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Nosso distintivo de honra: nossa pertença à Igreja


Cf. Diretório de Espiritualidade, 227

Em um de seus primeiros parágrafos, nossas Constituições declaram que “queremos nos fundar
em Jesus Cristo... porque a rocha é Cristo1 e ninguém pode colocar outro fundamento2. Queremos amar e
servir, e fazer amar e fazer servir a Jesus Cristo: a seu Corpo e ao seu Espírito. Tanto ao Corpo
físico de Cristo na Eucaristia, quanto ao Corpo místico de Cristo, que é a Igreja: formada por nós
mesmos que, pela santidade de vida, devemos chegar a ser ‘outros Cristos’, e por todos os homens
nos quais vemos o próprio Cristo, em especial, os pobres, os pecadores e os inimigos. Queremos
ser ‘como outra humanidade sua’3, queremos ser cálices cheios de Cristo que derramam sobre
demais sua superabundância, queremos com nossas vidas mostrar que Cristo vive. E ao Espírito
de Cristo porque é a alma da Igreja e porque quem não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Ele4”5.
Manifestando com esta sucessão de “queremos” qual é o fundamento de nossa Família Religiosa
do Verbo Encarnado.

Em plena concordância e continuidade com o expresso, o Diretório de Espiritualidade afirma, sem


hesitações, que “não queremos saber nada fora Dela”6 , quer dizer, nada fora da Igreja, pois
“Cristo mesmo está Encarnado em seu Corpo, a Igreja”7. E desejamos fervorosamente que
“nossa pertença a Ela, pela fé e pelo Batismo, seja sempre nosso distintivo de honra”8.

Neste mês de maio em que providencialmente a liturgia nos propõe a celebração do Cristo da
Quebrada, data tão significativa para nós por ser o dia da graça fundacional e, algumas semanas
mais tarde, a Solenidade de Pentecostes, parece-nos que pode ser de proveito espiritual para todos
os membros do Instituto o voltar a contemplar a Vida mística do Verbo Encarnado, quer
dizer, “a maravilha da Igreja, Corpo de Cristo, alimentada pela Palavra de Deus, Una, Santa,
Católica –missionária e ecumênica–, Apostólica, enriquecida e apoiada nas três coisas brancas”9.
Igreja que, além disso, é quem “por sua autoridade, aceita e aprova”10 o carisma de um Instituto
precisamente “para a edificação do Corpo de Cristo”11.

É nosso desejo que a leitura destas considerações contribua para aprofundar e acrescentar nossa
fé na Vida mística do Verbo Encarnado, como pedíamos na novena em preparação para a
Anunciação do Senhor; e que, ao mesmo tempo, sirva para aprofundar cada vez mais nos
formosos textos que nosso direito possui sobre este tema.

1. Cristo, Cabeça da Igreja

Como não poderia ser de outro modo, já nas primeiras linhas de nossas Constituições confessamos
“Cristo que ‘permanece na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e os Bispos em

1 Cf. 1 Cor 10, 4.


2 1 Cor 3, 11.
3 SANTA ISABEL DA TRINDADE, Elevações, Elevação 34.
4 Rm 8, 9.
5 Constituições, 7.
6 Diretório de Espiritualidade, 244.
7 Diretório de Espiritualidade, 244; op. cit. Lumen Gentium, 8.
8 Cf. Diretório de Espiritualidade, 227.
9 Constituições, 44.
10 Diretório de Vida Consagrada, nota de rodapé da página 416; op. cit. Elementos Essenciais da Vida Religiosa, 11.
11 Diretório de Vida Consagrada, 318; op. cit. Lumen Gentium, 45.

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comunhão com ele’”12. Deste modo “confessamos a preeminência de Cristo, ainda enquanto
homem, sobre toda a criação. Primazia que Cristo tem sobre as almas e sobre os corpos dos
membros de seu Corpo místico e, também, sobre todos os homens de todos os tempos –é Cabeça
de todos– inclusive dos não predestinados, que só deixarão de ser membros em potência do
Corpo de Cristo quando saírem deste mundo”13.

E sem demora, o Diretório de Espiritualidade continua dizendo: “Confessamos que Cristo é Cabeça
da Igreja14 e de todos os homens15, que sobre todos tem uma tríplice primazia: de ordem, de
perfeição e de poder. Tem prioridade de ordem, já que por sua proximidade com Deus sua graça
é a mais elevada e a primeira – embora não temporalmente –, porque todos quantos recebem a
graça, a recebem em relação com a sua: os que de antemão ele conheceu, a esses também predestinou a serem
conformes à imagem do seu Filho, a fim de ser ele o primogênito entre muitos irmãos 16. Tem prioridade de
perfeição, porque possui a plenitude de todas as graças: nós vimos a sua glória... cheio de graça e de
verdade 17. Tem prioridade no poder, já que Ele tem todo o poder de comunicar a graça e a
glória a todos os membros de seu Corpo: de sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça18”19.
Segundo este último, poderíamos dizer que Cristo tem também primazia no influxo interior. É
uma influência física, íntima, vital, mística, analogamente comparável à influência da videira sobre
os seus ramos.

