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CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO

ANDREW JUMPER

Pedro Wazen de Freitas

"NEM O FILHO, SENÃO SOMENTE O PAI": AVALIAÇÃO CRÍTICO-


PROPOSITIVA DAS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES CRISTOLÓGICAS
DE MATEUS 24.36

São Paulo

2022
CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO

ANDREW JUMPER

Pedro Wazen de Freitas

"NEM O FILHO, SENÃO SOMENTE O PAI": AVALIAÇÃO CRÍTICO-


PROPOSITIVA DAS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES CRISTOLÓGICAS
DE MATEUS 24.36

Monografia apresentada ao Centro


Presbiteriano de Pós-graduação Andrew
Jumper – CPAJ, como requisito parcial
para obtenção do título de Magister
Divinitatis, MDiv, na área de Estudos
Bíblicos Hermenêuticos. Orientador
Professor Prof. João Paulo Thomaz De
Aquino.

São Paulo

2022
Elaborado pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Mackenzie
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
F862" Freitas, Pedro Wazen De.
"Nem o filho, senão somente o Pai" : [recurso eletrônico] avaliação
crítico-propositiva das diferentes interpretações cristológicas de
mateus 24.36 / Pedro Wazen de Freitas.
622 KB ;

Monografia (Magister Divinitatis) - Universidade Presbiteriana


Mackenzie, São Paulo, 2023.
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). João Paulo Thomaz de Aquino.
Referências Bibliográficas: f. 42-49.

1. Cristologia. 2. Parusia. 3. União Hipostática. 4. Subordinação


Funcional. 5. Communicatio Idiomatum. I. Aquino, João Paulo Thomaz
de, orientador(a). II. Título.

Bibliotecário(a) Responsável: Eliezer Lírio Dos Santos - CRB 8/6779


Pedro Wazen de Freitas

NEM O FILHO, SENÃO SOMENTE O PAI": AVALIAÇÃO CRÍTICO-


PROPOSITIVA DAS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES CRISTOLÓGICAS
DE MATEUS 24.36

Monografia apresentada ao Centro


Presbiteriano de Pós-graduação Andrew
Jumper – CPAJ, como requisito parcial
para obtenção do título de Magister
Divinitatis, (MDiv) na área de Estudos
Bíblicos Hermenêuticos. Orientador
Professor Prof. João Paulo Thomaz De
Aquino.

Aprovação 16/11/2022

Orientador: Professor João Paulo Thomaz De Aquino.


"NEM O FILHO, SENÃO SOMENTE O PAI": AVALIAÇÃO CRÍTICO-PROPOSITIVA DAS
DIFERENTES INTERPRETAÇÕES CRISTOLÓGICAS DE MATEUS 24.36

Resumo: A declaração de Jesus, em Mateus 24.36 de que “nem o Filho” sabe o dia a
hora tem suscitado extenso debate ao longo da História da Igreja. O presente trabalho
apresenta as diversas posições interpretativas da perícope na história e, a partir da
exegese de Mateus 24.36, faz uma análise crítica de tais propostas. Ao final, é esboçada
uma proposta baseada nas diversas contribuições históricas, que lidará com a
subordinação funcional do Filho ao Pai, impondo uma ignorância temporária e
específica, sem afetar a natureza divina do Filho, mediante o uso metonímico da palavra
“Filho” no referido texto.

Palavras-chave: Cristologia, parusia, kenosis, subordinação funcional, communicatio


idiomatum, união hipostática

“NOR THE SON, BUT THE FATHER ONLY": A CRITICAL-PROPOSITIVE


EVALUATION OF DIFFERENT CHRISTOLOGICAL INTERPRETATIONS OF
MATTHEW 24.36

Abstratct: Jesus statement in Matthew 24:36 that "nor the Son" knows the day and the
hour has sparked off an extensive debate throughout Church History. This paper
presents the different interpretative positions of the pericope in history and, based on the
exegesis of Matthew 24.36, makes a critical analysis of such proposals. In the end, a
proposal is outlined based on the various historical contributions. Such propositive
outline deals with the functional subordination of the Son to the Father, imposing a
temporary and specific ignorance, without affecting The Son’s divine nature, through
the metonymic use of the word "Son" in the text of Matthew 24.36.

Keywords: Christology, parousia, kenosis, functional subordination, communicatio


idiomatum, hypostatic union
Lista de tabelas

Tabela 1 - Propostas interpretativas hodiernas de Mt 24.36........................................... 13


Tabela 2 – Divisões de Mateus 24 e 25 .......................................................................... 17
Tabela 3 – Citações e alusões do AT em Mateus 24 e 25 .............................................. 19
Tabela 4 – Uso de γινωσκω e oιδα em Mateus 24 e 25 .................................................. 26
Tabela 5 – Teorias interpretativas do uso do perfeito de oιδα em Mateus 24.36 ........... 27
Tabela 6 – Citações de “Filho” sem adjunto nos evangelhos ......................................... 30
Tabela 7 – Textos de denominação típica da divindade, mas com ação típica humana . 35
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1
2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA INTERPRETAÇÃO DE MATEUS
24.36 ................................................................................................................................. 2
2.1 Período patrístico ............................................................................................... 3
2.2 Os Concílios de Niceia e de Calcedônia ............................................................ 5
2.3 Idade Média e Escolástica .................................................................................. 7
2.4 Reforma Protestante ........................................................................................... 9
2.5 Kenoticismo do séc. XIX ................................................................................. 12
2.6 Interpretações hodiernas .................................................................................. 13
3 EXEGESE DE MATEUS 24.36 ............................................................................. 15
3.1 Contexto histórico, literário e canônico ........................................................... 15
3.2 Estudo textual de Mateus 24.36 ....................................................................... 20
3.2.1 Crítica Textual .......................................................................................... 20
3.2.2 Estrutura do versículo ............................................................................... 22
3.2.3 Termos do versículo ................................................................................. 22
3.2.4 Conclusão da exegese ............................................................................... 31
4 AVALIAÇÃO DAS PROPOSTAS INTERPRETATIVAS NA HISTÓRIA ........ 32
4.1 Proposta 01....................................................................................................... 32
4.2 Proposta 02....................................................................................................... 34
4.3 Proposta 03....................................................................................................... 35
4.4 Proposta 04....................................................................................................... 37
5 CONCLUSÃO: UM ESBOÇO PROPOSITIVO DE INTERPRETAÇÃO DE
MATEUS 24.36 .............................................................................................................. 37
5.1 O aspecto funcional da relação Pai e Filho ...................................................... 38
5.2 Ignorância temporária ...................................................................................... 39
5.3 Ignorância específica e temática ...................................................................... 39
5.4 Uso de terminologia metonímica – possivelmente CI - para lidar com a
dinâmica interna do Filho ........................................................................................... 40
5.5 Preservação da essência divina de Jesus .......................................................... 40
5.6 Resumo do esboço proposto ............................................................................ 41
6 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 42
1

1 INTRODUÇÃO

A expressão de apenas três palavras gregas, “οὐδὲ ὁ υἱός”, traduzida por "nem o Filho" é o
"notável paradoxo1", como afirma R.T. France, do discurso escatológico de Jesus. Trata-se de
passagem profética em que Jesus conhece com profundidade os detalhes de sua vinda, mas
afirma desconhecer justamente o dia e a hora. Assim, o mesmo Jesus que sabe o "como", o
"onde", o "o quê" de sua vinda e mesmo o "quando" histórico, no entanto, desconhece o
detalhe do momento específico.

Tal declaração de Jesus tem suscitado, em toda a História da Igreja, um grande debate. Há,
por um lado, desde os que advogam que trata-se de uma declaração meramente humana, mas
que ignoram que o capítulo todo de Mateus 24 é uma profecia minuciosa fundamentada
justamente na divindade de Cristo; até, de outro lado, os que afirmam que a divindade de
Cristo é, no que tange a este aspecto, de natureza distinta da divindade do Pai. Assim, é
necessário analisar as implicações teológicas possíveis da declaração de que Jesus não sabe
algo e como isso deve ser interpretado à luz da Cristologia.

Essa pesquisa visa analisar a declaração de Jesus com base na escolha de palavras utilizadas
por ele, no contexto do discurso escatológico de Mateus. Ademais, o trabalho visa dialogar
criticamente com as principais interpretações de Mateus 24.36 e suas implicações à
Cristologia, com revisão de literatura sobre o tema. Tem por objetivo ainda propor um esboço
interpretativo de Mateus 24.36 que justifique a escolha de termos por Jesus, preservando
simultaneamente sua plena divindade e a unidade do ser mediante o aproveitamento de
aspectos das diversas interpretações que encontrarem sustentação na exegese do texto.

O trabalho versará sobre as explicações teológicas possíveis e suas implicações Cristológicas


quanto à afirmação de que “nem o Filho” sabe o dia e a hora. Não será possível, entretanto,
lidar com os aspectos escatológicos do discurso de Mateus 24 e 25, nem com o tema das duas
naturezas de Jesus de forma ampla – a propósito, o trabalho pressupõe que Jesus é uma única
pessoa com duas naturezas plenas: a divina e a humana.

A metodologia deste trabalho será a pesquisa de comentários interpretativos de Mateus 24.36


ao longo da história cristã além da pesquisa de propostas e fórmulas cristológicas que possam
impactar a compreensão da pessoa de Cristo em suas duas naturezas no texto de Mateus
24.36. A seguir, será feita a exegese do texto, que servirá de padrão avaliativo das propostas

1
FRANCE, R. T. The Gospel of Matthew. NICNT. Grand Rapids: Eerdmans, 2007 p. 939 – “remarkable
paradox”
2

históricas e cristológicas. Finalmente, será esboçada uma proposta interpretativa a partir da


convergência entre as propostas históricas e a exegese proposta de Mateus 24.36

Os termos principais que compõem o trabalho são:

a) natureza/essência, usadas de forma sinonímica, no sentido de “aquilo que necessariamente


pertence a uma coisa e mais; determina seu caráter. Sendo assim, sem a sua essência, uma
coisa não seria aquilo que é”2;

b) kenosis, substantivo transliterado do verbo κενοω (esvaziar-se) que será definido como o
autoesvaziamento de Cristo, ou o (possível) abrir mão de atributos na encarnação3;

c) “communicatio idiomatum”, expressão latina que significa a comunicação ou transmissão


de atributos entre as naturezas/essências de Cristo, que “significa que tudo quanto pode ser
atribuído (aludido) à natureza divina de Cristo ou à natureza humana deve ser atribuído à
pessoa inteira”4

d) parusia: transliteração do grego παρουσια. Relaciona-se ao retorno pessoal, corporal e


universal de Jesus – também denominada “segunda vinda de Cristo”5;

e) união hipostática: “diz respeito à unão entre as duas naturezas (dyo physes), da divindade e
da humanidade, na única hypostasis ou pessoa de Jesus Cristo”6

2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA INTERPRETAÇÃO DE MATEUS 24.36

A expressão “οὐδὲ ὁ υἱός” de Mateus 24.36 (com as mesmas palavras gregas repetidas em Mc
13.32) tem sido abordada, na história da interpretação bíblica, desde o período patrístico7.
Essa longa história de questionamentos e de interpretações desenvolve-se concomitantemente
à própria história da Cristologia e à progressão do entendimento teológico. Assim, conforme
surgiam desenvolvimentos teológicos, mais ou menos ortodoxos, sobre a pessoa de Cristo e a
relação entre as duas naturezas, tais propostas foram sendo aplicadas à interpretação do texto
mateano em questão. Assim, é possível relacionar a evolução do pensamento teológico à
ampliação das propostas hermenêuticas relacionadas a Mateus 24.36.

2
ELWELL, Walter A. Encinclopédia histórico-teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1988. Vol II
p. 68
3
Ibid. vol II p. 395
4
Ibid. vol I p. 303
5
Ibid. vol III p. 368
6
Ibid. vol III p. 595
7
Para fins deste trabalho, adotaremos a perspectiva de período patrístico até 451 d.C.
3

2.1 Período patrístico

As primeiras indagações e questionamentos quanto à expressão “nem o Filho” surgem no


período patrístico. Embora vários pais da igreja tenham comentado o texto, a grande marca do
período foi um claro desconforto com as implicações teológicas da afirmação. Quando houve
propostas interpretativas, o caminho patrístico mais comum foi de preservar a divindade de
Cristo, por vezes até negando abertamente a possibilidade de Jesus realmente não saber algo.

Orígenes de Alexandria (185 a 253 d.C.) foi um dos primeiros a tratar do tema. Ele menciona:

“Uma vez que a Igreja, que é o corpo de Cristo, não sabe aquele dia e hora, diz-se que o próprio
Filho não sabe aquele dia e hora. A palavra sabe é usada de acordo com seu significado usual
nas Escrituras. O Apóstolo fala de Cristo como aquele que não conheceu pecado (2 Coríntios.
5: 21.) i. e. não pecou. O conhecimento daquele dia e hora, o Filho reserva para os co-herdeiros
da promessa, para que todos saibam de uma vez, i. e. no dia em que vier sobre eles, o que Deus
preparou para aqueles que o amam. (1 Cor. 2: 9.)” 8

Orígenes relaciona a ignorância da Igreja – do Corpo – como a causa da ignorância do Filho.


No entanto, Orígenes reconhece que o uso da expressão “não sabe” não pode ter outro sentido
a não ser a ignorância. Ele apresenta que esse conhecimento está em espera, como promessa
de uma revelação gloriosa e amorosa.

Jerônimo (347 a 420 d.C.) lidou posteriormente com a passagem optando por negar a
possibilidade do Filho não saber nem o dia nem a hora de sua vinda, argumentado que foi o
próprio Jesus quem criou as eras e tempos. Para ele, as dificuldades interpretativas do texto
favoreciam, injustamente, a perspectiva ariana9. Menciona também questões de crítica textual,
reconhecendo a presença de “οὐδὲ ὁ υἱός” em algumas cópias latinas e entende que a simples
possibilidade da frase compor o texto canônico promoveria a necessidade de se lidar com o
texto10, embora ele mesmo não o tenha feito com mais detalhes.

