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A OBRA DA REDENÇÃO
Tábua de Matérias
1. A Redenção em geral
a) O propósito da Encanação
b) A controvérsia como condicionada ou incondicionada predestinação da encarnação
c) Conceito e possibilidade da Redenção
d) Necessidade e Liberdade da Redenção
2. A Realização da Redenção por meio de 3 ações de Cristo
a) O Ensino (obra profética)
b) O Pastoreio (obra real)
c) O Sacerdócio (obra sacerdotal)
3. A Conclusão gloriosa da obra da Redenção de Cristo
a) Cristo nos Infernos
b) A Ressurreição de Cristo
c) A Ascensão aos Céus
4. A Mãe do Redentor [Disciplina especí ca da Escola de Teologia]
JOÃO PAULO II. Redemptoris missio. (sobre a salvação operada por Jesus Cristo)
_______________. Redemptoris mater. (sobre a mãe do Redentor e o papel de Maria na Igreja)
_______________. Redemptoris custos. (sobre o guardião do Redentor, São José)
A. O propósito da Encanação
Perguntar-se sobre o propósito da encarnação, é perguntar “para quê” o Filho de Deus,
desceu do céu, e veio a este mundo, como homem. O Símbolo nicenoconstatinopolitano declara:
qui propter nos homines et propter nostram salutem descendit de caelis et incarnatus est [“e para nós,
homens, e para nossa salvação desceu do céu e se encarnou”].
O Senhor Jesus Cristo desceu do céu para nossa salvação, i.é., para nos redimir. Tal fato é
testemunhado pelo profeta Isaías, que diz: “Dizei aos turbados de coração: Sede fortes, não temais;
eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará” (Is 35,4).
Quando o anjo Gabriel anuncia a Maria que ela conceberá e dará à luz um menino, também diz
qual é o propósito daquilo (encarnação): “E dará à luz um lho e chamarás o seu nome JESUS;
porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1, 21).
No evangelho de São João, há um outro propósito para a encarnação: glori car o Pai com a
glória que Ele merecia desde o princípio: “Eu glori quei-te na terra, tendo consumado a obra que
me deste a fazer” (Jo 17,4)
c) Se Deus exigiu uma expiação completa, a Encarnação de uma Pessoa Divina era
necessária.
O insulto in nito a Deus inerente ao pecado grave pode ser totalmente contrabalançado
apenas por um ato in nito de expiação. Ninguém além de uma Pessoa Divina pode realizar tal
expiação. Até esse ponto, uma necessidade hipotética (condicionada) da Encarnação pode ser
mantida. Em um sentido mais amplo, também se pode falar de necessitas congruentiae, na medida
em que a Encarnação de uma Pessoa Divina foi o meio mais apropriado de Redenção, porque
revela mais gloriosamente as perfeições de Deus e dá os motivos mais fortes para a busca da
humanidade pela perfeição religiosa e moral. São João Damasceno, De Fid. Orth. I. B. I. ; S. Th. III
1,1-2.
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3. A Realização da Redenção por meio de 3 ações de Cristo
a) O Ensino (obra profética)
b) O Pastoreio (obra real)
c) O Sacerdócio (obra sacerdotal)
Por ações de Cristo são entendidas as funções através das quais o propósito da Redenção foi
realizado. Cristo cumpriu a obra de Redenção através de seu triplo ofício: o ofício de ensino, o
ofício de pastor e o ofício sacerdotal. As três ações são indicadas em João 14, 6: “Eu sou o caminho
(pastoral), a verdade (ensino) e a vida (sacerdotal).”
1 ἱλαστ ριον signi ca propiciação ou oferenda propiciatória, i.é., a oblação por meio da qual aplaca-se a ira divina.
