDÃO E SUA CONFIGURAÇÃO CONTEMPORÂNEA:

EMPREGADAS DOMÉSTICAS E AS RELAÇÕES DE PODER E


DESIGUALDADE NO BRASIL

MELO, Josy Caroline Cardoso. RU: 2586643

RESUMO

Mesmo após o fim da escravidão formal em 1888, ainda é possível identificar


trabalhos análogos a este que derivam de uma estruturação histórica enraizada na
qual o país está submetido. Dessa maneira, o serviço doméstico, uma das formas de
prestação de serviço do setor terciário da economia, dispõe de características que
são traços e consequências dos anos de exploração e perpetuação da desigualdade
nascida no período colonial. A relação serviçal entre patrões e empregadas
domésticas reflete uma sociedade estratificada, baseada em fortes relações de
poder, hierarquização de papéis e violências que por vezes, são invisibilizadas pela
sociedade. Dessa maneira, a pesquisa em questão irá discorrer sobre esse
processo de continuidade da escravidão no mundo atual a partir de dados
bibliográficos da região brasileira. Além de recortes bibliográficos de autores como
Gilberto Freyre e Jessé de Souza, como forma de compreender as consequências
desse processo. Como resultado, observou-se uma sociedade inerte nos próprios
preconceitos, e em uma configuração patriarcal que se moldou a partir do século XV
e se perpetua até os dias de hoje. Cabe ao corpo social atual romper com esses
paradigmas elitistas buscando a igualdade entre todos.

Palavras-chave: Escravidão. Trabalho Doméstico Informal. Relações de Poder.


Desigualdade. Violência Simbólica.

1. INTRODUÇÃO

A seguinte pesquisa pretende elucidar e expor em debate e reflexão os


processos de continuidade da escravidão na sociedade contemporânea a partir da
camuflagem em novos modos de exploração. Esta problemática se faz necessária,
para que seja possível compreender de que maneira o quarto de empregada se
moldou como a nova senzala, e de que forma as relações de poder estabelecidas
entre patrões e empregadas se assemelham as relações dos senhores com os
escravos em residências privadas no Brasil. É de suma importância que os
historiadores contemporâneos pensem essa problemática como uma forma de
buscar tornar amenas as desigualdades que assolam a vivência social humana.
Este trabalho pretender colocar em pautar como a escravidão continua
presente na sociedade a partir de uma escravidão moderna e que se adéqua a partir
de um exemplo principal: o papel da emprega doméstica e as relações de poder
presentes na vivência entre patrão e empregada. A partir disto, Para debater as
questões, serão utilizadas como base principal para se depreender a construção
histórica, social e econômica do país as obras, Casa Grande e Senzala, do polímata
brasileiro Gilberto Freyre, onde será rebatido o mito da democracia racial expressa
em seu livro, além da obra do sociólogo brasileiro Florestan Fernandes A integração
do negro na sociedade de classes.
E como forma de contrapor o pensamento de Freyre, a segunda obra utilizada
será A Elite do Atraso, do sociólogo Jésse de Souza, com sua análise sobre a
origem das desigualdades do Brasil e como transcendê-las na prática além de
mostrar de forma clara como após a abolição da escravidão a população negra foi
jogada a própria sorte, passando por um processo de invisibilidade que se reflete até
o presente momento.
Para traçarmos a linha histórica e compreendermos o processo de escravidão
no país, utilizaremos a obra da Biblioteca Nacional Para uma história do negro no
Brasil, que reúne um acervo de documentos que traçam esse processo e toda sua
continuidade no decorrer dos anos.
. E por fim, a historiadora Preta-Rara com sua obra Eu, Empregada
Doméstica: a senzala moderna, que reúne relatos de experiência de empregadas
domésticas no Brasil para que se possa analisar na prática essa escravidão velada e
por conseguinte, serão utilizados, em torno disto, dados e exemplos de trabalho
forçado no país com os autores César Villatore e A.B Peron. Além da antropóloga
social, Jurema Brites com sua abordagem através do gênero, geração e classe entre
empregadas domésticas e a autora Sônia Roncador, em um ensaio onde a autora se
propõe em examinar o impacto de alguns escritores na criação do mito da mãe preta
no imaginário literário de raça e mestiçagem cultural, e em particular em José Lins
do Rego, bem como o pensamento do sociólogo Gilberto Freyre.
Portanto, através dessa construção o intuito é evidenciar e denunciar essas
desigualdades que se tornam cada vez mais presentes e normalizadas na sociedade
brasileira de maneira a perpetuar continuamente os processos de hierarquização de
uma comunidade que insiste historicamente na estratificação, e como o trabalho
doméstico informal reflete este processo de forma escancarada.

