Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ANDREW JUMPER
São Paulo
2022
CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO
ANDREW JUMPER
São Paulo
2022
Elaborado pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Mackenzie
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
F862" Freitas, Pedro Wazen De.
"Nem o filho, senão somente o Pai" : [recurso eletrônico] avaliação
crítico-propositiva das diferentes interpretações cristológicas de
mateus 24.36 / Pedro Wazen de Freitas.
622 KB ;
Aprovação 16/11/2022
Resumo: A declaração de Jesus, em Mateus 24.36 de que “nem o Filho” sabe o dia a
hora tem suscitado extenso debate ao longo da História da Igreja. O presente trabalho
apresenta as diversas posições interpretativas da perícope na história e, a partir da
exegese de Mateus 24.36, faz uma análise crítica de tais propostas. Ao final, é esboçada
uma proposta baseada nas diversas contribuições históricas, que lidará com a
subordinação funcional do Filho ao Pai, impondo uma ignorância temporária e
específica, sem afetar a natureza divina do Filho, mediante o uso metonímico da palavra
“Filho” no referido texto.
Abstratct: Jesus statement in Matthew 24:36 that "nor the Son" knows the day and the
hour has sparked off an extensive debate throughout Church History. This paper
presents the different interpretative positions of the pericope in history and, based on the
exegesis of Matthew 24.36, makes a critical analysis of such proposals. In the end, a
proposal is outlined based on the various historical contributions. Such propositive
outline deals with the functional subordination of the Son to the Father, imposing a
temporary and specific ignorance, without affecting The Son’s divine nature, through
the metonymic use of the word "Son" in the text of Matthew 24.36.
1 INTRODUÇÃO
A expressão de apenas três palavras gregas, “οὐδὲ ὁ υἱός”, traduzida por "nem o Filho" é o
"notável paradoxo1", como afirma R.T. France, do discurso escatológico de Jesus. Trata-se de
passagem profética em que Jesus conhece com profundidade os detalhes de sua vinda, mas
afirma desconhecer justamente o dia e a hora. Assim, o mesmo Jesus que sabe o "como", o
"onde", o "o quê" de sua vinda e mesmo o "quando" histórico, no entanto, desconhece o
detalhe do momento específico.
Tal declaração de Jesus tem suscitado, em toda a História da Igreja, um grande debate. Há,
por um lado, desde os que advogam que trata-se de uma declaração meramente humana, mas
que ignoram que o capítulo todo de Mateus 24 é uma profecia minuciosa fundamentada
justamente na divindade de Cristo; até, de outro lado, os que afirmam que a divindade de
Cristo é, no que tange a este aspecto, de natureza distinta da divindade do Pai. Assim, é
necessário analisar as implicações teológicas possíveis da declaração de que Jesus não sabe
algo e como isso deve ser interpretado à luz da Cristologia.
Essa pesquisa visa analisar a declaração de Jesus com base na escolha de palavras utilizadas
por ele, no contexto do discurso escatológico de Mateus. Ademais, o trabalho visa dialogar
criticamente com as principais interpretações de Mateus 24.36 e suas implicações à
Cristologia, com revisão de literatura sobre o tema. Tem por objetivo ainda propor um esboço
interpretativo de Mateus 24.36 que justifique a escolha de termos por Jesus, preservando
simultaneamente sua plena divindade e a unidade do ser mediante o aproveitamento de
aspectos das diversas interpretações que encontrarem sustentação na exegese do texto.
1
FRANCE, R. T. The Gospel of Matthew. NICNT. Grand Rapids: Eerdmans, 2007 p. 939 – “remarkable
paradox”
2
b) kenosis, substantivo transliterado do verbo κενοω (esvaziar-se) que será definido como o
autoesvaziamento de Cristo, ou o (possível) abrir mão de atributos na encarnação3;
e) união hipostática: “diz respeito à unão entre as duas naturezas (dyo physes), da divindade e
da humanidade, na única hypostasis ou pessoa de Jesus Cristo”6
A expressão “οὐδὲ ὁ υἱός” de Mateus 24.36 (com as mesmas palavras gregas repetidas em Mc
13.32) tem sido abordada, na história da interpretação bíblica, desde o período patrístico7.
Essa longa história de questionamentos e de interpretações desenvolve-se concomitantemente
à própria história da Cristologia e à progressão do entendimento teológico. Assim, conforme
surgiam desenvolvimentos teológicos, mais ou menos ortodoxos, sobre a pessoa de Cristo e a
relação entre as duas naturezas, tais propostas foram sendo aplicadas à interpretação do texto
mateano em questão. Assim, é possível relacionar a evolução do pensamento teológico à
ampliação das propostas hermenêuticas relacionadas a Mateus 24.36.
2
ELWELL, Walter A. Encinclopédia histórico-teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1988. Vol II
p. 68
3
Ibid. vol II p. 395
4
Ibid. vol I p. 303
5
Ibid. vol III p. 368
6
Ibid. vol III p. 595
7
Para fins deste trabalho, adotaremos a perspectiva de período patrístico até 451 d.C.
3
Orígenes de Alexandria (185 a 253 d.C.) foi um dos primeiros a tratar do tema. Ele menciona:
“Uma vez que a Igreja, que é o corpo de Cristo, não sabe aquele dia e hora, diz-se que o próprio
Filho não sabe aquele dia e hora. A palavra sabe é usada de acordo com seu significado usual
nas Escrituras. O Apóstolo fala de Cristo como aquele que não conheceu pecado (2 Coríntios.
5: 21.) i. e. não pecou. O conhecimento daquele dia e hora, o Filho reserva para os co-herdeiros
da promessa, para que todos saibam de uma vez, i. e. no dia em que vier sobre eles, o que Deus
preparou para aqueles que o amam. (1 Cor. 2: 9.)” 8
Jerônimo (347 a 420 d.C.) lidou posteriormente com a passagem optando por negar a
possibilidade do Filho não saber nem o dia nem a hora de sua vinda, argumentado que foi o
próprio Jesus quem criou as eras e tempos. Para ele, as dificuldades interpretativas do texto
favoreciam, injustamente, a perspectiva ariana9. Menciona também questões de crítica textual,
reconhecendo a presença de “οὐδὲ ὁ υἱός” em algumas cópias latinas e entende que a simples
possibilidade da frase compor o texto canônico promoveria a necessidade de se lidar com o
texto10, embora ele mesmo não o tenha feito com mais detalhes.
8
(minha tradução) “So long as the Church which is Christ’s body knows not that day and hour, so long the Son
Himself is said not to know that day and hour. The word know is used according to its proper usual meaning in
Scripture. The Apostle speaks of Christ, as him who knew no sin, (2 Cor. 5: 21.) i. e. sinned not. The knowledge
of that day and hour the Son reserves in store for the fellow-heirs of the promise, that all may know at once, i. e.
in the day when it shall come upon them, what things God hath prepared for them that love him. (1 Cor. 2: 9.)”.
In AQUINO, Thomas. Catena Aurea: Commentary on the Four Gospels, Collected out of the Works of the
Fathers: St. Matthew. J. H. Newman, Org. Vol. 1. Oxford: John Henry Parker, 1841 p. 674
9
Ibid. p. 675 “Whereat Arius and Eunomius rejoice greatly; for say they, He who knows and He who is ignorant
cannot be both equal. Against these we answer shortly; Seeing that Jesus, that is, The Word of God, made all
times, (for By him all things were made, and without him was not any thing made that was made,) (John 1: 3.)
and that the day of judgment must be in all time, by what reasoning can He who knows the whole be shewn to be
ignorant of a part? This we will further say; Which is the greater, the knowledge of the Father, or the knowledge
of the judgment? If He knows the greater, how can He be ignorant of the less?”
10
Ibid, p. 674 “In some Latin copies is added here, “neither the Son:” but in the Greek copies, and particularly
those of Adamantius and Pierius, it is not foundh But because it is read in some, it seems to require our notice.”
4
Em termos propositivos, Jerônimo afirma que o Filho sabe, mas a revelação do dia concerne
exclusivamente à posição de autoridade do Pai, citando Atos 1.7, o qual não deseja que os
apóstolos saibam:
Tendo então mostrado que o Filho de Deus não pode ser ignorante quanto ao dia da
consumação, devemos agora mostrar a causa pela qual se deva dizer que Ele é ignorante.
Quando, depois da ressurreição Ele é questionado sobre este dia pelos apóstolos, Ele responde
mais abertamente: Não vos compete saber os tempos ou épocas que o Pai colocou em seu
próprio poder (Atos 1: 7). Ali ele mostra que ele mesmo sabe, mas que não era oportuno que os
apóstolos soubessem, e que estando na incerteza da vinda de seu juiz, eles deveriam viver todos
os dias como se fossem ser julgados naquele dia 11.
João Crisóstomo (347 a 407 d.C.), por sua vez, observa a contradição entre a compreensão
que Jesus tinha dos sinais de sua vinda e a ignorância do dia em questão, quando afirma:
"Tendo o Senhor descrito todos os sinais que precedem sua vinda e tendo levado seu discurso
às portas de completar-se, no entanto, não nominou o dia [de sua vinda] " (tradução
minha).”.12
Crisóstomo também esboça uma interpretação ao rejeitar a ideia de que Jesus realmente não
sabe, mas atribui a frase a recurso retórico de Jesus para ressaltar imprevisibilidade da
παρουσια , quando afirma:
Para que se perceba que não é por ignorância que Ele silencia sobre o dia e a hora do
julgamento, ele [Jesus] apresenta outro sinal; como nos dias de Noé, assim será a vinda do Filho
do Homem. Com isso, Ele quer dizer que virá repentina e inesperadamente, e enquanto os
homens estão tendo prazeres, dos quais Paulo também fala: Quando eles disserem: Paz e
segurança, então repentina destruição lhes sobrevirá (1Ts 5.3) 13.
Agostinho de Hipona (354 a 430 d.C) apresenta, ao longo de sua obra, três possibilidades
propositivas para explicar o texto: a) uma ignorância temporária relacionada à natureza
11
(minha tradução) “Having then shewn that the Son of God cannot be ignorant of the day of the consummation,
we must now shew a cause why He should be said to be ignorant. When after the resurrection He is demanded
concerning this day by the Apostles, He answers more openly; It is not for you to know the times or the seasons
which the Father has put in his own power. (Acts 1: 7.) Wherein He shews that Himself knows, but that it was
not expedient for the Apostles to know, that being in uncertainty of the coming of their Judge, they should live
every day as though they were to be judged that day.” In Ibid. p. 675
12
Ibid. p. 674
13
(minha tradução) “That you may perceive that it is not owing to ignorance that He is silent of the day and
hour of the judgment, He brings forward another token, As it the as in we days of Noe, so shall the coming of the
Son of Man be. By this He means that He shall come sudden and unlooked for, and while men are taking their
pleasure; of which Paul also speaks, When they shall say, Peace and safety, then sudden destruction cometh
upon them. (1 Thess. 5: 3.)” In Ibid. p. 675
5
humana e ao propósito de não revelar aos discípulos14; b) Que, no Pai, o Filho sabe o dia15,
porque o próprio Filho é o criador dos tempos; c) Que o texto menciona que o Filho não sabe
apenas porque não quer manifestar tal conhecimento aos discípulos16. Assim, Agostinho
entende que ora é uma ignorância temporária, ora representa um estratagema retórico para não
revelar o tempo aos discípulos.
