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Segundo Reinado

Teoria

Segundo Reinado é historicamente dividido em três fases:

 Consolidação (1840 - 1850): Etapa em que D. Pedro II assume o poder,


solucionando as disputas entre os partidos políticos e resolvendo os
conflitos armados.
 Apogeu (1850 - 1870): Fase em que o projeto político do Segundo
Reinado se encontra consolidado, com relativa estabilidade política e
econômica.
 Declínio (1870 - 1889): Período em que as contradições políticas
atingem a figura do imperador, fazendo com que seu governo passasse a
ser questionado, principalmente depois da Guerra do Paraguai.

1840 - 1850: Resoluções de conflitos

Quando assume o poder em 1840, D. Pedro II passa por uma fase de


transição, marcada por conflitos que demonstram o descontentamento da
população com a política brasileira. Durante essa década, o imperador
possuía a missão de pacificar o país, mantendo a unidade em torno da
centralização do poder e da resolução das disputas políticas entre os partidos
políticos, comandados pela elite dominante no período, mas para isso foi
necessário resolver o clima de revoltas.
A Balaiada foi uma revolta de cunho popular que se iniciou durante o período
regencial e durou até o início do Segundo Reinado (1838 - 1841), no
Maranhão, com o intuito de reivindicar melhores condições de vida, devido à
intensa pobreza na qual a população vivia e à forte autoridade da elite local.
A instituição das “Leis do prefeito” (em que o governador da província poderia
nomear os prefeitos) foi feita em um clima de tensão entre as elites e a
população, levando à eclosão do levante popular. Sem uma liderança
principal, o movimento se expande por várias frentes e chega a dominar
algumas vilas; entretanto, a revolta perde força quando o líder Manoel dos
Anjos morre e o comandante Duque de Caxias assume o comando das
tropas militares do império. Ao assumir o poder, habilmente, D. Pedro II
resolve conceder a anistia para os revoltosos que se rendessem, fazendo
com que boa parte dos balaios se entregasse, facilitando a derrota daqueles
que restaram.
A Guerra dos Farrapos foi um conflito separatista, de caráter republicano e
liberal, que ocorreu entre os anos 1835 e 1845, na província do Rio Grande
do Sul. Insatisfeitos com a cobrança de impostos, considerada excessiva,
sobre o charque produzido por eles, enquanto o produto estrangeiro sofria
uma taxação menor, entre outras coisas, os revoltosos se rebelaram contra o
governo, criando a República Rio - grandense. Expandindo - se para outras
províncias, o movimento foi um dos mais longos da história do Brasil
independente, contando com líderes que se tornaram famosos, como
Giuseppe Garibaldi, Bento Gonçalves e David Canabarro. O conflito só
terminou sobre o goberno de D. Pedro II, com a assinatura do Tratado de
Poncho Verde entre o governo e os farrapos, com os últimos garantindo um
conjunto de termos favoráveis.
A Revolução Praieira é considerada por alguns historiadores como o último
grande conflito enfrentado pelo Imperador antes do período de estabilidade
política e de apogeu do Segundo Reinado. Ocorrida em Pernambuco, entre
os anos 1848 e 1850, a revolução de caráter liberal contava com a
participação das camadas populares que se ressentiam das consequências
da crise econômica vivida pela província, proveniente da decadência da
produção do açúcar, além das injustiças sociais, como a concentração de
terras e o monopólio dos comerciantes portugueses. A troca do presidente da
província é o estopim para a eclosão da revolta, e, em 1849, é lançado o
“Manifesto do Mundo”, em que se defendiam ideias, como liberdade de
expressão, voto livre e a extinção do poder moderador. Fortemente reprimida
pelas forças imperiais, os participantes das classes dominantes foram
anistisiados, enquanto os líderes das camadas populares foram presos,
fuzilados ou obrigados a participar do alistamento.
É importante ressaltar que todas essas movimentações possuem como pano
de fundo as disputas político - partidárias, que estavam a todo vapor antes da
chegada de Pedrinho e que serão habilmente resolvidas por ele, levando a
um período de estabilidade política e econômica e, além disso, a um
crescimento urbano e cultural cada vez maior.

