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REFORMAS DE ALGUNS ESTADOS AFRICANOS ENTRE 1800 E 1885

África do Norte (Egipto)


Reforma – processo de mudança restauração, modificação, reorganização, conjunto de
mudanças envolvendo sociais e religiosos.

Reformas No Egipto/ Renascimento Egípcio


A reforma no Egipto foi levada ao cabo pelo Muhammad Aly e continuando pelo seu irmão
Ismail.

Apreciação da Postura de Abdel - Malek sobre a reforma no Egipto.


ABDEL MALEK na sua análise questiona:
1. Se no Egipto terá havido a reforma ou a aculturação ou assimilação de valores
exteriores/Europeus.
2. Coloca-se realmente é reforma e se esta reforma resultou de uma imposição ou de um
processo que contou com a intervenção de factores endógenos (internos).
Abdel Malek aceita que no Egipto houve reformas que resultou da combinação de factores
endógenos e exógenos mas que reflecte de uma aculturação de valores externos.

PERCURSO DE REFORMA

Antecedentes:
A derrota dos Mamelucos que se tinha, revoltado no alto Egipto em Março de 1811, daquilo que
foi conhecido massacre de fortaleza que correspondeu ao movimento rebelde que obstaculizava a
centralização do poder, momentaneamente indica os objectivos da reforma:
1. Tornar o Egipto um Estado moderno nos aspectos politico, económico e cultural.
2. Tornar o Egipto um Estado Islâmico forte.
3. Tornar o Egipto uma identidade forte, independente e livre de qualquer dominação.

Estratégias
 Djihad (guerra santa): uma guerra contra os Inocules (aqueles que resistiam).
 Recurso a diplomacia a nível externo o que implicará acertar negociações com os principais
parceiros Egípcios, nomeadamente Turcos, Ingleses, Franceses.

Principais Vertentes da Reforma


- A de Muhammad Aly foi multidisciplinar ou multifacético directa ou indirectamente, ele
incidiu nas áreas económicas, politicas, sociais e culturais.

Âmbito económico:
A reforma incidiu sobre diferentes actividades económicas:
Industria, agricultura, comércio e finanças.

Industria
O Estado incentiva o desenvolvimento da indústria militar. Assim, em 1818 – 1830, ele
introduziu fábrica de munições em cidadelas. Em 1821, introduz-se a fábrica de ‘’armas de
fogo’’ e fábrica de pólvora.
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Em 1833 – fábrica de navios militares em Alexandria. Ao mesmo tempo desenvolvem outros


ramos industriais e em 1844 é criada indústria de carga e descarga a partir de uma troca no Alto e
Baixo Egipto.

É disseminada a indústria têxtil com base no algodão, enquanto nas cidades de Balak,
DAMANHAR e FOWRA cria-se uma espécie de industrialização do ramo, enquanto em
Khurumpish, fábrica de seda a partir de 1916 é disseminada a escala dos pais. Entretanto no
Cairo são criadas máquinas de ferramentas que levariam a refinação do açúcar, fabrico de anil,
de artigos de vidro e criada também a fábrica de papel em 1839.

Igualmente foram construídas várias salinas, mas apesar destes significativos avanços no
domínio industrial, tais avanços não atingiram maiores dimensões porque o Egipto debatia-se
com a falta de minerais ferozes.

Na agricultura
O Egipto já possuía uma longa tradição nesta área económica nos finais do séc. XVIII.
A agricultura era caracterizada pela criação de canais para o aproveitamento das terras emersas e
férteis.

Os terrenos estavam nas mãos dos proprietários privados (Maltazins) neste âmbito Muhammad
Aly leva a cabo uma reforma agrária que consistia na distribuição das terras, neste sentido cerca
de 2000.000 de Fuddans (Fuddans correspondia cerca de 0,36 ha). Em 1805 foram divididos em
5 categorias:
1ª Destinada ao soberano e seus súbditos (monarcas, funcionários superiores, altos militares).
Estavam praticamente isentos de pagamento de taxas.

2ª Terras destinadas ao Mamelucos.


