ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força. Em algumas sociedades, desde os tempos mais remotos, os escravos eram legalmente definidos como uma mercadoria. A escravatura significa uma prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força. Problemas Historiográficos
• Apesar dos reais progressos no conhecimento de
tráfico de escravos, em particular nas suas dimensões africanas, o comércio negreiro continua a ser o terreno dos debates e das controvérsias sem dúvida mais apaixonadas da historiografia africana. Por isso as querelas dizem respeito a tudo, tanto ao facto histórico como ao conjunto de efeitos conhecidos, ocultos ou supostos: qual a razão do tráfico? Porque razão dos africanos? Quantos Homens perdidos pelo continente africano? … Só consideramos algumas questões que suscitaram a atenção dos historiadores (MBOKOLO, 2003:320). Correntes à volta da Escravatura
• Apesar da escravatura ainda ser um fenómeno conhecido
ainda é motivo de grande debate no seio de académicos procurando saber qual é o motivo desta prática. Existem três correntes de pensamentos em volta do tema dentre eles: • A corrente Europeísta – surgiu logo após à IIª guerra mundial como resultado dos crimes a que os judeus foram sujeitos. Recorre a argumentação de que qualquer guerra produz violência, interpretações semelhantes também foram utilizadas no tráfego negreiro pelo facto de constituir um ciclo moral, mas a realidade do tráfico é de tal modo embaraçosa pela sua duração e pelas massas em causa, que proíbe toda e qualquer operação a seu respeito. A corrente Europeísta • Ela é por outro lado, tão enfadonha que suscita (procura da originalidade, concessão à moda, gosto da provocação) operações revisionistas mesmo entre aqueles historiadores que mais contribuíram para o conhecimento do passado africano. Este revisionismo concentra em grosso três series de argumentos destinados a banalizar a tarefa negreira, a reduzir-lhe os números e a interrogar-se sobre a possibilidade de efeitos induzidos que teriam sido benéficos para o continente africano. • Esta corrente defende a ideia de que o tráfico de escravos realizado sob forma de coação não foi mais do que uma migração, uma mudança de uma zona para a outra. • Para Roger Einstein e P.E. Heir, defendem que o tráfico de escravos através do atlântico foi uma, entre uma boa dúzia, das grandes correntes migratórias a longa distância e ate intercontinental que varreram o mundo nos tempos modernos, não foi a maior nem a menor consequência imediata. Para eles a única diferença entre as migrações de escravos e as migrações externas, é que a migração como resultado de escravatura foi involuntária. No que se refere aos números, a revisão em baixa mais drástica foi-lhe imposta pelos Census (1969), de Philip Curtin. Corrente Afrocentrista
• Defende que a escravatura não teve origem em
África, mais sim foi uma actividade desenvolvida em todas as sociedades do mundo, a escravatura corrente em África não teve finalidades lucrativas, o escravo tinha direito a propriedades e a família contrariamente a escravatura europeia, uma das conclusões que se podia tirar do Census, é que, ao reduzir o cálculo das exportações totais de escravo de cerca de vinte milhões para cerca de dez milhões, o prejuízo provocado a sociedades africanas encontra-se assim reduzido a metade. Corrente Afrocentrista • Segundo esta corrente o comércio de escravos criou um triplo impulso a indústria mecânica, pois, os escravos adquiridos eram remetidos as plantações, de chã, algodão, sisal, em alguns países como são os casos: Ilhas Comores, Ilha de Madagáscar, ilhas Mascarenhas, ilhas Maurícias, reunião, Américas, golfo pérsico, Arábia, Índia, Goa, entre outros produtos que criaram o desenvolvimento de novas indústrias na Inglaterra. Corrente Intermédia
• Procura buscar uma explicação da origem da
escravatura baseadas na razão, procura estudar as duas correntes descritas e dela abstrair a razão e defende que a escravatura não foi só feita em África, mas em todas as sociedades, por isso, os mentores deste processo nem foram os Africanos e nem os europeus, mais que haja verdade de que os europeus modificaram e alteraram o processo efectuado anteriormente. Antecedentes da escravatura • Segundo Ki-Zerbo, (2009: 261-263), antes da expansão europeia, a Europa estava a braços, com uma grande fome de ouro para satisfazer as suas compras de especiarias originárias do continente asiático. A pimenta, o pimentão, a canela e o gengibre, assim como os tecidos preciosos, a ceda, e os índigos, constituíam os principais artigos importados da Asia. • As guerras desastrosas entre os estados europeus, (a Guerra dos 100 anos), haviam ainda agravado esta deflação de metais preciosos, assim como o marfim, que constituíam as moedas de troca com os árabes. • Também nesta época nota-se a teoria de metalismo mercantilista, ou seja, não há