Você está na página 1de 14

A minha igreja

Com essas palavras Jesus se dirigiu a Pedro ao confiar´lhe o mandato de


governar a Sua Igreja, deixando claro que a Igreja é ´´propriedade´´ Dele.

Na verdade, a Igreja é, por desejo de Deus, o próprio Corpo do Senhor. Ele a quis
como o Seu Corpo Místico, constituído como o ´´Sacramento universal da
salvação da humanidade´´ (LG,48), isto é, o meio escolhido por Deus para salvar
a todos.

Ela é o prolongamento da Encarnação de Jesus no meio dos homens, para


formar, Nele, a grande família dos filhos de Deus. ´´A Igreja é a trajetória do Cristo
através dos séculos´´, como disse Denis Bourgerie. Ou ainda, ´´a Igreja é o Corpo
do Senhor, e o ostensório do Seu coração´´, como disse Maurice Zundel. Bossuet
preferiu dizer que: ´´A Igreja é Jesus Cristo derramado e comunicado a toda a
terra´´.Tudo pode ser resumido na palavra de um grande Padre do primeiro
século, Santo Inácio de Antioquia (110), ao dizer que:

´´Onde está o Cristo Jesus está a Igreja Católica´´.

Nestas páginas queremos aprofundar no Mistério da Igreja, na sua missão e


identidade.

O pecado, desde a origem, dispersou a humanidade, quebrou a unidade e a


comunhão dos homens com Deus, rompeu o belo plano de amor que o paraíso
terrestre nos mostra.

Deus Pai nos criou para Si, para que fossemos a Sua família, destinados a
participar da Sua comunhão íntima e desfrutar da Sua vida bem´aventurada. O
pecado ´ a mais triste realidade ´ rompeu esse belo Plano de amor e ´´dispersou´´
os filhos de Deus, dilacerou a Sua família e feriu o próprio Deus. Por Jesus e pela
Igreja, o Pai quis então refazer a Sua obra e trazer de volta os seus filhos para a
Sua Comunhão. É nesse sentido que o Catecismo da Igreja Católica (CIC), afirma
que :

´´A convocação da Igreja é por assim dizer a reação de Deus ao caos provocado
pelo pecado´´(CIC,761).

O Catecismo já no seu início, nos ensina esta grande verdade:

´´Deus, infinitamente Perfeito e bem aventurado em si mesmo, em um desígnio de


pura bondade, criou livremente o homem para fazê´lo participar de sua vida bem
´aventurada.

Eis por que, desde sempre e em todo lugar, está perto do homem. Chama´o e
ajuda´o a procurá´lo, a conhecê´lo e a amá´lo com todas as suas forças. Convoca
todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade da sua família, a Igreja´´
(CIC, 1).

Esse primeiro parágrafo do Catecismo contém, em síntese, a História da salvação.


Deus criou a humanidade como a ´´sua família´´; mas o pecado dispersou os seus
filhos; e agora Deus os reúne novamente pela Igreja, o próprio Corpo de Jesus,
enviado aos homens. É nesse contexto que sobressai toda a realidade e
importância da Igreja ´ a família de Deus.

E o Catecismo, ainda no primeiro parágrafo, explica como Deus refaz a sua


família:

´´Faz isto através do Filho, que enviou como Redentor e Salvador quando os
tempos se cumpriram. Nele e por Ele, chama os homens a se tornarem, no
Espírito Santo, seus filhos adotivos, e portanto os herdeiros da sua vida bem
´aventurada´´ (nº 9).

É preciso analisar essas palavras com muita atenção. É pelo Filho que o Pai refaz
a comunhão da humanidade consigo. O Filho se faz a Igreja (Corpo Místico de
Cristo). Pelo Batismo entramos nesse Corpo, e pelo Espírito Santo nos tornamos
filhos adotivos e, como conseqüência, herdeiros, de novo, da vida bem´aventurada
de Deus, que o pecado havia cancelado. Assim, voltaremos ao Paraíso.

Esta é a gloriosa história da nossa salvação que se completará pela Igreja,


quando ela estiver plenamente glorificada em Deus. É por isso que Santo
Agostinho dizia que:

´´ A Igreja é o mundo reconciliado´´.