Do qual se segue que “absolutamente toda a humanidade de Cristo, seu corpo e sua alma, tem
influência em todos os homens e mulheres do mundo e em seus corpos e almas, e em todos os
tempos. Todos, porque pertencem ao Corpo místico, de fato (em ato) ou como possibilidade (em
potência), até os não batizados, ou os pagãos, ou pecadores, ou... todos! Recebem o influxo de
Cristo, por meio de graças atuais. Nem o demônio, nem o Anticristo são cabeça dos maus,
falando com propriedade, já que de maneira nenhuma podem exercer um influxo interior. Só
exercem uma influência exterior: por meio das tentações, dos maus exemplos, ou das infestações,
ou sugestões ou possessões. Enquanto o homem livremente quer apartar-se de Deus pelo pecado,
submete-se ao poder do demônio. E só neste sentido impróprio se pode chamar o demônio de
cabeça dos maus”20.

E por esta tríplice primazia do Verbo Encarnado como Cabeça da Igreja que é seu Corpo, “a
Igreja fundada sobre a pedra não poderá ser destruída”21. Seu Corpo Místico sofrerá feridas,
haverá ‘escândalos’ do mesmo modo que Ele foi pedra de tropeço, porque se a natureza humana
de Cristo sofreu a rejeição e a ‘aparente derrota’, por que pretender que seu Corpo Místico estará
isento disso? O Arcebispo Fulton Sheen escrevia em um de seus livros: “Se Ele permitiu que a
sede, a dor e uma sentença de morte afetassem ao seu Corpo físico, por que não permitiria que
as debilidades místicas e morais tais como a perda da fé, o pecado, os escândalos, as heresias, os
cismas e os sacrilégios afetassem ao seu Corpo Místico? O fato de que todas essas coisas
aconteçam não quer dizer que o Corpo Místico da Igreja não é Divino em sua mais íntima
natureza, como tampouco a Crucificação de nosso Senhor significou que Cristo não era de

12 Constituições, 1; op. cit. Lumen Gentium, 8.


13 Diretório de Espiritualidade, 4; op. cit. SANTO AGOSTINHO, De Trinitate, VI, 10; PL 34, 148; cf. SANTO TOMÁS DE AQUINO, S. Th., III, 59, 1
ad 2.
14 Cf. Ef 1, 22.
15 Cf. 1 Tm 4, 10; 1 Jo 2, 2.
16 Rm 8, 29.
17 Jo 1, 14.
18 Jo 1, 16.
19 Diretório de Espiritualidade, 5.
20 P. C. BUELA, IVE, El Arte del Padre, Parte II, cap. 1; cf. S. Th., III, Q. 8, A. 7.
21 SÃO JOÃO PAULO II, Audiência Geral (25/11/1992).

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natureza divina”22. “A presença do Espírito Santo na Igreja faz que ela, embora esteja marcada
pelo pecado de seus membros, esteja preservada da deserção”23.

São João Paulo II explicava que as palavras de nosso Senhor: Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja,
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela24 “testemunham a vontade de Jesus de edificar sua
Igreja, com uma referência essencial à missão e ao poder específicos que Ele, a seu tempo,
conferirá a Simão”[...] “A palavra pedra –continuava dizendo o Papa– expressa um ser
permanente, subsistente; por conseguinte, aplica-se à pessoa [de Pedro], mais que a um ato dele,
necessariamente passageiro. A duração da Igreja está vinculada à pedra. A relação Pedro-Igreja
repete em si o vínculo entre a Igreja e Cristo. Jesus, com efeito, diz: ‘Minha Igreja’. Isso significa
que a Igreja será sempre Igreja de Cristo, Igreja que pertence a Cristo. Não se converte em Igreja de
Pedro, mas sim, como Igreja de Cristo, está construída sobre Pedro, que é Kefas em nome e por
virtude de Cristo”25.

Frente aos vaivéns do tempo e as circunstâncias, sempre devemos ter presente que “nosso Senhor
é o Fundador, a Cabeça, o Sustentador e o Salvador deste Corpo místico” 26. Sabendo dar glória
a Deus confiando sem limites em sua Providência que tudo dispõe para o bem dos que O amam 27
e crer com firmeza inquebrantável que até os acontecimentos mais adversos e opostos à nossa
visão natural são ordenados por Deus para o nosso bem, embora não compreendamos seus
intuitos e ignoremos o término para o qual nos quer levar28.

O direito próprio dedica abundantes páginas a desenvolver o profundíssimo tema teológico da


Vida mística do Verbo Encarnado, já que dali brotam princípios essenciais para a nossa
espiritualidade. Não é nosso propósito transcrever agora tudo o que ali se diz –embora sim
recomendamos vivamente sua leitura29– mas quiséramos simplesmente assinalar alguns desses
elementos enraizados na fé no mistério da Vida mística de Cristo e que têm relação com nossa
vida consagrada e missão particular; já que foi o Espírito Santo quem lhe outorgou uma graça
singular a nosso Fundador para que, através dele, nossa Família Religiosa contribua para a
edificação da Igreja, segundo seu modo peculiar de viver a vida religiosa e o apostolado 30.

2. Distintivo de honra

Todos os membros do Instituto devem ter muito claro que “assim como o Verbo assumiu uma
natureza humana para cumprir o intuito de salvação, para prolongar esse intuito através dos
tempos escolhe outras naturezas humanas, para que a salvação chegue a todos os homens, de
todos os tempos. A Igreja é Jesus Cristo continuado, difundido e comunicado; é como a
prolongação da Encarnação redentora, ao continuar a tríplice função: profética, sacerdotal e
real”31. Unido a isso é imperioso recordar que nossa pertença à Igreja, não só pelo Batismo, mas
também pela fé, deve ser nosso distintivo de honra. Quer dizer, devemos nos destacar pelo amor
e obediência filial à nossa Santa Mãe Igreja.