outra fonte de riqueza que não seja o ouro, então, comprar o menos e vender o mais possível para acumular reservas de ouro. Antecedentes da escravatura • Enquanto isso o continente africano estava nessa época num processo de destruição e formação dos reinos e impérios, onde em alguns casos eram efectuadas guerras de razia ou de conquista onde a tribo dominada pagava tributos a tribo dominante, e alguns homens constituíam escravos, mas não eram comercializados, eram apenas para prestarem serviços seja agrícolas ou outros tipos de serviços. • Em cada grupo étnico, havia um elemento que identificava as tribos, isto é, notava-se o egocentrismo, que fazia com que capturasse homens doutras tribos para reduzir a escravatura. Ciclo de escravos
• Segundo Ki-zerbo, (2009:208) o ciclo de escravos
compreende três fases a destacar: • 1º Captura - os escravos eram capturados através de propagandas psicológicas que faziam querer aos negros por uma demonstração de forcas ou de fausto, que se é o primeiro pais da Europa, ou que se desviam dos outros negreiros para as costas interessantes contando fábulas terríveis ao seu respeito. As trocas de armas, cavalos, vestes, bebidas alcoólicas, e outro tipo de trocas feitas pelos europeus com os reis africanos contribuíram também para a captura dos escravos. • Havia também as viagens pagas a Europa para os reis Africanos. Neste caso os reis eram obrigados a vender o seu povo a custa destas viagens. Ciclo de escravos • 2º Transporte - o transporte do escravo era feito através de companhias. Agruparam-se negociantes Europeus para fazer face aos riscos importantes de um comércio, que no melhor dos casos traziam os navios do alto mar oito à dez vezes. Estas companhias procuravam que os poderes públicos, “o governo” lhes assegurassem privilégios que iam ate aos monopólios. Também possuíam material próprio para o encarceramento dos escravos que mantinham os escravos seguros e presos estes materiais eram: argolas, correntes e muito mais. • Chegados a costa os escravos eram guardados em armazéns (os barracões), criadas pelas companhias. Ciclo de escravos • 3º A chegada – chegados na América os escravos eram submetidos a um exame: dos dentes, dos olhos, do sexo, das mãos e dos pés, empurrões para avaliar a resistência do indivíduo. Chegava-se ao ponto de provar o suor do cativo para ver se o brilho da pele não seria devido ao polimento superficial. Quando o escravo era por fim comprado, por um patrão do Brasil, de Cuba ou da América do Norte, não estavam terminados o seu cavalário; ia começar o segundo capítulo (o trabalho nas plantações de cana – de - açúcar, café, tabaco e outras culturas das plantações europeias na América). Motivações
• As motivações da escravatura numa forma geral,
foram de carácter económico. A necessidade de mão de obra foi sempre uma fonte de preocupações da coroa portuguesa e dos privados. Foram mesmo um dos motivos que estiveram na origem da conquista de Ceuta em 1415, que era uma zona de confluência de várias rotas, muitas delas de escravos, que seriam importantes para suprir a penúria de mão-de-obra do Reino. O escravo torna fácil e rápido a produtividade, a aquisição também de um escravo torna fácil do que um trabalhador assalariado. É neste mosaico de ideias que se afirma que as motivações da escravatura foram de carácter económico. Motivações • Segundo o relatório publicado pela UNESCO (1978:153-154), o comércio de escravos acompanhou as grandes descobertas portuguesas do século XV. Não parece contudo que tenha sido desde logo um dos objectivos comerciais das expedições, embora a sua pratica fosse usual na época, efectuando-se com toda a naturalidade. Por outro lado, a sua progressiva expansão foi consequência da evolução das motivações económica da expansão portuguesa. Métodos e Meios de Acção
• De acordo com Ki -ZERBO (2009:268), os
métodos de acção eram muito simples, e dentre eles destacam-se: • Propaganda Psicológica - que faz crer aos negros por uma demonstração de forças ou de faustos, que se é o primeiro país da Europa, ou que se desviam os outros negreiros das zonas da costa particularmente interessantes, contando fábulas terríveis a seu respeito. Métodos e Meios de Acção • Viagens pagas a Europa - foi assim que, depois de fazer chegar ao rei de Ardres um saiote de cetim e chinelas escarlates, o Sieur Delbée organizou a viagem do seu embaixador Mateus Lopes até Paris. KI-ZERBO (2009:268) • Recurso a força - que consistia na captura de escravos, sujeito a mãos tratos, sem direitos e este podia ser destinado a qualquer tipo de trabalho. OLIVER (1991:137). Meios de Acção • Quanto aos meios de acção, destacam-se os seguintes: • A frota - Os navios que ostentam nomes – programas (o Concórdia, os Justiça, o Africano, o Rei Daome, o Senegalês, etc), estão unidos de um equipamento especial de ferros, de fixações, de corrente, de cobertas e de falsas cobertas