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CONSELHO EDITORIAL
Presidente: Prof. Dr. Gilberto Cezar Pavanelli. Coordenador Editorial:
Prof. Dr. Thomas Bonnici. Membros: Profa Dra Clarice Zamonaro Cortez,
Prof. Prof. Dr. José Carlos de Sousa, Prof. Dr. José Tarcísio Pires Trindade,
Profa Dra Lízia Helena Nagel, Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza, Profa Dra
Maria Iolanda Sachuk, Profa Dra Olinda Teruko Kajihara, Prof. Dr. Osvaldo
Ferrarese Filho, Prof. Dr. Renilson José Menegassi, Prof. Dr. Ricardo Alberto
Moliterno, Prof. Dr. Rubem Silvério de Oliveira Júnior e Prof. Dr. Sezinando
Luiz Menezes. Diretora Geral: Profa Dra Silvina Rosa. Secretária: Maria
José de Melo Vandresen.
Terezinha Oliveira
(Organizadora)
Maringá
2002
Divisão de Editoração Marcos Kazuyoshi Sassaka
Marcos Cipriano da Silva
Paulo Bento da Silva
Cristina Akemi Kamicoga
Luciano Willian da Silva
Solange Marli Oshima
Revisão de Língua Portuguesa Raul Pimenta
Ilustração da capa Luzes sobre a Idade Média de Ambrogio Lorenzetti
Effts du bon gouvernement dans la ville
(1337-1339) - Siena, Palácio Público
Capa – arte final Luciano Willian da Silva
Marcos Kazuyoshi Sassaka
Diagramação Marcos Cipriano da Silva
Normalização Biblioteca Central - UEM
Tiragem 500 exemplares
185 p.
Vários autores.
Livro indexado em GeoDados. http://www.geodados.uem.br
ISBN 85-85545-77-1
1. Idade Média – Educação. 2. Idade Média – História. 3. Idade Média –
Literatura. 4. Idade Média – Filosofia. I. Oliveira, Terezinha, org.
CDD 21. ed. Cd. 909.07
CIP-NBR 12899
Copyright 2002 para Terezinha Oliveira
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer
processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a
autorização, por escrito, da autora.
Todos os direitos reservados desta edição 2002 para Eduem.
APRESENTAÇÃO
Terezinha Oliveira ................................................................... 7
EDUCAÇÃO
CAPÍTULO 1
A UNIVERSIDADE MEDIEVAL – SABER E PODER
Luís Alberto De Boni ............................................................... 17
CAPÍTULO 2
PAGANISMO E CRISTIANISMO: CONCEPÇÃO DE HOMEM E
EDUCAÇÃO
Lizia Helena Nagel .................................................................. 35
CAPÍTULO 3
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CARÁTER HISTÓRICO DA
ESCOLÁSTICA
Terezinha Oliveira ................................................................... 47
CAPÍTULO 4
A EDUCAÇÃO EM SANTO AGOSTINHO
José Joaquim Pereira Melo ..................................................... 65
HISTÓRIA
CAPÍTULO 5
MITO E MONARQUIA NA HISPÂNIA VISIGÓTICA CATÓLICA
Ruy de Oliveira Andrade Filho ................................................ 81
CAPÍTULO 6
MENTALIDADE MÁGICA E PODER NA CRISTANDADE
OCIDENTAL ...........................................................................
Carlos Roberto Figueiredo Nogueira ...................................... 107
CAPÍTULO 7
A PRODUÇÃO INTELECTUAL ECLESIÁSTICA NO PROCESSO DE
CONSOLIDAÇÃO DA IGREJA E DE LEGITIMAÇÃO DA
MONARQUIA SUEVAS
Leila Roedel Rodrigues ........................................................... 135
LITERATURA
CAPÍTULO 8
AS POÉTICAS MEDIEVAIS TÊM UMA FACE OCULTA?
Lênia Márcia Mongelli ............................................................ 151
CAPÍTULO 9
CARTA DE PRESTE JOÃO EM OCCITANO: UMA VERSÃO
PARTICULAR PARA UM SONHO MAIS ANTIGO
Angelita Marques Visalli.......................................................... 165
6
APRESENTAÇÃO
Terezinha Oliveira
8
Apresentação
Idade Média teve que ser elaborada para levar adiante a obra
de destruição das instituições do Antigo Regime, no século XIX,
quando essa maneira de encarar a medievalidade tornou-se
ineficaz politicamente, surgiu a necessidade de uma nova
interpretação do passado. Coube a Guizot formular essa nova
concepção, segundo a qual o mundo moderno não se
encontrava em completa e radical oposição ao medieval. Pelo
contrário, do seu ponto de vista, poder-se-iam encontrar na
Idade Média as origens da moderna civilização.