22 Cf. Rock Plunged into Eternity, cap. 5. [Traduzido do inglês]


23 SÃO JOÃO PAULO II, Audiência Geral (08/07/1998).
24 Mt 16, 18.
25 Cf. SÃO JOÃO PAULO II, Audiência Geral (25/11/1992).
26 PIO XII, Carta encíclica Mystici Corporis Christi, 11 (29/06/1943).
27 Cf. Rm 8, 28.
28 Cf. Diretório de Espiritualidade, 67.
29 Diretório de Espiritualidade, 226-312.
30 Cf. Diretório de Vida Consagrada, 319.
31 Diretório de Espiritualidade, 227.

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E não poderia ser de outro modo, já que a fé na Igreja vai indefectivelmente unida à fé no mistério
do Verbo Encarnado. “Pois não se pode separar à Igreja de Cristo, nem Cristo da Igreja”32.

Bem sabemos que o Espírito Santo, logo depois da Ressurreição e Ascensão de Jesus aos céus,
foi enviado à Igreja33 precisamente no dia de Pentecostes. “Portanto, o Espírito Santo é um dom
dado por Deus à Igreja: recebereis o dom do Espírito Santo34 dom que, ao mesmo tempo, a vivifica
[...] e a vivifica a tal ponto que, com razão, é denominado ‘Alma da Igreja’” 35. Sendo assim, o
Espírito Santo desempenha um papel fundamental, essencial, constitutivo da Igreja. É Ele a fonte
de unidade da Igreja e a fonte de santidade; é penhor da vida eterna: o Espírito da promessa, que é
objeto de nossa herança36, é quem nos auxilia, já que o Espírito vem em auxílio de nossa fraqueza, porque
não sabemos pedir como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis 37; é Ele quem
enriquece a Igreja com a diversidade de seus dons: é o único e mesmo Espírito que tudo isso realiza,
distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz38. Notem vocês que “o Espírito Santo habita na
Igreja, não como um hóspede estranho, mas como a alma que transforma a comunidade em
templo santo de Deus39 e a assimila continuamente a si por meio de seu dom específico que é a
caridade40”41.

Por este motivo, o direito próprio paternalmente nos exorta a “pedir sempre ao Senhor que nos
conceda seu Santo Espírito e a docilidade a Ele, de modo que pertençamos cada vez mais a Cristo
e, por conseguinte, ao seu Corpo místico, já que quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a
Ele42”43.

“Esta realidade hierárquica e, ao mesmo tempo mística, visível e espiritual, terrestre e celestial,
canônica e carismática, humana e divina, por uma profunda analogia ‘se assemelha ao Mistério
do Verbo Encarnado’44, já que ‘Cristo mesmo está Encarnado em seu Corpo, a Igreja’45. Portanto,
nós que nos honramos de nos chamar religiosos ‘do Verbo Encarnado’, trairíamos
gravissimamente nosso carisma se não trabalhássemos por ter uma autêntica espiritualidade
eclesiástica, que nos incorpore plenamente à Igreja do Verbo Encarnado”46.

Portanto, não só confessamos nossa fé na Igreja como manifestação da Vida Mística do Verbo
Encarnado no tempo, mas também procuramos nos destacar por nossa pertença a Ela com toda
a nossa vida.

Sem ir mais longe, nossa consagração mesma não se entende senão na Igreja e, por isso,
“desejamos viver em um estado que ‘imita mais de perto e representa perpetuamente na Igreja
aquela forma de vida que o Filho de Deus escolheu ao vir ao mundo...’”47. E assim “movidos
pela caridade... queremos viver cada vez mais para Cristo e seu Corpo, que é a Igreja”48.
32 SÃO JOÃO PAULO II, Carta aos participantes na XV Assembleia geral dos religiosos do Brasil (11/07/1989).
33 Cf. Diretório de Espiritualidade, 234.
34 At 2, 38.
35 Cf. Diretório de Espiritualidade, 234.
36 Ef 1, 13-14.
37 Rm 8, 26.
38 1 Cor 12, 11.
39 1 Cor 3, 17; cf. 6, 19; Ef 2, 21.
40 Cf. Rm 5, 5; Gl 5, 22.
41 SÃO JOÃO PAULO II, Audiência Geral (08/07/1998).
42 Rm 8, 9.
43 Diretório de Espiritualidade, 235.
44 Lumen Gentium, 48.
45 SÃO JOÃO PAULO II, Discurso durante o encontro de oração em Toronto (15/09/1984), 5; OR (30/09/1984), 15.
46 Diretório de Espiritualidade, 244.
47 Constituições, 2; op. cit. Lumen Gentium, 44.
48 Cf. Diretório de Vida Consagrada, 23; op. cit. Perfectae Caritatis, 1.

pg. 4

A existência de nosso Instituto e o que orienta sua ação é precisamente a relação vital com a
Igreja, como bem o expressa o direito próprio ao longo e largo de todos os seus documentos.
Aqui só faremos notar alguns elementos que o manifestam:

