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CURITIBA
2022
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CURITIBA
2022
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.....................................................................................5
REFERÊNCIAS......................................................................................44
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1. INTRODUÇÃO
Prosperidade, para Oneide Bobsin (1995, p. 25), passa então de uma forma de
visão, para uma religião de resultados. Hank Hanegraaff (2015, 320) alerta que este
Movimento não surge do nada, mas antes é fruto de uma muito bem estruturada
doutrinação de massa, a partir do anseio por demandas de bem-estar, percebidos
por seus fundadores como Essek Kenyon, Roberts, Hagin e seus sucessores.
De lado oposto, existe um grande grupo de teólogos americanos e
brasileiros que enxergam com clareza quesitos bíblicos dentro da Teologia da
Prosperidade e do Movimento da Fé, que deram os primeiros passos a esta corrente
que desembocou em solo pentecostal, arraigando público fervoroso e muitos fiéis.
Desde o televangelismo de Kenyon nos EUA (CARPENTER, 1997, p. 27), até a
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no Brasil (GARRARD-BURNETT, 2011, p.
181), multidões vivenciam a fé na forma proposta por esta teologia. Pertinente,
portanto, a pesquisa sobre o tema, que o delimite e forneça material didático para
aplicação prática em sala de aula dentro do ambiente congregacional.
Por diversas maneiras a serem apresentadas e elencadas nesta pesquisa,
vislumbrar-se-á o conceito geral da Teologia da Prosperidade e das formas
propagadas pelos grandes expoentes desta, desde o seu surgimento nos Estados
Unidos da América, até os dias atuais dentro do seio cristão protestante, em solo
brasileiro. Não se pretende fechar o tema, abordando um lado em prevalência de
outro, mas apresentar os pontos e contrapontos, para que se possa prosseguir com
pesquisas futuras, dando-se continuidade ao desenvolvimento de melhores
esclarecimentos e abordagens bíblico-teóricas.
A definição de um panorama geral sobre cada momento histórico dentro de
uma cronologia é apresentada na forma de Mapas Mentais, com o intuito de facilitar
o aprendizado. Sua aplicação será prática, dentro de um guia bíblico, construído ao
final, com linguagem simples e cotidiana visando o ensino em sala de aula dentro do
ambiente da Escola Bíblica, de modo a subsidiar e capacitar alunos, por meio de
material substancial, acadêmico e de fácil memorização.
Procura-se assim difundir os conceitos práticos que esta visão teológica gera
no meio cotidiano cristão, visto que as pessoas são influenciadas e têm sua
cosmovisão bíblica moldada a partir daquilo que recebem como ensino. Para
aqueles teólogos que combatem este Movimento da Prosperidade, como
apresentados no decorrer da pesquisa, há uma significante e virtuosa
descentralização do poderio e soberania de Deus, além da redução a míngua de
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homem, por meio de quatro atos falhos, as quais sejam: (1) deificação do homem
(COPELAND, 1989, áudio #01-1403, lado 1); (2) destronação de Deus (CAPPS,
1982, p. 50-1) e (3) endeusamento satânico (COPELAND, 1990, áudio #02-0017).
Fonte: Autor
condições de vencer todo sofrimento que assola a vida e que impõe, portanto,
dificuldades. Uma vez, porém, determinada a vitória, nada poderá, impedi-lo. Uma
vez entendido de forma sintética como é a cosmovisão contemporânea desta
vertente, cumpre melhor detalhar, cronologicamente e didaticamente, quais
pensadores e premissas, formularam suas bases, a começar pelos mestres do
Movimento da Fé e o nascimento da Confissão Positiva.
Fonte: Autor
Mary Baker Eddy, fundadora da seita da Ciência Cristã, explica que o amor
seria a lei central que permitiu a Cristo realizar a cura de doenças e o perdão de
pecados. O princípio infinito e amor imutável é encontrado em Deus Criador, que
disponibiliza àqueles que nele creem, em amor, semelhante poder para a realização
do mesmo gênero de curas. Para Eddy (2001, p. 22), a Ciência Cristã decorre do
poder do amor, assim como a cura e perdão de pecados foram resultantes da ação
prática do amor nos tempos de Cristo, sendo este o princípio divino possibilitador de
tais mudanças. A doença e o pecado como fatores casuais, desaparecem antes na
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de Nazaré” (1980, p. 14), não condizem com a hermenêutica sadia, baseada nas
Escrituras, pondera o crítico em seu livro (p. 32).