8
(minha tradução) “So long as the Church which is Christ’s body knows not that day and hour, so long the Son
Himself is said not to know that day and hour. The word know is used according to its proper usual meaning in
Scripture. The Apostle speaks of Christ, as him who knew no sin, (2 Cor. 5: 21.) i. e. sinned not. The knowledge
of that day and hour the Son reserves in store for the fellow-heirs of the promise, that all may know at once, i. e.
in the day when it shall come upon them, what things God hath prepared for them that love him. (1 Cor. 2: 9.)”.
In AQUINO, Thomas. Catena Aurea: Commentary on the Four Gospels, Collected out of the Works of the
Fathers: St. Matthew. J. H. Newman, Org. Vol. 1. Oxford: John Henry Parker, 1841 p. 674
9
Ibid. p. 675 “Whereat Arius and Eunomius rejoice greatly; for say they, He who knows and He who is ignorant
cannot be both equal. Against these we answer shortly; Seeing that Jesus, that is, The Word of God, made all
times, (for By him all things were made, and without him was not any thing made that was made,) (John 1: 3.)
and that the day of judgment must be in all time, by what reasoning can He who knows the whole be shewn to be
ignorant of a part? This we will further say; Which is the greater, the knowledge of the Father, or the knowledge
of the judgment? If He knows the greater, how can He be ignorant of the less?”
10
Ibid, p. 674 “In some Latin copies is added here, “neither the Son:” but in the Greek copies, and particularly
those of Adamantius and Pierius, it is not foundh But because it is read in some, it seems to require our notice.”
4

Em termos propositivos, Jerônimo afirma que o Filho sabe, mas a revelação do dia concerne
exclusivamente à posição de autoridade do Pai, citando Atos 1.7, o qual não deseja que os
apóstolos saibam:

Tendo então mostrado que o Filho de Deus não pode ser ignorante quanto ao dia da
consumação, devemos agora mostrar a causa pela qual se deva dizer que Ele é ignorante.
Quando, depois da ressurreição Ele é questionado sobre este dia pelos apóstolos, Ele responde
mais abertamente: Não vos compete saber os tempos ou épocas que o Pai colocou em seu
próprio poder (Atos 1: 7). Ali ele mostra que ele mesmo sabe, mas que não era oportuno que os
apóstolos soubessem, e que estando na incerteza da vinda de seu juiz, eles deveriam viver todos
os dias como se fossem ser julgados naquele dia 11.

João Crisóstomo (347 a 407 d.C.), por sua vez, observa a contradição entre a compreensão
que Jesus tinha dos sinais de sua vinda e a ignorância do dia em questão, quando afirma:
"Tendo o Senhor descrito todos os sinais que precedem sua vinda e tendo levado seu discurso
às portas de completar-se, no entanto, não nominou o dia [de sua vinda] " (tradução
minha).”.12

Crisóstomo também esboça uma interpretação ao rejeitar a ideia de que Jesus realmente não
sabe, mas atribui a frase a recurso retórico de Jesus para ressaltar imprevisibilidade da
παρουσια , quando afirma:

Para que se perceba que não é por ignorância que Ele silencia sobre o dia e a hora do
julgamento, ele [Jesus] apresenta outro sinal; como nos dias de Noé, assim será a vinda do Filho
do Homem. Com isso, Ele quer dizer que virá repentina e inesperadamente, e enquanto os
homens estão tendo prazeres, dos quais Paulo também fala: Quando eles disserem: Paz e
segurança, então repentina destruição lhes sobrevirá (1Ts 5.3) 13.

Agostinho de Hipona (354 a 430 d.C) apresenta, ao longo de sua obra, três possibilidades
propositivas para explicar o texto: a) uma ignorância temporária relacionada à natureza

11
(minha tradução) “Having then shewn that the Son of God cannot be ignorant of the day of the consummation,
we must now shew a cause why He should be said to be ignorant. When after the resurrection He is demanded
concerning this day by the Apostles, He answers more openly; It is not for you to know the times or the seasons
which the Father has put in his own power. (Acts 1: 7.) Wherein He shews that Himself knows, but that it was
not expedient for the Apostles to know, that being in uncertainty of the coming of their Judge, they should live
every day as though they were to be judged that day.” In Ibid. p. 675
12
Ibid. p. 674
13
(minha tradução) “That you may perceive that it is not owing to ignorance that He is silent of the day and
hour of the judgment, He brings forward another token, As it the as in we days of Noe, so shall the coming of the
Son of Man be. By this He means that He shall come sudden and unlooked for, and while men are taking their
pleasure; of which Paul also speaks, When they shall say, Peace and safety, then sudden destruction cometh
upon them. (1 Thess. 5: 3.)” In Ibid. p. 675
5

humana e ao propósito de não revelar aos discípulos14; b) Que, no Pai, o Filho sabe o dia15,
porque o próprio Filho é o criador dos tempos; c) Que o texto menciona que o Filho não sabe
apenas porque não quer manifestar tal conhecimento aos discípulos16. Assim, Agostinho
entende que ora é uma ignorância temporária, ora representa um estratagema retórico para não
revelar o tempo aos discípulos.

Há ainda Hilário (315 a 367 d.C.) que simplesmente apresenta o questionamento de que negar
algum conhecimento ao Filho implicaria que nem todas as coisas foram entregues a Jesus (Lc
11.22)17.

Assim, o período patrístico revela a percepção das difíceis implicações do texto, mas é muito
pouco propositivo nas dificuldades percebidas. A preocupação maior está em preservar a
divindade de Cristo – atitude compatível com as preocupações da época em defender a
Cristologia do Arianismo. No entanto, a formulação de propostas é pouco organizada e pouco
estruturada.

2.2 Os Concílios de Niceia e de Calcedônia

Os séculos IV e V foram profusos em estabelecerem os fundamentos da Cristologia no


Cristianismo. Com a ameaça do Arianismo, os pais da igreja organizaram concílios para
estabelecer as bases doutrinárias da igreja e o tema das duas naturezas de Cristo ganhou
proeminência. Nenhum dos concílios lidou diretamente com o texto de Mateus 24.36, mas
estabeleceram os limites teológicos para debates posteriores. Nos concílios, ficaram bem
fundamentadas tanto a plena divindade de Cristo como sua plena humanidade. Esboçou-se
também uma breve sistematização das relações entre as duas naturezas de Cristo.

14
Como Deus, tudo o que pertence ao Pai, pertence ao Filho: E tudo o que meu é teu, e tudo o que teu é meu (Jo
17,10). Revestido da natureza humana, a doutrina não é sua, mas de quem o enviou (Jo 7,16). E disse ainda:
Daquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu nem o Filho, somente o Pai {Mc 13,32). Ele ignora o que
não quer dar a conhecer, isto é, ignorava-o, para manisfestá-lo aos discípulos. Assim se deu com Abraão, a quem
foi dito: Agora, sei que temes a Deus (Gn 22,12), ou seja, “agora te dei a conhecer”, pois provado na tentação,
ele mesmo passou a conhecer que temia a Deus. O Senhor revelaria aos discípulos no tempo oportuno, o segredo
sobre o dia e a hora. Em AGOSTINHO. A Trindade. Trad. e Int. Agustino Belmonte. São Paulo: Paulus, 1994.
Cap XII, p. 54
15
AUGUSTINE. (Serm. 97. 1.): He says that the Father knoweth, implies that in the Father the Son also knows.
For what can there be in time which was not made by the Word, seeing that time itself was made by the Word!
AQUINO. Opus cit. p. 675
16
AUGUSTINE. (Lib. 83 Quæst. q. 60.) That the Father alone knows maybe well understood in the above-
mentioned manner of knowing, that He makes the Son to know; but the Son is said not to know, because he does
not make men to know. Idem.
17
And has indeed God the Father denied the knowledge of that day to the Son, when He has declared, All things
are committed to me of my Father? (Luke 10: 22.) but if any thing has been denied, all things are not committed
to Him. Idem.
6

O primeiro grande Concílio foi em Niceia (325 d.C.) com a participação de Eusébio de
Nicomédia (representando Ário), no auge da controvérsia com o bispo Alexandre de
Alexandria18. Na fórmula nicena, no célebre segundo parágrafo, lê-se:

E em um só Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os
séculos, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só
substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa
salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se
homem, e foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao
terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus e assentou-se à direita do Pai, e de novo há
de vir com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim. 19

A afirmação sistematizada da plena divindade de Cristo (verdadeiro Deus), a sua


consubstanciação com o Pai e a explicitação de que tudo foi feito por meio de Jesus indicam
que, nessa identificação essencial na Trindade, há a afirmação da plenitude dos atributos
essenciais divinos em Jesus. Ao mesmo tempo, a fórmula nicena, embora de forma menos
completa e menos enfática, manifesta a plena humanidade de Cristo. Assim, em Niceia, há
afirmação das naturezas, embora falte uma expressão das relações dessas essências na pessoa
de Cristo.

Com as lacunas deixadas por Niceia, o Concilio de Calcedônia propôs uma fórmula mais
completa no que tange à Cristologia, que foi o tema do evento20. A maior contribuição
calcedônica refere-se a delimitar as bases para uma primeira proposta de união hipostática. A
fórmula duas naturezas em uma só pessoa consagrou-se nos seguintes termos:

[...] um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas,
inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção de naturezas de modo algum é
anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo para formar
uma só pessoa e em uma subsistência; não separado nem dividido em duas pessoas, mas um só
e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo [...].21

18
Ver OLSON, R. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora Vida. p. 148 a 154.
19
Credo de Niceia. Disponível em http://www.teologia.org.br/estudos/credo_niceia.pdf
20
Fiéis aos santos Pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo
Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, e perfeito quanto à humanidade; verdadeiramente
Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo, consubstancial com o Pai, segundo a
divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado;
gerado segundo a divindade pelo Pai antes de todos os séculos, e nestes últimos dias, segundo a humanidade, por
nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, mãe de Deus; um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor,
Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a
distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza,
concorrendo para formar uma só pessoa e em uma subsistência; não separado nem dividido em duas pessoas,
mas um só e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas desde o
princípio acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor Jesus nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos
transmitiu. Em Credo de Calcedônia. Disponível em http://www.teologia.org.br/estudos/credo_calcedonia.pdf
21
Idem.
7

Os atributos das naturezas afirmam a preservação das propriedades essenciais humanas e


divinas em uma só pessoa. Embora tal afirmação não resolva plenamente o problema
suscitado pela ignorância de Jesus em Mt 24.36, Calcedônia será um dos caminhos
interpretativos adotados por muitas das propostas posteriores de atribuir ignorância apenas à
natureza humana da pessoa de Cristo.

Os credos apenas desenvolveram limites ortodoxos e bases teológicas para a discussão da


ignorância de Jesus em Mateus 24.36 – mas, os caminhos adotados posteriormente pelas
diversas posições indicará que essas afirmações tiveram apenas a faculdade de refrear
afirmações muito contundentes relativas à negação da divindade de Cristo, mas não serão
plenamente suficientes para explicar a relação entre as naturezas.

2.3 Idade Média e Escolástica

A Idade Média22 (sécs. V ao XV), em termos de Cristologia, como definido por Berkhof:
“acrescentou muito pouco à doutrina da pessoa de Cristo”23 (minha tradução); mas há
exceções notáveis. Primeiramente, pode-se citar a proposta de Rábano (780 a 856d.C.), que
defende que quem não sabe não é o Filho unigênito, mas o Filho adotado24 - proposta que
seria, hodiernamente, classificada como não-ortodoxa, na melhor das hipóteses.

Temos ainda a importante colaboração de João Damasceno (675 a 749 d.C.). Ele foi um dos
primeiros a elaborar uma discussão mais aprofundada sobre a relação entre as duas naturezas
(hypostaseis) na pessoa de Cristo. Para Damasceno, as propriedades de cada natureza podem
ser atribuídas à pessoa como um todo. Ele afirma:

Este é o modo de comunicação mútua, uma ou outra natureza entregando à outra suas próprias
propriedades através da identidade da subsistência e da interpenetração das partes entre si.
Assim, podemos dizer de Cristo: Este nosso Deus foi visto na terra e viveu entre os homens, e
Este homem é incriado, impossível e não limitado25.

22
Optei por uma data não precisa para definição da Idade Média considerando-se diversas perspectivas quanto à
data final – 1453 (Queda de Constantinopla), 1492 (Descobrimento da América) e 1517 (Reforma Protestante).
Independente do critério adotado, refere-se ao mesmo período da História. Assim, grosso modo, envolve o séc. V
ao XVI d.C.
23
BERKHOF, Luis. Teologia Sistematica. Grand Rapids. 1974, p. 364
24
“I have read also in some one’s book, that the Son here is not to be taken of the Only-begotten, but of the
adopted, for that He would not have put the Angels before the Only-begotten Son, saying, Not the Angels of
heaven, neither the Son.” AQUINO. Opus cit. p. 675-676
25
(minha tradução) “This is the manner of the mutual communication, either nature giving in exchange to the
other its own properties through the identity of the subsistence and the interpenetration of the parts with one
another. Accordingly we can say of Christ: This our God was seen upon the earth and lived amongst men, and
This man is uncreated and impossible and uncircumscribed.”. In DAMASCENUS, J. Disponível em
8

A obra de Damasceno tornar-se-á a base para o desenvolvimento da teologia do


Communicatio Idiomatum, que posteriormente influenciou muitos aspectos da Cristologia
luterana, em especial na onipresença de Cristo em meio à Eucaristia. Não há, entretanto,
aplicação direta do conceito ao texto de Mateus 24.36.

De forma mais direta, Tomás de Aquino comentou o texto de Mateus 24.36 em sua Suma
Teológica. Para Aquino, a humanidade de Cristo implica a existência de alma humana. A
essência humana é finita e tal finitude não pode compreender o infinito:

Como do sobredito resulta, a união das naturezas na pessoa de Cristo se fez de modo tal que a
propriedade de uma e outra natureza permaneceu inconfusa; de maneira que o incriado
permaneceu incriado e o criado ficou dentro dos limites da criatura, como diz Damasceno,
Ora, é impossível uma criatura compreender a divina essência, como dissemos na
Primeira Parte, porque o infinito não pode ser compreendido pelo finito. Logo devemos
concluir que a alma de Cristo de nenhum modo compreende a divina essência. 26

Aquino então comenta Mateus 24.36 e traz uma novidade. Não apenas lida com a identidade
humana de Jesus tendo um conhecimento que não compreende o potencial da natureza divina,
ficando aquém deste, como também faz uma distinção entre tipos de conhecimento. Para a
Aquino, conhecer todas as coisas factuais na realidade é diferente de conhecer a realidade
potencial; assim, Jesus conhece factualmente a realidade, mesmo enquanto homem; mas, sua
alma humana não é capaz de compreender tudo potencialmente – as realidades hipotéticas,
como ele afirma:

Quando se pergunta se Cristo conhece todas as coisas no Verbo, devemos notar que a expressão
— todas as coisas — pode-se entender em dois sentidos. Num, o próprio, abrange todas as
coisas que de qualquer modo existem, existirão ou existiram; ou que foram feitas, ditas ou
pensadas por qualquer e em qualquer tempo. E então, devemos afirmar, que a alma de
Cristo conhece todas as causas no Verbo.[...]
[...] Noutro sentido, todas as coisas é uma expressão susceptível de sentido mais lato,
abrangendo não só todas as coisas atuais num tempo qualquer, mais ainda todas as potências,
que nunca serão atualizadas.
— Ora, destas, certas dependem só do poder de Deus. E tais a alma de Cristo não as conhece a
todas no Verbo.
Portanto, a alma de Cristo conhece todas as coisas que Deus em si mesmo conhece pela ciência
de visão; mas não, todas as que Deus conhece em si mesmo pela simples ciência da
inteligência. E assim, Deus, em si mesmo, conhece mais coisas, que a alma de Cristo. 27

http://www.documentacatholicaomnia.eu/03d/0675-0749,_Ioannes_Damascenus,_De_Fide_Orthodoxa,_EN.pdf,
p. 182
26
AQUINO, T. Suma Teológica. p. 2985. Disponível em:
https://sumateologica.files.wordpress.com/2017/04/suma-teolc3b3gica.pdf
27
Ibid. p. 2986
9

2.4 Reforma Protestante

A Reforma protestante que, concomitantemente, influencia e é influenciada pelo pensamento


da época representa uma série de avanços no pensamento cristológico. Um dos temas em que
houve novas propostas relaciona-se à relação entre as duas naturezas de Cristo, em especial
em virtude da doutrina luterana da presença de Cristo na Eucaristia. A solução encontrada por
Lutero para defender a onipresença corporal (do corpo humano) de Jesus está na ideia do
communicatio idiomatum (CI). O uso do conceito chega a ser tratado como o grande eixo
interpretativo da teologia luterana28.