▪ Estamos convencidos de que “só na mais absoluta fidelidade ao Espírito Santo se pode
destramente fazer uso da espada do Espírito, que é a Palavra de Deus49. Nosso pobre alento
unicamente é fecundo e irresistível se está em comunicação com o vento de Pentecostes” 50. E,
por isso, não concebemos a leitura da Sagrada Escritura senão quando feita ‘em Igreja’51, para o
qual consideramos como absolutamente necessária a mais estrita fidelidade ao Magistério
supremo da Igreja de todos os tempos, norma próxima da fé 52. Com efeito, para nós “a Palavra
de Deus deve ser ‘aprofundada em Igreja’53, quer dizer, com o mesmo Espírito com que foi
escrita54. Só assim entendida, a Palavra de Deus se converte na força de nosso Instituto 55. Disto
se segue que a formação que repartimos aos nossos formandos “‘se apoia e se constrói sobretudo
no estudo da sagrada doutrina e da teologia’56, que provém da fé e trata de conduzir a ela, como
sempre ensinaram o Magistério da Igreja e os teólogos católicos”57. Mais ainda: “os ensinamentos
da Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual Gaudium et spes do Concílio Vaticano II,
as Exortações Apostólicas Evangelii nuntiandi e Catechesi tradendae, o discurso do Papa São João
Paulo II à UNESCO e outros sobre o mesmo tema, o Documento de Puebla, a Carta Encíclica
Slavorum Apostoli, a Carta Encíclica Redemptoris missio, a Exortação Apostólica Pós-sinodal Pastores
dabo vobis, n. 55, c; e todas as futuras diretivas, orientações e ensinamentos do Magistério ordinário
da Igreja que possam ser dados sobre o fim específico de nossa pequena Família Religiosa” 58,
constituem nossa regra de trabalho, a fim de realizar uma contribuição real à missão que nos foi
encomendada. Por isso, não só dizemos, mas também nos ocupamos e preocupamos por “ser
homens dóceis à grande disciplina da Igreja, expressa no Código de Direito Canônico, em todas as
demais normas e leis eclesiásticas, e dóceis à disciplina particular de nosso Instituto”59.

▪ Por sua vez, nossas Constituições assinalam que “o espírito de nossa Família Religiosa não
quer ser outro senão o Espírito Santo e, caso se degenere em outro, a partir de agora e de
qualquer lugar, comprometemos nossa súplica para que o Senhor a apague da face da Igreja” 60.

Todos os membros do Instituto –sejam eles irmãos, seminaristas, sacerdotes, monges, noviços–
formam na Igreja a mesma e única Congregação; independentemente do lugar de origem ou do
lugar onde missionem, de quantos anos tiverem de vida religiosa, dos títulos acadêmicos que
possuam ou não, dos cargos que desempenhem, etc. Todos temos a mesma regra, o mesmo
carisma, o mesmo patrimônio espiritual, todos temos a mesma missão, quer dizer, a de “trabalhar,
em suma docilidade ao Espírito Santo e dentro da impronta de Maria, a fim de ensenhorear
para Jesus Cristo tudo o que é autenticamente humano, inclusive nas situações mais difíceis e nas
condições mais adversas”61. Por isso, um intenso amor fraterno nos deve unir hoje e sempre em
nossa vocação.
49 Ef 6, 17.
50 Constituições, 18.
51 SÃO JOÃO PAULO II, Discurso ao Conselho internacional das Equipes de Nossa Senhora (17/09/1979); OR (30/09/1979), 8.
52 Cf. Diretório de Espiritualidade, 222.
53 SÃO JOÃO PAULO II, Alocução aos bispos de Mali (26/03/1988); OR (24/04/1988), 11; cf. SÃO JOÃO PAULO II, Renovar a família à luz do

Evangelho. Discurso ao Conselho Internacional das Equipes de Nossa Senhora (17/09/1979); OR (30/09/1979), 8.
54 Dei Verbum, 11.
55 Cf. Diretório de Espiritualidade, 238.
56 Pastores Dabo Vobis, 53.
57 Diretório de Espiritualidade, 223.
58 Constituições, 27.
59 Constituições, 217.
60 Constituições, 18.
61 Constituições, 30.

pg. 5

O Espírito Santo, “Alma da Igreja”, é espírito de caridade e o direito próprio lança inumeráveis
provisões para que se viva segundo esse espírito como parte integral e essencial de nossa fidelidade
ao carisma e à mesma vocação recebida dentro da Igreja. Por exemplo, nos indica, e aqui
gostaríamos de enfatizar, que “deve-se buscar, por todos os meios, que ‘ninguém se perturbe ou
se entristeça na casa de Deus’62. Para o qual é totalmente imprescindível viver a caridade
fraterna: ‘isto é: tenham a outros por mais dignos63; tolerem pacientissimamente suas fraquezas, quer
do corpo quer morais; rivalizem em prestar mútua obediência; ... ponham em ação castamente a
caridade fraterna. Temam a Deus com amor; amem ao seu Abade (superior) com sincera e
humilde caridade. Nada absolutamente anteponham a Cristo, que nos conduza juntos para a vida
eterna64”65.

Sem caridade para com os irmãos, sejam estes iguais, súditos ou superiores, nossa confissão de
fé na Vida mística do Verbo Encarnado que se estende a toda alma em graça, não serve de nada;
por mais que fulano de tal tenha lido todos os documentos do Magistério, por mais que passe
anos de missionário em longínquos países ou que se sacrifique no silêncio do claustro, por mais
que se diga filho muito obediente da Igreja, por mais que se diga muito fiel ao carisma do Instituto
e aparente seguir exteriormente todas as suas regras... porque quem diz que ama a Deus e não
ama a seus irmãos, é um mentiroso66. E não só isso, uma pessoa assim “embora esteja conosco
com o corpo, não pertence à nossa família espiritual”67, já que trai ou se aparta gravemente do
espírito de nossa Família Religiosa que é o Espírito Santo, Espírito de Caridade.