2. BREVE APANHADO HISTÓRICO SOBRE A ESCRAVIDÃO NO BRASIL

O processo escravocrata brasileiro estabeleceu-se como instituição por


meados de 1530, quando se instaurou as primeiras medidas de estabelecer esta
ação pelos portugueses. A escravidão no Brasil iniciou-se primeiro com os nativos, e
entre os séculos XVI e XVII foi aos poucos, sendo substituída pela mão de obra
escrava africana que chegava a colônia a partir do trafico negreiro, que trazia de
forma desumana populações em massa para o trabalho braçal forçado.

No Brasil, o emprego doméstico possui suas raízes no passado colonial


(CRUZ, 2011), quando os colonizadores portugueses, em constantes conflitos com
os índios nativos, trouxeram para a colônia “[...] negros africanos como mão-de-obra
para atender, principalmente, os senhores de engenho ou das minas de ouro ou
mesmo para os da Corte Imperial para trabalharem nas casas ou na terra
(PORTELA, 2013, p. 7). Predominou o pensamento que o negro escravo deveria
intrinsecamente realizar “[...] trabalhos manuais de força e servis, naturalizando a
idéia de que estes nasceram, sobretudo, para executar estas funções” (CRUZ, 2011,
p).

Os primeiros africanos chegaram a solo brasileiro por volta de 1550, e na


medida em que a colonização do Brasil se desenvolveu, a necessidade por
trabalhadores se tornou tão massiva que fez com que esse comércio prosperasse
em larga escala. O êxito do tráfico negreiro está concernente, dessa forma, com a
necessidade da colônia por trabalhadores e esse negócio foi altamente lucrativo
para os traficantes e para a Coroa.

Na obra, Para a História do Negro no Brasil (1988, p. 9), o país, “em razão de
sua dimensão e da ausência de preocupação com a reprodução biológica dos
negros, foi o maior importador de escravos das Américas. Estudos recentes estimam
em quase 10 milhões o número de negros transferidos para o Novo Mundo, entre os
séculos XV e XIX. Para o Brasil teriam vindo em torno de 3.650.000.” Dito isto,

Os escravos trabalhavam na agricultura, nos


ofícios e nos serviços domésticos e urbanos. Os negros do campo
cultivavam para a exportação — atividade que dava sentido à colonização
— a cana-de-açúcar, o algodão, o fumo, o café, além de se encarregarem
da extração dos metais preciosos. Os negros de oficio especializaram-se na
moagem da cana e no preparo do açúcar, em trabalhos de construção,
carpintaria, olaria, sapataria, ferraria, etc. No século XIX, não foram poucos
os escravos que trabalharam como operários em nossas primeiras fábricas.
Quanto aos negros domésticos, escolhidos em geral entre os mais
"sociáveis", cuidavam de praticamente todo o serviço das casas-grandes e
habitações urbanas: carregar água, retirar o lixo, além de transportar fardos
e os seus senhores em redes, cadeiras e palanquins. (1988, p. 9-10)

A escravidão atendia a necessidade dos portugueses ao trabalho braçal,


sendo esse, aos seus olhares, um tipo de trabalho desprezado. Inicialmente, esse
trabalho se deu pela forma de escambo com a população indígena, porém, logo
essa relação foi substituída pelo processo escravocrata. A priori, o trabalho escravo
era destinado a atender a necessidade de mão de obra nos engenhos com a
produção da cana de açúcar, porém, estendeu-se para muito, além disso.

A vivência destas pessoas era marcada pela violência contínua, tanto física,
quanto cultural, material e psicológica, além da intensa perpetuação de autoridade e
hierarquização estabelecida pelo homem branco que se via como superior a tudo e
todos, atrelado a isso havia as jornadas de trabalho que poderiam se estender por
20 horas ao dia. A agressão exercida sistematicamente contra os escravos tinha o
objetivo de incutir-lhes o temor de seus senhores e impedir que fugas e revoltas
acontecessem.

Vale ressaltar, que os escravos não aceitavam esse processo de forma


passiva, sendo a história da escravização africana marcada por grandes
resistências, lutas, formação de quilombos que representaram uma forma de
sobrevivência mediante tanta atrocidade. O Quilombo dos Palmares e a Revolta do
Malês são exemplos dessa resistência dentro da escravidão. O Quilombo dos
Palmares começou a surgir em 1597 e durou até 1694, e Palmares não abrigava
somente escravos fugidos, era uma micro-região multirracial e miscigenada que
abrigada índios, negros e brancos pobres. Já a revolta do Malês, foi à maior revolta
de escravos do Brasil e já indicava um processo de busca pela liberdade.

Por fim, o Brasil foi o último país do continente americano a abolir a


escravidão, e após um conjunto de leis que tinham como intuito a promoção de uma
emancipação gradual, entre elas a Lei Eusébio de Queirós (1850), Lei do Ventre
Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885), veio a Lei Áurea (1888), aprovada
pelo senado no dia 13 de maio de 1888. Apesar disso, vale ressaltar que esta lei não
foi um ato de liberdade promovida pela Princesa Isabel, a conquista da emancipação
foi uma vitória após inúmeras revoltas, resistências e engajamento da população
escravizada.