Há ainda Hilário (315 a 367 d.C.) que simplesmente apresenta o questionamento de que negar
algum conhecimento ao Filho implicaria que nem todas as coisas foram entregues a Jesus (Lc
11.22)17.
Assim, o período patrístico revela a percepção das difíceis implicações do texto, mas é muito
pouco propositivo nas dificuldades percebidas. A preocupação maior está em preservar a
divindade de Cristo – atitude compatível com as preocupações da época em defender a
Cristologia do Arianismo. No entanto, a formulação de propostas é pouco organizada e pouco
estruturada.
14
Como Deus, tudo o que pertence ao Pai, pertence ao Filho: E tudo o que meu é teu, e tudo o que teu é meu (Jo
17,10). Revestido da natureza humana, a doutrina não é sua, mas de quem o enviou (Jo 7,16). E disse ainda:
Daquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu nem o Filho, somente o Pai {Mc 13,32). Ele ignora o que
não quer dar a conhecer, isto é, ignorava-o, para manisfestá-lo aos discípulos. Assim se deu com Abraão, a quem
foi dito: Agora, sei que temes a Deus (Gn 22,12), ou seja, “agora te dei a conhecer”, pois provado na tentação,
ele mesmo passou a conhecer que temia a Deus. O Senhor revelaria aos discípulos no tempo oportuno, o segredo
sobre o dia e a hora. Em AGOSTINHO. A Trindade. Trad. e Int. Agustino Belmonte. São Paulo: Paulus, 1994.
Cap XII, p. 54
15
AUGUSTINE. (Serm. 97. 1.): He says that the Father knoweth, implies that in the Father the Son also knows.
For what can there be in time which was not made by the Word, seeing that time itself was made by the Word!
AQUINO. Opus cit. p. 675
16
AUGUSTINE. (Lib. 83 Quæst. q. 60.) That the Father alone knows maybe well understood in the above-
mentioned manner of knowing, that He makes the Son to know; but the Son is said not to know, because he does
not make men to know. Idem.
17
And has indeed God the Father denied the knowledge of that day to the Son, when He has declared, All things
are committed to me of my Father? (Luke 10: 22.) but if any thing has been denied, all things are not committed
to Him. Idem.
6
O primeiro grande Concílio foi em Niceia (325 d.C.) com a participação de Eusébio de
Nicomédia (representando Ário), no auge da controvérsia com o bispo Alexandre de
Alexandria18. Na fórmula nicena, no célebre segundo parágrafo, lê-se:
E em um só Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os
séculos, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só
substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa
salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se
homem, e foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao
terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus e assentou-se à direita do Pai, e de novo há
de vir com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim. 19
Com as lacunas deixadas por Niceia, o Concilio de Calcedônia propôs uma fórmula mais
completa no que tange à Cristologia, que foi o tema do evento20. A maior contribuição
calcedônica refere-se a delimitar as bases para uma primeira proposta de união hipostática. A
fórmula duas naturezas em uma só pessoa consagrou-se nos seguintes termos:
[...] um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas,
inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção de naturezas de modo algum é
anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo para formar
uma só pessoa e em uma subsistência; não separado nem dividido em duas pessoas, mas um só
e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo [...].21
18
Ver OLSON, R. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora Vida. p. 148 a 154.
19
Credo de Niceia. Disponível em http://www.teologia.org.br/estudos/credo_niceia.pdf
20
Fiéis aos santos Pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo
Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, e perfeito quanto à humanidade; verdadeiramente
Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo, consubstancial com o Pai, segundo a
divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado;
gerado segundo a divindade pelo Pai antes de todos os séculos, e nestes últimos dias, segundo a humanidade, por
nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, mãe de Deus; um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor,
Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a
distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza,
concorrendo para formar uma só pessoa e em uma subsistência; não separado nem dividido em duas pessoas,
mas um só e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas desde o
princípio acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor Jesus nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos
transmitiu. Em Credo de Calcedônia. Disponível em http://www.teologia.org.br/estudos/credo_calcedonia.pdf
21
Idem.
7
A Idade Média22 (sécs. V ao XV), em termos de Cristologia, como definido por Berkhof:
“acrescentou muito pouco à doutrina da pessoa de Cristo”23 (minha tradução); mas há
exceções notáveis. Primeiramente, pode-se citar a proposta de Rábano (780 a 856d.C.), que
defende que quem não sabe não é o Filho unigênito, mas o Filho adotado24 - proposta que
seria, hodiernamente, classificada como não-ortodoxa, na melhor das hipóteses.
Temos ainda a importante colaboração de João Damasceno (675 a 749 d.C.). Ele foi um dos
primeiros a elaborar uma discussão mais aprofundada sobre a relação entre as duas naturezas
(hypostaseis) na pessoa de Cristo. Para Damasceno, as propriedades de cada natureza podem
ser atribuídas à pessoa como um todo. Ele afirma:
Este é o modo de comunicação mútua, uma ou outra natureza entregando à outra suas próprias
propriedades através da identidade da subsistência e da interpenetração das partes entre si.
Assim, podemos dizer de Cristo: Este nosso Deus foi visto na terra e viveu entre os homens, e
Este homem é incriado, impossível e não limitado25.
22
Optei por uma data não precisa para definição da Idade Média considerando-se diversas perspectivas quanto à
data final – 1453 (Queda de Constantinopla), 1492 (Descobrimento da América) e 1517 (Reforma Protestante).
Independente do critério adotado, refere-se ao mesmo período da História. Assim, grosso modo, envolve o séc. V
ao XVI d.C.
23
BERKHOF, Luis. Teologia Sistematica. Grand Rapids. 1974, p. 364
24
“I have read also in some one’s book, that the Son here is not to be taken of the Only-begotten, but of the
adopted, for that He would not have put the Angels before the Only-begotten Son, saying, Not the Angels of
heaven, neither the Son.” AQUINO. Opus cit. p. 675-676
25
(minha tradução) “This is the manner of the mutual communication, either nature giving in exchange to the
other its own properties through the identity of the subsistence and the interpenetration of the parts with one
another. Accordingly we can say of Christ: This our God was seen upon the earth and lived amongst men, and
This man is uncreated and impossible and uncircumscribed.”. In DAMASCENUS, J. Disponível em
8
De forma mais direta, Tomás de Aquino comentou o texto de Mateus 24.36 em sua Suma
Teológica. Para Aquino, a humanidade de Cristo implica a existência de alma humana. A
essência humana é finita e tal finitude não pode compreender o infinito:
Como do sobredito resulta, a união das naturezas na pessoa de Cristo se fez de modo tal que a
propriedade de uma e outra natureza permaneceu inconfusa; de maneira que o incriado
permaneceu incriado e o criado ficou dentro dos limites da criatura, como diz Damasceno,
Ora, é impossível uma criatura compreender a divina essência, como dissemos na
Primeira Parte, porque o infinito não pode ser compreendido pelo finito. Logo devemos
concluir que a alma de Cristo de nenhum modo compreende a divina essência. 26
Aquino então comenta Mateus 24.36 e traz uma novidade. Não apenas lida com a identidade
humana de Jesus tendo um conhecimento que não compreende o potencial da natureza divina,
ficando aquém deste, como também faz uma distinção entre tipos de conhecimento. Para a
Aquino, conhecer todas as coisas factuais na realidade é diferente de conhecer a realidade
potencial; assim, Jesus conhece factualmente a realidade, mesmo enquanto homem; mas, sua
alma humana não é capaz de compreender tudo potencialmente – as realidades hipotéticas,
como ele afirma:
Quando se pergunta se Cristo conhece todas as coisas no Verbo, devemos notar que a expressão
— todas as coisas — pode-se entender em dois sentidos. Num, o próprio, abrange todas as
coisas que de qualquer modo existem, existirão ou existiram; ou que foram feitas, ditas ou
pensadas por qualquer e em qualquer tempo. E então, devemos afirmar, que a alma de
Cristo conhece todas as causas no Verbo.[...]
[...] Noutro sentido, todas as coisas é uma expressão susceptível de sentido mais lato,
abrangendo não só todas as coisas atuais num tempo qualquer, mais ainda todas as potências,
que nunca serão atualizadas.
— Ora, destas, certas dependem só do poder de Deus. E tais a alma de Cristo não as conhece a
todas no Verbo.
Portanto, a alma de Cristo conhece todas as coisas que Deus em si mesmo conhece pela ciência
de visão; mas não, todas as que Deus conhece em si mesmo pela simples ciência da
inteligência. E assim, Deus, em si mesmo, conhece mais coisas, que a alma de Cristo. 27
http://www.documentacatholicaomnia.eu/03d/0675-0749,_Ioannes_Damascenus,_De_Fide_Orthodoxa,_EN.pdf,
p. 182
26
AQUINO, T. Suma Teológica. p. 2985. Disponível em:
https://sumateologica.files.wordpress.com/2017/04/suma-teolc3b3gica.pdf
27
Ibid. p. 2986
9
A definição de CI propõe que, com a união hipostática, os atributos de cada natureza são
comunicados à outra natureza sem que a essência comunicadora perca suas qualidades
fundamentais. Assim, os atributos de cada natureza são agora aplicados à pessoa como um
todo29. Assim, na teologia luterana, as implicações da CI são levadas às últimas
consequências: "O Jesus humano criou o mundo e é onipresente” e “Deus nasceu e deitou em
uma mangedoura”30. Embora a visão luterana do CI não seja aplicada diretamente ao texto de
Mateus 24.36, poderia implicar que onisciência divina seja comunicada à natureza humana
ou, de modo contrário, que a impossibilidade de onisciência humana vinculasse-se à natureza
divina no texto em questão.
O documento que expressa a perspectiva adotada na tradição luterana ficou conhecido como a
Fórmula de Concórdia, que ensina:
Nós . . . cremos, ensinamos e confessamos que ser todo-poderoso, eterno, infinito, estar em
todos os lugares ao mesmo tempo naturalmente (isto é, de acordo com a propriedade da natureza
e de sua essência natural), ser intrinsecamente presente e conhecer tudo são propriedades
essenciais da natureza divina, que por toda a eternidade nunca se tornarão as propriedades
essenciais da natureza humana. . . Além disso, acreditamos, ensinamos e confessamos que a
natureza humana assumida por Cristo não apenas possui e mantém suas propriedades naturais e
essenciais, mas que, além disso, pela união pessoal com a divindade e depois pela exaltação ou
glorificação, foi elevada à destra de majestade, poder e força sobre todo nome que é
28
“as he [Luther] makes it the hermeneutical motor of his whole theology, or an axle around which many
other theological themes now begin to turn: not only Christology, but also the doctrine of the Lord's
Supper, anthropology, the doctrine of justification, scriptural hermeneutics, rhetoric, the theology of pastoral
care and the theology of creation.” In STEIGER, J. A. The communicatio idiomatum as the axle and motor of
Luther’s theology. Lutheran Quarterly, [s. l.], v. 14, n. 2, p. 125–158, 2000. Disponível
Em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000008648&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 20 set. 2022.
29
“that Christ subsists in two natures and nevertheless is only one person and one subsistence (εν
πρόσωπον και μία ύπόστασις), since an exchange (a perichoresis) of essential characteristics takes place
between the two natures—an exchange of idiomata, or propria.” STEIGER. Ibid. p. 125
30
Ibid. p. 126. (minha tradução). “The human Jesus created the world and is omnipresent," and "God was
born and lay in a manger."