▪ Sendo “essencialmente missionários”68 nós, os membros do Instituto como filhos fiéis da Igreja,
estamos dedicados por vocação à difusão do Evangelho. O Espírito Santo é quem guia o nosso
discernimento da realidade para interpretar os sinais dos tempos e saber responder com o ímpeto
dos Santos69 às necessidades missionárias da Igreja de hoje.

Além do mais, “realizaremos todos os nossos empreendimentos missionários em comunhão


com a Igreja, sendo conscientes que corresponde ao Dicastério missional dirigir e coordenar
em todo o mundo a obra de Evangelização dos povos e a cooperação missionária”70.

Em vista disso, nossos Seminários maiores preparam os futuros sacerdotes pela Igreja e para a
Igreja71: portanto, a formação pastoral dos candidatos se empenha em fazer-lhes conhecer e
viver as dimensões eclesiásticas72, convidando-lhes a abrir suas mentes e seus corações, e fazê-
los disponíveis para todas as possibilidades que lhes sejam oferecidas de anunciar o Evangelho 73.
Dita formação busca ainda que todos os nossos candidatos estejam dispostos a ser enviados para
pregar o Evangelho a qualquer parte do mundo74 e a “interessar-se ‘não só pela Igreja particular...
mas também pela Igreja universal’”75. Por estarmos “convencidos de que a dimensão missionária
da vida eclesiástica não é algo que depende simplesmente da generosidade pessoal, mas pertence

62 SÃO BENITO, Santa Regra, XXXI, 19.


63 Rm 12, 10.
64 SÃO BENITO, Santa Regra, LXXII, 1-12.
65 Cf. Diretório de Espiritualidade, 95.
66 Cf. 1 Jo 4,20 citado no Diretório de Obras de Misericórdia, 15b.
67 Diretório de Espiritualidade, 42.
68 Constituições, 31.
69 Diretório de Espiritualidade, 216.
70 Diretório de Missões Ad Gentes, 159.
71 Diretório de Seminários Maiores, 427.
72 Ibidem.
73 Cf. Diretório de Seminários Maiores, 428.
74 Cf. Constituições, 183.
75 Diretório de Seminários Maiores, 429.

pg. 6

à natureza mesma da Igreja76 e do sacerdócio ministerial”77, damos grande importância a que
nossos seminaristas se encham “de um espírito tão católico que se acostumem a transpassar os
limites da própria diocese ou nação ou rito e ajudar às necessidades de toda a Igreja, preparados
para pregar o Evangelho em todas partes”78.

Prova disso é que nossos missionários dedicam todas as suas forças no serviço da grande obra
da instauração e extensão do reino de Cristo no mundo e se acham hoje em dia em 44 países
desempenhando grande variedade de trabalhos apostólicos. E como “o amor de Deus, da Igreja
e das almas nos impõe o trabalho apostólico vocacional” 79 já que o tema das vocações “afeta a
toda a Igreja em uma de suas notas fundamentais, que é a de sua apostolicidade” 80, na atualidade
podemos dar graças a Deus que no curso de nossa curta história como Instituto religioso e
missionário nos abençoou com numerosas vocações nativas dos lugares onde missionamos e,
inclusive, de países onde não estamos ainda. De fato, nossas numerosas vocações em formação
provêm de 45 países diferentes. Pois como bem dizia São João Paulo II: “As vocações ao
sacerdócio e à vida consagrada são um sinal seguro da vitalidade de uma Igreja”81. Deo gratias!

▪ A Vida mística do Verbo Encarnado se acha enriquecida e apoiada nas três coisas brancas 82: a
Eucaristia, a Santíssima Virgem Maria e o Papa. “A Igreja é o Corpo de Cristo. Isto significa que
a Eucaristia, na qual o Senhor entrega seu Corpo e nos transforma em um só Corpo 83, é o lugar
onde permanentemente a Igreja se expressa em sua forma mais essencial” 84. Neste sentido,
assinala o direito próprio que “a unicidade e indivisibilidade do Corpo eucarístico do Senhor
implica a unicidade e indivisibilidade do Corpo místico do Senhor. De cada Eucaristia surge o
entregar-se ao Senhor inserindo-se em seu Corpo uno e indiviso”85.

Consequentemente, pelo espírito de fé que nos anima e que nos foi legado temos como lema
“com Pedro e sob o Pedro”86. Já que “a unidade da Eucaristia e a unidade do Episcopado... não
são raízes independentes da unidade da Igreja, porque por instituição do mesmo Cristo,
Eucaristia e Episcopado são realidades essencialmente vinculadas 87”88.

Sendo assim, sempre encontraremos o fundamento mais profundo de nossa unidade como
Família Religiosa na Eucaristia89. A Eucaristia é um de nossos grandes amores, é o principal, o
mais importante que devemos fazer em cada dia90. Prova disso é a grande importância e o grande
cuidado que pomos na celebração da Santa Missa em nossas comunidades religiosas e
missionárias, pois onde quer que vamos, a Eucaristia dominical, especialmente, é central 91. Dali
emana a nossa pastoral da santidade como fonte e meio para estabelecer uma cultura
verdadeiramente cristã.