Como a Igreja gloriosa é a consumação do Plano de Deus para a humanidade,


nada mais importante do que conhecê´la, amá´la e servi´la com todas as nossas
forças.

Quando Jesus a instituiu sobre Pedro e os Apóstolos, deixou claro que ela lhe
pertence:

´´Sobre esta Pedra edificarei a MINHA Igreja´´ (Mt 16,18).

Ela é a Esposa de Cristo, que ele ama com um amor eterno. Por ela sofreu a
paixão e derramou o seu sangue. Ele a ama como um Esposo apaixonado:

´´Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por
ela, para santificá´la, purificando´a pela água do batismo, para apresentá´la a si
mesmo toda glorificada, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito
semelhante, mas santa e irrepreensível´´ (Ef 5,25´27).

Essas palavras expressam o amor profundo de Jesus para com a ´´sua´´ Igreja.
Esse amor é tão grande e tão fundamental, que Deus quis que cada casal na
terra, pelo amor mútuo, refletisse na realidade cotidiana do matrimônio, esse
amor. É por isso que São Paulo ao falar aos efésios, do matrimônio, diz que ´´ é
grande esse mistério, quero dizer, com referência a Cristo e a Igreja´´.

A vida cotidiana do casamento nos ajuda a compreender melhor o amor de Cristo


para com a sua Esposa ´ a Igreja ´ e, vice´versa.

São Paulo, que entendeu profundamente essa maravilha, exortou os maridos a


amarem as suas esposas, ´´como a seu próprio corpo´´ (Ef 5,28). Com isto, quer
dizer também que a Igreja é o próprio Corpo de Cristo. ´´Quem ama a sua mulher
ama a si mesmo´´ (28). Quem ama a Igreja, ama a Cristo; é a mesma realidade.

O Papa Paulo VI, cujo amor à Igreja era imenso, assim se referiu a ela:

´´A Igreja! Ela é nosso amor constante, nossa solicitude primordial, nosso
pensamento fixo! ...

Não se ama a Cristo se não se ama a Igreja; e não amamos a Igreja se não a
amamos como a amou o Senhor: ´´Amou a Igreja e por ela se entregou´´ (Ef 5,25)
´´.

É preciso destacar o que disse o Papa: ´´Não se ama Cristo se não se ama a
Igreja´´, e podemos ir mais longe ainda e dizer: não se conhece a Cristo, se não
se conhece a Igreja; não se serve a Cristo, se não se serve a Igreja; não se
obedece a Cristo se não se obedece à Igreja; não se sujeita a Cristo, se não se
sujeita à sua Igreja, não está na verdade de Cristo quem não está na verdade da
Igreja...

O Concílio Vaticano II a chamou de ´´Lumen Gentium´´, isto é ´´Luz das Nações´´,


pois a sua Luz é a mesma Luz de Cristo.

´´Assim [Deus] estabeleceu congregar na Santa Igreja os que crêem em Cristo.


Desde a origem do mundo a Igreja foi pré´figurada. Foi admiravelmente preparada
na história do povo de Israel e na antiga aliança. Foi fundada nos últimos tempos.
Foi manifestada pela efusão do Espírito Santo. E no fim dos tempos será
gloriosamente consumada quando, segundo se lê nos Santos Padres, todos os
justos desde Adão, ´´do justo Abel ao último eleito´´, serão congregados junto ao
Pai na Igreja universal´´ (LG , 2).

É preciso termos bem claro que Deus decidiu estabelecer o seu Reino entre nós,
através da Igreja. Ensina´nos a ´´Lumen Gentium´´ que a Igreja tem ´´a missão de
anunciar e estabelecer em todas as gentes o Reino de Cristo e de Deus, e
constitui ela própria na terra o germe e o início deste Reino´´ (LG ,5).

Sem a Igreja não há, portanto, Reino de Deus.

Santo Agostinho escreveu que:


´´A Igreja recebeu as chaves do Reino dos Céus para que se opere nela a
remissão dos pecados pelo sangue de Cristo e pela ação do Espírito Santo. É
nesta Igreja que a alma revive, ela que estava morta pelos pecados´´.