10
mencionado não apenas nesta era, mas também na vindoura. (Declaração Sólida, Artigo VIII, §§
4 e 7)31.
Assim, na perspectiva luterana, a preservação dos atributos essenciais de cada uma das
naturezas no CI é fundamental para a compreensão de como ocorre a assunção de atributos
por cada natureza.
A CI, no entanto, não foi plenamente aceita por todos os reformadores. Foi questionada
primeiramente por Zuínglio, que identificou mero peso retórico a passagens em que se
atribuía alguma ação humana à denominação divina (e.g. “Deus comprou com seu próprio
sangue” em Atos 20.28 e “crucificado o Senhor da glória” em 1Coríntios 2.8)32. Com os
reformadores não-luteranos surgiu o mote “finitum non capax infiniti”, que resgata o
pensamento de Aquino, e afirma que a divindade não pode ser compreendida na finitude da
humanidade.
João Calvino, comentando Mateus 24.36, apresentou a explicação para a expressão “nem o
Filho”33 em quatro argumentos: a) ao “estado de repouso da natureza divina” sempre que
necessário e que, como homem, poderia ser ignorante em determinados assuntos – e
argumenta inclusive que tal ignorância é o que permitia sentir tristeza ou ansiedade; b)
argumenta ainda que ignorância não é fruto de pecado, considerando-se que, no mesmo
assunto, os anjos eleitos são ignorantes; c) Atribui ainda a função de subordinação temporária
ao Pai e que não seria missão do Filho saber tal dia; d) Finalmente, Calvino argumenta que
trata-se de estado temporário de ignorância, resolvido após a ressurreição34.
31
(Minha tradução) “We . . . believe, teach, and confess that to be almighty, to be eternal, to be infinite, to be
everywhere at the same time naturally (that is, according to the property of the nature and of its natural essence),
to be intrinsically present, and to know everything are essential properties of the divine nature, which throughout
eternity will never become the essential properties of the human nature . . . We furthermore believe, teach, and
confess that the assumed human nature in Christ not only possesses and retains its natural and essential
properties but that in addition thereto, through the personal union with the deity and afterward through the
exaltation or glorification, it has been elevated to the right hand of majesty, power, and might over every name
that is named not only in this age but also in that which is to come. (Solid Declaration, Article VIII, §§ 4 and 7)”.
In MCCORMACK, B. L. Karl Barth’s Christology as a resource for a Reformed version of
kenoticism. International Journal of Systematic Theology, [s. l.], v. 8, n. 3, p. 245
2006.https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001538508&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 ago. 2022.
32
In opposition to Luther, Zwingli rejected the communicatio idiomatum and said that it is just a mode of
speech when divine things are said of the human Jesus in the Bible. Zwingli, following Plutarch, called
this unrealistic way of speaking, this merely stylistic device, "Alloiosis." In STEIGER. Opus cit. P. 127
33
João Calvino atribui a expressão exclusivamente a Marcos. Ver CALVINO, João. Comentário Bíblico João
Calvino: Novo Testament. pp. 731-732. Edição do Kindle.
34
Ibid. p. 731-732 “Quanto à primeira objeção, de que nada é desconhecido para Deus, a resposta é fácil. Pois
sabemos que em Cristo as duas naturezas eram unidas em uma pessoa de tal maneira que cada uma reteve suas
propriedades; e mais especialmente a natureza divina estava em um estado de repouso, e de forma alguma se
11
A Confissão de Fé de Westminster (1643 d.C.) - CFW, por sua vez, trata explicitamente das
duas naturezas de Cristo e lida diretamente com o debate em relação ao CI. A CFW afirma:
A expressão “fazendo cada uma [natureza] o que lhe é próprio” pode ser aplicada à Mateus
24.36 no que diz respeito à incapacidade da natureza humana de ser onisciente. Assim, a
afirmação de Jesus, embora poderia ser aplicada à pessoa como um todo, refere-se à
propriedade humana de conhecimento finito.
esforçava, (158) sempre que era necessário que a natureza humana agisse separadamente, de acordo com o que
era peculiar a ela, no exercício do cargo de Mediador . Não haveria impropriedade, portanto, em dizer que
Cristo, que sabia todas as coisas, ( João 21:17 ) era ignorante de algo a respeito de sua percepção como homem;
pois de outra forma ele não poderia estar sujeito à tristeza e ansiedade, e não poderia ser como nós, ( Hebreus
2:17 ). Novamente, a objeção levantada por alguns - que a ignorância não pode se aplicar a Cristo, porque é a
punição do pecado - é além da medida ridículo. Pois, primeiro, é uma loucura prodigiosa afirmar que a
ignorância atribuída aos anjos procede do pecado; mas eles descobrem que são igualmente tolos em outro
terreno, por não perceberem que Cristo se revestiu de nossa carne, com o propósito de suportar o castigo devido
aos nossos pecados. E se Cristo, como homem, não conheceu o último dia, isso não menospreza a sua natureza
divina do que ter sido mortal. Não tenho dúvidas de que ele se refere ao cargo que lhe foi designado pelo Pai
como em uma instância anterior, quando disse que não lhe cabia colocar esta ou aquela pessoa à sua direita ou à
sua esquerda ( Mateus 20:23 ; Marcos 5:40 .) Pois (como expliquei nessa passagem (159)) ele não disse
absolutamente que isso não estava em seu poder, mas o significado era que ele não tinha sido enviado pelo Pai
com esta comissão, enquanto ele viveu entre mortais. Portanto, agora eu entendo que, na medida em que ele veio
até nós para ser o Mediador, até que ele tenha desempenhado totalmente seu ofício, aquela informação que ele
recebeu não foi dada a ele depois de sua ressurreição; pois então ele declarou expressamente que o poder sobre
todas as coisas havia sido dado a ele ( Mateus 28:18 ).”
35
Confissão de Fé de Westminster. Capítulo 8 – De Cristo, o mediador. Disponível em:
https://www.executivaipb.com.br/arquivos/confissao_de_westminster.pdf
12
No século XIX, surgiu na Alemanha uma nova contribuição ao debate Cristológico com
implicações para a interpretação de Mateus 24.36. A denominada Escola de Erlangen,
também chamada de kenoticismo alemão, tem como principais expoentes os teólogos
luteranos Gottfried Thomasius (1802-1875 d.C.) e Wolfgang Friedrich Gess (1819 – 1891
d.C.)36.
36
GIBBS, N. B.; GIBBS, L. W. “In our nature”: the kenotic Christology of Charles Chauncy. Harvard
Theological Review, [s. l.], v. 85, n. 2, p. 233, 1992. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000860036&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
37
MCCORMACK. Opus cit. p. 245 (minha tradução): “in the so-called ‘state of humiliation’, the God-human
made use of his divine attributes ‘according to his human nature’ only where and when it pleased him to do so”.
38
Ibid. p. 246. (minha tradução): “[...] in order to assume human nature without effecting an elevation of that
nature above the limits proper to the human, it was necessary for the divine Logos to divest himself of certain
divine attributes”
39
Idem.
40
“Thomasius’ Christology attracted a lot of attention and found adherents both within and outside of the
Lutheran camp. Indeed, kenotic Christology became the dominant school of thought in Reformed Scotland until
the 1940s, when D.M. Baillie succeeded in bringing an end to it by pointing out that if the second person of the
Trinity had to divest himself of any attributes in order become incarnate (only to take those attributes up again
later), then what you had was not a genuine incarnation but only a theophany.” MCCORMACK, Idem. Ver ainda
a conhecida obra “The Christ of History” de David W. Forrest.
13
41
BAVINCK, H. Teologia Sistemática. SOCEP, Santa Bárbara do Oeste. P. 608
42
O fato de que Jesus não sabia o dia nem a hora do fim do século não indica uma separação entre sua natureza
humana e sua natureza divina. Não há nenhuma separação, e sim distinção. A mente humana de Jesus
sempre esteve unida com sua mente divina, e no Novo Testamento, vemos Jesus manifestar frequentemente
conhecimento sobrenatural. Ele revela coisas que nenhum ser humano poderia saber. Onde ele obteve tal
informação? Ele a obteve daquele que é onisciente. Entretanto, uma coisa é a natureza divina transmitir
conhecimento à natureza humana; outra coisa bem diferente é a natureza divina engolir a natureza humana e
deificar a mente humana de Cristo. A mente humana tinha acesso à mente divina, mas não eram a mesma
coisa; por isso, havia certas coisas que Jesus não sabia, por seu próprio testemunho. In SPROUL, R.C.
Somos todos teólogos: uma introdução à teologia sistemática. São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. Cap. 24
43
Ele cita especificamente Mc 13.32 para defender tal ideia. GRUDEM, W. Teologia Sistemática. São Paulo:
Edições Vida Nova, 1999. p. 438 b.
44
Ibid, p. 463
45
Ibid. p. 464
14
46
BERKHOF. Opus cit. p. 700
47
STRONG. A. H. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Hagnos. p. 468 - Ele afirma: “Contemplando
passagens aparentemente inconsistentes com aquelas ora citadas, nas quais se imputa a Cristo fraqueza e
ignorância, limitação e sujeição, devemos lembrar, primeiro, que o Senhor era verdadeiramente homem
assim como era verdadeiramente Deus e que tal ignorância e fraqueza podem ser predicados dele como o Deus-
homem em quem a divindade e a humanidade se unem; segundo, que a natureza divina em certo sentido limitou-
se humilhou-se durante a vida terrena do nosso Salvador e que estas passagens podem descrevê-lo como ele era
no seu estado de humilhação mais do que em sua original e presente glória; e terceiro, que há uma ordem de
ofício e operação que é consistente com a unidade e igualdade essenciais, mas que permite falar-se do
Pai como primeiro e o Filho como segundo. Estas declarações serão melhor elucidadas ao tratar-se da
presente doutrina e em subseqüente exame da doutrina da pessoa de Cristo.”
48
FERREIRA, F, MYATT, A. Teologia sistemática : uma análise histórica, bíblica, e apologética para o
contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007. p.518 “Os atributos divinos de Jesus estavam funcionalmente
limitados pela sua humanidade, mas não reduzidos na sua essência. Ele ainda tinha poder para ser
onisciente, onipresente, etc. O que temos é uma limitação circunstancial no exercício de seu poder e de suas
capacidades.”
49
Idem. “Por isso, não é correto separar as duas naturezas, dizendo que “a natureza humana fez isto” ou “a
natureza divina falou aquilo”, justamente porque tudo o que pertence a uma natureza sempre deve ser atribuído à
pessoa de Jesus Cristo.”
50
ERICKSON, M. J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova. 1997 p. 289
51
HODGE, C. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Hagnos, 2001. p. 775
15
Há inúmeros outros autores que lidam com o tema, mas que se encaixam em algumas das
propostas históricas supramencionadas. Assim, podemos categorizar as posições quanto à
causa da ignorância do Filho em Mateus 24.36, ao longo da História da Igreja, nas seguintes
propostas:
1. A ignorância refere-se à natureza humana de Jesus – que não pode ser onisciente;
2. A ignorância acontece em virtude da kenosis, quando Jesus abriu mão
temporariamente dos atributos divinos relacionados à essência divina (onisciência,
onipotência e onipresença);
3. Os atributos de cada natureza são comunicados à pessoa como um todo, no processo
de communicatio idiomatum (CI); a finitude do conhecimento humano contamina o
ser todo e, ao mesmo tempo, a onisciência divina também compõe todo o ser;
4. A função de Jesus na encarnação incluía não saber, temporariamente, o dia e a hora de
sua vinda
Mateus, um dos evangelhos sinóticos, apresenta como uma de suas principais características a
preservação dos discursos de Jesus – assim, é um evangelho preocupado em organizar o
ministério de Cristo a partir de momentos de ensino. Em termos de estilo literário, compõe o
que autores mais recentes têm denominado narrativa52 ou, de forma mais específica, uma
espécie de biografias histórico-teológicas modificadas53.