76 Cf. Ad Gentes, 2.
77 Diretório de Seminários Maiores, 430.
78 Ibidem.
79 Diretório de Vocações, 1.
80 Diretório de Espiritualidade, 288; op. cit. SÃO JOÃO PAULO II, Meditação dominical à hora meridiana do Regina Coeli (16/04/1989), 3; OR

(23/04/1989), 1.
81 Homilia durante a Missa celebrada no Seminário maior regional de Seul, Coréia (03/05/1984), 4; OR (13/05/1984), 2. Citado no Diretório de

Espiritualidade, 291.
82 Cf. Constituições, 44.
83 Cf. Lumen Gentium, 3. 11.
84 Diretório de Espiritualidade, 295.
85 Diretório de Espiritualidade, 298.
86 Constituições, 211; op. cit. Ad Gentes, 38.
87 Cf. Lumen Gentium, 26
88 Cf. Diretório de Espiritualidade, 299.
89 Cf. Diretório de Espiritualidade, 300.
90 Diretório de Vida Consagrada, 202.
91 Cf. Diretório de Evangelização da Cultura, 244.

pg. 7

▪ “Por ser a Igreja ‘Sacramento universal de salvação’92 está aberta à dinâmica missionária e
ecumênica, e não reclinada sobre si mesma, já que foi enviada para anunciar e testemunhar,
atualizar e estender o mistério da comunhão que a constitui; para reunir tudo e todos em Cristo 93.
Por isso, à imagem da Igreja, nossa pequena Família Religiosa nunca deve estar reclinada sobre
si mesma, mas deve estar aberta como os braços de Cristo na Cruz, que tinha, de tanto os abrir
de amores, os braços desconjuntados”94. Por conseguinte, todos os membros do Instituto fazem
sua a causa ecumênica da Igreja pois é nossa determinação “trabalhar com todas as nossas forças
para edificar nossa vida em união com os legítimos Pastores, especialissimamente com uma
adesão cordial ao Bispo de Roma, mostrando assim a Igreja una:

- Para que todos os cristãos cheguem à unidade perfeita a fim de que se cumpra a promessa e
profecia do Senhor: Haverá um só rebanho, um só Pastor (Jo 10, 16), e alcance fruto sua oração: Pai,
que todos sejam um (Jo 17, 21). É a obra ecumênica.

- Para que todos os homens confessem o adorável Nome do Senhor Jesus, cumprindo com seu
mandamento: Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura (Mc 16,15). É a obra
missionária. Não esquecendo que: “é a verdade, acima de tudo, a que constrói a unidade: a
comunhão de inteligências facilmente se transforma em união de corações...’95”96.

É nossa missão, portanto, permanecer “abertos a toda partícula de verdade onde quer que se
encontre”97 para descobrir “as sementes do Verbo”, com gozo e respeito, a fim de buscar que os
homens despertem para um desejo mais veemente da verdade e da caridade98.

Sem esquecer que existem inumeráveis homens e mulheres que ainda não ouviram o Nome de
Jesus e a quem não se ofereceu ainda o imenso dom da salvação, cada dia devemos nos empregar
na proclamação explícita de Jesus como Senhor, sem a qual não pode existir uma verdadeira
evangelização. Ao mesmo tempo, a inculturação e o diálogo inter-religioso desempenham um
papel importante em vários lugares onde estamos; ali nossos missionários em comunhão plena
com a Igreja de Cristo propõem a verdade da redenção que Deus realizou em Jesus. Adicionemos
aqui que um diálogo sério e aberto com as culturas e as religiões não deveria ser considerado
como oposto à missão ad gentes, mas “parte da missão evangelizadora da Igreja”99. Isto supõe, por
parte dos nossos missionários, uma séria preparação pessoal, dons amadurecidos de
discernimento, fidelidade aos critérios indispensáveis de ortodoxia doutrinal, integridade moral e
comunhão eclesiástica100. “Nunca se deve esquecer que o diálogo pode aprofundar e purificar a
fé católica, mas não pode substituí-la”101, posto que “a unidade buscada pelo ecumenismo não
só não pode prescindir da verdade, mas também é unidade na verdade mesma”102.

▪ Afirmam as nossas Constituições que o Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, [está] formada
por nós mesmos que, pela santidade de vida, devemos chegar a ser ‘outros Cristos’ 103. Portanto,

92 Lumen Gentium, 48.


93 Cf. Mt 28, 19-20; Jo 17, 21-23; Ef 1, 10; Lumen Gentium, 9. 13. 17; Ad Gentes, 1.
94 Cf. Diretório de Espiritualidade, 263.
95 SÃO JOÃO PAULO II, Alocução aos sacerdotes, religiosos, religiosas, membros de institutos seculares e seminaristas no Centro Pastoral Paulo VI

(13/05/1982), 8; OR (23/05/1982), 10.


96 Diretório de Espiritualidade, 59.
97 Constituições, 231.
98 Cf. Diretório de Espiritualidade, 264.
99 Diretório de Missões Ad Gentes, 101.
100 Cf. SÃO JOÃO PAULO II, Aos capitulares da Sociedade do Verbo Divino (30/06/2000).
101 Diretório de Ecumenismo, 118.
102 Diretório de Ecumenismo, 108.
103 Constituições, 7.

pg. 8

resulta natural que o direito próprio nos exorte a nos formar na virtude de acordo com a doutrina
dos grandes mestres da vida espiritual... e de todos os Santos de todos os tempos que a Igreja
propõe como exemplares para que imitemos suas virtudes. De modo tal que “seguindo o Papa
na doutrina e os santos na vida, jamais nos equivocaremos, já que nem o Papa pode equivocar-
se nos ensinamentos da fé e da moral, nem se equivocaram os santos na prática das virtudes”104.
Além disso, a Santíssima Virgem, membro eminentíssimo do Corpo Místico de Cristo, é outro
de nossos grandes amores por “sua união com Cristo e com a Igreja. Por nos ter gerado, os
membros, junto à Cabeça. Por nos ter sido dada como Mãe”105. Pois, “não se pode falar de Igreja
se Maria não estiver presente... à única Igreja de Cristo é essencial a dimensão mariana, como
lhe é essencial a dimensão eucarística e a dimensão petrina”106. Com efeito, Maria é para nós
modelo de comunhão eclesiástica e a imagem e princípio da Igreja 107, e cremos firmemente que,
assim como esteve em meio aos Apóstolos, está em meio a nós e à Igreja de todos os tempos 108.