Parlamentarismo às avessas

Para conseguir governar, D. Pedro II precisou implementar uma política de


conciliação entre os partidos políticos que dividiam a elite dominante,
possibilitando a consolidação do projeto político imperial de centralização do
poder nas mãos da figura imperial e a manutenção do poder nas mãos da
elite oligárquica. Conhecido como Parlamentarismo às avessas, o sistema
era construído de forma inversa àquele que existia na Inglaterra, uma vez
que sua lógica estava montada da seguinte forma:

Presente na Constituição de 1824, a existência do Poder Moderador


concedia a D. Pedro II a possibilidade de intervir nas outras instâncias de
poder, transformando assim o imperador em um protagonista político, e não
meramente um telespectador, como ocorre no caso inglês. Responsável por
mediar os conflitos existentes entre os partidos, ele encontra na nova
estrutura uma forma de manter a alternância do poder entre eles, que eram:

 Partido Conservador: Eram apelidados de Saquaremas e defendiam um


governo forte e centralizado.
 Partido Liberal: Eram apelidados de Luzias e defendiam a
descentralização e a autonomia provincial.

O Presidente do Conselho de Ministros era acolhido diretamente pelo


Imperador, enquanto cabia a ele a função de escolher o gabinete ministerial
que passaria pela aprovação das Câmaras dos Deputados. Caso não fosse
aprovado, D. Pedro II podia simplesmente demitir o novo gabinete ou
dissolver a câmara e convocar novas eleições. O Segundo Reinado é
marcado pela alternância desses partidos nos gabinetes, que possuíam
uma alta rotatividade, devido à possibilidade de intervenção do chefe máximo
do governo, de acordo com o seu interesse pessoal.
O Ministério da Conciliação de 1853 era composto tanto por liberais quanto
por conservadores, e inaugura a estabilidade política que é característica do
período em que o Segundo Reinado atingiu seu apogeu (1850 - 1870).
Apesar da divisão e das diferenças de pensamento, na prática, esses
partidos não apresentavam grandes divergências ideológicas e eram
marcados por uma série de interesses em comum.

Produção cafeeira

Dando continuidade à ordem socioeconômica do período colonial, o Brasil se


firmou enquanto uma oligarquia agroexportadora e escravista, que a partir
da segunda metade do século XIX, ganhou novos contornos com a
decadência cada vez maior da produção da cana de açúcar e o aumento do
valor de outros produtos, como o cacau e a borracha. Contudo, o gênero que
despontou e se tornou a base econômica do Segundo Reinado foi o café, que
com seu alto valor dinamizou a economia brasileira do período.

Pega a visão: Uma das causas da decadência da produção do açúcar no


Brasil foi a produção do açúcar de beterraba na Europa, o que, em certa
medida, prejudicou a economia do Nordeste.

A cafeicultura, de forma similar ao que aconteceu durante o Período Colonial,


forneceu uma base sólida para o domínio econômico dos grandes
proprietários rurais. O plantio de café se iniciou nas regiões vizinhas ao Rio
de Janeiro, como no Vale do Paraíba, e a importância inicial da região
popularizou a frase “o Brasil é o vale”. O café também proporcionou o
surgimento de uma nova elite composta pelos “barões do café”. Para muitos
historiadores, a sociedade cafeeira que surge no Vale do Paraíba estava
ligada a um estilo de vida baseado na ideia de nobreza que vinha da Europa.
Além disso, havia uma mentalidade nobiliárquica e mais conservadora, o que
fez com que ao longo do tempo não houvesse tanto investimento em novas
técnicas e maquinários para melhorar a produção na região.
Assim, apesar da riqueza gerada, a cultura do café utilizava técnicas
rudimentares o que causou um acelerado esgotamento do solo no local.
Gradativamente ocorreu o declínio da produção cafeeira no Vale do Paraíba,
mas ela entrou em expansão no Oeste Paulista, região onde o solo de terra
roxa era extremamente fértil para o plantio de café.
A região rapidamente despontou como o grande produtor de café, com uma
elite que tinha um pensamento mais “modernizante” e dinâmico com relação
ao investimento na melhoria da produção. Vale ressaltar que os
investimentos dos cafeicultores paulistas não pararam apenas na melhoria da
plantação do café, mais para a frente veremos que eles também investiram
em indústria durante o surto industrial que ocorreu no Brasil imperial. Muitos
pesquisadores associam a esses paulistas uma visão mais empresarial do
negócio, o que teria possibilitado a aplicação de novas tecnologias e a defesa
do emprego do trabalho assalariado. Mas se liga, porque isso não quer dizer
que esses cafeicultores não utilizavam mão de obra escrava, muito pelo
contrário!
Um dos fatores que impulsionaram a interiorização da produção cafeeira foi a
implantação de ferrovias na região, o que facilitava o deslocamento
populacional e o escoamento do produto. Em um contexto mundial de
expansão da Segunda Revolução Industrial, a implantação dessas ferrovias,
em substituição às viagens feitas no lombo de mula, representou o momento
de crescimento econômico do país. Ela não era apenas um meio de
transporte, as estradas de ferro se transformaram em um símbolo de
modernidade e progresso.
As transformações econômicas, políticas e culturais provenientes do sucesso
econômico do novo gênero agrícola reafirmaram a mudança do eixo
econômico do Nordeste para o Sudeste. A cidade de São Paulo foi se
tornando, gradualmente, o polo econômico de maior importância do país.