Atualmente, com a superação de uma formulação política
esquemática, forjadora de uma concepção pejorativa da Idade
Média, e, principalmente, com a consciência da importância do
estudo desse período histórico, verificamos um imenso e
crescente interesse pela referida época histórica. Podemos
aferir isso não apenas pelo mercado editorial, com a tradução
e publicação de obras relativas à Idade Média, mas também
pelo grande número de pesquisas, de encontros e de núcleos
e associações voltados ao conhecimento da medievalidade e
pela congregação de interessados nesse período histórico.
Há que se considerar também o tributo que as reflexões
sobre a história devem a dois grandes medievalistas: Georges
Duby e Jacques Le Goff. É impressionante a grande
contribuição desses dois autores para a formulação do novo
(ou novos) ideário(s) da Nova História. Não é casual que essas
contribuições venham de historiadores que se dedicam aos
estudos medievais. Na verdade, não podemos, também, deixar
de observar que uma das maiores vertentes da historiografia
do século XX, a Escola dos Annales, foi fundada por dois
medievalistas da estirpe de Marc Bloch e Lucien Febvre. Assim,
indubitavelmente, a produção intelectual do nosso século está
estreitamente amalgamada com o estudo da Idade Média.
Para além da influência teórica que recebemos destes
eminentes historiadores, muitos dos nossos comportamentos
e modos de ser tiveram sua origem no mundo medieval. Várias
de nossas expressões resultaram das relações estabelecidas
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Luzes sobre a Idade Média
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Apresentação
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Luzes sobre a Idade Média
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Apresentação
Referências
ABELARDO, P. A história das minhas calamidades. Tradução: Ruy
Afonso da Costa Nunes. São Paulo: Abril, 1973.
LE GOFF, J. Os intelectuais na Idade Média. Tradução: Margarida
Sérvulo Correia. Lisboa: Gradiva, 1984.
MONTESQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo: Abril, 1973.
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EDUCAÇÃO
CAPÍTULO 1
Corporação e poder
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Capítulo 1 – A universidade medieval
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Capítulo 1 – A universidade medieval
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Capítulo 1 – A universidade medieval
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Luzes sobre a Idade Média
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Capítulo 1 – A universidade medieval
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Luzes sobre a Idade Média
Da teologia ao direito
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Capítulo 1 – A universidade medieval
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Capítulo 1 – A universidade medieval
Universidade e poder
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Capítulo 1 – A universidade medieval
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Capítulo 1 – A universidade medieval
por que ela vai chegar nos tempos modernos com uma
organização burocrática e um aprimoramento acadêmico
muito maior que o das demais instituições de seu tempo.
4. Enfim, cabe uma última pergunta: qual foi o lugar
específico dos intelectuais na Idade Média? – Também aqui a
resposta tem que ser nuançada. De fato, uma coisa é o que
eles pensavam de si mesmos, outra, o que a sociedade
pensava deles, o lugar que, de fato, reservava a eles. A ordem
de promoção, a licentia legendi exclusiva, o uso de insígnias,
as consultas vindas de autoridades, tudo isso, sem dúvida,
servia para afagar o ego dos mestres. Mas não deixava de ser
verdade, como vimos, que os grupos dominantes tratavam-nos
como subalternos, como eventuais empregados. Além disso, o
deslocamento da importância das faculdades também deve ser
levado em conta. No século XIII, a Faculdade de Teologia foi o
centro de interesse; no final da Idade Média, nos séculos XIV e
XV, a Faculdade de Direito antepôs-se às demais. Ora, os
teólogos, pregando a humildade cristã e colocando-se a
serviço da Igreja, tiveram reivindicações bem menores que as
dos juristas que se lhes seguiriam. Entre estes, constatou-se
que alguns poucos fizeram fortuna e, à la nouveaux riches,
passaram a comportar-se como nobres, enquanto a maioria
permaneceu na função de professor, vivendo do salário ou
como funcionário também com parcos rendimentos. Contudo,
como se pode deduzir de indicações de Verger (1973), a roda
da fortuna foi menos cruel com aqueles que, no devido
tempo, souberam obter graus acadêmicos: décadas mais tarde,
ou mesmo séculos depois, seus descendentes ainda eram
contados entre os nobres e/ou os ricos, enquanto a riqueza
dos outros havia muito se dissipara. Mas foi somente com os
juristas, formados aos milhares por toda a Europa e ocupantes
de espaço sempre maior na administração pública, que os
universitários constituíram uma ‘classe’, um grupo com peso
específico considerável, capaz de ser comparado com a
nobreza, o clero e a burguesia. Foi então, quando a Idade
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Luzes sobre a Idade Média
Referências
LIBERA, Alain de. A filosofia medieval. São Paulo: Loyola, 1998.