Mesmo que expressa de forma explicita a formação de uma nacionalidade


desigual, pautada em relações de hierarquização, existem fatos na própria
construção literária e academicista do país que refletem e perpetuam, de certa
maneira, a estratificação da sociedade e formulam o mito de uma sociedade
democraticamente constituída.

Como exemplo, em 1933, o sociólogo Gilberto Freyre lançou sua obra


“Casa-grande & senzala”, onde discute a formação da sociedade brasileira a partir
de diferentes vieses, ele demonstra a sociedade escravocrata brasileira iluminando o
patriarcalismo vigente no Brasil pré-urbano-industrial. A obra de Freyre divagou uma
concepção de democracia racial, mesmo que não expressa em sua obra, em uma
tradição marcada por discursos conflitantes, que ora vêem o mito da democracia
racial como um mecanismo de perpetuação das hierarquias sociais, ora como uma
constante lembrança de que a nossa sociedade foi formada em bases híbridas,
dessa forma:

A publicação, em 1933, de Casa-Grande & Senzala iria assinalar


outro importante momento do pensamento brasileiro sobre o negro.
Adotando também a tese culturalista, Gilberto Freyre baseava-se, entre
outros pressupostos, na idéia de que as diferenças entre os grupos raciais
deveriam ser explicadas pelo ambiente social: "Parece às vezes influência
da raça o que é influência pura e simples do escravo: do sistema social da
escravidão. Da capacidade imensa deste sistema para valorizar moralmente
senhores e escravos. O negro nos aparece no Brasil, através de toda nossa
vida independente, deformado pela escravidão". (BIBLIOTECA NACIONAL,
1988, p. 52)

Freyre, de certa forma, mascarou o padrão opressivo das relações raciais no


Brasil, e expressou um país tradicional avesso ao admitir o preconceito e a
discriminação racial. Segundo o sociólogo Florestan Fernandes:

“Não existe democracia racial efetiva, onde o intercâmbio entre indivíduos


pertencentes a ‘raças’ distintas começa e termina no plano da tolerância
convencionalizada. Esta pode satisfazer às exigências do bom-tom, de um
discutível ‘espírito cristão’ e da necessidade prática de ‘manter cada um no
seu lugar’. Contudo, ela não aproxima realmente os homens senão na base
da mera coexistência no mesmo espaço social e, onde isso chega a
acontecer, da convivência restritiva, regulada por um código que consagra a
desigualdade, disfarçando-a e justificando-a acima dos princípios de
integração da ordem social democrática.” (FERNANDES, 1960, p. XIV)

A democracia racial freyriana, desse modo, seria uma reconstrução


fantasiosa do passado nacional, uma ideologia de falsa ilusão definida pela “a
ausência de preconceito e discriminação racial no Brasil e, consequentemente, pela
existência de oportunidades econômicas e sociais iguais para negros e brancos”
(HASENBALG, 1979, p.242).

Para a obra a História do Negro no Brasil (1988, p. 52), o objeto de ampla


controvérsia, Casa-Grande & Senzala, assim como toda a obra de Gilberto Freyre,
caracteriza-se, para muitos críticos, por exprimir uma perspectiva senhorial da
sociedade. Como exemplo, apesar de mostrar episódios de violência contra o negro,
afirmava que a suavidade predominava nas relações raciais no Brasil. Seu interesse
maior, segundo notou um autor, era pelo escravo sofredor, que "conhecia sua
posição", pouco se dedicando aos aspectos independentes da vida do negro.

A escritora Sônia Roncador, ao analisar o impacto que a formulação literária


em torno da construção do mito da mãe preta, diz que

Segundo Freyre, tanto maior no Brasil que em outras nações escravagistas


dada a aproximação “tipicamente brasileira” entre a senzala e a casa-
grande. Além de servir para a comprovação da harmonia interracial nos
tempos da escravidão, sobretudo nos antigos engenhos nordestinos, o mito
da mãe-preta, ou melhor, “a aliança [afetiva, assexuada] entre a mãe negra
e o menino branco”8 ainda contribuiu para a composição da mestiçagem
ideal proposta por Freyre: a assimilação branca da cultura negra, ou, como
descreve Alexandra Isfahani-Hammond, “formas não biológicas de
assimilação para produzir figuras geneticamente brancas, mas
simbolicamente africanizadas” (2008, p. 132)

O sociólogo brasileiro Jessé de Souza, em sua obra “A elite do atraso”, ao


analisar a obra de Freyre, demonstra a fragilidade de os pressupostos e
generalizações cheias de preconceito pré-científicos expressas no livro. Freyre, para
Jésse, foi um dos responsáveis por perpetuar e reforçar mitos que a formação
escravista já havia solidificado. Para Souza, a raiz da desigualdade brasileira não
está na herança de um Estado corrupto, mas sim na escravidão.