O Catecismo mostra toda a realidade, beleza, missão e identidade da Igreja, ao


ensinar que ela é:

´´ Um projeto nascido no coração do Pai´´ (nº 759),

´´Prefigurada desde a origem do mundo´´(nº 760),

´´Preparada na Antiga Aliança´´ (nº761),

´´Instituída por Jesus Cristo´´(nº 763),

´´Manifestada pelo Espírito Santo´´ (nº 767),

´´A ser consumada na glória´´ (nº769),

´´ Mistério da união dos homens com Deus´´ (nº772),

´´Sacramento universal da salvação´´ (nº774),

´´Comunhão com Jesus´´ (nº787),

´´Corpo de Cristo´´ (nº787),

´´Esposa de Cristo´´ (nº796),

´´Templo do Espírito Santo´´ (nº797),

´´Povo de Deus´´ (nº781).

Todas essas expressões são profundíssimas e precisam ser analisadas e


conhecidas para podermos compreender o desígnio de Deus em relação à Igreja.
Sem isto não a amaremos como é necessário e como pediu o Papa Paulo VI.

Alguns perguntam: por que a Igreja ? Não basta a fé em Jesus Cristo?

A resposta é, que foi o próprio Jesus quem quis a Igreja como prolongamento de
sua presença salvadora no meio dos homens. Ele nos deu a Igreja e o seu Credo,
como garantia de que não estamos seguindo apenas o nosso bom senso, ou uma
religiosidade amorfa, mas estamos seguindo o caminho de Deus.

A Igreja é conseqüência direta do mistério da Encarnação, seu prolongamento.


Muitos querem hoje dizer Sim à Cristo, e Não à Igreja; mas isto afeta a própria
identidade do Cristianismo. A Igreja, instituída por vontade de Cristo, com suas
normas, como prolongamento da Encarnação do Verbo de Deus, se tornou o lugar
privilegiado do encontro dos homens com Cristo e com o Pai.

Quem pergunta: ´´Por que a Igreja?´´, incorre no mesmo erro de quem pergunta:
´´Por que Cristo?´´ Cristo veio do Pai e deixou a Igreja. O Pai enviou Jesus para a
salvação do mundo, e Cristo enviou a Igreja.

Muitos hoje querem a Igreja na forma de uma ´´democracia moderna´´, onde tudo
se decida pela vontade da maioria. Ela seria então como um grande Clube
religioso, de normas ´´flexíveis´´, mais assimiláveis. A conseqüência disso ´ e o
grande engano ´ é que neste caso o homem seria guiado unicamente por si
mesmo, e não por Deus. Não seria mais ´´a Igreja de Deus´´ (1Tm3,15).

Pelo fato da Igreja ter a sua vida guiada pela Tradição que vem de Cristo e dos
Apóstolos, dá´nos a garantia de que é o próprio Jesus, presente nela, que a
conduz.

O primeiro ´´Sacramento´´, o fundamental, é a santíssima humanidade de Jesus,


através da qual (gestos, palavras) passava a graça de Deus. A Igreja é a
continuação desse ´´Sacramento´´; por isso São Paulo a chama simplesmente de
´´o Corpo de Cristo´´ (Cl 1,24).

As expressões terminais desse Sacramento ´´Cristo ´ Igreja´´, são os sete


Sacramentos, que levam a salvação ao homem, do nascer até o morrer. E sem a
Igreja não há sacramentos; logo, não há salvação. Daí podemos ver claramente
que a Igreja é tão essencial ao Cristianismo quanto o mistério da Encarnação do
Verbo.

Num Cristianismo sem a Igreja instituída por Cristo (Mt 16,16s) sobre Pedro e os
Apóstolos, o próprio Cristo ficaria mutilado, como que degolado...

E essa Igreja é a única e una, católica (universal), apostólica e romana.

Os textos bíblicos, com referência à função de Pedro e dos Apóstolos, deixam


claro que Jesus quis uma Igreja estruturada e jurídica, sob o pastoreio supremo de
Pedro, e não como querem os protestantes, apenas uma comunidade espiritual
reunida só pela fé e pelo amor. Como ensina o Catecismo, ela é: ´´ao mesmo
tempo visível e espiritual´´(nº770), e afirma que:

´´O Senhor Jesus dotou a Sua comunidade de uma estrutura que permanecerá
até a plena consumação do Reino´´(nº761).