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O caráter sacri cial da morte de Cristo na Cruz pode ser estabelecido, especulativamente, na
medida em que todas as exigências de um ato sacri cial foram cumpridas. Cristo como homem
estava ao mesmo tempo sacri cando como sacerdote e sendo o dom sacri cial (vítima). Como
Deus junto com o Pai e com o Espírito Santo, Ele também foi o receptor do sacrifício. O ato de
sacrifício consistia no fato de que Cristo, em uma disposição da mais perfeita auto-rendição, cedeu
voluntariamente Sua vida a Deus, permitindo que Seus inimigos O matassem, embora Ele tivesse o
poder de impedi-los. Cf. Jo 10, 18.
c 1. O ensinamento da Igreja: Cristo, por Seu Sacrifício na Cruz, nos resgatou e nos reconciliou com
Deus.
O Concílio de Trento ensina que Nosso Senhor ofereceu Sua vida na Cruz para nossa eterna
redenção. O mesmo Concílio se refere ao único mediador Jesus Cristo: “que em Seu sangue nos
reconciliou com Deus nos fez justiça e santi cação e redenção” (1Cor 1,30).
e. Méritos de Cristo
e 1. A Noção de Mérito
Por mérito entende-se um trabalho concluído em benefício de outro sobre quem estabelece
uma reivindicação de recompensa, ou a reivindicação de recompensas baseada no trabalho. De
acordo com a recompensa devido em justiça ou meramente por graça, o mérito é um meritum de
condigno ou um meritum de côngruo. A obra de Cristo de redenção é, ao mesmo tempo,
satisfatória e meritória, na medida em que, por um lado, remove a relação de culpa entre a
humanidade e Deus e, por outro lado, estabelece uma reivindicação de recompensa por parte de
Deus.
e 2. Meritoridade da Paixão e Morte de Cristo: Cristo, através de Sua Paixão e Morte, mereceu a
recompensa de Deus.
O Concílio de Trento ensina que a origem do mérito da justi cação de Jesus Cristo é que Ele,
através de Sua Santíssima Paixão, mereceu a justi cação para nós. O mesmo Conselho estabelece
que o pecado original é removido apenas pelos méritos de Cristo, e que através do Batismo os
méritos de Cristo são aplicados a adultos e crianças. A Sagrada Escritura não usa a palavra
“mérito”, mas ensina explicitamente a doutrina do mérito de Cristo. Cf. Fil. 2, 9: “por aquela causa
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(tornando-se obediente até a morte) Deus O exaltou.” Hb 2,9: “Vemos, porém, coroado de glória e
de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da
morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. A exaltação é a recompensa de
Sua obediência no sofrimento.
O mérito das ações de Cristo pode ser especulativamente estabelecido em razão do fato de
que todas as condições de um mérito verdadeiro e adequado foram cumpridas. Eles eram livres,
moralmente bons, sobrenaturais, realizados no estado de peregrinação terrena e no estado de
graça, e tinham a Divina promessa de recompensa (Is 53, 10). Como ações de uma Pessoa Divina,
eles possuíam um valor meritório in nito. Como toda a obra da vida de Cristo, não apenas Sua
Paixão e Morte, tem um valor expiatório, também é meritório.
e 3.2. Cristo merecia todas as graças sobrenaturais recebidas pela humanidade decaída. O
Decretum pro Jacobitis declara que “ninguém foi libertado do poder do Diabo, exceto pelos méritos
do mediador Jesus Cristo”. De acordo com o ensinamento do Concílio de Trento, "ninguém pode
ser justo se os méritos da Paixão de Cristo não forem comunicados”. É uma doutrina fundamental
a de São Paulo de que a salvação só pode ser adquirida pela graça merecida por Cristo. Rm 3,24ss;
5,15ss; 7,24ss.; Ef 2, 4ss. O Apóstolo St. Pedro testemunhou perante o Conselho Superior: “Nem há
salvação em nenhum outro.” At 4, 12. Os Padres da Igreja designam a graça sobrenatural como
gratia Dei per Jesus Christum ou gratia Christi. A palavra meritum é aplicada na literatura patrística
ao mérito que Cristo adquiriu apenas por Si mesmo.
