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Política e Social
do Brasil
Material Teórico
Abolicionismo e a Consolidação da República
Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
Abolicionismo e a Consolidação da
República
Esperamos que tenha tido um ótimo aproveitamento dos estudos até aqui.
Nesta unidade, falaremos a respeito do Segundo Reinado, o governo de Dom Pedro II. Foi
um período marcado por algumas revoltas; clamores pela abolição da escravidão, processo
que ocorreu gradativamente; e a modernização do território, com a chegada dos serviços de
telégrafos, das ferrovias e da navegação a vapor.
Reiteramos a necessidade, nesta disciplina, da leitura atenta aos textos, bem como o empenho
na realização das atividades e materiais complementares.
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Unidade: Abolicionismo e a Consolidação da República
Contextualização
A Revolução Praieira
O movimento ocorrido em Pernambuco entre 1842 a 1849 pode ser caracterizado como o mais
“politizado” de todas as revoltas do período (alguns historiadores consideram-na uma revolução),
no sentido de que originou-se e desenvolveu-se enquanto luta política explícita entre classes sociais
distintas, que procuravam expressar-se em torno de suas posições políticas e ideológicas. Mesmo
levando-se em conta que o “pano de fundo” econômico-social não era radicalmente distinto daquele
das demais revoltas, o fato é que a situação da província de Pernambuco apresentava algumas
particularidades de “modernidade” para a época, digamos assim.
Tratava-se de uma província bastante desenvolvida, em função dos séculos de produção açucareira.
Consequentemente, a força dos senhores de terra e engenho era enorme. Nas cidades, e
principalmente na capital, desenvolvera-se uma forte burguesia comercial, composta majoritariamente
por portugueses. Do outro lado, uma enorme massa de escravos e trabalhadores livres, além dos
artesãos, funcionários públicos, intelectuais etc. A concentração do poder econômico e político
era extremada. Segundo Caio Prado Júnior, um terço dos engenhos da província pertenciam a
uma única família (os Cavalcantis). Os políticos liberais na Assembleia apontavam constantemente
estes fatos e exigiam mudanças. Surge um novo partido (Praieiro, já que seu jornal Diário Novo
funcionava na rua da Praia) que passou a comandar a oposição política (e posteriormente armada) à
situação que denunciavam. Os proprietários e comerciantes, por seu turno, organizaram-se também
num partido (Ordem) e seu respectivo jornal (Diário de Pernambuco). Durante alguns anos, a luta
política se fez a nível parlamentar, entremeada de alguns choques violentos. Em especial após a
ascensão de um presidente na província, que tentou implantar algumas reformas do ideário praieiro,
promovendo inclusive devassas em engenhos da oligarquia. Os revoltosos dominavam amplamente
a província. Quando, em 1848, o governo central nomeou um novo presidente de província com
a incumbência de “normalizar” a situação, generalizou-se a luta armada propriamente dita, como
levante dos praieiros e sua marcha em direção à capital. São derrotados pelas forças da reação em 3
de fevereiro de 1849. Apesar da guerrilha que permanece no interior, os revoltosos são dominados.
Com a derrota, abortara-se também um projeto político autenticamente liberal que os praieiros pretendiam
concretizar em Pernambuco. Esse projeto, expresso claramente em seu programa, foi sintetizado por
Caio Prado Júnior: “1º - Voto livre e universal do povo brasileiro. 2º - Plena liberdade de comunicar os
pensamentos pela imprensa. 3º - Trabalho como garantia de vida para o cidadão brasileiro. 5º - Inteira
e efetiva independência dos poderes constituídos. 6º - Extinção do poder moderador e do direito de
agraciar. 7º - Elemento federal na nova organização. 8º - Completa reforma do poder judicial em ordem
a assegurar as garantias individuais do cidadão. 9º - Extinção do juro convencional. 10º - Extinção do
atual sistema de recrutamento” (Evolução política do Brasil e outros estudos).
COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1988, p. 38-39.
Revoltas nativistas, como a revolução Praieira, foram muito comuns no período regencial.
Tais reivindicações tornam-se cada vez melhor organizadas durante o governo de Dom Pedro II,
à medida que a sociedade brasileira passa a ser influenciada por um ideário liberal e federativo,
principalmente europeu e norte-americano.
Juntamente com as reivindicações por maior autonomia provincial, a demanda por
modernização do país e a luta pela abolição da escravidão são temas que irão ocupar cada vez
mais espaço na agenda política nacional, durante o Segundo Império.