A definição de CI propõe que, com a união hipostática, os atributos de cada natureza são
comunicados à outra natureza sem que a essência comunicadora perca suas qualidades
fundamentais. Assim, os atributos de cada natureza são agora aplicados à pessoa como um
todo29. Assim, na teologia luterana, as implicações da CI são levadas às últimas
consequências: "O Jesus humano criou o mundo e é onipresente” e “Deus nasceu e deitou em
uma mangedoura”30. Embora a visão luterana do CI não seja aplicada diretamente ao texto de
Mateus 24.36, poderia implicar que onisciência divina seja comunicada à natureza humana
ou, de modo contrário, que a impossibilidade de onisciência humana vinculasse-se à natureza
divina no texto em questão.

O documento que expressa a perspectiva adotada na tradição luterana ficou conhecido como a
Fórmula de Concórdia, que ensina:

Nós . . . cremos, ensinamos e confessamos que ser todo-poderoso, eterno, infinito, estar em
todos os lugares ao mesmo tempo naturalmente (isto é, de acordo com a propriedade da natureza
e de sua essência natural), ser intrinsecamente presente e conhecer tudo são propriedades
essenciais da natureza divina, que por toda a eternidade nunca se tornarão as propriedades
essenciais da natureza humana. . . Além disso, acreditamos, ensinamos e confessamos que a
natureza humana assumida por Cristo não apenas possui e mantém suas propriedades naturais e
essenciais, mas que, além disso, pela união pessoal com a divindade e depois pela exaltação ou
glorificação, foi elevada à destra de majestade, poder e força sobre todo nome que é

28
“as he [Luther] makes it the hermeneutical motor of his whole theology, or an axle around which many
other theological themes now begin to turn: not only Christology, but also the doctrine of the Lord's
Supper, anthropology, the doctrine of justification, scriptural hermeneutics, rhetoric, the theology of pastoral
care and the theology of creation.” In STEIGER, J. A. The communicatio idiomatum as the axle and motor of
Luther’s theology. Lutheran Quarterly, [s. l.], v. 14, n. 2, p. 125–158, 2000. Disponível
Em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000008648&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 20 set. 2022.
29
“that Christ subsists in two natures and nevertheless is only one person and one subsistence (εν
πρόσωπον και μία ύπόστασις), since an exchange (a perichoresis) of essential characteristics takes place
between the two natures—an exchange of idiomata, or propria.” STEIGER. Ibid. p. 125
30
Ibid. p. 126. (minha tradução). “The human Jesus created the world and is omnipresent," and "God was
born and lay in a manger."
10

mencionado não apenas nesta era, mas também na vindoura. (Declaração Sólida, Artigo VIII, §§
4 e 7)31.

Assim, na perspectiva luterana, a preservação dos atributos essenciais de cada uma das
naturezas no CI é fundamental para a compreensão de como ocorre a assunção de atributos
por cada natureza.

A CI, no entanto, não foi plenamente aceita por todos os reformadores. Foi questionada
primeiramente por Zuínglio, que identificou mero peso retórico a passagens em que se
atribuía alguma ação humana à denominação divina (e.g. “Deus comprou com seu próprio
sangue” em Atos 20.28 e “crucificado o Senhor da glória” em 1Coríntios 2.8)32. Com os
reformadores não-luteranos surgiu o mote “finitum non capax infiniti”, que resgata o
pensamento de Aquino, e afirma que a divindade não pode ser compreendida na finitude da
humanidade.

João Calvino, comentando Mateus 24.36, apresentou a explicação para a expressão “nem o
Filho”33 em quatro argumentos: a) ao “estado de repouso da natureza divina” sempre que
necessário e que, como homem, poderia ser ignorante em determinados assuntos – e
argumenta inclusive que tal ignorância é o que permitia sentir tristeza ou ansiedade; b)
argumenta ainda que ignorância não é fruto de pecado, considerando-se que, no mesmo
assunto, os anjos eleitos são ignorantes; c) Atribui ainda a função de subordinação temporária
ao Pai e que não seria missão do Filho saber tal dia; d) Finalmente, Calvino argumenta que
trata-se de estado temporário de ignorância, resolvido após a ressurreição34.

31
(Minha tradução) “We . . . believe, teach, and confess that to be almighty, to be eternal, to be infinite, to be
everywhere at the same time naturally (that is, according to the property of the nature and of its natural essence),
to be intrinsically present, and to know everything are essential properties of the divine nature, which throughout
eternity will never become the essential properties of the human nature . . . We furthermore believe, teach, and
confess that the assumed human nature in Christ not only possesses and retains its natural and essential
properties but that in addition thereto, through the personal union with the deity and afterward through the
exaltation or glorification, it has been elevated to the right hand of majesty, power, and might over every name
that is named not only in this age but also in that which is to come. (Solid Declaration, Article VIII, §§ 4 and 7)”.
In MCCORMACK, B. L. Karl Barth’s Christology as a resource for a Reformed version of
kenoticism. International Journal of Systematic Theology, [s. l.], v. 8, n. 3, p. 245
2006.https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001538508&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 ago. 2022.
32
In opposition to Luther, Zwingli rejected the communicatio idiomatum and said that it is just a mode of
speech when divine things are said of the human Jesus in the Bible. Zwingli, following Plutarch, called
this unrealistic way of speaking, this merely stylistic device, "Alloiosis." In STEIGER. Opus cit. P. 127
33
João Calvino atribui a expressão exclusivamente a Marcos. Ver CALVINO, João. Comentário Bíblico João
Calvino: Novo Testament. pp. 731-732. Edição do Kindle.
34
Ibid. p. 731-732 “Quanto à primeira objeção, de que nada é desconhecido para Deus, a resposta é fácil. Pois
sabemos que em Cristo as duas naturezas eram unidas em uma pessoa de tal maneira que cada uma reteve suas
propriedades; e mais especialmente a natureza divina estava em um estado de repouso, e de forma alguma se
11

A Confissão de Fé de Westminster (1643 d.C.) - CFW, por sua vez, trata explicitamente das
duas naturezas de Cristo e lida diretamente com o debate em relação ao CI. A CFW afirma:

2. [...] As duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas - a Divindade e a Humanidade - foram


inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, verdadeiro homem, porém um só
Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem.
3. O Senhor Jesus, em sua natureza humana unida à divina, foi santificado e sem medida ungido
com o Espírito Santo, tendo em si todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Aprouve ao Pai
que nele habitasse toda a plenitude, a fim de que, sendo santo, inocente, incontaminado e cheio
de graça e verdade, estivesse perfeitamente preparado para exercer o ofício de Mediador e
Fiador. [...]
7. Cristo, na obra de mediação, age de conformidade com as suas duas naturezas, fazendo cada
uma o que lhe é próprio; contudo, em razão da unidade de uma pessoa, o que é próprio de uma
natureza é, às vezes, nas Escrituras, atribuído à pessoa denominada pela outra natureza. 35

A CFW afirma a plenitude da divindade em Cristo e expressa nEle “todos os tesouros da


sabedoria e da ciência”. Na questão do CI afirma, contudo, a posição de Calvino (e Agostino e
Crisóstomo) defendendo que, em virtude da unidade da pessoa, eventualmente o que é próprio
de uma natureza é atribuído à outra – i.e., trata-se de recurso retórico que reforça a unicidade
da pessoa de Cristo. Assim, na perspectiva confessional, não há CI, mas o Novo Testamento
usa de metonímia para referir-se à propriedade de uma natureza quando, na verdade, refere-se
à pessoa como um todo.

A expressão “fazendo cada uma [natureza] o que lhe é próprio” pode ser aplicada à Mateus
24.36 no que diz respeito à incapacidade da natureza humana de ser onisciente. Assim, a
afirmação de Jesus, embora poderia ser aplicada à pessoa como um todo, refere-se à
propriedade humana de conhecimento finito.

esforçava, (158) sempre que era necessário que a natureza humana agisse separadamente, de acordo com o que
era peculiar a ela, no exercício do cargo de Mediador . Não haveria impropriedade, portanto, em dizer que
Cristo, que sabia todas as coisas, ( João 21:17 ) era ignorante de algo a respeito de sua percepção como homem;
pois de outra forma ele não poderia estar sujeito à tristeza e ansiedade, e não poderia ser como nós, ( Hebreus
2:17 ). Novamente, a objeção levantada por alguns - que a ignorância não pode se aplicar a Cristo, porque é a
punição do pecado - é além da medida ridículo. Pois, primeiro, é uma loucura prodigiosa afirmar que a
ignorância atribuída aos anjos procede do pecado; mas eles descobrem que são igualmente tolos em outro
terreno, por não perceberem que Cristo se revestiu de nossa carne, com o propósito de suportar o castigo devido
aos nossos pecados. E se Cristo, como homem, não conheceu o último dia, isso não menospreza a sua natureza
divina do que ter sido mortal. Não tenho dúvidas de que ele se refere ao cargo que lhe foi designado pelo Pai
como em uma instância anterior, quando disse que não lhe cabia colocar esta ou aquela pessoa à sua direita ou à
sua esquerda ( Mateus 20:23 ; Marcos 5:40 .) Pois (como expliquei nessa passagem (159)) ele não disse
absolutamente que isso não estava em seu poder, mas o significado era que ele não tinha sido enviado pelo Pai
com esta comissão, enquanto ele viveu entre mortais. Portanto, agora eu entendo que, na medida em que ele veio
até nós para ser o Mediador, até que ele tenha desempenhado totalmente seu ofício, aquela informação que ele
recebeu não foi dada a ele depois de sua ressurreição; pois então ele declarou expressamente que o poder sobre
todas as coisas havia sido dado a ele ( Mateus 28:18 ).”
35
Confissão de Fé de Westminster. Capítulo 8 – De Cristo, o mediador. Disponível em:
https://www.executivaipb.com.br/arquivos/confissao_de_westminster.pdf
12

2.5 Kenoticismo do séc. XIX

No século XIX, surgiu na Alemanha uma nova contribuição ao debate Cristológico com
implicações para a interpretação de Mateus 24.36. A denominada Escola de Erlangen,
também chamada de kenoticismo alemão, tem como principais expoentes os teólogos
luteranos Gottfried Thomasius (1802-1875 d.C.) e Wolfgang Friedrich Gess (1819 – 1891
d.C.)36.

A Fórmula de Concórdia, documento luterano que resume as posições teológicas da


denominação afirmava: “no chamado ‘estado de humilhação’, o Deus-homem fez uso de seus
atributos divinos ‘de acordo com sua natureza humana’ apenas onde e quando lhe aprouve
fazê-lo”37. A inovação defendida pela Escola de Erlangen, entretanto, radicalizou a proposta
de Concórdia ao indicar que “[...] para assumir a natureza humana sem efetuar uma elevação
dessa natureza acima dos limites [que são] próprios do ser humano, era necessário que o
Logos divino se despojasse de certos atributos divinos”38. Thomasius fez então distinção entre
atributos imanentes (ou essenciais) e atributos relativos (ou relacionais). Assim, Jesus
esvaziou-se dos atributos imanentes na encarnação – onipotência, onisciência, onipresença –
mas, manteve o pleno uso dos atributos relativos.39

O kenoticismo alemão influenciou toda uma geração de teólogos, em geral, britânicos40 e,


embora Thomasius seja grandemente desconhecido na atualidade, a perspectiva de que a
kenosis implicou alienação de atributos divinos tornou-se muito difundida na teologia
posterior (vide interpretações hodiernas), especialmente em círculos não-acadêmicos.

36
GIBBS, N. B.; GIBBS, L. W. “In our nature”: the kenotic Christology of Charles Chauncy. Harvard
Theological Review, [s. l.], v. 85, n. 2, p. 233, 1992. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000860036&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
37
MCCORMACK. Opus cit. p. 245 (minha tradução): “in the so-called ‘state of humiliation’, the God-human
made use of his divine attributes ‘according to his human nature’ only where and when it pleased him to do so”.
38
Ibid. p. 246. (minha tradução): “[...] in order to assume human nature without effecting an elevation of that
nature above the limits proper to the human, it was necessary for the divine Logos to divest himself of certain
divine attributes”
39
Idem.
40
“Thomasius’ Christology attracted a lot of attention and found adherents both within and outside of the
Lutheran camp. Indeed, kenotic Christology became the dominant school of thought in Reformed Scotland until
the 1940s, when D.M. Baillie succeeded in bringing an end to it by pointing out that if the second person of the
Trinity had to divest himself of any attributes in order become incarnate (only to take those attributes up again
later), then what you had was not a genuine incarnation but only a theophany.” MCCORMACK, Idem. Ver ainda
a conhecida obra “The Christ of History” de David W. Forrest.
13

2.6 Interpretações hodiernas

Os séculos XX e XXI promoveram uma profusão de obras teológicas de referência, com


inúmeros volumes de comentários bíblicos e de manuais de teologia sistemática. No entanto,
houve pouca inovação na interpretação de Mateus 24.36 e nas questões relacionadas às duas
naturezas de Cristo. A tabela a seguir exemplifica as opções interpretativas dos manuais e
comentários, de forma não exaustiva:
Tabela 1 - Propostas interpretativas hodiernas de Mt 24.36

Autor Propostas adotadas


Bavinck, H. A determinação do dia e hora é de exclusividade da autoridade do
Pai.41
Sproul, R. C. A natureza humana não possuía o atributo da onisciência. Como as
duas naturezas são distintas, mas não separadas – nessa distinção, a
mente humana de Cristo não pode saber tudo o que a natureza divina
de Cristo conhece. 42 Sproul adota a posição reformada do “finitum
non capax infiniti”.
Grudem, W. Jesus tinha uma mente humana, assim, não poderia saber todas as
coisas43. Grudem defende ainda que existem, em Jesus, duas vontades
e duas consciências. Essa dualidade explicaria como Jesus tem, ao
mesmo tempo, conhecimento limitado e onisciência. Ele poderia,
sempre que quisesse, acessar a onisciência divina para “trazer à mente
a qualquer momento qualquer informação necessária para seu
ministério. Referindo-se a Mateus 24.36, ele afirma:
“Essa ignorância de tempo de sua volta só dizia respeito à natureza
humana e à consciência humana de Jesus, pois em sua natureza
divina certamente era onisciente e sabia o tempo em que retornaria à
terra”44.
Grudem ainda defende que quando uma das duas naturezas realiza
algo não possível à outra natureza (e.g. morrer) – é a pessoa que o faz
e não apenas a natureza. Ele afirma que “tudo o que se possa dizer de
uma natureza ou de outra pode ser dito da pessoa de Cristo”45.