Jesus tinha consciência de que a Sua Igreja teria uma longa duração sobre a face
da terra até cumprir a missão de trazer para Deus toda a humanidade. As
parábolas sobre a Igreja mostram isso. A do joio e do trigo (Mt 13,1´30) nos
mostra que os bons e os pecadores vão conviver na Igreja, juntos, até o fim do
mundo. Jesus, ao explicar a parábola para os discípulos, diz´lhes que:

´´A colheita é o fim do mundo´´(Mt 13,40); e que só então ´´o Filho do homem
enviará seus anjos que retirarão do reino todos os escândalos e todos os que
fazem o mal... Então no reino do seu Pai, os justos resplandecerão como o sol´´
(vs 41´42).

A parábola do grão de mostarda (Mt 13,31´32) também indica a longa caminhada


e edificação da Igreja na terra, de maneira permanente e durável.

´´É a menor de todas as sementes, mas quando cresce, torna´se um arbusto


maior que todas as hortaliças, de sorte que os pássaros do céu vêm aninhar´se
em seus ramos´´.

O Reino de Deus [a Igreja], comparado à rede lançada ao mar e que apanha


peixes bons e ruíns (Mt 13,47´50), mostra´nos também que a Igreja veio para ficar
até o fim dos tempos, pois Jesus afirma que só então será feita a separação:

´´Assim será no fim do mundo: os anjos virào separar os maus do meio dos justos,
e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes´´.

Ainda as parábolas do banquete (Mt 8,19s) e do fermento na massa (Mt 13,33s),


indicam que a Igreja teria uma longa e paciente missão a cumprir, até a plena
consumação do Reino.

A Igreja não é portanto, apenas uma ´´Sociedade dos Amigos de Jesus e do


Evangelho´´, é muito mais do que isso, é uma Instituição criada pelo próprio
Jesus, integrada Nele, o Seu próprio Corpo, para desta forma ser o seu
prolongamento na história dos homens, reunindo´os Nele, para trazê´los de volta
para a Casa do Pai.

Por tudo isso, os cristãos dos primeiros tempos não tinham dúvidas em afirmar
que :

´´O mundo foi criado em vista da Igreja´´.

São Clemente de Alexandria (215), por exemplo, dizia:

´´Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, assim também sua
intenção é a salvação dos homens, e se chama Igreja´´(CIC,760).

Esta é a Santa Igreja do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, que São Paulo gosta
de chamar de ´´a Igreja de Deus´´(1Tm3,15; At20,28).

Muitos e muitos filhos dessa querida Mãe souberam ser´lhe fiel até o fim. Em
1988, Monsenhor Ignatius Ong Pin´Mei, Bispo de Shangai, no dia seguinte de sua
libertação, depois de passar 30 longos anos nas prisões da China, por amor a
Cristo e fidelidade à Igreja Católica, declarou:

´´Eu fiquei fiel à Igreja Católica Romana. Trinta anos de prisão não me mudaram.
Eu guardei a fé. Eu estou pronto amanhã a voltar novamente à prisão para
defender minha fé´´(PR).

Igualmente o Cardeal da Tchecoslováquia, Frantisek Tomasek, arcebispo de


Praga, no ano de 1985, nos tempos difíceis da perseguição comunista,
perguntado por um repórter: ´´Eminência, não está cansado de combater sem
êxito?´´, respondeu:

´´Digo sempre uma coisa: quem trabalha pelo Reino de Deus faz muito; quem
reza, faz mais; quem sofre, faz tudo. Este tudo é exatamente o pouco que se faz
entre nós na Tchecoslováquia´´( IL Sabato 8,14/06/85, p.11),( PR,n.284, jan86).

É bom recordar aqui que, alguns anos depois, em 1989, o comunismo começava a
desmoronar em toda a Cortina de Ferro...

Que o Senhor da Igreja, por intercessão de Sua Mãe Virgem e Santíssima, e do


seu glorioso pai, São José, patrono universal da Igreja, conceda a todos aqueles
que lerem piedosamente essas páginas, um amor profundo à sua Santa Esposa, a
Jerusalém celeste, na qual viveremos toda a eternidade em Deus. Amém. ´´A
MINHA IGREJA´´

Com essas palavras Jesus se dirigiu a Pedro ao confiar´lhe o mandato de


governar a Sua Igreja, deixando claro que a Igreja é ´´propriedade´´ Dele.