52
OSBORNE, G. R. A espiral hermenêutica. São Paulo: Edições Vida Nova. 2018 p. 255 e seguintes.
53
Estou usando a terminologia de Jonathan Pennington, que argumentou como os evangelhos contrastam com as
bioi gregas do período do Novo Testamento. Ver PENNINGTON, J. Lendo os evangelhos com sabedoria. Rio
de Janeiro: acadêmico, 2019. p. 49 a 54
54
Carlos Osvaldo afirma “o evangelho apresenta uma apologética de messianidade de Jesus dirigida a judeus
que pudessem fazer objeção a um Messias crucificado”. Em PINTO, C. O. C. Foco e desenvolvimento no Novo
Testamento. São Paulo: editora Hagnos, 2014. p. 35
16
fundamentais ele também prenuncia a missão gentia tão claramente quanto qualquer um dos
outros três.55”
Há extensa discussão sobre qual foi o primeiro dos evangelhos a ser escrito 56.
Independentemente da perspectiva adotada quanto a Mateus, há evidências importantes de
uma composição pretérita ao ano 70 A.D. e à queda de Jerusalém 57. Nesse sentido, o capítulo
24 de Mateus é um discurso proferido em frente ao Templo, no Monte das Oliveiras (Mt
24.3), com vista privilegiada do Templo e do pátio dos gentios. Assim, o tema da robustez da
construção dá início ao chamado sermão escatológico de Jesus.
Esse sermão é um dos cinco grandes discursos de Mateus – material cujo conteúdo e forma de
organização coloca Mateus como evangelho sui generis. Alguns autores têm proposta que a
estrutura dos sermões emoldura o livro como um todo58. São os cinco discursos: a) Sermão do
Monte (caps 05 a 07); b) Preparação ao envio (cap. 10); c) Parábolas (cap. 13); d) Discurso
sobre o perdão (cap. 16 e cap. 18); e, finalmente, e) Sermão escatológico (cap 24-25).
O discurso escatológico de Jesus ocorre em resposta a duas perguntas dos discípulos (Mt
24.3): 1) Quando acontecerão estas coisas e 2) Qual será o sinal da tua vinda e do fim dos
tempos? A segunda pergunta, na verdade, pode ser dividida em duas partes: a) sinais do fim
55
BLOMBERG, C. Introdução aos evangelhos. Sâo Paulo: Edições Vida Nova, 2009. P. 173
56
Ibid. p. 110-127
57
Carlos Osvaldo argumenta que as advertências críticas contra os saduceus (que não fariam sentido após 70
A.D.) e que o Sitz in Leben reflete a situação da Palestina entre 50 e 64 A.D. Em PINTO, C. Opus cit. p. 34
58
BLOMBERG. Opus cit. p. 168-17
59
O caráter judaico do evangelho de Mateus é muito defendido. No entanto, o caráter universal do evangelho
não é tão enfatizado, como por exemplo: “De uma forma geral pode-se dizer que o propósito desse Evangelho
foi conquistar plenamente os judeus para Cristo (grifo do autor); ou seja, conquistar aqueles ainda não
convertidos e fortalecer aqueles já convertidos. O caráter hebraizante do Evangelho de Mateus, como se acha
descrito nas páginas precedentes, revela que esse foi o seu alvo. Com o fim de consegui-lo, a ênfase é calcada no
fato de que Jesus é deveras o Messias de há muito esperado e amplamente anunciado nas Escrituras hebraicas.
HENDRIKSEN, Opus cit. 1:129.
60
PINTO. Opus cit. p. 35
61
Propostas hermenêutico-escatológicas de continuidade (e.g. amilenarismo e preterismo) tendem a enfatizar a
aplicação mundial do discurso escatológico; propostas hermenêutico-escatológicas de descontinuidade enfatizam
os aspectos judaicos; no entanto, todos concordam que a parousia terá implicações mundiais enquanto há eventos
que ocorrerão (ou ocorreram, se estivermos lidando com preteristas) em ambiente judaico.
17
dos tempos e b) sinais da vinda de Cristo. Os capítulos 24 e 25 são então estruturados para
responder, organizadamente, às perguntas formuladas pelos discípulos. As perguntas dos
discípulos podem ser uma indagação relacionada à afirmação de Jesus, em Mateus 23.38, de
que a “eis que casa de vocês ficará deserta”, considerando-se que o templo é tratado,
eventualmente, como casa (ver Mt 21.13). A ocasião do discurso é a última semana de Cristo
– e uma provável terça-feira62.
Blomberg Carson
(1) Sinais e Tempos da Destruição do 1. Cenário (24:1–3)
Templo e da Volta de Cristo (24:1–35)
2. As dores de parto (24:4-28)
(a) Introdução (24:1-3)
a. Descrição geral das dores de parto (24:4-14)
(b) Sinais que ainda não indicam o fim
b. A dor aguda: a queda de Jerusalém (24:15-
(24:4-14)
21)
(c) A Destruição do Templo (24:15–20)
c. Advertências contra falsos messias durante
(d) A Grande Tribulação (24:21-28) as dores do parto (24:22-28)
(e) A Segunda Vinda de Cristo (24:29- 3. A vinda do Filho do Homem (24:29-31)
31)
4. O significado das dores de parto (24:32-35)
(f) Implicações finais (24:32-35)
62
Era terça-feira, poucos dias antes de o Cordeiro Pascal se oferecer como expiação pelos pecados de seu povo.
Com toda probabilidade, é no final da tarde desse dia em extremo memorável e de muita ocupação. Jesus deixa o
templo e dele se afasta acompanhado de seus discípulos quando estes se aproximam dele com o propósito de
chamar-lhe a atenção para as belezas e a grandeza de seu sagrado edifício: “Mestre, vê que [grandes] pedras, que
[magníficos] edifícios”! A razão por que precisamente nesse momento particular esses homens estão pensando
no templo é que Jesus lhes havia dito: “Eis que sua casa será deixada deserta” (23.38). Ainda que seja razoável
crer que a expressão “sua casa” signifique Jerusalém, o templo estava, sem dúvida, incluído. É como se os
discípulos estivessem dizendo: “É verdade que também este glorioso edifício ficará deserto?”62 In
HENDRIKSEN. Opus cit. p. 418
18
O discurso escatológico de Jesus tem relação com diversos textos (canônicos e não
canônicos). Em termos de evangelhos sinóticos, a passagem é repetida também em Marcos 13
e em Lucas 21. As principais diferenças entre os sinóticos estão relacionadas ao acréscimo,
em Mateus, da pergunta “τι το σημειον της σης παρουσιας”. Assim, na resposta à pergunta
exclusiva de Mateus, o evangelista apresenta os versículos 24.37-51 – exclusivos de Mateus,
além de todo o capítulo 25 – acréscimos estes que lidam com os sinais da παρουσια. Lucas,
entretanto, é o único evangelista a citar Jerusalém (em Lucas 21.20 e 24). Assim, é tratado
como uma predição específica da queda de Jerusalém em 70 A.D.
Outros textos relacionados a Mateus 24 são 1Tessalonissenses 4.16-17; 5.1-8, com expressões
paulinas que indicam que as profecias dos evangelhos eram conhecidas do apóstolo Paulo.
Paulo menciona, por exemplo, των χρονων και των καιρων, ημερα κυριου, αιφνιδιος,
κλεπτας, νεφελαις – entre outros termos – com grande coincidência de vocabulário com
Mateus 24 e a repetição das mesmas palavras e expressões que se referem também à segunda
vinda65.
A παρουσια também é referida em outros textos do NT, como 1Co 15.23, 2Ts 2.1 e 8; Tg 5.7-
8. 2Pe 3.4 e 12 e 1Jo 2.28. Todos estes textos referem-se explicitamente à vinda de Cristo
com os mesmos termos usados em Mateus 24, em especial na expressão: η παρουσια [του
υιου] του ανθρωπου – mas, nem sempre repetindo a expressão “filho”.
63
BLOMBERG, C. Matthew. The New American Commentary, (Nashville: Broadman & Holman Publishers,
1992), 22:49.
64
CARSON, D. A. The Expositor’s Bible Commentary: Matthew, Mark, Luke, 1984, 8, 56–57.
65
Para uma compração mais específica, ver: ORCHARD, B. Thessalonians and the synoptic gospels
[1]. Biblica, [s. l.], v. 19, n. 1, p. 19–42, 1938. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001466122&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 27 set. 2022.
19
Em Mt 24-25 No AT Trecho
66
WESTCOTT, B. F. e HORT, F. J. The New Testament in the Original Greek. Logos Bible Software, 2009.
67
In PERRY, P. S. Disputing Enoch: reading Matthew 24:36-44 with Enochic Judaism. Currents in Theology
and Mission, [s. l.], v. 37, n. 6, p. 451–459, 2010. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001820993&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 22 set. 2021.
20
pecaminoso, libertará uns poucos justos e inaugurará uma era de justiça e bênção perfeitas e
plenas”. 68
No entanto, a relação com 1Enoque não é uma explicação necessária – a comparação com os
tempos de Noé remete à imprevisibilidade da παρουσια e pode ser entendida por aqueles que
nunca lidaram com o referido apócrifo.
O presente trabalho não tem como foco a crítica textual. Neste sentido, é importante apenas
determinar se a leitura que inclui as palavras “οὐδὲ ὁ υἱός” seja antiga o suficiente para ser
considerada.
περι δε της ημερας εκεινης και ωρας ουδεις οιδεν ουδε οι αγγελοι των ουρανων οὐδὲ ὁ υἱός ει
μη ο πατηρ μονος
περι δε της ημερας εκεινης και ωρας ουδεις οιδεν ουδε οι αγγελοι των ουρανων ει μη ο πατηρ
μονος
Evidências externas
A primeira leitura é antiga, com citações do séc. III, apontando para cópias do séc. II.
68
Ibid. (minha tradução) "As is typical of the Enochic material, the sin, judgment, and renewal at the time
of Noah will be replicated at the eschaton, when God will judge a thoroughly perverse and sinful world,
deliver a righteous few, and usher in an era of perfect and full righteousness and blessing."
21
A leitura que omite a expressão tem um documento uncial antigo (W, séc IV e V) e alguns
unciais posteriores (L, f1 e Δ). O texto bizantino também omite a expressão. Muitos
minúsculos recentes também não contém a expressão (33, 157, 180, 205, 565 e outros). Em
termos de pais da igreja, é notória a omissão em cópias gregas de Jerônimo. A leitura que
omite “οὐδὲ ὁ υἱός” é antiga, mas menos distribuída e com cópias mais recentes.