Do mesmo modo, em nossa tarefa de anunciar o Evangelho, já desde os inícios do Instituto, nos
foi inculcado fazê-lo sempre “com o ardor e o entusiasmo dos Santos, ainda nos momentos de
dificuldade e perseguição em um mundo descristianizado e ateu”109. Porque “os Santos são sinal
eloquentíssimo da vitalidade da Igreja, eles sempre transformaram o mundo. Foram os
verdadeiros reformadores do mundo e da Igreja. São os melhores membros do Corpo Místico
de Cristo. São o maior e mais completo fruto da Encarnação e da Redenção. Os Santos foram as
exímias testemunhas e protetores da Tradição divina da Igreja, ou seja, recordam e transmitem
com suas vidas o alento mesmo da Igreja. Eles souberam superar todos os obstáculos que se
opunham à Evangelização e, portanto, são modelos a seguir e aos quais devemos acorrer na obra
de Evangelização”110.

▪ “Nosso terceiro grande amor [é e] deve ser sempre a branca figura do Papa: ‘Ali onde está
Pedro, ali está a Igreja’” 111. Pois entendemos que “a ideia de Corpo das Igrejas reclama a
existência de uma Cabeça das Igrejas, que é precisamente a Igreja de Roma”112. Sendo assim, nós,
os membros do Instituto, em qualquer lugar que nos encontremos, nos esforçamos por dar
“testemunho de uma comunhão firme e convencida em filial relação com o Papa, centro perpétuo
e visível de unidade da Igreja universal, e com o bispo, ‘princípio e fundamento visível de unidade’
na Igreja particular, e na ‘mútua estima entre todas as formas de apostolado na Igreja’” 113.
Consequentemente, “fazemos nosso o ensinamento de Santo Inácio de Loyola: ‘Para em tudo
acertar, devemos estar sempre dispostos a crer que o que nos parece branco é negro, se assim o
determina a Igreja hierárquica’114”115. Porque “estar em tudo com o Papa quer dizer estar em tudo
com Deus; amar a Jesus Cristo e amar ao Papa é o mesmo amor”116, já que “... amar o Papa, amar
à Igreja, é amar a Jesus Cristo”117.

104 Cf. Constituições, 212-213.


105 Diretório de Espiritualidade, 303.
106 Cf. Diretório de Espiritualidade, 306.
107 Cf. Diretório de Espiritualidade, 304.
108 Cf. Diretório de Espiritualidade, 305.
109 Diretório de Missões Ad Gentes, 143.
110 Ibidem.
111 Diretório de Espiritualidade, 309; op. cit. SANTO AMBRÓSIO, Enarr. In Psalmos, XL, 30.
112 Diretório de Espiritualidade, 310.
113 Diretório de Terceira Ordem, 70; op. cit. Christifideles Laici, 30.
114 SANTO INÁCIO DE LOYOLA, Exercícios Espirituais, [365].
115 Diretório de Espiritualidade, 312.
116 SÃO LUÍS ORIONE, Cartas, I, 99; cit. no OR (24/07/1992), 1; citado no Diretório de Espiritualidade, 312.
117 SÃO LUÍS ORIONE, “Carta de 1 de julho de 1936”, em Cartas, 133.

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Persuadidos de que “se deve amar o Papa na cruz; e quem não o ama na cruz, não o ama
seriamente”118, o direito próprio faz própria a expressão de São Luís Orione que diz: “Nós
devemos nos anonadar aos pés da Igreja e dos Superiores e obedecer por amor a Cristo e ser como
trapos… que ninguém jamais nos supere em obediência filial, em obsequiosidade e amor ao Papa
e aos Bispos, a quem o Espírito Santo colocou para governar a Igreja de Deus” 119.

3. Para enriquecer a sua única Igreja

Desde o Pentecostes até os nossos dias, o Espírito Santo derrama seus dons em uma grande
multiplicidade de formas para com eles enriquecer a sua única Igreja, que, em sua variada beleza,
desdobra na história a inescrutável riqueza de Cristo120. Em todo o caso, trata-se sempre de um dom
divino, fundamentalmente único, ainda dentro da multiplicidade e variedade dos dons espirituais,
ou carismas, concedidos às pessoas e às comunidades121.

Dentro da imensidão de dons com os quais Deus se compraz em adornar a sua Igreja se acham
os carismas concedidos a homens e mulheres destinados a fundar obras eclesiásticas e
especialmente institutos religiosos, os quais recebem sua caracterização dos carismas dos
fundadores, vivem e atuam sob seu influxo e, na medida de sua fidelidade, recebem novos
dons122, como explicava São João Paulo II. De fato, o Concílio observa que “a Igreja recebeu e
aprovou de bom grado com sua autoridade” as famílias religiosas 123; pois lhe compete, acima de
tudo, não extinguir o Espírito, mas sim discerni-lo e ficar com o que é bom124. Essa “é a razão
pela qual a Igreja defende e sustenta o caráter próprio dos diversos institutos religiosos” 125 .