Na verdade, a Igreja é, por desejo de Deus, o próprio Corpo do Senhor. Ele a quis
como o Seu Corpo Místico, constituído como o ´´Sacramento universal da
salvação da humanidade´´ (LG,48), isto é, o meio escolhido por Deus para salvar
a todos.

Ela é o prolongamento da Encarnação de Jesus no meio dos homens, para


formar, Nele, a grande família dos filhos de Deus. ´´A Igreja é a trajetória do Cristo
através dos séculos´´, como disse Denis Bourgerie. Ou ainda, ´´a Igreja é o Corpo
do Senhor, e o ostensório do Seu coração´´, como disse Maurice Zundel. Bossuet
preferiu dizer que: ´´A Igreja é Jesus Cristo derramado e comunicado a toda a
terra´´.Tudo pode ser resumido na palavra de um grande Padre do primeiro
século, Santo Inácio de Antioquia (110), ao dizer que:

´´Onde está o Cristo Jesus está a Igreja Católica´´.

Nestas páginas queremos aprofundar no Mistério da Igreja, na sua missão e


identidade.

O pecado, desde a origem, dispersou a humanidade, quebrou a unidade e a


comunhão dos homens com Deus, rompeu o belo plano de amor que o paraíso
terrestre nos mostra.

Deus Pai nos criou para Si, para que fossemos a Sua família, destinados a
participar da Sua comunhão íntima e desfrutar da Sua vida bem´aventurada. O
pecado ´ a mais triste realidade ´ rompeu esse belo Plano de amor e ´´dispersou´´
os filhos de Deus, dilacerou a Sua família e feriu o próprio Deus. Por Jesus e pela
Igreja, o Pai quis então refazer a Sua obra e trazer de volta os seus filhos para a
Sua Comunhão. É nesse sentido que o Catecismo da Igreja Católica (CIC), afirma
que :

´´A convocação da Igreja é por assim dizer a reação de Deus ao caos provocado
pelo pecado´´(CIC,761).

O Catecismo já no seu início, nos ensina esta grande verdade:

´´Deus, infinitamente Perfeito e bem aventurado em si mesmo, em um desígnio de


pura bondade, criou livremente o homem para fazê´lo participar de sua vida bem
´aventurada.

Eis por que, desde sempre e em todo lugar, está perto do homem. Chama´o e
ajuda´o a procurá´lo, a conhecê´lo e a amá´lo com todas as suas forças. Convoca
todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade da sua família, a Igreja´´
(CIC, 1).

Esse primeiro parágrafo do Catecismo contém, em síntese, a História da salvação.


Deus criou a humanidade como a ´´sua família´´; mas o pecado dispersou os seus
filhos; e agora Deus os reúne novamente pela Igreja, o próprio Corpo de Jesus,
enviado aos homens. É nesse contexto que sobressai toda a realidade e
importância da Igreja ´ a família de Deus.

E o Catecismo, ainda no primeiro parágrafo, explica como Deus refaz a sua


família:

´´Faz isto através do Filho, que enviou como Redentor e Salvador quando os
tempos se cumpriram. Nele e por Ele, chama os homens a se tornarem, no
Espírito Santo, seus filhos adotivos, e portanto os herdeiros da sua vida bem
´aventurada´´ (nº 9).

É preciso analisar essas palavras com muita atenção. É pelo Filho que o Pai refaz
a comunhão da humanidade consigo. O Filho se faz a Igreja (Corpo Místico de
Cristo). Pelo Batismo entramos nesse Corpo, e pelo Espírito Santo nos tornamos
filhos adotivos e, como conseqüência, herdeiros, de novo, da vida bem´aventurada
de Deus, que o pecado havia cancelado. Assim, voltaremos ao Paraíso.

Esta é a gloriosa história da nossa salvação que se completará pela Igreja,


quando ela estiver plenamente glorificada em Deus. É por isso que Santo
Agostinho dizia que:

´´ A Igreja é o mundo reconciliado´´.

Como a Igreja gloriosa é a consumação do Plano de Deus para a humanidade,


nada mais importante do que conhecê´la, amá´la e servi´la com todas as nossas
forças.

