Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
"O Espírito Santo, em meio à história, às áridas derrotas, abre os corações para a
esperança, estimula e favorece em nós o amadurecimento interior no relacionamento
com Deus e com o próximo”.1 Com esta afirmação do Papa Emérito Bento XVI
queremos iniciar este estudo sobre o Espirito Santo.
Estudar o Santo Pneuma de nossas vidas é entender a sua missão e o que ele
realiza na vida de cada homem que estiver aberto a esta experiência, pois como já disse
São Paulo aos Romanos, “o Espirito vem em auxílio de nossa fraqueza”(Rm 8,26).
O objetivo deste estudo é entender apessoa do Espirito Santo em comunhão com
o Pai pelo Filho e sua missão na história da salvação, no estudo teológico, na vida da
Igreja e na liturgia. Já em nosso Credo professamos que o Espirito Santo “é o Senhor
que dá vida” e por isso não se pode estudar este tratado sem entender que ele é a
consumação da obra divina de Deus Pai em Jesus Cristo para a vida do homem.
Queremos propor não um tratado aprofundado sobre o Espirito Santo, mas dar noções
básicas para que futuramente exista um interesse pessoal e um estudo permanente sobre
este tratado tão importante da vida da Igreja.
O nosso estudo será dividido da seguinte maneira: a) falaremos brevemente
sobre o estudo do Espirito Santo na Teologia, qual seu lugar e sua tarefa; b) passaremos
pela verificação Bíblica, na qual entenderemos a ação do Espirito pelos fundamentos
bíblicos; c) e uma breve abordagem histórica-dogmática. Por estas partes abordaremos
definições e pontos importantes para estudo do Espirito Santo na vida da Igreja.
Em toda história da Igreja, o Espirito Santo foi este protagonista que protegeu e
protege a Igreja. Sua ação revela o amor infinito que o Esposo-cordeiro tem pela Esposa
bela, a Igreja. Nunca a Igreja ficou sem auxílio do defensor. O Espirito sempre será este
Doce hóspede da alma eclesial que anima e reanima toda Igreja. Diante de diversas
dificuldades que passou e passacomo heresias, apostasias, enfermidades em seu corpo
eclesial, sempre o Espirito vem como remédio para curar e torná-la mais viva e bela.
Por isso, desde já é importante que este nosso curso de formação tenha como
intuito lembrar-nos de ter fé e amar a Igreja. Se o próprio Deus Filho quis morrer pela
Igreja e ressuscitar e ainda mais, mandou o consolador, o Espirito Santo, para santifica-
la, com estes argumentos vemos como a Igreja é amparada e amada. A fé da Igreja não
é uma fé amadora, mas edificada pela experiência com Cristo ressuscitado, que é dada
pela força do Espirito Santo. Que seja um curso que nos leve à vida de santidade e de
comunhão com Espirito Santo.
Por isso rezemos:
1
3
2
Cf. SCHEIDEIDER, Theodor et al (Org.). Manual de Dogmática: volume I. Petropólis: Vozes, 2000. p.
407.
4
3
Catecismo da Igreja Católica 689-690.
4
SCHEIDEIDER, Theodor et al (Org.). Manual de Dogmática: volume I. Petropólis: Vozes, 2000. p.
407.
5
Cf. Catecismo da Igreja Católica 688.
5
Como o próprio Catecismo nos ensina, o Espirito Santo é esta promessa que é
concedida ao homem para restauração, para a volta da “semelhança” com Deus na qual
foi privado por conta do pecado. O Espirito Santo é o ser vivente e criador em que desde
8
CONGAR, Yves. Revelação e experiência do Espirito. São Paulo: Paulinas, 2005. (Creio no Espirito
Santo 1).p. 17.
9
Catecismo da Igreja Católica 705-706.
8
o princípio foi como oDigitusDei , ou seja, o dedo de Deus, como peça primordial
criadora. No principio, o Espirito de Deus pairava sobre águas (Cf. Gn 1,2); a palavra
criadora de Deus pela força do Espirito criava e nomeava todas as coisas. A Criação se
plenifica, quando Deus cria o homem, sua obra prima e bela pela força do Espirito: "
Façamos o homem à nossa imagem e semelhança." (Gn 1, 26). A criação do homem se
dá pela força do Espirito que dá vida e concede ao homem vida plena e realizada.