Questão da mão de obra

Toda essa demanda da produção cafeeira gerou um problema com a forma


de organização do trabalho, uma vez que, em 1850, a Lei Eusébio de
Queirós proibiu o tráfico negreiro fazendo com que a quantidade de
escravizados disponíveis fosse menor e cada vez mais caro. Assim, o tráfico
interestadual se tornou uma das soluções encontradas para suprir a mão de
obra, onde o Nordeste passou a suprir algumas regiões produtoras com os
escravos que já não eram tão necessários devido à decadência do comércio
e da produção do açúcar.
A partir da abolição do tráfico, outra solução para a questão foi o emprego da
mão de obra livre e assalariada que ocorreu, em grande medida, no Oeste
Paulista, que se firmou enquanto a grande região produtora após a década
de 1850. A diminuição do fornecimento de escravos levou os latifundiários a
buscarem novas formas de trabalho, recorrendo assim à imigração. O
primeiro estímulo à entrada de imigrantes se deu através do sistema de
parceria. O sistema consistia no pagamento (por parte dos cafeicultores) das
despesas do deslocamento das famílias para o Brasil pelo fazendeiro, além
de seus primeiros custos ao desembarcar no país. Em troca, o imigrante e
sua família ficavam obrigados a entregar parte do que produziam na fazenda
ao proprietário, além de fornecer pagamento pelas dívidas com a migração.
Diante da mentalidade escravocata dos cafeicultores, o sistema logo causou
os primeiros conflitos com os imigrantes, já que a sobre - exploração levou ao
que podemos chamar de “escravidão por dívidas”.
Para garantir que os imigrantes viessem trabalhar nas fazendas de café, em
1850, também foi aprovada a Lei de Terras. Seu objetivo era dificultar o
acesso à terra por parte da população pobre, imigrante e ex - escravizada,
uma vez que determinou que a posse da terra só se daria através da compra.
A medida tinha a intenção de coibir a proliferação de pequenos lotes de
terras que poderiam ser ocupados por esses estrangeiros que acabavam de
chegar. Os altos preços de compra e a dificuldade na regularização
garantiam aos latifundiários a manutenção do domínio territorial e
socioeconômico. Conservavam - se assim, as raízes da exploração da classe
dominante no Brasil, através do latifúndio e da reprodução de sua
desigualdade social.

Pega a visão: Não podemos esquecer de contextualizar o rolê, então temos


que lembrar que um dos motivos para grande migração de europeus para a
América foram os conflitos de unificação que estavam rolando lá na Europa,
especialmente na Alemanha e na Itália.

Diante desse cenário, o Estado brasileiro passou a implementar o sistema de


“imigração subvencionada”, ou seja, com o novo sistema o Estado Imperial
destinou verbas para o deslocamento dos imigrantes, fornecendo o
pagamento das passagens, bem como o alojamento e o trabalho inicial na
lavoura. Vale ressaltar que esse processo foi impulsionado pelo
descontentamento dos Estados europeus com o tratamento dispensado aos
seus nacionais, alguns locais chegaram a barrar a captação de trabalhadores
pelos agentes brasileiros.
O incentivo à vinda dos europeus encontrava apoio na ideia racista de que
era preciso “branquear” a população brasileira, formada majoritariamente por
negros. Portanto, o incentivo à entrada de estrangeiros para o trabalho nas
lavouras também cumpriu um papel social e político muito importante para a
construção da história contemporânea do Brasil. Através do ideal de
embranquecimento da população brasileira, as elites dominantes
desejavam apagar/diminuir os traços e rastros deixados pela enorme
população negra dentro do país ao longo de mais de 300 anos de escravidão.