Quando Jesus a instituiu sobre Pedro e os Apóstolos, deixou claro que ela lhe
pertence:

´´Sobre esta Pedra edificarei a MINHA Igreja´´ (Mt 16,18).

Ela é a Esposa de Cristo, que ele ama com um amor eterno. Por ela sofreu a
paixão e derramou o seu sangue. Ele a ama como um Esposo apaixonado:

´´Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por
ela, para santificá´la, purificando´a pela água do batismo, para apresentá´la a si
mesmo toda glorificada, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito
semelhante, mas santa e irrepreensível´´ (Ef 5,25´27).

Essas palavras expressam o amor profundo de Jesus para com a ´´sua´´ Igreja.
Esse amor é tão grande e tão fundamental, que Deus quis que cada casal na
terra, pelo amor mútuo, refletisse na realidade cotidiana do matrimônio, esse
amor. É por isso que São Paulo ao falar aos efésios, do matrimônio, diz que ´´ é
grande esse mistério, quero dizer, com referência a Cristo e a Igreja´´.

A vida cotidiana do casamento nos ajuda a compreender melhor o amor de Cristo


para com a sua Esposa ´ a Igreja ´ e, vice´versa.

São Paulo, que entendeu profundamente essa maravilha, exortou os maridos a


amarem as suas esposas, ´´como a seu próprio corpo´´ (Ef 5,28). Com isto, quer
dizer também que a Igreja é o próprio Corpo de Cristo. ´´Quem ama a sua mulher
ama a si mesmo´´ (28). Quem ama a Igreja, ama a Cristo; é a mesma realidade.

O Papa Paulo VI, cujo amor à Igreja era imenso, assim se referiu a ela:

´´A Igreja! Ela é nosso amor constante, nossa solicitude primordial, nosso
pensamento fixo! ...

Não se ama a Cristo se não se ama a Igreja; e não amamos a Igreja se não a
amamos como a amou o Senhor: ´´Amou a Igreja e por ela se entregou´´ (Ef 5,25)
´´.

É preciso destacar o que disse o Papa: ´´Não se ama Cristo se não se ama a
Igreja´´, e podemos ir mais longe ainda e dizer: não se conhece a Cristo, se não
se conhece a Igreja; não se serve a Cristo, se não se serve a Igreja; não se
obedece a Cristo se não se obedece à Igreja; não se sujeita a Cristo, se não se
sujeita à sua Igreja, não está na verdade de Cristo quem não está na verdade da
Igreja...

O Concílio Vaticano II a chamou de ´´Lumen Gentium´´, isto é ´´Luz das Nações´´,


pois a sua Luz é a mesma Luz de Cristo.

´´Assim [Deus] estabeleceu congregar na Santa Igreja os que crêem em Cristo.


Desde a origem do mundo a Igreja foi pré´figurada. Foi admiravelmente preparada
na história do povo de Israel e na antiga aliança. Foi fundada nos últimos tempos.
Foi manifestada pela efusão do Espírito Santo. E no fim dos tempos será
gloriosamente consumada quando, segundo se lê nos Santos Padres, todos os
justos desde Adão, ´´do justo Abel ao último eleito´´, serão congregados junto ao
Pai na Igreja universal´´ (LG , 2).

É preciso termos bem claro que Deus decidiu estabelecer o seu Reino entre nós,
através da Igreja. Ensina´nos a ´´Lumen Gentium´´ que a Igreja tem ´´a missão de
anunciar e estabelecer em todas as gentes o Reino de Cristo e de Deus, e
constitui ela própria na terra o germe e o início deste Reino´´ (LG ,5).

Sem a Igreja não há, portanto, Reino de Deus.

Santo Agostinho escreveu que:

´´A Igreja recebeu as chaves do Reino dos Céus para que se opere nela a
remissão dos pecados pelo sangue de Cristo e pela ação do Espírito Santo. É
nesta Igreja que a alma revive, ela que estava morta pelos pecados´´.