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Brasil: Do Segundo Reinado à República
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Unidade: Abolicionismo e a Consolidação da República
De acordo com o historiador Boris Fausto (1994), a chegada da metade do século XIX
é marcada por uma busca por modernização, que pode ser verificada principalmente pelas
mudanças de caráter normativo:
[...] 1850 não assinalou no Brasil apenas a metade do século. Foi o ano de
várias medidas que tentavam mudar a fisionomia do país, encaminhando-o
para o que então se considerava modernidade. Extinguiu-se o tráfico de
escravos, promulgou-se a Lei de Terras, centralizou-se a Guarda Nacional e
foi aprovado o primeiro Código Comercial. Este trazia inovações e ao mesmo
tempo integrava os textos dispersos que vinham do Período Colonial. Entre
outros pontos, definiu os tipos de companhias que poderiam ser organizadas no
país e regulou suas operações. Assim como ocorreu com a Lei de Terras, tinha
como ponto de referência a extinção do tráfico (FAUSTO, 1994, p. 197).
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Ao mesmo tempo, nas novas regiões produtivas do Sudeste, especialmente em São Paulo,
começa a desenvolver-se uma economia baseada no trabalho assalariado, o que gera um mercado
doméstico, impossível de ser criado dentro de um regime escravista (FURTADO, 2000, p. 131).
O imigrante utiliza seu salário na compra de bens e serviços, que acabam por desenvolver o
comércio local. Este comércio pode ser abastecido de bens importados, ou produzidos em outras
regiões, principalmente devido a inovações técnicas implantadas no território, como a ferrovia.
Assim, a centralidade econômica desloca-se ainda mais para o Sul, de Minas Gerais, antiga
região produtora de minerais, para São Paulo, ligada à novíssima economia do café. A valorização
crescente desse produto no mercado internacional aumenta consideravelmente o poder da elite
cafeeira, cuja influência política far-se-á notar tanto no Governo Imperial quanto na República.
As inovações ocasionadas pela influência britânica, nas técnicas, e norte-americana, na
política, irão determinar o surgimento de uma nova elite política, que buscará suplantar a velha
economia sem, no entanto, alterar radicalmente a estrutura de poder. Ou seja, uma velha elite
agrária será substituída por uma nova, sem espaço para ascensão social dos grupos menos
favorecidos da população.
A expansão e a consolidação territorial dos Estados Unidos da América influenciaram o
pensamento político das elites brasileiras. O ideário de construção da grande nação americana
se assentava em duas inovações técnicas desse período: a ferrovia e o telégrafo.
Invenção norte-americana, o telégrafo foi trazido para o Brasil em 1857, com a construção
da linha de 50 quilômetros ligando o Rio de Janeiro a Petrópolis. Em 1873, foi inaugurada a
ligação submarina entre Rio de Janeiro, Recife e Belém.
Em 1874, Irineu Evangelista de Souza, então Visconde de Mauá, obteve a concessão imperial
para construir e explorar a primeira linha submarina entre o Brasil e a Europa, ligando as
estações de Recife, em Pernambuco, e de Carcavelos, em Portugal. Na ocasião, o imperador
Dom Pedro II pode conversar com os monarcas de Portugal, Inglaterra e Áustria.
Outro elemento fundamental para o desenvolvimento e modernização do Império foi a
ferrovia. Um decreto imperial, de 1852, concedia imensos privilégios a quem se dispusesse ligar
por ferrovia pontos importantes, como Minas Gerais e São Paulo.
Contudo, a função das ferrovias no Brasil foi muito mais ligada ao contexto de escoamento de
mercadorias do que propriamente ao povoamento do território. Isso não significa, no entanto,
que a ferrovia não tenha tido um papel fundamental, ao ligar frentes agrícolas pioneiras que
estavam surgindo, como é o caso do oeste paulista, região produtora de café que se utilizava de
mão de obra imigrante.
Grande parte dos investimentos existentes era controlada pelos ingleses. Havia um excedente
de capitais na Inglaterra, ocasionado pelo excepcional crescimento industrial. Em alguns casos,
houve a associação de empresários britânicos a eminentes homens de negócios brasileiros,
como o empresário gaúcho Irineu Evangelista de Souza, o famoso Barão de Mauá, que inovou
ao criar, em 1867, a São Paulo Railway Company (mais conhecida como Estrada de Ferro
Santos-Jundiaí), uma revolução no sistema de transportes brasileiro na época.