41
BAVINCK, H. Teologia Sistemática. SOCEP, Santa Bárbara do Oeste. P. 608
42
O fato de que Jesus não sabia o dia nem a hora do fim do século não indica uma separação entre sua natureza
humana e sua natureza divina. Não há nenhuma separação, e sim distinção. A mente humana de Jesus
sempre esteve unida com sua mente divina, e no Novo Testamento, vemos Jesus manifestar frequentemente
conhecimento sobrenatural. Ele revela coisas que nenhum ser humano poderia saber. Onde ele obteve tal
informação? Ele a obteve daquele que é onisciente. Entretanto, uma coisa é a natureza divina transmitir
conhecimento à natureza humana; outra coisa bem diferente é a natureza divina engolir a natureza humana e
deificar a mente humana de Cristo. A mente humana tinha acesso à mente divina, mas não eram a mesma
coisa; por isso, havia certas coisas que Jesus não sabia, por seu próprio testemunho. In SPROUL, R.C.
Somos todos teólogos: uma introdução à teologia sistemática. São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. Cap. 24
43
Ele cita especificamente Mc 13.32 para defender tal ideia. GRUDEM, W. Teologia Sistemática. São Paulo:
Edições Vida Nova, 1999. p. 438 b.
44
Ibid, p. 463
45
Ibid. p. 464
14

Berkhof, L. “A declaração a respeito do Filho [em Mateus 24.36] provavelmente


significa que este conhecimento não estava incluído na revelação que
Ele, na qualidade de Mediador, tinha que realizar.”46 Berkhof parece
defender uma ignorância funcional de Jesus.
Strong. A. H. Strong argumenta que a ignorância de Jesus se deve a: a) limitações
da natureza humana; b) que a natureza divina limitou-se e humilhou-
se na vida terrena de Jesus; c) que havia uma ordem funcional
consistente com igualdade essencial, mas com o Pai como primeiro e
o Filho como segundo funcionalmente47.
Ferreira, F. e Myatt e Ferreira optam pela limitação funcional e circunstancial dos
Myatt, A. atributos divinos na humanidade de Cristo48.
Eles afirmam ainda a perspectiva do communicatio idiomatum,
definida como “a doutrina da comunicação de atributos ensina que
as propriedades de ambas as naturezas podem ser atribuídas a
uma Pessoa”49.
Os autores afirmam então: “Por isto, se pode dizer que Jesus
Cristo é todo-poderoso, onisciente, onipresente e assim por diante,
mas também se pode dizer que ele é um homem real, de
conhecimento e poder limitados, e sujeito às necessidades, dores e
limitações humanas.”
Erickson, M. Apresenta que o conhecimento humano de Jesus não era ilimitado.50
J.
Hodge, C. Advoga que há passagens em que a “pessoa é o sujeito, mas o
predicado é procedente só da natureza humana”. Assim, seria um uso
metonímico.51

46
BERKHOF. Opus cit. p. 700
47
STRONG. A. H. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Hagnos. p. 468 - Ele afirma: “Contemplando
passagens aparentemente inconsistentes com aquelas ora citadas, nas quais se imputa a Cristo fraqueza e
ignorância, limitação e sujeição, devemos lembrar, primeiro, que o Senhor era verdadeiramente homem
assim como era verdadeiramente Deus e que tal ignorância e fraqueza podem ser predicados dele como o Deus-
homem em quem a divindade e a humanidade se unem; segundo, que a natureza divina em certo sentido limitou-
se humilhou-se durante a vida terrena do nosso Salvador e que estas passagens podem descrevê-lo como ele era
no seu estado de humilhação mais do que em sua original e presente glória; e terceiro, que há uma ordem de
ofício e operação que é consistente com a unidade e igualdade essenciais, mas que permite falar-se do
Pai como primeiro e o Filho como segundo. Estas declarações serão melhor elucidadas ao tratar-se da
presente doutrina e em subseqüente exame da doutrina da pessoa de Cristo.”
48
FERREIRA, F, MYATT, A. Teologia sistemática : uma análise histórica, bíblica, e apologética para o
contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007. p.518 “Os atributos divinos de Jesus estavam funcionalmente
limitados pela sua humanidade, mas não reduzidos na sua essência. Ele ainda tinha poder para ser
onisciente, onipresente, etc. O que temos é uma limitação circunstancial no exercício de seu poder e de suas
capacidades.”
49
Idem. “Por isso, não é correto separar as duas naturezas, dizendo que “a natureza humana fez isto” ou “a
natureza divina falou aquilo”, justamente porque tudo o que pertence a uma natureza sempre deve ser atribuído à
pessoa de Jesus Cristo.”
50
ERICKSON, M. J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova. 1997 p. 289
51
HODGE, C. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Hagnos, 2001. p. 775
15

Há inúmeros outros autores que lidam com o tema, mas que se encaixam em algumas das
propostas históricas supramencionadas. Assim, podemos categorizar as posições quanto à
causa da ignorância do Filho em Mateus 24.36, ao longo da História da Igreja, nas seguintes
propostas:

1. A ignorância refere-se à natureza humana de Jesus – que não pode ser onisciente;
2. A ignorância acontece em virtude da kenosis, quando Jesus abriu mão
temporariamente dos atributos divinos relacionados à essência divina (onisciência,
onipotência e onipresença);
3. Os atributos de cada natureza são comunicados à pessoa como um todo, no processo
de communicatio idiomatum (CI); a finitude do conhecimento humano contamina o
ser todo e, ao mesmo tempo, a onisciência divina também compõe todo o ser;
4. A função de Jesus na encarnação incluía não saber, temporariamente, o dia e a hora de
sua vinda

3 EXEGESE DE MATEUS 24.36

3.1 Contexto histórico, literário e canônico

Mateus, um dos evangelhos sinóticos, apresenta como uma de suas principais características a
preservação dos discursos de Jesus – assim, é um evangelho preocupado em organizar o
ministério de Cristo a partir de momentos de ensino. Em termos de estilo literário, compõe o
que autores mais recentes têm denominado narrativa52 ou, de forma mais específica, uma
espécie de biografias histórico-teológicas modificadas53.

O evangelho de Mateus é grandemente judaico na forma, nas citações veterotestamentárias e


no conteúdo, com a messianidade de Jesus como foco central54 e, ao mesmo tempo, apresenta
histórias e afirmações que defendem um evangelho mundial e gentílico – como afirma
Blomberg: “Uma das distinções mais notáveis, já aparente na estrutura desse livro, é que
Mateus talvez seja o mais judaico de todos os evangelhos e, mesmo assim, em pontos

52
OSBORNE, G. R. A espiral hermenêutica. São Paulo: Edições Vida Nova. 2018 p. 255 e seguintes.
53
Estou usando a terminologia de Jonathan Pennington, que argumentou como os evangelhos contrastam com as
bioi gregas do período do Novo Testamento. Ver PENNINGTON, J. Lendo os evangelhos com sabedoria. Rio
de Janeiro: acadêmico, 2019. p. 49 a 54
54
Carlos Osvaldo afirma “o evangelho apresenta uma apologética de messianidade de Jesus dirigida a judeus
que pudessem fazer objeção a um Messias crucificado”. Em PINTO, C. O. C. Foco e desenvolvimento no Novo
Testamento. São Paulo: editora Hagnos, 2014. p. 35
16

fundamentais ele também prenuncia a missão gentia tão claramente quanto qualquer um dos
outros três.55”

Há extensa discussão sobre qual foi o primeiro dos evangelhos a ser escrito 56.
Independentemente da perspectiva adotada quanto a Mateus, há evidências importantes de
uma composição pretérita ao ano 70 A.D. e à queda de Jerusalém 57. Nesse sentido, o capítulo
24 de Mateus é um discurso proferido em frente ao Templo, no Monte das Oliveiras (Mt
24.3), com vista privilegiada do Templo e do pátio dos gentios. Assim, o tema da robustez da
construção dá início ao chamado sermão escatológico de Jesus.

Esse sermão é um dos cinco grandes discursos de Mateus – material cujo conteúdo e forma de
organização coloca Mateus como evangelho sui generis. Alguns autores têm proposta que a
estrutura dos sermões emoldura o livro como um todo58. São os cinco discursos: a) Sermão do
Monte (caps 05 a 07); b) Preparação ao envio (cap. 10); c) Parábolas (cap. 13); d) Discurso
sobre o perdão (cap. 16 e cap. 18); e, finalmente, e) Sermão escatológico (cap 24-25).

Considerando-se a proposta do evangelho de Mateus como um evangelho que defende a


messianidade de Jesus a um público judeu 59 e, ao mesmo tempo, defende a este mesmo
público que se trata de um Messias de alcance mundial60, os capítulos 24 e 25, que se seguem
à condenação ao judaísmo hipócrita no capítulo 23, tratam dos últimos dias e suas implicações
tanto para judeus como para o mundo todo. As divergências estão na proporção de
implicações judaicas ou mundiais61.

O discurso escatológico de Jesus ocorre em resposta a duas perguntas dos discípulos (Mt
24.3): 1) Quando acontecerão estas coisas e 2) Qual será o sinal da tua vinda e do fim dos
tempos? A segunda pergunta, na verdade, pode ser dividida em duas partes: a) sinais do fim

55
BLOMBERG, C. Introdução aos evangelhos. Sâo Paulo: Edições Vida Nova, 2009. P. 173
56
Ibid. p. 110-127
57
Carlos Osvaldo argumenta que as advertências críticas contra os saduceus (que não fariam sentido após 70
A.D.) e que o Sitz in Leben reflete a situação da Palestina entre 50 e 64 A.D. Em PINTO, C. Opus cit. p. 34
58
BLOMBERG. Opus cit. p. 168-17
59
O caráter judaico do evangelho de Mateus é muito defendido. No entanto, o caráter universal do evangelho
não é tão enfatizado, como por exemplo: “De uma forma geral pode-se dizer que o propósito desse Evangelho
foi conquistar plenamente os judeus para Cristo (grifo do autor); ou seja, conquistar aqueles ainda não
convertidos e fortalecer aqueles já convertidos. O caráter hebraizante do Evangelho de Mateus, como se acha
descrito nas páginas precedentes, revela que esse foi o seu alvo. Com o fim de consegui-lo, a ênfase é calcada no
fato de que Jesus é deveras o Messias de há muito esperado e amplamente anunciado nas Escrituras hebraicas.
HENDRIKSEN, Opus cit. 1:129.
60
PINTO. Opus cit. p. 35
61
Propostas hermenêutico-escatológicas de continuidade (e.g. amilenarismo e preterismo) tendem a enfatizar a
aplicação mundial do discurso escatológico; propostas hermenêutico-escatológicas de descontinuidade enfatizam
os aspectos judaicos; no entanto, todos concordam que a parousia terá implicações mundiais enquanto há eventos
que ocorrerão (ou ocorreram, se estivermos lidando com preteristas) em ambiente judaico.
17

dos tempos e b) sinais da vinda de Cristo. Os capítulos 24 e 25 são então estruturados para
responder, organizadamente, às perguntas formuladas pelos discípulos. As perguntas dos
discípulos podem ser uma indagação relacionada à afirmação de Jesus, em Mateus 23.38, de
que a “eis que casa de vocês ficará deserta”, considerando-se que o templo é tratado,
eventualmente, como casa (ver Mt 21.13). A ocasião do discurso é a última semana de Cristo
– e uma provável terça-feira62.

A estrutura de Mateus 24 e 25 obedece, grosso modo, à ordem de resposta das perguntas


elaboradas pelos discípulos. Embora haja dissonantes interpretações sobre o significado e o
período de cumprimento das predições de Jesus, a estrutura do último sermão de Jesus em
Mateus tem certa convergência entre comentaristas:
Tabela 2 – Divisões de Mateus 24 e 25

Blomberg Carson
(1) Sinais e Tempos da Destruição do 1. Cenário (24:1–3)
Templo e da Volta de Cristo (24:1–35)
2. As dores de parto (24:4-28)
(a) Introdução (24:1-3)
a. Descrição geral das dores de parto (24:4-14)
(b) Sinais que ainda não indicam o fim
b. A dor aguda: a queda de Jerusalém (24:15-
(24:4-14)
21)
(c) A Destruição do Templo (24:15–20)
c. Advertências contra falsos messias durante
(d) A Grande Tribulação (24:21-28) as dores do parto (24:22-28)
(e) A Segunda Vinda de Cristo (24:29- 3. A vinda do Filho do Homem (24:29-31)
31)
4. O significado das dores de parto (24:32-35)
(f) Implicações finais (24:32-35)

5. O dia e a hora desconhecidos: a necessidade de


(2) Comandos para Vigilância Perpétua estar preparado (24:36-41)
(24:36–25:46)
a.O início (24:36)
(a) Introdução e Tese: Ninguém, a não
b. Analogia dos dias de Noé (24:37–39)
ser Deus, o Pai, sabe o tempo da volta
de Cristo (24:36-42) c. Dois em campo; dois com um moinho
(24:40-41)
(b) A Parábola do Senhor da vinha e do
Ladrão (24:43-44) 6. Ensino parabólico: variações na vigilância
(24:21–25:46)
(c) A Parábola dos Servos Fiéis e Infiéis

62
Era terça-feira, poucos dias antes de o Cordeiro Pascal se oferecer como expiação pelos pecados de seu povo.
Com toda probabilidade, é no final da tarde desse dia em extremo memorável e de muita ocupação. Jesus deixa o
templo e dele se afasta acompanhado de seus discípulos quando estes se aproximam dele com o propósito de
chamar-lhe a atenção para as belezas e a grandeza de seu sagrado edifício: “Mestre, vê que [grandes] pedras, que
[magníficos] edifícios”! A razão por que precisamente nesse momento particular esses homens estão pensando
no templo é que Jesus lhes havia dito: “Eis que sua casa será deixada deserta” (23.38). Ainda que seja razoável
crer que a expressão “sua casa” signifique Jerusalém, o templo estava, sem dúvida, incluído. É como se os
discípulos estivessem dizendo: “É verdade que também este glorioso edifício ficará deserto?”62 In
HENDRIKSEN. Opus cit. p. 418
18

(24:45-51) a. O dono da casa e o ladrão (24:42-44)


(d) A Parábola dos dez madrinhas b. Os dois servos (24:45-51)
(25:1–13)
c. As dez virgens (25:1-13)
(e) A Parábola dos Talentos (25:14–30)
d. Os Talentos (25:14-30)
63
(f) As Ovelhas e os Bodes (25:31–46)
e. As ovelhas e os bodes (25:31-46)
(minha tradução)
7. Conclusão de transição: quarta grande previsão
da paixão e do complô contra Jesus (26:1–5)64.
(minha tradução)

Embora os detalhes e interpretações das divisões sejam diferentes, o versículo 36 compõe a


parte do discurso que lida com a surpresa e a necessidade de preparação da segunda vinda.