O Catecismo mostra toda a realidade, beleza, missão e identidade da Igreja, ao


ensinar que ela é:

´´ Um projeto nascido no coração do Pai´´ (nº 759),

´´Prefigurada desde a origem do mundo´´(nº 760),

´´Preparada na Antiga Aliança´´ (nº761),

´´Instituída por Jesus Cristo´´(nº 763),

´´Manifestada pelo Espírito Santo´´ (nº 767),

´´A ser consumada na glória´´ (nº769),

´´ Mistério da união dos homens com Deus´´ (nº772),

´´Sacramento universal da salvação´´ (nº774),


´´Comunhão com Jesus´´ (nº787),

´´Corpo de Cristo´´ (nº787),

´´Esposa de Cristo´´ (nº796),

´´Templo do Espírito Santo´´ (nº797),

´´Povo de Deus´´ (nº781).

Todas essas expressões são profundíssimas e precisam ser analisadas e


conhecidas para podermos compreender o desígnio de Deus em relação à Igreja.
Sem isto não a amaremos como é necessário e como pediu o Papa Paulo VI.

Alguns perguntam: por que a Igreja ? Não basta a fé em Jesus Cristo?

A resposta é, que foi o próprio Jesus quem quis a Igreja como prolongamento de
sua presença salvadora no meio dos homens. Ele nos deu a Igreja e o seu Credo,
como garantia de que não estamos seguindo apenas o nosso bom senso, ou uma
religiosidade amorfa, mas estamos seguindo o caminho de Deus.

A Igreja é conseqüência direta do mistério da Encarnação, seu prolongamento.

Muitos querem hoje dizer Sim à Cristo, e Não à Igreja; mas isto afeta a própria
identidade do Cristianismo. A Igreja, instituída por vontade de Cristo, com suas
normas, como prolongamento da Encarnação do Verbo de Deus, se tornou o lugar
privilegiado do encontro dos homens com Cristo e com o Pai.

Quem pergunta: ´´Por que a Igreja?´´, incorre no mesmo erro de quem pergunta:
´´Por que Cristo?´´ Cristo veio do Pai e deixou a Igreja. O Pai enviou Jesus para a
salvação do mundo, e Cristo enviou a Igreja.

Muitos hoje querem a Igreja na forma de uma ´´democracia moderna´´, onde tudo
se decida pela vontade da maioria. Ela seria então como um grande Clube
religioso, de normas ´´flexíveis´´, mais assimiláveis. A conseqüência disso ´ e o
grande engano ´ é que neste caso o homem seria guiado unicamente por si
mesmo, e não por Deus. Não seria mais ´´a Igreja de Deus´´ (1Tm3,15).

Pelo fato da Igreja ter a sua vida guiada pela Tradição que vem de Cristo e dos
Apóstolos, dá´nos a garantia de que é o próprio Jesus, presente nela, que a
conduz.

O primeiro ´´Sacramento´´, o fundamental, é a santíssima humanidade de Jesus,


através da qual (gestos, palavras) passava a graça de Deus. A Igreja é a
continuação desse ´´Sacramento´´; por isso São Paulo a chama simplesmente de
´´o Corpo de Cristo´´ (Cl 1,24).
As expressões terminais desse Sacramento ´´Cristo ´ Igreja´´, são os sete
Sacramentos, que levam a salvação ao homem, do nascer até o morrer. E sem a
Igreja não há sacramentos; logo, não há salvação. Daí podemos ver claramente
que a Igreja é tão essencial ao Cristianismo quanto o mistério da Encarnação do
Verbo.

Num Cristianismo sem a Igreja instituída por Cristo (Mt 16,16s) sobre Pedro e os
Apóstolos, o próprio Cristo ficaria mutilado, como que degolado...

E essa Igreja é a única e una, católica (universal), apostólica e romana.

Os textos bíblicos, com referência à função de Pedro e dos Apóstolos, deixam


claro que Jesus quis uma Igreja estruturada e jurídica, sob o pastoreio supremo de
Pedro, e não como querem os protestantes, apenas uma comunidade espiritual
reunida só pela fé e pelo amor. Como ensina o Catecismo, ela é: ´´ao mesmo
tempo visível e espiritual´´(nº770), e afirma que:

´´O Senhor Jesus dotou a Sua comunidade de uma estrutura que permanecerá
até a plena consumação do Reino´´(nº761).