Além disso, havia questões das relações do Brasil com os países vizinhos, entre elas, destacamos
o caso da Guerra do Paraguai, a seguir.
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Unidade: Abolicionismo e a Consolidação da República
A Guerra do Paraguai
Esta guerra, iniciada em 1865, teve de um lado o Paraguai, que tinha pretensões expansionistas,
contra Brasil, Argentina e Uruguai. Para explicar os motivos da guerra, entretanto, devemos
fazer um pequeno retrospecto histórico.
Antes do início do processo de independência da América espanhola, os atuais territórios
de Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia encontravam-se unidos no Vice-Reino do Prata, com
sede em Buenos Aires.
Havia, nesse Vice-Reino, uma constante tensão entre setores centralistas, que buscavam
maior ligação com a capital portenha (Buenos Aires), enquanto outros lutavam por maior
autonomia regional.
A região do atual Paraguai era composta principalmente por índios guaranis, que não
aceitavam se submeter à burguesia portenha, que em retaliação fechou os acessos fluviais da
província, isolando-a. Esse fato levou o líder local, José Gaspar de Francia, a expropriar terras
da igreja e de parte da elite, a partir de 1813.
Em 1842, o sucessor de Francia, Carlos Antonio López proclamou formalmente a
independência do Paraguai. Em 1862, seu filho Solano López assumiu o poder, aumentando o
controle do país sobre o acesso fluvial da bacia do Paraguai, que era a mais importante via de
acesso da província do Mato Grosso para o restante do Brasil.
Havia muitas divergências com relação às fronteiras na região, e a política externa brasileira
para com o Paraguai dependia muito de como iam as relações com a Argentina. O Brasil temia
uma possível reintegração do território do Vice-Reino do Prata, o que poderia ser uma ameaça
ao território brasileiro.
O Brasil procurava influenciar na política interna argentina, de modo a obter resultados que
lhe interessassem. Isto ocorreu com a eleição de Bartolomé Mitre para presidente da Argentina.
Só que esta eleição desagradava os paraguaios, que se aliaram aos rivais de Mitre, especialmente
estancieiros das províncias de Entre-Rios e Corrientes.
A tensão aumenta quando o Brasil resolve intervir militarmente no Uruguai para colocar
o partido Colorado no poder. Isso também desagradou a Solano López, que resolveu em
represália aprisionar o navio Marquês de Olinda, que navegava no rio Paraguai. Em dezembro
de 1864, Solano invade o Mato Grosso, que era uma província distante e bastante desprovida
de estrutura governamental.
Em 1865, Solano López declara guerra à Argentina, o que provoca a união de Brasil, Argentina
e Uruguai na Tríplice Aliança. A discrepância de forças militares era muito favorável ao Paraguai,
que contava com 64 mil homens, contra 18 mil do Brasil, 8 mil da Argentina e mil do Uruguai.
Por outro lado, a marinha brasileira era muito superior, o que garantiu vários sucessos nas
batalhas navais, principalmente no rio Paraguai. O governo imperial brasileiro oferecia alforria
aos escravos que lutassem na guerra. Após sucessivas derrotas navais, como em Riachuelo
e Humaitá, os paraguaios abandonaram Mato Grosso e decidiram invadir o Rio Grande do
Sul, mas foram rechaçados de volta a território paraguaio. Ali, ocorreram violentas batalhas
campais, como Tuiuti e Curupaiti.
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A liderança militar brasileira esteve nas mãos de Luís Alves de Lima e Silva, famoso por
reprimir as revoltas regenciais, principalmente a Balaiada, no Maranhão. No fim da guerra, já
doente, foi substituído pelo Conde d’Eu, marido da princesa Isabel de Orleans, herdeira do
trono brasileiro.
O Paraguai, que entrou na guerra como potência ascendente, saiu dela devastado, tendo
seu líder Solano López morto em combate, em 1870. Calcula-se que a população paraguaia
tenha caído de 400 mil para pouco mais de 200 mil habitantes, dos quais a maioria mulheres,
crianças e idosos.
Para o Brasil, a guerra resultou num maior endividamento do país com a Inglaterra, e também
no fortalecimento do Exército enquanto instituição, o que viria posteriormente influenciar no
movimento militar que derrubou o Império e proclamou a República.
Abolição
Apenas muito tardiamente, e após três séculos de exploração colonial e escravagista, é que
começou a luta pela abolição da escravidão no Brasil.