Evidências internas
Além disso, ainda que omissão em Mateus tivesse ocorrido, as leituras de Marcos 13.32, texto
paralelo contém, sem variantes relevantes, a expressão “οὐδὲ ὁ υἱός”. Para Metzger:
A frase “nem o Filho” não é encontrada na maioria dos testemunhos [textuais] de Mateus nem
no texto bizantino tardio. Por outro lado, os melhores representantes dos tipos textuais
alexandrinos e ocidentais contêm esta frase. É mais provável que essas palavras tenham sido
omitidas por causa da dificuldade doutrinária que apresentam e não que tenham sido
adicionadas para harmonizar esta passagem com Marcos 13.32. Além disso, a presença de
μονος sugere a originalidade da frase, assim como a forma da frase em sua totalidade (ουδε...
ουδε... são inseparáveis assim como [são os] parênteses, uma vez que εἰ μὴ ὁ πατὴρ μόνος vai
com ουδεις οιδεν) 69.
69
(minha tradução) “La frase “ni el Hijo” no se encuentra em la mayoría de lós testigos de Mateo ni em el texto
Bizantino tardio. Por outra parte, lós mejores representantes de lós tipos textuales alejandrino y occidental
contienen esta frase. Es más probable que estas palabras hayan sido omitidas por causa de la dificultad doctrinal
que presentan, y no que hayan sido añadidas para asimilar este pasaje com Mc 13.32. Más aún, la presencia de
μονος sugiere la originilidad de la frase, ló mismo que la forma de la oración em su totalidad (ουδε... ουδε... son
inseparables como paréntesis, pues εἰ μὴ ὁ πατὴρ μόνος va con ουδεις οιδεν)”. In METZGER, Bruce M. Um
Comentario textual al Nuevo Testamento grego. Stuttgart: Sociedades Bíblicas Unidas. 2006 p. 51-52
22
tentativa mais provável de harmonização por copistas prejudica mais a segunda leitura.
Assim, mantém-se, neste trabalho, a leitura que inclui “οὐδὲ ὁ υἱός”70.
Oração principal Περὶ δὲ τῆς ἡμέρας ἐκείνης καὶ ὥρας οὐδεὶς οἶδεν,
Contrastando com a ignorância universal, a oração coordenada adversativa indica que há uma
exceção, a qual é o próprio Pai. A locução conjuntiva εἰ μὴ indica tal exceção explicitamente.
Περὶ δὲ
70
Ver também o resumo de R.T. France em FRANCE, R. T. The Gospel of Matthew. The New International
Commentary on the New Testament. EEdermans, 2007, p. 931
71
WESTCOTT, B. F. e HORT, F. J. Opus cit. Mt 24.36.
72
Segundo Levihnson, “δέ seems to “represent a new step or development in the author’s story or argument.”
[...It “represents the writer’s choice to explicitly signal that what follows is a new, distinct development in the
story or argument, based on how the writer conceived of it.” In MATHEWSON, David L.; EMIG, Elodie
Ballantine. Intermediate Greek Grammar (p. 331). Baker Publishing Group. Edição do Kindle.
23
7); fomes e terremotos em vários lugares (v. 7); perseguição dos que pregam o reino (v. 9);
ódio aos servos de Deus (v. 9); escândalo, traição e ódio em muitos lugares (v. 10); falsos
profetas em grande número (v. 11); amor se esfria e a maldade aumenta (v. 12); o evangelho é
pregado no mundo todo (v. 14).
No entanto, no versículo 36, ele lida não mais com um período ou com múltiplos sinais, mas
especificamente quanto ao momento da παρουσια. Assim, o “δε” parece introduzir agora a
resposta de Jesus não mais à primeira pergunta, mas à segunda indagação formulada pelos
discípulos: και τι το σημειον της σης παρουσιας (v. 3).
Assim, “δε” pode indicar, no contexto, o início de um novo segmento cujo conteúdo
relaciona-se à imprevisibilidade do momento da παρουσια – que faz sentido no encadeamento
do discurso, pois a perícope sobre Noé (Mt 24.37-40), a perspectiva de deixado e levado e a
analogia do ladrão (Mt 24.41-44), a história do servo imprudente (Mt 24.45-51) e a parábola
das dez virgens (Mt 25.1-13) são passagens cujo propósito é enfatizar a surpresa da segunda
vinda e a necessidade de se estar preparado – tema que é introduzido, justamente, no v. 36.
Aquele dia e hora marca também uma mudança importante na linguagem do capítulo. Há
notável redução de número do plural para o singular entre os versículos 35 e 36 nas
expressões “εκειναις ταις ημεραις” para “της ημερας εκεινης”. Até o v. 35, Mateus menciona
a expressão “εκειναις ταις ημεραις”, i.e “aqueles dias” (19, 22 e 29). Do v. 36 em diante,
refere-se a “της ημερας εκεινης”, i.e. àquele dia (36, 38, 42, 50 e 25.13).
A mudança não é sem sentido. “Aqueles dias” refere-se à primeira pergunta dos discípulos
(Mt 24.3): “Dize-nos quando sucederão estas coisas” - λεγοντες ημιν ποτε ταυτα εσται. A
primeira parte do capítulo responde sobre os sinais do período mais amplo categorizado como
“fim dos tempos”, ou, como os próprios discípulos perguntam “estas coisas”. No entanto,
quando a resposta de Jesus se a pergunta και τι το σημειον της σης παρουσιας, a resposta de
Jesus usa “aquele dia” – no singular Assim, há diferenciação entre a παρουσια – “o dia” – e o
fim dos tempos – “aqueles dias”73.
73
Há ainda outros elementos que sugerem que o período anterior referido até o v. 35 é bem mais amplo, como
sugere o uso de pronomes por Jesus: “Jesus' interweaving of various designations—"you," "many," "one
another," "most people's," "the one," "whoever," "those," and "those days"—suggests that the fulfillment
of the predicted events was indefinite.” In DEBRUYN, L. A. Preterism and “this generation”. Bibliotheca
sacra, [s. l.], v. 167, n. 666, p. 180–200, 2010. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001778564&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
24
Ao mesmo tempo, ao mencionar especificamente “τῆς ἡμέρας ἐκείνης καὶ ὥρας”, muitos
comentaristas, desde o período patrístico, indicam que não saber o exato dia e hora,
considerando-se que o dia está em um determinado mês e em determinado ano e período
histórico, teria implicações de Cristo não conhecer os tempos como um todo. Robert Thomas,
argumentado contra a perspectiva preterista que enfatiza “esta geração” (Mt 24.34) como
limite temporal afirma: “o dia e a hora inclui referências à semana, ao mês, ao ano e ao
período de anos que incluem o dia e a hora. Jesus declarou que ninguém soube (ou sabe) com
antecedência quando ele retornaria (ou retornará)”74.
Embora a argumentação de Thomas de que dia e hora não são apenas momentos específicos,
é possível argumentar que os sinais apresentados de Mateus 24.4-31 são sinais de um período
denominado, em algumas das posições escatológicas, como “A Grande Tribulação” (que
pode incluir premilenaristas históricos, dispensacionalistas clássicos e, eventualmente,
amilenaristas que creem em um período de tribulação final). Assim, é possível que “εκειναις
ταις ημεραις” refira-se a um dia não conhecido por Jesus, no momento da fala, dentro de um
período revelado, em detalhes, pelo próprio Cristo. Dessa forma, a interpretação seria:
naquele período de grande tribulação, o dia e o momento exato da παρουσια somente o Pai
conhece.
οὐδεὶς
O uso de ουδεις indica um sentido quase absoluto, tanto que a exceção será apresenta
explicitamente no texto. Seu uso impõe ênfase na surpresa e na impossibilidade de se prever
o exato momento da παρουσια, embora o contexto do capítulo indique que o período (τελος)
é de conhecimento do Filho que revelou inúmeros detalhes tanto do período (Mt 24.4-27),
mas também detalhes de como será sua vinda (e.g. Mt 25.31 – o trono de sua glória).
οἶδεν
O verbo usado para referir-se à ignorância do humana, dos anjos e do Filho é de vital
importância à passagem Assim, é necessário analisá-lo com mais detalhes.
Para avaliar o uso de οιδα em Mateus 24.36, é preciso estabelecer se, em tese, Jesus poderia,
efetivamente, ter usado outro verbo de significado similar para representar o mesmo conceito
de que ninguém sabe o dia e a hora de sua vinda.
74
PATE, C. M. O apocalipse: quatro pontos de vista. São Paulo: Editora Vida. 2003 p. 238
25
Em termos de grego clássico, há a perspectiva de que ambos os verbos, γινώσκω e οιδα, que
lidam semanticamente com o tema do saber e do conhecimento, mas com significados
levemente distintos:
O verbo γινώσκω, a princípio, significava para os gregos “vir a conhecer”; portanto, não
indicava diretamente o conhecimento como tal, mas o processo da mente, o progresso do
pensamento, que leva ao conhecimento; esta abordagem pode ser uma observação, uma
informação recebida, uma experiência, um raciocínio. 75
Mas οιδα [...] designa o conhecimento adquirido, considerado em si mesmo [...]. O caráter de
"visão" próprio de οιδα, que também pode se manifestar no fato de o verbo designar um
conhecimento de ordem intuitiva, uma apreensão direta pelo pensamento. 76
Embora seja uma distinção presente nos autores clássicos, La Potterie aplica tais definições ao
evangelho de João e conclui que tais distinções são mantidas, tratando de γινώσκω como o
conhecimento aprendido e οιδα como uma compreensão advinda da tomada de consciência,
mediante intuição.77
No entanto, esta distinção entre οιδα e γινώσκω, mesmo no período clássico, não é consenso.
Richard Erickson, por exemplo, embora advogue que existam nuanças entre os termos na
própria literatura paulina, questiona se tal distinção é tão evidente em estudos platônicos, por
exemplo: "De fato, pode-se questionar se a "distinção clássica" entre eidenai e ginöskein se
mantém mesmo no uso clássico; não parece ser assim, pelo menos no grego platônico"78.
Finalmente, quanto à questão da relação entre eidenai e ginöskein no NT, pode-se dizer pelo
menos que não é necessário relacionar todo o problema a uma norma clássica. Com base no
que foi visto aqui, pode-se concluir que, para certos contextos, esses dois verbos são usados
sinonimicamente. Mas o ginöskein, com suas possibilidades aspectuais mais ricas, pode ser
usado no sentido de adquirir conhecimento; enquanto eidenai, restrito ao aspecto perfectivo,
75
(minha tradução) “Le verbe γινώσκω signifiait tout d'abord pour les Grecs « arriver à connaître »; il n'indiquait
donc pas directement la connaissance comme telle, mais plutôt la démarche de l'esprit, le progrès de la pensée,
qui font aboutir à la connaissance; cette démarche peut être une observation, un renseignement reçu, une
expérience, un raisonnement”. LA POTTERIE, I. de. Oida et ginōskō, les deux modes de la connaissance dans le
quatrième Évangile. Biblica, [s. l.], v. 40, n. 3, p. 709–725, 1959. p. 710 Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000657089&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 23 set. 2021.
76
(minha tradução) “Mais οιδα [...] désigne la connaissance en tant qu'acquise, considérée en elle-même [...]. Le
caractère de « vision » propre à οιδα peut aussi se manifester en ceci, que le verbe désigne une connaissance
d'ordre intuitif, une saisie directe par la pensée.” Ibid, p. 711
77
Ibid, p. 725
78 (minha tradução) "In fact it may be wondered whether the "classical distinction" between eidenai and
ginöskein holds even in classical usage; it does not appear to do so in Platonic Greek at least". In ERICKSON,
R. J. Oida and ginōskō and verbal aspect in Pauline usage. The Westminster Theological Journal, [s. l.], v. 44, n.
1, p. 110–122, 1982.