Daí que “um verdadeiro religioso guarda fidelidade e mostra um grande amor não só ao dom da
vida religiosa, mas também ao seu próprio instituto, que inclui, de modo particular, “a mente e
propósito do Fundador”126 e as Constituições”127 já que, em última instância, se trata de ser fiéis ao
dom de Deus e à sua Igreja, que suscitou nossa Família Religiosa para um serviço eclesiástico
específico: a evangelização da cultura.

Tendo a Igreja erigido canonicamente nosso Instituto e aprovado suas Constituições naquele 8 de
maio de 2004, há um vínculo particular recíproco entre ambos, pois a partir desse momento
nosso Instituto começou a fazer parte do patrimônio espiritual e apostólico da Igreja 128.

Por isso, muito próximos de celebrar o dia da graça fundacional e dentro do contexto eclesiástico
que viemos tratando, parece-nos conveniente voltar a citar aquela advertência paternal que nos
fazia o Pai Espiritual de nosso Instituto dizendo: “às vezes se encontra nos dias atuais um pré-
juízo segundo o qual se deveriam eliminar as ‘diferenças’ que caracterizam e distinguem entre si
os institutos religiosos. Cada instituto deve preocupar-se de manter sua própria ‘fisionomia’, o

118 SÃO LUÍS ORIONE, Cartas, I, 99; cit. no OR (24/07/1992), 1; citado no Diretório de Espiritualidade, 312.
119 Diretório de Espiritualidade, 76; op. cit. SÃO LUÍS ORIONE, “Carta sobre a
obediência aos religiosos da Pequena Obra da Divina Providência.
Epifania de 1935”, em Cartas de Dom Orione, ed. Pio XII, Mar del Plata 1952.
120 Ef 3, 8.
121 Cf. SANTO TOMÁS DE AQUINO, S. Th., II-II, 103, 2.
122 Catequese sobre a vida consagrada (28/09/1994).
123 Perfectae Caritatis, 1.
124 Cf. 1 Ts 5, 19.21; cf. 5, 12; op. cit. Lumen Gentium, 12.
125 Diretório de Vida Consagrada, 316; op. cit. Potissimum Institutioni, 16.
126 Cf. Código de Direito Canônico, cânon 578.
127 Diretório de Vida Consagrada, 317.
128 Cf. ELIO GAMBARI, Vita Religiosa secondo IL Concilio e IL nuovo Diritto Canonico, Roma 1985, 50; citado em Diretório de Vida Consagrada,

323.

pg. 10

caráter específico de sua própria razão de ser, que exerceu um atrativo, que suscitou vocações,
atitudes particulares, dando um testemunho público digno de apreço. A final de contas, é ingênuo
e presunçoso crer que cada instituto deve ser igual a todos outros, praticando um amor geral a
Deus e ao próximo. Quem assim pensasse, esqueceria um aspecto essencial do Corpo Místico: a
heterogeneidade de sua constituição, o pluralismo de modelos nos quais se manifesta a vitalidade
do espírito que o anima, a transcendente perfeição humana e divina de Cristo, sua Cabeça, que
só pode ser imitada segundo os inumeráveis recursos da alma animada pela graça”129.

Conscientes da grande importância de nossa vocação específica, tanto para nossa Família
Religiosa como para toda a Igreja, conheçamos, aprofundemos, vivamos com convicção e
transmitamos a espiritualidade própria do Instituto a toda a Igreja.

* * * * *

Como dizíamos no início, este mês de maio que hoje iniciamos está semeado de datas muito
significativas para nosso Instituto: dia 3 de maio, dia da graça fundacional; dia 8 de maio,
solenidade da Virgem de Luján –Rainha do Instituto–; e dia 23 de maio, solenidade de
Pentecostes, dia em que nasceu a Igreja. Todas elas nos convidam a fazer uma pausa e celebrar
o dom que o Espírito Santo concedeu a nosso Instituto em relação às necessidades crescentes da
Igreja e do mundo. Saibamos reconhecer no magnífico carisma e patrimônio espiritual de nosso
Instituto um dos signos mais claros da generosidade divina, que inspirou e segue dando impulso
à generosidade de tantas almas. É preciso alegrar-se de verdade por este fato já que indica que,
entre os homens, se estende e aprofunda o sentido do serviço ao reino de Deus e ao
desenvolvimento da Igreja.

Tenhamos confiança naquele que nos chamou, o próprio Verbo Encarnado, Cabeça da Igreja.
Ele nos confiou o maravilhoso dom desta vocação especial em função de toda a Igreja, para que
vamos e demos fruto, um fruto que permaneça130. Tenhamos confiança em Deus cujo poder, agindo
em nós, é capaz de fazer muito além, infinitamente além de tudo o que nós podemos pedir ou conceber, ele seja a
glória na Igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações dos séculos dos séculos! Amém 131.

Que Maria Santíssima, Mãe da Igreja, a quem celebraremos com grande solenidade neste próximo
8 de maio, sempre abençoe e proteja a vida de nosso Instituto. Que por sua intercessão o Senhor
nos conceda seu Santo Espírito, e a docilidade a Ele, de modo que pertençamos cada vez mais a
Cristo132 e, por conseguinte, ao seu Corpo místico, e possamos “cantar sempre as misericórdias
de Deus”133.

129 À União Internacional de Superioras Gerais em Roma (14/05/1987); op. cit. Perfectae Caritatis, 2b.
130 Cf. Jo 15, 16.
131 Ef 3, 20-21.
132 Diretório de Espiritualidade, 235.
133 Constituições, 39.

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