Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PSICANÁLISE E CRISTIANISMO:
UMA REFLEXÃO SOBRE A CULPA NA CLÍNICA
PSICANALÍTICA E NO ACONSELHAMENTO CRISTÃO
CAMPINAS
2020
JOSÉ LIMA DE JESUS
PSICANÁLISE E CRISTIANISMO:
UMA REFLEXÃO SOBRE A CULPA NA CLÍNICA
PSICANALÍTICA E NO ACONSELHAMENTO CRISTÃO
CAMPINAS
2020
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre o sentimento de culpa no âmbito da
Psicanálise e do Cristianismo. Ao longo da história, Psicanálise e Cristianismo têm sido
entendidos como antitéticos, contudo, o sentimento de culpa é um fenômeno ontológico
em ambas as narrativas. Psicanálise e Cristianismo, em seus mitos originais, têm o
assassinato do pai como a gênese do sentimento de culpa–o pai como personagem
central. Foi possível durante os estudos compreender como as diferenças no conceito do
tempo psíquico se refletiram nas práticas em como lidar com a culpa. Tal percepção
ficou evidente na análise comparativa com o estudo de caso como material para
comparar as abordagens entre o aconselhamento cristão e a clínica psicanalítica. Assim,
considera-se que, ao lidar com um paciente cristão, o psicanalista precisa conhecer as
principais doutrinas cristãs. Da mesma forma, por meio da Psicanálise, o conselheiro
cristão poderá compreender melhor a atuação do inconsciente na relação com a culpa.
ABSTRACT
This work aims to reflect on the feeling of guilt in Psychoanalysis and Christianity.
Throughout history Psychoanalysis and Christianity have been understood as
antithetical, however the feeling of guilt is an ontological phenomenon in both
narratives. Psychoanalysis and Christianity in their original myths have the murder of
the father as the genesis of the guilt feelings– the father as the central character. Along
the studies, it was possible to understand how differences in the concept of psychic time
reflected in the practices on how to deal with guilt. This perception was evident in the
comparative analysis with the case study as a material to compare the approaches
between Christian counseling and the psychoanalytic clinic. Thus, it is considered that
in dealing with a Christian patientthe psychoanalystshould know the main Christian
doctrines, exactly as the Christian counselor can understand better the role of the
unconscious in relation to guiltthrough Psychoanalysis.
Aos meus pais, João Lima de Jesus (em memória) e Maria José de Jesus, pelos
fundamentos sólidos da educação que deles recebi, o maior legado que poderiam me
deixar.
A minha esposa Cleireane Aparecida de Jesus e ao meu filho Abner Augusto de Jesus
pelo apoio e presença constante em todos os momentos.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Dr. Antonio Terzis, meu orientador, que, com sua experiência,
contribuiu para esta realização.
Aos colegas de classe com quem tive o privilégio de conviver durante o curso e
que fizeram parte de todo o processo de aprendizagem.
RESUMO
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 7
1. INTRODUÇÃO
A leitura dos escritos de Freud, ao longo da história, foi feita por muitos,
partindo da premissa de que seus textos são fechados, acabados, sem dialética. Segundo
Lacan
Jones (1989, p. 346) escreve sobre Freud: “ele conhecia bem a Bíblia e estava
sempre pronto a fazer citações de ambos os Testamentos. No todo, (...) Freud possuía
um conhecimento inusitadamente abrangente de várias crenças religiosas”. Sobre a
relação do saber da Psicanálise com a religião, Freud escreveu:
Para Ricoeur (apud Kung, 1977, p.1933), “a Psicanálise abre a uma dupla
possibilidade: a da fé e a da não fé, mas não lhe compete a decisão entre essas duas
possibilidades”. A Psicanálise não tem como objetivo a destruição de nenhuma
ideologia, seja religiosa, política, econômica ou qualquer outra, como afirma o próprio
Freud (1907/1982, p.80): “todo tratamento psicanalítico é uma tentativa para libertar o
amor recalcado, que encontrou no sintoma a incômoda solução de um compromisso”.