A Era Mauá

Ainda no âmbito econômico, em 1844, foi aprovada a Tarifa Alves Branco.


Na prática, a medida protecionista estabelecia a taxação em 30% de
produtos estrangeiros que entrassem no Brasil (o dobro dos 15%
estabelecidos anteriormente). Caso o Brasil produzisse similares, essa taxa
seria ainda maior, chegando em até 60%. O seu principal objetivo era
equilibrar a balança comercial brasileira e aumentar a arrecadação por parte
do Estado Imperial. A tarifa, no entanto, acabou operando como um incentivo
aos surtos industriais ocorridos durante o Segundo Reinado.
A Tarifa Alves Branco colocou fim aos tratados desiguais com a Inglaterra,
uma vez que ela não poderia exportar produtos com taxas mais baixas para o
país. Visando aumentar a arrecadação do Império, a medida de D. Pedro II
acabou por facilitar a implantação de manufaturas, principalmente têxtil, para
atender as demandas internas devido ao encarecimento dos produtos
importados.
Assim, a reunião de fatores favoráveis (à abolição do tráfico, a tarifa Alves
Branco e a ascensão do café) estimularam empreendimentos urbanos. Nessa
conjuntura fundaram - se 62 empreendimentos industriais, 14 bancos, 20
campanhas de navegação, 3 de transportes urbanos e 8 estradas de ferro.
Foi nesse momento que surgiu a figura do Barão de Mauá, empresário que
fez importantes investimentos em infraestrutura, como a criação de estaleiros
e fundições, companhias de linhas telegráficas, ferrovias, iluminação a gás,
transporte urbano, etc. A maioria de seus investimentos concentraram - se na
década de 1850, impulsionados pelos efeitos da tarifa Alves Branco. A
modernização verificada nesse período, no entanto, foi pouco capaz de
colocar a escravidão em xeque. Embora o tráfico tenha sido abolido, ela
permaneceu uma realidade dentro do território, convivendo com a adoção da
mão de obra de imigrantes.
Todo o investimento em industrialização criou uma camada social ligada às
atividades urbanas, principalmente no Rio de Janeiro que se mantinha firme e
forte como o centro político do país. É importante ressaltar que a
industrialização vem acompanhada da palavra “surto” porque foi algo
esporádico e que não teve uma longa duração, tanto por pressão interna
quanto por pressão externa. A industrialização brasileira nesse momento não
teve continuidade dos investimentos externos e o Brasil acabou por se
manter dependente dos países europeus. Lembra que falamos lá em cima
que ele continuava agroexportador? Pois então!