3ª Terras destinadas a hierarquia religiosa, os Shaykhs que correspondia a 4% das terras aráveis.
4ª Terras destinadas ao capital estrangeiro.
5ª Terras destinada aos Beduínos (árabes, nómadas).

Resultados da Reforma Agrária


Enriquecimento relativo de um certo sector do campesinato e a criação de bases para a
emergência de uma elite rural.

No Comercio
Muhammad Aly leva a efeito uma politica proteccionista que consistia em controlar a actividade
comercial com vista a evitar a libertação e o perigo de produtos externos mais baratos.

Nas Finanças
Destaca-se a criação de um sistema bancário pela 1ª vez;
Abertura ao capital estrangeiro, neste contexto impôs ao cultivo de cereais e de algodão;
Abertura de canal de Suez com vista a integração do Egipto no sistema económico mundial.
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No Campo Politico
Muhammad Aly define o sistema de governo como uma monarquia constitucional, resultado da
fusão do sistema do tipo europeu com marcas de identidade Egípcia. Destaca-se também a
criação de um movimento sindical.

No Âmbito Cultural
Muhammad, procura reconstruir identidade Egípcia e toma como elementos chave a fusão da
tradição com a modernidade.
É constitucionalizado o sistema de educação baseado na tradição com modernidade;
Desenvolvimento de um sistema de educação moderna que foi a base de Urabismo (movimento
de resistência intelectual na fase de dominação colonial).
Entretanto, reservou maior espaço a educação corânica nas 1ªs classes e a medida que se
avançasse ia diminuindo a componente corânica favor da educação Moderna Europeia.
Foram criadas Universidades no Cairo e Alexandria cujo curriculum baseava-se nos valores
modernos do mecanismo, ciência e Romantismo. Ao mesmo tempo foram enviados para o
exterior como fins de estudar nas Universidades vários Egípcios, nas Universidades da França,
Inglaterra, Itália, Áustria, Alemanha e mais tarde nos EUA.

O Resultado da Reforma neste âmbito

Foi a formação de uma classe de intelectuais que rivalizava em termos de conhecimento com os
Europeus, mas que ao mesmo tempo se identificava com a sua pátria e com seu povo.
Em nome da reforma foi incitada a indumentária europeia, o plano das cidades, a expansão das
música e a literatura. Foram estes intelectuais que puderam mais tarde exprimir com clareza na
fase do nacionalismo as suas próprias ideias.

O sistema de educação instituindo por Aly foi o único com tais características no mundo não
ocidental. Mais tarde foi consolidado por Ismail.

RESULTADOS DE REFORMA

Resultados da Reforma, Gerais

- Internos
 Criação do estado moderno com as suas tradições
 Desenvolvimento de uma elite económica e intelectual que visa a impulsionar o Urabismo
(movimento de contestação contra a colonização no Egipto).

- Externos
 Dinamizou na região o movimento reformista, destaca-se uma greve, que procurava a sua
identidade mediante uma plataforma de conciliação entre a tradição e a modernidade.
 Contradição com a Inglaterra, que numa altura se encontrava em plena fase de conquista
colonial, procurando ligar as colónias do Cabo as do Cairo. Do outro lado, a Inglaterra temia que
a modernização do Egipto influenciaria o Sul de Sahara, dificultando as suas pretensões
coloniais.
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A dissolução do Estado interno do Egipto, começou a desembar-se em 1840 com prelúdio da


penetração colonial e a assinatura do tratado de Londres.

Apreciação geral
Certos historiadores crêem que a reforma do Egipto foi influenciada pela corrente Iluminista e
pela Revolução Francesa; mas atribuem também o papel preponderante as motivações internas.
Certos historiadores reforçam a tese de que para a reforma contribuir bastante a massa de
intelectuais e estudantes regressados da Europa.
Foi a 1ª vez que num País Africano se falou de identidade; O que na óptica de Muhammad Aly,
Ali usava-se em três fundamentos:

 A etnia, utilização da civilização árabe como um factor.


 A religião Islâmica que era a religião do estado.
 As relações Internacionais regionais que constituiu na exploração do conhecimento científico
Europeu para modernizar e fortalecer o estado Egípcio.