9
Freud (1933) explica que a Psicanálise não precisa ter uma visão de mundo,
própria de mundo, mesmo porque seria desnecessário, por aderir à visão da ciência,
contudo, reconhece o poder da religião,
dos três poderes que podem contestar a base da ciência, só a religião constitui
um adversário sério. Nem a arte nem a filosofia e sim a religião é o ingente
poder que dispõe sobre as mais fortes emoções do homem e que criou uma
visão de mundo de incomparável coerência e perfeição, que mesmo abalada
ainda subsiste até hoje (FREUD apud KUNG, 2006, p. 46).
Kung (2006, p.46) ressalta que Freud nunca havia falado com tanta clareza da
grandiosa essência da religião, que se propõe a prestar aos homens realizando, num só
tempo, três funções: 1) esclarecer sobre a procedência e aparecimento do mundo; 2)
garantir amparo e felicidade nas inconstâncias da vida; e 3) nortear seus princípios e
atos por meio de regras defendidas com toda sua autoridade.
A experiência religiosa pode estruturar as dimensões subjetivas e intersubjetivas
na dinâmica da vida psíquica. Nessa tentativa de “libertação”, a Psicanálise não é
antitética à religião, mas companheira de jornada. De acordo com Ricoeur (apud
KUNG, 2006, p.77), “Freud já reforçou a fé dos descrentes, porém na verdade mal
começou a purificar a fé dos crentes”.
Na narrativa do parricídio, Freud (1913) sugere que a culpa faz parte da estrutura
do psiquismo humano. Na busca de uma fundamentação histórica sobre esse sentimento
de culpa, ele se utiliza da história dos judeus, do episódio da tentativa de assassinato de
Moisés, como um retorno do recalcado. Para isso, cita a narrativa bíblica, “a
comunidade toda falou em apedrejá-los. Então a glória do Senhor apareceu a todos os
israelitas na Tenda do Encontro” 1. O ato foi concretizado no desejo, quando o tentaram
matar. Esse acontecimento é interpretado como a repetição do parricídio totêmico.
Derrida (1995/2001, p. 85) oferece a seguinte interpretação:
O mito originário da culpa tem origem na morte do pai da horda, que se reflete
no inconsciente racial – cria, assim, o contínuo sentimento de culpa. Esse fenômeno
inconsciente é repetido na história. Freud usa como exemplo a história dos israelitas no
assassinato de Moisés, que seria a repetição da morte do pai da horda primitiva.
Segundo Freud (apud Rosa, 1979, p.62), “esta morte fez o grande crime real para os
1
Números 14.10.
11
2
Posteriormente veio a ser chamado de Paulo, por ocasião da experiência mística que teve quando ia
Damasco perseguir os seguidores de Cristo (Atos 9). No judaísmo o nome Saulo significa “grande” e
Paulo “pequeno”, um trocadilho comum na cultura judaica que mostra uma mudança radical sobre seu
oficio, da arrogância em defesa do judaísmo para a humildade em defesa da fé cristã.
3
Romanos 5.18.
4
1Timóteo 3.16.
5
2 Coríntios 5.19.
12
semelhança do banquete totêmico narrado por Freud, Paulo registra a refeição de Cristo
com os discípulos antes de sua morte:
“o Senhor Jesus na noite em que foi traído, tomou o pão e, tendo dado
graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês,
sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a
morte do Senhor até que ele venha’”6.
6
1 Coríntios 11.23-25.
7
Gênesis 2.16-17.
8
Gênesis 3.1-6.
9
João 1.14; 3.16
13
“Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo
não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras”10.
A morte instaura a culpa na humanidade, assim como na narrativa do pai da
horda. O desejo e a morte são comuns nas duas narrações: a “morte” foi o único meio
pelo qual o filho obteve o seu objeto de desejo. Qual será então a proposta para que o
homem se livre dessa culpa? Na psicogênese da religião, segundo a psicanálise, o estado
de culpa que o homem vive é o que produz a necessidade da religião. O
amadurecimento seria o transporte para homem sair da infância para a fase adulta. A
maturidade extinguiria a religião, por se fazer necessária devido à infantilidade do
homem, tanto individual, quanto coletiva. Em se tratando da humanidade, os conflitos
infantis encontram dupla significação:
10
(João 14.10-11).