Para Jessé de Souza, mesmo após a abolição formal da escravidão, a vida


da população que foi deixada sem nenhum amparo do Estado, continua no ciclo de
desigualdade que nunca se fechou, e forma atualmente, o que o autor denomina
como ralé de novos escravos, que é destinada a uma dura realidade que se moldou
desde então, tendo em vista que uma “liberdade” sem ajuda e sem integração a
sociedade foi uma condenação eterna. O autor convida a sociedade a uma reflexão
e a tomar responsabilidade pelas classes esquecidas e abandonadas, para ele, essa
é a única maneira de atingir patamares europeus de igualdade.

2.1 RESQUÍCIOS E CONSEQUÊNCIAS

Ainda com a obra Para a História no Brasil (1988, p. 49), ”a abolição, mesmo
tendo havido movimentação dos negros, foi um negócio de brancos. Ela tirou o
negro da condição de escravo, mas deixaram de lado as propostas de abolicionistas
como Patrocínio, Nabuco e Rebouças: distribuição de terras para os ex-escravos,
assistência econômica e social, acesso à educação, ampliação do direito à
participação política, reformas, enfim, que fizessem do negro um cidadão.

O sociólogo Florestan Fernandes, concluiu que os negros, a despeito da


liberdade jurídica obtida, foram duplamente espoliados: não receberam nenhuma
indenização pelos quase 350 anos de escravidão e ainda viram abalar-se o seu
principal liame com a sociedade, ou seja, o trabalho.

Dessa maneira, com o fim da escravidão, os negros que viviam nas


fazendas foram expulsos, desamparados sem ter onde morar ou como sobreviver e
sem nenhum amparo social. Além disso, a elite brasileira não permitiu que os negros
assumissem os postos de trabalho que estavam surgindo no Brasil naquele
momento, e a maior preocupação dessa parcela da sociedade era embranquecer a
comunidade brasileira com os imigrantes europeus. Dessa forma, essa segregação
racial moldou uma sociedade onde os ex-escravos tiveram que se adequar a
margem da sociedade.

A partir disto, percebemos que mesmo com a abolição não foi dada a
liberdade ao pé da letra, pois os resquícios desse período moldam diversos
parâmetros da sociedade atual, e entre esses parâmetros esta o da desigualdade e
o da discriminação. O processo escravocrata foi tão cruel, desumano e
segregacionista, que suas consequências são vividas diariamente por toda a
população que não se adéqua aos desejos ou a própria elite. A pobreza, as diversas
formas de violência e a estratificação da nação brasileira são um reflexo de um país
que normalizou as relações desiguais e que continua permitindo que determinados
grupos continuem a margem da sociedade em detrimento da concentração de renda
e poder nas mãos de poucos, bem como era moldada a colônia. Sendo assim:

A elite branca brasileira já tinha em sua própria sociedade os


elementos necessários para forjar sua ideologia racial. Tinha aprendido
desde o período colonial a ver os negros como inferiores. Tinha também
aprendido abrir exceções para alguns indivíduos negros ou mulatos
(VIOTTI, 1998).

Vivemos uma cultura da desigualdade, que veio como conseqüência direta


de uma emancipação que visou mais os interesses da elite do que população que
visava à própria liberdade. Dessa forma, a cultura da desigualdade continua
persistindo no país, onde o homem branco de vida financeira estável e formação
acadêmica está sempre no topo, e os que não alcançam as mesmas idéias são
subjugados e impulsionados a busca do trabalho braçal.

2.3 O SERVIÇO DOMÉSTICO COMO MODO DE SOBREVIVÊNCIA PÓS-


ABOLIÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

A partir disso, podemos traçar a linha tênue entre a escravidão e o trabalho


doméstico. Em primeira instância, é inegável que nossa história é marcada por uma
tradição escravista, onde sempre é necessário alguém que faça o “trabalho pesado”
e que “limpe a sujeira” de quem não se vê apropriado a tal serviço. O trabalho
doméstico é um reflexo do trabalho exercido principalmente pelas escravas nas
chamadas casas-grandes.

O prélio histórico do emprego doméstico no Brasil se confunde com a própria


história da escravidão (FERRAZ e RANGEL, 2010). Anteriormente da Abolição da
Escravatura, mulheres escravas, crianças e mocinhas ajudantes eram encarregadas
das tarefas domésticas da casa grande e, consequentemente, as atividades
domésticas tornaram-se próprias as mulheres pobres de ‘segunda classe’
(ALMEIDA, 2010, p. 19).