MIETHKE, J. Johannes Quidort von Paris: de regia potestate et papali.
Anlass und Charakter einer Streitschrift. (manuscrito, 1999).
VERGER, J. Les universités au Moyen Age. Paris: PUF, 1973.
OCKHAM, G. Summa Logica. In: Boehner, P.; Gál, G.; Brown, S. (ed.).
Opera Philosophica et Theologica, New York: Universitatis S.
Bonaventurae 1974. v. I.
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CAPÍTULO 2
PAGANISMO E CRISTIANISMO:
CONCEPÇÃO DE HOMEM E EDUCAÇÃO
Introdução
36
Capítulo 2 – Paganismo e cristianismo
1
A identidade da cultura grega estaria, em nosso entendimento,
preservada até o aparecimento de Alexandre.
2
O percurso da era pós-pagã, neste texto, pode ser entendido nos limites
do século II, período do desenvolvimento dos apologistas, ao século XIII,
período do crescimento da Inquisição e de atuação do maior teólogo:
Tomás de Aquino.
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Luzes sobre a Idade Média
[Por não terem glorificado Deus como Deus] foi por isso que
Deus os entregou, conforme o desejo do coração deles, à
impureza com que desonram seus próprios corpos. Eles
trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e
serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito para
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Capítulo 2 – Paganismo e cristianismo
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Capítulo 2 – Paganismo e cristianismo
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Foi essa mesma [busca], sem dúvida, que vos levou a ter em
menor conta o amor de vossos pais, o solo pátrio, as delícias do
mundo, para atravessardes tantas terras e virdes buscar a
companhia de gente como nós, rude e ignorante, perdida entre
os horizontes desolados deste deserto (JOÃO CASSIANO, 1979,
p. 395).
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Capítulo 2 – Paganismo e cristianismo
A dor pela qual me lamento cada dia, Pedro, é antiga pelo hábito e
sempre nova pelo aumento. Minha alma infeliz, aflita pela ferida
da minha atividade, se recorda do tempo em que vivia no
mosteiro, quando eu tinha sob os pés as coisas passageiras, me
sentia elevado acima do fugaz, me habituava a pensar nas coisas
celestes e, apesar dos impedimentos do corpo, superava pela
contemplação a prisão da carne, amando até mesmo a morte, que
para todos constitui uma pena, mas que eu considerava ingresso
na vida e prêmio das fadigas. Agora, porém, no trabalho pastoral,
sob pressão das coisas e pessoas do mundo, aquela beleza da
alma, conquistada no silêncio, fica manchada pelo pó das
atividades terrenas. Minha alma, por ter de condescender a muitos,
se dispersa nas coisas exteriores, e ao querer voltar depois às
interiores só o consegue com menos vigor (GREGÓRIO MAGNO,
1979, p. 427).
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Eles antes olhavam à toa, sem ver, escutavam sem ouvir; por
toda sua longa existência, tudo confundiam sem tino, como
vultos vistos em sonho. Desconheciam casa de tijolos
ensolaradas e não sabiam lavrar a madeira; moravam sob a
terra, como ágeis formigas, no fundo sem sol de cavernas. Não
conheciam nenhum sinal seguro do inverno, nem da primavera
florida, nem do verão frutuoso. Tudo faziam sem saber, até
quando lhes ensinei o orto dos astros e seu obscuro poente.
Inventei para eles o número, a suprema ciência, bem como a
escrita que tudo recorda, arte mãe de toda a cultura (ÉSQUILO,
[19--], p. 29).
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Capítulo 2 – Paganismo e cristianismo
Referências
AGOSTINHO, Santo. A cidade de Deus: contra os pagãos. 2. ed.
Petrópolis: Vozes, 1990. pte. 2.
AGOSTINHO, Santo. As confissões. São Paulo: Edameris, 1964.