11
Gênesis 3.1-6
12
Gênesis 3.5
14
primitiva. Assim, a salvação do pecado original só pode ser alcançada por meio de uma
morte expiatória:
13
Nos escritos do Antigo Testamento, as profecias eram oficio dos profetas e profetizar é falar no lugar
de Deus de forma sobrenatural, como se outra personalidade tomasse a pessoa, de forma que muitas vezes
o profeta não tinha consciência da mensagem que anunciava. Normalmente advertiam a nação de Israel
sobre os efeitos do seu desvio da lei. No Novo Testamento, profecia é interpretada como um enunciado
por alguém que possui um dom, uma revelação, e não mais está restrito a uma classe, aos profetas. Na
tradição pentecostal, “profecias” são revelações que a pessoa obtém de forma mística, transcendental,
sobre eventos futuros, escatológicos, que ainda poderão acontecer. Entende-se que a pessoa que traz a
revelação de alguma forma esteve em outra dimensão. Uma revelação pode se referir a um grupo ou a
uma pessoa individualmente.
15
14
Isaías 53.4-5.
15
1 Pedro 5.7.
16
venham a atrapalhá-la nessa nova etapa da vida pós-conversão: (1) “esquecendo-me das
coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim” e; (2) “se
alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se
fez novo”16. Essas duas afirmações sustentam todas as demais relações do fiel. É a partir
dessas convicções que ele vai se relacionar com o passado e com o presente. Uma nova
cosmovisão, uma nova forma de interpretar o mundo e viver.
O aconselhamento cristão, por ser normalmente um atendimento rápido, trata o
problema a partir do “problema”, contudo, “problema” é apenas a “queixa”, apenas uma
ponta do iceberg. Às vezes é preciso retroceder, buscar o que é apresentado e está
apenas na superfície. Apenas é efeito de acontecimentos que estão ocultos. O método do
aconselhamento cristão é denominado “noutético”17.O objetivo nessa abordagem é
direcionar, ensinar, exortar e confrontar o aconselhando com os princípios bíblicos.
O apóstolo Paulo orienta a comunidade cristã sobre a forma como se deveria
viver:
16
Filipenses 3.13; 2 Coríntios 5.17.
17
Do grego nous, “mente” e tithemi “pôr”, significa “pôr em mente”. Assemelha-se muito à Psicologia
Cognitiva/Comportamental.
18
Efésios 4.22-24.
17
Freud diz que as pulsões estão imbuídas de uma dimensão experiencial histórica
que não se dão de forma voluntária, que pode ser recuperada voluntariamente, “mas na
dimensão do involuntário em nós, e do que nunca poderia ser completamente
voluntário, o que nunca poderia ser completamente objeto de uma representação da
consciência, por isso é inconsciente” (SAFATLE 2018).
Freud (1915) mostrou que o inconsciente é atemporal, não linear, e atua de forma
diferente: “os processos inconscientes dispensam pouca atenção à realidade. Estão
sujeitos ao princípio dos prazeres atemporais, isto é, não são ordenados temporalmente,
não se alteram com a passagem do tempo; não têm qualquer referência ao tempo”
(FREUD, 1915, p. 214).
Na clínica psicanalítica é possível pensar onde não existe e existir onde não se
pensa (Lacan). O homem não está sob os domínios da razão. Há razões que o homem
desconhece. O método de aconselhamento cristão ignora o fato de que há ações que têm
suas origens em causas inconscientes e que o consciente não revela os traumas mais
profundos, pois ficam em uma esfera em que a pessoa não pode acessar. É preciso mais
tempo, construir uma relação de confiança entre analista e paciente (transferência) para
que os conteúdos bloqueados possam emergir.
19
Isaías 43.25.
20
Hebreus 10.16-17.
18
e morte, a pessoa ganha o direito de viver uma nova vida e, na ressurreição, a vida
eterna:
“Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que
são do alto (...). Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida
com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então
vocês também serão manifestados com ele em glória”21.
21
Colossenses 1.1-4.
22
Gálatas 5.17.
19
rua etc.), na verdade era uma forma de camuflar angústias insuportáveis.Essa repressão
excluiu as ideias que eram produtoras de desprazer. A srta. A vivia essa ambivalência:
quanto mais se emprega uma, mais empobrece a outra. A mais elevada fase
de desenvolvimento a que chega esta última aparece como estado de
enamoramento; ele se nos apresenta como um abandono da própria
personalidade em favor do investimento de objeto. (FREUD 1914-1916,
p.12).
a repressão, que foi de início bem sucedida, não se firma; no decorrer dos
acontecimentos, seu fracasso se torna cada vez mais acentuado. A
ambivalência que permitiu que a repressão ocorresse através da formação de
reação constitui também o ponto em que o reprimido consegue retornar. A
emoção desaparecida retorna, em sua forma transformada, como ansiedade
social, ansiedade moral e autocensura ilimitadas (FREUD,1915-1916],
p.161).