O Impacto da Reforma
Ela contribuiu para a resistência e luta clandestina entre 1881 e 1914, sobretudo pelos
intelectuais e funcionários do aparelho colonial. Sobre o estado de protectorado Inglês, a
monarquia Egípcia convive com os Britânicos, mas também com os franceses e outros. O que até
certo ponto provocou situações de corrupção no regime, no aparecimento das primeiras
construções levadas a cabo pelas elites intelectuais, políticos e militares desejosos em mudanças
corporizadas no movimento Urabista legislada pelo Urabi, que controlava tanto a monarquia
como os estrangeiros. Este movimento veio a ser a base sob o qual Gamal Abdul Nacer ascendeu
ao poder.

A REFORMA DA ETIÓPIA

1. Antecedentes:
Entre o séc. XVI-XIX, a Etiópia vive isolada do interior, entretanto mantém relações de
convivências, por um lado com Árabes, Turcos muçulmanos e por outro lado com os Animistas
do interior.
A situação interna é uma carga da série de conflitos internos e mesmo externos intermediados
entre si por momentos de relativa calma, que respondiam a períodos de governação de algumas
personalidades fortes como por exemplo Yusu (O grande) e Teodoro II.
No séc. XVII verifica se a presença Portuguesa no país através de expedições e da acção de
missionários Jesuítas que abriram escolas no país.

O Resultado desta acção:


Foi a formação de uma elite de certa forma esclarecida. Durante este período algumas
perturbações religiosas cujos protagonistas eram os Coptas, cristãos e muçulmanos e
particularmente entre as elites do poder e os cristãos marcados por perseguições e mesmo
execuções intermediárias por períodos de tolerância.
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2. Movimento Reformista
Situa-se entre 1682-1868 e deslocaram-se várias figuras:
Yusu (O grande) 1682-1706; que dirigiu uma reforma direccionada fundamentalmente para as
áreas administrativas, diplomáticas e religiosas. Este foi o sucesso de Yohonne (1667-1682); que
se havia distinguido pela sua perseguição aos católicos Franciscanos e aos muçulmanos a favor
dos Coptas.

Acções Reformistas

1. Área administrativa:
Integração dos Príncipes marginalizados mediante a sua representação de poder central,
objectivando a redução dos conflitos.

2. No campo diplomático:
O relançamento das relações com os europeus. Ex: com o Monarca Francês Luís XIV do qual
resultou a nomeação do embaixador Francês na Etiópia.

3. Na religião:
Ele chamou-se a autoridade sobre a Igreja Ortodoxa, passando a convocar os sonados
Teodoro II, 1855, privilegiou os campos administrativos, militar, económico e social. Assim ao
nível:

Administrativo:
Dividiu as províncias em Comunidades mais pequenas, confiando-as a governadores nomeados
por si; procurando desta feita, desconcentrar o poder político de forma a deter a desagregação
do estado.
Fortaleceu a sua autoridade sobre os Rás das províncias de Tigre, Begendir, Gojjam, Simien,
Wello, Choa e no planalto Etíope onde se falava o Alamaico Tigrino e a religião predominante
era a Cristã Ortodoxa.

Ao nível Militar:
Ele leva a cabo o processo de modernização do exército, que constituiu no seguinte:
- Apetrechamento do exército com equipamento moderno;
- Com ajuda dos Turcos e do Inglês John Bel (O aventureiro), dotou o exército de novas técnicas,
introduzindo o soldo (pagamento de soldados-salários), estimulando a produção de armamento
através da abertura de fábricas para o efeito, estimulou a introdução de armas que requeriam
melhor tecnologia.
Em face deste avanço, consolidou definitivamente o seu domínio sobre a religião Alamaica
Tigre, convertendo-a em zona estratégica e ponto de partida para eventuais investidas contra as
regiões circunvizinhas, cuja jurisdição foi sempre intermitente.
Deste modo consolidada a sua hegemonia sobre vastas áreas.