O discurso escatológico de Jesus tem relação com diversos textos (canônicos e não
canônicos). Em termos de evangelhos sinóticos, a passagem é repetida também em Marcos 13
e em Lucas 21. As principais diferenças entre os sinóticos estão relacionadas ao acréscimo,
em Mateus, da pergunta “τι το σημειον της σης παρουσιας”. Assim, na resposta à pergunta
exclusiva de Mateus, o evangelista apresenta os versículos 24.37-51 – exclusivos de Mateus,
além de todo o capítulo 25 – acréscimos estes que lidam com os sinais da παρουσια. Lucas,
entretanto, é o único evangelista a citar Jerusalém (em Lucas 21.20 e 24). Assim, é tratado
como uma predição específica da queda de Jerusalém em 70 A.D.

Outros textos relacionados a Mateus 24 são 1Tessalonissenses 4.16-17; 5.1-8, com expressões
paulinas que indicam que as profecias dos evangelhos eram conhecidas do apóstolo Paulo.
Paulo menciona, por exemplo, των χρονων και των καιρων, ημερα κυριου, αιφνιδιος,
κλεπτας, νεφελαις – entre outros termos – com grande coincidência de vocabulário com
Mateus 24 e a repetição das mesmas palavras e expressões que se referem também à segunda
vinda65.

A παρουσια também é referida em outros textos do NT, como 1Co 15.23, 2Ts 2.1 e 8; Tg 5.7-
8. 2Pe 3.4 e 12 e 1Jo 2.28. Todos estes textos referem-se explicitamente à vinda de Cristo
com os mesmos termos usados em Mateus 24, em especial na expressão: η παρουσια [του
υιου] του ανθρωπου – mas, nem sempre repetindo a expressão “filho”.

63
BLOMBERG, C. Matthew. The New American Commentary, (Nashville: Broadman & Holman Publishers,
1992), 22:49.
64
CARSON, D. A. The Expositor’s Bible Commentary: Matthew, Mark, Luke, 1984, 8, 56–57.
65
Para uma compração mais específica, ver: ORCHARD, B. Thessalonians and the synoptic gospels
[1]. Biblica, [s. l.], v. 19, n. 1, p. 19–42, 1938. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001466122&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 27 set. 2022.
19

Quanto a alusões e citações do AT no capítulo, a tabela a seguir lista as principais


possibilidades:

Tabela 3 – Citações e alusões do AT em Mateus 24 e 2566

Em Mt 24-25 No AT Trecho

Mt 24.6 Dn 2.28, 29 e 45 δει ... γενεσθαι é necessário acontecer

Mt 24.7 2Cr 15.6 εθνος επι εθνος – nação contra nação

Mt 24.7 Is 19.2 βασιλεια επι βασιλειαν – reino contra reino


σκανδαλισθησονται πολλοι – muitos
Mt 24.10 Dn 11.41
escandalizarão
Dn 9.27, 11.31, 12.11 το βδελυγμα της ερημωσεως – o abominável
Mt 24.15
e 1Mac 1.54 e 6.7 da desolação
Mt 24.21 Dn 12.1 θλιψις μεγαλη - Grande tribulação

Mt 24.37 Gn 6.9 Αι... νωε – nos [dias] de Noé


εισηλθεν ... απαντας – entrou [Noé na arca] e
Mt 24.38-39 Gn 6.13-7.24
todos [morreram]
Dt 33.2 e Zc 14.5 (οἱ οταν [...] αγγελοι μετ αυτου – quando... os
Mt 25.31
ἅγιοι) anjos com ele
Mt 25.32 Ez 34.17 ωσπερ ... εριφων – como... dos bodes
Επεινασα... περιεβαλετε με – tive fome... me
Mt 25.35-36 Is 58.17
vestistes
Mt 25.40 Pr 19.17 εφ ... εμοι εποιησατε – a mim fizestes

Em termos de literatura extracanônica, a menção a Noé, em Mateus 24.37, tem sido


eventualmente referida como alusão a 1Enoque: “As frases “os dias de Noé” e os “dias antes
do dilúvio” direcionam o público para o judaísmo enóquico.”67 A explicação proposta por
Perry indica: “Como é típico do material enoquico, o pecado, juízo e renovação no tempo de
Noé serão replicados no eschaton, quando Deus julgará um mundo completamente perverso e

66
WESTCOTT, B. F. e HORT, F. J. The New Testament in the Original Greek. Logos Bible Software, 2009.
67
In PERRY, P. S. Disputing Enoch: reading Matthew 24:36-44 with Enochic Judaism. Currents in Theology
and Mission, [s. l.], v. 37, n. 6, p. 451–459, 2010. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001820993&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 22 set. 2021.
20

pecaminoso, libertará uns poucos justos e inaugurará uma era de justiça e bênção perfeitas e
plenas”. 68

No entanto, a relação com 1Enoque não é uma explicação necessária – a comparação com os
tempos de Noé remete à imprevisibilidade da παρουσια e pode ser entendida por aqueles que
nunca lidaram com o referido apócrifo.

3.2 Estudo textual de Mateus 24.36

3.2.1 Crítica Textual

O presente trabalho não tem como foco a crítica textual. Neste sentido, é importante apenas
determinar se a leitura que inclui as palavras “οὐδὲ ὁ υἱός” seja antiga o suficiente para ser
considerada.

Assim, há duas variantes:

Var 01 – Inclui “οὐδὲ ὁ υἱός”

περι δε της ημερας εκεινης και ωρας ουδεις οιδεν ουδε οι αγγελοι των ουρανων οὐδὲ ὁ υἱός ει
μη ο πατηρ μονος

Var 02 – omite “οὐδὲ ὁ υἱός”

περι δε της ημερας εκεινης και ωρας ουδεις οιδεν ουδε οι αγγελοι των ουρανων ει μη ο πατηρ
μονος

Evidências externas

Var 01– Inclui “οὐδὲ ὁ υἱός”

A leitura da primeira variante é corroborada por diversos manuscritos de três principais


classificações: Alexandrinos (como ‫א‬, B, D e alguns minúsculos posteriores), Bizantinos
(incluindo Θ) e versões diversas (com ita, aur, b, c, d, e, f, ff2, h, q, r, vgmms , syrpal, arm, eth, geo). É
notável também a quantidade de autores patrísticos e posteriores que citam o texto:
Diatessaronarm, Irineu, Orígenes, Crisóstomo, Cirilo, Agostinho, entre outros.

A primeira leitura é antiga, com citações do séc. III, apontando para cópias do séc. II.

68
Ibid. (minha tradução) "As is typical of the Enochic material, the sin, judgment, and renewal at the time
of Noah will be replicated at the eschaton, when God will judge a thoroughly perverse and sinful world,
deliver a righteous few, and usher in an era of perfect and full righteousness and blessing."
21

Var 02 – omite “οὐδὲ ὁ υἱός”

A leitura que omite a expressão tem um documento uncial antigo (W, séc IV e V) e alguns
unciais posteriores (L, f1 e Δ). O texto bizantino também omite a expressão. Muitos
minúsculos recentes também não contém a expressão (33, 157, 180, 205, 565 e outros). Em
termos de pais da igreja, é notória a omissão em cópias gregas de Jerônimo. A leitura que
omite “οὐδὲ ὁ υἱός” é antiga, mas menos distribuída e com cópias mais recentes.

Evidências internas

Trata-se de um caso provável de omissão proposital por razões teológicas. As evidências


antigas indicam que os próprios pais da igreja sentiam-se incomodados com a expressão (vide
Jerônimo em 2.1). No entanto, a ausência de “οὐδὲ ὁ υἱός” não resolve todo o problema, nem
teologicamente nem sintaticamente; afinal, o versículo ainda contém a expressão: εἰ μὴ ὁ
πατὴρ μόνος – que não faz sentido se estivermos falando apensa de anjos não saberem algo
que somente o Pai sabe.

Além disso, ainda que omissão em Mateus tivesse ocorrido, as leituras de Marcos 13.32, texto
paralelo contém, sem variantes relevantes, a expressão “οὐδὲ ὁ υἱός”. Para Metzger:

A frase “nem o Filho” não é encontrada na maioria dos testemunhos [textuais] de Mateus nem
no texto bizantino tardio. Por outro lado, os melhores representantes dos tipos textuais
alexandrinos e ocidentais contêm esta frase. É mais provável que essas palavras tenham sido
omitidas por causa da dificuldade doutrinária que apresentam e não que tenham sido
adicionadas para harmonizar esta passagem com Marcos 13.32. Além disso, a presença de
μονος sugere a originalidade da frase, assim como a forma da frase em sua totalidade (ουδε...
ουδε... são inseparáveis assim como [são os] parênteses, uma vez que εἰ μὴ ὁ πατὴρ μόνος vai
com ουδεις οιδεν) 69.

Conclusão crítica textual

Considerando-se as evidências internas e externas, há preferência pela variante 01, pois


encontra ampla distribuição, bom suporte antigo de manuscritos e na patrística. Além disso, a

69
(minha tradução) “La frase “ni el Hijo” no se encuentra em la mayoría de lós testigos de Mateo ni em el texto
Bizantino tardio. Por outra parte, lós mejores representantes de lós tipos textuales alejandrino y occidental
contienen esta frase. Es más probable que estas palabras hayan sido omitidas por causa de la dificultad doctrinal
que presentan, y no que hayan sido añadidas para asimilar este pasaje com Mc 13.32. Más aún, la presencia de
μονος sugiere la originilidad de la frase, ló mismo que la forma de la oración em su totalidad (ουδε... ουδε... son
inseparables como paréntesis, pues εἰ μὴ ὁ πατὴρ μόνος va con ουδεις οιδεν)”. In METZGER, Bruce M. Um
Comentario textual al Nuevo Testamento grego. Stuttgart: Sociedades Bíblicas Unidas. 2006 p. 51-52
22

tentativa mais provável de harmonização por copistas prejudica mais a segunda leitura.
Assim, mantém-se, neste trabalho, a leitura que inclui “οὐδὲ ὁ υἱός”70.

3.2.2 Estrutura do versículo

Oração principal Περὶ δὲ τῆς ἡμέρας ἐκείνης καὶ ὥρας οὐδεὶς οἶδεν,

Oração coordenada aditiva οὐδὲ οἱ ἄγγελοι τῶν οὐρανῶν

Oração coordenada aditiva οὐδὲ ὁ υἱός,

Oração coordenada adversativa εἰ μὴ ὁ πατὴρ μόνος.71

O versículo 36 apresenta 04 orações coordenadas, sendo as três primeiras aditivas e com


elipse verbal. A última oração coordenada, com verbo também subentendido, no entanto,
apresenta contraste em relação às demais. Assim, no versículo, a partir da expressão “οὐδεὶς
οἶδεν”, são elencados, nominalmente, as pessoas (e seres) que estão incluídos no ninguém, a
saber: os anjos dos céus e o Filho. A conjunção que marca a coordenação é οὐδὲ, usada em
conjunto com οὐδεὶς, indicando que o que está elencado a seguir trata-se de exemplos
relacionados ao οὐδεὶς. A estrutura de coordenação indica também algum tipo de progressão
em termos de autoridade: ninguém (humanidade) para anjos dos céus para Filho e finalmente,
no mais alto nível de autoridade, o Pai.

Contrastando com a ignorância universal, a oração coordenada adversativa indica que há uma
exceção, a qual é o próprio Pai. A locução conjuntiva εἰ μὴ indica tal exceção explicitamente.

3.2.3 Termos do versículo

Περὶ δὲ

O uso de “δε” parece marcar mudança de assunto ou um novo desenvolvimento na


passagem72. Jesus tinha listado, nos versículos 04 ao 28 os sinais que respondem à primeira
indagação dos discípulos: ποτε ταυτα εσται – sendo ao menos 09 sinais: muitos virão dizendo
ser o Cristo – enganarão muitos (v. 5); guerras e rumores de guerras, nação contra nação (v. 6-

70
Ver também o resumo de R.T. France em FRANCE, R. T. The Gospel of Matthew. The New International
Commentary on the New Testament. EEdermans, 2007, p. 931
71
WESTCOTT, B. F. e HORT, F. J. Opus cit. Mt 24.36.
72
Segundo Levihnson, “δέ seems to “represent a new step or development in the author’s story or argument.”
[...It “represents the writer’s choice to explicitly signal that what follows is a new, distinct development in the
story or argument, based on how the writer conceived of it.” In MATHEWSON, David L.; EMIG, Elodie
Ballantine. Intermediate Greek Grammar (p. 331). Baker Publishing Group. Edição do Kindle.
23

7); fomes e terremotos em vários lugares (v. 7); perseguição dos que pregam o reino (v. 9);
ódio aos servos de Deus (v. 9); escândalo, traição e ódio em muitos lugares (v. 10); falsos
profetas em grande número (v. 11); amor se esfria e a maldade aumenta (v. 12); o evangelho é
pregado no mundo todo (v. 14).

No entanto, no versículo 36, ele lida não mais com um período ou com múltiplos sinais, mas
especificamente quanto ao momento da παρουσια. Assim, o “δε” parece introduzir agora a
resposta de Jesus não mais à primeira pergunta, mas à segunda indagação formulada pelos
discípulos: και τι το σημειον της σης παρουσιας (v. 3).

Assim, “δε” pode indicar, no contexto, o início de um novo segmento cujo conteúdo
relaciona-se à imprevisibilidade do momento da παρουσια – que faz sentido no encadeamento
do discurso, pois a perícope sobre Noé (Mt 24.37-40), a perspectiva de deixado e levado e a
analogia do ladrão (Mt 24.41-44), a história do servo imprudente (Mt 24.45-51) e a parábola
das dez virgens (Mt 25.1-13) são passagens cujo propósito é enfatizar a surpresa da segunda
vinda e a necessidade de se estar preparado – tema que é introduzido, justamente, no v. 36.