Na história da salvação a dinâmica da perda da aliança é constante, mas também
é necessário entender que o Deus professado pelo povo escolhido está ao lado do seu
povo e deseja viver para o mesmo povo. Ao ouvir o clamor de dor do seu povo, se
compadece e suscita Moisés como líder da libertação. Moises é um líder profundamente
movido pelo Espirito de Deus, dotado de dons do Espirito para salvar o povo das mãos
do Faraó e para os conduzir à terra prometida. Mesmo com dificuldades de guiar o povo
e de enfrentar as murmurações intensas, Deus transfere o poder de Moisés para 70
anciãos o Espirito que o fortalecia, para que estes homens pudessem, junto com Moisés,
pastorear este mesmo povo (Cf. Nm 11,25). Em todo percurso da libertação do povo até
a terra prometida o protagonista foi o Espirito de Deus que protegia o povo e o levava a
relembrar da aliança. Era de suma importância fazer memória desta aliança, pois dava
sentido a vida daqueleshomens e daquelas mulheres,e os fazia entender que força de
Deus estava com eles, ou seja, o Espirito de Deus, a força de Deus.
No decorrer da história o povo foi conduzido por grandes lideres em que a
própria bíblia exalta dizendo que eram “cheios do Espirito de Deus”. O próprio Josué,
que conduziu o povo para a terra prometida. Quando o povo estava sem líder, Deus
suscitava Juízes para que pudessem estabelecer a paz em situações de críticas do povo.
Por exemplo, o próprio Sansão que era impulsionado por uma força física impetuosa,
onde o autor sagrado afirmava quea ruahde Deus, o poder do Senhor possuí a alma de
Sansão (Cf. Jz 13,25). Em alguns relatos dos Juízes a máxima que salta aos olhos é: “O
Espirito (o sopro) e revestiu (esteve sobre)” (Cf. Jz3,10; 6,34; 11,29; 13,25; 14,29).
Enfim, os Juízes foram lideres carismáticos, cheios do poder de Deus que eram
suscitados no meio do povo para estabelecer a paz ao povo. Diante desta informação,
poderíamos afirmar que o Espirito de Deus é aquele que estabelecia no meio do povo
vida e paz, ou seja, estes homens só conseguiram conduzir e estabelecer a paz por causa
do Espirito de Deus.
Alguns padres apostólicos e varões apostólicos, como Santo Irineu, São Cirilo de
Jerusalém e São Justino, afirmavam que o Espirito era Aquele “que falou pelos
9
profetas” e, por isso o profetismo em Israel era conduzido totalmente pelo poder do
Espirito de Deus. Os profetas eram homens cheios do poder de Deus,tinham em seus
lábios o “Espirito de profecia”. O sopro de Deus como palavra profética é mais evidente
nas épocas do pré-exilio, exilio e pós-exílio. Entre os profetas se destacam aqueles
como Isaías, Ezequiel e Joel. Em Isaías o termo ruahaparece cinquenta vezes; já
Ezequiel, aparece 46 vezes. Na medida em queos profetas proclamavam as profecias
com ousadia, o Espirito se revelava através de seus atos. Estes homens viviam como
cantores do Espirito e em suas profecias se ouvia as canções mais belas. Nos livros
proféticos, aruah de Deus é a comunicação divina para a vida de cada homem que é
chamado a conversão e a mudança no Espirito. O Espirito Santo é o agente que
modifica o interior do homem tornando-o acessível à vida de Deus, como Ezequiel nos
afirma: “Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirar-vos-ei do
peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne.”(Ez 36,26).
Por fim, no AT o Espirito Santo é este agente reformador e criador que protege o
povo eleito, faz relembrar a aliança, dá fidelidade e ajuda a entender que para ser fiel a
aliança com Deus é necessária à ajuda deste mesmo Espirito que concede a
sensibilidade para a vida de Deus.
10
Gl 4,4-6
10
João, o Batista, é tocado pela força do Espirito, pois seria o precursor do Messias ungido
do Pai, daquele que tem sua humanidade totalmente plena do Espirito Santo.
No Jordão, João Batista batiza Aquele que é o autor do batismo 11com água, já
anunciando o futuro batismo que é com “Espirito Santo e com fogo” (Cf. Mt 3,11; Lc
3,16). No entanto, no próprio Jordão, Jesus ao ser batizado recebe a aceitação do Pai e é
tocado pela atuação do próprio Espirito Santo. Jesus é Cristo por conta do Espirito de
Deus. Na sinagoga, recebe a confirmação da presença do Espirito Santo quando abre o
pergaminho do livro de Isaías e percebe que aquelas palavras se atualizaram em sua
vida (Cf. Lc 4,18). Em todo seu ministério, curava, libertava e expulsava os demônios
pelo poder de Deus, o Espirito Soberano.É este mesmo Espirito Santificador que
ressuscita Jesus.
