O maior desafio em entender o ensino bíblico acerca das duas naturezas de
Jesus, se concentra no mistério de como essas duas naturezas se relacionam. Por exemplo: sendo plenamente humano, Jesus demonstrou desconhecimentos de certos fatos durante seu ministério terreno (Marcos 13:32; Lucas 8:45-47), enquanto que sendo plenamente Deus, Ele também demonstrou possuir os atributos divinos, como a onisciência (João 1:48; 16:30; 21:17). De acordo com exemplo a cima, podemos corretamente afirmar que algumas características e atitudes de Jesus podem ser atribuídas à sua natureza humana; enquanto outras à sua natureza divina. No entanto, isso não significa, de forma alguma, que Jesus alternava essas duas naturezas, ou seja, agindo em alguns momentos como homem, e em outros como Deus. A verdadeira doutrina bíblica aponta para o fato de que Ele sempre agiu na unidade de sua pessoa divina-humana, visto que não se tratam de duas pessoas, mas de uma única pessoa com duas naturezas distintas e inseparáveis. Logo, em todo seu sofrimento e dificuldade, mesmo na terrível agonia no Calvário e sua consequente morte, ali estava o Jesus plenamente Deus e plenamente homem, redimindo o seu povo. É claro que esse conceito é extremamente difícil de se entender, pois implica na condição de que, ao mesmo tempo em que Jesus, em sua humanidade, experimentava fraquezas comuns aos homens, em sua divindade Ele permanecia onipotente. Para nós é impossível compreender esse conceito, e isso não significa que seja uma contradição, mas um paradoxo que nos leva a reconhecer que a encarnação do Verbo é, de fato, um mistério. As heresias acerca das duas naturezas de Jesus Ao longo dos anos, durante a história da Igreja Cristã, surgiram várias heresias acerca das duas naturezas de Jesus Cristo. Todas elas têm em comum atacar, de alguma forma, ou sua natureza humana ou sua natureza divina, ou ambas. O Monarquismo Dinâmico e o Arianismo são exemplos de heresias que atacam a divindade de Cristo. O primeiro afirma que Jesus não era divino, mas simplesmente um homem que recebeu um poder especial de Deus quando foi batizado por João Batista. Já o segundo defende que o Filho de Deus nada mais era do que uma criatura do próprio Deus. A Igreja combateu essas heresias especialmente nos Concílios de Niceia (325 d.C.) e Constantinopla (381 d.C.). Por outro lado, desde o primeiro século também surgiram doutrinas que atacavam, além da natureza divina, também a natureza humana de Jesus. O exemplo mais significativo é o do Docetismo, que ensinava que Jesus apenas parecia ser humano, mas era, na verdade, um tipo de espírito. Daí vem o nome desse falso ensino, “Docetismo”, do grego dokeo, que significa “parecer”.