τῆς ἡμέρας ἐκείνης καὶ ὥρας

Aquele dia e hora marca também uma mudança importante na linguagem do capítulo. Há
notável redução de número do plural para o singular entre os versículos 35 e 36 nas
expressões “εκειναις ταις ημεραις” para “της ημερας εκεινης”. Até o v. 35, Mateus menciona
a expressão “εκειναις ταις ημεραις”, i.e “aqueles dias” (19, 22 e 29). Do v. 36 em diante,
refere-se a “της ημερας εκεινης”, i.e. àquele dia (36, 38, 42, 50 e 25.13).

A mudança não é sem sentido. “Aqueles dias” refere-se à primeira pergunta dos discípulos
(Mt 24.3): “Dize-nos quando sucederão estas coisas” - λεγοντες ημιν ποτε ταυτα εσται. A
primeira parte do capítulo responde sobre os sinais do período mais amplo categorizado como
“fim dos tempos”, ou, como os próprios discípulos perguntam “estas coisas”. No entanto,
quando a resposta de Jesus se a pergunta και τι το σημειον της σης παρουσιας, a resposta de
Jesus usa “aquele dia” – no singular Assim, há diferenciação entre a παρουσια – “o dia” – e o
fim dos tempos – “aqueles dias”73.

73
Há ainda outros elementos que sugerem que o período anterior referido até o v. 35 é bem mais amplo, como
sugere o uso de pronomes por Jesus: “Jesus' interweaving of various designations—"you," "many," "one
another," "most people's," "the one," "whoever," "those," and "those days"—suggests that the fulfillment
of the predicted events was indefinite.” In DEBRUYN, L. A. Preterism and “this generation”. Bibliotheca
sacra, [s. l.], v. 167, n. 666, p. 180–200, 2010. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001778564&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
24

Ao mesmo tempo, ao mencionar especificamente “τῆς ἡμέρας ἐκείνης καὶ ὥρας”, muitos
comentaristas, desde o período patrístico, indicam que não saber o exato dia e hora,
considerando-se que o dia está em um determinado mês e em determinado ano e período
histórico, teria implicações de Cristo não conhecer os tempos como um todo. Robert Thomas,
argumentado contra a perspectiva preterista que enfatiza “esta geração” (Mt 24.34) como
limite temporal afirma: “o dia e a hora inclui referências à semana, ao mês, ao ano e ao
período de anos que incluem o dia e a hora. Jesus declarou que ninguém soube (ou sabe) com
antecedência quando ele retornaria (ou retornará)”74.

Embora a argumentação de Thomas de que dia e hora não são apenas momentos específicos,
é possível argumentar que os sinais apresentados de Mateus 24.4-31 são sinais de um período
denominado, em algumas das posições escatológicas, como “A Grande Tribulação” (que
pode incluir premilenaristas históricos, dispensacionalistas clássicos e, eventualmente,
amilenaristas que creem em um período de tribulação final). Assim, é possível que “εκειναις
ταις ημεραις” refira-se a um dia não conhecido por Jesus, no momento da fala, dentro de um
período revelado, em detalhes, pelo próprio Cristo. Dessa forma, a interpretação seria:
naquele período de grande tribulação, o dia e o momento exato da παρουσια somente o Pai
conhece.

οὐδεὶς
O uso de ουδεις indica um sentido quase absoluto, tanto que a exceção será apresenta
explicitamente no texto. Seu uso impõe ênfase na surpresa e na impossibilidade de se prever
o exato momento da παρουσια, embora o contexto do capítulo indique que o período (τελος)
é de conhecimento do Filho que revelou inúmeros detalhes tanto do período (Mt 24.4-27),
mas também detalhes de como será sua vinda (e.g. Mt 25.31 – o trono de sua glória).

οἶδεν

O verbo usado para referir-se à ignorância do humana, dos anjos e do Filho é de vital
importância à passagem Assim, é necessário analisá-lo com mais detalhes.

Sinonímia entre oιδα e γινωσκω

Para avaliar o uso de οιδα em Mateus 24.36, é preciso estabelecer se, em tese, Jesus poderia,
efetivamente, ter usado outro verbo de significado similar para representar o mesmo conceito
de que ninguém sabe o dia e a hora de sua vinda.

74
PATE, C. M. O apocalipse: quatro pontos de vista. São Paulo: Editora Vida. 2003 p. 238
25

Em termos de grego clássico, há a perspectiva de que ambos os verbos, γινώσκω e οιδα, que
lidam semanticamente com o tema do saber e do conhecimento, mas com significados
levemente distintos:

O verbo γινώσκω, a princípio, significava para os gregos “vir a conhecer”; portanto, não
indicava diretamente o conhecimento como tal, mas o processo da mente, o progresso do
pensamento, que leva ao conhecimento; esta abordagem pode ser uma observação, uma
informação recebida, uma experiência, um raciocínio. 75
Mas οιδα [...] designa o conhecimento adquirido, considerado em si mesmo [...]. O caráter de
"visão" próprio de οιδα, que também pode se manifestar no fato de o verbo designar um
conhecimento de ordem intuitiva, uma apreensão direta pelo pensamento. 76

Embora seja uma distinção presente nos autores clássicos, La Potterie aplica tais definições ao
evangelho de João e conclui que tais distinções são mantidas, tratando de γινώσκω como o
conhecimento aprendido e οιδα como uma compreensão advinda da tomada de consciência,
mediante intuição.77

No entanto, esta distinção entre οιδα e γινώσκω, mesmo no período clássico, não é consenso.
Richard Erickson, por exemplo, embora advogue que existam nuanças entre os termos na
própria literatura paulina, questiona se tal distinção é tão evidente em estudos platônicos, por
exemplo: "De fato, pode-se questionar se a "distinção clássica" entre eidenai e ginöskein se
mantém mesmo no uso clássico; não parece ser assim, pelo menos no grego platônico"78.

Em termos de grego do NT, Burdick conclui, quanto ao uso por Paulo:

Finalmente, quanto à questão da relação entre eidenai e ginöskein no NT, pode-se dizer pelo
menos que não é necessário relacionar todo o problema a uma norma clássica. Com base no
que foi visto aqui, pode-se concluir que, para certos contextos, esses dois verbos são usados
sinonimicamente. Mas o ginöskein, com suas possibilidades aspectuais mais ricas, pode ser
usado no sentido de adquirir conhecimento; enquanto eidenai, restrito ao aspecto perfectivo,

75
(minha tradução) “Le verbe γινώσκω signifiait tout d'abord pour les Grecs « arriver à connaître »; il n'indiquait
donc pas directement la connaissance comme telle, mais plutôt la démarche de l'esprit, le progrès de la pensée,
qui font aboutir à la connaissance; cette démarche peut être une observation, un renseignement reçu, une
expérience, un raisonnement”. LA POTTERIE, I. de. Oida et ginōskō, les deux modes de la connaissance dans le
quatrième Évangile. Biblica, [s. l.], v. 40, n. 3, p. 709–725, 1959. p. 710 Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000657089&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 23 set. 2021.
76
(minha tradução) “Mais οιδα [...] désigne la connaissance en tant qu'acquise, considérée en elle-même [...]. Le
caractère de « vision » propre à οιδα peut aussi se manifester en ceci, que le verbe désigne une connaissance
d'ordre intuitif, une saisie directe par la pensée.” Ibid, p. 711
77
Ibid, p. 725
78 (minha tradução) "In fact it may be wondered whether the "classical distinction" between eidenai and
ginöskein holds even in classical usage; it does not appear to do so in Platonic Greek at least". In ERICKSON,
R. J. Oida and ginōskō and verbal aspect in Pauline usage. The Westminster Theological Journal, [s. l.], v. 44, n.
1, p. 110–122, 1982.
Disponível em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000794010&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 23 set. 2021.
26

não pode. Talvez seja isso que tenha dado a impressão de que os dois verbos representam
diferentes tipos de conhecimento. No entanto, nenhuma evidência [em apoio] a essa
afirmação apareceu neste estudo. 79 (grifo meu)

Em se tratando do evangelho de Mateus, a tabela a seguir apresenta as ocorrências de oιδα e


γινωσκω em Mateus 24 e 25
Tabela 4 – Uso de γινωσκω e oιδα em Mateus 24 e 25

γινωσκω οιδα
Texto Sentido Tense Texto Sentido Tense

Mt 24:33 Assim Mt 24:36 Mas a respeito


também vós: quando daquele dia e hora
saber
virdes todas estas perceber Presente ninguém sabe, nem os Perfeito
/conhecer
coisas, sabei que está anjos dos céus, nem o
próximo, às portas. Filho, senão o Pai.

Mt 24:43 Mas
considerai isto: se o Mt 24:42 Portanto, vigiai,
saber
pai de família soubesse conhecer Presente porque não sabeis em que Perfeito
/conhecer
a que hora viria o dia vem o vosso Senhor.
ladrão

Mt 24:50 virá o senhor Mt 24:43 Mas considerai


daquele servo em dia saber isto: se o pai de família
/conhecer
Presente conhecer Mais que perfeito
em que não o espera e soubesse a que hora viria
em hora que não sabe o ladrão

Mt 25:24 Chegando,
Mt 25:12 Mas ele
por fim, o que recebera
respondeu: Em verdade
um talento, disse: perceber Aoristo conhecer Perfeito
vos digo que não vos
Senhor, sabendo que
conheço.
és homem severo [...]

Mt 25:13 Vigiai, pois,


saber
porque não sabeis o dia Perfeito
/conhecer
nem a hora.

A tabela evidencia que, na prática, embora γινωσκω possa significar com mais frequência
consequências da aprendizagem, não há, em essência, grandes diferenças semânticas em

79
(minha tradução) “Finally, as for the question of the relation between eidenai and ginöskein in the NT, it may
be said at least that it is not necessary to relate the whole problem to a classical norm. On the basis of what has
been seen here it can be concluded that for certain contexts these two verbs are indeed used synonymously. But
ginöskein, with its richer aspectual possibilities, can be used in the sense of acquiring knowledge; whereas
eidenai, restricted to the perfective aspect, cannot. This perhaps is what has given rise to the impression that the
two verbs represent different kinds of knowledge. No evidence for that contention has come out of this study,
however.” In BURDICK, D. W. Οιδα and γινώσκω in the Pauline epistles. In: New dimensions in New
Testament study. Grand Rapids [s. n.]. p. 344–356. Disponível em:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001060630&lang=pt-br&site=ehost-
live. Acesso em: 24 set. 2021. p. 356
27

relação a oιδα. No sentido de um conhecimento mais intuitivo, o uso de ambos no discurso


escatológico (Mateus 24 e 25) é grandemente sinonímico.

O texto de Mateus 24.50, que usa γινωσκω (O senhor daquele servo virá num dia em que ele
não o espera e numa hora que não sabe) é quase que paralelo a Mt 24.36, que faz uso de oιδα
(Mt 24:36 Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe).

Assim, com respeito ao uso de Mateus de ambos os verbos, embora o autor tenha preferência
por oιδα, em Mt 24.36, ele fez opção consciente pelo uso deste e, consequentemente, optando
pelo perfeito em vez de um aoristo ou presente (mesmo um perfeito80) que poderia ser usado
com γινωσκω.

A opção pelo uso de oιδα mostra-se viável semanticamente e é consistente com a marcação do
perfeito para atribuir à frase de Jesus o peso devido no discurso.

Significado do uso do perfeito em Mateus 24.36

Tendo-se estabelecido que Jesus / Mateus optaram por oιδα e, consequentemente, pelo uso do
perfeito em Mt 24.36, é importante avaliar as diferentes interpretações do significado deste
tempo (i.e. tense). A tabela a seguir apresenta o resumo das principais possibilidades:
Tabela 5 – Teorias interpretativas do uso do perfeito de oιδα em Mateus 24.36

Interpretação do significado do uso do perfeito em Mateus 24.36 81

Teoria Proposta Aplicação a Mateus 24.36

Aktionsart oιδα indica um estado ponti- Jesus não soube (em


linear (pode ser ação determinado momento) e/ou
completa ou com alguma ficou sem saber por um
duração) período de tempo com
consequências para o tempo
do discurso.
McKay / Porter82 perfeito indica aspecto Jesus está em estado de
estativo ignorância - este estado é
manifesto no tempo verbal
(tense)

80
Embora incomum, é possível usar γινωσκω no perfeito, como em 1Co 2.8 (εγνωκεν).
81
Infelizmente, não foi possível encontrar referência quanto à proposta interpretativa de Fanning relativa a oιδα,
mas, pode-se especular que defenderia o uso estativo, mas sem perder plenamente referência temporal, tendo
possivelmente o significado em Mateus 24.36 de "estado de ignorância com indicação pontual ou ponti-linear".
82
SEDLACEK, J. E. Reimagining Οἶδα: Indo-European Etymology, Morphology, and Semantics Point to Its
Aspect. Conversations with the Biblical World, [s. l.], v. 36, p. 148–163, 2016. Disponível em:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLAiA14180731002331&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 23 set. 2021.
28

Campbell83 oιδα traz intrinsecamente a Jesus está em estado de


ideia de estado (semântica) ignorância - este estado é
manifesto no significado de
oιδα.
Sedlacek 84 oιδα é estado resultante de Jesus não viu e,
uma ação consequentemente, não sabe.

Conclusão quanto ao uso de οἶδεν

O uso consciente de οιδεν (3a pessoa singular perfeito do indicativo ativo) parece indicar
menos uma questão lexical e mais uma opção pelo tempo perfeito. No entanto, essa opção
pelo uso do perfeito faz mais sentido se mantivermos a perspectiva tradicional de aktionsart
em termos do aspecto verbal grego, com o perfeito indicando uma ignorância temporária – o
que efetivamente é o caso – pois, demonstra que, em algum momento da História, tanto
homens (ver. Ap 1.7), os anjos dos céus (ver Mt 25.31) como o próprio Jesus deixarão de
ignorar o dia e a hora – não necessariamente no mesmo momento - nem que seja quando este
dia efetivamente chegar. Que anjos saberão do dia antes dos homens decorre de
acompanharem o Filho do homem em sua vinda (Mt 25.31). Assim, seguindo o mesmo
raciocício, não há problema em afirmarmos que a ignorância do Filho, embora também
temporária, possa se encerrar na ressurreição – antes de anjos e de homens.

Outras propostas que advogam o aspecto estativo podem ter implicaçaõe teológicas em
posições que defendem que a ignorância de Jesus quanto ao dia e a hora deixou de existir após
a ressurreição, embora tal conclusão não seja necessária. Seja como for, o aspecto de
ignorância temporal (seja estativa ou pontual) é estabelecida pelo tempo perfeito, que foi
escolha consciente de Jesus/Mateus.