Com a Páscoa, o Ressuscitadopleno do Espirito promete o outro Paráclito, pois
Ele mesmo é o Paráclito enviado do Pai e agora após sua ressurreição Ele mandará o
outro Paráclito para que possa relembrar tudoaquilo que Ele disse e ensinou. (Cf. Lc
24,44; Jo 20, 22-23). Diferente de Lucas, em João Jesus já envia o Espirito Santo sobre
seus apóstolos para que possam perdoar os pecados. Em Lucas, Jesus pede para que os
apóstolos esperem em Jerusalém. Os evangelhos sinóticos mostram que Jesus é aquele
que é ungido do Pai e portador do Espirito Santo, ou seja, o Espirito também procede de
Jesus. Os evangelhos de Marcos e Mateustem poucos enunciados sobre o Espirito
Santo, só à luz da Páscoa que estes dois evangelhos entendem que Cristo é portador por
excelência do Espirito. Os dois andam no mesmo caminho do AT que entende que
aruah é uma força que está sobre o servo de Deus. 12
O evangelho de Lucas, diferente dos outros evangelhos sinóticos, mostra que
Jesus é o repleto do Espirito de Deus. Jesus não é igual aqueles lideres carismáticos que
eram usados para viver a vida no Espirito, mas é cheio do Espirito, pleno do Espirito,
pois já esta na sua humanidade. O evangelista ainda quer elucidar as consequências
deste mesmo Espirito na vida de Cristo.
O termo pneumaaparece 68 vezes nos Atos dos Apóstolos, sendo 37 vezes jános
doze primeiros capítulos. Podemos afirmar que este livro é profundamente
penumatológico, pois o centro de sua literatura é o pneuma, o Espirito Santo13. O texto
430.
13
Ibidem.p.432.
11
muito conhecido por nós de Atos 2, a descida do Espirito Santo sobre os Apóstolos e a
Virgem Maria. O Ressuscitado, pelo poder do pneumasenta à direita do Pai, mas
promete Aquele que permanecerá com a Igreja. A Igreja, fiel ao seu esposo e ainda
temorosa, espera confiante a promessa. A descida do Espirito Santo fortalece a pregação
dos Apóstolos. O medo é excluído e a certeza de que a verdade é aquilo que os
sustentavam possibilita a ousadia de proclamarem Jesus a todos os cantos. Isso só se
tornou realidade graças ao Espirito de Deus que reafirmou nos corações a presença do
Ressuscitado.
Atos se torna uma continuação do Evangelho de Lucas, pois mostra as
consequências da vida do Espirito na vida da Igreja. Outro ponto importante, é que em
Lucas as promessas do AT são realizadas graças ao Espirito, ou seja, tudo que foi
profetizado ou enunciado sobre o Espirito se torna realizado na vida Igreja, na vida
daqueles Apóstolos. Só pelo Espirito Santo, segundo Atos, é que conseguimos ser
testemunhas de Jesus.
O quarto evangelho, como não é novidade, tem uma profunda teologia
pneumatológica. João entende que Jesus já antes da Páscoa, era portador do Espirito, ou
seja, Jesus tinha conhecimento e vivia esta vida do Espirito. O autor entende que o
Espirito é água viva que lava e purifica. Esta imagem pode ter relação com o AT que em
Ezequiel profetiza a água que sairá do templo e purificará todos os locais que passar,
mas João já refere esta água viva do Espirito como água do batismo, instituído por
Cristo (Cf. Jo 7,38s). Em João, o Espirito Santo tem as seguintes funções: a) ensinar e
relembrar as palavras de Cristo; b) Dar testemunho de Cristo, levando aos outros a
terem ,uma vida convertida e toda para Deus; c) introduzir na verdade e glorifica ao
Filho .14
O 13º Apóstolo15 em suas cartas mostra ser também profundamente
pneumatológicas. São Paulo em suas cartas anuncia a existência do Espirito Santo em
Cristo e também nos cristãos. Para Paulo, o Espirito que exaltou o Senhor na sua
Ressurreição é o mesmo Espirito que capacita os cristãos. A relação de Cristo e o
Espirito em Paulo é bem direta e consciente. Mesmo não tendo o encontro com o Cristo
terreno, mas ressuscitado e glorioso, ele anuncia que este Cristo, nascido de Mulher, e
segundo a Carne, ressuscitou segundo o Espirito Vivificador, Espirito de Santidade que
tornou sensível a todos, pela sua ressurreição, a ter uma vida nova, ou seja, para Paulo
14
Ibidem.p.439.