O primeiro marco abolicionista foi a Lei de 30 de setembro de 1831, que declarava livres
os escravos desembarcados no Brasil. Apesar disso, durante décadas, continuou ocorrendo
um movimento clandestino de desembarque de escravos em pontos pouco vigiados da costa
brasileira. Tais escravos eram marcados como negros “crioulos”, ou seja, como nascidos em
território brasileiro.
De acordo com Andrade (1991), as leis que promoveram a abolição, começando pela Lei de
Proibição do Tráfico, de 1850; a Lei do Ventre Livre, de 1871; a Lei do Sexagenário, de 1886; e,
finalmente, a Lei Áurea, de 1888; levaram a imensa mão de obra representada pelos escravos a
uma situação precária, visto que não foram seguidas por leis que promovessem o acesso a terra
por parte desta população.
Grandes nomes dentre os abolicionistas, destacando-se Joaquim Nabuco, André Rebouças e
João Alfredo, lutavam para aprovar leis que dessem terras e garantissem crédito agrícola, para
fazer dos ex-escravos pequenos produtores rurais, dando-lhes garantia de segurança alimentar
e evitando desordens sociais.
A abolição do tráfico negreiro, feita primeiramente, serviu para agradar os interesses da
Inglaterra, maior aliada do Brasil e maior potência da época, que se industrializava e tinha
interesse em criar mercados, necessariamente formados por mão de obra assalariada.
Simultaneamente, as elites brasileiras temiam que acontecessem revoltas, como as ocorridas
em Saint Domingue – atual Haiti – onde os negros expulsaram os colonizadores franceses,
dizimando os que resistiram.
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Unidade: Abolicionismo e a Consolidação da República
Abolicionistas Brasileiros
Entre as pessoas que lutaram pela abolição da escravidão no Brasil, algumas
merecem destaque.
Joaquim Nabuco, membro da elite escravocrata pernambucana, foi deputado
entre 1878 e 1888. Fundou a Sociedade Antiescravista Brasileira, sendo importante
ativista, escrevendo artigos em jornais nos quais denunciava as mazelas da
escravidão. Foi também historiador, jurista e diplomata.
José do Patrocínio, filho de uma escrava alforriada com um padre, foi redator do
jornal Gazeta de Notícias, no qual iniciou sua campanha abolicionista, junto com
Joaquim Nabuco e André Rebouças. Fundou a Confederação Abolicionista, em
1883, reunindo associações de todo o Brasil.
André Rebouças, neto de uma escrava alforriada, era engenheiro, assim como
seus dois irmãos, Antonio e José. Seu pai era advogado autodidata e conselheiro
do Imperador Dom Pedro II. Projetou, entre outras coisas, o primeiro sistema de
abastecimento público da cidade do Rio de Janeiro. Ajudou a criar a Associação
Central Emancipadora, que auxiliava os ex-escravos, tendo participado ativamente
da Sociedade Antiescravista, junto com Joaquim Nabuco.
João Alfredo Correia de Oliveira, nascido em Itamaracá-PE, foi líder político
em Pernambuco, deputado e conselheiro de Estado do Império. Liderou as
votações da Lei do Ventre Livre e da Lei Áurea, além de ter ajudado a criar o ensino
profissionalizante e os cursos educacionais populares.
Taxa Média de
Origem étnica 1798 1872
Crescimento Anual
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Assim, embora as elites percebessem a necessidade de paulatinamente extinguir o sistema
escravagista, sabiam também que não poderiam perder o controle sobre este processo, sob
pena de permitirem tais revoltas.
Havia também um componente nesses dados que mostra algo preocupante para as elites
escravagistas: a miscigenação. A população de negros livres, entre os quais muitos mestiços, havia
quadruplicado em um século. Esse quadro levou as elites – incluindo aqui o próprio imperador – a
propor políticas de “branqueamento” da população, por meio do incentivo à imigração.
Mesmo com a extinção oficial, o tráfico negreiro continuava existindo na clandestinidade,
sendo amplamente perseguido pela Marinha Inglesa. Os traficantes, ao perceberem que
seriam abordados, amarravam pedras pesadíssimas ao pescoço dos negros, fazendo com que
afundassem rapidamente, evitando serem pegos em flagrante (ANDRADE, 1991, p. 15).
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Unidade: Abolicionismo e a Consolidação da República
Por outro lado, tal legislação marginalizou enormemente grupos inteiros, como os escravos
libertos, que não obtiveram nenhuma garantia legal de acesso a terra.