No caso da srta. A, ao trazer luz às lembranças dos fatos que haviam ocorrido
(aborto, perda do namorado), despertaram nela os afetos que estavam ligados aos
acontecimentos. Isso ficou evidente pela forma como ela se expressava, com extrema
angústia e culpa. Nesse caso, percebe-se também um traço de histeria, de acordo com
Freud (1926/1929, p.29) que se revela como “compromissos entre a necessidade de
satisfação e a necessidade de castigo”.
Nesse caso, percebemos um dos principais sintomas que são as reminiscências,
manifestas na srta. A por meio do choro, cólera contra os pastores “responsáveis” pelo
seu engano. Culpava-se por “se deixar enganar”, mesmo ressaltando que sempre fora
uma pessoa reconhecida como inteligente. A srta. Anão queria assumir a parte que lhe
cabia em sua queixa.
23
João 16.10.
21
perfeição e ter os mesmos poderes que ele. Paulo, o apóstolo, se coloca em um nível
moral tão elevado que, em carta à comunidade de Corinto, exorta: “tornem-se meus
imitadores, como eu o sou de Cristo”24.
Freud diz que há uma diferença entre a formação do ideal do Eu e a sublimação
do instinto. Foi o que aconteceu com a srta. A, que pode ter “trocado seu narcisismo
pela veneração de um elevado ideal do eu; isso não implica ter alcançado a sublimação
de seus instintos libidinais” (FREUD, 1914-1916, p.41), explica que “o ideal do Eu
requer tal sublimação, mas não pode forçá-la; a sublimação continua sendo um processo
particular, cuja iniciação pode ser instigada pelo ideal, cuja execução permanece
independente da instigação”.
A srta. A não conseguiu sublimar suas pulsões, mas, sim, aumentar as exigências
do Eu por meio da idealização, o que favoreceu a repressão. Isso porque “a sublimação
representa a saída para cumprir a exigência sem ocasionar a repressão” (FREUD, 1914-
1916, p.41).
Não sabemos como era a relação da srta. A com seu pai, como se deu a sua
castração,mas como teria sido a sua relação com o Deus da Bíblia? Quais
representações trouxeram a experiência da srta. A? Com qual das duas figuras ela se
identificou? O pai é vingativo e castrador como o do Antigo Testamento ou é amoroso,
perdoa e apoia, como o Pai que se revela no Novo Testamento na encarnação? Estes
dois “pais” estão presentes no superego em dosagens diferentes, dependendo da
experiência e da subjetividade de cada cristão. De acordo com Freud (1933-1932, p.68),
“o superego assume o lugar da instância parental e observa, dirige e ameaça o ego,
exatamente da mesma forma como anteriormente os pais faziam com a criança”.
A srta. A estava com muita mágoa dos pastores/professores que lhe deram
segurança nos ensinos e que, depois, em sua experiência, constataram-se falhas. Teria
havido uma regressão da srta. A para estágios anteriores? Seria essa a razão do seu
desamparo?
Percebeu-se na srta. A um conflito instalado de “amor e ódio”. Ressentimento
por não conseguir atingir o ideal de Cristo e viver na dimensão do amor, e, ao mesmo
tempo, mágoa por não conseguir alcançar o ideal do Pai (superego = Deus).Na
construção do psiquismo, esse é um sentimento primário que retorna, da ordem do
24
1 Coríntios 11.1.
22
Freud (1915), no texto As pulsões e suas vicissitudes, diz que uma pulsão pode
passar por uma sequência de transformações, dentre elas a reversão ao seu oposto. A
formação reativa, segundo Freud (1926/1929), é um mecanismo de defesa, que ocorre
quando alguém experimenta um desejo instintivo ou inconsciente que rejeita
conscientemente. Isso o leva a desenvolver um impulso oposto ao que rejeita. Nesse
processo de formação reativa, “o supereu torna-se particularmente rigoroso e
inclemente, o Eu desenvolve, em obediência ao Supereu, elevadas formações reativas:
conscienciosidade, compaixão, asseio com severidade implacável” (FREUD, 1926-
1929, p.51).