No campo social
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Proíbe o comércio de escravos, desencoraja a poligamia e o concubinato. Entretanto, as


rivalidades com os Ingleses e o desenvolvimento sobre as várias matérias vão até ao fim do
reinado do Teodoro II através de uma expedição militar em 1855.
Yohonne IV consolida as reformas do seu antecessor na área militar prossegue com a
implantação de armamento moderno, introduz novas técnicas de treino com auxílio Britânico
John Kirkhan.

Na área política
- Ele leva a cabo uma política de reconciliação, alcançado deste modo a unificação e a
estabilidade territorial;
- Procura uniforme a escala do país as leis vigentes até então diferenciada e por isso passivas de
provocar choques;
- Aproxima as regiões rivais e conturbadas de Choe e Tigre;
- Procura uma aproximação com a Nobreza provincial.

A 1ª região por ele aproximada estava sob jurisdição de Menelique, assinando acordos cujas
cláusulas versavam:
- O seu reconhecimento em relação a autonomia de Menelique. Em contrapartida dos
pagamentos duma taxa a renuncia a reivindicação do título de Imperador da Etiópia por ele
exigido.
- Que Yohonne haveria consentir a coração de Menelique como Rei de Choa e Wello e ao
mesmo tempo reconhecer-lhe o direito de sucessão nas províncias em causa em que apenas os
seus descendentes o sucederiam. Em troca, Menelique prometeu-lhe auxílio em caso de
necessidade.

Na área sociocultural
Dá-se o prosseguimento a proibição do tráfico de escravos.

Na área religiosa
Assume-se como amigo e protector do rei. E ao despeito disto aceita em 1879 a expulsão dos
missionários católicos Romanos de Choa; aceitou a cristianização dos muçulmanos e dos
animistas.

No âmbito geral
Yohonne preservou a soberania do território, tendo feito fácil as invasões Egípcias e Mahadistas
(Sudaneses).

Menelik II
Governou numa fase particularmente difícil, fase de corrida europeia para África. Mesmo assim,
tal não impede que ele leve a cabo algumas acções reformistas. As suas reformas incidiram
fundamentalmente sobre a área militar, político-administrativa, económica e social.

Na área militar
Avança com o processo de modernização do exército nesse sentido adquire armas de fogo na
Itália, França e Rússia em particular através de material bélico pesado, mais concretamente os
canhões e também espingardas. Dá continuidade ao pagamento do soldo ou seja ele mantém a
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profissionalização do exercito. Com isto, anexa vários reinos consolidando sua estabilidade; são
casos de reinos de Kaffa, Walomo, Belé, Sadoivo e Ogaden convertendo a Etiópia ou levando a
Etiópia a ascender o estatuto do Império.

Na área político-administrativa
Inicia com a formação de um gabinete governativo em 1907, após o que formou uma nova
capital em Adis Abeba (Flor Nora).
Reformou o sistema governativo, instituindo três níveis e igual número de eixos: o nível dos
distritos ou Senhorios; o nível das Províncias e o nível de Nação.
Os eixos eram económico, o político e o religioso:

O nível dos distritos


Era dirigido pelos senhores; enquanto o governador exercia seu poder ao nível das províncias e o
imperador ao nível da nação. Existiam entre estas personalidades uma rede de relações
hierárquicas e constituía o pilar do sistema, e cada um deles ao seu nível era simultaneamente
chefe do poder administrativo, militar, poder judicial ou juiz e cortesão.
O imperador nomeava os governadores e estes por sua vez os senhores. As atribuições
consistiam no seguinte:

 Exigiu um tributo em espécie a cada família;


 Obrigar os súbditos a trabalhar nas terras e impor-lhes tarefas;
 Guardar para si parte dos tributos.

Estas atribuições tinham um carácter de direito pelo que também tinham seus direitos, digo,
deveres tais como:
 remeter parte do tributo ao Governador;
Julgar as contendas e as desavenças no distrito;
 Convocar e comandar a milícia local;
 Dirigir os trabalhos públicos;
 Zelar pelo comprimento das obrigações das paróquias da igreja ortodoxa.
 Enquanto isso, os governadores tinham funções análogos aos senhores, mas encaixadas ao
seu nível.