Movimento Abolicionista

Apesar do Brasil ser construído, desde o período colonial, como uma


sociedade estruturada na escravidão, isso não significa que ela, de fato,
tenha sido completamente naturalizada. É importante destacar que em todos
os séculos de escravidão negra, a resistência e a oposição nunca deixaram
de existir. Seja inicialmente pela atividade quilombola, pelas lutas individuais
ou por interesses econômicos, sempre houve resistência.
Contudo, apenas no século XIX que a mobilização de atores internacionais e
do movimento abolicionista conseguiram, enfim, conquistar as primeiras leis
que limitavam a escravidão. A transferência da Família Real ao Brasil, por
exemplo, já havia ocorrido através de acordos com os ingleses para o fim da
escravidão na colônia. Seja pelos interesses econômicos, em um contexto de
Revolução Industrial, ou pelos apelos humanistas de alguns políticos e
intelectuais, a Inglaterra fez forte pressão pelo fim da escravidão.
Em 1826, o Tratado Anglo - Brasileiro chegou a assegurar que medidas
contra a escravidão seriam tomadas pelo Brasil até 1830, no entanto, apenas
em 1831 que a Lei Feijó foi aprovada, decretando o “fim” do tráfico negreiro.
Apesar do decreto, o tráfico continuou acontecendo e a entrada de africanos
no Brasil não parou pelos próximos anos, o que rendeu o termo “lei para
inglês ver”.
Diante da falta de medidas mais incisivas do Brasil no combate a escravidão
e da aprovação da Tarifa Alves Branco (1844), a Inglaterra decretou a Lei
Bill Aberdeen (1845), tentando estabelecer o fim do tráfico de africanos
escravizados. A lei anunciava que qualquer navio que fosse capturado no
Oceano Atlântico com escravizados seria detido e julgado pelas leis inglesas.
É importante ainda destacar que, apesar da importante pressão inglesa, a
atuação de brasileiros, sobretudo negros foi fundamental. Após a Guerra do
Paraguai houve um nítido crescimento da Campanha Abolicionista, que
passou a receber apoio de mais políticos, intelectuais e militares, tendo
grande destaque para indivíduos como João Nabuco, José do Patrocínio,
Luís Gama e Castro Alves. As propagandas abolicionistas circulavam por
diversos setores da sociedade, como teatros, salões, quartéis e assembleias,
mas, foi principalmente através da imprensa que o movimento cresceu.
Sendo assim, de um lado, a participação dos escravizados na guerra
fortaleceu o abolicionismo, enquanto de outro, a conjuntura externa (com o
fortalecimento do capitalismo industrial) também foi favorável à abolição da
escravidão. Logo, ao longo da segunda metade do século XIX, o governo
aprovou três importantes leis abolicionistas:

 Lei Eusébio de Queirós (1850): Sob forte pressão britânica, a lei foi
aprovada e decretou o fim do tráfico de africanos escravizados para o
Brasil. No entanto, o tráfico intercontinental foi mantido por mais alguns
anos, sendo realizado por rotas alternativas. Em 1854, o governo ainda
decretou a Lei Nabuco Araújo, estabelecendo punições a quem
acobertasse o tráfico de escravizados.
 Lei do Ventre Livre (1871): Declarava livre os nascidos de mãe
escravizada a partir da data de assinatura da lei. Na prática, a lei
mantinha os filhos das escravizadas sob tutela do senhor até atingirem 8
anos de idade. Após isso, os senhores poderiam entregar o menor ao
governo, com direito a uma indenização, ou utilizar seus serviços até os
21 anos.
 Lei dos Sexagenários (1885): Declarava livres os escravizados com
mais de 65 anos. Na prática, teve alcance reduzido já que a expectativa
de vida do cativo era muito pequena e pouquíssimos chegavam a esta
idade.

Essas leis permitiram que os escravocatas ganhassem tempo e adiassem a


abolição definitiva. Por outro lado, tiveram o importante papel de tornar a
justiça uma nova arena de luta pela liberdade e impulsionaram a campanha
abolicionista. Vale destacar ainda que, apesar do avanço abolicionista, ao
final do império a aprovação de algumas leis passaram a limitar cada vez
mais alguns direitos civis, sobretudo aos mais pobres e aos recém - libertos.
Em 1850, por exemplo, foi decretada a Lei de Terras (no mesmo ano da
aprovação da Lei Eusébio de Queirós), que tratou de restringir a posse de
terras no Brasil. Essa lei, portanto, privilegiou os antigos latifundiários e
dificultou que imigrantes, indivíduos pobres e até mesmo os recém libertos
adquirissem alguma propriedade.
É importante destacar que existiam diferentes projetos de abolição, alguns,
inclusive, propunham uma reforma agrária e a distribuição de pequenos lotes
para os libertos. Outra proposta seria a indenização por parte do Estado
brasileiro à população recém liberta. Mas o projeto vencedor foi a da
libertação sem nenhum tipo de indenização ou projeto de inclusão social.
Uma estratégia de limitação semelhante ocorreu também em 1881, ano que a
chamada Lei Saraiva foi aprovada. Apesar de manter o caráter censitário do
voto estabelecido pela Constituição de 1824, a nova lei acrescentou a
proibição do voto dos analfabetos. Assim, a quantidade de votantes no Brasil
caiu de mais de um milhão para apenas 145 mil, visto que grande parte da
população era considerada analfabeta.
Assim, podemos perceber que o movimento abolicionista contou com nomes
importantes como Luiz Gama, José Carlos do Patrocínio, André
Rebouças, Maria Firmina dos Reis, Adelina, Chico do Aracati, entre
tantos outros. Salientar que todos esses abolicionistas citados eram negros é
essencial para entender que o movimento de resistência ocorreu em grande
medida por parte da população negra, liberta ou escravizada, que lutava
ativamente contra a subjugação dos seus semelhantes e pelo
reconhecimento da humanidade desses corpos explorados por mais de 300
anos.