15
Papa Emérito Bento XVI deu este titulo ao Apóstolo Paulo.
12
quem está vinculado em Cristo, nasce não segundo a carne, mas segundo o Espirito (Cf.
1 Cor 6,17). Só pode dizer, segundo Paulo, que “Jesus é o Senhor” a partir do Espirito.
Este mesmo Espirito concede uma vida nova a todo homem e o abre a novos
relacionamentos de comunhão e fraternidade. Por isso, Paulo entende que o Espirito
Santo edifica o corpo Místico de Cristo, a Igreja, é uma das funções do Espirito edificar
a vida da Igreja.
Todavia, entendemos que ao passar pela Sagrada Escritura percebemos como a
Pessoa do Espirito é revelada e conhecida. Para estes autores sagrados o conhecimento
desta Pessoa Divina só se deu em suas vidas através da experiência concreta e real, que
não está baseado em argumentos amadores, mas em verdades de fé.
Por isso, em solenidades e festas as aclamações como :“hoje, nasceu para nós o
salvador”, “na noite em que iria se entregue, isto é, hoje...” mostram esta atualização do
Espirito que torna presente o passado. Contudo, a liturgia não é só um acontecimento de
recordações ou memórias, mas também de realidades futuras. O Espirito torna presente
em nós “o já e o ainda não” do Reino de Deus.
O poder transformante do Espírito Santo na liturgia apressa a vinda do Reino
e a consumação do mistério da salvação. Na expectativa e na esperança. Ele
faz-nos realmente antecipar a comunhão plena da Santíssima Trindade.
Enviado pelo Pai, que atende a epiclese da Igreja, o Espírito dá a vida aos que
O acolhem e constitui para eles, desde já, as «arras» da sua herança 18
Uma das funções do Espirito Santo é a unidade, e na liturgia, o mesmo Espirito
congrega os fiéis para a vivência deste momento sagrado. A assembléia que se reúne
para celebrar o seu Senhor se reúne como corpo de Cristo, unido e santo, que coloca em
16
Comissão Teológica - Histórica do Grande Jubileu do Ano 2000 (Ed.). O Espírito Santo na
liturgia. "Senhor, A Terra Está Repleta do Teu Espirito":Paulinas: São Paulo, 1997.p.90.
17
Catecismo da Igreja Católica 1104-1105.
18
Ibidem. 1107.
14
comunhão todos com o Cristo e sua vida. A Igreja orante na ação do Espirito Santo,
unida oferece um sacrifico agradável a Deus. A assembleia reunida no Espirito se torna
novo templo de Deus que jorra água viva que transforma onde toca (Cf. Jo7, 37-39; Ez
47,1-12). Todo oferecimento feito no Espirito se torna eficaz na vida da assembleia que
reunida rende louvores a Deus.
São João Crisóstomo afirma que os sacramentos não são atos teatrais, porque
todos eles são regulados pelo Espirito, ou seja, o Espirito nos põe em contato com o
salvador e sua obra. Os sacramentos são sinais visíveis da efusão do Espirito que são
aplicadas para salvação dos fiéis e da vida da Igreja. O próprio Catecismo afirma que os
sacramentos são “Forças que saem» do corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante: ações
do Espírito Santo que opera no seu corpo que é a Igreja e são ‘as obras-primas de Deus’,
na nova e eterna Aliança“19. Para entendermos nitidamente esta ação do Espirito Santo
nos sacramentos, vamos nos deter em três sacramentos, os da iniciação cristã: Batismo,
Crisma e Eucaristia.