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
DIDAQUÉ. In: FOLCK GOMES, C. Antologia dos Santos Padres: páginas
seletas dos antigos escritores eclesiásticos. 3. ed. São Paulo: Paulinas,
1979.
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CAPÍTULO 3
Terezinha Oliveira
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Capítulo 3 – O caráter histórico da escolástica
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Capítulo 3 – O caráter histórico da escolástica
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Capítulo 3 – O caráter histórico da escolástica
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Capítulo 3 – O caráter histórico da escolástica
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Ora, uma vez que tanto os sentidos quanto o intelecto são próprios
da alma, a diferença entre eles é que os sentidos são exercidos
apenas através de instrumentos corpóreos e só percebem os corpos
ou as coisas que neles estão, tal como a vista percebe uma torre ou
as qualidades visíveis. O intelecto, entretanto, assim como não
precisa de um instrumento corpóreo, também não tem necessidade
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Capítulo 3 – O caráter histórico da escolástica
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Capítulo 3 – O caráter histórico da escolástica
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Capítulo 3 – O caráter histórico da escolástica
lhe a razão, pela qual pudesse granjear, por meio das próprias mãos,
todas essas coisas, para o que é insuficiente um homem só. Por cuja
causa, não poderia um homem levar suficientemente a vida por si.
Logo, é natural ao homem viver na sociedade de muitos (TOMÁS DE
AQUINO, 1995, p. 127).
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Capítulo 3 – O caráter histórico da escolástica
Referências
ABELARDO, P. A história das minhas calamidades. São Paulo: Abril
Cultural, 1973a. (Os Pensadores, v. 7)
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CAPÍTULO 4
66
Capítulo 4 – A educação, em Santo Agostinho
O conceito de educação
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Capítulo 4 – A educação, em Santo Agostinho
Deus que se fez homem. Por este motivo, o aluno não chegava à
verdade através das palavras do professor, conforme já
mencionado, mas pela contemplação feita pelo ‘olho’ interior, o
‘olho’ da mente, ao captar as coisas da verdade essencial,
possibilitadas por Deus. Daí a importância, para Santo Agostinho,
da interiorização como forma de comunhão e renovação em Deus.
Vuelve al corazón, mira allí qué es lo que tal vez sientes de Dios: allí
está la imagen de Dios. En el hombre interior habita Cristo, y en
hombre interior serás renovado según la imagen de Dios; conece en
su imagen a su Creador (AGOSTINHO, 1957: XVIII, 11).
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Capítulo 4 – A educação, em Santo Agostinho
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Luzes sobre a Idade Média
[...] quer nesse caso o que pode, porque não pode o que quer!
Nisto consiste toda a felicidade dos mortais soberbos, não sei
se digno de riso ou de compaixão: gloriar-se de viver como
desejam, porque suportam com paciência o que certamente
não queriam que lhes sucedesse.[...] homem feliz – tal como
todos desejamos ser – não se pode dizer com razão e em
verdade: ‘O que queres é impossível de realizar’. Se alguém já
é feliz, tudo o que deseja é possível para ele, pois não desejou
algo impossível de ser realizado (AGOSTINHO, 1995, XIII, 7-10).
A interioridade
Segundo os preceitos agostinianos mencionados, quem
não tivesse esse princípio como objetivo de vida estava fadado
ao fracasso quanto à felicidade, visto ser propenso, de forma
natural, a realizar uma falsa identificação do ser, ao valorizar a
limitada realidade mundana, depositando nela esperanças para
conquistar a felicidade. Para o pensador religioso, era lógico
que a alma fosse suscetível a esta situação.
Em conseqüência de nossa condição humana, que nos converte
em seres mortais e carnais, lidamos mais fácil e familiarmente
com as realidades visíveis do que com as inteligíveis. Ainda que
aquelas sejam exteriores e estas interiores; e que percebemos
aquelas pelos sentidos do corpo, e estas as compreendemos
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Capítulo 4 – A educação, em Santo Agostinho
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Capítulo 4 – A educação, em Santo Agostinho
A transcendência
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Capítulo 4 – A educação, em Santo Agostinho
Referências
ABBAGNANO, N.; VISALBERGHI, A. História de la pedagogia. México:
Fondo de Cultura Econômica, 1969.
AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Abril Cultural, 1980a.
(Coleção Os pensadores).