Política Externa

Questão Christie (1862 - 1865)

A relação cada vez mais desgastada com o Inglaterra devido à pressão pelo
fim da escravidão juntamente com a relativa diminuição da dependência
brasileira, que passava a comercializar com outros países industrializados,
levou a uma questão diplomática entre os dois países. Além disso, a
promulgação da Bill Aberdeen (1845) também acabou contribuindo para que
o clima amistoso entre Brasil e Inglaterra fosse abalado.
O naufrágio do navio inglês Prince of Wales e o posterior saquemaento no
Rio Grande do SUl, fez com que o diplomata William Dougal Christie exija
uma reparação monetária do governo brasileiro, entretanto o
descontentamento com o representante britânico já estava alto, uma vez que
ele havia acobertado um pouco antes a morte de um alfandegário por dois
marinheiros ingleses. Para piorar a situação, durante a discussão sobre a
indenização do navio naufragado, alguns marinheiros ingleses causaram uma
confusão no Rio de Janeiro, sendo detidos por policiais brasileiros. O
diplomata exigiu que os ingleses fossem soltos, que os oficiais fossem
demitidos e um pedido oficial de desculpas por parte do governo brasileiro.
Isatisfeito com as exigências do governo britânico, D. Pedro II se recusa a
cumprir as exigências e rompe as relações com o Império Britânico, que
ameaçava fechar a Baía de Guanabara.
Entretanto, buscando resolver de forma pacífica seus conflitos com a
potência industrial e marítima, o Imperador brasileiro buscou ajuda para
mediar o conflito com o rei da Bélgica, Leopoldo II.O rei belga deu ganho de
causa para o Brasil, que pagou a indenização pelo navio naufragado e
recebeu, posteriormente, um pedido de desculpas do governo britânico pelos
abusos cometidos pelo seu embaixador.
Vale ressaltar que, recentemente, a historiografia oficial sobre a questão
acabou sendo revista por alguns atores e foi encontrado um outro elemento
em comum para a crise, a escravidão. Desde a década de 1840, Inglaterra e
Brasil já estavam com a relação abalada por conta das discussões em torno
do fim do tráfico negreiro. Um dos grandes impasses teria contribuído para o
desentendimento diplomático entre os países era a exigência de libertação de
africanos livres que haviam entrado de forma ilegal no país após a lei
de1831. Assim, aproveitando do desentendimento com relação ao navio e a
prisão dos marujos ingleses, Christie teria aproveitado para pressionar o
governo brasileiro pelo fim da escravidão.
Havia na Inglaterra um movimento abolicionista ligado a religião que,
supostamente, influenciava na luta inglesa em prol da libertação dos
escravizados aqui no Brasil e para alguns autores essa era a grande causa
do interesse inglês no fim da escravidão. Além disso, eles apontam também,
que a Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, e o consequente fim da
escravidão teriam sido fatores que impulsionaram a luta inglesa pelo fim da
escravidão aqui na América.

Guerra do Prata (Oribe e Rosas)

A partir de 1850, a situação política do país estava sob controle e assim D.