Fonte: Autor
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Earl Paulk (1984, p. 96) e Paul Crouch (7 jul. 1986, TBN) ensinam que o
homem é também a encarnação de Jesus e filho de Deus. Em suas palavras “Cães
têm cachorrinhos e gatos têm gatinhos: assim, Deus tem pequenos deuses”,
portanto, é possível trazer à existência tudo aquilo que for de seu interesse, seja
riqueza ou saúde ou outras necessidades, tanto físicas, quanto psicológicas,
emocionais ou espirituais.
A fé destes “pequenos deuses”, por sua vez, é demonstrada na semeadura
de proventos financeiros do povo naquela denominação a qual pertence, pela qual,
quanto maior a semeadura, maior será a colheita. Abraão, Davi, Salomão e até
Jesus e os apóstolos são citados como homens ricos (financeiramente), por conta
da fé que possuíam.
Inicialmente, as curas milagrosas eram o carro chefe de difusão do
Movimento da Fé, quando Kenyon, em suas campanhas (convenções e palestras),
determinava e pessoas aparentemente eram saradas de suas doenças, milhares de
novos adeptos juntavam-se ao movimento. Assim multidões se juntavam em suas
palestras e uma legião de novos seguidores, religiosamente assistiam-no nos
programas rádio televisivos.
Como se verá melhor detalhadamente a frente, o neopentecostalismo
brasileiro, apresenta muitos dos sofrimentos da vida, como sendo indicadores de
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riso; (2) dom da cura; e, (3) da prosperidade (todos por meio da Confissão Positiva),
sempre com muita eloquência e aparato homilético, o que lhe era característica
própria.
Para Ricardo Mariano (2003a, p. 54-75), ferrenho crítico das bases
neopentecostalistas, existe historicamente entre a Igreja Universal do Reino de Deus
(IURD) e a teologia do Movimento da Fé, uma ligação em Hagin. Para ele, Hagin
errou em muitas de suas afirmações, as quais chama de controversas, como por
exemplo quando Hagin afirma que “Jesus é a primeira pessoa que já nasceu de
novo. Por que o seu espírito precisava nascer de novo? Porque ficou alienado de
Deus. Lembra-se como ele exclamou na cruz: ‘Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?’”
Ainda neste livro, Hagin (2014, p. 25) afirma que Jesus teria experimentado
a morte espiritual por todos os homens de forma que “seu espírito, seu homem
interior, foi para o inferno em nosso lugar”. No entendimento de Hagin, a morte física
somente não seria suficientemente qualificada a remover os pecados dos homens,
por isto Jesus teria sofrido além da morte humana a “morte espiritual”.
Em “Zoe: a própria vida de Deus”, Hagin declara que “nem o próprio Senhor
Jesus tem uma posição melhor diante de Deus do que você e eu temos” e continua
dizendo: “Talvez alguém suponha que eu esteja usurpando algo de Cristo. Não! Ele
continua a desfrutar da mesma glória junto ao Pai. Estou apenas falando dos direitos
que nós temos” (HAGIN, 1992, p. 79). Ao tratar da natureza de Jesus, Hagin declara
que Jesus, ao morrer espiritualmente adquiriu a “natureza de Satanás” e em outro
ponto refere-se a esta natureza como sendo de “ódio e mentiras” (HAGIN, 2014, p.
26-27)
Sobre a primeira pessoa da Trindade, Hagin é visto novamente por muitos
teólogos como reducionista dos atributos de Deus, ao afirmar que “o Senhor é um
Deus de Fé. Tudo o que ele tinha a fazer, fê-lo pela Sua Palavra” (1992, p. 62-63). O
questionamento gira em torno da expressão fé visto que se Deus necessita ter fé ou
tem fé, esta fé seria em quem? Ou no quê? Como pode ao criador de tudo ter fé ou
ser necessário que o mesmo tenha fé? Na carta aos Hebreus 11.3, o autor declara
que “pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo
que aquilo que se vê não foi feito do que é visível” (BÍBLIA, Hb 11.3).
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Sobre seu ponto de vista teontológico, Hagin (1992, p. 50-51) cita que “Deus
nos fez tão semelhante a si mesmo, quanto lhe foi possível. Fez-nos para pertencer
à sua própria categoria”, de modo que o “Senhor fez o homem como seu substituto
aqui na terra. Ele constitui-o como rei para governar tudo o que tinha vida”; neste
raciocínio, Hagin coloca o homem em termos de igualdade com o Criador.