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HISTÓRIA
CAPÍTULO 5
82
Capítulo 5 – Mito e monarquia
83
Luzes sobre a Idade Média
1
Para simplificarmos nossas citações conciliares, procederemos da
seguinte maneira a partir de agora: 3Toledo, 1 (589) ou 5Toledo, Tomus
(633) ou seja: 3º concílio de Toledo, cânone 1, ano de 589; 5º concílio de
Toledo, Tomus régio, ano de 633.
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Capítulo 5 – Mito e monarquia
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2
Isidoro de Sevilha. Sentencias, III, 48, 10, “Se é certo que o Apóstolo
disse: ‘Não há autoridade que não provenha de Deus’, como o Senhor,
através da boca do profeta, disse de certas autoridades: ‘Eles foram reis,
mas não eleitos por mim?’; como se houvesse dito: ‘Sem que eu me
mostre favorável mas, inclusive, muito irado’. Daí que, mais abaixo,
adicione o mesmo profeta: ‘Dar-te-ei um rei em minha fúria’. Com o que
fica evidenciado, com toda clareza, que tanto a boa quanto a má
autoridade são instituídas por Deus; mas a boa, sendo Ele favorável e a
má, estando irado” (ISIDORO DE SEVILHA, 1971, v. 2).
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Capítulo 5 – Mito e monarquia
3
3Mérida, “[...] Depois dedicarmos nossas ações de graças ao sereníssimo
e clementíssimo príncipe e senhor nosso rei Recesvinto, para quem
Aquele que lhe outorgou o poder real também lhe conceda uma vida
feliz na tranqüilidade da paz e de tal modo lhe de a vitória sobre seus
inimigos, que com o auxílio da graça submeta à sua jurisdição o colo de
seus adversários”[...].
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Capítulo 5 – Mito e monarquia
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Capítulo 5 – Mito e monarquia
4
Apenas para citarmos alguns exemplos, dentre vários, veja-se a Lex
Visigothorum XII, 2, 14; o Tomus régio do 3Toledo (589) e o 5Toledo, 1
(636), que menciona o fato de o reino ter sido confiado por Deus ao
soberano.
5
LEGES Visigothorum II, 1, 1; XII, 2, 1; passim; 6Toledo, 16 (638); 7Toledo, 1
(646); 14Toledo,12 (684); passim. Veja-se também KING, 1981, p. 42-70.
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Capítulo 5 – Mito e monarquia
6
Sobre a magia da palavra, veja-se, dentre outros, Cassirer (1976, p. 79-
106).
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Capítulo 5 – Mito e monarquia
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7
Tal como no caso da cultura em Franco Júnior (1996, p. 31-44), que indica ser
melhor chamarmos ‘cultura popular seja chamarmos aquele denominador
cultural comum de cultura intermediária’, também acreditamos ser melhor
pensarmos em uma ‘religiosidade intermediária’ como tivemos oportunidade
de argumentar noutra ocasião em Andrade Filho (1997, p. 175-218), razão
pela qual não nos deteremos aqui sobre essa questão.
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8
O concílio de Elvira, de fins do século III e inícios do IV, já estipulara em
seu cânone 60 que não fossem contados entre os mártires aqueles que
tivessem perdido a vida por terem destruído ídolos.
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Capítulo 5 – Mito e monarquia
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Referências
AGOSTINHO, Santo. Enarraciones sobre los Salmos. Madrid: BAC,
1965. 4 v. Ed. bilíngüe (latim-espanhol) de B. Martin Perez.
AGOSTINHO, Santo. La ciudad de Dios. 4. ed. Madrid: BAC, 1988. 2 v.
Ed. bilíngüe (latim-espanhol) de S. Santamarta Del Rio y M. F. Lanero.
ANDRADE FILHO, Ruy de O. Imagem e reflexo: religiosidade e
monarquia no Reino Visigodo de Toledo (séculos VI e VII). 1997. Tese
(Doutorado) – FFLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo.
ANDRADE FILHO, Ruy de O. Paganismo e escravidão nos concílios
católicos do Reino Visigodo. Temas Medievales, Buenos Aires, n. 9, p. 99-
114, 1999.
ANDRADE FILHO, Ruy de O. Espaços e fronteiras entre o cristianismo
e o paganismo no reino visigodo católico. In: NODARI, E.; PEDRO, J.
M.; IOKOI, Z. M. G. (Orgs.). História: fronteiras. 2v. XXº Simpósio
Nacional da ANPUH. São Paulo: Humanitas, 1999b, v. 2, p. 1025-1042.