Disponível em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000794010&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 23 set. 2021.
26
não pode. Talvez seja isso que tenha dado a impressão de que os dois verbos representam
diferentes tipos de conhecimento. No entanto, nenhuma evidência [em apoio] a essa
afirmação apareceu neste estudo. 79 (grifo meu)
γινωσκω οιδα
Texto Sentido Tense Texto Sentido Tense
Mt 24:43 Mas
considerai isto: se o Mt 24:42 Portanto, vigiai,
saber
pai de família soubesse conhecer Presente porque não sabeis em que Perfeito
/conhecer
a que hora viria o dia vem o vosso Senhor.
ladrão
Mt 25:24 Chegando,
Mt 25:12 Mas ele
por fim, o que recebera
respondeu: Em verdade
um talento, disse: perceber Aoristo conhecer Perfeito
vos digo que não vos
Senhor, sabendo que
conheço.
és homem severo [...]
A tabela evidencia que, na prática, embora γινωσκω possa significar com mais frequência
consequências da aprendizagem, não há, em essência, grandes diferenças semânticas em
79
(minha tradução) “Finally, as for the question of the relation between eidenai and ginöskein in the NT, it may
be said at least that it is not necessary to relate the whole problem to a classical norm. On the basis of what has
been seen here it can be concluded that for certain contexts these two verbs are indeed used synonymously. But
ginöskein, with its richer aspectual possibilities, can be used in the sense of acquiring knowledge; whereas
eidenai, restricted to the perfective aspect, cannot. This perhaps is what has given rise to the impression that the
two verbs represent different kinds of knowledge. No evidence for that contention has come out of this study,
however.” In BURDICK, D. W. Οιδα and γινώσκω in the Pauline epistles. In: New dimensions in New
Testament study. Grand Rapids [s. n.]. p. 344–356. Disponível em:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001060630&lang=pt-br&site=ehost-
live. Acesso em: 24 set. 2021. p. 356
27
O texto de Mateus 24.50, que usa γινωσκω (O senhor daquele servo virá num dia em que ele
não o espera e numa hora que não sabe) é quase que paralelo a Mt 24.36, que faz uso de oιδα
(Mt 24:36 Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe).
Assim, com respeito ao uso de Mateus de ambos os verbos, embora o autor tenha preferência
por oιδα, em Mt 24.36, ele fez opção consciente pelo uso deste e, consequentemente, optando
pelo perfeito em vez de um aoristo ou presente (mesmo um perfeito80) que poderia ser usado
com γινωσκω.
A opção pelo uso de oιδα mostra-se viável semanticamente e é consistente com a marcação do
perfeito para atribuir à frase de Jesus o peso devido no discurso.
Tendo-se estabelecido que Jesus / Mateus optaram por oιδα e, consequentemente, pelo uso do
perfeito em Mt 24.36, é importante avaliar as diferentes interpretações do significado deste
tempo (i.e. tense). A tabela a seguir apresenta o resumo das principais possibilidades:
Tabela 5 – Teorias interpretativas do uso do perfeito de oιδα em Mateus 24.36
80
Embora incomum, é possível usar γινωσκω no perfeito, como em 1Co 2.8 (εγνωκεν).
81
Infelizmente, não foi possível encontrar referência quanto à proposta interpretativa de Fanning relativa a oιδα,
mas, pode-se especular que defenderia o uso estativo, mas sem perder plenamente referência temporal, tendo
possivelmente o significado em Mateus 24.36 de "estado de ignorância com indicação pontual ou ponti-linear".
82
SEDLACEK, J. E. Reimagining Οἶδα: Indo-European Etymology, Morphology, and Semantics Point to Its
Aspect. Conversations with the Biblical World, [s. l.], v. 36, p. 148–163, 2016. Disponível em:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLAiA14180731002331&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 23 set. 2021.
28
O uso consciente de οιδεν (3a pessoa singular perfeito do indicativo ativo) parece indicar
menos uma questão lexical e mais uma opção pelo tempo perfeito. No entanto, essa opção
pelo uso do perfeito faz mais sentido se mantivermos a perspectiva tradicional de aktionsart
em termos do aspecto verbal grego, com o perfeito indicando uma ignorância temporária – o
que efetivamente é o caso – pois, demonstra que, em algum momento da História, tanto
homens (ver. Ap 1.7), os anjos dos céus (ver Mt 25.31) como o próprio Jesus deixarão de
ignorar o dia e a hora – não necessariamente no mesmo momento - nem que seja quando este
dia efetivamente chegar. Que anjos saberão do dia antes dos homens decorre de
acompanharem o Filho do homem em sua vinda (Mt 25.31). Assim, seguindo o mesmo
raciocício, não há problema em afirmarmos que a ignorância do Filho, embora também
temporária, possa se encerrar na ressurreição – antes de anjos e de homens.
Outras propostas que advogam o aspecto estativo podem ter implicaçaõe teológicas em
posições que defendem que a ignorância de Jesus quanto ao dia e a hora deixou de existir após
a ressurreição, embora tal conclusão não seja necessária. Seja como for, o aspecto de
ignorância temporal (seja estativa ou pontual) é estabelecida pelo tempo perfeito, que foi
escolha consciente de Jesus/Mateus.
83
Sedlacek comenta a respeito de Mckay: As a perfect, ofôa is remarkable in that although it is one of the most
commonly used perfects it rarely, if ever, conveys any clear implication of the action by which its state (of
knowledge) was established.” in SEDLACEK, J, Ibid. p. 148
84
Constantine Campbell counters the connection between the Perfect tense-form and stativity by appealing to
lexical aspect. “The important point, however, is that ofôa is already Stative simply because of its lexical
meaning, and irrespective ofits expression as a perfect indicative.” in SEDLACEK, J, Ibid. p. 149
85
Bíblia de estudo arqueológica. São Paulo: Editora Vida, 2013. p. 1529
29
superiores. Assim, não apenas nenhum homem desconhece o dia e a hora, mas os seres mais
poderosos dos céus – os seres angelicais também não receberam tal revelação.
A informação “dos céus” é importante para estabelecer a perspectiva de que tais seres estão
próximos de Deus (mesmas palavras do Pai nosso “πατερ ημων ο εν τοις ουρανοις”). Assim,
não apenas a natureza superior dos anjos, mas mesmo a posição privilegiada que ocupam
perante o Pai não são suficientes para conceder a eles o conhecimento específico do dia e da
hora.
A citação a anjos mitiga o argumento de que, quando Jesus menciona que ele mesmo não sabe
o dia e a hora, refere-se apenas a sua natureza humana. O argumento central do versículo
parece indicar que a ignorância humana é esperada – no entanto, nem mesmo,
hiperbolicamente, os anjos eleitos são capazes de saber algo. Assim, há a perspectiva de uma
crescente no versículo: Jesus começa falando da ignorância humana generalizada, em seguida,
trata de seres mais elevados, que também desconhecem o dia. Depois menciona o próprio
Filho de Deus e finalmente, demonstra que somente o Pai, em posição exclusiva de autoridade
sabe quando esse dia e hora serão estabelecidos.
Assim, em termos lógicos, não faz sentido Jesus tratar da ignorância humana, depois tratar de
um nível superior – anjos – e retornar à ignorância da humanidade de Cristo para, em um salto
lógico, lidar com a pessoa do Pai.
οὐδὲ ὁ υἱός
O uso da expressão “nem o Filho” é muito relevante na interpretação da passagem. Trata-se
de uma denominação não muito usual nos evangelhos sinóticos, especificamente quando a
palavra filho vem desacompanhada de qualquer qualificador, como “Filho do homem”, “Filho
de Deus” e “Filho de Davi”, entre outros.
A única passagem no evangelho de Mateus em que Jesus se autodenomina filho sem qualquer
adjunto adnominal está em Mateus 11.25-27:
25 Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.
27 Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e
ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
30
Trata-se de uma passagem que lida justamente com a revelação de Deus Pai de forma
exclusiva (v. 25). Interessantemente, trata também do conhecimento intratinitariano
inigualável entre Pai e Filho – a ponto de Jesus afirmar: καὶ οὐδεὶς ἐπιγινώσκει τὸν υἱὸν εἰ μὴ
ὁ πατήρ, οὐδὲ τὸν πατέρα τις ἐπιγινώσκει εἰ μὴ ὁ υἱὸς86. A convergência lexical e gramatical
é muito grande entre Mt 11.27 e Mt 24.36. Há notável diferença com o uso de “ἐπιγινώσκει”.
Mas, a diferença pode ser explicada pelo uso do tempo presente, algo não possível com oιδα.
Assim, na única passagem em Mateus em que Filho aparece no mesmo formato de Mateus
24.36, há a expressão, quase nos mesmos termos, da igualdade essencial entre Pai e Filho – o
que torna “possível, mas pouco provável”87 que, em passagem com linguagem tão próxima,
Jesus estivesse referindo-se à própria natureza humana, a qual ignora o dia e a hora de sua
vinda.
Texto Teologia
Jo 3.35-36 O Pai ama o Filho e lhe confiou todas as coisas – crer no Filho traz vida eterna,
não crer permanece a ira de Deus
Jo 5.19-23 O que o Filho faz depende do Pai – o que o Pai faz, o Filho faz; que todos
honrem o Filho como honram o Pai; Pai e o Filho tem a vida em si mesmos;
Jo 14.13 Oração respondida por Jesus, para que o Pai seja glorificado no Filho
86
WESTCOTT; HORT. Opus cit. Mt 11.27.
87
In memorian: referência à expressão muito usada por Carlos Osvaldo Cardoso Pinto nas aulas do SBPV.
31
εἰ μὴ ὁ πατὴρ μόνος
A última frase do versículo é uma oração coordenada adversativa, que revela a exceção à
expressão οὐδεὶς οἶδεν. Somente o Pai não está incluído neste “οὐδεὶς”.
O versículo 36 lida com uma mudança de ênfase ou assunto no capítulo – versando sobre o
dia e hora específicos da παρουσια. O uso do perfeito demonstra uma preocupação com certa
temporalidade – indicando que não se trata de uma ignorância permanente ou essencial. Não
há também indicação de que a ignorância do Filho seja uma referência a sua humanidade – ao
contrário, a expressão escolhida por Jesus para referir-se a si mesmo indica proximidade
essencial com o Pai nos evangelhos. Há a possibilidade de se estar enfatizando a posição de
autoridade do Pai na passagem, indicando algum tipo de hierarquia funcional na Trindade
naquele momento.
32
No presente capítulo, é necessário fazer uma breve avaliação crítica das dificuldades e
contribuições de cada proposta em relação à exegese de Mateus 24.36.
4.1 Proposta 01
A ignorância refere-se à natureza humana de Jesus – que não pode ser onisciente;
A perspectiva que fundamenta a proposta é a do “finitum non capax infiniti”. A proposta tem
a interessante condição de ser teologicamente muito bem elaborada, estar vinculada ao
entendimento histórico dos concílios da igreja e à Confissão de Westeminster, mas, ao mesmo
tempo, ser de difícil defesa e aplicação na exegese do texto em questão.