Podemos afirmar que esta legislação estabeleceu algumas características que ainda hoje
estão presentes no nosso território. A imensa concentração fundiária não foi reduzida, sendo
que existem elites fundiárias que mantêm sua influência política desde o Período Colonial até
os dias de hoje.
Ao contrário do que aconteceu em alguns países centrais do sistema capitalista, como França
e Estados Unidos, o Brasil não pode ser considerado uma democracia agrária, cujo processo de
formação territorial tenha propiciado o amplo acesso a terra.
Há, entretanto, importantes porções do território, há uma maior concentração de pequenas e
médias propriedades, que são importantes produtoras de alimentos, como leite, frutas, verduras
e cereais.
Portanto, devemos sempre ter em mente que a configuração territorial, ou seja, a maneira
como estão dispostos os objetos no território guarda relação com o processo de formação
socioespacial do território ao longo do tempo.
O conjunto de normas, assim como a existência de redes e estabelecimento de sistemas
produtivos, são fatores fundamentais para entendermos como funciona o território brasileiro.
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Os portugueses também eram imigrantes de perfil muito pobre. Segundo dados do IBGE,
a quantidade de crianças menores de 14 anos, pobres, abandonadas ou órfãs perfazia quase
20% do total de emigrados (IBGE, 2013). Tal situação pode ser explicada por vários motivos. A
população portuguesa vinha aumentando sistematicamente, ao mesmo tempo em que algumas
atividades agrícolas foram sendo mecanizadas, gerando excedente de mão de obra no campo.
Muitos pequenos proprietários rurais portugueses não conseguiram mais arcar com sua
produção, o que elevou enormemente não apenas a imigração rumo ao Brasil, mas também
rumo aos Estados Unidos da América e rumo à África.
Bastante diferentes eram os imigrantes de origem alemã. Tendo sido um dos primeiros grupos
a emigrar para o Brasil, a partir de 1824, os alemães se encaminharam principalmente para os
estados do Sul, além de São Paulo. Porém, havia importantes colônias também no Rio de
Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia.
A partir de 1908, começariam a entrar no Brasil também os japoneses, que ocuparam
principalmente São Paulo e o Paraná. A modernização da economia japonesa da Era Meiji
promoveu um esvaziamento do campo, com excedente de pessoas migrando para as cidades.
O governo japonês incentivava esta imigração, como forma de reduzir as tensões no campo.
Alem desses grupos de imigrantes, há alguns outros que foram também bastante importantes
para a construção da identidade brasileira:
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Unidade: Abolicionismo e a Consolidação da República
Além das questões federativas, quanto ao poder das províncias em relação ao governo
central, também existia uma indefinição quanto à extensão real do território brasileiro. Questões
fronteiriças movimentavam a região sul, na divisa com a Argentina; no norte, onde hoje estão
localizados os estados de Roraima e Amapá; e também a questão do Acre, região pertencente
à Bolívia, mas que havia sido maciçamente ocupada por brasileiros, que se ocupavam do
comércio do látex.
A borracha era explorada na região desde 1827. Porém, foi a partir do desenvolvimento do
processo de vulcanização, pelos norte-americanos, que a borracha passou a ser usada na indústria
automobilística, para produção de pneumáticos. Isso desencadeou uma demanda enorme, que
elevou os preços e criou uma grande economia de exportação na Amazônia Ocidental.
Por volta de 1900, a região conhecida como Acre, então pertencente aos bolivianos desde
o tratado de 1867, produzia milhares de toneladas do produto, que era escoado pelos rios da
região, com destino, principalmente, aos Estados Unidos da América.
O Brasil, por sua vez, resolveu requerer a posse do Acre por meio do princípio de uti possidetis,
ou seja, “quem tem a posse de fato, também tem a posse de direito”.
Calcula-se que 60 mil pessoas migraram para o Acre, entre 1877 e 1880, principalmente
nordestinos fugindo da seca. Ao mesmo tempo, a Bolívia tinha perdido grande parte de sua
força de trabalho por conta da guerra contra o Chile, na qual perdeu sua única saída para o mar
(ANDRADE, 1999, p. 37-40).
As más condições de vida na floresta e a péssima remuneração recebida levaram os
seringueiros a revoltar-se contra a exploração. A gota d’água foi a tentativa do exército boliviano
de impor sua dominação efetiva sobre o Acre. Por fim, a Bolívia resolveu ceder o território para
exploração do Bolivian Syndicate, uma espécie de companhia de colonização norte-americana.