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prodigiosos: uma utopia do homem e de sua existência na obra
de Santo Isidoro de Sevilha (Etimologias , Livro XI). Revista USP,
São Paulo, v. 23, p. 76-83, 1994.
AUGÉ, M. El genio del paganismo. Barcelona: Muchnikm, 1993.
BARBERO, A.; VIGIL, M. La formación del feudalismo en la Península
Ibérica. Barcelona: Crítica, 1978.
BARBERO, A. El pensamiento político visigodo y las primeras unciones
regias en la Europa medieval. Hispania XXX, Madrid, [n. d.] , 1970.
BARBERO, A. La sociedad visigoda y su entorno histórico. Madrid:
Siglo XXI, 1992.
CAPRETTINI, G. P. et al. Mythos/Logos. In: ROMANO, R. (Dir.)
Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda,
1987.
CARDINI, F. Magia, brujería y superstición en el occidente medieval.
Barcelona: Península, 1982.
CASSIRER, E. Linguagem, mito e religião. Porto: Edições Rés, 1976.
104
Capítulo 5 – Mito e monarquia
105
Luzes sobre a Idade Média
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CAPÍTULO 6
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Capítulo 6 – Mentalidade mágica e poder
109
Luzes sobre a Idade Média
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Capítulo 6 – Mentalidade mágica e poder
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Capítulo 6 – Mentalidade mágica e poder
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Capítulo 6 – Mentalidade mágica e poder
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Capítulo 6 – Mentalidade mágica e poder
Titolo XXIII. De los agoreros, & de los fforteros, & de los otros a
deuinos, & de los fechiceros, & de los truhanes.
[...]
Acusar pode cada um do povo diante do juiz aos agoureiros e
aos sorteiros e a outros prestidigitadores de que falamos nas
leis deste título. E se for provado pelos testemunhos e pelo
conhecimento dos mesmos, que fazem e obram contra o nosso
entendimento alguns dos erros citados acima, devem morrer
por isto. E os que os ocultarem em suas casas, devem ser
expulsos de nossa terra para sempre. Mas os que fizerem
encantamentos ou outras coisas com boa intenção, assim como
sacar demônios dos corpos dos homens ou para desligar aos
que forem marido e mulher e que não possam juntar-se, ou
para desatar nuvem que traga granizo ou neve, para que não
corrompam-se os frutos, ou para matar gafanhotos ou pulgão
que dana o Pão ou o vinho, ou por alguma coisa proveitosa
semelhante a estas, não deve haver pena, antes dizemos que
deve receber honrarias por isto (ALFONSO X DE CASTILLA, 1550).
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Luzes sobre a Idade Média
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Capítulo 6 – Mentalidade mágica e poder
1
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 93, n.
217, p.15, fl. 13.
125
Luzes sobre a Idade Média
2
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 90, n. 167,
p. 17. fs. 1-2. (2 processo).
o
3
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 90, n. 167,
p. 17. fl. 2r.
4
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 90, n. 167,
p. 17. fl. 21.
126
Capítulo 6 – Mentalidade mágica e poder
filtro com urina, aparas das unhas dos pés e das mãos, pêlo dos
sovacos, pêlos das partes vergonhosas, pestanas, sobrancelhas
e regras de sua consulente, filtro que, misturado ao esterco de
uma jumenta recém-parida, deveria ser misturado à comida do
objeto de seus desejos 5..
5
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 90, n. 167,
p.17. fls. 24-25.
127
Luzes sobre a Idade Média
6
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 90, n. 167,
p.17. fls. 24-25.
7
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 82, n. 24.
fl. 46-46r. (s/no)
8
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Legajo, v. 89, n. 135, p. 3. fl. 1.
9
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Legajo, v. 85, n. 60, p. 5. fl. 17.
128
Capítulo 6 – Mentalidade mágica e poder
10
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Legajo, v. 85, n. 64, p. 9. fl. 31.
11
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 96. n. 267,
p. 12. fls. 4-5. ( s/no)
129
Luzes sobre a Idade Média
12
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 85, n. 56,
p. 1. fls. 28-34.
130
Capítulo 6 – Mentalidade mágica e poder
13
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Legajo, v. 91, n. 176, p. 9, fl. 1-
2r.
14
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 90, n. 167,
p. 17, fls. 110-111.
131
Luzes sobre a Idade Média
15
Arquivo Histórico Nacional. Inquisición. Inquisición. Legajo, v. 90, n. 167,
p. 17, fls. 68-69r.