No batismo, partimos do que o Catecismo nos ensina:
O santo Batismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no
Espírito (“vitae spiritualisianua – porta da vida espiritual”) e a porta que dá
acesso aos outros sacramentos. Pelo Batismo somos libertos do pecado e
regenerados como filhos de Deus: tornamo-nos membros de Cristo e somos
incorporados na Igreja e tornados participantes na sua missão. “Baptismos est
sacramentam regeneratiorais per aquam in Verbo – O Baptismo pode definir-
se como o sacramento da regeneração pela água e pela Palavra”.20
Pela Crisma o cristão é marcado pelo Espirito Santo, sendo selado eternamente por esta
marca santa e eterna que significa a pertença a Cristo e proteção divina. Pelo selo da
Crisma somos participantes da vida do próprio Deus. A confirmação também ajuda o
cristão a crescer na vida de fé em Cristo, tornando-o Imagem de Deus, pois o Espirito
reconstrói a imagem de Deus no cristão. Por fim, o sacramento da Crisma concedeos
sete dons, fortificando o cristão na luta diária e na vida plena de santidade.
A Eucaristia é aforça do cristão e a fonte de vida para toda Igreja. Pela Eucaristia
o Espirito torna presente Cristo, pois pelo poder do Espirito, a Igreja se alimenta da vida
do seu Senhor; O Espirito torna eucaristia a Páscoa de nossas vidas, nos tornando
participantes deste ato redentor. Pela Eucaristia, Pentecostes continua na vida da Igreja e
o torna presente no coração de cada homem, reinflamando e santificando. A Eucaristia
nos faz tocar a eternidade, pois na Eucaristia recebemos juntamente com Cristo, o
Espirito Santo, e desta maneira, tocamos a história dasalvação e assumimos em nós o
Cristo. O Espirito, pela Eucaristia, leva o homem a Cristo e Cristo ao homem.
Então podemos concluir afirmando que a liturgia, principalmente nos
sacramentos, é local por excelência da ação do Espirito que age para manifestar a glória
de Deus e elevar a dignidade humana. A Liturgia, através do Espirito Santo, torna-
seporta de entrada para a vida de Deus, e nos faz participantes da intimidade da
Trindade e realizados no amor infinito refletido nesta comunidade de amor. O Espirito
Santo é o motor que realiza as teofanias das maravilhas de Deus na liturgia.
CONCLUSÃO
16
Tudo que foi prometido no inicio de nosso itinerário foi trabalhado e estudado
neste nosso pequeno trabalho. Não podemos estudar todo tratado ou esgotar o tema,
pois ainda é amplo o estudo do Espirito de Deus. Mas do que ser estudado o Espirito
Santo deve ser adorado e glorificado. O estudo sobre o Espirito deve ser um estímulo a
cada cristão para adorar e ter devido culto ao Espirito, tornando-se íntimo e amigo dele.
A vida do Espirito requer abertura de coração e vivência de fé. Só pode conhecer o
Espirito quem O desejar.
A manifestação das maravilhas se tornou presente na história da salvação por
conta de um povo que deixou ser conduzido pelo Espirito de Deus. Esta história
continua em nossas vidas graças ao Espirito, que pelos sacramentos e na Liturgia nos
alimenta e nos recorda esta dádiva que é a vida de Deus.
Por fim, concluo com um documento profundo de São João Paulo II sobre a
pessoa do Espirito Santo:
O caminho da Igreja passa através do coração do homem, porque nele está
o lugar recôndito do encontro salvífico com o Espírito Santo, com Deus
escondido, e porque exatamente aí o Espírito Santo se torna «nascente de
água que jorra para a vida eterna». Ele chega aí, ao coração do homem, como
Espírito da verdade e como Consolador, Intercessor e Advogado —
especialmente quando o homem, ou a humanidade, se encontra diante do
juízo de condenação do «acusador», acerca do qual no Apocalipse se afirma
que «acusa os nossos irmãos na presença do nosso Deus dia e noite». O
Espírito Santo não cessa nunca de ser o guarda da esperança no coração do
homem: da esperança de todas as criaturas humanas, e especialmente
daquelas que «possuem as primícias do Espírito», e «aguardam a redenção do
seu corpo». O Espírito Santo, na sua misteriosa ligação de divina comunhão
com o Redentor do homem, é Quem dá continuidade à sua obra: Ele recebe
do que é de Cristo e transmite-o a todos, entrando incessantemente na história
do mundo através do coração do homem. É aí que ele se torna — como
proclama a Sequência litúrgica da Solenidade do Pentecostes —
verdadeiro «pai dos pobres, distribuidor dos dons e luz dos corações»; torna-
se: «hóspede amável das almas», que a Igreja saúda, sem cessar, no limiar da
intimidade de cada homem. Ele, efetivamente, traz «descanso e refrigério» no
meio dos esforços, do trabalho dos braços e das mentes humanas; traz
«descanso» e «alívio» nas horas de calor ardente do dia, no meio das
preocupações, das lutas e dos perigos de todas as épocas; e traz, por fim, a
«consolação», quando o coração humano chora e é tentado pelo desespero.