O homem é visto por Hagin como sendo um ser que em sua essência
espiritual é igual a Deus, que “comunicando toda a sua natureza, substância e ser
aos nossos espíritos” torna realidade a vida eterna (HAGIN, 1992, p. 10,29).
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os ministérios, este é o único que Deus tem sobre a Terra a possuir uma escola de
medicina”; precisava de um total de oito milhões de dólares para a construção, pela
qual afirmou em sua campanha de arrecadação que ele teria até aquele mês de
março de 1987, para conseguir a quantia e caso não obtivesse êxito, morreria e
Satanás seria o grande vitorioso.
A estratégia de Roberts em tentar demonstrar ser o “grande enviado de
Deus”, fazia-o dizer coisas que, para Hanegraaff (2015, p. 213), são absurdas
quando vistas sob a ótica das escrituras. No ano de 1985, Roberts mandou um e-
mail aos seus “associados” ou “membros”, como costumava chamar aqueles que
lhes seguiam, de modo que o teor da carta refletia a ideia de que aquele ano de
1985 seria de grandes preocupações e ataques do Diabo, que, por conta disto,
muitos ficariam sem esperança e desanimados. Mas, que Deus já o advertira sobre
os fatos futuros por meio de trinta e três predições proféticas, que seriam
repassadas por ele aos seus seguidores, garantindo-lhes a vitória, e recebendo
ainda de retorno até cem por um.
Muitos livros foram escritos por Roberts e outros tantos mais sobre sua vida,
linha filosófica, testemunha de vida, sectarismo, falácias e demais temas, a exemplo
de “Ainda fazendo o impossível” (2019), que relaciona a Confissão Positiva ao
milagre; “O milagre da semente da fé” (2019), em que vincula a Confissão Positiva à
oferta e prosperidade; e, “Se você precisa de cura faça estas coisas” (2019), ligando
a Confissão Positiva à cura.
Como já visto anteriormente, tem-se até o presente momento, o surgimento
do Movimento da Fé por Essek Kenyon e a criação junto ao meio Protestante
americano da Confissão Positiva. A segunda fase deste movimento desenvolve-se
com a “unção do riso” de Kenneth Hagin e a utilização da Confissão Positiva nas
áreas de libertação e curas. Por último, será visto a atuação de Kenneth Copeland,
firmemente relacionada a questão financeira em uma nova teologia, a Teologia da
Prosperidade. Por meio dela, Copeland desenvolve o modo de ser bem sucedido
financeiramente, “este é o milagre da prosperidade”.
Com Roberts, contemporâneo de Copeland, o enfoque dá-se quase que
exclusivamente para com o material, o mundo físico, sensorial e palpável, o universo
de experiências e possibilidades. O espiritual, futuro e eterno é deixado quase que
totalmente à parte do enredo da vida humana, colocando o homem como
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protagonista de sua história. Egocentrismo e sua busca pela fama, sucesso e bem-
estar, são os enfoques direcionadores de Roberts (HANEGRAAF, 2015, p. 364).
Segundo declara Patti Roberts (1983, p. 92), então nora de Oral Roberts,
Tetzel, que mercadejou o evangelho para a implantação de projetos papais com a
venda de indulgências, agora tinha “um filho”, um “espelho”; seu nome é Oral
Roberts: “[tenho] muita dificuldade para distinguir entre a venda das indulgências e o
conceito da semente de fé, no grau a que fora elevado”. Patti completa o panorama
demonstrando que a distinção entre Oral Roberts e Tetzel está na medida que
enquanto o primeiro oferecia a salvação e o porvir (celestial), o segundo oferecia o
agora – sempre em troca de uma “semente da fé” que nada mais é que doações,
sempre apelando à ganância ou ao medo de seus ouvintes.
Para Romeiro (2005, p. 50), uma das grandes criações de Roberts, foi o
chamado “ponto de contato”, que teria sido “a maior descoberta que jamais fizera”.
Mas o que era o “ponto de contato”? Caracteriza-se pela sugestão aos seguidores
de que o produto ou objeto que lhe é entregue pelo “sacerdote” ou “enviado de
Deus”, possui a capacidade de realizar modificações no mundo material, por conta
da unção ou poder nele depositado por obra do Espirito Santo ou de Deus. É o
conhecido “lenço ungido, copo de água da cura, rosa do amor” e outros tantos
objetos utilizados nas igrejas neopentecostais brasileira, que já na década de 1980
fora criado por Roberts.