O trabalho doméstico, após a abolição, foi uma maneira de sobrevivência em


meio a uma sociedade que excluiu e impossibilitou o acesso a uma vida digna aos
até então escravos. Com a chegada dos imigrantes que passaram a ocupar os
espaços de mão-de-obra menos qualificada e pouco remunerada, a população
negra não tinha acesso a quase nenhum tipo de trabalho, principalmente as
mulheres. Dessa maneira, essas mulheres, sem meios de sobrevivência e sem o
Estado para lhes proporcionar direitos mínimos e inerentes à dignidade humana,
continuaram condicionadas a única ocupação possível: o trabalho doméstico que
exerciam na casa dos senhores.

Inúmeras dessas mulheres não tiveram acesso à educação ou a outras


oportunidades econômicas que lhes permitissem sair desse cenário, dessa forma, o
serviço doméstico passou a ser hereditário entre sua família, até que em algum
momento da árvore genealógica alguém quebrasse esse ciclo. E esse ciclo de
serviço doméstico promoveu e continua promovendo uma estagnação no cenário
econômico e cultural brasileiro, e mesmo que atualmente o serviço seja remunerado
e que existam leis que tentem promover a sua formalidade, essas domésticas são
mantidas dentro da condição escravocrata da casa-grande.

Devido a este estigma, esta ocupação é socialmente banalizada com


desvalorizações socioculturais que inferiorizam a categoria. E mesmo com o advento
da Abolição da Escravatura, da industrialização, do capitalismo financeiro e da
globalização, a sociedade ainda dividisse entre os herdeiros da senzala
(empregados domésticos) e os da casa grande (patrões), repercutindo por décadas
em desproteção em textos legais de ordenamento jurídico (CRUZ, 2011; NOGA
JÚNIOR, 2014).

O serviço doméstico, de maneira geral, é majoritariamente ocupado por


mulheres negras, e elas representam certa de 52,6% das domésticas na região
metropolitana de São Paulo, segundo dados do Dieese. Uma herança da
escravidão, já que ao serem libertadas, elas permaneceram nas “casas grandes”
como cozinheiras lavadeiras e babás, faxineiras.

A antropóloga social Jurema Brites, em sua pesquisa Afeto e Desigualdade:


gênero, geração e classe entre empregadas domésticas e seus empregadores
(2007, p. 93), ressalta que “nos lares brasileiros de classe média e alta, as relações
familiares são cotidianamente permeadas pela presença de serviçais que realizam
todo o trabalho doméstico, inclusive o cuidado das crianças. Como diz Donna
Goldstein (2003), manter uma empregada doméstica é um sinal diacrítico na
sociedade brasileira, que sinaliza a distância da pobreza.”

Com isso, a relação de ser quem é servida e ser quem serve carrega traços
peculiares que revelam as raízes coloniais onde estamos inseridos. Ter quem lhe
sirva não só trás a visão de fora de distanciamento de pobreza, como também
impulsiona um sentimento de pertencimento em relação a quem serve. Brites afirma
ainda que:

Na própria realização das tarefas de cuidado e manutenção das


casas e das pessoas – desempenhada, na esmagadora maioria das vezes,
por mulheres pobres, fora da parentela dos empregadores –, assim como
nas formas de remuneração e de relacionamento que se desenvolvem entre
patrões e empregadas domésticas, reproduz-se um sistema altamente
estratificado de gênero, classe e cor. No Brasil, a manutenção adequada
desse sistema hierárquico que o serviço doméstico desvela tem sido
reforçada, em particular, por uma ambigüidade afetiva2 entre os
empregadores – sobretudo as mulheres e as crianças – e as trabalhadoras
domésticas. (BRITES, 2007, p. 93)

Esse processo releva a hierarquização presente no cotidiano brasileiro, onde


há uma demarcação rígida de chefe e subalterno, ou melhor, quem compra os
serviços domésticos e quem os vende. Ao analisar o micro desse fenômeno,
encontramos uma gama de raízes que perpetuam a desigualdade. Shellee Colen
(1995, p. 78) demonstra que a reprodução estratificada, em função particularmente
da mercantilização (commodification) crescente do trabalho reprodutivo, reproduz
ela mesma a estratificação ao refletir, reforçar e intensificar as desigualdades nas
quais se fundamenta.

Portanto, o serviço doméstico, embora alternativa para superar a barbárie


pós-emancipação, progrediu de forma a tornar-se um ciclo, que economicamente
falando foi capaz de libertar muitas pessoas, no entanto, aprisionam muitas outras
até hoje, bem como é perpetuado por uma parcela da sociedade que partilha do
pensamento elitista e que não rompe com as barreiras que as privilegiam
diariamente.