οὐδὲ οἱ ἄγγελοι τῶν οὐρανῶν

A menção aos anjos é importante na compreensão do significado de ουδεις. A perspectiva


absoluta que envolveria a ideia de ninguém abarca não apenas a raça humana, mas mesmo
seres sobrenaturais e mais poderosos, considerados, dentro do judaísmo do século I 85, como

83
Sedlacek comenta a respeito de Mckay: As a perfect, ofôa is remarkable in that although it is one of the most
commonly used perfects it rarely, if ever, conveys any clear implication of the action by which its state (of
knowledge) was established.” in SEDLACEK, J, Ibid. p. 148
84
Constantine Campbell counters the connection between the Perfect tense-form and stativity by appealing to
lexical aspect. “The important point, however, is that ofôa is already Stative simply because of its lexical
meaning, and irrespective ofits expression as a perfect indicative.” in SEDLACEK, J, Ibid. p. 149
85
Bíblia de estudo arqueológica. São Paulo: Editora Vida, 2013. p. 1529
29

superiores. Assim, não apenas nenhum homem desconhece o dia e a hora, mas os seres mais
poderosos dos céus – os seres angelicais também não receberam tal revelação.

A informação “dos céus” é importante para estabelecer a perspectiva de que tais seres estão
próximos de Deus (mesmas palavras do Pai nosso “πατερ ημων ο εν τοις ουρανοις”). Assim,
não apenas a natureza superior dos anjos, mas mesmo a posição privilegiada que ocupam
perante o Pai não são suficientes para conceder a eles o conhecimento específico do dia e da
hora.

A citação a anjos mitiga o argumento de que, quando Jesus menciona que ele mesmo não sabe
o dia e a hora, refere-se apenas a sua natureza humana. O argumento central do versículo
parece indicar que a ignorância humana é esperada – no entanto, nem mesmo,
hiperbolicamente, os anjos eleitos são capazes de saber algo. Assim, há a perspectiva de uma
crescente no versículo: Jesus começa falando da ignorância humana generalizada, em seguida,
trata de seres mais elevados, que também desconhecem o dia. Depois menciona o próprio
Filho de Deus e finalmente, demonstra que somente o Pai, em posição exclusiva de autoridade
sabe quando esse dia e hora serão estabelecidos.

Assim, em termos lógicos, não faz sentido Jesus tratar da ignorância humana, depois tratar de
um nível superior – anjos – e retornar à ignorância da humanidade de Cristo para, em um salto
lógico, lidar com a pessoa do Pai.

οὐδὲ ὁ υἱός
O uso da expressão “nem o Filho” é muito relevante na interpretação da passagem. Trata-se
de uma denominação não muito usual nos evangelhos sinóticos, especificamente quando a
palavra filho vem desacompanhada de qualquer qualificador, como “Filho do homem”, “Filho
de Deus” e “Filho de Davi”, entre outros.

A única passagem no evangelho de Mateus em que Jesus se autodenomina filho sem qualquer
adjunto adnominal está em Mateus 11.25-27:

25 Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.

26 Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.

27 Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e
ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
30

Trata-se de uma passagem que lida justamente com a revelação de Deus Pai de forma
exclusiva (v. 25). Interessantemente, trata também do conhecimento intratinitariano
inigualável entre Pai e Filho – a ponto de Jesus afirmar: καὶ οὐδεὶς ἐπιγινώσκει τὸν υἱὸν εἰ μὴ
ὁ πατήρ, οὐδὲ τὸν πατέρα τις ἐπιγινώσκει εἰ μὴ ὁ υἱὸς86. A convergência lexical e gramatical
é muito grande entre Mt 11.27 e Mt 24.36. Há notável diferença com o uso de “ἐπιγινώσκει”.
Mas, a diferença pode ser explicada pelo uso do tempo presente, algo não possível com oιδα.

Assim, na única passagem em Mateus em que Filho aparece no mesmo formato de Mateus
24.36, há a expressão, quase nos mesmos termos, da igualdade essencial entre Pai e Filho – o
que torna “possível, mas pouco provável”87 que, em passagem com linguagem tão próxima,
Jesus estivesse referindo-se à própria natureza humana, a qual ignora o dia e a hora de sua
vinda.

Nos demais evangelhos sinóticos, a expressão “O Filho”, sem qualificador, só aparece em


Marcos 13.32 (texto paralelo de Mateus 24.36) e em Lucas 10.22, texto paralelo a Mateus
11.27. Assim, a denominação “O Filho” tem uso restrito nos sinóticos. No evangelho de João,
no entanto, é mais comum. A tabela abaixo resume todas as ocorrências da denominação “O
Filho” nos evangelhos (além de Mateus 24.36 e Marcos 13.32):
Tabela 6 – Citações de “Filho” sem adjunto nos evangelhos

Texto Teologia

Mt 11.27 Pai e Filho tem conhecimento mútuo inigualável;

Lc 10.22 Pai e Filho tem conhecimento mútuo inigualável;

Jo 3.35-36 O Pai ama o Filho e lhe confiou todas as coisas – crer no Filho traz vida eterna,
não crer permanece a ira de Deus

Jo 5.19-23 O que o Filho faz depende do Pai – o que o Pai faz, o Filho faz; que todos
honrem o Filho como honram o Pai; Pai e o Filho tem a vida em si mesmos;

Jo 8.36 Se o filho libertar, sereis livres.

Jo 14.13 Oração respondida por Jesus, para que o Pai seja glorificado no Filho

86
WESTCOTT; HORT. Opus cit. Mt 11.27.
87
In memorian: referência à expressão muito usada por Carlos Osvaldo Cardoso Pinto nas aulas do SBPV.
31

Jo 17.1 Glorifica teu Filho para que o Filho glorifique a ti.

Em nenhuma dessas passagens, há qualquer ênfase sobre a humanidade de Cristo, pelo


contrário, em todas enfatiza-se o vínculo essencial entre Jesus e o Pai.

εἰ μὴ ὁ πατὴρ μόνος

A última frase do versículo é uma oração coordenada adversativa, que revela a exceção à
expressão οὐδεὶς οἶδεν. Somente o Pai não está incluído neste “οὐδεὶς”.

Considerando-se o encadeamento lógico da passagem e a progressão de autoridade do texto


de ninguém, anjos dos céus e Filho – o Pai então ocupa lugar inigualável em autoridade.
Considerando-se que a expressão o Filho e o Pai, como demonstrado anteriormente, revela, no
uso nos evangelhos, a igualdade essencial entre as duas pessoas da Trindade, pode-se inferir
que se trata de uma superioridade hierárquico-funcional, mas em igualdade essencial. Assim,
pode-se afirmar que Jesus seria essencialmente igual ao Pai, pela denominação da passagem,
mas funcionalmente subordinado. Dessa forma, é a autoridade funcional, não a essência de
Deus Pai que o faz saber algo que ao Filho não foi revelado naquele momento.

O uso da expressão “εἰ μὴ ὁ πατὴρ μόνος” no NT é restrito a esta passagem. Já “εἰ μὴ ὁ


πατὴρ” ocorre em Mateus 11.27 e Lc 10.22, demonstrando que são passagens, também no que
diz respeito ao Pai, muito próximas de Mateus 24.36 e Mc 13.32.

3.2.4 Conclusão da exegese

O versículo 36 lida com uma mudança de ênfase ou assunto no capítulo – versando sobre o
dia e hora específicos da παρουσια. O uso do perfeito demonstra uma preocupação com certa
temporalidade – indicando que não se trata de uma ignorância permanente ou essencial. Não
há também indicação de que a ignorância do Filho seja uma referência a sua humanidade – ao
contrário, a expressão escolhida por Jesus para referir-se a si mesmo indica proximidade
essencial com o Pai nos evangelhos. Há a possibilidade de se estar enfatizando a posição de
autoridade do Pai na passagem, indicando algum tipo de hierarquia funcional na Trindade
naquele momento.
32

4 AVALIAÇÃO DAS PROPOSTAS INTERPRETATIVAS NA HISTÓRIA

No capítulo 02 do presente trabalho, concluímos que as propostas interpretativas ao longo da


História da Igreja podiam ser categorizadas nas seguintes perspectivas:
1. A ignorância refere-se à natureza humana de Jesus – que não pode ser onisciente;
2. A ignorância acontece em virtude da kenosis, quando Jesus abriu mão
temporariamente dos atributos divinos relacionados à essência divina (onisciência,
onipotência e onipresença);
3. Os atributos de cada natureza são comunicados à pessoa como um todo, no processo
de communicatio idiomatum (CI);
4. A função de Jesus na encarnação não incluía saber o dia e a hora de sua vinda

No presente capítulo, é necessário fazer uma breve avaliação crítica das dificuldades e
contribuições de cada proposta em relação à exegese de Mateus 24.36.

4.1 Proposta 01

A ignorância refere-se à natureza humana de Jesus – que não pode ser onisciente;

A perspectiva que fundamenta a proposta é a do “finitum non capax infiniti”. A proposta tem
a interessante condição de ser teologicamente muito bem elaborada, estar vinculada ao
entendimento histórico dos concílios da igreja e à Confissão de Westeminster, mas, ao mesmo
tempo, ser de difícil defesa e aplicação na exegese do texto em questão.

As dificuldades de aplicar tal proposta a Mateus 24.36 estão vinculadas a) à teologia do


capítulo; b) à natureza da informação sobre o dia e a hora e c) à denominação Pai e Filho no
versículo.

Em termos de teologia do capítulo, a grande dificuldade de se defender a aplicação da


proposta ao texto está em que, no discurso, são fulcrais tanto a onisciência como a própria
divindade de Jesus. Em termos de oniciência, Jesus previu sinais bem específicos – seja de
“aqueles dias” (Mt 24.4-27 – fome, guerras, esfriamento, espalhamento do evangelho, etc),
seja de “aquele dia” (Mt 24.28 a 25.34 anjos nos céus, escuridão). Especificamente, em Mt
25.31, Jesus revela o “επι θρονου δοξης αυτου”, demonstrando claramente a sua plena
divindade e o direito de reinar em glória. Assim, em um capítulo que revela a divindade e a
onisciência de Jesus, é difícil defender que em Mt 24.36 haja mudança brusca e desavisada de
33

perspectiva e ali, especificamente, trata-se da humanidade de Cristo. Deveria haver, no texto,


alguma indicação da mudança de perspectiva.

Ademais, os termos de Calcedônia apresentam relação dialética – em especial quando o Credo


afirma: que se deve confessar, em duas naturezas, [...] indivisíveis, inseparáveis;88. Ora, as
duas naturezas são, simultaneamente indivisíveis e inseparáveis; assim, aplicação de tal
proposta a Mateus 24.36 deve respeitar ambas as características. Se não podem ser as
naturezas nem divididas nem separadas, atribuir certa característica da pessoa a uma natureza
não é coerente com a dialética proposital de Calcedônia.

Há, em segundo lugar, dificuldades quanto à natureza da informação que o Filho desconhece
em Mt. 24.36. Ainda que seja teologicamente coerente que a natureza humana de Jesus não
possa ser onisciente, a realidade é que o tipo de informação que o Filho desconhece em Mt
24.36 não é, de forma alguma, sobrehumana. Saber quando um evento ocorrerá não é um
conhecimento acima da capacidade humana de compreensão. Nesse sentido, quando
Calcedônia afirma: “a distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é
preservada a propriedade de cada natureza”89, é perfeitamente possível Jesus manter as
limitações da natureza humana e conhecer o dia e a hora de sua vinda – considerando-se que
sua pessoa, i.e, em sua divindade, Jesus havia participado da criação dos tempos e do próprio
cosmos. Não se trata de uma informação relacionada às relações intratrinitarianas e à
sublimidade inacessível da divindade ou à infinitude de Deus. Trata-se de informação
histórica plenamente assimilável por qualquer indivíduo adulto.

Finalmente, a última grande dificuldade da afirmação que foi a natureza humana que ignora o
dia e a hora refere-se à interpretação comum que os termos Pai e Filho adquirem na teologia
do Novo Testamento. Tal denominação, nos evangelhos, em especial, refere-se a dois
aspectos teológicos principais:

a) primeiro, trata-se de fórmula bíblica de referência à natureza divina comum a


ambas as pessoas da Trindade. A autoafirmação de Jesus como o Filho e de Deus
como Pai provocou as mais agressivas reações dos judeus justamente por ser uma
forma de expressar a essência divina em Jesus (e.g. Mt 26.65; Mc 14.64; Jo 10.30-
33) – a propósito, essa identificação essencial é uma das possibilidades
interpretativas da palavra “μονογενης” (Em Jo 1.8, 3.16);

88
Credo de Calcedonia. Disponível em http://www.teologia.org.br/estudos/credo_calcedonia.pdf
89
Ibid.
34

b) Em segundo lugar, refere-se à subordinação funcional (nunca essencial) que o


Filho assumiu em sua missão terrena e em submissão a Deus (Mt 16.27, 26.39, Lc
1.32, Jo 3.35, 5.19-26, 6.57 entre outros).

Ademais, de forma específica, em Mt 24.36, a fórmula Filho, usada sem adjunto e paralela a
Mateus 11.27 indica um uso no NT para ressaltar a unidade essencial do Pai e do Filho e, em
nenhum texto, é usada para referir-se à humanidade de Jesus nos evangelhos. Há também a
progressão de autoridade do referido texto na seguinte ordem: ninguém (seres humanos) –
anjos dos céus (maiores que os seres humanos) – o Filho (maior que os anjos) e finalmente o
Pai (funcionalmente superior ao Filho).

Finalmente, se fosse uma denominação clara para indicar a natureza humana de Jesus, o texto
não causaria nenhum desconforto na história da igreja – o que a própria crítica textual tem
atestado como um texto com modificações propositais justamente pela dificuldade teológica
que a linguagem ali produz.

Assim, embora teologicamente coerente, a explicação de que é a natureza humana de Jesus


que não sabe o dia e a hora parece não ser completa ou suficiente para explicar a ignorância
de Jesus especificamente em Mateus 24.36.

4.2 Proposta 02

A ignorância acontece em virtude da kenosis, quando Jesus abriu mão


temporariamente dos atributos divinos relacionados à essência divina (onisciência,
onipotência e onipresença).

A proposta tem a vantagem de apresentar um dado novo, não previsto na proposta anterior:
temporariedade do desconhecimento de Jesus. A teoria kenótica impõe perda ou limitação
temporária de atributos divinos durante a vida de Jesus na terra até o momento de sua morte 90.
Muitos91 têm argumentado contra a exegese impositiva e que extrapola os limites textuais que
os kenoticistas do século XIX fizeram ao lidar com Filipenses 2.5-12 – texto cuja

90
THOMASIUS, Gottfried. Christi Person und Werk. Erlangen, 1853. Ele distingue os atributos éticos (amor,
santidade) de atributos relativos, advogando que Jesus esvaziou-se dos últimos, na encarnação. Na mesma linha,
a escola kenoticista britânica expande a ideia especialmente com Forrest e Fairbairn: FAIRBAIN, A. M. The
Place of Christ in Modern Theology. Hodder & Stoughton: London, 8ª ed. 1898; e FORREST, David W. The
Christ of History and Experience. Edinbugh: T. AND T. CLARK, 1903. BLOMBERG, C. Matthew. Vol. 22.
Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1992 p. 365.
91
Ver, por exemplo: MCGRATH, A. Teologia sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shed publicações,
2010. p. 435
35

interpretação normal revela um esvaziamento posicional e de glória – e não necessariamente


de outros atributos divinos.