Pedro II resolve voltar sua atenção para as regiões vizinhas abraçando uma
postura expansionista sobre a Bacia do Prata. Seus interesses na região
passavam pela preocupação com a possibilidade de unificação dos Estados
que faziam fronteira com o Brasil e o controle da navegação nos rios da
Bacia do Prata. Sua postura agressiva e militarista levou a alguns conflitos na
região que tiveram impactos importantes na política e na economia do país.
Quando o presidente argentino Juan Manuel de Rosas e o ministro uruguaio
Manuel Oribe decidem fazer uma aliança política, o Brasil resolveu combater
as pretensões políticas e econômicas de ambos os países na região. D.
Pedro II ordenou a ocupação de ambos os territórios, depondo seus governos
e substituindo - os por políticos do seu interesse.
Entretanto, as disputas internas entre os partidos Blanco e Colorado,
juntamente com a interferência gaúcha na região, mantiveram o clima de
instabilidade na Bacia do Prata. Em 1864, o Uruguai, que era comandado por
Bernardo Berro do partido Blanco, foi novamente invadido pelo governo
brasileiro que substituiu o líder do país pelo representante principal do partido
oposto, o Colorado. Essa intervenção marcou a afirmação do país enquanto
uma potência na região do Prata, que já vinha sendo palco de conflitos desde
o período colonial. Em resposta a política intervencionista do império, o
presidente Solano López, do Paraguai, cortou relações com o Estado
Brasileiro.

Guerra do Paraguai (1864 - 1870)

Em um momento em que o sentimento nacionalista está cada vez mais


sendo explorado pelo Imperador, a Guerra do Paraguai foi deflagrado
utilizando como justificativa a defesa dos interesses nacionais.
A Guerra do Paraguai pode ser considerada um divisor de águas na história
do Segundo Reinado, marcando o início de um processo de fragilização do
império e de questionamentos à política de D. Pedro II. Ocorrida de 1864 a
1870, a Guerra opôs Brasil, Uruguai e Argentina (chamados de Tríplice
Aliança) contra o Paraguai e pode ser compreendida a partir das disputas no
entorno da Região do Prata, que existiam desde o período colonial. As
tensões se acentuaram com a ampliação da atividade comercial na região,
uma vez que era pelo Rio da Prata que os navios argentinos, uruguaios e
paraguaios alcançavam o Oceano Atlântico, escoando sua produção.
A ampliação das tensões ocorreu após a oposição brasileira ao ditador
uruguaio Aguirre, apoiado pelo presidente paraguaio Solano López. As tropas
brasileiras atacaram o Uruguai, fato que contribuiu para a deposição de
Aguirre e a chegada de Venâncio Flores ao poder. Em reação, o Paraguai
aprisionou o navio brasileiro Marquês de Olinda, fazendo com que os dois
países rompessem relações diplomáticas e tivessem início as primeiras
hostilidades militares.
Inicialmente, houve o avanço das tropas paraguaias, que invadiram a
província do Mato Grosso, no Brasil, e a província de Corrientes, na
Argentina, para chegar ao Uruguai e conseguir acesso ao mar. A partir daí se
formou a Tríplice Aliança, permitindo que Brasil, Argentina e Uruguai unissem
forças contra o Paraguai. Após a invasão, o exército brasileiro reagiu,
avançando para o território paraguaio.
Um confronto extremamente importante para o rumos da guerra aconteceu
em junho de 1865: a Batalha Naval de Riachuelo. Nessa batalha, a Marinha
Brasileira alcançou uma vitória importantíssima, destruiu parte considerável
da frota naval paraguaia e garantiu o controle das águas platinas para a
Tríplice Aliança, isolando o Paraguai e impedindo - o de receber recursos
essenciais para a continuidade da guerra.
Durante muito tempo, as causas da Guerra do Paraguai foram interpretadas
não apenas como uma reação às medidas autoritárias de Solano López, mas
também como repulsa ao modelo de desenvolvimento autônomo do
Paraguai, que contrariava interesses capitalistas dos ingleses, que preferiam
países fornecedores de matéria prima e consumidores de seus produtos
industrializados.
Essa interpretação supunha que a Inglaterra teria favorecido a Tríplice
Aliança contra o Paraguai e lucrado com a Guerra. No entanto, estudos mais
recentes consideram incorreto atribuir a guerra aos interesses da Inglaterra e
culpá - la pelo conflito. As novas interpretações enfatizam as motivações
geopolíticas específicas dos países envolvidos no conflito. No caso do Brasil,
uma das motivações era conseguir a livre navegação do rio Paraguai,
garantindo maior comunicação entre o Mato Grosso e outras províncias. As
novas fontes demonstram, além disso, que a Inglaterra forneceu empréstimos
e armamentos a ambos os lados que se opunham no conflito. A derrota
paraguaia na Guerra trouxe desastrosos efeitos para a sua economia, além
das enormes perdas humanas. Alguns historiadores estimam que a
população paraguaia tinha em torno de 450 mil habitantes, dos quais cerca
de 70% morreram na Guerra.