2.4 DADOS SOBRE O TRABALHO DOMÉSTICO NO BRASIL

Segundo a Organização Internacional do trabalho, os trabalhadores


domésticos representam uma parte significativa da força de trabalho global no
emprego informal e estão entre os grupos de trabalhadores mais vulneráveis. O
trabalho doméstico representa o núcleo duro do déficit de trabalho decente do Brasil
e no mundo. Dessa maneira, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios- PNAD contínua trimestre do IBGE, Em 2016, o Brasil tinha 6, 158
milhões de trabalhadoras (es) domésticas(os), dos quais 92% eram mulheres.

Além disso, Apenas 42% destas (es) trabalhadoras(es) contribuem para a


previdência social e só 32% possuem carteira de trabalho assinada. A grande
maioria das(os) trabalhadoras(es) domésticas(os) são mensalistas. As diaristas, por
sua vez, enfrentam a possibilidade de situações de trabalho mais precárias e tem
sua própria responsabilidade de contribuir para a previdência social.

Ademais, apenas 4% da categoria de trabalhadoras domésticas e


trabalhadores domésticos é sindicalizada e, felizmente, o número de crianças e
adolescentes em situação de trabalho infantil doméstico no Brasil teve uma
diminuição de 61,6% entre 2004 e 2015, passando de 406 mil para 156 mil. Por fim,
em 2015, 88,7% das(os) trabalhadoras(es) domésticas(os) entre 10 e 17 anos no
Brasil eram meninas e 71% eram negras(os).

2.5 DADOS SOBRE O TRABALHO DOMÉSTICO NO NORDESTE


Com base na PNAD referente ao quarto trimestre do ano de 2019, no
Nordeste tem 1,1 milhões de empregadas domésticas são informais: sendo 72,8%
mensalistas sem carteira assinada e que recebem em média R$ 476,30. Outras 27,2%
são diaristas que percebem uma remuneração média de R$ 536,06. De acordo com os
dados do último trimestre de 2019 da PNAD, em quase todos os estados nordestinos,
exceção Rio Grande do Norte (47,2%) e Piauí (48,4%), mais de 50% das mulheres em
empregos domésticos são as responsáveis pelo domicílio.

Conforme dados coletados pelo site de demografia da Universidade Federal


do Rio Grande do Norte, essas mulheres responsáveis pelo domicílio são as
principais provedoras do sustento familiar. É no estado de Pernambuco que esse
percentual é o mais elevado, onde 57,6% das empregadas domésticas informais se
declararam as responsáveis pelos domicílios. A partir disto é possível traçar um perfil
dessas mulheres em serviços domésticos.

Conforme a pesquisa, estes resultados evidenciam a importância da renda


dessas mulheres para suas famílias, que no Nordeste tem tamanho médio de 3,5
pessoas e em sua maioria são famílias formadas por casal e filhos (66,5%). Essa
estatística permite estimar o total de pessoas residentes no NE que dependem da
renda de uma empregada doméstica informal. É evidenciado que as empregadas
domésticas informais se concentram nas idades acima de 35 anos. Por outro lado,
uma em cada três domésticas informais tem mais de 45 anos, idades em que as
comorbidades como doenças cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias e
outras já são mais presentes.

Ainda de acordo com dados coletados pela UFRN, O emprego doméstico é


umas das ocupações que carrega uma herança de relações sociais, culturais e
econômicas remanescentes da escravidão. Fica evidente essa condição, quando
percebemos que pretas e pardas somam mais de 80% das empregadas domésticas
informais no Nordeste.

Ademais, outra característica do emprego doméstico no Nordeste é a


absorção de mulheres com baixa qualificação. Com exceção do trabalhador
doméstico em atividades de cuidados com a pessoa idosa, que tem exigido uma
formação um pouco mais qualificada, os demais afazeres domésticos não exigem
muita qualificação do empregado. Consequentemente,.é histórica a baixa
escolaridade das mulheres que se inserem nessa ocupação, sendo muitas vezes a
única opção de trabalho por não terem tido oportunidades ou condições de acesso à
educação.

3. A ESCRAVIDÃO NÃO DEIXOU DE EXISTIR, ASSUMIU NOVOS


CENÁRIOS

De acordo com Peron e Villatore (2016), mesmo depois do final da


escravidão formal no mundo, temos ainda milhares de casos de trabalho forçado ou
em condições análogas ao escravo em todos os países. E no Brasil não seria
diferente. Conforme dados da Organização Internacional do Trabalho, existem quase
21 milhões de pessoas, no mundo, trabalham de maneira forçada, sendo que três
em cada grupo de mil pessoas estão em situação de trabalho forçado na atualidade.
Dentro desses números temos que 14,2 milhões, ou seja, 68% são vítimas de
trabalho forçado em atividades econômicas, e dentre essas atividades encontra-se o
trabalho doméstico. Destaca-se ainda que 5,5 milhões, em outras palavras, 26%
desse número é de trabalhadores menores de 18 anos.