No núcleo Amárico-Tigrino. Os governadores eram escolhidos entre os parentes próximos do


imperador podendo no entanto serem escolhidos no seio dos nobres mais reputados pela sua
fidelidade a Menelique. Este direito tinha sido adquirido anteriormente no quadro dos acordos
entre Menelique e Yohonne IV.

Noutras províncias a nomeação do governador tomava em conta a elite local. O Imperador era a
figura mais importante dentro do sistema e tinha como deveres os seguintes:
- Exercícios das funções executivas, judiciais e legislativas;
- O comando supremo do exército, a administração dos negócios do império e a protecção dos
seus vassalos.
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O imperador constituía o símbolo da unidade e da independência Nacional, presumia-se que ele


era descendente do rei Salomão e por isso, gozava de legitimada e tinha o direito de receber a
coroa e a unção imperial das mãos de Abuna que era o chefe egípcio da Igreja Ortodoxa.

Domínio económico

Melhorou o sistema de comunicação construindo pontes modernas, estradas rodoviárias e linhas


férreas. Reorganizou o sistema fiscal, emitiu pela 1ª vez a moeda Nacional, criou o 1º posto de
correios e instituiu o selo permitindo que a Etiópia entrasse na União postal.
A Imperatriz Taytu esposa de Monelik, fundou em Adis Abeba, o 1º hotel moderno.

Área Social
Com a ajuda dos professores Coptas foi organizada a 1ª escola Menelique II, em 1908, enviou
estudantes para Suíça e Rússia e construiu o hospital Mennelik II.

No campo diplomático
Desenvolve relações com a Itália, depois com a França, Reino unido e a Rússia. a abertura
diplomática segundo Ponrhust. Visava fundamentalmente tirar partido da tecnologia Europeia
para melhor se fortalecer.

Conclusão:
O movimento reformista na Etiópia começou mais cedo que apresenta vários reformadores
atingindo ponto máximo com Menelique. O carácter desta reforma permitiu enfrentar com
sucesso o invasor Italiano na batalha de Ádua tornado a Etiópia no único território Africano a
conseguir derrotar o colonizador.
A resistência a ocupação e conquista colonial europeia:
- O colonialismo (1885-1960);
- O nacionalismo em África.

A REFORMA NA ÁFRICA DO SUL

1. Os Nguni

No contexto do grupo ser constituído por várias etnias (multi-etnias) pelo qual a reforma se
materializa, foi o grupo habitante da África do sul que migra por causa de guerras e secas
cíclicas. Eles incorporam os Suthos, Sojes e Suazis:

Suthos- na região leste e os outros no norte. Eles faziam limite com os Bóeres. È no seio deste
grupo que a reforma vai-se materializar.

2. A situação geral da África do Sul

A partir do Século XVIII verifica-se uma crise ecológica, caracterizado pela existência da seca e
morte de gado bovino. Esta situação de crise vai-se repetir numa série de crises tribais.
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No meio destes conflitos vão sobressair três grupos na região compreendida entre o corredor dos
montes Drankensburg e Oceano Indico, são eles:

 Ngowana ou Suazis comandados por Sobuza, ocupando a zona entre o rio Tembe e
Pongola.
 Ndwandwe comandados por Zwide, ocuparam a região próxima do rio Mpulozi.
 Mthetwa comandados por Dingswayo, entre os rios Mpuluzi e Tugela.
Na sequência desses conflitos entre os reinos Ndwandwe e Mthetwa, Dingswayo é assassinado.
Ele havia auxiliado Tchaka a recuperar o poder do seu clã que tinha sido concedida ao outrem
aquando da morte do seu pai Cenza Ngacokana. Como resultado do assassinato de Dingswayo,
Tchaka que fora seu comandante militar e grande estratega é chamado a liderar o reino Mthetwa.
Ele inicia um movimento reformista com acento tónico na área militar, concebendo invasões e
tácticas.
As suas reformas tiveram impacto sobre a sociedade dentro, pois em toda a vida passará a ser
regulada de acordo com os impuativos militares. Todavia, também houve reformas no âmbito
administrativo com efeitos sociais, políticos e religiosos.