Há, em segundo lugar, dificuldades quanto à natureza da informação que o Filho desconhece
em Mt. 24.36. Ainda que seja teologicamente coerente que a natureza humana de Jesus não
possa ser onisciente, a realidade é que o tipo de informação que o Filho desconhece em Mt
24.36 não é, de forma alguma, sobrehumana. Saber quando um evento ocorrerá não é um
conhecimento acima da capacidade humana de compreensão. Nesse sentido, quando
Calcedônia afirma: “a distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é
preservada a propriedade de cada natureza”89, é perfeitamente possível Jesus manter as
limitações da natureza humana e conhecer o dia e a hora de sua vinda – considerando-se que
sua pessoa, i.e, em sua divindade, Jesus havia participado da criação dos tempos e do próprio
cosmos. Não se trata de uma informação relacionada às relações intratrinitarianas e à
sublimidade inacessível da divindade ou à infinitude de Deus. Trata-se de informação
histórica plenamente assimilável por qualquer indivíduo adulto.
Finalmente, a última grande dificuldade da afirmação que foi a natureza humana que ignora o
dia e a hora refere-se à interpretação comum que os termos Pai e Filho adquirem na teologia
do Novo Testamento. Tal denominação, nos evangelhos, em especial, refere-se a dois
aspectos teológicos principais:
88
Credo de Calcedonia. Disponível em http://www.teologia.org.br/estudos/credo_calcedonia.pdf
89
Ibid.
34
Ademais, de forma específica, em Mt 24.36, a fórmula Filho, usada sem adjunto e paralela a
Mateus 11.27 indica um uso no NT para ressaltar a unidade essencial do Pai e do Filho e, em
nenhum texto, é usada para referir-se à humanidade de Jesus nos evangelhos. Há também a
progressão de autoridade do referido texto na seguinte ordem: ninguém (seres humanos) –
anjos dos céus (maiores que os seres humanos) – o Filho (maior que os anjos) e finalmente o
Pai (funcionalmente superior ao Filho).
Finalmente, se fosse uma denominação clara para indicar a natureza humana de Jesus, o texto
não causaria nenhum desconforto na história da igreja – o que a própria crítica textual tem
atestado como um texto com modificações propositais justamente pela dificuldade teológica
que a linguagem ali produz.
4.2 Proposta 02
A proposta tem a vantagem de apresentar um dado novo, não previsto na proposta anterior:
temporariedade do desconhecimento de Jesus. A teoria kenótica impõe perda ou limitação
temporária de atributos divinos durante a vida de Jesus na terra até o momento de sua morte 90.
Muitos91 têm argumentado contra a exegese impositiva e que extrapola os limites textuais que
os kenoticistas do século XIX fizeram ao lidar com Filipenses 2.5-12 – texto cuja
90
THOMASIUS, Gottfried. Christi Person und Werk. Erlangen, 1853. Ele distingue os atributos éticos (amor,
santidade) de atributos relativos, advogando que Jesus esvaziou-se dos últimos, na encarnação. Na mesma linha,
a escola kenoticista britânica expande a ideia especialmente com Forrest e Fairbairn: FAIRBAIN, A. M. The
Place of Christ in Modern Theology. Hodder & Stoughton: London, 8ª ed. 1898; e FORREST, David W. The
Christ of History and Experience. Edinbugh: T. AND T. CLARK, 1903. BLOMBERG, C. Matthew. Vol. 22.
Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1992 p. 365.
91
Ver, por exemplo: MCGRATH, A. Teologia sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shed publicações,
2010. p. 435
35
Assim, embora popular, a perspectiva kenoticista não encontra base hermenêutica e teológica
suficiente para explicar Mateus 24.36 e a adoção de tal perspectiva traz mais prejuízos do que
benefícios à Cristologia e à Soteriologia. Ao mesmo tempo, o aspecto da temporalidade é
contribuição importante.
4.3 Proposta 03
Tabela 7 – Textos de denominação típica da divindade, mas com ação típica humana
Atos 20.28 τοῦ ⸀θεοῦ διὰ τοῦ ⸂αἵματος Sangue, típico da humanidade, é atribuído a
Deus.
92
Ver FERREIRA, F. e MYATT, A. Opus cit. p. 500
93
Ibid, p. 519.
36
1Co 2.18 τὸν κύριον τῆς δόξης ἐσταύρωσαν Crucificação, ato contra a natureza humana, é
atribuído ao Senhor da Glória.
Mt 24.36 ὁ υἱός οὐδεὶς οἶδεν Não saber, típico de uma mente humana, é
atribuído ao Filho – denominação que ressalta a
divindade de Cristo.
Segundo a perspectiva da CI, não saber o dia e a hora, que seria atribuível à natureza humana,
é aplicado à pessoa como um todo e para enfatizar tal aplicação, usa-se uma denominação
típica de divindade – no caso de Mateus 24.36 – o Filho. Nessa proposta, trata-se de uma
questão de uma natureza “exportar” atributos à outra sem que a natureza cedente seja afetada
e sem mudar também a natureza que adquire o atributo ou característica.
A diferença do texto de Mateus em relação aos outros casos de CI (como em At 20.28 e 1Co
2.8) é que a denominação Filho, embora seja realmente uma expressão dos evangelhos quanto
à divindade de Jesus, carrega também a conotação de subordinação funcional, o que não
acontece com as denominações “Deus” e “Senhor da glória”. Assim, a identificação de
“Filho” com a divindade de Cristo é menos percebida do que nos outros casos apresentados.
Ademais, a CI é uma explicação possível para o que acontece na “dinâmica interna” da pessoa
de Jesus; no entanto, ignora a ênfase do texto na dimensão relacional entre Jesus e Deus Pai.
A proposta do CI precisa ser emoldurada pela relação Pai e Filho e, nesse sentido, não lida
com o aspecto funcional dessa relação – que pode ser determinante para se estabelecer o que é
uma questão meramente cristológica e o que é um tema trinitário.
Há ainda a possibilidade do autor bíblico preocupar-se mais com a linguagem do que com a
essência. Pode não ser uma questão de querer revelar o processo de uma natureza emprestar
37
atributos a outra, mas o simples uso metonímico de atributo de uma natureza para referir-se à
pessoa como um todo.
4.4 Proposta 04
A função de Jesus na encarnação incluía não saber o dia e a hora de sua vinda.
Tal proposta apresenta uma grande dificuldade: carece, ao menos na presente pesquisa, de
uma defesa histórica argumentativa mais robusta. Grandes teólogos apenas mencionam tal
aspecto: Jerônimo (2.1), Calvino (2.4) e Bavinck (2.6), mas o fazem sem explicar as
implicações da ideia.
Ainda sim, a proposta tem a vantagem de levar em conta a ênfase de Mateus 24.36 na relação
e na terminologia Pai e Filho. Ao mesmo tempo, tem a dificuldade de explicar como é
possível Jesus manter a essência divina e não saber algo em virtude da posição de
subordinação temporária ao Pai.
de como NÃO devem ser entendidas no texto. As contribuições de algumas das propostas
foram mantidas.
Alguns argumentam que essa subordinação funcional não pode ser eterna, pois implicaria uma
dependência excessiva da divindade do Filho à do Pai94. No entanto, um aspecto importante
para salientar quando se menciona subordinação funcional é que esse tipo de relação não
implica em nenhum tipo de inferioridade essencial95.
94
Ibid. p. 525 e ss.
95
Esse tipo de perspectiva está presente na teologia do casamento em que a esposa é funcionalmente
subordinada ao marido, mas é igual em essência (plenamente humana).
39
Quando harmonizamos o texto mateano com o texto de Atos 1.7, especificamente no uso do
pronome “υμων” em “προς αυτους ουχ υμων εστιν γνωναι χρονους η καιρους ους ο πατηρ
εθετο εν τη ιδια εξουσια”. Após a ressurreição, Jesus poderia ter mantido a questão do fim dos
tempos como algo que não tinha acesso – mas, optou por um “υμων” em vez de “ημων”.
Assim, Jesus não se coloca mais junto aos discípulos na ignorância de tempos ou eras,
diferentemente de Mateus 24.36, em que coloca “o Filho” junto ao “ninguém sabe” e aos
“anjos dos céus”. Essa mudança pronominal parece indicar que Jesus não mais se inclui no rol
dos que “não sabem”.
Ademais, após a ressurreição Jesus afirma também: “εδοθη μοι πασα εξουσια εν ουρανω και
επι [της] γης” (Mt 28.19) – esse “toda autoridade” pode (e deveria) incluir a compreensão dos
tempos e eras que o Pai estabeleceu.
No que tange a saber o dia e a hora, talvez não seja necessário amplificar o problema – a
revelação bíblica indica um único tema em que a autoridade do Pai (não a essência do Pai) é
exclusiva. Assim, pode não ser tanto uma questão de natureza ou uma generalização de quem
é Jesus – mas, pode ser tratado como uma questão de tema específico.
Neste tema de quando será o dia a e hora, a subordinação funcional temporária de Jesus ao Pai
se impõe (talvez por algum tipo de organização intratrinitariana não revelada), limitando,
40
neste tema específico, o exercício da onisciência divina – que não foi perdida – mas, que não
é exercida em um tema pontual.
Assim, antes da morte / ressurreição / exaltação, Jesus mantinha sua onisciência com exceção
do tema do dia e hora da παρουσια. Após a ressurreição, não há revelação de que Jesus
manteve a ignorância - ao contrário, há a possibilidade de que haja retomado o exercício
pleno da onisciência inclusive quanto ao dia e hora.
5.4 Uso de terminologia metonímica para lidar com a dinâmica interna do Filho
Não é possível determinar, com base em Mateus 24.36, que o evangelista (e Jesus) estivesse
preocupado em revelar como funciona a dinâmica interna das relações entre as duas naturezas
de Jesus. Jesus não saber o dia e a hora, na forma como foi revelada por Mateus, pode,
simplesmente, ser um caso típico de terminologia. Embora a essência divina de Jesus seja
onisciente, a não ciência de fato futuro (humana ou funcional) foi atribuída à pessoa de Jesus
como um todo - no tema específico do dia e da hora.
Jesus não sabe – não necessariamente porque a ignorância humana tenha contaminado a
natureza divina – mas, porque um atributo da posição subordinada (e possivelmente, da
consciência humana) foi atribuído à pessoa como um todo.
O que se pode e deve afirmar é a plenitude da divindade de Cristo mesmo quando existe
temas que são reservados ao Pai – da mesma forma, como não se confundem as pessoas
quando se fala em ressurreição – trata-se de evento reservado ao Filho – e, embora tal evento
não componha a história do Pai, não diminui sua essência divina.
6 BIBLIOGRAFIA
AGOSTINHO. A Trindade. Trad. e Int. Agustino Belmonte. São Paulo: Paulus, 1994
AQUINO, Thomas. Catena Aurea: Commentary on the Four Gospels, Collected out of the Works of
the Fathers: St. Matthew. J. H. Newman, Org. Vol. 1. Oxford: John Henry Parker, 1841
BACON, B. W. The apocalyptic chapter of the Synoptic Gospels. Journal of Biblical Literature, [s.
l.], v. 28, n. 1, p. 1–25, 1909. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001289483&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
Bíblia de estudo arqueológica. NVI. São Paulo: Editora Vida, 2013. p. 1529
BLOMBERG, C. Introdução aos evangelhos. Sâo Paulo: Edições Vida Nova, 2009.
BLOMBERG, C. Matthew. Vol. 22. Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1992
BROSEND, W. Does anyone really know what time it is? Journal for Preachers, [s. l.], v. 37, n. 1, p.
16–18, 2013. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001969077&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
BURDICK, D. W. Οιδα and γινώσκω in the Pauline epistles. In: New dimensions in New Testament
study. Grand Rapids [s. n.]. p. 344–356. Disponível em:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001060630&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 24 set. 2021.