132
Capítulo 6 – Mentalidade mágica e poder
Referências
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ALFONSO X, el Sabio. Cantigas de Santa Maria. Madrid: Editorial
Castlia, 1988.
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CONGRESSA DE SAN SEBASTIAN. Madrid, 1973.
ARISTOPHANE. Les nuées. Paris: [s.n.], 1950.
ARQUIVO HISTÓRICO NACIONAL.
BARREIRO DE VÁSQUEZ VARELLA, B. Brujos y Astrólogos de la
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Madrid, [s.n.], 1988.
BEDA, Venerabilis. Historia ecclesiastica gentis Anglorum. II, 3 //
Monum. Hist. Brit. L., 1848. Vol. 1.
BURCKHARDT, J. A civilização da Renascença italiana. Lisboa: [s.n.],
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BUTLER, E. M. Le myth of the magnus. Cambridge: [s.n.], 1948.
CANON Episcopi. In: LEA. H. Ch. Materials toward a History of
Witchcraft. New York: [s.n.], 1957.
133
Luzes sobre a Idade Média
134
CAPÍTULO 7
136
Capítulo 7 – A produção intelectual eclesiástica
1
Ao nos referirmos ao Cristianismo e à Igreja, utilizamos a expressão
ortodoxo(a) em alusão ao que se reconhecia como oficial desde o
Concílio de Nicéia (325) que, como sabemos, definiu alguns dos mais
importantes dogmas da Igreja.
137
Luzes sobre a Idade Média
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Capítulo 7 – A produção intelectual eclesiástica
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Capítulo 7 – A produção intelectual eclesiástica
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Capítulo 7 – A produção intelectual eclesiástica
145
Luzes sobre a Idade Média
146
Capítulo 7 – A produção intelectual eclesiástica
Referências
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AUGUSTIN. Cartas (2º). Madrid: BAC, 1953. (Obras de San Agustin, t.
VIII).
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San Agustin, t. XVI-XVII).
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VI siècle: Les Choix de Martin de Braga. In: CONCÍLIO III de Toledo:
XIV Centenário: 589-1989. Toledo: Arzobispado de Toledo, 1991.
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Paris: Garnier, 1962. v. 88.
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Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Léon y El Archivo Historico
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VIII). Madrid: Siglo XXI, 1989.
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Pensée Politique Médievale: 350-450. Paris: DUF, 1993.
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MITRE, E. Los Germanos y las grandes invasiones. Bilbao: Moretón,
1968.
147
Luzes sobre a Idade Média
148
LITERATURA
CAPÍTULO 8
152
Capítulo 8 – As poéticas medievais têm uma face oculta?
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente (PESSOA, 1960, p. 97).
153
Luzes sobre a Idade Média
154
Capítulo 8 – As poéticas medievais têm uma face oculta?
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Luzes sobre a Idade Média
1
Na Idade Média, prosa e poesia não eram gêneros específicos, como na
acepção moderna: por “poema”, oposto de “história”, entendia-se
156
Capítulo 8 – As poéticas medievais têm uma face oculta?
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Luzes sobre a Idade Média
Oratio dicta quasi oris ratio. Nam orare est loqui et dicere. Est
autem oratio contextus verborum cum sensu. Contextus autem
2
Ver o método exegético proposto por Orígenes (LUPI, 2000).
3
Martianus Capella deu-lhe o máximo destaque em sua famosa alegoria
De nuptiis Philologiae et Mercurii.
158
Capítulo 8 – As poéticas medievais têm uma face oculta?
sine sensu non est oratio, quia non est oris ratio. Oratio autem
plena est sensu, voce et littera.
Chama-se oratio algo assim como oris ratio (ou ‘inteligência da
palavra’). De fato, orare é falar, dizer. E oratio é uma sucessão
de palavras com sentido. Uma sucessão de palavras sem
sentido não é oratio, porque está desprovida de oris ratio. Uma
oração completa o é pelo sentido, pela voz e pela letra (1993, p.
286).
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Luzes sobre a Idade Média
160
Capítulo 8 – As poéticas medievais têm uma face oculta?
161
Luzes sobre a Idade Média
162
Capítulo 8 – As poéticas medievais têm uma face oculta?
Referências
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BALLY, Ch. Traité de stylistique française. Paris: Librairie C. Klincksieck,
1951.
BAUMGARTEN, A. G. Estética: a lógica da arte e do poema. Petrópolis:
Vozes, 1993.