Sobre o “ponto de contato” é importante conhecer a história de A. A. Allen,
que em 1953 lançou o livro “The Secret to Scriptural Financial Sucess” (Segredo do
Sucesso Financeiro nas Escrituras), no qual relata uma experiência milagrosa, em
que Deus teria transformado notas de um dólar em notas de vinte dólares, para que
este pagasse dívidas.
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1
Ataques de Paul Crouch, Benny Hinn, contra os críticos de suas palavras, eram veementemente
combatidos por estes líderes, que se utilizavam de seus programas de grande audiência na
televisão e rádio para desferirem palavras de revolta. Ver: “Praise the Lord” in TBN, em 2 de abril
de 1991 e “Praise-a-Thon”, da TBN em novembro de 1990, em que Crouch diz que sobre seus
críticos ele não vê a possibilidade de redenção e diz: “Vão para o inferno! Saiam da minha vida!
Saiam do meu caminho!”
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Para Copeland (1985, fita de áudio # 01-4404, lado 1), a disponibilidade das
bênçãos celestiais e materiais não significa necessariamente que todos as terão e,
desta forma, poderão acessá-las. Nisto entra o conceito do “tomar posse da
bênção”, por meio de Cristo, em fé, de forma que quanto mais fé o crente possuir,
maior proporcionalmente serão suas conquistas em todas as áreas, inclusive a
material e financeira. Ele estabelece uma metodologia que seria necessária para
obtenção do resultado, por meio dos seguintes passos: (1) focar aquilo que se
deseja; (2) basear sua reivindicação na Palavra de Deus; e, (3)
declarando/confessando, para assim, trazer a existência.
Autor da frase “a pobreza é um espírito maligno, pois é impossível que Jesus
fosse pobre” (9/90 – “Charisma”, 15/02/1993), Copeland destacou-se no Movimento
da Fé, com a Teologia da Prosperidade em sua forma originária no cenário
americano. Para Copeland, a pobreza é resultado da falta de fé, bem como um não
posicionamento correto acerca da realidade espiritual e do lugar de exaltação
ocupado pelo homem.
Os ensinamentos de Copeland foram rapidamente difundidos pelos meios de
comunicação, entre eles na sua revista mensal “Believer’s Voice of Victory” e na
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revista bimestral para crianças “Shout”. No meio televisivo, seu programa Trinity
Broadcasting Network (TBN) reunia milhões de espectadores. Tornou-se líder de um
grande movimento gospel nos EUA. Sempre foi visto por seus seguidores como um
grande líder, contudo certa parte via em seus ensinos dualidades, como na frase: “O
temor, ativa Satanás à mesma maneira que a fé ativa Deus”. Charles Capps (1982,
p. 50-51), neste diapasão continua: “Jó ativou Satanás pelo medo quando disse: ‘Por
que o que temia me veio, e o que receava me aconteceu?’ (Jó 3.25). A fé ativa na
Palavra traz Deus à cena. O temor introduz Satanás no cenário”.
Fonte: Autor
Fonte: Autor
habitados, assim, pelo Espírito Santo. Não havendo uma duplicação de Deus ou sua
reprodução em sentido estrito (HANEGRAAFF, 2015, p. 119).
Com base no exposto até o presente, é possível sintetizar em forma de
mapas mentais as principais linhas desenvolvidas até o momento, relacionando os
principais pensadores dentro de cada movimento e sistema de desenvolvimento, de
forma cronológica até chegar-se à Teologia da Prosperidade, que se inicia de forma
objetiva e completa em Copeland. A aplicação prática em sala de aula é melhor
desenvolvida pedagogicamente, quando se tem a vinculação da escrita entrelaçada
ao panorama visual, o que se passa a desenvolver, para então seguir com a
Teologia da Prosperidade, já em solo brasileiro, o que será desenvolvido a partir do
segundo capítulo.
Fo
nte: Autor
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A IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) foi fundada em 1977, por Edir
Macedo, e hoje tem gigantesca relevância nos cenários econômico, político,
religioso, intelectual, cultural e social (MARIANO, 2003, p. 56). A exemplo de sua
relevância política, em 1998, segundo Fonseca (1998, p. 20), elegeu 26 deputados
estaduais e 17 federais. Em 2002 (Folha de S. Paulo, 10/10/2001), foram ao menos
22 parlamentares, sendo 4 destes apoiados pela instituição e 18 membros efetivos
da IURD. Marcelo Crivella tornou-se Senador pelo Estado do Rio de Janeiro de 2003
a 2017 e prefeito da Capital Fluminense de 2017 a 2022, derrotando Marcelo Freixo
(PSOL).