CALVINO, João. Comentário Bíblico João Calvino: Novo Testamento. Edição do Kindle.
CALVINO, João. As Institutas: Edição Clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. 4 vols.
CAMPOS, Heber Carlos de. A União das Naturezas do Redentor. São Paulo: Cultura Cristã, 2005.
CARSON, R. A. Motifs of Kenosis and Imitatio in the work of Dietrich Bonhoeffer, with an excursus
on the Communicatio Idiomatum. Journal of the American Academy of Religion, [s. l.], v. 43, n. 3, p.
542–553, 1975. Disponível
43
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000752876&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 20 set. 2022.
DAVIES, W. D., ALLISON Jr., D. C.. A critical and exegetical commentary on the Gospel according to
Saint Matthew London; New York: T&T Clark International, 2004, Vol. 3.
DEBRUYN, L. A. Preterism and “this generation”. Bibliotheca sacra, [s. l.], v. 167, n. 666, p. 180–
200, 2010. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001778564&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
ELWELL, Walter A. Encinclopédia histórico-teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1988
EMIG, E., Mathewson D. Intermediate Greek Grammar. Baker Academic. Grand Rapids, 2016.
ERICKSON, R. J. Oida and ginōskō and verbal aspect in Pauline usage. The Westminster Theological
Journal, [s. l.], v. 44, n. 1, p. 110–122, 1982. Disponível em:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000794010&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 23 set. 2021.
FAIRBAIN, A. M. The Place of Christ in Modern Theology. Hodder & Stoughton: London, 8ª ed.
1898.
FEE, G. D. Philippians 2:5-11: hymn or exalted Pauline prose? Bulletin for Biblical Research, [s. l.],
v. 2, p. 29–46, 1992. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001492038&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
FERREIRA, F, MYATT, A. Teologia sistemática : uma análise histórica, bíblica, e apologética para
o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007
FORREST, David W. The Christ of History and Experience. Edinbugh: T. AND T. CLARK, 1903.
FORREST, P. The Incarnation: A philosophical case for kenosis. Religious Studies, [s. l.], v. 36, n. 2,
p. 127–140, 2000. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000911807&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
FRANCE, R. T. The Gospel of Matthew. The New International Commentary on the New Testament.
EEdermans, 2007
FULLER, G. C. Olivet discourse: an apocalyptic timetable. The Westminster Theological Journal, [s.
l.], v. 28, n. 2, p. 157–163, 1966. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000708965&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
GAFFNEY, J. Believing and knowing in the Fourth Gospel. Theological Studies, [s. l.], v. 26, n. 2, p.
215–241, 1965. Disponível em:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000693600&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 24 set. 2021.
GIBBS, N. B.; GIBBS, L. W. “In our nature”: the kenotic Christology of Charles Chauncy. Harvard
Theological Review, [s. l.], v. 85, n. 2, p. 217–233, 1992. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000860036&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
GRANT, R. M. (Robert M. New fragments of the homilies of Origen. Vigiliae christianae, [s. l.], v. 2,
n. 3, p. 161–162, 1948. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001355796&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
HAVLIK, J. F. Kenosis according to Saint Paul. The Greek Orthodox Theological Review, [s. l.], v.
27, n. 1, p. 58–66, 1982. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000795163&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
HENDRIKSEN, W. Mateus. Comentário do Novo Testamento. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã,
2010
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000919393&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 20 set. 2022.
HOLMES, S. R. Asymmetrical assumption: Why Lutheran christology does not lead to kenoticism or
divine passibility. Scottish Journal of Theology, [s. l.], v. 72, n. 4, p. 357–374, 2019. DOI
10.1017/s0036930619000589. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLAiFZK191118000579&la
ng=pt-br&site=ehost-live. Acesso em: 22 set. 2022.
HOLZER, V. La kenose christologique dans la pensée de Hans Urs von Balthasar: une kénose
christologique étendue à l’être de Dieu. Théophilyon, [s. l.], v. 9, n. 1, p. 207–236, 2004. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001855236&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
HOOD, J. B. Matthew 23-25: the extent of Jesus’ fifth discourse. Journal of Biblical Literature, [s. l.],
v. 128, n. 3, p. 527–543, 2009. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001771034&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
KNOX, D. B. Five comings of Jesus, Matthew 24 and 25. The Reformed Theological Review, [s. l.], v.
34, n. 2, p. 44–54, 1975. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000753041&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
LA POTTERIE, I. de. Oida et ginōskō, les deux modes de la connaissance dans le quatrième
Évangile. Biblica, [s. l.], v. 40, n. 3, p. 709–725, 1959. p. 710 Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000657089&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 23 set. 2021.
LANGE, J. P., & SCHAFF, P. A commentary on the Holy Scriptures: Matthew. Bellingham, WA: Logos
Bible Software, 2008.
LUTER, B. The “Preaching Texts” of the Apocalypse (Dan 7:13 and Zech 12:10): fulfillment and
theological significance. Criswell Theological Review, [s. l.], v. 12, n. 1, p. 23–47, 2014. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0002003666&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
MACQUARRIE, J. Kenoticism reconsidered. Theology, [s. l.], v. 77, n. 645, p. 115–124, 1974.
Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000747700&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 22 set. 2022.
MATHEWSON, David L.; EMIG, Elodie Ballantine. Intermediate Greek Grammar. Baker Publishing
Group. Edição do Kindle.
MCCALL, T. H. The Eternal Humiliation of the Son?: Bruce Lindley Mccormack’s the Humility of
the Eternal Son: Reformed Kenoticism and the Repair of Chalcedon. Wesleyan Theological
Journal, [s. l.], v. 57, n. 1, p. 145–157, 2022. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLAiFZK220708000147&la
ng=pt-br&site=ehost-live. Acesso em: 22 set. 2022.
MCCLAIN, A. J. The Doctrine of the Kenosis in Philippians 2:5-8. The Master’s Seminary
Journal, [s. l.], v. 9, n. 1, p. 85–96, 1998. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000991984&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
MCGRATH, A. Teologia sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shed publicações, 2010.
MINEAR, P. S. The coming of the Son of Man. Theology Today, [s. l.], v. 9, n. 4, p. 489–493, 1953.
Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000654806&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
ODCHIGUE, R. J. C. The radical kenoticism of Gianni Vattimo and interreligious dialogue. Studies in
Interreligious Dialogue, [s. l.], v. 16, n. 2, p. 173–189, 2006. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001568714&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
ORCHARD, B. Thessalonians and the synoptic gospels [1]. Biblica, [s. l.], v. 19, n. 1, p. 19–42, 1938.
Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001466122&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 27 set. 2022.
47
PATE, C. M. O apocalipse: quatro pontos de vista. São Paulo: editora Vida. 2003
PERRY, P. S. Disputing Enoch: reading Matthew 24:36-44 with Enochic Judaism. Currents in
Theology and Mission, [s. l.], v. 37, n. 6, p. 451–459, 2010. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001820993&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
PETTEGREW, L. D. Interpretive flaws in the Olivet discourse. The Master’s Seminary Journal, [s.
l.], v. 13, n. 2, p. 173–190, 2002. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001492256&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
PINTO, Carlos O. C. Foco e desenvovlimento no Novo Testamento. São Paulo: editora Hagnos, 2014
PORTMANN, A. Friends at table: cooking and eating as religious practice. Implicit Religion, [s. l.], v.
2, n. 1, p. 39–49, 1999. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001895005&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
RICHTER, K. C. The Advent texts: glorious visions, dogged discipleship. Journal for Preachers, [s.
l.], v. 28, n. 1, p. 3–10, 2004. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001460259&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
ROBERTSON, A. T. Word Pictures in the New Testament (Mt 24.36). Nashville, TN: Broadman Press,
1993.
ROEDA, J. I can’t see the caboose. Reformed Journal, [s. l.], v. 36, n. 12, p. 4–5, 1986. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000968099&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
SPENCE-JONES, H. D. M. (Org.). St. Matthew. Vol. 2. London; New York: Funk & Wagnalls
Company, 1909.
SPROUL, R. C.. Estes são os últimos dias? São José dos Campos: Fiel, 2015.
SPROUL, R.C. Somos todos teólogos : uma introdução à teologia sistemática. São José dos Campos,
SP: Fiel, 2017
STEIGER, J. A. The communicatio idiomatum as the axle and motor of Luther’s theology. Lutheran
Quarterly, [s. l.], v. 14, n. 2, p. 125–158, 2000. Disponível
Em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000008648&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 20 set. 2022.
48
The Oxford Handbook of Christology. Oxford: Oxford University Press, 2015. ISBN 978-0-19-
964190-1978-0-19-964190-1. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLAiGFE160822002671&la
ng=pt-br&site=ehost-live. Acesso em: 22 set. 2022.
TONSTAD, L. M. “The ultimate consequence of his self-distinction from the Father...”: difference
and hierarchy in Pannenberg’s Trinity. Neue Zeitschrift für systematische Theologie und
Religionsphilosophie, [s. l.], v. 51, n. 4, p. 383–399, 2009. DOI 10.1515/NZST.2009.026. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001766213&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 16 ago. 2022.
TOUSSAINT, S. D. A critique of the preterist view of the Olivet Discourse. Bibliotheca sacra, [s. l.],
v. 161, n. 644, p. 469–490, 2004. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001424669&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
VARNER, W. The Didache “apocalypse” and Matthew 24. Bibliotheca sacra, [s. l.], v. 165, n. 659, p.
309–322, 2008. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001666739&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
WALVOORD, J. F. Christ’s Olivet discourse on the time of the end: prophesies fulfilled in the present
age. Bibliotheca sacra, [s. l.], v. 128, n. 511, p. 206–214, 1971. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0001508896&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
WARE, B. A. Is the church in view in Matthew 24-25. Bibliotheca sacra, [s. l.], v. 138, n. 550, p.
158–172, 1981. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLA0000783833&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.
WEBER, S. K. Matthew. Vol. 1. Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2000.
WESTCOTT, B. F. e HORT, F. J. The New Testament in the Original Greek. Logos Bible Software,
2009.
WHITE, T. J. Kenoticism and the divinity of Christ crucified. The Thomist, [s. l.], v. 75, n. 1, p. 1–41,
2011. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=CPLI0000518362&lang=pt-
br&site=ehost-live. Acesso em: 22 set. 2022.
WIEBE, M. Stained with Blood so Divine: Reflections on the Incarnation, Atonement, and the
Communicatio Idiomatum. Heythrop Journal, [s. l.], v. 62, n. 2, p. 278–289, 2021. Disponível
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLAiGU0210322001422&la
ng=pt-br&site=ehost-live. Acesso em: 20 set. 2022.
YANG, E. T. Kenoticism and essential divine properties. Religious Studies, [s. l.], v. 56, n. 3, p. 409–
418, 2020. DOI 10.1017/s0034412518000860. Disponível
49
em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLAi5QC200824000820&la
ng=pt-br&site=ehost-live. Acesso em: 22 set. 2022.
YIP, M. Turning an End into a New Beginning: Contesting Epistemic Authority in Matthew’s Olivet
Discourse. Currents in Theology and Mission, [s. l.], v. 46, n. 4, p. 15–20, 2019. Disponível
em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rfh&AN=ATLAiACO191021000809&la
ng=pt-br&site=ehost-live. Acesso em: 17 jun. 2020.