Jesus tinha consciência de que a Sua Igreja teria uma longa duração sobre a face
da terra até cumprir a missão de trazer para Deus toda a humanidade. As
parábolas sobre a Igreja mostram isso. A do joio e do trigo (Mt 13,1´30) nos
mostra que os bons e os pecadores vão conviver na Igreja, juntos, até o fim do
mundo. Jesus, ao explicar a parábola para os discípulos, diz´lhes que:

´´A colheita é o fim do mundo´´(Mt 13,40); e que só então ´´o Filho do homem
enviará seus anjos que retirarão do reino todos os escândalos e todos os que
fazem o mal... Então no reino do seu Pai, os justos resplandecerão como o sol´´
(vs 41´42).

A parábola do grão de mostarda (Mt 13,31´32) também indica a longa caminhada


e edificação da Igreja na terra, de maneira permanente e durável.

´´É a menor de todas as sementes, mas quando cresce, torna´se um arbusto


maior que todas as hortaliças, de sorte que os pássaros do céu vêm aninhar´se
em seus ramos´´.

O Reino de Deus [a Igreja], comparado à rede lançada ao mar e que apanha


peixes bons e ruíns (Mt 13,47´50), mostra´nos também que a Igreja veio para ficar
até o fim dos tempos, pois Jesus afirma que só então será feita a separação:

´´Assim será no fim do mundo: os anjos virào separar os maus do meio dos justos,
e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes´´.

Ainda as parábolas do banquete (Mt 8,19s) e do fermento na massa (Mt 13,33s),


indicam que a Igreja teria uma longa e paciente missão a cumprir, até a plena
consumação do Reino.

A Igreja não é portanto, apenas uma ´´Sociedade dos Amigos de Jesus e do


Evangelho´´, é muito mais do que isso, é uma Instituição criada pelo próprio
Jesus, integrada Nele, o Seu próprio Corpo, para desta forma ser o seu
prolongamento na história dos homens, reunindo´os Nele, para trazê´los de volta
para a Casa do Pai.

Por tudo isso, os cristãos dos primeiros tempos não tinham dúvidas em afirmar
que :

´´O mundo foi criado em vista da Igreja´´.

São Clemente de Alexandria (215), por exemplo, dizia:

´´Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, assim também sua
intenção é a salvação dos homens, e se chama Igreja´´(CIC,760).

Esta é a Santa Igreja do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, que São Paulo gosta
de chamar de ´´a Igreja de Deus´´(1Tm3,15; At20,28).

Muitos e muitos filhos dessa querida Mãe souberam ser´lhe fiel até o fim. Em
1988, Monsenhor Ignatius Ong Pin´Mei, Bispo de Shangai, no dia seguinte de sua
libertação, depois de passar 30 longos anos nas prisões da China, por amor a
Cristo e fidelidade à Igreja Católica, declarou:

´´Eu fiquei fiel à Igreja Católica Romana. Trinta anos de prisão não me mudaram.
Eu guardei a fé. Eu estou pronto amanhã a voltar novamente à prisão para
defender minha fé´´(PR).

Igualmente o Cardeal da Tchecoslováquia, Frantisek Tomasek, arcebispo de


Praga, no ano de 1985, nos tempos difíceis da perseguição comunista,
perguntado por um repórter: ´´Eminência, não está cansado de combater sem
êxito?´´, respondeu:

´´Digo sempre uma coisa: quem trabalha pelo Reino de Deus faz muito; quem
reza, faz mais; quem sofre, faz tudo. Este tudo é exatamente o pouco que se faz
entre nós na Tchecoslováquia´´( IL Sabato 8,14/06/85, p.11),( PR,n.284, jan86).

É bom recordar aqui que, alguns anos depois, em 1989, o comunismo começava a
desmoronar em toda a Cortina de Ferro...

Que o Senhor da Igreja, por intercessão de Sua Mãe Virgem e Santíssima, e do


seu glorioso pai, São José, patrono universal da Igreja, conceda a todos aqueles
que lerem piedosamente essas páginas, um amor profundo à sua Santa Esposa, a
Jerusalém celeste, na qual viveremos toda a eternidade em Deus. Amém.
DO Livro: ´´A MINHA IGREJA´´ DO Prof. Felipe de Aquino

Editora Cléofas
www.cleofas.com.br
Tel/Fax: (12) 3152-6566

Você também pode gostar