Consequências internas para o Brasil

No Brasil, o conflito produziu efeitos que contribuíram para a crise do


Segundo Reinado. Entre eles, podemos destacar:
 Aumento da dívida externa brasileira: a economia do país foi fortemente
abalada em razão dos gastos com a guerra. Logo, o Brasil passou a
depender ainda mais de empréstimos ingleses, aumentando o
endividamento externo
 Fortalecimento do exército enquanto instituição: depois da guerra, o
exército, fortalecido, passou a desempenha papel político, demonstrando
simpatia pela causa republicana e posicionando - se contra a escravidão.
Isso se explica, em certa medida, porque a maior parte das tropas
brasileiras era composta por escravizados e homens livres pobres.

Vale lembrar que uma das grandes questões da Guerra foi o problema do
recrutamento no Brasil. Enquanto a guerra se estendia, o alistamento era
cada vez mais difícil. Fugas, confrontos locais, brigas políticas, casamentos
forjados e muitos outros problemas passaram a ser enfrentados pelos que
buscavam soldados pelo país.

Pega a visão: o Voluntários da Pátria foi criado em 1865 para reforçar o


exército brasileiro para a Guerra do Paraguai. A ideia era apelar para o
sentimento nacionalista para que as pessoas se alistassem para defender o
Brasil no conflito.

Com isso, em outubro de 1866, D. Pedro II enviou ao Conselho de Estado a


proposta de, caso prosseguisse a guerra, “lançar mão da alforria de escravos
para aumentar o número de soldados do Exército”. Apesar da polêmica, ela
foi aprovada e o decreto nº 3.725 concedeu liberdade gratuita aos escravos
da nação que pudessem servir na guerra. Na prática, a determinação abriu
espaço para que os senhores vendessem seus escravos para o governo com
a finalidade de irem para a guerra.
A vitória brasileira cobrou um alto preço ao apontar os antagonismos
presentes no império brasileiro, que concedia alforria ao escravizado que iria
para guerra, mas mantinha suas famílias na condição de escravizados.
Certamente, para os militares essa contradição ficou cada vez mais aparente,
uma vez que eles saíram vitoriosos da guerra, mas não podiam participar
ativamente do jogo político. D. Pedro II saiu vitorioso da guerra, mas entrou
em uma sinuca de bico política.

Republicanismo

O republicanismo no Brasil foi diretamente influenciado pelas ideias


positivistas e cresce em um ambiente de instabilidade política do Segundo
Reinado, que passou a perder prestígio com as suas bases de apoio (o
Exército, a Igreja Católica e a Elite agrária) que cada vez mais associavam o
regime monárquico a um sinônimo de retrocesso. Portanto, a
modernização almejada estava ligada diretamente à instalação do
republicanismo, garantindo a ordem (Exército) e o fim da corrupção pela
qual a monarquia brasileira estava marcada.
O Exército é um dos principais expoentes do movimento republicano, devido
a uma série de descontentamentos, construídos ao longo da segunda metade
do século XIX e, principalmente, após o fim da Guerra do Paraguai, que vai
evidenciar as divergências existentes entre o governo e os militares. O Oeste
paulista, zona de produção cafeeira, também desponta como um relevante
centro da luta a favor da Proclamação da República, uma vez que era a área
mais dinâmica e economicamente desenvolvida do Império, mas não
encontrava representatividade na política. Através da Convenção de Itu, os
paulistas declararam seu apoio ao movimento republicano, que cada vez
mais ganhava aliados de peso.
A partir de 1870, o movimento republicano toma contorno, com a publicação
da imprensa de um manifesto por parte de liberais radicais que haviam
abandonado o partido; logo em seguida, é fundado o Partido Republicano
(1873), que vai se expandir para outros estados, com a criação de partidos
regionais. Assim, o Exército e os cafeicultores paulistas se aliam às
classes médias urbanas, que desejavam uma modernização, e aos
conservadores, que estavam descontentes com a abolição da escravidão,
enfraquecendo o poder de D. Pedro II.

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