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3. A Conclusão gloriosa da obra da Redenção de Cristo
a) Cristo nos Infernos
b) A Ressurreição de Cristo
c) A Ascensão aos Céus
A Exaltação de Cristo
I. A Descida de Cristo ao Inferno (à mansão dos mortos): Após Sua Morte, a alma de Cristo, que foi
separada de Seu corpo, desceu para o submundo
O submundo é o lugar de detenção para as almas do justo da era pré-cristã, o chamado
vestíbulo do inferno. A versão tardia do Credo dos Apóstolos (século V) contém o artigo: descendit
ad inferos; da mesma forma, o Credo Quicumque (D.75-76). O IV Concílio do Latrão (1215) declara
mais explicitamente: descendit ad inferos, ... sed descendit in anima (desceu aos infernos … mas desceu
em alma).
A doutrina da descida de Cristo aos infernos, como o racionalismo sustenta, não se inspira
nos mitos pagãos, mas na Revelação do Antigo Testamento da condição intermediária entre a
morte e a ressurreição, na qual as almas que partem permanecem no submundo (Xeol). Em relação
à Sua permanência no submundo durante o período entre a morte e a ressurreição, Jesus diz: “Pois
como Jonas estava na barriga da baleia três dias e três noites, é preciso que o Filho do homem
permaneça no coração da terra três dias e três noites (Mt 12,40). A expressão “coração da terra”
(καρδία τῆς γῆς) não signi ca o túmulo, mas o submundo, que foi visualizado como sendo
localizado no interior da terra, como estava em seu coração. Esta interpretação é apoiada pelo
paralelo a Jn 2, 3 (“barriga do inferno”) (κοιλία ᾅδον), bem como pela visualização do Antigo
Testamento de que o ponto de partida da ressurreição é o submundo, o lugar de detenção das
almas que partiram. São Pedro, falando da Ressurreição de Cristo, diz: “Deus O ressuscitou tendo
solto as tristezas do inferno (do império da morte), pois era impossível que Ele fosse mantido pela
morte.” At 2, 24. A dissolução da "destruições da morte" (de acordo com outra forma de leitura:
“dos ventos de Hades") é um símbolo da libertação dos mortos do submundo (cf.4Esdr 4, 41 ; Col.
1,18: “O primogênito dos mortos”). Referindo-se à passagem do Salmo 15,10 “pois não deixarás a
minha alma no infernos, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção”, nós lemos: “prevendo
isso, Ele (Davi) falou da Ressurreição de Cristo, porque nem Ele foi deixado no inferno: nem Sua
carne viu corrupção” (At 2, 31).
São Paulo em Rm 10,6ss. testemunha a permanência de Cristo no submundo: “Mas a justiça
que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a
Cristo) ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo).” Também
é notável a fórmula que estava em uso frequente: ”Para ressuscitar ou levantar ou da morte” (ἐκ
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νεκρῶν), e que em sua aplicação a Cristo a rma que Sua alma antes da Ressurreição estava no
Império dos Mortos, ou seja, no submundo.
A passagem Ef 4, 9: “Ora, isto - ele subiu - que é, senão que também antes tinha descido às
partes mais baixas da terra? Ele ascendeu’ o que é isso, mas porque Ele também desceu para as
partes mais baixas da terra?" É, de acordo com o contexto, ser entendido, não da descida de Cristo
ao submundo, mas de Sua descida na Encarnação do céu “para as partes inferiores da terra”. A
interpretação da passagem 1Pd 3,19ss.: “Em que (=no espírito) também vindo Ele pregou a esses
espíritos que estavam na prisão que tinham sido algum tempo (nos dias de Noé) incrédulos”, é
incerta; no entanto, a incerteza não se refere tanto ao fato quanto ao propósito da descida de Cristo
ao submundo.