Diante do cenário exposto, os autores explicitam como uma das formas mais
terríveis de trabalho análogo a escravidão o doméstico:

O trabalho no ambiente doméstico, muitas vezes exercido por


pessoas que prestam esse serviço desde a infância até a velhice, sem nunca
saber de seus direitos e sem nunca receber salário ou tratamento digno
pelos serviços prestados durante uma vida. Frente a essa modalidade de
trabalho análogo à condição de escravo toda a sociedade deve agir em seu
combate, para que possamos acabar com o sofrimento de diversas pessoas
que são exploradas, diante de sua falta de instrução e conhecimento dos
seus direitos, e estão vivendo em prisões psicológicas criadas pelos seus
patrões, que se passam por boas pessoas que só querem ajudar, quando na
verdade estão exercendo um papel semelhante ao dos antigos senhores de
escravos. (PERON, VILLATORE, 2016, P. 7)

A historiadora Preta-Rara, em sua obra “Eu, empregada doméstica”, coloca


como protagonista mulheres que exerceram o trabalho doméstico, e demonstra
através de relatos, não somente a crueldade humana como explicíta o fato de que
as mulheres que eram escravas no período colonial, hoje são empregadas
domésticas, bem como o quarto da empregada é a nova senzala no mundo atual. A
autora denuncia o processo de opressão que trabalhadores do lar são submetidos, e
segundo a escritora, o trabalho doméstico tem classe e cor.

Embora a abolição da escravatura tenha acontecido, a presença feminina


dentro das casas ainda suscitava comportamentos autoritários e patriarcalistas,
dessa maneira, a solidificação desta forma de trabalho é uma herança do passado
brasileiro escravista que perdura até hoje.

Como já foi exposta, a raiz do trabalho doméstico está intimamente ligada ao


passado colonial, o que possibilitou a negação de direitos trabalhistas para as
mulheres que exercem o serviço do lar por 125 anos no país. Foi somente em 2013,
a partir da aprovação do Projeto der Emenda Constitucional 72, popularmente
conhecido como “PEC das domésticas”, que se estendeu a essa categoria os
mesmos direitos já exercidos pelos trabalhadores de outros setores da economia.
Embora o projeto seja um importante avanço, 70% desses trabalhadores
permanecem sem carteira assinada, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada.

Conforme Peron e Villatore (2016, p. 9), no regime de escravidão tinham os


castigos físicos pelo não cumprimento das obrigações, insubordinação e tentativas
de fuga. Hoje o que vivenciamos é uma prisão psicológica, onde o empregado se
sente tão grato pelo “ótimo” tratamento que recebe, sendo considerado como
“membro da família”, que acaba preso da mesma forma que o antigo escravo.

4. A DESIGUALDADE NO AMBIENTE PRIVADO: A VIOLÊNCIA


SIMBÓLICA COTIDIANA COMO AÇÃO AFIRMATIVA DE UMA SOCIEDADE
ESTRATIFICADA

A partir dessa prisão psicológica na qual uma gama de empregadas


domésticas está submetida, é importante debatermos o tipo de violência que meia
essa relações de patrões e empregadas nesse novo formato de escravidão
contemporânea: a violência simbólica e suas nuances nas residências privadas.
Esse conceito, para o sociólogo Pierre Bourdieu, refere-se a uma forma de violência
exercida sem coação física, causando danos tanto morais quanto psicológicos, e
estabelecem um conjunto de regras invisíveis a qual um opressor designa a quem
está na posição de oprimido. Para Bourdieu, a violência simbólica é o meio exercido
pelo poder simbólico:

O poder simbólico, poder subordinado, é uma forma transformada,


quer dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada, das outras formas de
poder: só pode passar para além da alternativa dos modelos energéticos
que descrevem as relações sociais como relações de força e dos modelos
cibernéticos que fazem delas relações de comunicação, na condição de
descreverem as leis de transformação que regem a transmutação das
diferentes espécies de capital em capital simbólico e, em especial, o
trabalho de dissimulação e de transformação (numa palavra, de
eufemização) que garante uma verdadeira transubstanciação das relações
de força fazendo ignorar-reconhecer a violência que elas encerram
objetivamente e transformando-as assim em poder simbólico capaz de
produzir efeitos reais sem dispêndio aparente de energia (Bourdieu 2010, p.
5).

Na relação patrões e empregados, analisamos essas regras invisíveis que


regem como cada parte deve agir de maneira implícita. Existem ações que foram
normalizadas no pensamento coletivo, e que exercem o papel de continuidade de
segregacionista da sociedade. Ao analisar esse processo, podemos refletir algumas
dessas ações. Em casas onde residem determinadas famílias que pagam pelo
serviço de uma empregada doméstica, existem regras moralmente aceitas, como
exemplo, a trabalhadora (o) não pode comer na mesa dos patrões, ou deve comer
apenas após os patrões, ou não tem acesso a determinados cômodos da casa a não
ser que seja para exercer sua função.