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Janeiro: MEC/Instituto Nacional do Livro, 1957.
FARAL, E. Les arts poétiques du XII et du XII siècle. Recherches et
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IOANNIS SRESBERIENSIS. Metalogicon. Turnholti: Typographi Brepols
Editores Pontificii, 1991.
IOANNIS SRESBERIENSIS. Policraticus. Turnholti: Typographi Brepols
Editores Pontificii, 1993.
ISIDORO DE SEVILHA. Etimologias. Madrid: BAC, 1993.
163
Luzes sobre a Idade Média
164
CAPÍTULO 9
166
Capítulo 9 – Carta de Preste João em Occitano
1
Não nos esqueçamos de que, diante da resposta dada pelo papa
Alexandre III, deduz-se existir uma carta endereçada também a ele em
1177 (POU Y MARTI, 1945).
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Luzes sobre a Idade Média
Preste João
Um reino de incrível abundância de alimentos e riquezas, um
governante prestigiado, uma terra em que grandes ‘maravilhas’
acontecem, tudo (ou quase tudo) pelas bênçãos de Deus. A
leitura da carta de Preste João remete o leitor a um país
imaginário e, como dissemos acima, pouco importa se a lenda
tem suas origens na distorcida memória de um imperador real do
Oriente. Importa-nos, no entanto, tentar compreender como o
Ocidente Medieval interpreta Preste João e seu reino, qual o seu
significado.
Compartilhamos com Gosman (1983) uma de suas
premissas quando este analisa a lenda de Preste João: a chave
de compreensão da carta deve estar no significado do próprio
Preste João para o primeiro a aparentemente mencioná-lo, o
cronista alemão Otto de Freising.
Na sua crônica, Otto apresenta o rei oriental que em
grande batalha derrota os turcos e demonstra interesse em se
dirigir à Terra Santa para libertá-la.
Para nós, não é de grande importância tentar apresentar as
possíveis relações entre o lendário Preste João e o huno Gengis
Khan. Se a batalha referida pela embaixada síria corresponde a um
eco de 1141, quando os turcos seldjúcidas foram derrotados pelos
hunos vindos da China, não nos cabe avaliar.
Muito nos importa a questão levantada por Gosman: por que
faria Oto referência ao imperador oriental e cristão na sua crônica?
Ao apresentar sua resposta, deparamo-nos com uma questão
fundamental para a compreensão da importância também da carta:
168
Capítulo 9 – Carta de Preste João em Occitano
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Luzes sobre a Idade Média
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Capítulo 9 – Carta de Preste João em Occitano
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Luzes sobre a Idade Média
Comparação de fontes
A conversão para a língua vulgar já nos traria um rico
material para reflexão. Assim como a passagem para o texto
escrito das ‘tradições orais’, as traduções do latim para o vulgar
se enquadram na emergência do laicado que evidenciamos a
partir do século XII.
Como é bastante comum a essas ‘conversões’, no entanto,
além da repetição, da cópia propriamente dita, deparamo-nos com
as adaptações, acréscimos e exclusões, todas significativas.
Partamos das diferenças para em seguida nos atermos às
continuidades. Endereçadas a personagens distintas, a conduta
do remetente João também se modifica. Na versão latina,
ironia e desprezo do imperador oriental pelo bizantino são
claramente expressados:
O Preste João, [rei dos reis] senhor dos senhores, pelo poder e
graça de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Manuel,
regedor de Roma, envia saudações e alegria, para alcançar
maiores coisas [...] Sendo homem generoso, considerarei bom
enviar-te também pelo nosso embaixador alguns presentes pois
queremos e ansiamos por saber se professas conosco a
verdadeira fé e se crês sem falha em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ora, sabendo nós que tu és um homem, esses teus gregozitos
pensam que és um Deus, quando nós sabemos que estás
sujeito à humana corrupção (CARTA, 1998, p. 53).
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Referências
CARTA [latina] do Preste João da Índias. Lisboa: Assírio e Alvim, 1998.
DELUMEAU, J. Mil anos de felicidade: uma história do paraíso. São
Paulo: Companhia das Letras, 1997.
FRANCO JÚNIOR, H. As utopias medievais. São Paulo: Brasiliense,
1992.
FRANCO JÚNIOR. H. A Eva Barbada: ensaios de mitologia medieval.
São Paulo: Edusp, 1996.
184
Capítulo 9 – Carta de Preste João em Occitano
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