A tradição testemunha por unanimidade o fato da descida de Cristo ao submundo. Santo
Inácio de Antioquia escreve que Cristo havia “despertado os Profetas dos mortos, que eram Seus
discípulos em espírito, e que O aguardavam como seu professor em Sua chegada” (Magn. 9, 2). São
Justino e Santo Irineu citam uma passagem apócrifa em Jeremias, na qual eles vêem a descida de
Cristo ao inferno: ”O Senhor, o Santo Deus de Israel, pensado Ele de Sua morte que dormiu na
terra da sepultura, e Ele desceu até eles para anunciar-lhes a salvação.” (Santo Irineu, Adv. haer. IV
33, 1, 12 e V 31, 1: “A m de liberá-los e salvá-los”). Cf. São Justino, Diálogos 72; 99; Santo Irineu
Adv. haer. III 20, 4; IV 22, 1; IV 33, 1. 12; V 31, 1 (com prova bíblica) ; Epid. 78. Tertuliano, De anima 7;
55. Santo Hipólito, De antichristo 26, 45. Santo Agostinho atesta a fé original da Igreja ao dizer:
“Quem além de um incrédulo pode negar que Cristo estava no submundo?” (Ep. 164, 2, 3). Além
disso, a literatura apócrifa testemunha a crença da Igreja na descida de Cristo ao Inferno. Compare
as Odes de Salomão (uma composição cristã do século II d.C.) Nos. 17 e 42.
O propósito da descida ao Inferno foi, de acordo com o ensinamento geral dos teólogos, a
libertação do justo no Limbo pela aplicação dos frutos da Redenção, ou seja, pela comunicação da
Visão Beatí ca. Cf. S. th. III 52, 5; Cat. Rom. I 6, 6.
3. Signi cado: Para o próprio Cristo, a Ressurreição foi a entrada na condição de Glória, que
foi a recompensa por Sua auto-rebaixamento no sofrimento.
Do ponto de vista soteriológico, a Ressurreição, ao contrário da Morte de Cristo, não é a
causa meritória da nossa Redenção, mas é a conclusão vitoriosa da obra da Redenção. Pertence, no
entanto, à completude da Redenção e, portanto, está associada nas Sagradas Escrituras, à morte na
Cruz, como um todo completo. Cf. Rm 4, 25. É o modelo da nossa Ressurreição espiritual do
pecado (Rm 6, 3ss.) e o modelo e a promessa da ressurreição de nossos corpos (1Cor 15, 20ss.; Fil 3,
21).
Do ponto de vista apologético, a Ressurreição é o maior de todos os milagres de Cristo e,
como a realização da profecia, a prova mais forte da verdade de Seus ensinamentos. Cf. 1Cor 15,
14ss.
2. Fundação: Cristo predisse Sua Ascensão (cf. Jo 6, 63; 14, 2; 16, 28; 20, 17) e realizou isso no
quadragésimo dia após Sua Ressurreição na presença de muitas testemunhas. Mc 16, 19: “E o
Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi levado para o Céu e senta-se à direita de Deus.” Cf.
Lc 24, 51; 1Pd 3, 22.
Os Padres dão testemunho unânime da Ascensão de Cristo. Todas as antigas regras da Fé
mencionam isso junto com a Morte e a Ressurreição, Cf.Santo Irineu, Adv. haer. I 10, 1; III 4, 2;
Tertuliano, De praescr. 13 ; De virg. vel. I ; Adv. Prax. 2; Orígenes, De princ. Eu praef. 4.
A expressão bíblica “sentar-se à direita de Deus”, que remonta ao Sl 109, 1 e que é
frequentemente usado nas Epístolas dos Apóstolos (Rm 8, 34; Ef 1, 20; Col 3, 1; Hb 1, 3; 8, 1; 10, 12;
12, 2; 1Pd 3, 22) a rma que Cristo, elevado em Sua humanidade acima de todos os anjos e santos,
ocupa um lugar de honra e participa da honra e da glória, e do poder jurídico e judicial de Deus.
Cf. São João Damasceno, De de orth. IV 2.
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