Por isso, a mesma Sequência litúrgica exclama: «Sem a tua potência
divina nada há no homem, nada que seja inocente». Só o Espírito Santo, de
facto, «convence do pecado», do mal, com o objetivo de restabelecer o bem
no homem e no mundo humano: para «renovar a face da terra». Por isso, Ele
realiza a purificação de tudo o que «deturpa» o homem, de «tudo o que é
sórdido»; cura as feridas mesmo as mais profundas da existência humana;
transforma a aridez interior das almas em campos férteis de graça e de
santidade. O que é «duro — abranda-o», o que é «frio — aquece-o», o que
está «desencaminhado ― reconduze-o aos caminhos da salvação». Rezando
assim, a Igreja professa sem cessar a sua fé: há no nosso mundo criado um
Espírito, que é um Dom incriado. É o Espírito do Pai e do Filho: como o Pai
e o Filho, Ele é incriado, imenso, eterno, omnipotente, Deus e Senhor. Este
Espírito de Deus «enche o universo», e tudo o que é criado reconhece nele a
fonte da própria identidade e nele encontra a própria expressão transcendente,
17
a ele se dirige e espera-o e invoca-o com todo o seu ser. Para ele se volta,
como Paráclito, Espírito da verdade e do amor, o homem que vive de verdade
e de amor e que, sem a fonte da verdade e do amor, não pode viver. Para ele
se volta a Igreja, que é o coração da humanidade, a fim de invocar para todos
e a todos dispensar aqueles dons do Amor, que por meio dele «foi derramado
nos nossos corações».Para ele se volta a Igreja ao longo dos caminhos
escarpados da peregrinação do homem sobre a terra: e pede, pede
incessantemente a retidão dos atos humanos, como sua obra; pede a alegria e
a consolação, que só ele, verdadeiro consolador, pode trazer descendo ao
mais profundo dos corações humanos; pede a graça das virtudes, que são
merecedoras da glória celeste, pede a salvação eterna, na comunicação plena
da vida divina, à qual o Pai eternamente «predestinou» os homens, criados
por amor à imagem e semelhança da Santíssima Trindade. A Igreja, com o
seu coração, que inclui em si todos os corações humanos, pede ao Espírito
Santo a felicidade que só em Deus tem a sua completa realização: a alegria
que «ninguém pode tirar», a alegria que é fruto do amor e, portanto, de Deus
que «é Amor»; pede «a justiça, a paz e a alegria no Espírito Santo», nas
quais, segundo São Paulo, consiste o «Reino de Deus». Também a paz é
fruto do amor: a paz interior, que o homem afadigado procura no íntimo do
seu ser; a paz que a humanidade, a família humana, os povos, as nações, os
continentes pedem com trepidante esperança de obtê-la, na perspectiva da
passagem do segundo ao terceiro Milénio cristão. Uma vez que o caminho da
paz passa, afinal, através do amor, e tende a criar uma civilização do amor, a
Igreja fixa o olhar naquele que é o Amor do Pai e do Filho e, não obstante as
ameaças crescentes, não cessa de ter confiança, não deixa de invocar e de
servir a paz do homem sobre a terra. A sua confiança fundamenta-se naquele
que, sendo o Espírito-Amor, é também o Espírito da paz, e não cessa de estar
presente no nosso mundo humano, no horizonte das consciências e dos
corações humanos, para «encher o universo» de amor e de paz.21
BIBLIOGRAFIA
21
JOÃO PAULO II.DOMINUM ET VIVIFICANTEM.n.67.
22
Sequência da Solenidade de Pentecostes.
18
Bíblia Ave-Maria
Bíblia de Jerusalém
Catecismo da Igreja Católica
Comissão Teológica - Histórica do Grande Jubileu do Ano 2000 (Ed.). O
Espírito Santo na liturgia. "Senhor, A Terra Está Repleta do Teu Espirito":
Paulinas: São Paulo, 1997.p.89-114.
CONGAR, Yves. Revelação e experiência do Espirito. São Paulo: Paulinas,
2005. (Creio no Espirito Santo 1).
JOÃO PAULO II. Dominumetvivificantem.
SCHEIDEIDER, Theodor et al (Org.). Manual de Dogmática: volume I.
Petropólis: Vozes, 2000.