Ao exercício desse poder simbólico, que tem a função “de instrumentos de


imposição ou legitimação da dominação que contribuem para assegurar a
dominação de uma classe sobre outra” (Bourdieu 2010, p. 11), é que podemos
chamar de violência simbólica: violência instituída e perene no dia-a-dia, que
entranha no comportamento e ações das pessoas, submetendo até mesmo seus
corpos, sem que essas percebam sua existência, sendo assim aceita de forma
inquestionada, vez que não consentida e inconsciente (Bourdieu 2002, p. 231).

Todas essas delimitações de espaço, essas ações que determinam o modo


que o empregador e o que o empregado se relaciona no meio social e a forma como
socializam refletem a violência expressa nessa relação, e essa dinâmica é
normalizada tanto pelo patrão, como também é normalizada pelo empregado. Para
Bourdieu, a violência simbólica é algo exercido através dos agentes sociais, onde o
dominado não se opõe ao opressor, já que este não se percebe como vítima desse
processo, e normaliza e considera inevitável a situação. Dessa forma:

O campo em análise – o espaço doméstico – reflete a


desigualdade entre patrões e empregadas domésticas, a partir da
compreensão de que nele existe uma sobreposição das relações de classe
e de trabalho, de relações familiares e também das distinções de gênero
(Simoes, 2002). Essas diversas camadas de significados, por vezes, estão
em sincronia, mas, em outros momentos, geram estímulos opostos, levando
a uma relativização da posição das empregadas: por vezes, elas são
afastadas da família por meio de hierarquia social; porém, em outras
situações, disputam ou compartilham afetos e posições. As relações não
são estritamente de trabalho e incluem um “[...] circuito de informalidades e
trocas dentro das ‘casas de famílias’, que [...] dão [às empregadas] margem
de manobra para redefinir o vínculo com a patroa, dispor de certos
benefícios e compensações, manter certa autonomia na decisão,
distribuição e ritmo das tarefas domésticas.” (Simoes, 2002, p. 300).

Dessa maneira, a violência simbólica presente nessas relações expressa


uma solidificação da sociedade elitista e patriarcal que perpetua um pensamento
colonial que estratifica todos os dias a noção de sociedade. A configuração de
democracia e sociedade no país foi construída em bases fenomenológicas
escravocratas e encontram, no decorrer dos séculos, novas formas de se perpetuar
e se solidificar de modo a continuar a produção exacerbada desses instrumentos, e
a violência simbólica, é um desses mecanismos nessa formulação atual.

5. METODOLOGIA

A fundamentação metodológica utilizada por esta pesquisa baseou-se no


método bibliográfico tendo como fonte artigos científicos impressos (teses,
dissertações e ensaios), banco de dados com acervos bibliotecários, obras clássicas
e sites. Os principais autores utilizados durante o processo de construção do
trabalho foram: Fernandes (1960), Sônia Roncador (2008), Brites (2007), Bourdieu
(2002), Souza (2019).
O método de pesquisa geral foi o qualitativo, onde a abordagem da
pesquisa se concretiza a partir de aspectos que envolvem os fenômenos sociais e o
comportamento humano. A abordagem qualitativa exigiu um estudo amplo do objeto de
pesquisa, considerando o contexto em que ele está inserido e as características da
sociedade a que pertence. A pesquisa também usou objetos quantitativos para traçar o
perfil das empregadas domésticas brasileiras a partir de dados coletados pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o processo de construção da presente pesquisa, foi traçada uma


linha que iniciou no período colonial até chegar aos dias atuais, que demonstra
como a cultura e economia brasileira estão engessadas em moldes escravocratas,
de forma a refletir na relação de empregadas domésticas e seus empregadores,
sendo essa atividade e a forma com que é vista e exercida uma “herança” do Brasil
colônia.

O pensamento elitista e senhoril se encontra enraizado no pensamento e na


cultura da sociedade, e pouco é feito para se modificar essa estruturação desigual,
incoerente e patriarcal. Ao analisarmos o processo de construção do trabalho
doméstico, é perceptível como sua forma de exercê-lo é um exemplo de novo
modelo de escravidão, uma escravidão velada e contemporânea que permeia isenta
perante nossos olhos e que é moralmente aceita.

O individuo brasileiro deve todos os dias analisar a sua realidade e perceber


as desigualdades e discriminações expressas no cotidiano, refletir sobre suas
atitudes e exercer um papel político que tenha como impulso mudar a realidade
escravocrata que é divagada a cada geração, pois somente dessa forma seremos
capazes de romper com a tradição colonial presente no corpo social.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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