para dominar e armazenar a carga humana, com menor perda de espaço possível. O tráfico fazia – se essencialmente pelos estacões, escalas, feitorias que, como uma cintura de aço, cercavam toda costa de África negra. Estavam estaladas sobretudo nas ilhas fácies de defender ou no ponto elevado próximo da costa. Meios de Acção • As companhias - agrupavam – se negociantes europeus para fazer face aos riscos importantes de um comercio que, no melhor dos caso trazia os navios de alto mar durante 8 a 10 meses. As companhias assim formadas procuravam que os poderes públicos lhes assegurassem o privilégio que iam até ao monopólio (KI-ZERBO 2009:268-271). Razões da entrada dos americanos no tráfico • Segundo Vidrovch (2004:130), O desenvolvimento do tráfico de escravo está ligado ao desenvolvimento das plantações de cana-de- açúcar introduzido no século XVII nas Antilhas. • São verificadas as plantações de açúcar no Brasil e do Caribe, que se expandiam progressivamente, obrigando cada vez mais mão-de-obra. Contudo, as populações nativas do novo mundo, dezimanadas em grande parte pelas doenças trazidas pelos europeus, mal podiam atender esta demanda • De acordo com M`bokolo (2003:285) Sustenta que vários factores contribuíram para a penetração dos americanos neste comercio de escravo tais como: • ̶ O crescimento das plantações, estimulado pelas disposições a quem dava a terra aqueles que exportavam escravos; • ̶ As guerras repetidas entre os estados europeus, proporcionou aos americanos a assegurar o seu próprio abastecimento recorrendo exclusivamente a pirataria. • A primeira exploração das Américas foi primitiva: economia de colecta, de colheita e de pilhagem, preocupou-se pouco com os recursos – ouro, madeira e couros (pele de animais) que não tardaram em esgotar-se e menos ainda com os homens. (M´BOKOLO, 2003:269). Os índios submetidos ao trabalho forçado e vulneráveis à doenças até então desconhecidas, foram as primeiras vítimas do nascimento do novo mundo. Assistiu-se na América um autêntico desastre demográfico. • • Elevaram-se vozes entre as quais as de António de Montesionios, de Bartolomé de Las Casas e de Francisco de Vitória, para condenar este genocídio que precede o conceito. Com intensivas rebeliões contra o uso brutal da força manual dos índios, os americanos acharam melhor capturar e comprar escravos negros da África. Las Casas aconselha em libertar os índios e em sua substituição usar os negros africanos. M ´bokolo tenta chamar a atenção para não se dar a culpa do desenvolvimento de tráfico negreiro na América ao Las Casas. • Não se pode culpar o clima como sendo uma das razões que levara os europeus a preferirem escravos africanos em detrimento dos índios, alegando que estes não suportavam o seu próprio clima, o clima tropical, porque não faz sentido algum. Os índios eram um povo nativo da América do sul. Não faz sentido algum dizer-se que o africano sobrevivia ao clima tropical e o índio não. Como pode um natural não suportar o seu próprio clima e um estrangeiro conseguir sobreviver ao clima que não lhe é peculiar? Movimento Abolicionista
• Abolicionismo foi um movimento político que
visou a abolição da escravatura e do comércio de escravos. Desenvolveu-se durante o iluminismo do século XVIII, e tornou-se uma das formas mais representativas políticas do século XIX até à actualidade. Teve como antecedentes o apoio de alguns Papas católicos. • Factor Económico • Segundo KIZERBO (2009:277-78) Sustenta que a Inglaterra, primeira potência europeia a levar a cabo a sua revolução industrial estava saturada de produtos manufacturados e procurava mercados regulares e seguros para eles. • As correntes idealistas foram dar portanto um grande caudal do interesse que conduzia a Inglaterra a uma acção antiesclavagistas muito energética no seu próprio território e no atlântico e em 1772 a Inglaterra proibia escravatura no seu território, e depois em 1807 proibia o tráfico negreiro nas suas colónias. Em 1834 concedeu a liberdades a todos escravos do império. • Factor Político • Segundo FAGE (2001:284) sustenta que emergiu entre os europeus um debate muito vivo sobre o processo de escravização e especialmente ao caso de guerras que era expressamente aproveitada para obtenção de escravos. • Factor religioso • Segundo MʼBOKOLO (2003:399), Durante o século XVI o padre Tomas empenhou-se em denunciar o tráfico como contrário as regras do comércio e da humanidade, considerando os africanos como naturalmente bons, ele acusava os portugueses de os empurrar para as guerras produtoras do escravo e nada fazer para limitar a mortalidade excessivas dos barcos negreiros. • A influência das ideias religiosas foi particularmente forte no abolicionismo britânico graça aos metodistas. Na Franca na realidade no seio da igreja propriamente dita o abolicionismo manifestou-se no inicio do século XIX através da tomada de posição de Roma.