Ademais, o kenoticismo precisaria lidar, de forma mais direta, com as implicações da


proposta na imutabilidade da natureza divina de Jesus92. Há ainda, a questão da necessidade
da plenitude da natureza divina para que haja redenção, segundo a tese de Anselmo de
Catuária em “Cur Deus homo” – como expressa Franklin Ferreira:
“Como também será abordado no capítulo 15, as duas naturezas são necessárias para a
obra de redenção. Em primeiro lugar, como mediador era necessário que Jesus fosse tanto de
dignidade igual ao Pai como capaz de plena empatia com a humanidade (cf. Fp 2.6-11; Hb 2.17-
18; lTm 2.5). Em segundo lugar, para expiar nossos pecados ele tinha que ser homem, pois era
necessário que um homem fosse sacrificado, uma vez que os homens são pecadores culpados.
Por outro lado, ele também precisava ser Deus, haja vista que só Deus pode sofrer e esgotar a
ira infinita de Deus.”93

Assim, embora popular, a perspectiva kenoticista não encontra base hermenêutica e teológica
suficiente para explicar Mateus 24.36 e a adoção de tal perspectiva traz mais prejuízos do que
benefícios à Cristologia e à Soteriologia. Ao mesmo tempo, o aspecto da temporalidade é
contribuição importante.

4.3 Proposta 03

Os atributos de cada natureza são comunicados à pessoa como um todo, no processo


de communicatio idiomatum (CI)

A proposta ajuda a explicar como as Escrituras se referem a características de uma natureza


enquanto, ao mesmo tempo, usam expressamente a terminologia relacionada à outra natureza.
A tabela a seguir demonstra o uso nos textos:

Tabela 7 – Textos de denominação típica da divindade, mas com ação típica humana

Texto Terminologia que Expressão típica Uso do CI


indica divindade de humanidade

Atos 20.28 τοῦ ⸀θεοῦ διὰ τοῦ ⸂αἵματος Sangue, típico da humanidade, é atribuído a
Deus.

92
Ver FERREIRA, F. e MYATT, A. Opus cit. p. 500
93
Ibid, p. 519.
36

1Co 2.18 τὸν κύριον τῆς δόξης ἐσταύρωσαν Crucificação, ato contra a natureza humana, é
atribuído ao Senhor da Glória.

Mt 24.36 ὁ υἱός οὐδεὶς οἶδεν Não saber, típico de uma mente humana, é
atribuído ao Filho – denominação que ressalta a
divindade de Cristo.

Segundo a perspectiva da CI, não saber o dia e a hora, que seria atribuível à natureza humana,
é aplicado à pessoa como um todo e para enfatizar tal aplicação, usa-se uma denominação
típica de divindade – no caso de Mateus 24.36 – o Filho. Nessa proposta, trata-se de uma
questão de uma natureza “exportar” atributos à outra sem que a natureza cedente seja afetada
e sem mudar também a natureza que adquire o atributo ou característica.

A diferença do texto de Mateus em relação aos outros casos de CI (como em At 20.28 e 1Co
2.8) é que a denominação Filho, embora seja realmente uma expressão dos evangelhos quanto
à divindade de Jesus, carrega também a conotação de subordinação funcional, o que não
acontece com as denominações “Deus” e “Senhor da glória”. Assim, a identificação de
“Filho” com a divindade de Cristo é menos percebida do que nos outros casos apresentados.

Parece incosistente, ainda, harmonizar tal desconhecimento com o discurso escatológico


como um todo, considerando-se que o discurso mais revela fatos sobre o futuro – e a
onisciência - do que menciona aquilo que Jesus não sabe. Assim, a comunicação de atributos
precisa ter algum critério estabelecido – em quais circunstâncias é a natureza divina de Jesus
que caracteriza a pessoa e em quais circunstâncias há a prevalência da natureza humana. Em
um mesmo capítulo e contexto, o mesmo Jesus sabe detalhes impossíveis de uma natureza
humana prever sem ajuda sobrenatural e, ao mesmo tempo, ignora um aspecto prático e
objetivo (dia e hora).

Ademais, a CI é uma explicação possível para o que acontece na “dinâmica interna” da pessoa
de Jesus; no entanto, ignora a ênfase do texto na dimensão relacional entre Jesus e Deus Pai.
A proposta do CI precisa ser emoldurada pela relação Pai e Filho e, nesse sentido, não lida
com o aspecto funcional dessa relação – que pode ser determinante para se estabelecer o que é
uma questão meramente cristológica e o que é um tema trinitário.

Há ainda a possibilidade do autor bíblico preocupar-se mais com a linguagem do que com a
essência. Pode não ser uma questão de querer revelar o processo de uma natureza emprestar
37

atributos a outra, mas o simples uso metonímico de atributo de uma natureza para referir-se à
pessoa como um todo.

Finalmente, há ainda a dificuldade de se esclarecer como a CI afeta a natureza divina de


Jesus. Pode-se defender que a pessoa de Jesus precisaria manter-se onisciente para que seja
considerada divina. No entanto, não há nenhum impacto na natureza humana se esta souber o
dia e a hora (uma informação compatível com a humanidade).

4.4 Proposta 04

A função de Jesus na encarnação incluía não saber o dia e a hora de sua vinda.

Tal proposta apresenta uma grande dificuldade: carece, ao menos na presente pesquisa, de
uma defesa histórica argumentativa mais robusta. Grandes teólogos apenas mencionam tal
aspecto: Jerônimo (2.1), Calvino (2.4) e Bavinck (2.6), mas o fazem sem explicar as
implicações da ideia.

Ainda sim, a proposta tem a vantagem de levar em conta a ênfase de Mateus 24.36 na relação
e na terminologia Pai e Filho. Ao mesmo tempo, tem a dificuldade de explicar como é
possível Jesus manter a essência divina e não saber algo em virtude da posição de
subordinação temporária ao Pai.

Considerando-se que tais autores apenas mencionam a questão da subordinação funcional de


Jesus sem maiores explicações, é possível levar a ideia em conta, mas a carência de detalhes
implica dificuldade em avaliar a proposta.

5 CONCLUSÃO: UM ESBOÇO PROPOSITIVO DE INTERPRETAÇÃO DE


MATEUS 24.36

Após revisarmos as perspectivas Cristológicas da história da igreja e a exegese de Mateus


24.36, bem como após uma breve avaliação das contribuições e dificuldades de cada proposta,
é possível esboçarmos um resumo propositivo que, embora não resolva todas as questões e
dificuldades do texto – que persistirão até “aquele dia” – pode delinear limites mais definidos
de como a expressão “nem o Filho” e suas implicações devem ser entendidas e, especialmente
38

de como NÃO devem ser entendidas no texto. As contribuições de algumas das propostas
foram mantidas.

O esboço propositivo envolve:

a) O aspecto funcional da relação Pai e Filho


b) Ignorância temporária
c) Ignorância específica e temática
d) Uso de terminologia metonímica para lidar com a dinâmica interna do Filho
e) Preservação da essência divina de Jesus

Segue breve explicação sobre cada um dos aspectos do esboço propositivo.

5.1 O aspecto funcional da relação Pai e Filho


O texto de Mateus 24.36 lida com a terminologia Pai e Filho – assim, deve-se preservar, nesta
terminologia, tanto a igualdade essencial – são Pai e Filho justamente por compartilharem da
mesma essência – como a subordinação funcional. A preservação da divindade de Cristo será
tratada adiante.

Alguns argumentam que essa subordinação funcional não pode ser eterna, pois implicaria uma
dependência excessiva da divindade do Filho à do Pai94. No entanto, um aspecto importante
para salientar quando se menciona subordinação funcional é que esse tipo de relação não
implica em nenhum tipo de inferioridade essencial95.

A temporalidade dessa sujeição indica que Jesus, funcionalmente, sujeita-se à autoridade do


Pai na revelação do dia específico – assim, é a posição de Jesus que permite que não veja
aquilo que o Pai, naquele momento e no tema específico, sabe em virtude da posição de
autoridade do Pai.

Na interpretação de Mateus 24.36, pode-se entender que essa função temporária de


subordinação de Jesus ao Pai implica dependência e autorização para o pleno exercício de sua
onisciência quanto, especificamente, ao tema do dia e hora da volta de Cristo.

É interessante que a posição de autoridade sobre o estabelecimento de tempos e eras se


mantém após a ressurreição (ver Atos 1.7). Mas, como veremos a seguir, Jesus não mais
afirma, após a ressurreição, que não sabe o dia e a hora. A temporalidade da relação funcional
é também fundamento para o próximo aspecto do nosso esboço propositivo.

94
Ibid. p. 525 e ss.
95
Esse tipo de perspectiva está presente na teologia do casamento em que a esposa é funcionalmente
subordinada ao marido, mas é igual em essência (plenamente humana).
39

5.2 Ignorância temporária


Ao considerarmos a clara opção de Jesus/Mateus pelo perfeito em Mt 24.36 – em que indica
um estado ou uma condição com tempo limitado (dependendo da teoria – ver 3.2.3 οιδεν),
uma implicação possível é da transitoriedade de sua ignorância. Houve um tempo em que
pode afirmar que “não sabe”, mas este tempo não é definitivo e não necessariamente
duradouro.

Quando harmonizamos o texto mateano com o texto de Atos 1.7, especificamente no uso do
pronome “υμων” em “προς αυτους ουχ υμων εστιν γνωναι χρονους η καιρους ους ο πατηρ
εθετο εν τη ιδια εξουσια”. Após a ressurreição, Jesus poderia ter mantido a questão do fim dos
tempos como algo que não tinha acesso – mas, optou por um “υμων” em vez de “ημων”.
Assim, Jesus não se coloca mais junto aos discípulos na ignorância de tempos ou eras,
diferentemente de Mateus 24.36, em que coloca “o Filho” junto ao “ninguém sabe” e aos
“anjos dos céus”. Essa mudança pronominal parece indicar que Jesus não mais se inclui no rol
dos que “não sabem”.

Ademais, após a ressurreição Jesus afirma também: “εδοθη μοι πασα εξουσια εν ουρανω και
επι [της] γης” (Mt 28.19) – esse “toda autoridade” pode (e deveria) incluir a compreensão dos
tempos e eras que o Pai estabeleceu.

Há ainda a indicação, após a ressurreição, de plena onisciência, quando o apóstolo Pedro, no


episódio de sua restauração afirmou, em Jo 21.17 “κυριε παντα συ οιδας συ γινωσκεις οτι
φιλω σε”. Jesus não o repreendeu dizendo: só não sei o dia e a hora da παρουσια. Assim,
indica-se que a ignorância de Jesus foi temporária e pré-ressurreição.

5.3 Ignorância específica e temática


Uma das dificuldades da teologia é a medida em que se deve fazer a extrapolação de
conceitos teológicos em temas específicos. Não é sábio fazer doutrina de textos difíceis ou
obscuros.

No que tange a saber o dia e a hora, talvez não seja necessário amplificar o problema – a
revelação bíblica indica um único tema em que a autoridade do Pai (não a essência do Pai) é
exclusiva. Assim, pode não ser tanto uma questão de natureza ou uma generalização de quem
é Jesus – mas, pode ser tratado como uma questão de tema específico.

Neste tema de quando será o dia a e hora, a subordinação funcional temporária de Jesus ao Pai
se impõe (talvez por algum tipo de organização intratrinitariana não revelada), limitando,
40

neste tema específico, o exercício da onisciência divina – que não foi perdida – mas, que não
é exercida em um tema pontual.

Assim, antes da morte / ressurreição / exaltação, Jesus mantinha sua onisciência com exceção
do tema do dia e hora da παρουσια. Após a ressurreição, não há revelação de que Jesus
manteve a ignorância - ao contrário, há a possibilidade de que haja retomado o exercício
pleno da onisciência inclusive quanto ao dia e hora.

5.4 Uso de terminologia metonímica para lidar com a dinâmica interna do Filho
Não é possível determinar, com base em Mateus 24.36, que o evangelista (e Jesus) estivesse
preocupado em revelar como funciona a dinâmica interna das relações entre as duas naturezas
de Jesus. Jesus não saber o dia e a hora, na forma como foi revelada por Mateus, pode,
simplesmente, ser um caso típico de terminologia. Embora a essência divina de Jesus seja
onisciente, a não ciência de fato futuro (humana ou funcional) foi atribuída à pessoa de Jesus
como um todo - no tema específico do dia e da hora.

Jesus não sabe – não necessariamente porque a ignorância humana tenha contaminado a
natureza divina – mas, porque um atributo da posição subordinada (e possivelmente, da
consciência humana) foi atribuído à pessoa como um todo.

A causa da formulação mateana seria a relação funcional e não prevalência da natureza


humana sobre a divina. Há uma metonímia – “Filho” (referente à divindade – parte do ser)
para referir-se ao todo: a pessoa de Jesus em suas duas naturezas.

5.5 Preservação da essência divina de Jesus


O último aspecto do esboço propositivo está na afirmação da plena divindade de Cristo. O que
explica sua ignorância não é uma limitação essencial, mas o desempenho temporário de uma
função subordinada.

O que se pode e deve afirmar é a plenitude da divindade de Cristo mesmo quando existe
temas que são reservados ao Pai – da mesma forma, como não se confundem as pessoas
quando se fala em ressurreição – trata-se de evento reservado ao Filho – e, embora tal evento
não componha a história do Pai, não diminui sua essência divina.

A linguagem de Mateus em 24.36 é bem específica de demonstrar a unidade essencial entre


Pai e Filho – assim, não se pode, de forma alguma, diminuir a plenitude da essência divina em
Jesus, mesmo durante a encarnação e no reconhecimento de que não sabe o dia e a hora.
41

5.6 Resumo do esboço proposto


Em resumo, em Mateus 24.36, Jesus não sabe o dia e a hora de sua vinda em virtude da
subordinação funcional ao Pai, em um tema que este estabeleceu para sua própria autoridade.
Trata-se de uma condição temporária do Filho, pré-ressurreição, relacionada exclusivamente
ao tema do momento de sua παρουσια. A linguagem de Mateus indica uma metonímia, ao
atribuir uma característica de uma essência, mediante a denominação “Filho”, ao ser como um
todo.
42

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