É fato para Ricardo Mariano (2003, p. 49-64) que o poderio da IURD não se
deu ao acaso e muito menos do dia para a noite, antes é resultante de um longo
percurso, alinhada a uma estratégia de governo institucional muito bem organizada,
por seu líder e assessores eclesiásticos, dentre eles o carisma. Ari Pedro Oro,
professor de Antropologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(CIVITAS, Porto Alegre, v. 3, nº 1, jun. 2003), traça um paralelo entre a organização
eclesial e a eficiência estrutural no caso da IURD, baseada em dois principais
pilares: Carisma Pessoal e Institucional.
O carisma pessoal, segundo Max Weber (1971, p. 72), é a qualidade de
caráter cotidiano reconhecida por um grupo social em que o autor e agente
carismático se correlaciona social-economicamente. Para Weber (1971, p. 249), este
tipo de carisma é o encontrado no contexto bíblico, pelos profetas dentro do domínio
religioso e também pode ser aplicado ao campo da política no chamado carisma
demagogo. O carisma pessoal pode, segundo Jean Séguy (1988, p. 14-15), ser
muito claramente visto pelos líderes de guerra, em tempos de grandes batalhas,
como o encontrado nos Césares da Roma antiga, em Josué, Moisés e Davi na
vertente bíblica, em Leônidas na luta inenarrável em Termópilas (480 aC), em
Alexandre, o Grande conquistador do mundo conhecido de sua época (336-323
a.C.), e muitos outros.
Na IURD, é possível notar o carisma institucional, também chamado de
carisma de função, que é uma derivação do carisma pessoal (BOURDIEU, 1987, p.
95), em que a organização religiosa conduz seus “funcionários, servos, fiéis” a uma
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Fonte: Autor
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apoiados por Macedo (1997, p. 35), são elementos originários da America do Norte,
propagados embrionariamente por E. Kenyon, Hagin Roberts, Copeland e Benny
Hinn, criador e difusores desta visão sectarista e miscigenada. O próprio Macedo
(2000, p. 35) reconheceu brevemente ter tido correlação com tais ensinos.
O neopentecostalismo brasileiro, que pode ser sintetizado dentro do
encontrado na IURD, é visto por Donald E. Miller (2007, p. 175-76) como não
exatamente uma absorção pura e simples das características do Movimento da Fé,
como fonte e base. Deve ser comunicada e entendida como um “remodelar” que
resume a forma com que é adaptada a cultura brasileira, não sendo, portanto, uma
importação direta e estrita, mas um remodelamento em conjunto com as condutas
pragmáticas de outras ondas pentecostais brasileiras. Desta forma, as práticas e
condutas são ressignificadas constantemente (VANHOZER, 2006, p. 99) para a
prática local, o que pode ser entendido genericamente como a globalização da visão
neopentecostal ante a fluidez dos significados e significantes.
Paul Freston (1995, p. 131) vê na liderança do Bispo Macedo, um paralelo
ao papa e ao colégio do alto clero da Igreja Católica Romana, em que Macedo
reteria em seu controle o monopólio teológico e ideológico de sua denominação.
Assim, caberia a seus subordinados diretos imitá-lo em sua pregação, dizeres,
gestos e até mesmo sotaque. Paulo Mattos (2002, p. 1) observa que outros grupos
neopentecostais tem sido influenciados pela forma governamental eclesiástica da
IURD, incluindo seu modelo de marketing direto. De fato, a IURD investe
massivamente na promoção de ações visando a aproximação da instituição e
público de fiéis e simpatizantes. Não à toa, possui atualmente duas editoras (Gráfica
Universal e Unipro) além da Rede Record, que segundo Marcelo Marthe (2007, p.
89) estava avaliada naquele ano em cerca de quatro bilhões de reais.
A IURD aderiu, como visto, aos ensinos propagados pelos teólogos do
Movimento da Fé e da Confissão Positiva, com fortes influências sectaristas,
conturbadas com religiões afro-brasileiras (BASTIDE, 2001, p. 89) e remodeladas à
cultura regional onde se difunde (ANTONIAZZI et al, 1994, p. 235). Assim, propõe-se
dentro de uma teologia sacrificial, os meios pelos quais seus adeptos poderão
supostamente arguir: 1. Bem-estar físico e emocional; 2. Prosperidade financeira e
material; 3. Libertação e curas. Esta religião que inova e se ressignifica
constantemente é a resultante clássica de uma igreja que se volta e se funde a pós-
modernidade.
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