Os acreanos, então, proclamaram uma República Independente, que visava ser anexada
pelo Brasil. Tanto Bolívia como Brasil enviaram tropas à região, mas a hegemonia brasileira
confirmou-se rapidamente, devido à incapacidade dos bolivianos, cujo exército encontrava-se
em frangalhos.
A partir de então, o Barão do Rio Branco, responsável pela política externa brasileira,
negociou um acordo com a Bolívia, que resultou na assinatura, em 1903, do Tratado de
Petrópolis. Por ele, o Acre tornou-se território federal brasileiro, com um interventor nomeado
pelo governo brasileiro.
Como indenização, a Bolívia recebeu cerca de dois milhões de libras esterlinas, bem como o
acesso por terra até o rio Madeira, com garantia perpétua de navegação fluvial até o Atlântico.
Além disso, o Brasil comprometeu-se a construir a ferrovia Madeira-Mamoré, permitindo o
acesso terrestre (PEREGALLI, 1981).
No contexto interno, os limites entre províncias estavam indefinidos entre Pará e Mato
Grosso; entre Goiás e Mato Grosso; e entre Paraná e Santa Catarina, região conhecida
como Contestado.
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Fonte: IBGE, 2011. Adaptado por Vivian Fiori, 2014.
O Que é Federalismo?
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Unidade: Abolicionismo e a Consolidação da República
O golpe militar que instituiu a república, em 1889, teve clara influência de princípios políticos
norte-americanos, a começar pelo nome dado à República – Estados Unidos do Brasil. Cada
província do antigo Império passou a ser um Estado Federado, com autonomia em relação
ao governo central, governado por um presidente estadual, e dotado de um poder legislativo
estadual – a Assembleia Legislativa.
Pela Constituição de 1891, os Estados poderiam ser fundidos ou incorporados aos vizinhos,
desde que a Assembleia assim aprovasse (ANDRADE, 1999, P. 48). Os estados obtiveram
também o direito de terem símbolos, hino e bandeira próprios, desde que não fossem omitidos
os símbolos nacionais. A justiça passou a ser também estadual, especialmente para tratar de
assuntos omissos, ou seja, não tratados por lei federal.
No entanto, a herança do poder centralizado do período imperial impediu, por muito tempo, que
houvesse elites locais habilitadas a criar a autonomia pretendida pela Constituição Republicana.
De acordo com Manuel Correia de Andrade (1994), os estados se hierarquizaram de
acordo com sua importância relativa para a economia nacional, de base eminentemente
agroexportadora. Cabia a São Paulo e Minas Gerais elegerem os presidentes da República,
política que ficou conhecida como “café com leite”.
Um segundo escalão de estados elegia os vices, em geral Maranhão, Pernambuco, Bahia e
Rio de Janeiro. O Rio Grande do Sul isolou-se, mas utilizava sua influência militar, adquirida
nos tempos de anistia de suas rebeliões, para influenciar decisivamente, sobretudo quando
havia necessidade de alguma intervenção (ANDRADE, 1994, p. 50).
Assim, o poder central passou a ter uma influência maior dos poderes regionais, dentro de
uma composição hierárquica, ligada principalmente ao poder econômico das elites locais.
Esta primeira fase da República brasileira será marcada por governos conservadores,
contrastando com o período do Segundo Reinado, considerado por parte dos historiadores
como liberal e modernizador.
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Material Complementar
ANDRADE, Manuel Correia de. Abolição e reforma agrária. São Paulo: Ática, 1991.
ANDRADE, Manuel Correia de; ANDRADE, Sandra Maria Pereira de. A Federação
Brasileira. Uma análise geopolítica e geo-social. São Paulo: Contexto, 1994.
COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil.
São Paulo: Contexto, 1988.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Bases da formação territorial do Brasil. São
Paulo: Hucitec, 2000.
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Unidade: Abolicionismo e a Consolidação da República
Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. Abolição e reforma agrária. São Paulo: Ática, 1991.
ANDRADE, Manuel Correia de. ANDRADE. Sandra Maria Pereira de. A Federação Brasileira.
Uma análise geopolítica e geo-social. São Paulo: Contexto, 1994.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
Publifolha, 2000.
HOLANDA. Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1982.
PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? São Paulo: Global, 1981.
SKIDMORE, Thomas. Uma história do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
THÉRY, H. MELLO, N.A. Atlas do Brasil. Disparidades e dinâmicas do território. São Paulo:
Edusp, 2005.
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Anotações
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