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ESPIRITUALIDADE DO CORAÇÃO DE JESUS

A Igreja nos propõe um culto ao Coração de Jesus, mas é importante


entendermos a fundamentação deste culto para compreender melhor a
dimensão de sua grandeza.

A palavra “coração” na linguagem bíblica, não se restringe somente ao


conceito de um órgão fisiológico, isto é, uma parte da anatomia de Jesus
Cristo isolado da Sua totalidade corpórea, humana e divina. No discurso
bíblico, esse vocábulo adquire um significado bem mais amplo porque
engloba a pessoa em sua totalidade. Remete um sentido de vida interior com
suas emoções, pensamentos e vontade, bem como de habitação do Senhor e
do Espírito Santo. Deste modo, coração é o símbolo fisiológico da realidade
global da pessoa, de forma que o Coração de Jesus é o símbolo da
integralidade da pessoa de Jesus, de Sua história e Sua missão.

O Catecismo da Igreja Católica descreve o coração da seguinte forma:

“O coração é a morada onde estou, onde habito. É o nosso centro


oculto, inapreensível, quer para a nossa razão quer para a dos outros:
só o Espírito de Deus é que o pode sondar e conhecer. É o lugar da
decisão, no mais profundo das nossas tendências psíquicas. É a sede
da verdade, onde escolhemos a vida ou a morte. É o lugar do encontro,
já que, à imagem de Deus, vivemos em relação: é o lugar da aliança.”
CIC 2563

Tendo o coração toda essa representação seria o símbolo que melhor


demonstra o amor de Cristo por Deus Pai e pelos homens. Através do Coração
de Jesus passamos a enxergar o amor de Deus. Jesus amou-nos com amor
divino por estar unido a Santíssima Trindade, mas por sua natureza humana,
amou-nos também com sentimentos do afeto humano. Deus se fez homem
para que pudéssemos entender seu amor com a ternura de um amor humano.
Ele quis ser cultuado por meio de um símbolo físico porque, conforme explica
São Tomás de Aquino, o homem, não sendo puro espírito, precisa das coisas
sensíveis para chegar ao conhecimento das espirituais.

Assim nos diz o catecismo:

“O Verbo fez-Se carne, para que assim conhecêssemos o amor de


Deus...” CIC 458

“É por isso que, ao entrar neste mundo, Cristo diz: “Não quiseste
sacrifícios e oferendas, mas formaste-Me um corpo.” CIC 462

“Ao mesmo tempo, a Igreja sempre reconheceu que, no corpo de Jesus,


«Deus que, por sua natureza, era invisível, tornou-Se visível aos nossos
olhos». Com efeito, as particularidades individuais do corpo de Cristo
exprimem a pessoa divina do Filho de Deus.” CIC 477
“Jesus conheceu-nos e amou-nos, a todos e a cada um, durante a sua
vida, a sua agonia e a sua paixão, entregando-Se por cada um de
nós...Amou-nos a todos com um coração humano. Por esse motivo, o
Sagrado Coração de Jesus, trespassado pelos nossos pecados e para
nossa salvação, é considerado sinal e símbolo por excelência...
daquele amor com que o divino Redentor ama sem cessar o eterno Pai
e todos os homens»”. CIC 478

Portanto, ao cultuar o Coração de Jesus estamos prestando culto a Segunda


Pessoa da Santíssima Trindade e por isso este culto é uma verdadeira
adoração – latria (culto somente dado a Deus).

O Papa Pio XII em sua encíclica Haurietis Aquas, adverte que a fonte principal
deste culto é o dogma católico (verdade de fé revelada por Deus) das duas
naturezas de Cristo, ou seja, da união hipostática. A palavra “Hipóstase” em
grego designa “pessoa”, mas tem um sentido mais forte que o termo latino
persona por se referir a natureza de algo. União Hipostática é usado na
teologia cristã para descrever a união das naturezas divina e humana de
Cristo, isto é, a forma como Deus e a humanidade estão unidas em Jesus. Na
pessoa do Filho de Deus, a humanidade e a divindade estão unidas numa
espécie de casamento, pois se tornam uma só coisa, mas mantém suas
distintas realidades.

O Catecismo nos ensina:

“O acontecimento único e absolutamente singular da Encarnação do


Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em
parte homem, nem que seja o resultado de uma mistura confusa do
divino com o humano. Ele fez-Se verdadeiro homem, permanecendo
verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Esta verdade da fé, teve a Igreja de a defender e clarificar no decurso
dos primeiros séculos, perante heresias que a falsificavam.” CIC 464

“Na sequência dos santos Padres, ensinamos unanimemente que se


confesse um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, igualmente
perfeito na divindade e perfeito na humanidade, sendo o mesmo
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de uma
alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai pela sua
divindade, consubstancial a nós pela sua humanidade, “semelhante a
nós em tudo, menos no pecado”: gerado do Pai antes de todos os
séculos segundo a divindade, e nestes últimos dias, por nós e pela
nossa salvação, nascido da Virgem Mãe de Deus segundo a
humanidade.” CIC 467

“Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer


em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem
separação. A diferença das naturezas não é abolida pela sua união;
antes, as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas
numa só pessoa e numa só hipóstase”. CIC 467

“Assim, a Igreja confessa que Jesus é inseparavelmente verdadeiro


Deus e verdadeiro homem. É verdadeiramente o Filho de Deus feito
homem, nosso irmão, e isso sem deixar de ser Deus, nosso Senhor...”
CIC 469

“Amar a carne de Cristo nada mais é do que adorar o Verbo


encarnado”. São Tomás de Aquino.

“Cristo possui duas vontades e duas operações naturais, divinas e


humanas, não opostas mas cooperantes, de maneira que o Verbo feito
carne quis humanamente, em obediência ao Pai, tudo quanto decidiu
divinamente com o Pai e o Espírito Santo para a nossa salvação. A
vontade humana de Cristo «segue a sua vontade divina, sem fazer
resistência nem oposição em relação a ela, antes estando subordinada
a essa vontade onipotente.” CIC 475

“A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é sinal de salvação para os tempos


modernos.” Papa Pio XII

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