25
Durante todo o aconselhamento senti o fenômeno transferencial, contudo, não tinha conhecimento na
época em que realizei esse atendimento, somente durante o curso é que pude entender melhor muitos dos
fenômenos que experimentei no aconselhamento pastoral que não sabia nominar.
26
Romanos 7.19-23.
27
Romanos 7.25.
23
28
Mateus 6.14.
24
2. OBJETIVOS
3. MÉTODO
Foram realizadas cinco sessões de aconselhamento, uma sessão por semana, com
duração de uma hora. A metodologia do aconselhamento foi cognitivo-comportamental,
usando a Bíblia como referência para a orientação de forma diretiva. Na teologia
bíblica, esse método é chamado de “noutético”, uma forma de confrontar, exortar e
ensinar o paciente que ele é responsável pela sua queixa e a forma é agir de acordo com
os preceitos do Evangelho.
3.1 SUJEITO
3.2 INSTRUMENTOS
Bíblia cristã e uma bibliografia com autores de confissão de fé católica para construir
uma fundamentação teórica e uma análise comparada utilizando o aconselhamento
realizado em 2012 com a jovem a quem apliquei o pseudônimo de srta. A. Foi utilizada
uma bibliografia com escritos de Freud e de autores cristãos.
3.3 ENQUADRE
4. RESULTADO
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APÊNDICE
(1) Qual sua relação com o pai e a mãe? Ela praticamente não tocou nesse
assunto. Mencionou o pai somente uma vez e apenas disse que o pai era separado da
mãe. Não quis falar mais sobre o assunto e percebia-se claramente seu incômodo. Na
supervisão, esse fator despertou muito o interesse dos analistas e uma das perguntas
mais importantes foi: “Qual a relação da srta. A com seu pai? Como se deu o seu
processo de castração? Uma hipótese interessante foi qual teria sido o sentimento que a
levou a optar pelo aborto.Seria o sentimento de desamparo que ela viveu na família que
produziu uma representação de que não queria que o seu bebê passasse o que ela
passara? Essas questões seriam de grande importância se abordadas à luz da clínica
psicanalítica, o que certamente exigiria mais tempo do que apenas cinco sessões com
duração de uma hora.
(2) Há quanto tempo os pais haviam se separado? Essa questão foi mais um
importante aspecto não abordado com mais investigação. Ela não falou quando se deu a
separação, com que idade ela vivenciou esse importante momento em sua vida e quais
os sentimentos que ficaram marcados em sua psique.
(3) Se ela tinha irmãos e irmãs, qual a idade deles e qual sua relação com eles?A
srta. A tinha sua preocupação concentrada na sua queixa e não mencionou se tinha mais
irmãos; provavelmente não tinha. Devia ser filha única. Percebe-se que ela teve
condições de estudar e de se formar. Sua mãe, uma microempresária, teve condições
financeiras de pagar seus estudos. Esses indícios podem indicar como ela conseguiu se
formar em Direito pagando uma escola particular.
(5) O que a levou a optar pelo aborto e a não assumir a responsabilidade de ter o
filho? Essa é outra pergunta que, numa análise mais extensa, poderia ser útil. A srta. A
tinha condições financeiras para assumir a gravidez e ter o bebê, no entanto, optou por
abortar. Essa decisão teria alguma relação com seu histórico de seu pai ter a
abandonado? Será que tinha medo de fazer o filho sofrer o que ela sofreu? Quais
vivências que a srta. A teve que influenciaram na sua decisão? Essas questões poderiam
ajudar a elucidar aspectos que não foram possíveis no tempo do aconselhamento.
(6) Como era a sua relação com a religião antes da conversão? A srta. A não
mencionou sua relação com a religião antes da sua conversão à fé cristã. O que se
percebe é que, de alguma forma, sua formação era cristã, haja vista a culpa que sentia e
como tentou fazer reparação nas atividades religiosas. Ou será que a procura pela
religião cristã foi justamente uma maneira de buscar um alívio psíquico? O pai ausente
na sua experiência de vida agora era o pai presente, atuante e amoroso na religião.
Estaria a srta. A procurando uma aproximação com o pai no seu psiquismo? Essa é mais
uma questão importante dentro do contexto da clínica psicanalítica.