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O Que é a Doutrina da União Hipostática?

A expressão “união hipostática” é usada na teologia para designar a


doutrina cristológica acerca da união das naturezas divina e humana na
única pessoa de Cristo. A doutrina da união hipostática afirma que Jesus
Cristo é, ao mesmo tempo, plenamente Deus e plenamente homem.

Sem dúvida a doutrina da união hipostática representa um desafio muito


grande à compreensão humana, pois aborda um assunto que está no centro
do mistério da Encarnação de Deus. De fato, o ser humano não possui
capacidade intelectual para entender como Deus, o Filho, assumiu a
humanidade sem que, nem por um instante, tenha perdido sua divindade.

O que diz a doutrina da união hipostática?


A definição histórica da doutrina da união hipostática foi fornecida na
resolução do Concílio de Calcedônia, em 451 d.C. Nesse Concílio, a Igreja
reconheceu as duas naturezas distintas, humana e divina, que se unem na
única pessoa de Cristo.
A doutrina da união hipostática testemunhada pelo Concílio de Calcedônia
serviu para responder a certos conceitos equivocados que tinham surgido
a respeito da pessoa do Senhor Jesus Cristo em relação à sua divindade e
humanidade. As duas principais teorias nesse sentido eram o
Nestorianismo e o Eutiquianismo.

O Nestorianismo afirmava que Jesus era duas pessoas distintas. Já o


Eutiquianismo dizia que Jesus possuía uma natureza mista que foi formada
de um suposto processo de absorção de sua natureza humana por sua
natureza divina. Isso significa que enquanto o Nestorianismo dividia a
pessoa de Cristo, o Eutiquianismo confundia suas naturezas.

Por isso o Concílio de Calcedônia se preocupou em enfatizar como os


cristãos devem enxergar a doutrina bíblica a respeito da pessoa de Cristo e
suas naturezas. Nesse sentido, basicamente o Concílio afirmou que as duas
naturezas, humana e divina, são inconfundíveis e imutáveis, indivisíveis e
inseparáveis na pessoa de Cristo, implicando no fato de que
verdadeiramente Ele é o “Deus-Homem”.
A doutrina da união hipostática ainda responde outras teorias heréticas que
surgiram ao longo dos tempos, mesmo depois de muitos séculos. Um
exemplo disso é a teoria da kenosis que ganhou espaço principalmente a
partir do século 19. Essa teoria diz que o Filho de Deus abriu mão de alguns
de seus atributos divinos quando assumiu a natureza humana, e depois
voltou a assumi-los após sua ressurreição e ascensão ao Céu.
Sob esse aspecto, fica claro que a teoria da kenosis implica no fato de Deus,
o Filho, ter se tornado menos divino enquanto viveu na terra. Então
enquanto a teoria da kenosis afirma uma suposta sucessão cronológica do
divino com o humano, a doutrina da união hipostática responde afirmando
a união simultânea do divino com o humano na pessoa de Cristo.

Implicações da doutrina da união hipostática


Em primeiro lugar, é muito significativo a doutrina da união hipostática
afirmar que as duas naturezas de Cristo são inconfundíveis e imutáveis. Isso
significa que jamais houve qualquer mistura ou confusão entre essas duas
naturezas, de modo que os atributos de cada uma delas foram preservados.
Somente assim podemos dizer que Cristo é plenamente Deus e plenamente
homem. Se as duas naturezas se confundissem, então fatalmente ele seria
menos divino ou menos humano.
Além disso, esse princípio implica no fato de que é impensável argumentar
que o Filho de Deus trocou alguns de seus atributos divinos para assumir os
atributos de sua natureza humana. Suas naturezas são imutáveis! Se Cristo
tivesse se tornado menos Deus para ser homem, então o universo teria
deixado de existir, já que Ele próprio é o sustentador de toda criação
(Colossenses 1:15-17).

Em segundo lugar, ao mesmo tempo em que doutrina da união hipostática


afirma a distinção entre as duas naturezas de Cristo, ela também afirma sua
união sem qualquer separação ou divisão. O fato de as duas naturezas de
Cristo serem inseparáveis implica que o Verbo de Deus assumiu a
humanidade para sempre. Ele não apenas “foi 100% homem”, mas Ele
ainda “é 100% homem”, e assim permanecerá para todo sempre. Inclusive,
o escritor de Hebreus usa essa verdade maravilhosa para afirmar que
temos um de nós como nosso representante no Santuário celestial
(Hebreus 4:15; cf. 1 Timóteo 2:5).
Em terceiro lugar, a doutrina da união hipostática identifica corretamente
a informação bíblica de que a Segunda Pessoa da Trindade assumiu a
natureza humana, e não uma pessoa humana. Cristo não possui duas
pessoas, mas duas naturezas numa só pessoa. Isso significa que tudo o que
Cristo fez ou faz são atos de sua única pessoa divino-humana. Cristo não
alterna entre sua humanidade e sua divindade.

Então não é a natureza humana de Cristo que faz determinada coisa,


enquanto sua natureza divina faz outra coisa. Na verdade é a pessoa de
Cristo que faz determinada coisa de acordo com sua natureza humana ou
divina (cf. Romanos 1:3).

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