Reforma administrativa
Concebe o novo nome para o povo Nguni (Amazulo) através de uma escolha que procurava
transmitir uma imagem de força na expectativa de que o seu povo viesse a ser, pois o termo
Amazulo significa os do céu como se fosse também uma guerra.

Ao nível militar
 Divide o exército em regimentos de idade e sexo (impis), de 16 aos 60 anos compostos cada
um por 1000 homens e mulheres mais ou menos da mesma idade. Cada (impe) era liderado por
um chefe de regimento (O induna); instituiu um novo regime de acampamento e treino intensivo
no intervalo de duas guerras consecutivas.
 Introduziu o uniforme, sinais distintivos e gritos de guerra por regimentos de idade para efeito
de distinção durante o combate; banda de cor diferente da frente, cores de escudos, penas de
avestruz presa nos cabelos, etc.
 Atribuiu ao regimento de mulheres as funções de auxiliares ou seja o economato ou cozinha e
os transportes;
 Introduziu a nova dieta alimentar baseada na carne e proibição de consumo de leite;
 Institui uma disciplina militar rigida ex: recuar depois de perder a arma dava direito a
execução: o regresso de um induma sem conseguir despejos de guerra dava também a execução;
 Revolucionou o armamento, isto é, suprimiu a lança de arremesso até então associada a lança
de cabo comprido, introduzindo por sua vez a de cabo curto e dotado de uma lâmina mais
comprida e larga;
 Introduz o machado e o escudo de coro (pele).

Ao nível da táctica
 Aboliu o tradicional ataque disperso e instituiu avanço em fileiras curadas com objectivo de
combate corpo a corpo;
 Introduziu também o ataque em arco.
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As duas alas (1) formavam e 2-3 constituíam o crânio. O ataque consistia: desenvolver um
movimento de rotação para uma ala e atacar, enquanto a outra se ascende e só intervém quando o
combate já está em curso.

Estas alas eram formadas por impis mais novos, ágeis e rápidos.
O movimento circular tinha em vista impedir que o inimigo tivesse oportunidade de fuga.
Consistia em cair-lhe em cima, em cerca-lo de forma a força-lo a ir para o centro. Aí intervinha a
ala 2 constituída por guerreiros experientes que em principio ficavam emboscados, cujo
objectivo era garantir a vitória, se entretanto esta não se registe intervinha a recta guarda (ala 3)
formada por veteranos que até a intervenção da ala 2 tinha permanecido sentada de costa para a
batalha (por questão de efeito psicológico). Esta táctica era o aperfeiçoamento do ataque em
meia-lua.

Efeitos de reforma
Provocou efeitos sociais, políticos, administrativos, religiosos e militares.

1. Sociais
Foi uma reforma abrangente para toda a sociedade e por conseguinte implicou transformações na
estrutura social;
Foi suprimida a circuncisão e os ritos a ela ligados, porque o tempo condicionado esteve
condicionado aos educativos de guerra;
- Alterações na idade de casamento, passava a ser realizado entre 30 a 40 anos com efeitos
benéficos para a guerra. Mas, os Impis mais valiosos foram compensados com a possibilidade de
escolha de parceiras em regimentos pré iniciados.
A ideia de família tão importante na sociedade africana, foi …. por Tchaka.
KI-Zerbo escreve ´´ quanto mais terrível fosse no combate mais se aproximava a suspirar a hora
de núpcias ´´.
Inicia-se um processo de assimilação na sociedade conquistada, pois a obrigatoriedade dos
jovens das regiões vencidas integram-se aos impis era um facto. Eles tinham que abandonar seus
nomes e suas línguas.

2. Ao nível político-administrativo
Desfez-se o quadro tribal a favor de uma colectividade mais vasta, forma-se um estado
centralizado à cabeça do qual Tchaka era o chefe supremo, proprietário de toda terra, juiz
supremo, para os crimes maiores pois os casos mais pequenos eram julgados por chefes
subalternos. Os melhores conselheiros de Tchaka eram nomeados administradores das províncias
conquistadas.
Foi integrado numa única unidade política na região pelo fenómeno de Mfecane (Limpopo -
Zambeze).

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